Analise Demonstrações Contabel 1

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ANÁLISE DAS

DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS
AULA 1

Prof. Liezer Veloso


CONVERSA INICIAL

Olá, leitor(a)! Seguiremos por algumas trilhas e rolês regados de muitas


aventuras e conhecimentos. É vital que você esteja aí confortável, motivado e
apto para desbravarmos os códigos emblemáticos relacionados com a vida das
empresas. Esse estudo concederá a você um olhar clínico, como de um
cirurgião, o qual sabe manusear com perfeição todo procedimento, técnica e
ferramentas cirúrgicas.
Em nosso pontapé inicial, compreenderemos o que é análise das
demonstrações contábeis, quais os seus objetivos e finalidades.
Conheceremos um pouco da estrutura conceitual das demonstrações contábeis
e estudaremos aspectos do balanço patrimonial e da demonstração do
resultado do exercício.

TOP – INTRODUÇÃO À ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Você deve ter observado quão importante é a contabilidade para as


organizações, não é mesmo? Os métodos contábeis de escrituração e
evidenciação das informações sobre as empresas são instrumentos capazes
de revelar como elas estão, quais as contas em que se concentram mais
valores e como o resultado – lucro ou prejuízo – foi gerado.
A análise das demonstrações contábeis (ADC) é um tópico mais
avançado na ciência contábil, pois exige que o analista (você) tenha
conhecimentos suficientes sobre toda técnica, normas e procedimentos em
torno da contabilidade. Todo aparato representado nas demonstrações precisa
ser observado com clareza e exatidão, assim os termos como liquidez,
rentabilidade, lucratividade e resultados arrematam uma gama de processos e
entendimentos os quais, se o analista não dominar, sua ADC ficará simples e
não trará informações profundas sobre a empresa. Mas calma: se você não se
recorda desses termos, ao longo de nosso estudo vamos apresentá-los,
exemplificá-los e esclarecê-los. Agora, como sugestão do professor, é vital que
você retome a leitura e os estudos dos conteúdos básicos que você já teve
sobre contabilidade. Isso ajudará você a entender melhor o universo que
estamos iniciando em torno da ADC.
A ADC é um estágio seguinte à finalização do processo contábil. Ou
seja, a empresa compra, vende, paga os empregados, fornecedores, tributos,

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adquire empréstimos, negocia com clientes, produz e estoca o produto, presta
serviços, dentre outros. Todos os fatos da empresa e as decisões que os
geraram são escritos, anotados e controlados pela contabilidade, no que se
denomina tecnicamente de escrituração contábil. Todos esses eventos são
registrados em conformidade com os princípios, as normas, regras e práticas
firmadas como os meios mais assertivos e eficazes. Depois de fechar os
lançamentos de todos esses eventos, a empresa divulga as demonstrações
contábeis (DCs), conhecidas simplesmente como relatórios contábeis.
Tais demonstrações têm por objetivo apresentar os aspectos produtivos,
patrimoniais, econômicos e financeiros da empresa. Um parênteses aqui. O
seu boletim escolar é uma “demonstração educacional”: ele apresenta notas
para cada disciplina, assim pode-se observar o seu rendimento escolar e
aprendizado. As notas foram registradas (escrituradas) conforme o
desenvolvimento das atividades e avaliações realizadas em cada disciplina por
seu respectivo professor.
O processo de escrituração contábil pode ser compreendido conforme o
quadro abaixo.

Quadro 1 – Processo de escrituração contábil

Início ▪ Fatos fundamentados em documentos idôneos


Efetuar todos os registros O Compras/vendas
O Pagamentos
O Recebimentos (documentos idôneos)
Escrituração ▪ Diário
▪ Razão
▪ Caixa
▪ Contas-correntes
Apuração do resultado ▪ Confronto das receitas contra custos e despesas
▪ Obter evidências do resultado (lucro ou prejuízo)
Final ▪ Balanço patrimonial
Elaborar as DCs ▪ Demonstração do resultado do período
▪ Demonstração do resultado abrangente
▪ Demonstração das mutações do patrimônio líquido
▪ Demonstração dos fluxos de caixa
▪ Demonstração do valor adicionado
Fonte: elaborado com base em Ribeiro, 2020, p. 16.

