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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

Constituição da República

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA

Preâmbulo

A Luta Armada de Libertação Nacional, respondendo aos


anseios seculares do nosso Povo, aglutinou todas as camadas
patrióticas da sociedade moçambicana num mesmo ideal de
liberdade, unidade, justiça e progresso, cujo escopo era
libertar a terra e o Homem.

Conquistada a Independência Nacional em 25 de Junho de


1975, devolveram-se ao povo moçambicano os direitos e as
liberdades fundamentais.

A Constituição de 1990 introduziu o Estado de Direito


Democrático, alicerçado na separação e interdependência dos
poderes e no pluralismo, lançando os parâmetros estruturais
da modernização, contribuindo de forma decisiva para a
instauração de um clima democrático que levou o país à
realização das primeiras eleições multipartidárias.

A presente Constituição reafirma, desenvolve e aprofunda os


princípios fundamentais do Estado moçambicano, consagra o
carácter soberano do Estado de Direito Democrático, baseado
no pluralismo de expressão, organização partidária e no
respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais dos
cidadãos.

A ampla participação dos cidadãos na feitura da Lei


Fundamental traduz o consenso resultante da sabedoria de
todos no reforço da democracia e da unidade nacional.

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Constituição da República

TÍTULO I
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

CAPÍTULO I
República

Artigo 1
(República de Moçambique)

A República de Moçambique é um Estado independente,


soberano, democrático e de justiça social.

Artigo 2
(Soberania e legalidade)

1. A soberania reside no povo.

2. O povo moçambicano exerce a soberania segundo as


formas fixadas na Constituição.

3. O Estado subordina-se à Constituição e funda-se na


legalidade.

4. As normas constitucionais prevalecem sobre todas as


restantes normas do ordenamento jurídico.

Artigo 3
(Estado de Direito Democrático)

A República de Moçambique é um Estado de Direito, baseado


no pluralismo de expressão, na organização política
democrática, no respeito e garantia dos direitos e liberdades
fundamentais do Homem.

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Constituição da República

Artigo 4
(Pluralismo jurídico)

O Estado reconhece os vários sistemas normativos e de


resolução de conflitos que coexistem na sociedade
moçambicana, na medida em que não contrariem os valores e
os princípios fundamentais da Constituição.

Artigo 5
(Nacionalidade)

1. A nacionalidade moçambicana pode ser originária ou


adquirida.

2. Os requisitos de atribuição, aquisição, perda e reaquisição


da nacionalidade são determinados pela Constituição e
regulados por lei.

Artigo 6
(Território)

1. O território da República de Moçambique é uno, indivisível e


inalienável, abrangendo toda a superfície terrestre, a zona
marítima e o espaço aéreo delimitados pelas fronteiras
nacionais.

2. A extensão, o limite e o regime das águas territoriais, a zona


económica exclusiva, a zona contígua e os direitos aos fundos
marinhos de Moçambique, são fixados por lei.

Artigo 7
(Organização territorial)

1. A República de Moçambique organiza-se territorialmente


em províncias, distritos, postos administrativos, localidades e
povoações.

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Constituição da República

2. As zonas urbanas estruturam-se em cidades e vilas.

3. A definição das características dos escalões territoriais,


assim como a criação de novos escalões e o estabelecimento
de competências no âmbito da organização político-
administrativa é fixada por lei.

Artigo 8
(Estado unitário)

1. A República de Moçambique é um Estado unitário.

2. O Estado orienta-se pelos princípios da descentralização e


de subsidiariedade.

3. O Estado respeita na sua organização e funcionamento, a


autonomia dos órgãos de governação provincial, distrital e das
autarquias locais.

Artigo 9
(Línguas nacionais)

O Estado valoriza as línguas nacionais como património


cultural e educacional e promove o seu desenvolvimento e
utilização crescente como línguas veiculares da nossa
identidade.

Artigo 10
(Língua oficial)

Na República de Moçambique a língua portuguesa é a língua


oficial.

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Constituição da República

Artigo 11
(Objectivos fundamentais)

O Estado moçambicano tem como objectivos fundamentais:

a) a defesa da independência e da soberania;

b) a consolidação da unidade nacional;

c) a edificação de uma sociedade de justiça social e a


criação do bem-estar material, espiritual e de
qualidade de vida dos cidadãos;

d) a promoção do desenvolvimento equilibrado,


económico, social e regional do país;

e) a defesa e a promoção dos direitos humanos e da


igualdade dos cidadãos perante a lei;

f) o reforço da democracia, da liberdade, da estabilidade


social e da harmonia social e individual;

g) a promoção de uma sociedade de pluralismo,


tolerância e cultura de paz;

h) o desenvolvimento da economia e o progresso da


ciência e da técnica;

i) a afirmação da identidade moçambicana, das suas


tradições e demais valores sócio-culturais;

j) o estabelecimento e desenvolvimento de relações de


amizade e cooperação com outros povos e Estados.

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Constituição da República

Artigo 12
(Estado laico)

1. A República de Moçambique é um Estado laico.

2. A laicidade assenta na separação entre o Estado e as


confissões religiosas.

3. As confissões religiosas são livres na sua organização e no


exercício das suas funções e de culto e devem conformar-se
com as leis do Estado.

4. O Estado reconhece e valoriza as actividades das confissões


religiosas visando promover um clima de entendimento,
tolerância, paz e o reforço da unidade nacional, o bem-estar
espiritual e material dos cidadãos e o desenvolvimento
económico e social.

Artigo 13
(Símbolos nacionais)

Os símbolos da República de Moçambique são a bandeira, o


emblema e o hino nacionais.

Artigo 14
(Resistência secular)

A República de Moçambique valoriza a luta heróica e a


resistência secular do povo moçambicano contra a dominação
estrangeira.

Artigo 15
(Libertação nacional, defesa da soberania e da
democracia)

1. A República de Moçambique reconhece e valoriza os

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Constituição da República

sacrifícios daqueles que consagraram as suas vidas à luta de


libertação nacional, à defesa da soberania e da democracia.

2. O Estado assegura protecção especial aos que ficaram


deficientes na luta de libertação nacional, assim como aos
órfãos e outros dependentes daqueles que morreram nesta
causa.

3. A lei determina os termos de efectivação dos direitos


fixados no presente artigo.

Artigo 16
(Deficientes de guerra)

1. O Estado assegura protecção especial aos que ficaram


deficientes durante o conflito armado que terminou com
assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992, bem como aos
órfãos e outros dependentes directos.

2. O Estado protege igualmente os que ficaram deficientes em


cumprimento de serviço público ou em acto humanitário.

3. A lei determina os termos de efectivação dos direitos


fixados no presente artigo.

CAPÍTULO II
Política Externa e Direito Internacional

Artigo 17
(Relações internacionais)

1. A República de Moçambique estabelece relações de


amizade e cooperação com outros Estados na base dos
princípios de respeito mútuo pela soberania e integridade
territorial, igualdade, não interferência nos assuntos internos
e reciprocidade de benefícios.

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Constituição da República

2. A República de Moçambique aceita, observa e aplica os


princípios da Carta da Organização das Nações Unidas e da
Carta da União Africana.

Artigo 18
(Direito internacional)

1. Os tratados e acordos internacionais, validamente


aprovados e ratificados, vigoram na ordem jurídica
moçambicana após a sua publicação oficial e enquanto
vincularem internacionalmente o Estado de Moçambique.

2. As normas de direito internacional têm na ordem jurídica


interna o mesmo valor que assumem os actos normativos
infraconstitucionais emanados da Assembleia da República e
do Governo, consoante a sua respectiva forma de recepção.

Artigo 19
(Solidariedade internacional)

1. A República de Moçambique solidariza-se com a luta dos


povos e Estados africanos, pela unidade, liberdade, dignidade
e direito ao progresso económico e social.

2. A República de Moçambique busca o reforço das relações


com países empenhados na consolidação da independência
nacional, da democracia e na recuperação do uso e controlo
das riquezas naturais a favor dos respectivos povos.

3. A República de Moçambique associa-se a todos os Estados


na luta pela instauração de uma ordem económica justa e
equitativa nas relações internacionais.

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Constituição da República

Artigo 20
(Apoio à liberdade dos povos e asilo)

1. A República de Moçambique apoia e é solidária com a luta


dos povos pela libertação nacional e pela democracia.

2. A República de Moçambique concede asilo aos estrangeiros


perseguidos em razão da sua luta pela libertação nacional,
pela democracia, pela paz e pela defesa dos direitos humanos.

3. A lei define o estatuto do refugiado político.

Artigo 21
(Laços especiais de amizade e cooperação)

A República de Moçambique mantém laços especiais de


amizade e cooperação com os países da região, com os países
de língua oficial portuguesa e com os países de acolhimento de
emigrantes moçambicanos.

Artigo 22
(Política de paz)

1. A República de Moçambique prossegue uma política de paz,


só recorrendo à força em caso de legítima defesa.

2. A República de Moçambique defende a primazia da solução


negociada dos conflitos.

3. A República de Moçambique defende o princípio do


desarmamento geral e universal de todos os Estados.

4. A República de Moçambique preconiza a transformação do


Oceano Índico em zona desnuclearizada e de paz.

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Constituição da República

TÍTULO II
NACIONALIDADE

CAPÍTULO I
Nacionalidade Originária

Artigo 23
(Princípio da territorialidade e da consanguinidade)

1. São moçambicanos, desde que hajam nascido em


Moçambique;

a) os filhos de pai ou mãe que tenham nascido em


Moçambique;

b) os filhos de pais apátridas, de nacionalidade


desconhecida ou incógnita;

c) os que tinham domicílio em Moçambique à data da


independência e não tenham optado, expressa ou
tacitamente, por outra nacionalidade.

2. São moçambicanos, ainda que nascidos em território


estrangeiro, os filhos de pai ou mãe moçambicanos ao serviço
do Estado fora do país.

3. São moçambicanos os filhos de pai ou mãe de


nacionalidade moçambicana ainda que nascidos em território
estrangeiro, desde que expressamente, sendo maiores de
dezoito anos de idade, ou pelos seus representantes legais, se
forem menores daquela idade, declararem que pretendem ser
moçambicanos.

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Constituição da República

Artigo 24
(Princípio da territorialidade)

1. São moçambicanos os cidadãos nascidos em Moçambique


após a proclamação da independência.

2. Exceptuam-se os filhos de pai e mãe estrangeiros quando


qualquer deles se encontre em Moçambique ao serviço do
Estado a que pertence.

3. Os cidadãos referidos no número anterior somente têm a


nacionalidade moçambicana se declararem por si, sendo
maiores de dezoito anos de idade, ou pelos seus
representantes legais, sendo menores daquela idade, que
querem ser moçambicanos.

4. O prazo para a declaração referida no número anterior é de


um ano, a contar da data do nascimento ou daquela em que o
interessado completar dezoito anos de idade, conforme a
declaração seja feita, respectivamente, pelo representante
legal ou pelo próprio.

Artigo 25
(Por maioridade)

São moçambicanos os indivíduos que preenchendo os


pressupostos da nacionalidade originária, não a tenham
adquirido por virtude de opção dos seus representantes
legais, desde que, sendo maiores de dezoito anos de idade e
até um ano depois de atingirem a maioridade, declarem, por
si, que pretendem ser moçambicanos.

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Constituição da República

CAPÍTULO II
Nacionalidade Adquirida

Artigo 26
(Por casamento)

1. Adquire a nacionalidade moçambicana o estrangeiro ou a


estrangeira que tenha contraído casamento com
moçambicana ou moçambicano há pelo menos cinco anos,
salvo nos casos de apátrida, desde que, cumulativamente:

a) declare querer adquirir a nacionalidade moçambicana;

b) preencha os requisitos e ofereça as garantias fixadas


por lei.

2. A declaração de nulidade ou a dissolução do casamento não


prejudica a nacionalidade adquirida pelo cônjuge.

Artigo 27
(Por naturalização)

1. Pode ser concedida a nacionalidade moçambicana por


naturalização aos estrangeiros que, à data da apresentação do
pedido, reúnam cumulativamente as seguintes condições:

a) residam habitual e regularmente há pelo menos dez


anos em Moçambique;

b) sejam maiores de dezoito anos;

c) conheçam o português ou uma língua moçambicana;

d) possuam capacidade para reger a sua pessoa e


assegurar a sua subsistência;

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e) tenham idoneidade cívica;

f) preencham os requisitos e ofereçam as garantias


fixadas por lei.

2. Os requisitos constantes das alíneas a) e c) são dispensados


aos estrangeiros que tenham prestado relevantes serviços ao
Estado moçambicano, nos termos fixados na lei.

Artigo 28
(Por filiação)

Através do acto de naturalização, a nacionalidade


moçambicana pode ser concedida aos filhos do cidadão de
nacionalidade adquirida, solteiros e menores de dezoito anos
de idade.

Artigo 29
(Por adopção)

O adoptado plenamente por nacional moçambicano adquire a


nacionalidade moçambicana.

Artigo 30
(Restrições ao exercício de funções)

1. Os cidadãos de nacionalidade adquirida não podem ser


deputados, membros do Governo, titulares de órgãos de
soberania e não têm acesso à carreira diplomática ou militar.

2. A lei define as condições do exercício de funções públicas ou


de funções privadas de interesse público por cidadãos
moçambicanos de nacionalidade adquirida.

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Constituição da República

CAPÍTULO III
Perda e Reaquisição da Nacionalidade

Artigo 31
(Perda)

Perde a nacionalidade moçambicana:

a) o que sendo nacional de outro Estado, declare por


meios competentes não querer ser moçambicano;

b) aquele a quem, sendo menor, tenha sido atribuída a


nacionalidade moçambicana por efeito de declaração
do seu representante legal, se declarar, pelos meios
competentes até um ano depois de atingir a
maioridade, que não quer ser moçambicano e se
provar que tem outra nacionalidade.

Artigo 32
(Reaquisição)

1. Pode ser concedida a nacionalidade moçambicana àqueles


que, depois de a terem perdido, a requeiram e reúnam
cumulativamente as seguintes condições:

a) estabeleçam domicílio em Moçambique;

b) preencham os requisitos e ofereçam as garantias


fixadas na lei.

2. A mulher moçambicana que tenha perdido a nacionalidade


por virtude de casamento pode readquiri-la mediante
requerimento às entidades competentes.

3. A reaquisição da nacionalidade faz regressar à situação


jurídica anterior à perda da nacionalidade.

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Constituição da República

CAPÍTULO IV
Prevalência da Nacionalidade e Registo

Artigo 33
(Prevalência da nacionalidade moçambicana)

Não é reconhecida nem produz efeitos na ordem jurídica


interna qualquer outra nacionalidade aos indivíduos que, nos
termos do ordenamento jurídico da República de
Moçambique, sejam moçambicanos.

Artigo 34
(Registo)

O registo e prova da aquisição, da perda e da reaquisição da


nacionalidade são regulados por lei.

TÍTULO III
DIREITOS, DEVERES E LIBERDADES FUNDAMENTAIS

CAPÍTULO I
Princípios Gerais

Artigo 35
(Princípio da universalidade e igualdade)

Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos


direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres,
independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de
nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado
civil dos pais, profissão ou opção política.

Artigo 36
(Princípio da igualdade do género)

O homem e a mulher são iguais perante a lei em todos os


domínios da vida política, económica, social e cultural.

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Constituição da República

Artigo 37
(Portadores de deficiência)

Os cidadãos portadores de deficiência gozam plenamente dos


direitos consignados na Constituição e estão sujeitos aos
mesmos deveres com ressalva do exercício ou cumprimento
daqueles para os quais, em razão da deficiência, se encontrem
incapacitados.

Artigo 38
(Dever de respeitar a Constituição)

1. Todos os cidadãos têm o dever de respeitar a ordem


constitucional.

2. Os actos contrários ao estabelecido na Constituição são


sujeitos à sanção nos termos da lei.

Artigo 39
(Actos contrários à unidade nacional)

Todos os actos visando atentar contra a unidade nacional,


prejudicar a harmonia social, criar divisionismo, situações de
privilégio ou discriminação com base na cor, raça, sexo,
origem étnica, lugar de nascimento, religião, grau de
instrução, posição social, condição física ou mental, estado
civil dos pais, profissão ou opção política, são punidos nos
termos da lei.

Artigo 40
(Direito à vida)

1. Todo o cidadão tem direito à vida e à integridade física e


moral e não pode ser sujeito à tortura ou tratamentos cruéis
ou desumanos.

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2. Na República de Moçambique não há pena de morte.

Artigo 41
(Outros direitos pessoais)

Todo o cidadão tem direito à honra, ao bom nome, à


reputação, à defesa da sua imagem pública e à reserva da sua
vida privada.

Artigo 42
(Âmbito e sentido dos direitos fundamentais)

Os direitos fundamentais consagrados na Constituição não


excluem quaisquer outros constantes das leis.

Artigo 43
(Interpretação dos direitos fundamentais)

Os preceitos constitucionais relativos aos direitos


fundamentais são interpretados e integrados de harmonia
com a Declaração Universal dos Direitos do Homem e a Carta
Africana dos Direitos do Homem e dos Povos.

Artigo 44
(Deveres para com os seus semelhantes)

Todo o cidadão tem o dever de respeitar e considerar os seus


semelhantes, sem discriminação de qualquer espécie e de
manter com eles relações que permitam promover,
salvaguardar e reforçar o respeito, a tolerância recíproca e a
solidariedade.

Artigo 45
(Deveres para com a comunidade)

Todo o cidadão tem o dever de:

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a) servir a comunidade nacional, pondo ao seu serviço as


suas capacidades físicas e intelectuais;

b) trabalhar na medida das suas possibilidades e


capacidades;

c) pagar as contribuições e impostos;

d) zelar, nas suas relações com a comunidade pela


preservação dos valores culturais, pelo espírito de
tolerância, de diálogo e, de uma maneira geral,
contribuir para a promoção e educação cívicas;

e) defender e promover a saúde pública;

f) defender e conservar o ambiente;

g) defender e conservar o bem público e comunitário.

Artigo 46
(Deveres para com o Estado)

1. Todo o cidadão tem o dever de contribuir para a defesa do


país.

2. Todo o cidadão tem, ainda, o dever de cumprir as


obrigações previstas na lei e de obedecer às ordens emanadas
das autoridades legítimas, emitidas nos termos da
Constituição e com respeito pelos seus direitos fundamentais.

Artigo 47
(Direitos da criança)

1. As crianças têm direito à protecção e aos cuidados


necessários ao seu bem-estar.

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2. As crianças podem exprimir livremente a sua opinião, nos


assuntos que lhes dizem respeito, em função da sua idade e
maturidade.

3. Todos os actos relativos às crianças, quer praticados por


entidades públicas, quer por instituições privadas, têm
principalmente em conta o interesse superior da criança.

CAPÍTULO II
Direitos, Deveres e Liberdades

Artigo 48
(Liberdades de expressão e informação)

1. Todos os cidadãos têm direito à liberdade de expressão, à


liberdade de imprensa, bem como o direito à informação.

2. O exercício da liberdade de expressão, que compreende


nomeadamente, a faculdade de divulgar o próprio
pensamento por todos os meios legais, e o exercício do direito
à informação não podem ser limitados por censura.

3. A liberdade de imprensa compreende, nomeadamente, a


liberdade de expressão e de criação dos jornalistas, o acesso
às fontes de informação, a protecção da independência e do
sigilo profissional e o direito de criar jornais, publicações e
outros meios de difusão.

4. Nos meios de comunicação social do sector público são


assegurados a expressão e o confronto de ideias das diversas
correntes de opinião.

5. O Estado garante a isenção dos meios de comunicação


social do sector público, bem como a independência dos
jornalistas perante o Governo, a Administração e os demais
poderes políticos.

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Constituição da República

6. O exercício dos direitos e liberdades referidos neste artigo é


regulado por lei com base nos imperativos do respeito pela
Constituição e pela dignidade da pessoa humana.

Artigo 49
(Direitos de antena, de resposta e de réplica política)

1. Os partidos políticos têm o direito a tempos de antena nos


serviços públicos de radiodifusão e televisão, de acordo com a
sua representatividade e segundo critérios fixados na lei.

2. Os partidos políticos com assento na Assembleia da


República, que não façam parte do Governo, nos termos da lei,
têm o direito a tempos de antena nos serviços públicos de
radiodifusão e televisão, de acordo com a sua
representatividade para o exercício do direito de resposta e
réplica política às declarações políticas do Governo.

3. O direito de antena é também garantido a organizações


sindicais, profissionais e representativas das actividades
económicas e sociais, segundo critérios fixados na lei.

4. Nos períodos eleitorais, os concorrentes têm direitos a


tempos de antena, regulares e equitativos nas estações da
rádio e televisão públicas, de âmbito nacional ou local, nos
termos da lei.

Artigo 50
(Conselho Superior da Comunicação Social)

1. O Conselho Superior da Comunicação Social é um órgão de


disciplina e de consulta, que assegura à independência dos
meios de comunicação social, no exercício dos direitos à
informação, à liberdade de imprensa, bem como dos direitos
de antena e de resposta.

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Constituição da República

2. O Conselho Superior da Comunicação Social emite parecer


prévio à decisão de licenciamento pelo Governo de canais
privados de televisão e rádio.

3. O Conselho Superior de Comunicação Social intervém na


nomeação e exoneração dos directores gerais dos órgãos de
Comunicação Social do sector público, nos termos da lei.

4. A lei regula a organização, a composição, o funcionamento


e as demais competências do Conselho Superior da
Comunicação Social.

Artigo 51
(Direito à liberdade de reunião e de manifestação)

Todos os cidadãos têm direito à liberdade de reunião e


manifestação nos termos da lei.

Artigo 52
(Liberdade de associação)

1. Os cidadãos gozam da liberdade de associação.

2. As organizações sociais e as associações têm direito de


prosseguir os seus fins, criar instituições destinadas a alcançar
os seus objectivos específicos e possuir património para a
realização das suas actividades, nos termos da lei.

3. São proibidas as associações armadas de tipo militar ou


paramilitar e as que promovam a violência, o racismo, a
xenofobia ou que prossigam fins contrários à lei.

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Constituição da República

Artigo 53
(Liberdade de constituir, participar e aderir a
partidos políticos)

1. Todos os cidadãos gozam da liberdade de constituir ou


participar em partidos políticos.

2. A adesão a um partido político é voluntária e deriva da


liberdade dos cidadãos de se associarem em torno dos
mesmos ideais políticos.

Artigo 54
(Liberdade de consciência, de religião e de culto)

1. Os cidadãos gozam da liberdade de praticar ou de não


praticar uma religião.

2. Ninguém pode ser discriminado, perseguido, prejudicado,


privado de direitos, beneficiado ou isento de deveres por
causa da sua fé, convicção ou prática religiosa.

3. As confissões religiosas gozam do direito de prosseguir


livremente os seus fins religiosos, possuir e adquirir bens para
a materialização dos seus objectivos.

4. É assegurada a protecção aos locais de culto.

5. É garantido o direito à objecção de consciência nos termos


da lei.

Artigo 55
(Liberdade de residência e de circulação)

1. Todos os cidadãos têm o direito de fixar residência em


qualquer parte do território nacional.

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Constituição da República

2. Todos os cidadãos são livres de circular no interior e para


exterior do território nacional, excepto os judicialmente
privados desse direito.

CAPÍTULO III
Direitos, Liberdades e Garantias Individuais

Artigo 56
(Princípios gerais)

1. Os direitos e liberdades individuais são directamente


aplicáveis, vinculam as entidades públicas e privadas, são
garantidos pelo Estado e devem ser exercidos no quadro da
Constituição e das leis.

2. O exercício dos direitos e liberdades pode ser limitado em


razão da salvaguarda de outros direitos ou interesses
protegidos pela Constituição.

3. A lei só pode limitar os direitos, liberdades e garantias nos


casos expressamente previstos na Constituição.

4. As restrições legais dos direitos e das liberdades devem


revestir carácter geral e abstracto e não podem ter efeito
retroactivo.

Artigo 57
(Não retroactividade)

Na República de Moçambique as leis só podem ter efeitos


retroactivos quando beneficiam os cidadãos e outras pessoas
jurídicas.

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Constituição da República

Artigo 58
(Direito à indemnização e responsabilidade do
Estado)

1. A todos é reconhecido o direito de exigir, nos termos da lei,


indemnização pelos prejuízos que forem causados pela
violação dos seus direitos fundamentais.

2. O Estado é responsável pelos danos causados por actos


ilegais dos seus agentes, no exercício das suas funções, sem
prejuízo do direito de regresso nos termos da lei.

Artigo 59
(Direito à liberdade e à segurança)

1. Na República de Moçambique, todos têm direito à


segurança, e ninguém pode ser preso e submetido a
julgamento senão nos termos da lei.

2. Os arguidos gozam da presunção de inocência até decisão


judicial definitiva.

3. Nenhum cidadão pode ser julgado mais do que uma vez


pela prática do mesmo crime, nem ser punido com pena não
prevista na lei ou com pena mais grave do que a estabelecida
na lei no momento da prática da infracção criminal.

Artigo 60
(Aplicação da lei criminal)

1. Ninguém pode ser condenado por acto não qualificado


como crime no momento da sua prática.

2. A lei penal só se aplica retroactivamente quando disso


resultar benefício ao arguido.

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Constituição da República

Artigo 61
(Limites das penas e das medidas de segurança)

1. São proibidas penas e medidas de segurança privativas ou


restritivas da liberdade com carácter perpétuo ou de duração
ilimitada ou indefinida.

2. As penas não são transmissíveis.

3. Nenhuma pena implica a perda de quaisquer direitos civis,


profissionais ou políticos, nem priva o condenado dos seus
direitos fundamentais, salva as limitações inerentes ao sentido
da condenação e às exigências específicas da respectiva
execução.

Artigo 62
(Acesso aos tribunais)

1. O Estado garante o acesso dos cidadãos aos tribunais e


garante aos arguidos o direito de defesa e o direito à
assistência jurídica e patrocínio judiciário.

2. O arguido tem o direito de escolher livremente o seu


defensor para o assistir em todos os actos do processo,
devendo ao arguido que por razões económicas não possa
constituir advogado ser assegurada à adequada assistência
jurídica e patrocínio judicial.

Artigo 63
(Mandato judicial e advocacia)

1. O Estado assegura a quem exerce o mandato judicial, as


imunidades necessárias ao seu exercício e regula o patrocínio
forense, como elemento essencial à administração da justiça.

2. No exercício das suas funções e nos limites da lei, são

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Constituição da República

invioláveis os documentos, a correspondência e outros


objectos que tenham sido confiados ao advogado pelo seu
constituinte, que tenha obtido para defesa deste ou que
respeitem à sua profissão.

3. As buscas, apreensões ou outras diligências similares no


escritório ou nos arquivos do advogado só podem ser
ordenadas por decisão judicial e devem ser efectuadas na
presença do juiz que as autorizou, do advogado e de um
representante da ordem dos advogados, nomeado por esta
para o efeito, quando esteja em causa a prática de facto ilícita
punível com prisão superior a dois anos e cujos indícios
imputem ao advogado a sua prática.

4. O advogado tem o direito de comunicar pessoal e


reservadamente com o seu patrocinado, mesmo quando este
se encontre preso ou detido em estabelecimento civil ou
militar.

5. A lei regula os demais requisitos relativos ao mandato


judicial e a advocacia.

Artigo 64
(Prisão preventiva)

1. A prisão preventiva só é permitida nos casos previstos na


lei, que fixa os respectivos prazos.

2. O cidadão sob prisão preventiva deve ser apresentado no


prazo fixado na lei à decisão de autoridade judicial, que é a
única competente para decidir sobre a validação e a
manutenção da prisão.

3. Toda a pessoa privada da liberdade deve ser informada


imediatamente e de forma compreensível das razões da sua
prisão ou de detenção e dos seus direitos.

36
Constituição da República

4. A decisão judicial que ordene ou mantenha uma medida de


privação da liberdade deve ser logo comunicada a parente ou
pessoa da confiança do detido, por estes indicados.

Artigo 65
(Princípios do processo criminal)

1. O direito à defesa e a julgamento em processo criminal é


inviolável e é garantido a todo o arguido.

2. As audiências de julgamento em processo criminal são


públicas, salvo quando a salvaguarda da intimidade pessoal,
familiar, social ou da moral, ou ponderosas razões de
segurança da audiência ou de ordem pública aconselharem a
exclusão ou restrição de publicidade.

3. São nulas todas as provas obtidas mediante tortura,


coacção, ofensa da integridade física ou moral da pessoa,
abusiva intromissão na sua vida privada e familiar, no
domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações.

4. Nenhuma causa pode ser retirada ao tribunal cuja


competência se encontra estabelecida em lei anterior, salvo
nos casos especialmente previstos na lei.

Artigo 66
(Habeas corpus)

1. Em caso de prisão ou detenção ilegal, o cidadão tem direito


a recorrer à providência do habeas corpus.

2. A providência de habeas corpus é interposta perante o


tribunal, que sobre ela decide no prazo máximo de oito dias.

37
Constituição da República

Artigo 67
(Extradição)

1. A extradição só pode ter lugar por decisão judicial.

2. A extradição por motivos políticos não é autorizada.

3. Não é permitida a extradição por crimes a que corresponda


na lei do Estado requisitante pena de morte ou prisão
perpétua, ou sempre que fundadamente se admita que o
extraditando possa vir a ser sujeito a tortura, tratamento
desumano, degradante ou cruel.

4. O cidadão moçambicano não pode ser expulso ou


extraditado do território nacional.

Artigo 68
(Inviolabilidade do domicílio e da correspondência)

1. O domicílio e a correspondência ou outro meio de


comunicação privada são invioláveis, salvo nos casos
especialmente previstos na lei.

2. A entrada no domicílio dos cidadãos contra a sua vontade só


pode ser ordenada pela autoridade judicial competente, nos
casos e segundo as formas especialmente previstas na lei.

3. Ninguém deve entrar durante a noite no domicílio de


qualquer pessoa sem o seu consentimento.

Artigo 69
(Direito de impugnação)

O cidadão pode impugnar os actos que violam os seus direitos


estabelecidos na Constituição e nas demais leis.

38
Constituição da República

Artigo 70
(Direito de recorrer aos tribunais)

O cidadão tem o direito de recorrer aos tribunais contra os


actos que violem os seus direitos e interesses reconhecidos
pela Constituição e pela lei.
Artigo 71
(Utilização da informática)

1. É proibida a utilização de meios informáticos para registo e


tratamento de dados individualmente identificáveis relativos
às convicções políticas, filosóficas ou ideológicas, à fé
religiosa, à filiação partidária ou sindical e à vida privada.

2. A lei regula a protecção de dados pessoais constantes de


registos informáticos, as condições de acesso aos bancos de
dados, de constituição e utilização por autoridades públicas e
entidades privadas destes bancos de dados ou de suportes
informáticos.

3. Não é permitido o acesso a arquivos, ficheiros e registos


informáticos ou de bancos de dados para conhecimento de
dados pessoais relativos a terceiros, nem a transferência de
dados pessoais de um para outro ficheiro informático
pertencente a distintos serviços ou instituições, salvo nos
casos estabelecidos na lei ou por decisão judicial.

4. Todas as pessoas têm o direito de aceder aos dados


coligidos que lhes digam respeito e de obter a respectiva
rectificação.

Artigo 72
(Suspensão de exercício de direitos)

1. As liberdades e garantias individuais só podem ser


suspensas ou limitadas temporariamente em virtude de

39
Constituição da República

declaração do estado de guerra, do estado de sítio ou do


estado de emergência nos termos estabelecidos na
Constituição.

2. Sempre que se verifique suspensão ou limitação de


liberdades ou de garantias, elas têm um carácter geral e
abstracto e devem especificar a duração e a base legal em que
assenta.

CAPÍTULO IV
Direitos, Liberdades e Garantias de Participação
Política

Artigo 73
(Sufrágio universal)

O povo moçambicano exerce o poder político através do


sufrágio universal, directo, igual, secreto e periódico para a
escolha dos seus representantes, por referendo sobre as
grandes questões nacionais e pela permanente participação
democrática dos cidadãos na vida da Nação.

Artigo 74
(Partidos políticos e pluralismo)

1. Os partidos expressam o pluralismo político, concorrem


para a formação e manifestação da vontade popular e são
instrumento fundamental para a participação democrática dos
cidadãos na governação do país.

2. A estrutura interna e o funcionamento dos partidos políticos


devem ser democráticos.

40
Constituição da República

Artigo 75
(Formação de partidos políticos)

1. No profundo respeito pela unidade nacional e pelos valores


democráticos, os partidos políticos são vinculados aos
princípios consagrados na Constituição e na lei.

2. Na sua formação e na realização dos seus objectivos os


partidos políticos devem, nomeadamente:

a) ter âmbito nacional;

b) defender os interesses nacionais;

c) contribuir para a formação da opinião pública, em


particular sobre as grandes questões nacionais;

d) reforçar o espírito patriótico dos cidadãos e a


consolidação da Nação moçambicana.

3. Os partidos políticos devem contribuir, através da educação


política e cívica dos cidadãos, para a paz e estabilidade do país.

4. A formação, a estrutura e o funcionamento dos partidos


políticos regem-se por lei.

Artigo 76
(Denominação)

É proibido o uso pelos partidos políticos de denominações que


contenham expressões directamente relacionadas com
quaisquer confissões religiosas ou igrejas ou a utilização de
emblemas que se confundem com símbolos nacionais ou
religiosos.

41
Constituição da República

Artigo 77
(Recurso à violência armada)

É vedado aos partidos políticos preconizar ou recorrer à


violência armada para alterar a ordem política e social do país.

Artigo 78
(Organizações sociais)

1. As organizações sociais, como formas de associação com


afinidades e interesses próprios, desempenham um papel
importante na promoção da democracia e na participação dos
cidadãos na vida pública.

2. As organizações sociais contribuem para a realização dos


direitos e liberdades dos cidadãos, bem como para a elevação
da consciência individual e colectiva no cumprimento dos
deveres cívicos.

Artigo 79
(Direito de petição, queixa e reclamação)

Todos os cidadãos têm direito de apresentar petições, queixas


e reclamações perante autoridade competente para exigir o
restabelecimento dos seus direitos violados ou em defesa do
interesse geral.

Artigo 80
(Direito de resistência)

O cidadão tem o direito de não acatar ordens ilegais ou que


ofendam os seus direitos, liberdades e garantias.

Artigo 81
(Direito de acção popular)

1. Todos os cidadãos têm, pessoalmente ou através de

42
Constituição da República

associações de defesa dos interesses em causa, o direito de


acção popular nos termos da lei.

2. O direito de acção popular compreende, nomeadamente:

a) o direito de requerer para o lesado ou lesados as


indemnizações a que tenham direito;

b) o direito de promover a prevenção, a cessação ou a


perseguição judicial das infracções contra a saúde
pública, os direitos dos consumidores, a preservação
do ambiente e o património cultural;

c) o direito de defender os bens do Estado e das


autarquias locais.

CAPÍTULO V
Direitos e Deveres Económicos, Sociais e Culturais

Artigo 82
(Direito de propriedade)

1. O Estado reconhece e garante o direito de propriedade.

2. A expropriação só pode ter lugar por causa de necessidade,


utilidade ou interesse públicos, definidos nos termos da lei e
dá lugar a justa indemnização.

Artigo 83
(Direito à herança)

O Estado reconhece e garante, nos termos da lei, o direito à


herança.

43
Constituição da República

Artigo 84
(Direito ao trabalho)

1. O trabalho constitui direito e dever de cada cidadão.

2. Cada cidadão tem direito à livre escolha da profissão.

3. O trabalho compulsivo é proibido, exceptuando-se o


trabalho realizado no quadro da legislação penal.

Artigo 85
(Direito à retribuição e segurança no emprego)

1. Todo o trabalhador tem direito à justa remuneração,


descanso, férias e à reforma nos termos da lei.

2. O trabalhador tem direito à protecção, segurança e higiene


no trabalho.

3. O trabalhador só pode ser despedido nos casos e nos


termos estabelecidos na lei.

Artigo 86
(Liberdade de associação profissional e sindical)

1. Os trabalhadores têm a liberdade de se organizarem em


associações profissionais ou em sindicatos.

2. As associações sindicais e profissionais devem reger-se


pelos princípios da organização e gestão democráticas,
basear-se na activa participação dos seus membros em todas
as suas actividades e de eleição periódica e por escrutínio
secreto dos seus órgãos.

3. As associações sindicais e profissionais são independentes


do patronato, do Estado, dos partidos políticos e das igrejas ou
confissões religiosas.

44
Constituição da República

4. A lei regula a criação, união, federação e extinção das


associações sindicais e profissionais, bem como as respectivas
garantias de independência e autonomia, relativamente ao
patronato, ao Estado, aos partidos políticos e às igrejas e
confissões religiosas.

Artigo 87
(Direito à greve e proibição de lock - out)

1. Os trabalhadores têm direito à greve, sendo o seu


exercício regulado por lei.

2. A lei limita o exercício do direito à greve nos serviços e


actividades essenciais, no interesse das necessidades
inadiáveis da sociedade e da segurança nacional.

3. É proibido o lock - out.


Artigo 88
(Direito à educação)

1. Na República de Moçambique a educação constitui direito e


dever de cada cidadão.

2. O Estado promove a extensão da educação à formação


profissional contínua e a igualdade de acesso de todos os
cidadãos ao gozo deste direito.

Artigo 89
(Direito à saúde)

Todos os cidadãos têm o direito à assistência médica e


sanitária, nos termos da lei, bem como o dever de promover e
defender a saúde pública.

45
Constituição da República

Artigo 90
(Direito ao ambiente)

1. Todo o cidadão tem o direito de viver num ambiente


equilibrado e o dever de o defender.

2. O Estado e as autarquias locais, com a colaboração das


associações de defesa do ambiente, adoptam políticas de
defesa do ambiente e velam pela utilização racional de todos
os recursos naturais.