Podemos compreender que o papel do contador é gerar as


demonstrações contábeis, por meio da escrituração correta de todos os fatos.
Após isso, entra a figura do analista das demonstrações, o qual aplica alguns
procedimentos, cálculos e julgamento profissional acerca do que se pode inferir
das DCs. Ele não é vidente, usa técnicas, fórmulas e muito de sua experiência
para analisar os dados e as informações da empresa.
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Quadro 2 – Processo da análise das demonstrações contábeis

Início ▪ Balanço patrimonial


Exame e padronização ▪ Demonstração do resultado do período
▪ Demonstração do resultado abrangente
▪ Demonstração das mutações do patrimônio líquido
▪ Demonstração dos fluxos de caixa
▪ Demonstração do valor adicionado
Coleta de dados ▪ Extração de valores das demonstrações contábeis
▪ Total do ativo circulante
▪ do patrimônio líquido
▪ das vendas líquidas etc.
Cálculo dos indicadores ▪ Quocientes
▪ Coeficientes
▪ Números-índices
Interpretação dos quocientes ▪ Interpretação isolada e conjunta
Análise vertical e horizontal ▪ Análise e interpretação de coeficientes e
▪ números-índices
Comparações com padrões ▪ Cálculos e comparações
Final ▪ Elaboração de relatórios inteligíveis por leigos
Conclusões
Fonte: elaborado com base em Ribeiro, 2020, p. 16-17.

As sete etapas acima permitem que as demonstrações da empresa


possam ser analisadas mais a fundo, revelando informações mais específicas
dos aspectos econômicos e financeiros da entidade, por exemplo, a
capacidade de pagamento das dívidas de curto e longo prazo ou os
indicadores de lucratividade e rentabilidade.
Observe que o fruto da análise é gerar um relatório que forneça mais
informações relevantes sobre a empresa, visando atender as necessidades de
dados e informações para os usuários da contabilidade, os quais possuem
algum interesse na empresa – bancos, investidores, gerentes e o governo.
Compete ao analista dispor de inúmeros conhecimentos, os quais lhe
darão uma visão mais ampla para sua análise: aspectos a concorrência, o
mercado específico em que a empresa atua, os impactos das políticas
tributárias, trabalhistas e sindicais, o processo de agregar valor da empresa, as
taxas de juros e a inflação, o mercado consumidor, as estratégias, metas e
objetivos da organização bem como seu modus operandi.

ROLÊ 1 – CONCEITO E FINALIDADE DA ADC

De acordo com Ribeiro (2020, p. 17), “a ADC, tradicionalmente


conhecida por análise de balanços, é uma técnica contábil que consiste no
exame e na interpretação dos dados contidos nas demonstrações contábeis,
com o fim de transformar esses dados em informações úteis aos diversos

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usuários da Contabilidade”. Martins et al. (2020, p. 3) complementam: “De
forma ampla, é extrair informações das demonstrações contábeis para tomada
de decisões. Mas a definição de quais informações a serem extraídas depende
de qual usuário irá utilizá-las”.
Muitas pessoas ou outras organizações (usuários) mantêm relações com
as empresas, nos quesitos: comerciais, financiamentos, investimentos,
empréstimos, fornecimento de materiais de insumos, prestação de serviços,
relações trabalhistas, dentre outras. Mas que informação eles buscam por meio
da análise?
Suponha que você seja gerente de créditos no “Banco Dinheiro Certo”.
Imagine que uma empresa esteja lhe solicitando um empréstimo no valor de R$
500.000,00 (quinhentos mil reais). Você entregaria esse valor de forma
simples, direta e sem análise alguma? Penso que não. Certamente avaliaria as
DCs da empresa, em busca de verificar se ela tem potencial de gerar lucros,
que se tornarão dinheiro (caixa) e se consequentemente conseguirá pagar as
parcelas. Mas olhando as DCs, você pode avaliar também se ela já possui
valores de empréstimos e financiamentos, como também se ela dispõe de bens
como garantia e ainda sua capacidade de liquidez imediata e corrente.
Observe abaixo os tipos de usuários e quais as informações que eles
buscam obter sobre as DCs.