Artigo 91
(Habitação e urbanização)

1. Todos os cidadãos têm direito à habitação condigna, sendo


dever do Estado, de acordo com o desenvolvimento
económico nacional, criar as adequadas condições
institucionais, normativas e infra-estruturais.

2. Incumbe também ao Estado fomentar e apoiar as iniciativas


das comunidades locais, autarquias locais e populações,
estimulando a construção privada e cooperativa, bem como o
acesso à casa própria.

Artigo 92
(Direito dos consumidores)

1. Os consumidores têm direito à qualidade dos bens e


serviços consumidos, à formação e à informação, à protecção
da saúde, da segurança dos seus interesses económicos, bem
como à reparação de danos.

2. A publicidade é disciplinada por lei, sendo proibidas as


formas de publicidade oculta, indirecta ou enganosa.

3. As associações de consumidores e as cooperativas têm

46
Constituição da República

direito, nos termos da lei, ao apoio do Estado e a serem


ouvidas sobre as questões que digam respeito à defesa dos
consumidores, sendo-lhes reconhecida legitimidade
processual para a defesa dos seus associados.

Artigo 93
(Cultura física e desporto)

1. Os cidadãos têm direito à educação física e ao desporto.

2. O Estado promove, através das instituições desportivas e


escolares, a prática e a difusão da educação física e do
desporto.

Artigo 94
(Liberdade de criação cultural)

1. Todos os cidadãos têm direito à liberdade de criação


científica, técnica, literária e artística.

2. O Estado protege os direitos inerentes à propriedade


intelectual, incluindo os direitos de autor e promove a prática e
a difusão das letras e das artes.

Artigo 95
(Direito à assistência na incapacidade e na velhice)

1. Todos os cidadãos têm direito à assistência em caso de


incapacidade e na velhice.

2. O Estado promove e encoraja a criação de condições para a


realização deste direito.

47
Constituição da República

TÍTULO IV
ORGANIZAÇÃO ECONÓMICA, SOCIAL, FINANCEIRA E
FISCAL

CAPÍTULO I
Princípios Gerais

Artigo 96
(Política económica)

1. A política económica do Estado é dirigida à construção das


bases fundamentais do desenvolvimento, à melhoria das
condições de vida do povo, ao reforço da soberania do Estado
e à consolidação da unidade nacional, através da participação
dos cidadãos, bem como da utilização eficiente dos recursos
humanos e materiais.

2. Sem prejuízo do desenvolvimento equilibrado, o Estado


garante a distribuição da riqueza nacional, reconhecendo e
valorizando o papel das zonas produtoras.

Artigo 97
(Princípios fundamentais)

A organização económica e social da República de


Moçambique visa a satisfação das necessidades essenciais da
população e a promoção do bem-estar social e assenta nos
seguintes princípios fundamentais:

a) na valorização do trabalho;

b) nas forças do mercado;

c) na iniciativa dos agentes económicos;

d) na coexistência do sector público, do sector privado e


do sector cooperativo e social;

48
Constituição da República

e) na propriedade pública dos recursos naturais e de


meios de produção, de acordo com o interesse
colectivo;

f) na protecção do sector cooperativo e social;

g) na acção do Estado como regulador e promotor do


crescimento e desenvolvimento económico e social.

Artigo 98
(Propriedade do Estado e domínio público)

1. Os recursos naturais situados no solo e no subsolo, nas


águas interiores, no mar territorial, na plataforma continental
e na zona económica exclusiva são propriedade do Estado.

2. Constituem domínio público do Estado:

a) a zona marítima;

b) o espaço aéreo;

c) o património arqueológico;

d) as zonas de protecção da natureza;

e) o potencial hidráulico;

f) o potencial energético;

g) as estradas e linhas férreas;

h) as jazidas minerais;

i) os demais bens como tal classificados por lei.

49
Constituição da República

3. A lei regula o regime jurídico dos bens do domínio público,


bem como a sua gestão e conservação, diferenciando os que
integram o domínio público do Estado, o domínio público das
autarquias locais e o domínio público comunitário, com
respeito pelos princípios da imprescritibilidade e
impenhorabilidade.

Artigo 99
(Sectores de propriedade dos meios de produção)

1. A economia nacional garante a coexistência de três sectores


de propriedade dos meios de produção.

2. O sector público é constituído pelos meios de produção cuja


propriedade e gestão pertence ao Estado ou a outras
entidades públicas.

3. O sector privado é constituído pelos meios de produção cuja


propriedade ou gestão pertence a pessoas singulares ou
colectivas privadas, sem prejuízo do disposto no número
seguinte.

4. O sector cooperativo e social compreende especificamente:

a) os meios de produção comunitários, possuídos e


geridos por comunidades locais;

b) os meios de produção destinados à exploração


colectiva por trabalhadores;

c) os meios de produção possuídos e geridos por pessoas


colectivas, sem carácter lucrativo, que tenham como
principal objectivo a solidariedade social,
designadamente entidades de natureza mutualista.

50
Constituição da República

Artigo 100
(Impostos)

Os impostos são criados ou alterados por lei, que os fixa


segundo critérios de justiça social.

CAPÍTULO II
Organização Económica

Artigo 101
(Coordenação da actividade económica)

1. O Estado promove, coordena e fiscaliza a actividade


económica agindo directa ou indirectamente para a solução
dos problemas fundamentais do povo e para a redução das
desigualdades sociais e regionais.

2. O investimento do Estado deve desempenhar um papel


impulsionador na promoção do desenvolvimento equilibrado.

Artigo 102
(Recursos naturais)

O Estado promove o conhecimento, a inventariação e a


valorização dos recursos naturais e determina as condições do
seu uso e aproveitamento com salvaguarda dos interesses
nacionais.
Artigo 103
(Agricultura)

1. Na República de Moçambique a agricultura é a base do


desenvolvimento nacional.

2. O Estado garante e promove o desenvolvimento rural para a


satisfação crescente e multiforme das necessidades do povo e
o progresso económico e social do país.

51
Constituição da República

Artigo 104
(Indústria)

Na República de Moçambique a indústria é o factor


impulsionador da economia nacional.

Artigo 105
(Sector familiar)

1. Na satisfação das necessidades essenciais da população, ao


sector familiar cabe um papel fundamental.

2. O Estado incentiva e apoia a produção do sector familiar e


encoraja os camponeses, bem como os trabalhadores
individuais, a organizarem-se em formas mais avançadas de
produção.

Artigo 106
(Produção de pequena escala)

O Estado reconhece a contribuição da produção de pequena


escala para a economia nacional e apoia o seu
desenvolvimento como forma de valorizar as capacidades e a
criatividade do povo.

Artigo 107
(Empresariado nacional)

1. O Estado promove e apoia a participação activa do


empresariado nacional no quadro do desenvolvimento e da
consolidação da economia do país.

2. O Estado cria os incentivos destinados a proporcionar o


crescimento do empresariado nacional em todo o país, em
especial nas zonas rurais.

52
Constituição da República

Artigo 108
(Investimento estrangeiro)

1. O Estado garante o investimento estrangeiro, o qual opera


no quadro da sua política económica.

2. Os empreendimentos estrangeiros são autorizados em todo


o território nacional e em todos os sectores económicos,
excepto naqueles que estejam reservados à propriedade ou
exploração exclusiva do Estado.

Artigo 109
(Terra)

1. A terra é propriedade do Estado.

2. A terra não deve ser vendida, ou por qualquer outra forma


alienada, nem hipotecada ou penhorada.

3. Como meio universal de criação da riqueza e do bem-estar


social, o uso e aproveitamento da terra é direito de todo o povo
moçambicano.

Artigo 110
(Uso e aproveitamento da terra)

1. O Estado determina as condições de uso e aproveitamento


da terra.

2. O direito de uso e aproveitamento da terra é conferido às


pessoas singulares ou colectivas tendo em conta o seu fim
social ou económico.

53
Constituição da República

Artigo 111
(Direitos adquiridos por herança ou ocupação da
terra)

Na titularização do direito de uso e aproveitamento da terra, o


Estado reconhece e protege os direitos adquiridos por herança
ou ocupação, salvo havendo reserva legal ou se a terra tiver
sido legalmente atribuída à outra pessoa ou entidade.

CAPÍTULO III
Organização Social

Artigo 112
(Trabalho)

1. O trabalho é a força motriz do desenvolvimento e é


dignificado e protegido.

2. O Estado propugna a justa repartição dos rendimentos do


trabalho.

3. O Estado defende que a trabalho igual deve corresponder


salário igual.

Artigo 113
(Educação)

1. A República de Moçambique promove uma estratégia de


educação visando a unidade nacional, a erradicação do
analfabetismo, o domínio da ciência e da técnica, bem como a
formação moral e cívica dos cidadãos.

2. O Estado organiza e desenvolve a educação através de um


sistema nacional de educação.

3. O ensino público não é confessional.

54
Constituição da República

4. O ensino ministrado pelas colectividades e outras entidades


privadas é exercido nos termos da lei e sujeito ao controlo do
Estado.

5. O Estado não pode programar a educação e a cultura


segundo quaisquer directrizes, estéticas, políticas, ideológicas
ou religiosas.
Artigo 114
(Ensino superior)

1. O acesso às instituições públicas do ensino superior deve


garantir a igualdade e equidade de oportunidades e a
democratização do ensino, tendo em conta as necessidades
em quadros qualificados e elevação do nível educativo e
científico no país.

2. As instituições públicas do ensino superior são pessoas


colectivas de direito público, têm personalidade jurídica e
gozam de autonomia científica, pedagógica, financeira e
administrativa, sem prejuízo de adequada avaliação da
qualidade do ensino, nos termos da lei.

3. O Estado reconhece e fiscaliza o ensino privado e


cooperativo, nos termos da lei.

Artigo 115
(Cultura)

1. O Estado promove o desenvolvimento da cultura e


personalidade nacionais e garante a livre expressão das
tradições e valores da sociedade moçambicana.

2. O Estado promove a difusão da cultura moçambicana e


desenvolve acções para fazer beneficiar o povo moçambicano
das conquistas culturais dos outros povos.

55
Constituição da República

Artigo 116
(Saúde)

1. A assistência médica e sanitária aos cidadãos é organizada


através de um sistema nacional de saúde que beneficie todo o
povo moçambicano.

2. Para a realização dos objectivos prosseguidos pelo sistema


nacional de saúde a lei fixa modalidades de exercício da
assistência médica e sanitária.

3. O Estado promove a participação dos cidadãos e


instituições na elevação do nível da saúde da comunidade.

4. O Estado promove a extensão da assistência médica e


sanitária e a igualdade de acesso de todos os cidadãos ao gozo
deste direito.

5. Compete ao Estado promover, disciplinar e controlar a


produção, a comercialização e o uso de produtos químicos,
biológicos, farmacêuticos e outros meios de tratamento e de
diagnóstico.

6. A actividade da assistência médica e sanitária ministrada


pelas colectividades e entidades privadas é exercida nos
termos da lei e sujeita ao controlo do Estado.

Artigo 117
(Ambiente e qualidade de vida)

1. O Estado promove iniciativas para garantir o equilíbrio


ecológico e a conservação e preservação do ambiente visando
a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.

2. Com o fim de garantir o direito ao ambiente no quadro de


um desenvolvimento sustentável, o Estado adopta políticas
visando:

56
Constituição da República

a) prevenir e controlar a poluição e a erosão;

b) integrar os objectivos ambientais nas políticas


sectoriais ;

c) promover a integração dos valores do ambiente nas


políticas e programas educacionais;

d) garantir o aproveitamento racional dos recursos


naturais com salvaguarda da sua capacidade de
renovação, da estabilidade ecológica e dos direitos das
gerações vindouras;

e) promover o ordenamento do território com vista a


uma correcta localização das actividades e a um
desenvolvimento sócio - económico equilibrado.

Artigo 118
(Autoridade tradicional)

1. O Estado reconhece e valoriza a autoridade tradicional


legitimada pelas populações e segundo o direito
consuetudinário.

2. O Estado define o relacionamento da autoridade tradicional


com as demais instituições e enquadra a sua participação na
vida económica, social e cultural do país, nos termos da lei.

Artigo 119
(Família)

1. A família é o elemento fundamental e a base de toda a


sociedade.

2. O Estado reconhece e protege, nos termos da lei, o


casamento como instituição que garante a prossecução dos
objectivos da família.

57
Constituição da República

3. No quadro do desenvolvimento de relações sociais assentes


no respeito pela dignidade da pessoa humana, o Estado
consagra o princípio de que o casamento se baseia no livre
consentimento.

4. A lei estabelece as formas de valorização do casamento


tradicional e religioso, define os requisitos do seu registo e fixa
os seus efeitos.

Artigo 120
(Maternidade e paternidade)

1. A maternidade e a paternidade são dignificadas e


protegidas.

2. A família é responsável pelo crescimento harmonioso da


criança e educa as novas gerações nos valores morais, éticos e
sociais.

3. A família e o Estado asseguram a educação da criança,


formando-a nos valores da unidade nacional, no amor à pátria,
igualdade entre homens e mulheres, respeito e solidariedade
social.

4. Os pais e as mães devem prestar assistência aos filhos


nascidos dentro e fora do casamento.

Artigo 121
(Infância)

1. Todas as crianças têm direito à protecção da família, da


sociedade e do Estado, tendo em vista o seu desenvolvimento
integral.

2. As crianças, particularmente as órfãs, as portadoras de


deficiência e as abandonadas, têm protecção da família, da

58
Constituição da República

sociedade e do Estado contra qualquer forma de


discriminação, de maus tratos e contra o exercício abusivo da
autoridade na família e nas demais instituições.

3. A criança não pode ser discriminada, designadamente, em


razão do seu nascimento, nem sujeita a maus tratos.

4. É proibido o trabalho de crianças quer em idade de


escolaridade obrigatória quer em qualquer outra.

Artigo 122
(Mulher)

1. O Estado promove, apoia e valoriza o desenvolvimento da


mulher e incentiva o seu papel crescente na sociedade, em
todas as esferas da actividade política, económica, social e
cultural do país.

2. O Estado reconhece e valoriza a participação da mulher na


luta de libertação nacional, pela defesa da soberania e pela
democracia.

Artigo 123
(Juventude)

1. A juventude digna, continuadora das tradições patrióticas


do povo moçambicano, desempenhou um papel decisivo na
luta de libertação nacional e pela democracia e constitui força
renovadora da sociedade.

2. A política do Estado visa, nomeadamente o


desenvolvimento harmonioso da personalidade dos jovens, a
promoção do gosto pela livre criação, o sentido de prestação
de serviços à comunidade e a criação de condições para a sua
integração na vida activa.

59
Constituição da República

3. O Estado promove, apoia e encoraja as iniciativas da


juventude na consolidação da unidade nacional, na
reconstrução, no desenvolvimento e na defesa do país.

4. O Estado e a sociedade estimulam e apoiam a criação de


organizações juvenis para a prossecução de fins culturais,
artísticos, recreativos, desportivos e educacionais.

5. O Estado, em cooperação com as associações


representativas dos pais e encarregados de educação, as
instituições privadas e organizações juvenis, adopta uma
política nacional de juventude capaz de promover e fomentar
a formação profissional dos jovens, o acesso ao primeiro
emprego e o seu livre desenvolvimento intelectual e físico.

Artigo 124
(Terceira idade)

1. Os idosos têm direito à protecção especial da família, da


sociedade e do Estado, nomeadamente na criação de
condições de habitação, no convívio familiar e comunitário e
no atendimento em instituições públicas e privadas, que
evitem a sua marginalização.

2. O Estado promove uma política de terceira idade que


integra acções de carácter económico, social e cultural, com
vista à criação de oportunidades de realização pessoal através
do seu envolvimento na vida da comunidade.

Artigo 125
(Portadores de deficiência)

1. Os portadores de deficiência têm direito a especial


protecção da família, da sociedade e do Estado.

60
Constituição da República

2. O Estado promove a criação de condições para a


aprendizagem e desenvolvimento da língua de sinais.

3. O Estado promove a criação de condições necessárias para


a integração económica e social dos cidadãos portadores de
deficiência.

4. O Estado promove, em cooperação com as associações de


portadores de deficiência e entidades privadas, uma política
que garanta:

a) a reabilitação e integração dos portadores de


deficiência;

b) a criação de condições tendentes a evitar o seu


isolamento e a marginalização social;

c) a prioridade de atendimento dos cidadãos portadores


de deficiência pelos serviços públicos e privados;

d) a facilidade de acesso a locais públicos.

5. O Estado encoraja a criação de associações de portadores


de deficiência.

CAPÍTULO IV
Sistema Financeiro e Fiscal

Artigo 126
(Sistema financeiro)

O sistema financeiro é organizado de forma a garantir a


formação, a captação e a segurança das poupanças, bem
como a aplicação dos meios financeiros necessários ao
desenvolvimento económico e social do país.

61
Constituição da República

Artigo 127
(Sistema fiscal)

1. O sistema fiscal é estruturado com vista a satisfazer as


necessidades financeiras do Estado e das demais entidades
públicas, realizar os objectivos da política económica do
Estado e garantir uma justa repartição dos rendimentos e da
riqueza.

2. Os impostos são criados ou alterados por lei, que determina


a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos
contribuintes.

3. Ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que não


tenham sido criados nos termos da Constituição e cuja
liquidação e cobrança não se façam nos termos da lei.

4. No mesmo exercício financeiro, não pode ser alargada a


base de incidência nem agravadas as taxas de impostos.

5. A lei fiscal não tem efeito retroactivo, salvo se for de


conteúdo mais favorável ao contribuinte.

Artigo 128
(Plano Económico e Social)

1. O Plano Económico e Social tem como objectivo orientar o


desenvolvimento económico e social no sentido de um
crescimento sustentável, reduzir os desequilíbrios regionais e
eliminar progressivamente as diferenças económicas e sociais
entre a cidade e o campo.

2. O Plano Económico e Social tem a sua expressão financeira


no Orçamento do Estado.

3. A proposta do Plano Económico e Social é submetida a

62
Constituição da República

Assembleia da República acompanhada de relatórios sobre as


grandes opções globais e sectoriais, incluindo a respectiva
fundamentação.

Artigo 129
(Elaboração e execução do Plano Económico e
Social)

1. O Plano Económico e Social é elaborado pelo Governo,


tendo como base o seu programa quinquenal.

2. A proposta do Plano Económico e Social é submetida à


Assembleia da República e deve conter a previsão dos
agregados macro - económicos e as acções a realizar para a
prossecução das linhas de desenvolvimento sectorial e deve
ser acompanhada de relatórios de execução que a
fundamentam.

3. A elaboração e execução do Plano Económico e Social são


descentralizadas, provincial e sectorialmente.

Artigo 130
(Orçamento do Estado)

1. O Orçamento do Estado é unitário, especifica as receitas e


as despesas, respeitando sempre as regras da anualidade e da
publicidade, nos termos da lei.

2. O Orçamento do Estado pode ser estruturado por


programas ou projectos plurianuais, devendo neste caso
inscrever-se no orçamento os encargos referentes ao ano a
que dizem respeito.