Quadro 3 – Usuários e a informação

Sócios e gestores: aumentar ou reduzir investimentos. Aumentar o capital ou emprestar


recursos. Expandir ou reduzir as operações. Comprar/vender à vista ou a prazo.
Instituições financeiras: conceder ou não empréstimos. Estabelecer termos do empréstimo
(volume, taxa, prazo e garantias).
Clientes e fornecedores em geral: avaliação com vistas à concessão ou não de crédito, em que
valor e a que prazo. Informações sobre a continuidade operacional da entidade, especialmente
quando têm um relacionamento a longo prazo com ela, ou dela dependem como fornecedor
importante.
Investidores: adquirir ou não o controle acionário. Investir ou não em ações na bolsa de
valores. Avaliação do risco inerente ao investimento e potencial de retorno proporcionado
(dividendos).
Comissão de Valores Mobiliários: observar se as demonstrações contábeis de uma empresa
de capital aberto respondem aos requisitos legais do mercado de valores mobiliários, como
periodicidade de apresentação, padronização e transparência.
Fiscalização tributária: buscar indícios de sonegação de impostos.
Empregados e sindicatos: informações sobre a estabilidade e a lucratividade de seus
empregadores (solvência, distribuição de lucros etc.). Avaliação da capacidade que tem a
entidade de prover sua remuneração, seus benefícios de aposentadoria e oferta de
oportunidades de emprego.
Governo e suas agências estão interessados em informações sobre as atividades
empresariais, para que possam estabelecer políticas fiscais, destinação de recursos etc.
Fonte: elaborado com base em Silva, 2019, p. 8; Martins et al., 2020, p. 4.

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Interessante que a contabilidade consegue suprir as necessidades
informacionais de qualquer usuário, todavia, a qualidade e a eficácia da
informação recaem sobre o analista das demonstrações. Se ele conseguir
efetuar todos os cálculos, dispuser de conhecimentos da empresa e
compreender o sistema econômico de forma ampla, conseguirá analisar
profundamente os contextos e firmar sua análise de forma direta e objetiva,
interpretando todos os exames realizados e direcionando seu julgamento para
expressar a realidade econômica e financeira da empresa.

Figura 1 – Objetivo da ADC

Avalia se a empresa
Análise das merece crédito, se é
demonstrações contábeis solvente, se é rentável...

Subsidia o processo
decisórios dos usuários

Fonte: Martins et al., 2020, p. 5.

Resumidamente, podemos pensar que a finalidade da análise da


demonstração contábil consiste em examinar e avaliar a situação econômica e
financeira da empresa, por meio de procedimentos, indicadores e métodos que,
aplicados corretamente, ampliam a informação contida nas DCs. O objetivo da
ADC é conceder mais informações e direcionar a informação diante da
necessidade do usuário, ou seja, por meio de uma boa análise, a informação
apresentada sobre a organização permite que o usuário tenha mais fonte
informacional e credibilidade em relação aos pontos fortes e fracos da
organização, nos quesitos econômicos e financeiros.

2.1 Análise interna e externa

Como os usuários da contabilidade são classificados como usuários


internos e externos, a análise das demonstrações segue esse curso. Na
análise interna, seu enfoque consiste em direcionar os exames e as análises
para suprir as necessidades informacionais dos supervisores, gerentes,
diretores e executivos da organização. São informações sobre capacidade
produtiva, capacidade de pagamento, de lucratividade e rentabilidade, ciclos
econômicos, operacionais e financeiros, análise de custos, ganhos e perdas.

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Para análise interna, o analista dispõe de todas as informações e dados da
empresa, como conhece profundamente os assuntos que a norteiam, visto que
este atua como empregado da organização.
Na análise externa, o analista não pertence à empresa que será
analisada, mas sim à organização que está procurando obter mais
informações. Para tanto, o analista dispõe somente de informações que são
concedidas pela empresa de forma direta, ou pelos meios de comunicação,
onde as empresas de grande porte (sociedades anônimas) divulgam seus
demonstrativos (website institucional, revista de negócios). “Tem como
finalidade informar aos interessados acerca da situação econômica ou da
estabilidade da entidade para a concretização de negócios, como
investimentos, concessões ou obtenções de créditos e financiamentos,
compras, vendas etc.” (Ribeiro, 2020, p. 18).