3. A proposta de Lei do Orçamento do Estado é elaborada pelo


Governo e submetida à Assembleia da República e deve conter
informação fundamentadora sobre as previsões de receitas,

63
Constituição da República

os limites das despesas, o financiamento do défice e todos os


elementos que fundamentam a política orçamental.

4. A lei define as regras de execução do orçamento e os


critérios que devem presidir à sua alteração, período de
execução, bem como estabelece o processo a seguir sempre
que não seja possível cumprir os prazos de apresentação ou
votação do mesmo.

Artigo 131
(Fiscalização)

A execução do Orçamento do Estado é fiscalizada pelo


Tribunal Administrativo e pela Assembleia da República, a
qual, tendo em conta o parecer daquele Tribunal, aprecia e
delibera sobre a Conta Geral do Estado.

Artigo 132
(Banco Central)

1. O Banco de Moçambique é o Banco Central da República de


Moçambique.

2. O funcionamento do Banco de Moçambique rege-se por lei


própria e pelas normas internacionais a que a República de
Moçambique esteja vinculada e lhe sejam aplicáveis.

TÍTULO V
ORGANIZAÇÃO DO PODER POLÍTICO

CAPÍTULO ÚNICO
Princípios Gerais

Artigo 133
(Órgãos de soberania)

São órgãos de soberania o Presidente da República, a

64
Constituição da República

Assembleia da República, o Governo, os tribunais e o Conselho


Constitucional.

Artigo 134
(Separação e interdependência)

Os órgãos de soberania assentam nos princípios de separação


e interdependência de poderes consagrados na Constituição e
devem obediência à Constituição e às leis.

Artigo 135
(Princípios gerais do sistema eleitoral)
1. O sufrágio universal, directo, igual, secreto, pessoal e
periódico constitui a regra geral de designação do Presidente
da República, dos deputados da Assembleia da República, dos
membros das assembleias provinciais, dos governadores de
Província, das assembleias distritais, dos administradores de
Distrito, dos membros das assembleias autárquicas e dos
presidentes dos conselhos autárquicos.
2. O apuramento dos resultados das eleições obedece ao
sistema de representação proporcional.

3. A supervisão do recenseamento e dos actos eleitorais cabe


à Comissão Nacional de Eleições, órgão independente e
imparcial, cuja composição, organização, funcionamento e
competências, são fixados por lei.

4. O processo eleitoral é regulado por lei.

Artigo 136
(Referendo)

1. Os cidadãos eleitores recenseados no território nacional e


os cidadãos residentes no estrangeiro regularmente

65
Constituição da República

recenseados podem ser chamados a pronunciar-se em


referendo sobre questões de relevante interesse nacional.

2. O referendo é decidido pelo Presidente da República sob


proposta da Assembleia da República, aprovada pela maioria
absoluta dos seus membros e por iniciativa de pelo menos um
terço dos deputados.

3. Não podem ser sujeitas a referendo:

a) as alterações à Constituição, salvo quanto às matérias


constantes do número 1 do artigo 300;

b) as matérias referidas no número 2 do artigo 178.

4. Se as matérias referidas no número 2 do artigo 178 forem


objecto de convenção internacional podem ser submetidas a
referendo, salvo se forem relativas à paz e à rectificação de
fronteiras.

5. Entre a data da convocação e da realização de eleições


gerais para os órgãos de soberania não se pode convocar nem
efectivar referendos.

6. O referendo só é considerado válido e vinculativo se nele


votarem mais de metade dos eleitores inscritos no
recenseamento.

7. Além das pertinentes disposições da lei eleitoral, vigente no


momento da sua realização, lei própria determina as
condições de formulação e de efectivação de referendos.

Artigo 137
(Incompatibilidade)

1. Os cargos de Presidente da República, Presidente da

66
Constituição da República

Assembleia da República, Primeiro - Ministro, Presidente do


Tribunal Supremo, Presidente do Conselho Constitucional,
Presidente do Tribunal Administrativo, Procurador -Geral da
República, Provedor de Justiça, Vice - Presidente do Tribunal
Supremo, Vice - Procurador - Geral da República, Deputado,
Vice - Ministro, Secretário de Estado, Secretário de Estado na
Província, Governador de Província, Membro da Assembleia
Provincial, Administrador de Distrito, Membro da Assembleia
Distrital, Presidente do Conselho Autárquico, Membro da
Assembleia Autárquica e Militar no activo são incompatíveis
entre si.

2. A qualidade de membro do Governo é, igualmente,


incompatível com os cargos referidos no número 1 do
presente artigo, exceptuando-se o de Presidente da República
e o de Primeiro - Ministro.

3. A lei define outras incompatibilidades, incluindo entre os


cargos públicos e funções privadas.

Artigo 138
(Órgãos centrais)

São órgãos centrais do Estado, os órgãos de soberania, o


conjunto dos órgãos governativos e as instituições a quem
cabe garantir a prevalência do interesse nacional e a
realização da política unitária do Estado.

Artigo 139
(Atribuições dos órgãos centrais)

1. Os órgãos centrais têm, de forma geral, as atribuições


relativas ao exercício da soberania, a normação das matérias
do âmbito da lei e a definição de políticas nacionais.

67
Constituição da República

2. Constituem atribuições dos órgãos centrais,


nomeadamente:

a) as funções de soberania;

b) a normação de matérias de âmbito da lei;

c) a definição de políticas nacionais;

d) a realização da política unitária do Estado;

e) a representação do Estado ao nível provincial, distrital


e autárquico;

f) a definição e organização do território;

g) a defesa nacional;

h) a segurança e ordem públicas;

i) a fiscalização das fronteiras;

j) a emissão de moeda;

k) as relações diplomáticas;

l) os recursos minerais e energia;

m) os recursos naturais situados no solo e no subsolo, nas


águas interiores, no mar territorial, zona contígua ao
mar territorial, na plataforma continental e na zona
económica exclusiva;

n) a criação e alteração dos impostos.

68
Constituição da República

Artigo 140
(Dirigentes e agentes dos órgãos centrais)

1. Os órgãos centrais exercem a sua acção directamente ou


por intermédio de dirigentes ou agentes da administração
nomeados que supervisam as actividades centrais realizadas
em determinada área territorial.

2. A lei determina a forma, organização e competências no


âmbito da Administração Pública.

Artigo 141
(Secretário de Estado na Província)

1. Ao nível da Província, o Governo Central é representado


pelo Secretário de Estado na Província.

2. O Secretário de Estado na Província é nomeado e


empossado pelo Presidente da República.

3. O Secretário de Estado na Província assegura a realização


das funções exclusivas e de soberania do Estado, nos termos
da lei.

4. O Secretário de Estado na Província superintende e


supervisa os serviços de representação do Estado na Província
e nos distritos.

5. A organização, a composição, o funcionamento e a


competência dos serviços de representação do Estado na
Província e no Distrito são definidas por lei.

Artigo 142
(Actos normativos)

1. São actos legislativos as leis e os decretos - lei.

69
Constituição da República

2. Os actos da Assembleia da República revestem a forma de


leis, moções e resoluções.

3. Os decretos - lei são actos legislativos, aprovados pelo


Conselho de Ministros, mediante autorização da Assembleia
da República.

4. Os actos regulamentares do Governo revestem a forma de


decreto, quer quando determinados por lei regulamentar, quer
no caso de regulamentos autónomos.

5. Os actos do Governador do Banco de Moçambique, no


exercício das suas competências, revestem a forma de aviso.

Artigo 143
(Publicidade)

1. São publicados no Boletim da República, sob pena de


ineficácia jurídica:

a) as leis, as moções e as resoluções da Assembleia da


República;

b) os decretos do Presidente da República;

c) os decretos-lei, os decretos, as resoluções e os


demais diplomas emanados do Governo;

d) os assentos do Tribunal Supremo, os acórdãos do


Conselho Constitucional, bem como as demais
decisões dos outros tribunais a que a lei confira força
obrigatória geral;

e) os acórdãos sobre os resultados de eleições e


referendos nacionais;

70
Constituição da República

f) as resoluções de ratificação dos tratados e acordos


internacionais;

g) os avisos do Governador do Banco de Moçambique.

2. A lei define os termos da publicidade a conferir a outros


actos jurídicos públicos.

Artigo 144
(Representação dos órgãos centrais)

Os órgãos centrais do Estado asseguram a sua representação


nos diversos escalões territoriais.

TÍTULO VI
PRESIDENTE DA REPÚBLICA

CAPÍTULO I
Estatuto e Eleição

Artigo 145
(Definição)

1. O Presidente da República é o Chefe do Estado, simboliza a


unidade nacional, representa a Nação no plano interno e
internacional e zela pelo funcionamento correcto dos órgãos
do Estado.

2. O Chefe do Estado é o garante da Constituição.

3. O Presidente da República é o Chefe do Governo.

4. O Presidente da República é o Comandante - Chefe das


Forças de Defesa e Segurança.

71
Constituição da República

Artigo 146
(Elegibilidade)

1. O Presidente da República é eleito por sufrágio universal


directo, igual, secreto, pessoal e periódico.

2. Podem ser candidatos a Presidente da República os


cidadãos moçambicanos que cumulativamente:

a) tenham a nacionalidade originária e não possuam


outra nacionalidade;

b) possuam a idade mínima de trinta e cinco anos;

c) estejam no pleno gozo dos direitos civis e políticos;

d) tenham sido propostos por um mínimo de dez mil


eleitores.

3. O mandato do Presidente da República é de cinco anos.

4. O Presidente da República só pode ser reeleito uma vez.

5. O Presidente da República que tenha sido eleito duas vezes


consecutivas só pode candidatar-se a eleições presidenciais
cinco anos após o último mandato.

Artigo 147
(Eleição)

1. É eleito Presidente da República o candidato que reúna


mais de metade dos votos expressos.

2. Em caso de nenhum dos candidatos obter a maioria


absoluta há uma segunda volta, na qual participam os dois
candidatos mais votados.

72
Constituição da República

Artigo 148
(Incompatibilidade)

O Presidente da República não pode, salvo nos casos


expressamente previstos na Constituição, exercer qualquer
outra função pública e, em caso algum, desempenhar
quaisquer funções privadas.

Artigo 149
(Investidura e juramento)

1. O Presidente da República é investido no cargo pelo


Presidente do Conselho Constitucional em acto público e
perante os deputados da Assembleia da República e demais
representantes dos órgãos de soberania.

2. No momento da investidura, o Presidente da República


eleito presta o seguinte juramento:

“Juro, por minha honra, respeitar e fazer respeitar a


Constituição, desempenhar com fidelidade o cargo de
Presidente da República de Moçambique, dedicar
todas as minhas energias à defesa, promoção e
consolidação da unidade nacional, dos direitos
humanos, da democracia e ao bem-estar do povo
moçambicano e fazer justiça a todos os cidadãos”.

Artigo 150
(Impedimento e ausência)

1. Em caso de impedimento ou ausência do país, o Presidente


da República é substituído pelo Presidente da Assembleia da
República ou, no impedimento deste, pelo seu substituto.

2. É vedada a ausência simultânea do país do Chefe do Estado


e do seu substituto constitucional.

73
Constituição da República

3. Os impedimentos ou ausências do Presidente da República


são de imediato notificados à Assembleia da República, ao
Conselho Constitucional e ao Governo.

Artigo 151
(Substituição interina e incompatibilidades)

1. As funções de Chefe do Estado são ainda assumidas


interinamente pelo Presidente da Assembleia da República
nas circunstâncias seguintes:

a) morte ou incapacidade permanente comprovadas por


junta médica;

b) renúncia, comunicada à Assembleia da República;

c) suspensão ou destituição em consequência de


pronúncia ou condenação pelo Tribunal Supremo.

2. As circunstâncias referidas no número anterior implicam a


realização de eleições Presidenciais.

3. Em caso de renúncia ao cargo o Presidente da República


não pode candidatar-se para um novo mandato nos dez anos
seguintes.

4. Enquanto exercer interinamente as funções de Presidente


da República, o mandato de deputado do Presidente da
Assembleia da República suspende-se automaticamente.

Artigo 152
(Responsabilidade criminal)

1. Por crimes praticados no exercício das suas funções, o


Presidente da República responde perante o Tribunal
Supremo.

74
Constituição da República

2. Pelos crimes praticados fora do exercício das suas funções,


o Presidente da República responde perante os tribunais
comuns, no termo do mandato.

3. Cabe à Assembleia da República requerer ao Procurador -


Geral da República o exercício da acção penal contra o
Presidente da República, por proposta de pelo menos um terço
e aprovada por maioria de dois terços dos deputados da
Assembleia da República.

4. O Presidente da República fica suspenso das suas funções a


partir da data do trânsito em julgado do despacho de
pronúncia ou equivalente e a sua condenação implica a
destituição do cargo.

5. O Tribunal Supremo, em plenário, profere acórdão no prazo


máximo de sessenta dias.

6. Havendo acórdão condenatório o Presidente da República


não pode voltar a candidatar-se a tal cargo ou ser titular de
órgão de soberania ou de autarquia local.

Artigo 153
(Prisão preventiva)

Em caso algum pode o Presidente da República, em exercício


efectivo de funções, ser sujeito à prisão preventiva.

Artigo 154
(Eleição em caso de vacatura)

1. A eleição do novo Presidente da República, por morte,


incapacidade permanente, renúncia ou destituição, deve ter
lugar dentro dos noventa dias subsequentes, sendo vedado ao
Presidente da República interino candidatar-se ao cargo.

75
Constituição da República

2. Não há eleição para Presidente da República se a vacatura


ocorrer nos trezentos sessenta e cinco dias antes do fim do
mandato, devendo permanecer o Presidente da República
interino até à realização das eleições.

Artigo 155
(Incapacidade)

1. A incapacidade permanente do Presidente da República é


comprovada por junta médica definida nos termos da lei.

2. A incapacidade permanente do Presidente da República é


declarada pelo Conselho Constitucional.

3. Cabe ao Conselho Constitucional verificar a morte e a perda


do cargo de Presidente da República.

Artigo 156
(Regime de interinidade)

1. Durante o período da vacatura do cargo de Presidente da


República a Constituição não pode ser alterada.

2. O Presidente da República interino garante o


funcionamento dos órgãos do Estado e demais instituições e
não pode exercer as competências referidas nas alíneas c), e),
f), g), h), k) e l) do artigo 158, nas alíneas b) e c), do número 1,
e no número 2, do artigo 159, na alínea e), do artigo 160 e na
alínea c), do artigo 161.

Artigo 157
(Forma dos actos)

Os actos normativos do Presidente da República assumem a


forma de decreto presidencial e as demais decisões revestem
a forma de despacho e são publicadas no Boletim da
República.

76
Constituição da República

CAPÍTULO II
Competência

Artigo 158
(Competências gerais)

Compete ao Chefe do Estado no exercício da sua função:

a) dirigir-se à nação através de mensagens e


comunicações;

b) informar anualmente a Assembleia da República sobre


a situação geral da nação;

c) decidir, nos termos do artigo 136, a realização de


referendo sobre questões de interesse relevantes para
a nação;

d) convocar eleições gerais;

e) dissolver a Assembleia da República nos termos do


artigo 187;

f) demitir os restantes membros do Governo quando o


seu programa seja rejeitado pela segunda vez pela
Assembleia da República;

g) nomear o Presidente do Tribunal Supremo, o


Presidente do Conselho Constitucional, o Presidente
do Tribunal Administrativo e o Vice - Presidente do
Tribunal Supremo;

h) nomear, exonerar e demitir o Procurador - Geral da


República e o Vice - Procurador - Geral da República;

i) conferir posse ao Governador de Província;

77
Constituição da República

j) demitir o Governador de Província e o Administrador


de Distrito, nos termos da Constituição;

k) indultar e comutar penas;

l) atribuir, nos termos da lei títulos honoríficos,


condecorações e distinções.

Artigo 159
(No domínio do Governo)

1. No domínio do Governo, compete ao Presidente da


República:

a) convocar e presidir as sessões do Conselho de


Ministros;

b) nomear, exonerar e demitir o Primeiro - Ministro;

c) criar ministérios e comissões de natureza inter -


ministerial.

2. Compete, ainda ao Presidente da República, nomear,


exonerar e demitir:

a) os Ministros e Vice - Ministros;

b) os Reitores e Vice - Reitores das Universidades


Estatais, sob proposta dos respectivos colectivos de
direcção, nos termos da lei;

c) o Governador e o Vice - Governador do Banco de


Moçambique;

d) os Secretários de Estado;

78
Constituição da República

e) o Secretário de Estado na Província.

Artigo 160
(No domínio da defesa e da ordem pública)

No domínio da defesa nacional e da ordem pública, compete


ao Presidente da República:

a) declarar a guerra e a sua cessação, o estado de sítio ou


de emergência;

b) celebrar tratados;

c) decretar a mobilização geral ou parcial;

d) presidir ao Conselho Nacional de Defesa e Segurança;

e) nomear, exonerar e demitir o Chefe e o Vice - Chefe do


Estado – Maior - General, o Comandante - Geral e Vice
– Comandante - Geral da Polícia, os Comandantes de
Ramo das Forças Armadas de Defesa de Moçambique
e outros oficiais das Forças de Defesa e Segurança,
nos termos definidos por lei.

Artigo 161
(No domínio das relações internacionais)

No domínio das relações internacionais, compete ao


Presidente da República:

a) orientar a política externa;

b) celebrar tratados internacionais;

c) nomear, exonerar e demitir os Embaixadores e


enviados diplomáticos da República de Moçambique;

79
Constituição da República

d) receber as cartas credenciais dos Embaixadores e


enviados diplomáticos de outros países.

Artigo 162
(Promulgação e veto)

1. Compete ao Presidente da República promulgar e mandar


publicar as leis no Boletim da República.

2. As leis são promulgadas até trinta dias após a sua recepção,


ou após a notificação do acórdão do Conselho Constitucional
que se pronuncia pela não inconstitucionalidade de qualquer
norma delas constantes.

3. O Presidente da República pode vetar a lei por mensagem


fundamentada, devolvê-la para reexame pela Assembleia da
República.

4. Se a lei reexaminada for aprovada por maioria de dois


terços, o Presidente da República deve promulgá-la e mandá-
la publicar.

CAPÍTULO III
Conselho de Estado

Artigo 163
(Definição e composição)

1. O Conselho de Estado é o órgão político de consulta do


Presidente da República.

2. O Conselho de Estado é presidido pelo Presidente da


República e tem a seguinte composição:

a) o Presidente da Assembleia da República;

80
Constituição da República

b) o Primeiro - Ministro;

c) o Presidente do Conselho Constitucional;

d) Provedor de Justiça;

e) os antigos Presidentes da República não destituídos


da função;

f) os antigos Presidentes da Assembleia da República;

g) sete personalidades de reconhecido mérito eleitas pela


Assembleia da República pelo período da legislatura,
de harmonia com a representatividade parlamentar;

h) quatro personalidades de reconhecido mérito


designadas pelo Presidente da República, pelo período
do seu mandato;

i) o segundo candidato mais votado ao cargo de


Presidente da República.