ROLÊ 2 – ESTRUTURA CONCEITUAL DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Os processos de escrituração – registro de todos os fatos e atos da


organização – precisam estar em conformidade com as Normas Brasileiras de
Contabilidade (NBC), com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Receita
Federal (RF) e demais órgãos aplicáveis. Algumas exceções ocorrem para as
pequenas e médias empresas, todavia as sociedades anônimas (S/A) possuem
mais regras e controles que precisam seguir.
Para todas as entidades deve-se utilizar um ponto de referência para
contabilização dos eventos realizados pela empresa. Os conceitos, objetivos e
meios para uma contabilização idônea e padronizada encontra-se preconizada
no CPC 00 (R2) - Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro (2019).

Quadro 4 – Conceito e objetivo da DCs, segundo a estrutura conceitual

O objetivo das demonstrações contábeis é fornecer informações financeiras sobre os ativos,


passivos, patrimônio líquido, receitas e despesas da entidade que reporta que sejam úteis aos
usuários das demonstrações contábeis na avaliação das perspectivas para futuros fluxos de
entrada de caixa líquidos para a entidade que reporta e na avaliação da gestão de recursos da
administração sobre os recursos econômicos da entidade.
O objetivo do relatório financeiro para fins gerais é fornecer informações financeiras sobre a
entidade que reporta que sejam úteis para investidores, credores por empréstimos e outros
credores, existentes e potenciais, na tomada de decisões referente à oferta de recursos à
entidade. Essas decisões envolvem decisões sobre:
(a) comprar, vender ou manter instrumento de patrimônio e de dívida;
(b) conceder ou liquidar empréstimos ou outras formas de crédito; ou
(c) exercer direitos de votar ou de outro modo influenciar os atos da administração que afetam
o uso dos recursos econômicos da entidade.
Fonte: Comitê de Pronunciamentos Contábeis, 2019.
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Nesse pronunciamento, encontra-se um rol de orientações acerca dos
meios, métodos e formas para que as empresas apresentem e divulguem suas
informações, por meio dos relatórios financeiros (demonstrações contábeis).
Para tanto, ao se fazer ADC, é vital compreender se os relatórios apresentados
atendem aos princípios e regras aplicáveis. “A grande preocupação da
Estrutura Conceitual é com a elaboração e divulgação das demonstrações
contábeis. Para tanto, ela apresenta os conceitos que subsidiam a elaboração
e a apresentação dessas demonstrações aos usuários externos” (Martins et al.,
2020, p. 11).
O referido CPC traz, conforme o quadro 5, as características essenciais
que devem conter as DCs. Os aspectos acerca da relevância sugerem que a
informação é útil e capaz de influenciar as decisões pelos usuários. Por meio
das informações sobre eventos passados, podem-se fazer previsões presentes
ou futuras (valor preditivo), que podem sofrer alterações ou confirmações ao
longo do tempo (valor confirmatório). A representação fidedigna diz respeito
aos eventos reportados nas DCs, que estão escriturados em conformidade com
os métodos de avaliação, representando a realidade do evento em aspectos
qualitativo e quantitativo. Em outras palavras, simplesmente a informação é
real.

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Figura 2 - Característica da informação contábil

Valor
preditivo
Relevância

Valor confirmatório

Fundamentais
Completa

Representação
Neutra
fidedigna

Características
qualitativas
Livre de erro
Comparabilidade
material

Capacidade de
verificação

De melhorias

Tempestividade

Compreensibilidade

Fonte: Martins et al., 2020, p. 12.