Artigo 164
(Posse e estatuto)

1. Os membros do Conselho de Estado tomam posse perante


o Presidente da República.

2. Os membros do Conselho de Estado, por inerência,


mantêm-se em funções enquanto exercem os respectivos
cargos.

3. Os membros do Conselho de Estado gozam de regalias,


imunidades e tratamento protocolar a serem fixadas por lei.

81
Constituição da República

Artigo 165
(Competências)

Compete ao Conselho de Estado, em geral, aconselhar o


Presidente da República no exercício das suas funções sempre
que este o solicite e ainda, pronunciar-se obrigatoriamente
sobre a:

a) dissolução da Assembleia da República;

b) declaração de guerra, do estado de sítio ou do estado


de emergência;

c) realização de referendo, nos termos da alínea c), do


artigo 158;

d) convocação de eleições gerais;

e) demissão do Governador de Província e Administrador


de Distrito pelo Presidente da República.

Artigo 166
(Funcionamento)

1. Os pareceres do Conselho de Estado são emitidos na


reunião que para o efeito for convocada e presidida pelo
Presidente da República, podendo ser tornados públicos
aquando da prática do acto a que se referem.

2. As reuniões do Conselho de Estado não são públicas.

3. O Conselho de Estado estabelece o respectivo regimento.

82
Constituição da República

TÍTULO VII
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

CAPÍTULO I
Estatuto e Eleição

Artigo 167
(Definição)

1. A Assembleia da República é a assembleia representativa


de todos os cidadãos moçambicanos.

2. O Deputado representa todo o país e não apenas o círculo


pelo qual é eleito.

Artigo 168
(Função)

1. A Assembleia da República é o mais alto órgão legislativo na


República de Moçambique.

2. A Assembleia da República determina as normas que regem


o funcionamento do Estado e a vida económica e social
através de leis e deliberações de carácter genérico.

Artigo 169
(Eleição e composição)

1. A Assembleia da República é eleita por sufrágio universal,


directo, igual, secreto, pessoal e periódico.

2. A Assembleia da República é constituída por duzentos e


cinquenta deputados.

3. Concorrem às eleições os partidos políticos, isoladamente


ou em coligação de partidos, e as respectivas listas podem
integrar cidadãos não filiados nos partidos.

83
Constituição da República

Artigo 170
(Mandato do Deputado)

1. O mandato do Deputado coincide com a duração da


legislatura, salvo renúncia ou perda do mandato.

2. A suspensão, a substituição, a renúncia e a perda do


mandato são reguladas pelo Estatuto do Deputado.

Artigo 171
(Incompatibilidades)

1. A função de Deputado é incompatível com as de:

a) membro do Governo;

b) magistrado em efectividade de funções;

c) diplomata em efectividade de serviço;

d) militar e polícia no activo;

e) governador provincial e administrador distrital;

f) titular de órgãos autárquicos.

2. A lei determina as demais incompatibilidades.

Artigo 172
(Poderes do Deputado)

São poderes do Deputado:

a) exercer o direito de voto;

b) submeter projectos de leis, resoluções e demais


deliberações;

84
Constituição da República

c) candidatar-se aos órgãos da Assembleia da República;

d) requerer e obter do Governo ou das instituições


públicas dados e informações necessários ao exercício
do seu mandato;

e) fazer perguntas e interpelações ao Governo;

f) outros consignados no Regimento da Assembleia da


República.

Artigo 173
(Imunidades)

1. Nenhum Deputado pode ser detido ou preso, salvo em caso


de flagrante delito, ou submetido a julgamento sem
consentimento da Assembleia da República.

2. Tratando-se de processo penal pendente em que tenha sido


constituído arguido, o Deputado é ouvido por um juiz
conselheiro.

3. O Deputado goza de foro especial e é julgado pelo Tribunal


Supremo, nos termos da lei.

Artigo 174
(Irresponsabilidade)

1. Os deputados da Assembleia da República não podem ser


processados judicialmente, detidos ou julgados pelas opiniões
ou votos emitidos no exercício da sua função de Deputado.

2. Exceptuam-se a responsabilidade civil e a responsabilidade


criminal por injúria, difamação ou calúnia.

85
Constituição da República

Artigo 175
(Direitos e regalias do Deputado)

1. O Deputado goza dos seguintes direitos e demais regalias:

a) cartão especial de identificação;

b) livre trânsito em locais públicos de acesso


condicionado, no exercício das suas funções ou por
causa delas;

c) apoio, cooperação, protecção e facilidades das


entidades públicas ou militares da República, para o
exercício do seu mandato nos termos da lei;

d) remuneração e subsídios estabelecidos na lei.

2. O Deputado não pode intervir em processos judiciais como


perito ou testemunha, salvo quando autorizado pela
Assembleia da República ou pela Comissão Permanente.

3. O Deputado goza ainda dos demais direitos e regalias


estabelecidos na lei.

Artigo 176
(Deveres do Deputado)

O Deputado tem os seguintes deveres:

a) observar a Constituição e as leis;

b) observar o Estatuto do Deputado;

c) respeitar a dignidade da Assembleia da República e


dos deputados;

86
Constituição da República

d) comparecer às sessões do Plenário e às da Comissão


de que for membro;

e) participar nas votações e nos trabalhos da Assembleia


da República.

Artigo 177
(Renúncia e perda do mandato)

1. O Deputado pode renunciar ao mandato, nos termos da lei.

2. Perde o mandato o Deputado que:

a) for condenado definitivamente por crime doloso em


pena de prisão superior a dois anos;

b) se inscreva ou assuma função em partido ou coligação


diferentes daquele pelo qual foi eleito;

c) não tome assento na Assembleia da República ou


exceda o número de faltas estabelecido no
Regimento.

3. Implicam ainda a perda do mandato quaisquer


inelegibilidades existentes à data das eleições e conhecidas
posteriormente, bem como as incapacidades previstas na lei.

CAPÍTULO II
Competência

Artigo 178
(Competências)

1. Compete à Assembleia da República legislar sobre as


questões básicas da política interna e externa do país.

87
Constituição da República

2. É da exclusiva competência da Assembleia da República:

a) aprovar as leis constitucionais;

b) aprovar a delimitação das fronteiras da República de


Moçambique;

c) deliberar sobre a divisão territorial;

d) aprovar a legislação eleitoral e o regime do referendo;

e) aprovar e denunciar os tratados que versem sobre


matérias da sua competência;

f) propor a realização de referendo sobre questões de


interesse nacional;

g) sancionar a suspensão de garantias constitucionais e


a declaração do estado de sítio ou do estado de
emergência;

h) ratificar a nomeação do Presidente do Tribunal


Supremo, do Presidente do Conselho Constitucional,
do Presidente do Tribunal Administrativo e do Vice -
Presidente do Tribunal Supremo;

i) eleger o Provedor da Justiça;

j) deliberar sobre o programa do Governo;

k) deliberar sobre os relatórios de actividades do


Conselho de Ministros;

l) deliberar sobre as grandes opções do Plano


Económico e Social e do Orçamento do Estado e os
respectivos relatórios de execução;
m) aprovar o Orçamento do Estado;

88
Constituição da República

n) definir a política de defesa e segurança , ouvido o


Conselho Nacional de Defesa e Segurança;

o) definir as bases da política de impostos e o sistema


fiscal;

p) autorizar o Governo, definindo as condições gerais, a


contrair ou a conceder empréstimos, a realizar outras
operações de crédito, por período superior a um
exercício económico e a estabelecer o limite máximo
dos avales a conceder pelo Estado;

q) definir o estatuto dos titulares dos órgãos de


soberania, das províncias e dos órgãos autárquicos;

r) deliberar sobre as bases gerais da organização e


funcionamento da Administração Pública;

s) ratificar os decretos - lei;

t) ratificar e denunciar os tratados internacionais;

u) ratificar os tratados de participação de Moçambique


nas organizações internacionais de defesa;

v) conceder amnistias e perdão de penas.

3. Com excepção das competências enunciadas no número 2


do presente artigo, a Assembleia da República pode autorizar
o Governo a legislar sobre outras matérias, sob forma de
decreto - lei.

4. Compete ainda à Assembleia da República:

a) eleger o Presidente, os Vice - Presidentes e a Comissão


Permanente;

89
Constituição da República

b) aprovar o Regimento da Assembleia da República e o


Estatuto do Deputado;

c) criar comissões da Assembleia da República e


regulamentar o seu funcionamento;

d) criar grupos nacionais parlamentares.

Artigo 179
(Leis de autorização legislativa)

1. As leis de autorização legislativa devem definir o objecto, o


sentido, a extensão e a duração da autorização.

2. As autorizações legislativas não podem ser utilizadas mais


de uma vez, sem prejuízo da sua execução parcelada ou da
respectiva prorrogação.

3. As autorizações legislativas caducam com o termo da


legislatura ou com a dissolução da Assembleia da República.

4. O Governo deve publicar o acto legislativo autorizado até ao


último dia do prazo indicado na lei de autorização, que começa
a contar-se a partir da data da publicação.

Artigo 180
(Decretos - Lei)

1. Os decretos - lei aprovados pelo Conselho de Ministros no


uso de autorização legislativa são considerados ratificados se,
na sessão da Assembleia da República imediata, a sua
ratificação não for requerida por um mínimo de quinze
deputados.

2. A Assembleia da República pode suspender no todo ou em


parte a vigência do decreto - lei até à sua apreciação.

90
Constituição da República

3. A suspensão caduca quando até ao fim da sessão a


Assembleia não se pronunciar.

4. A recusa da ratificação implica a revogação.

Artigo 181
(Forma de actos)

Os actos legislativos da Assembleia da República assumem a


forma de lei e as demais deliberações revestem a forma de
resolução e são publicados no Boletim da República.

Artigo 182
(Iniciativa de lei)

1. A iniciativa de lei pertence:

a) aos deputados;

b) às bancadas parlamentares;

c) às comissões da Assembleia da República;

d) ao Presidente da República;

e) ao Governo.

2. Os deputados e as bancadas parlamentares não podem


apresentar projecto de lei que envolva, directa ou
indirectamente, o aumento de despesas ou a diminuição das
receitas do Estado, ou que modifique, por qualquer modo, o
ano económico em curso.

Artigo 183
(Regime de discussão e votação)

1. A discussão das propostas e projectos de lei e de referendo

91
Constituição da República

compreende um debate na generalidade e outro na


especialidade.

2. A votação compreende uma votação na generalidade, uma


votação na especialidade e uma votação final global.

3. Se a Assembleia assim o deliberar, os textos aprovados na


generalidade são votados na especialidade pelas comissões,
sem prejuízo do poder de avocação pelo Plenário e do voto
final deste para aprovação global.

CAPÍTULO III
Organização e Funcionamento

Artigo 184
(Legislatura)

1. A legislatura tem a duração de cinco anos e inicia-se com a


primeira sessão da Assembleia da República, após as eleições
e termina com a primeira sessão da nova Assembleia eleita.

2. A primeira sessão da Assembleia da República tem lugar até


vinte dias após a validação e proclamação dos resultados
eleitorais.

Artigo 185
(Períodos de funcionamento)

A Assembleia da República reúne-se ordinariamente duas


vezes por ano e extraordinariamente sempre que a sua
convocação for requerida pelo Presidente da República, pela
Comissão Permanente ou por um terço, pelo menos, dos
deputados.

92
Constituição da República

Artigo 186
(Quorum e deliberação)

1. A Assembleia da República só pode deliberar achando-se


presentes mais de metade dos seus membros.

2. As deliberações da Assembleia da República são tomadas


por mais de metade dos votos dos deputados presentes.

3. As matérias referentes ao estatuto da oposição são


aprovadas por maioria de dois terços dos deputados.

Artigo 187
(Dissolução)

1. A Assembleia da República pode ser dissolvida, pelo


Presidente da República caso rejeite, após debate, o Programa
do Governo.

2. O Presidente da República convoca novas eleições


legislativas, nos termos da Constituição.

Artigo 188
(Limites à dissolução)

1. A dissolução da Assembleia da República não pode ocorrer,


em caso de estado de sítio ou de emergência, durante a
vigência deste e até ao sexagésimo dia posterior à sua
cessação.

2. É inexistente juridicamente o acto de dissolução que


contrarie o disposto no número anterior.

3. A dissolução da Assembleia da República não põe termo ao


mandato dos deputados nem às competências da sua
Comissão Permanente que subsistem até a primeira sessão da
nova Assembleia eleita.

93
Constituição da República

4. Operando-se a dissolução, a Assembleia eleita inicia nova


legislatura cujo mandato tem a duração do tempo
remanescente da legislatura anterior.

Artigo 189
(Presidente da Assembleia da República)

1. A Assembleia da República elege, de entre os seus


membros, o Presidente da Assembleia da República.

2. O Chefe do Estado convoca e preside a sessão que procede


a eleição do Presidente da Assembleia da República.

3. O Presidente da Assembleia da República é investido nas


suas funções pelo Presidente do Conselho Constitucional.

4. O Presidente da Assembleia da República é responsável


perante a Assembleia da República.

Artigo 190
(Competências do Presidente da Assembleia da
República)

Compete ao Presidente da Assembleia da República:

a) convocar e presidir as sessões da Assembleia da


República e da Comissão Permanente;

b) velar pelo cumprimento das deliberações da


Assembleia da República;

c) assinar as leis da Assembleia da República e submetê-


las à promulgação;

d) assinar e mandar publicar as resoluções e moções da


Assembleia da República;

94
Constituição da República

e) representar a Assembleia da República no plano


interno e internacional;

f) promover o relacionamento institucional entre a


Assembleia da República e as Assembleias Provinciais,
em conformidade com as normas regimentais;

g) exercer as demais competências consignadas na


Constituição e no Regimento.

Artigo 191
(Vice - Presidentes da Assembleia da República)

1. A Assembleia da República elege, de entre os seus


membros, Vice - Presidentes designados pelos partidos com
maior representação parlamentar.

2. Na ausência ou impedimento do Presidente da Assembleia


da República, as suas funções são exercidas por um dos Vice -
Presidentes, nos termos do Regimento da Assembleia da
República.

Artigo 192
(Comissão Permanente)

1. A Comissão Permanente é o órgão da Assembleia da


República que coordena as actividades do Plenário, das suas
Comissões e dos Grupos Nacionais Parlamentares.

2. A Comissão Permanente da Assembleia da República é


composta pelo Presidente, Vice - Presidentes e por outros
deputados eleitos nos termos da lei, sob proposta das
bancadas parlamentares, de acordo com a sua
representatividade.

95
Constituição da República

3. Os representantes referidos nos números anteriores têm na


Comissão Permanente um número de votos igual ao da
bancada parlamentar que representam.

4. A Comissão Permanente da Assembleia da República


funciona no intervalo das sessões plenárias e nos demais
casos previstos na Constituição e na lei.

Artigo 193
(Permanência)

No termo da legislatura ou em caso de dissolução, a Comissão


Permanente da Assembleia da República mantém-se em
funções até à sessão constitutiva da nova Assembleia eleita.

Artigo 194
(Competências)

Compete à Comissão Permanente da Assembleia da


República:

a) exercer os poderes da Assembleia da República


relativamente ao mandato dos deputados;

b) velar pela observância da Constituição e das leis,


acompanhar a actividade do Governo e da
Administração Pública;

c) pronunciar-se previamente sobre a declaração de


guerra;

d) autorizar ou confirmar, sujeito a ratificação, a


declaração do estado de sítio ou estado de
emergência, sempre que a Assembleia da República
não esteja reunida;

96
Constituição da República

e) dirigir as relações entre a Assembleia da República e as


Assembleias e instituições análogas de outros países;

f) autorizar a deslocação do Presidente da República em


visita de Estado;

g) criar comissões de inquérito de carácter urgente, no


intervalo das sessões plenárias da Assembleia da
República;

h) preparar e organizar as sessões da Assembleia da


República;

i) exercer as demais funções conferidas pelo Regimento


da Assembleia da República;

j) conduzir os trabalhos das sessões plenárias;

k) declarar as perdas e renúncias de mandatos dos


deputados, bem como as suspensões nos termos da
Constituição e do Regimento da Assembleia da
República;

l) decidir sobre questões de interpretação do Regimento


da Assembleia da República no intervalo das sessões
plenárias;

m) integrar nos trabalhos de cada sessão as iniciativas dos


deputados, das bancadas ou do Governo;

n) apoiar o Presidente da Assembleia da República na


gestão administrativa e financeira da Assembleia da
República.

97
Constituição da República

Artigo 195
(Bancada parlamentar)

1. Os deputados eleitos por cada partido podem constituir


bancada parlamentar.

2. A constituição e organização da bancada parlamentar são


fixadas no Regimento da Assembleia da República.

Artigo 196
(Poderes da bancada parlamentar)

1. Constituem poderes da bancada parlamentar os seguintes:

a) apresentar candidato a Presidente da Assembleia da


República;

b) propor candidato a Vice - Presidente da Assembleia da


República;

c) designar candidatos para a Comissão Permanente da


Assembleia da República;

d) designar candidatos para as Comissões da Assembleia


da República;

e) exercer iniciativa de lei;

f) requerer, com a presença do Governo, o debate de


questões de interesse público actual e urgente;

g) requerer a constituição de comissões parlamentares


de inquérito;

h) requerer o debate de assuntos de urgência não


agendados;

98
Constituição da República

i) solicitar informações e formular perguntas ao


Governo.

2. Cada bancada parlamentar tem o direito de dispor de locais


de trabalho na Assembleia da República, bem como de pessoal
técnico e administrativo, nos termos da lei.

Artigo 197
(Programa Quinquenal do Governo)

1. A Assembleia da República aprecia o Programa do Governo


no início da legislatura.

2. O Governo pode apresentar um programa reformulado que


tenha em conta as conclusões do debate.

Artigo 198
(Participação dos membros do Governo nas sessões)

1. O Primeiro - Ministro e os Ministros têm direito de


comparecer às sessões plenárias da Assembleia da República,
podendo usar da palavra, nos termos do Regimento.

2. Nas sessões plenárias da Assembleia da República é


obrigatória a presença do membro ou membros do Governo
convocados.

TÍTULO VIII
GOVERNO

CAPÍTULO I
Definição e Composição

Artigo 199
(Definição)

O Governo da República de Moçambique é o Conselho de


Ministros.
99
Constituição da República

Artigo 200
(Composição)

1. O Conselho de Ministros é composto pelo Presidente da


República que a ele preside, pelo Primeiro - Ministro e pelos
Ministros.

2. Podem ser convocados para participar em reuniões do


Conselho de Ministros os Vice - Ministros e os Secretários de
Estado.

Artigo 201
(Convocação e presidência)

1. Na sua actuação, o Conselho de Ministros observa as


decisões do Presidente da República e as deliberações da
Assembleia da República.

2. O Conselho de Ministros é convocado e presidido pelo


Primeiro - Ministro, por delegação do Presidente da República.

3. A formulação de políticas governamentais pelo Conselho de


Ministros é feita em sessões dirigidas pelo Presidente da
República.
CAPÍTULO II
Competência e Responsabilidade

Artigo 202
(Função)

1. O Conselho de Ministros assegura a administração do país,


garante a integridade territorial, vela pela ordem pública e
pela segurança e estabilidade dos cidadãos, promove o
desenvolvimento económico, implementa a acção social do
Estado, desenvolve e consolida a legalidade e realiza a política
externa do país.

100
Constituição da República

2. A defesa da ordem pública é assegurada por órgãos


apropriados que funcionam sob controlo governamental.

Artigo 203
(Competências)

1. Compete, nomeadamente, ao Conselho de Ministros:

a) garantir o gozo dos direitos e liberdades dos cidadãos;

b) assegurar a ordem pública e a disciplina social;

c) preparar propostas de lei a submeter à Assembleia da


República;

d) aprovar decretos - lei mediante autorização legislativa


da Assembleia da República;

e) preparar o Plano Económico e Social e o Orçamento


do Estado e executá-los após aprovação pela
Assembleia da República;

f) promover e regulamentar a actividade económica e


dos sectores sociais;

g) preparar a celebração de tratados internacionais e


celebrar, ratificar, aderir e denunciar acordos
internacionais, em matérias da sua competência
governativa;

h) dirigir a política laboral e de segurança social;

i) dirigir os sectores do Estado, em especial a educação e


saúde;

j) dirigir e promover a política de habitação.

101
Constituição da República

2. Compete, ainda, ao Conselho de Ministros:

a) garantir a defesa e consolidação do domínio público do


Estado e do património do Estado;

b) dirigir e coordenar as actividades dos ministérios e


outros órgãos subordinados ao Conselho de
Ministros;

c) orientar e dirigir os órgãos de representação do Estado


e regulamentar as suas atribuições, organização,
composição, funcionamento e competências;

d) tutelar, nos termos da Constituição e da lei, os


órgãos de governação provincial, distrital e das
autarquias locais;

e) estimular e apoiar o exercício da actividade


empresarial e da iniciativa privada e proteger os
interesses do consumidor e do público em geral;

f) promover o desenvolvimento cooperativo e o apoio à


produção familiar.

3. É da exclusiva iniciativa legislativa do Governo a matéria


respeitante à sua própria organização, composição e
funcionamento.

Artigo 204
(Competências do Primeiro - Ministro)

1. Compete ao Primeiro - Ministro, sem prejuízo de outras


atribuições confiadas pelo Presidente da República e por lei,
assistir e aconselhar o Presidente da República na direcção do
Governo.

102
Constituição da República

2. Compete, nomeadamente, ao Primeiro - Ministro:

a) assistir o Presidente da República na elaboração do


Programa do Governo;

b) aconselhar o Presidente da República na criação de


ministérios e comissões de natureza ministerial e na
nomeação de membros do Governo e outros dirigentes
governamentais;

c) elaborar e propor o plano de trabalho do Governo ao


Presidente da República;

d) garantir a execução das decisões dos órgãos do Estado


pelos membros do Governo;

e) presidir as reuniões do Conselho de Ministros


destinadas a tratar da implementação das políticas
definidas e outras decisões;

f) coordenar e controlar as actividades dos ministérios e


outras instituições governamentais;

g) supervisar o funcionamento técnico - administrativo


do Conselho de Ministros.

Artigo 205
(Relacionamento com a Assembleia da República)

1. Nas relações com a Assembleia da República, compete ao


Primeiro - Ministro:

a) apresentar à Assembleia da República o Programa do


Governo, a proposta do Plano Económico e Social e do
Orçamento do Estado;

103
Constituição da República

b) apresentar os relatórios de execução do Governo;

c) expor as posições do Governo perante a Assembleia da


República.

2. No exercício destas funções, o Primeiro - Ministro é assistido


pelos membros do Conselho de Ministros por ele designados.

Artigo 206
(Responsabilidade e competências do Conselho de
Ministros)

O Conselho de Ministros responde perante o Presidente da


República e a Assembleia da República pela realização da
política interna e externa e presta-lhes contas das suas
actividades, nos termos da lei.

Artigo 207
(Responsabilidade política dos membros do
Governo)

Os membros do Conselho de Ministros respondem perante o


Presidente da República e o Primeiro - Ministro pela aplicação
das decisões do Conselho de Ministros na área da sua
competência.
Artigo 208
(Solidariedade governamental)

Os membros do Governo estão vinculados ao Programa do


Governo e às deliberações do Conselho de Ministros.

Artigo 209
(Forma dos actos)

1. Os actos normativos do Conselho de Ministros revestem a


forma de decreto - lei e de decreto.

104
Constituição da República

2. Os decretos - lei e os decretos, referidos no número


anterior, devem indicar a lei ao abrigo da qual são aprovados.

3. Os decretos - lei são assinados e mandados publicar pelo


Presidente da República e os demais decretos do Governo são
assinados e mandados publicar pelo Primeiro - Ministro.

4. Os demais actos do Governo tomam a forma de resolução.

Artigo 210
(Imunidades)

1. Nenhum membro do Governo pode ser detido ou preso sem


autorização do Presidente da República, salvo em caso de
flagrante delito e por crime doloso a que corresponda pena de
prisão maior.

2. Movido procedimento criminal contra um membro do


Governo e acusado este definitivamente, o Presidente da
República decide se o membro do Governo deve ou não ser
suspenso para efeitos de prosseguimento do processo, sendo
obrigatória a decisão de suspensão quando se trate de crime
do tipo referido no número anterior.

TÍTULO IX
TRIBUNAIS

CAPÍTULO I
Princípios Gerais

Artigo 211
(Função jurisdicional)

1. Os tribunais têm como objectivo garantir e reforçar a


legalidade como factor da estabilidade jurídica, garantir o
respeito pelas leis, assegurar os direitos e liberdades dos

105
Constituição da República

cidadãos, assim como os interesses jurídicos dos diferentes


órgãos e entidades com existência legal.

2. Os tribunais penalizam as violações da legalidade e


decidem pleitos de acordo com o estabelecido na lei.

3. Podem ser definidos por lei mecanismos institucionais e


processuais de articulação entre os tribunais e demais
instâncias de composição de interesses e de resolução de
conflitos.
Artigo 212
(Função educacional)

Os tribunais educam os cidadãos e a administração pública no


cumprimento voluntário e consciente das leis, estabelecendo
uma justa e harmoniosa convivência social.

Artigo 213
(Inconstitucionalidade)

Nos feitos submetidos a julgamento os tribunais não podem


aplicar leis ou princípios que ofendam a Constituição.

Artigo 214
(Decisões dos tribunais)

As decisões dos tribunais são de cumprimento obrigatório


para todos os cidadãos e demais pessoas jurídicas e
prevalecem sobre as de outras autoridades.

Artigo 215
(Participação dos juízes eleitos)

1. Nos julgamentos podem participar juízes eleitos.

106
Constituição da República

2. Os juízes eleitos intervêm apenas nos julgamentos em


primeira instância e na decisão da matéria de facto.

3. A intervenção dos juízes eleitos é obrigatória nos casos


previstos na lei processual ou quando for determinada pelo
juiz da causa, promovida pelo Ministério Público ou requerida
pelas partes.

4. A lei estabelece as formas de eleição e de participação dos


juízes mencionados no presente artigo e fixa a duração do
respectivo período de exercício de funções.

CAPÍTULO II
Estatuto dos Juízes

Artigo 216
(Independência dos juízes)

1. No exercício das suas funções, os juízes são independentes


e apenas devem obediência à lei.

2. Os juízes têm igualmente as garantias de imparcialidade e


irresponsabilidade.

3. Os juízes são inamovíveis, não podendo ser transferidos,


suspensos, aposentados ou demitidos, senão nos casos
previstos na lei.

Artigo 217
(Responsabilidade)

1. Os juízes respondem civil, criminal e disciplinarmente por


actos praticados no exercício das suas funções apenas nos
casos especialmente previstos na lei.

107
Constituição da República

2. O afastamento de um juiz de carreira da função judicial só


pode ocorrer nos termos legalmente estabelecidos.

Artigo 218
(Incompatibilidades)

Os Magistrados Judiciais, em exercício, não podem


desempenhar quaisquer outras funções públicas ou privadas,
excepto a actividade de docente ou de investigação jurídica ou
outra de divulgação e publicação científica, literária, artística e
técnica, mediante prévia autorização do Conselho Superior da
Magistratura Judicial.

Artigo 219
(Conselho Superior da Magistratura Judicial)

O Conselho Superior da Magistratura Judicial é o órgão de


gestão e disciplina da magistratura judicial.

Artigo 220
(Composição)

1. O Conselho Superior da Magistratura Judicial tem a


seguinte composição:

a) o Presidente do Tribunal Supremo;

b) o Vice - Presidente do Tribunal Supremo;

c) dois membros designados pelo Presidente da


República;

d) cinco membros eleitos pela Assembleia da República,


segundo o critério de representação proporcional;

e) sete magistrados judiciais das diversas categorias,

108
Constituição da República

todos eleitos pelos seus pares, nos termos do Estatuto


dos Magistrados Judiciais.

2. O Conselho Superior da Magistratura Judicial é presidido


pelo Presidente do Tribunal Supremo, o qual é substituído nas
suas ausências e impedimentos, pelo Vice - Presidente do
Tribunal Supremo.

3. O Conselho Superior da Magistratura Judicial inclui


funcionários da justiça eleitos pelos seus pares, para
discussão e deliberação de matérias relativas ao mérito
profissional e ao exercício da função disciplinar sobre os
mesmos, em termos a determinar por lei.

4. A lei regula os demais aspectos relativos à competência,


organização e funcionamento do Conselho Superior da
Magistratura Judicial.

Artigo 221
(Competências)

Compete ao Conselho Superior da Magistratura Judicial,


nomeadamente:

a) nomear, colocar, transferir, promover, exonerar e


apreciar o mérito profissional, exercer a acção
disciplinar e, em geral, praticar todos os actos de
idêntica natureza respeitantes aos magistrados
judiciais;

b) apreciar o mérito profissional e exercer a acção


disciplinar sobre os funcionários da justiça, sem
prejuízo das competências disciplinares atribuídas aos
juízes;

109
Constituição da República

c) propor a realização de inspecções extraordinárias,


sindicâncias e inquéritos aos tribunais;

d) dar pareceres e fazer recomendações sobre a política


judiciária, por sua iniciativa ou a pedido do Presidente
da República, da Assembleia da República ou do
Governo.

CAPÍTULO III
Organização dos Tribunais

SECÇÃO I
Espécies de Tribunais

Artigo 222
(Espécies)

1. Na República de Moçambique existem os seguintes


tribunais:

a) o Tribunal Supremo;

b) o Tribunal Administrativo;

c) os tribunais judiciais.

2. Podem existir tribunais administrativos, de trabalho, fiscais,


aduaneiros, marítimos, arbitrais e comunitários.

3. A competência, organização e funcionamento dos tribunais


referidos nos números anteriores são estabelecidos por lei,
que pode prever a existência de um escalão de tribunais entre
os tribunais provinciais e o Tribunal Supremo.

110
Constituição da República

4. Os tribunais judiciais são tribunais comuns em matéria civil


e criminal e exercem jurisdição em todas as áreas não
atribuídas a outras ordens jurisdicionais.

5. Na primeira instância, pode haver tribunais com


competência específica e tribunais especializados para o
julgamento de matérias determinadas.

6. Sem prejuízo do disposto quanto aos tribunais militares, é


proibida a existência de tribunais com competência exclusiva
para o julgamento de certas categorias de crimes.

Artigo 223
(Tribunais militares)

Durante a vigência do estado de guerra são constituídos


tribunais militares com competência para o julgamento de
crimes de natureza estritamente militar.

SECÇÃO II
Tribunal Supremo

Artigo 224
(Definição)

1. O Tribunal Supremo é o órgão superior da hierarquia dos


tribunais judiciais.

2. O Tribunal Supremo garante a aplicação uniforme da lei na


esfera da sua jurisdição e ao serviço dos interesses do povo
moçambicano.

Artigo 225
(Composição)

1. O Tribunal Supremo é composto por juízes conselheiros, em


número estabelecido por lei.

111
Constituição da República

2. O Presidente da República nomeia o Presidente e o Vice -


Presidente do Tribunal Supremo, ouvido o Conselho Superior
da Magistratura Judicial.

3. Os Juízes Conselheiros são nomeados pelo Presidente da


República, sob proposta do Conselho Superior da Magistratura
Judicial, após concurso público, de avaliação curricular, aberto
aos magistrados e a outros cidadãos nacionais, de reputado
mérito, todos licenciados em Direito, no pleno gozo dos seus
direitos civis e políticos.

4. Os Juízes Conselheiros do Tribunal Supremo devem, à data


da sua designação, ter idade igual ou superior a trinta e cinco
anos, haver exercido, pelo menos durante dez anos,
actividade forense ou de docência em Direito, sendo os
demais requisitos, fixados por lei.

Artigo 226
(Funcionamento)

O Tribunal Supremo funciona:

a) em secções, como tribunal de primeira e de segunda


instância;

b) em plenário, como tribunal de segunda instância e de


instância única, nos casos expressamente previstos na
lei.

SECÇÃO III
Tribunal Administrativo

Artigo 227
(Definição)

1. O Tribunal Administrativo é o órgão superior da hierarquia


dos tribunais administrativos, fiscais e aduaneiros.

112
Constituição da República

2. O controlo da legalidade dos actos administrativos e da


aplicação das normas regulamentares emitidas pela
Administração Pública, bem como a fiscalização da legalidade
das despesas públicas e a respectiva efectivação da
responsabilidade por infracção financeira cabem ao Tribunal
Administrativo.

Artigo 228
(Composição)

1. O Tribunal Administrativo é composto por Juízes


Conselheiros, em número estabelecido por lei.

2. O Presidente da República nomeia o Presidente do Tribunal


Administrativo, ouvido o Conselho Superior da Magistratura
Judicial Administrativa.

3. Os Juízes Conselheiros do Tribunal Administrativo são


nomeados pelo Presidente da República, sob proposta do
Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa.

4. Os Juízes Conselheiros do Tribunal Administrativo devem, à


data da sua nomeação, ter idade igual ou superior a trinta e
cinco anos e preencher os demais requisitos estabelecidos por
lei.

Artigo 229
(Competências)

1. Compete, nomeadamente ao Tribunal Administrativo:

a) julgar as acções que tenham por objecto litígios


emergentes das relações jurídicas administrativas;

b) julgar os recursos contenciosos interpostos das


decisões dos órgãos do Estado, dos respectivos
titulares e agentes;

113
Constituição da República

c) conhecer dos recursos interpostos das decisões


proferidas pelos tribunais administrativos, fiscais e
aduaneiras.

2. Compete ainda ao Tribunal Administrativo:

a) emitir o relatório e o parecer sobre a Conta Geral do


Estado;

b) fiscalizar, previamente, a legalidade e a cobertura


orçamental dos actos e contratos sujeitos à jurisdição
do Tribunal Administrativo;

c) fiscalizar, sucessiva e concomitantemente os dinheiros


públicos;

d) fiscalizar a aplicação dos recursos financeiros obtidos


no estrangeiro, nomeadamente através de
empréstimos, subsídios, avales e donativos.

Artigo 230
(Organização e funcionamento)

A lei regula a organização e o funcionamento do Tribunal


Administrativo e os demais aspectos relativos à sua
competência.

Artigo 231
(Conselho Superior da Magistratura Judicial
Administrativa)

1. O Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa


é o órgão de gestão e disciplina da Magistratura
Administrativa, Fiscal e Aduaneira.

114
Constituição da República

2. A lei regula a organização, a composição e o funcionamento


do Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa.

Artigo 232
(Incompatibilidades)

Os magistrados do Tribunal Administrativo, em exercício, não


podem desempenhar quaisquer outras funções públicas ou
privadas, excepto a actividade de docente ou de investigação
jurídica ou outra de divulgação e publicação científica,
literária, artística e técnica, mediante prévia autorização do
Conselho Superior da Magistratura Judicial Administrativa.

TÍTULO X
MINISTÉRIO PÚBLICO

Artigo 233
(Definição)

1. O Ministério Público constitui uma magistratura


hierarquicamente organizada, subordinada ao Procurador -
Geral da República.

2. No exercício das suas funções, os magistrados e agentes do


Ministério Público estão sujeitos aos critérios de legalidade,
objectividade, isenção e exclusiva sujeição às directivas e
ordens previstas na lei.

3. O Ministério Público goza de estatuto próprio e de


autonomia, nos termos da lei.

Artigo 234
(Natureza)

O Ministério Público compreende a respectiva magistratura, a


Procuradoria - Geral da República e os órgãos subordinados.

115
Constituição da República

Artigo 235
(Funções)

Ao Ministério Público compete representar o Estado junto dos


tribunais e defender os interesses que a lei determina,
controlar a legalidade, os prazos das detenções, dirigir a
instrução preparatória dos processos-crime, exercer a acção
penal e assegurar a defesa jurídica dos menores, ausentes e
incapazes.
Artigo 236
(Procuradoria - Geral da República)

1. A Procuradoria - Geral da República é o órgão superior do


Ministério Público, com a orgânica, composição e
competências definidas na lei.

2. A Procuradoria - Geral da República é dirigida pelo


Procurador - Geral, o qual é coadjuvado pelo Vice - Procurador
- Geral da República.

Artigo 237
(Conselho Superior da Magistratura do Ministério
Público)

1. A Procuradoria - Geral da República compreende o


Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público, que
inclui na sua composição membros eleitos pela Assembleia da
República e membros de entre si eleitos pelos magistrados do
Ministério Público.

2. O Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público é


o órgão de gestão e disciplina do Ministério Público.

3. A lei regula a organização, a composição e funcionamento


do Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público.

116
Constituição da República

Artigo 238
(Procurador - Geral e Vice - Procurador - Geral da
República)

1. O Procurador - Geral e o Vice - Procurador - Geral da


República são nomeados, por um período de cinco anos, pelo
Presidente da República de entre licenciados em Direito, que
hajam exercido, pelo menos durante dez anos, actividade
profissional na magistratura ou em qualquer outra actividade
forense ou de docência em Direito, não podendo o seu
mandato cessar senão nos seguintes casos:

a) renúncia;

b) exoneração;

c) demissão;

d) aposentação compulsiva em consequência de


processo disciplinar ou criminal;

e) aceitação de lugar ou cargo incompatível com o


exercício das suas funções.

2. O Procurador - Geral da República responde perante o


Chefe do Estado.

3. O Procurador - Geral da República presta informação anual


à Assembleia da República.

Artigo 239
(Procuradores - Gerais Adjuntos)

1. Os Procuradores - Gerais Adjuntos representam o Ministério


Público junto das secções do Tribunal Supremo e do Tribunal
Administrativo e constituem o topo da carreira da Magistratura
do Ministério Público.

117
Constituição da República

2. Os Procuradores - Gerais Adjuntos são nomeados pelo


Presidente da República, sob proposta do Conselho Superior
da Magistratura do Ministério Público, após concurso público
de avaliação curricular, aberto a cidadãos nacionais de
reputado mérito, licenciados em Direito, no pleno gozo dos
seus direitos civis e políticos, que tenham, à data do concurso,
idade igual ou superior a trinta e cinco anos e que tenham
exercido, pelo menos durante dez anos, a actividade forense
ou de docência em Direito.

TÍTULO XI
CONSELHO CONSTITUCIONAL

Artigo 240
(Definição)

1. O Conselho Constitucional é o órgão de soberania, ao qual


compete especialmente administrar a justiça, em matérias de
natureza jurídico-constitucional.

2. A organização, funcionamento e o processo de verificação e


controlo da constitucionalidade, da legalidade dos actos
normativos e as demais competências do Conselho
Constitucional são fixadas por lei.

Artigo 241
(Composição)

1. O Conselho Constitucional é composto por sete juízes


conselheiros, designados nos seguintes termos:

a) um juiz conselheiro nomeado pelo Presidente da


República que é o Presidente do Conselho
Constitucional;

b) cinco juízes conselheiros designados pela Assembleia

118
Constituição da República

da República segundo o critério da representação


proporcional;

c) um juiz conselheiro designado pelo Conselho Superior


da Magistratura Judicial.

2. Os juízes conselheiros do Conselho Constitucional são


designados para um mandato de cinco anos, renovável e
gozam de garantia de independência, inamovibilidade,
imparcialidade e irresponsabilidade.

3. Os juízes conselheiros do Conselho Constitucional, à data


da sua designação, devem ter idade igual ou superior a trinta e
cinco anos, ter pelo menos dez anos de experiência
profissional na magistratura ou em qualquer actividade
forense ou de docência em Direito.

Artigo 242
(Incompatibilidades)

Os Juízes Conselheiros do Conselho Constitucional, em


exercício, não podem desempenhar quaisquer outras funções
públicas ou privadas, excepto a actividade de docente ou de
investigação jurídica ou outra de divulgação e publicação
científica, literária, artística e técnica, mediante prévia
autorização do respectivo órgão.

Artigo 243
(Competências)

1. Compete ao Conselho Constitucional:

a) apreciar e declarar a inconstitucionalidade das leis e a


ilegalidade dos actos normativos dos órgãos do
Estado;

119
Constituição da República

b) dirimir conflitos de competências entre os órgãos de


soberania;

c) verificar previamente a constitucionalidade dos


referendos;

d) apreciar e deliberar sobre a demissão do Governador


de Província e do Administrador de Distrito, pelo
Presidente da República;

e) apreciar e deliberar sobre a dissolução das


assembleias provinciais, distritais e autárquicas, pelo
Conselho de Ministros.

2. Cabe ainda ao Conselho Constitucional:

a) verificar os requisitos legais exigidos para as


candidaturas a Presidente da República;

b) declarar a incapacidade permanente do Presidente da


República;

c) verificar a morte e a perda de mandato do Presidente


da República;

d) apreciar em última instância, os recursos e as


reclamações eleitorais, validar e proclamar os
resultados eleitorais nos termos da lei;

e) decidir, em última instância, a legalidade da


constituição dos partidos políticos e suas coligações,
bem como apreciar a legalidade das suas
denominações, siglas, símbolos e ordenar a respectiva
extinção nos termos da Constituição e da lei;

120
Constituição da República

f) julgar as acções de impugnação de eleições e de


deliberação dos órgãos dos partidos políticos;

g) julgar as acções que tenham por objecto o contencioso


relativo ao mandato dos deputados;

h) julgar as acções que tenham por objecto as


incompatibilidades previstas na Constituição e na lei.

3. O Conselho Constitucional exerce as demais competências


que lhe sejam atribuídas por lei.

Artigo 244
(Solicitação de apreciação de inconstitucionalidade)

1. O Conselho Constitucional aprecia e declara, com força


obrigatória geral, a inconstitucionalidade das leis e a
ilegalidade dos demais actos normativos dos órgãos do
Estado, em qualquer momento da sua vigência.

2. Podem solicitar ao Conselho Constitucional a declaração de


inconstitucionalidade das leis ou de ilegalidade dos actos
normativos dos órgãos do Estado:

a) o Presidente da República;

b) o Presidente da Assembleia da República;

c) um terço, pelo menos, dos deputados da Assembleia


da República;

d) o Primeiro - Ministro;

e) o Procurador - Geral da República;

121
Constituição da República

f) o Provedor de Justiça;

g) dois mil cidadãos.

3. A lei regula o regime de admissão das acções de apreciação


de inconstitucionalidade.

Artigo 245
(Verificação preventiva da constitucionalidade)

1. O Presidente da República pode requerer ao Conselho


Constitucional a apreciação preventiva da constitucionalidade
de qualquer diploma que lhe tenha sido enviado para
promulgação.

2. A apreciação preventiva da constitucionalidade deve ser


requerida no prazo referido no número 2 do artigo 162.

3. Requerida à apreciação da constitucionalidade, interrompe-


se o prazo de promulgação.

4. Caso o Conselho Constitucional se pronuncie pela


inexistência da inconstitucionalidade, o novo prazo de
promulgação começa a correr a partir do conhecimento pelo
Presidente da República da deliberação do Conselho
Constitucional.

5. Se o Conselho Constitucional se pronunciar pela


inconstitucionalidade, o Presidente da República veta e
devolve o diploma à Assembleia da República.

Artigo 246
(Recursos)

1. Devem ser remetidos obrigatoriamente para o Conselho


Constitucional, os acórdãos e outras decisões com

122
Constituição da República

fundamento na inconstitucionalidade, nos seguintes casos:

a) quando se recuse a aplicação de qualquer norma com


base na sua inconstitucionalidade;

b) quando o Procurador - Geral da República ou o


Ministério Público solicite a apreciação abstracta da
constitucionalidade ou da legalidade de qualquer
norma, cuja aplicação tenha sido recusada, com a
justificação de inconstitucionalidade ou ilegalidade,
por decisão judicial insusceptível de recurso.

2. A lei regula o regime de admissão dos recursos previstos


nesta disposição.

Artigo 247
(Irrecorribilidade e obrigatoriedade dos acórdãos)

1. Os acórdãos do Conselho Constitucional são de


cumprimento obrigatório para todos os cidadãos, instituições
e demais pessoas jurídicas, não são passíveis de recurso e
prevalecem sobre outras decisões.

2. Em caso de incumprimento dos acórdãos referidos no


presente artigo, o infractor incorre no cometimento de crime
de desobediência, se crime mais grave não couber.

3. Os acórdãos do Conselho Constitucional são publicados no


Boletim da República.

123
Constituição da República

TÍTULO XII
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, POLÍCIA E PROVEDOR
DE JUSTIÇA

CAPÍTULO I
Administração Pública

Artigo 248
(Princípios fundamentais)

1. A Administração Pública serve o interesse público e na sua


actuação respeita os direitos e liberdades fundamentais dos
cidadãos.

2. Os órgãos da Administração Pública obedecem à


Constituição e à lei e actuam com respeito pelos princípios da
igualdade, da imparcialidade, da ética e da justiça.

Artigo 249
(Estrutura)

1. A Administração Pública estrutura-se com base no princípio


de descentralização e desconcentração, promovendo a
modernização e a eficiência dos seus serviços sem prejuízo da
unidade de acção e dos poderes de direcção do Governo.

2. A Administração Pública pode organizar-se através de


outras pessoas colectivas distintas do Estado - Administração,
com a participação dos cidadãos.

3. A Administração Pública promove a simplificação de


procedimentos administrativos e a aproximação dos serviços
aos cidadãos.

124
Constituição da República

Artigo 250
(Acesso e estatuto dos funcionários)

1. O acesso à Função Pública e a progressão nas carreiras


profissionais não podem ser prejudicados em razão da cor,
raça, sexo, religião, origem étnica ou social ou opção político -
partidária e obedece estritamente aos requisitos de mérito e
capacidade dos interessados.

2. A lei regula o estatuto dos funcionários e demais agentes do


Estado, as incompatibilidades e as garantias de imparcialidade
no exercício dos cargos públicos.

Artigo 251
(Hierarquia)

1. Os funcionários e demais agentes do Estado, no exercício


das suas funções, devem obediência aos seus superiores
hierárquicos, nos termos da lei.

2. O dever de obediência cessa sempre que o seu


cumprimento implique a prática de crime.

Artigo 252
(Direitos e garantias dos administrados)

1. Os cidadãos têm o direito de serem informados pelos


serviços competentes da Administração Pública sempre que
requeiram sobre o andamento dos processos em que estejam
directamente interessados nos termos da lei.

2. Os actos administrativos são notificados aos interessados


nos termos e nos prazos da lei e são fundamentados quando
afectam direitos ou interesses dos cidadãos legalmente
tutelados.

125
Constituição da República

3. É assegurado aos cidadãos interessados o direito ao recurso


contencioso fundado em ilegalidade de actos administrativos,
desde que prejudiquem os seus direitos.

CAPÍTULO II
Polícia

Artigo 253
(Definição)

1. A Polícia da República de Moçambique, em colaboração com


outras instituições do Estado, tem como função garantir a lei e
a ordem, a salvaguarda da segurança de pessoas e bens, a
tranquilidade pública, o respeito pelo Estado de Direito
Democrático e a observância estrita dos direitos e liberdades
fundamentais dos cidadãos.

2. A Polícia é apartidária.

3. No exercício das suas funções a Polícia obedece a lei e serve


com isenção e imparcialidade os cidadãos e as instituições
públicas e privadas.

Artigo 254
(Comando e organização)

1. A Polícia da República de Moçambique é dirigida por um


Comandante - Geral.

2. A lei estabelece a organização geral da Polícia, fixa os


respectivos ramos, determina a sua função, estrutura e as
normas que regem o ingresso.

126
Constituição da República

CAPÍTULO III
Provedor de Justiça

Artigo 255
(Definição)

O Provedor de Justiça é um órgão que tem como função a


garantia dos direitos dos cidadãos, a defesa da legalidade e da
justiça na actuação da Administração Pública.

Artigo 256
(Eleição)

O Provedor de Justiça é eleito pela Assembleia da República,


por maioria de dois terços dos deputados, pelo tempo que a lei
determinar.
Artigo 257
(Independência)

1. O Provedor de Justiça é independente e imparcial no


exercício das suas funções, devendo observância apenas à
Constituição e às leis.

2. O Provedor de Justiça submete uma informação anual à


Assembleia da República sobre a sua actividade.

Artigo 258
(Competências)

1. O Provedor de Justiça aprecia os casos que lhe são


submetidos, sem poder decisório, e produz recomendações
aos órgãos competentes para reparar ou prevenir ilegalidades
ou injustiças.

2. Se as investigações do Provedor de Justiça levarem à


presunção de que a Administração Pública cometeu erros,

127
Constituição da República

irregularidades ou violações graves, informa à Assembleia da


República, o Procurador - Geral da República e a autoridade
central ou local com a recomendação das medidas
pertinentes.

Artigo 259
(Dever de colaboração)

Os órgãos e agentes da Administração Pública têm o dever de


prestar a colaboração que lhes for requerida pelo Provedor de
Justiça no exercício das suas funções.

Artigo 260
(Estatuto, procedimentos e organização)

Os demais aspectos relativos ao estatuto, procedimentos e à


estrutura organizativa de apoio ao Provedor de Justiça são
fixados por lei.

TÍTULO XIII
DEFESA NACIONAL E CONSELHO NACIONAL DE
DEFESA E SEGURANÇA

CAPÍTULO I
Defesa Nacional

Artigo 261
(Princípios fundamentais)

A política de defesa e segurança do Estado visa defender a


independência nacional, preservar a soberania e integridade
do país e garantir o funcionamento normal das instituições e a
segurança dos cidadãos contra qualquer agressão armada.

128
Constituição da República

Artigo 262
(Forças de defesa e serviços de segurança)

1. As forças de defesa e os serviços de segurança subordinam-


se à política nacional de defesa e segurança e devem
fidelidade à Constituição e à Nação.

2. O juramento dos membros das forças de defesa e dos


serviços de segurança do Estado estabelece o dever de
respeitar a Constituição, defender as instituições e servir o
povo.

3. As forças de defesa e os serviços de segurança do Estado


são apartidários e observam a abstenção de tomada de
posições ou participação em acções que possam pôr em causa
a sua coesão interna e a unidade nacional.

4. As forças de defesa e os serviços de segurança do Estado


devem especial obediência ao Presidente da República na sua
qualidade de Comandante - Chefe.

Artigo 263
(Defesa da pátria, serviço militar e serviço cívico)

1. A participação na defesa da independência nacional,


soberania e integridade territorial são dever sagrado e honra
para todos os cidadãos moçambicanos.

2. O serviço militar é prestado nos termos da lei em unidades


das Forças Armadas de Defesa de Moçambique.

3. A lei estabelece um serviço cívico em substituição ou


complemento do serviço militar para todos os cidadãos não
sujeitos a deveres militares.

4. As isenções do serviço militar são fixadas por lei.

129
Constituição da República

CAPÍTULO II
Conselho Nacional de Defesa e Segurança

Artigo 264
(Definição e composição)

1. O Conselho Nacional de Defesa e Segurança é o órgão do


Estado de consulta específica para os assuntos relativos à
soberania nacional, integridade territorial, defesa do poder
democraticamente instituído e à segurança.

2. O Conselho Nacional de Defesa e Segurança é presidido


pelo Presidente da República e tem a composição que a lei
determinar, a qual inclui dois membros designados pelo
Presidente da República e cinco pela Assembleia da República.

Artigo 265
(Competências)

São, nomeadamente, competências do Conselho Nacional de


Defesa e Segurança:

a) pronunciar-se previamente sobre a declaração de


guerra;

b) pronunciar-se sobre a suspensão das garantias


constitucionais e a declaração do estado de sítio e do
estado de emergência;

c) dar parecer sobre os critérios e condições de utilização


de zonas de protecção total ou parcial destinada à
defesa e segurança do território nacional;

d) analisar e acompanhar iniciativas de outros órgãos do


Estado que visem garantir a consolidação da
independência nacional, o reforço do poder político
democrático e a manutenção da lei e da ordem;

130
Constituição da República

e) pronunciar-se sobre as missões de paz no estrangeiro.

Artigo 266
(Organização e funcionamento)

A organização e funcionamento do Conselho Nacional de


Defesa e Segurança são fixados por lei.

TÍTULO XIV
DESCENTRALIZAÇÃO

CAPÍTULO I
Disposições Gerais

Artigo 267
(Objectivos da descentralização)

1. A descentralização tem como objectivo organizar a


participação dos cidadãos na solução dos problemas próprios
da sua comunidade, promover o desenvolvimento local, o
aprofundamento e a consolidação da democracia, no quadro
da unidade do Estado Moçambicano.

2. A descentralização apoia-se na iniciativa e na capacidade


das populações e actua em estreita colaboração com as
organizações de participação dos cidadãos.

Artigo 268
(Entidades descentralizadas)

1. A descentralização compreende:

a) os órgãos de governação descentralizada provincial e


distrital;

131
Constituição da República

b) as autarquias locais.

2. O Estado mantém nas entidades descentralizadas as suas


representações para o exercício de funções exclusivas e de
soberania, nos termos definidos por lei.

Artigo 269
(Autonomia dos órgãos descentralizados)

Os órgãos de governação descentralizada e das autarquias


locais gozam de autonomia administrativa, financeira e
patrimonial, nos termos da lei.

Artigo 270
(Limites da descentralização)

1. A descentralização respeita o Estado unitário, a unidade


nacional, a soberania, a indivisibilidade e inalienabilidade do
Estado e guia-se pelos princípios da prevalência do interesse
nacional, subsidiariedade e gradualismo.

2. Constituem igualmente limites à descentralização, as


matérias da exclusiva competência dos órgãos centrais do
Estado, nomeadamente:

a) as funções de soberania;

b) a normação de matérias de âmbito da lei;

c) a definição de políticas nacionais;

d) a realização da política unitária do Estado;

e) a representação do Estado ao nível provincial, distrital


e autárquico;

132
Constituição da República

f) a definição e organização do território;

g) a defesa nacional;

h) a segurança e ordem públicas;

i) a fiscalização das fronteiras;

j) a emissão de moeda;

k) as relações diplomáticas;

l) os recursos minerais e energia;

m) os recursos naturais situados no solo e no subsolo, nas


águas interiores, no mar territorial, zona contígua ao
mar territorial, na plataforma continental e na zona
económica exclusiva;

n) a criação e alteração dos impostos.

Artigo 271
(Poder regulamentar)

Os órgãos de governação descentralizada e das autarquias


locais dispõem de um poder regulamentar próprio, em
conformidade com a Constituição, as leis e os regulamentos
emanados das autoridades com poder tutelar.

Artigo 272
(Tutela administrativa)

1. Os órgãos de governação descentralizada provincial,


distrital e das autarquias locais estão sujeitos à tutela
administrativa do Estado.

133
Constituição da República

2. A tutela do Estado sobre as assembleias provinciais,


distritais e autárquicas, bem como dos respectivos órgãos
executivos, consiste na verificação da legalidade dos actos
administrativos e de natureza financeira.

3. Excepcionalmente, e nos casos expressamente previstos na


lei, a tutela pode ainda incidir sobre o mérito das decisões
emanadas pelos órgãos tutelados.

4. As assembleias provinciais, distritais e autárquicas podem


ser dissolvidas pelo Governo, em consequência de acções ou
omissões graves, previstas na lei.

5. O Decreto de dissolução emanado pelo Governo é sujeito à


apreciação e deliberação do Conselho Constitucional, nos
termos da lei.

Artigo 273
(Demissão do Governador de Província e do
Administrador de Distrito)

1. O Presidente da República pode, ouvido o Conselho de


Estado, demitir o Governador de Província e o Administrador
de Distrito, nos seguintes casos:

a) violação da Constituição;

b) prática de actos atentatórios à unidade nacional;

c) comprovada e reiterada violação das regras


orçamentais e de gestão financeira;

d) condenação por crimes puníveis com pena de prisão


maior.
2. O Despacho de demissão exarado pelo Presidente da
República é sujeito à apreciação pelo Conselho Constitucional,
nos termos da lei.

134
Constituição da República

Artigo 274
(Articulação dos órgãos centrais do Estado, das
entidades descentralizadas)

1. Os órgãos de soberania e outras instituições centrais do


Estado auscultam os órgãos de governação provincial, distrital
e autárquica, relativamente às matérias da sua competência
respeitantes às províncias, os distritos e as autarquias locais.

2. A lei estabelece as formas de articulação e cooperação


entre os órgãos de soberania, instituições centrais do Estado
com os órgãos descentralizados e autarquias locais.

Artigo 275
(Pessoal dos órgãos das entidades descentralizadas)

1. Os órgãos de governação descentralizada provincial,


distrital e das autarquias locais possuem um quadro de
pessoal próprio, nos termos da lei.

2. É aplicável aos funcionários e agentes dos órgãos de


governação provincial, distrital e autárquica, o regime dos
funcionários e agentes do Estado.

CAPÍTULO II
Governação Descentralizada

Artigo 276
(Atribuições da governação descentralizada)

1. A governação descentralizada exerce funções em áreas,


não atribuídas às autarquias locais, e que não sejam da
competência exclusiva dos órgãos centrais, nomeadamente:

a) agricultura, pescas, pecuária, silvicultura, segurança


alimentar e nutricional;

135
Constituição da República

b) gestão de terra, na medida a determinar por lei;

c) transportes públicos, na área não atribuída às


autarquias;

d) gestão e protecção do meio ambiente;

e) florestas, fauna bravia e áreas de conservação;

f) habitação, cultura e desporto;

g) saúde no âmbito de cuidados primários;

h) educação, no âmbito do ensino primário, do ensino


geral e de formação técnico profissional básica;

i) turismo, folclore, artesanato e feiras locais;

j) hotelaria, não podendo ultrapassar o nível de três


estrelas;

k) promoção do investimento local;

l) água e saneamento;

m) indústria e comércio;

n) estradas e pontes, que correspondam ao interesse


local, provincial e distrital;

o) prevenção e combate às calamidades naturais;

p) promoção do desenvolvimento local;

q) planeamento e ordenamento territorial;

136
Constituição da República

r) desenvolvimento rural e comunitário;

s) outras a serem determinadas, por lei.

2. A realização das atribuições da governação descentralizada


deve respeitar a política governamental traçada a nível
central, no âmbito da política unitária do Estado.

3. A lei estabelece, expressamente, a divisão de competências


entre a governação descentralizada e os órgãos centrais do
Estado ou seus representantes.

4. A composição, a organização, o funcionamento e as demais


competências são fixadas por lei.

Artigo 277
(Órgãos da Província)

1. São órgãos da Província:

a) a Assembleia Provincial;

b) o Governador de Província;

c) o Conselho Executivo Provincial.

2. O Representante do Estado é um órgão de representação


do Estado na Província, nas áreas exclusivas e de soberania do
Estado.

Artigo 278
(Assembleia Provincial)

1. A Assembleia Provincial é o órgão de representação


democrática, eleita por sufrágio universal, directo, igual,

137
Constituição da República

secreto, pessoal, periódico e de harmonia com o princípio de


representação proporcional, cujo mandato tem a duração de
cinco anos.

2. Concorrem às eleições da Assembleia Provincial os partidos


políticos, as coligações de partidos políticos e os grupos de
cidadãos eleitores.

3. À Assembleia Provincial compete, nomeadamente:

a) pronunciar-se e deliberar, no quadro das atribuições


de governação provincial, sobre os assuntos e as
questões de interesse para o desenvolvimento
económico, social e cultural da Província, à satisfação
das necessidades colectivas e à defesa dos interesses
das respectivas populações;

b) prosseguir a satisfação das necessidades colectivas e à


defesa dos interesses das respectivas populações,
bem como acompanhar e fiscalizar a actividade dos
demais órgãos e serviços provinciais;

c) fiscalizar e controlar a observância dos princípios e


normas estabelecidas na Constituição e nas leis, bem
como das decisões do Conselho de Ministros
referentes à respectiva Província;

d) aprovar o programa e o orçamento anual do Conselho


Executivo Provincial, fiscalizar e controlar o seu
cumprimento, nos termos da lei;

e) demitir o Governador de Província, nos termos da lei;

f) f i s c a l i z a r a s a c t i v i d a d e s da governação
descentralizada;

138
Constituição da República

g) exercer o poder regulamentar próprio, nos termos da


lei.

4. A composição, a organização, o funcionamento e as demais


competências são fixadas por lei.

Artigo 279
(Governador de Província)

1. O Governador de Província dirige o Conselho Executivo


Provincial.

2. É eleito Governador de Província, o Cabeça de Lista do


partido político, da coligação de partidos políticos ou de grupo
de cidadãos eleitores que obtiver maioria de votos nas eleições
para a Assembleia Provincial.

3. O Governador de Província pode ser demitido pela


Assembleia Provincial, nos termos da lei.

4. A composição, a organização, o funcionamento e as demais


competências do Governador de Província são fixadas por lei.

Artigo 280
(Conselho Executivo Provincial)

1. O Conselho Executivo Provincial é o órgão executivo de


governação provincial, responsável pela execução do
programa de governação, aprovado pela respectiva
assembleia.

2. A composição, a organização, o funcionamento e as demais


competências do Conselho Executivo Provincial são fixadas
por lei.

139
Constituição da República

Artigo 281
(Órgãos do Distrito)

1. São órgãos do Distrito:

a) a Assembleia Distrital;

b) o Administrador de Distrito;

c) o Conselho Executivo Distrital.

2. O Representante do Estado é um órgão de representação


do Estado no Distrito, nas áreas exclusivas e de soberania do
Estado.

3. A composição, a organização, o funcionamento e as demais


competências são fixadas por lei.

Artigo 282
(Assembleia Distrital)

1. A Assembleia Distrital é o órgão de representação


democrática, eleita por sufrágio universal, directo, igual,
secreto, pessoal, periódico e de harmonia com o princípio de
representação proporcional, cujo mandato tem a duração de
cinco anos.

2. Concorrem às eleições da Assembleia Distrital, os partidos


políticos, as coligações de partidos políticos e os grupos de
cidadãos eleitores.

3. À Assembleia Distrital compete aprovar o programa do


Conselho Executivo Distrital, fiscalizar e controlar o seu
cumprimento.

140
Constituição da República

4. A composição, a organização, o funcionamento e as demais


competências são fixadas por lei.

Artigo 283
(Administrador de Distrito)

1. O Administrador de Distrito dirige o Conselho Executivo


Distrital.

2. É eleito Administrador de Distrito, o Cabeça de Lista do


partido político, da coligação de partidos políticos ou de grupo
de cidadãos eleitores que obtiver maioria de votos nas eleições
para a Assembleia Distrital.

3. O Administrador de Distrito pode ser demitido pela


Assembleia Distrital, nos termos da lei.

4. A composição, a organização, o funcionamento e as demais


competências do Administrador de Distrito são fixadas por lei.

Artigo 284
(Conselho Executivo Distrital)

1. O Conselho Executivo Distrital é o órgão executivo de


governação distrital, responsável pela execução do programa
de governação, aprovado pela respectiva assembleia.

2. A composição, a organização, o funcionamento e as demais


competências do Conselho Executivo Distrital são fixadas por
lei.
Artigo 285
(Articulação entre entidades descentralizadas)

A lei estabelece as formas de articulação entre os órgãos de


governação descentralizada provincial e distrital e os órgãos
autárquicos.

141
Constituição da República

CAPÍTULO III
Autarquias Locais

Artigo 286
(Definição)

As autarquias locais são pessoas colectivas públicas, dotadas


de órgãos representativos próprios, que visam a prossecução
dos interesses das populações respectivas, sem prejuízo dos
interesses nacionais e da participação do Estado.

Artigo 287
(Categorias das Autarquias Locais)

1. As autarquias locais são os municípios e as povoações.

2. Os municípios correspondem à circunscrição territorial das


cidades e vilas.

3. As povoações correspondem à circunscrição territorial da


sede dos postos administrativos.

4. A lei pode estabelecer outras categorias autárquicas


superiores ou inferiores à circunscrição territorial do município
ou da povoação.

Artigo 288
(Criação e extinção das Autarquias Locais)

A criação e extinção das autarquias locais são reguladas por


lei, devendo a alteração da respectiva área ser precedida de
consulta aos seus órgãos.

142
Constituição da República

Artigo 289
(Órgãos deliberativos e executivos)

1. As autarquias locais têm como órgãos uma Assembleia,


dotada de poderes deliberativos, e um executivo que
responde perante ela, nos termos fixados na lei.

2. A Assembleia é eleita por sufrágio universal, directo, igual,


secreto, pessoal e periódico dos cidadãos eleitores residentes
na circunscrição territorial da autarquia, segundo o sistema de
representação proporcional.

3. O órgão executivo da autarquia local é o Conselho


Autárquico, dirigido por um Presidente.

4. Concorrem para as eleições da Assembleia Autárquica, os


partidos políticos, as coligações de partidos políticos e os
grupos de cidadãos eleitores.

5. É eleito Presidente do Conselho Autárquico, o Cabeça de


Lista do partido político, da coligação de partidos políticos ou
de grupo de cidadãos eleitores que obtiver maioria de votos
nas eleições para a Assembleia Autárquica.

6. O Presidente da Assembleia Autárquica confere posse ao


Presidente do Conselho Autárquico, eleito, nos termos do
número 5 do presente artigo.

7. O Presidente do Conselho Autárquico pode ser demitido


pela respectiva Assembleia Autárquica e pelo órgão de tutela
do Estado, nos termos da lei.

8. A regulação das matérias constantes dos números


precedentes é fixada por lei.

9. A composição, a organização, o funcionamento e as demais


competências dos órgãos das autarquias locais são fixadas por
lei.
143
Constituição da República

TÍTULO XV
GARANTIAS DA CONSTITUIÇÃO

CAPÍTULO I
Dos Estados de Sítio e de Emergência

Artigo 290
(Estado de sítio ou de emergência)

1. O estado de sítio ou o estado de emergência só podem ser


declarados, no todo ou em parte do território, nos casos de
agressão efectiva ou eminente, de grave ameaça ou de
perturbação da ordem constitucional ou de calamidade
pública.

2. A declaração do estado do sítio ou de emergência é


fundamentada e especifica as liberdades e garantias cujo
exercício é suspenso ou limitado.

Artigo 291
(Pressupostos da opção de declaração)

A menor gravidade dos pressupostos da declaração determina


a opção pelo estado de emergência, devendo, em todo o caso,
respeitar-se o princípio da proporcionalidade e limitar-se,
nomeadamente, quanto à extensão dos meios utilizados e
quanto à duração, ao estritamente necessário ao pronto
restabelecimento da normalidade constitucional.

Artigo 292
(Duração)

O tempo de duração do estado de sítio ou de emergência não


pode ultrapassar os trinta dias, sendo prorrogável por iguais
períodos até três, se persistirem as razões que determinaram
a sua declaração.

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Constituição da República

Artigo 293
(Processo de declaração)

1. Tendo declarado o estado de sítio ou de emergência, o


Presidente da República submete à Assembleia da República,
no prazo de vinte e quatro horas, a declaração com a
respectiva fundamentação, para efeitos de ratificação.

2. Se a Assembleia da República não estiver em sessão é


convocada em reunião extraordinária, devendo reunir-se no
prazo máximo de cinco dias.

3. A Assembleia da República delibera sobre a declaração no


prazo máximo de quarenta e oito horas, podendo continuar
em sessão enquanto vigorar o estado de sítio ou de
emergência.

Artigo 294
(Limites de declaração)

A declaração do estado de sítio ou de emergência em nenhum


caso pode limitar ou suspender os direitos à vida, à
integridade pessoal, à capacidade civil e à cidadania, a não
retroactividade da lei penal, o direito de defesa dos arguidos e
a liberdade de religião.

Artigo 295
(Restrições das liberdades individuais)

Ao abrigo do estado de sítio ou de emergência podem ser


tomadas as seguintes medidas restritivas da liberdade das
pessoas:

a) obrigação de permanência em local determinado;

b) detenção;

145
Constituição da República

c) detenção em edifício não destinado a acusados ou


condenados por crimes comuns;

d) r e s t r i ç õ e s r e l a t i va s à i n v i o l a b i l i d a d e d a
correspondência, ao sigilo das comunicações, à
prestação de informações e à liberdade de imprensa,
radiodifusão e televisão.

e) busca e apreensão em domicílio;

f) suspensão de liberdade de reunião e manifestação;

g) requisição de bens e serviços.

Artigo 296
(Detenções)

As detenções que se efectuam ao abrigo do estado de sítio ou


de emergência observam os seguintes princípios:

a) deve ser notificado imediatamente um parente ou


pessoa de confiança do detido por este indicado, a
quem se dá conhecimento do enquadramento legal,
no prazo de cinco dias;

b) o nome do detido e o enquadramento legal da


detenção são tornados públicos, no prazo de cinco
dias;

c) o detido é apresentado a juízo, no prazo máximo de


dez dias.
Artigo 297
(Funcionamento dos órgãos de soberania)

A declaração do estado de sítio ou de emergência não pode


afectar a aplicação da Constituição quanto à competência, ao

146
Constituição da República

funcionamento dos órgãos de soberania e quanto aos direitos


e imunidades dos respectivos titulares ou membros.

Artigo 298
(Termo)

1. No termo do estado de sítio ou de emergência, o Presidente


da República faz uma comunicação à Assembleia da República
com uma informação detalhada sobre as medidas tomadas ao
seu abrigo e a relação nominal dos cidadãos atingidos.

2. A cessação do estado de sítio ou de emergência faz cessar


os seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade por actos
ilícitos cometidos pelos seus executores ou agentes.

CAPÍTULO II
Revisão da Constituição

Artigo 299
(Iniciativa)

1. As propostas de alteração da Constituição são da iniciativa


do Presidente da República ou de um terço, pelo menos, dos
deputados da Assembleia da República.

2. As propostas de alteração devem ser depositadas na


Assembleia da República até noventa dias antes do início do
debate.

Artigo 300
(Limites materiais)

1. As leis de revisão constitucional têm de respeitar:

a) a independência, a soberania e a unidade do Estado;

147
Constituição da República

b) a forma republicana de Governo;

c) a separação entre as confissões religiosas e o Estado;

d) os direitos, liberdades e garantias fundamentais;

e) o sufrágio universal, directo, secreto, pessoal, igual e


periódico na designação dos titulares electivos dos
órgãos de soberania das províncias e do poder local;

f) o pluralismo de expressão e de organização política,


incluindo partidos políticos e o direito de oposição
democrática;

g) a separação e interdependência dos órgãos de


soberania;

h) a fiscalização da constitucionalidade;

i) a independência dos juízes;

j) a autonomia dos órgãos de governação


descentralizada provincial, distrital e das autarquias
locais;

k) os direitos dos trabalhadores e das associações


sindicais;

l) as normas que regem a nacionalidade, não podendo


ser alteradas para restringir ou retirar direitos de
cidadania.

2. As alterações das matérias constantes do número 1 são


obrigatoriamente sujeitas a referendo.

148
Constituição da República

Artigo 301
(Tempo)

A Constituição só pode ser revista cinco anos depois da


entrada em vigor da última lei de revisão, salvo deliberação de
assunção de poderes extraordinários de revisão, aprovada por
maioria de três quartos dos deputados da Assembleia da
República.
Artigo 302
(Limites circunstanciais)

Na vigência do estado de sítio ou do estado de emergência não


pode ser aprovada qualquer alteração da Constituição.

Artigo 303
(Votação e forma)

1. As alterações da Constituição são aprovadas por maioria de


dois terços dos deputados da Assembleia da República.

2. As alterações da Constituição que forem aprovadas são


reunidas numa única lei de revisão.

3. O Presidente da República não pode recusar a promulgação


da lei de revisão.

Artigo 304
(Alterações constitucionais)

1. As alterações da Constituição são inseridas no lugar


próprio, mediante as substituições, as supressões e os
aditamentos necessários.

2. A Constituição, no seu novo texto, é publicada


conjuntamente com a lei de revisão.

149
Constituição da República

TÍTULO XVI
SÍMBOLOS, MOEDA E CAPITAL DA REPÚBLICA

Artigo 305
(Bandeira nacional)

A bandeira nacional tem cinco cores: vermelho, verde, preto,


amarelo dourado e branco.

As cores representam:

vermelha – resistência secular ao colonialismo, a luta


armada de libertação nacional e a defesa da soberania.

verde – as riquezas do solo.

preta – o continente africano.

amarela dourada – as riquezas do subsolo.

branca – a justeza da luta do povo moçambicano e a


paz.

De cima para baixo estão dispostas horizontalmente a verde, a


preta e a amarela dourada alternados por faixas brancas. Do
lado esquerdo a vermelha ocupa o triângulo no centro do qual
se encontra uma estrela, tendo sobre ela um livro ao qual se
sobrepõem uma arma e uma enxada cruzadas.

A estrela simboliza o espírito de solidariedade internacional do


povo moçambicano.

O livro, a enxada e a arma simbolizam o estudo, a produção e a


defesa.

150
Constituição da República

Artigo 306
(Emblema)

O emblema de República de Moçambique contém como


elementos centrais um livro, uma arma e uma enxada,
dispostos em cima do mapa de Moçambique e representando
respectivamente: a educação, a defesa e vigilância, o
campesinato e a produção agrícola.

Por baixo do mapa está representado o oceano.

Ao centro, o sol nascente, símbolo de nova vida em


construção.

A delimitar este conjunto está uma roda dentada,


simbolizando os operários e a indústria.

A circundar a roda dentada encontram-se à direita e à


esquerda, respectivamente uma planta de milho e espiga e
uma cana – de - açúcar simbolizando a riqueza agrícola.

No cimo, ao centro, uma estrela simboliza o espírito de


solidariedade internacional do povo moçambicano.

Na parte inferior está disposta uma faixa vermelha com a


inscrição “República de Moçambique”.

Artigo 307
(Hino nacional)

A letra e a música do hino nacional são estabelecidas por lei,


aprovada nos termos do número 1, do artigo 303.

151
Constituição da República

Artigo 308
(Moeda)

1. A moeda nacional é o Metical.

2. A alteração da moeda é estabelecida por lei, aprovada nos


termos do número 1, do artigo 303.

Artigo 309
(Capital)

A capital da República de Moçambique é a Cidade de Maputo.

Artigo 310
(Estatuto da Cidade de Maputo)

1. Não é aplicável à Cidade de Maputo, o regime dos órgãos de


governação descentralizada provincial e distrital.

2. A Cidade de Maputo tem um estatuto especial, fixado por


lei.

TÍTULO XVII
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS E FINAIS

Artigo 311
(Disposições transitórias)

1. As disposições relativas aos órgãos de governação


Provincial, nos termos previstos na Constituição da República,
entram em vigor com a realização das eleições que terão lugar
no ano de 2019.

2. As eleições autárquicas convocadas para o mês de Outubro


de 2018, realizam-se ao abrigo do regime previsto na presente
Constituição da República.

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Constituição da República

3. As primeiras eleições distritais, nos termos previstos na


Constituição da República, têm lugar no ano de 2024.

4. Até a realização das primeiras eleições distritais nos termos


previstos no número 3 do presente artigo, o Administrador de
Distrito é nomeado pelo Ministro que superintende a área da
Administração Local do Estado, consultado o Governador da
Província.

Artigo 312
(Direito anterior)

A legislação anterior, no que não for contrária à Constituição,


mantém-se em vigor até que seja modificada ou revogada.

Artigo 313
(Entrada em vigor)

A Constituição entra em vigor no dia imediato ao da validação


e proclamação dos resultados eleitorais das Eleições Gerais de
2004.

Aprovada pela Assembleia da República, aos 16 de Novembro


de 2004.

O Presidente da Assembleia da República

Eduardo Joaquim Mulémbwè

Promulgado, a 16 de Novembro de 2014.

Publique-se.

O Presidente da República

Joaquim Alberto Chissano

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