A comparabilidade é atributo que diz respeito a avaliar, mensurar e


comparar dados, valores e índices ao longo do tempo da organização para
assim identificar sua evolução, crescimento e estabilidade. Permite também
compará-la com outras empresas.
A capacidade de verificação expressa-se pela condição qualitativa em
que qualquer usuário ou analista poderá concluir as mesmas observações,
aplicando as técnicas utilizadas para controlar e gerar as informações acerca
do patrimônio, assim os dados exprimem a realidade fidedigna.
A tempestividade é uma característica crucial, pois a informação precisa
estar disponível no momento em que o usuário necessitar tomar uma decisão.
Já a compreensibilidade diz respeito à clareza e concisão de como a
informação deve ser apresentada, tendo em vista que os usuários

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compreendem os mecanismos contábeis, o contexto da organização e as
temáticas relevantes sobre os aspectos econômicos e financeiros.
Todos esses elementos são essenciais, pois eles são levados em
consideração durante os processos de lançamento e evidenciação do
patrimônio da entidade. Para tanto, estes podem ser visualizados como
artefatos que impactam na análise das demonstrações contábeis e que podem
mudar os exames e as observações dos analistas, causando distorções e
induzindo ao erro, caso tais características sejam negligenciadas pela
empresa.

TRILHA 1 – PRINCIPAIS DEMONSTRAÇÕES A SEREM ANALISADAS

As demonstrações contábeis precisam atender a alguns critérios, além


dos mencionados pelo CPC 00 (R2). Uma lei muito importante a ser observada
é a Lei n. 6.404/1976, conhecida como Lei das S.A, que apresenta muitas
regras e normas para que as empresas de capital aberto desenvolvam suas
atividades e elaborem suas demonstrações. Tal lei sofreu alterações, oriundas
da Lei n. 11.638/2007, principalmente revogando e modificando alguns artigos
referentes aos demonstrativos contábeis.
Importante se atentar também para algumas normas e procedimentos,
emanados pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), que apresenta as
Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC). Estas trazem em seu aparato
normativo inúmeras informações, restrições, orientações, roteiros,
procedimentos e preceitos que devem ser aplicados aos profissionais de
contabilidade, aos que efetuam os registros de contabilidade e às
organizações, as quais devem controlar, escriturar e divulgar informações do
seu patrimônio.

Saiba mais
Acessando <https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de-
contabilidade/normas-completas/>, você encontra um rol de NBC
importantíssimas para elaboração e divulgação das DCs e demais normas,
que podem ser encontradas no link <https://cfc.org.br/tecnica/normas-
brasileiras-de-contabilidade/>. Acessos em: 28 jul. 2022.

As demonstrações contábeis obrigatórias para as S.A são: balanço


patrimonial (BP); demonstração do resultado do exercício (DRE);
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demonstração do resultado abrangente (DRA); demonstração das mutações do
patrimônio líquido (DMPL); demonstração dos fluxos de caixa (DFC);
demonstração do valor adicionado (DVA); notas explicativas (NE) e relatórios à
administração. Todas elas em conjunto apresentam informações de ordem
econômica, financeira, patrimonial e produtiva de uma forma específica. Para
tanto, devem-se analisar todas elas em busca da compreensão real e profunda
da situação da entidade.
As principais demonstrações contábeis obrigatórias a todas as empresas
e mais utilizadas nas ADC são o BP e a DRE.

4.1 Balanço patrimonial

O BP representa a primeira DC a ser analisada, devido à sua


importância em apresentar os elementos econômicos e financeiros da
entidade. Ele proporciona, em sua estrutura, um rol de contas sobre o
patrimônio da empresa – bens, direitos e obrigações. Tais contas contêm o
saldo em determinado período, ou seja, o valor do estoque, os clientes a
receber, o montante do caixa, as contas a pagar, dentre outras, no dia 31 de
dezembro do ano XXXX. Mostra ainda os valores dessas contas no final do
mês. Todas as transações são registradas. A cada compra, venda, ingresso ou
saída de recurso, a empresa deve efetuar os lançamentos (débito e crédito)
originados e aplicados na transação, elaborando o livro diário e o livro-razão,
que contém os detalhes do registro de todos os eventos econômicos e
financeiros que alteram o patrimônio.
O BP se divide em dois grandes grupos: ativo e passivo. No ativo,
encontramos os bens e direitos da organização, ou seja, as contas de clientes,
caixa, bancos, estoques, aplicações financeiras, investimentos, títulos a
receber, máquinas e equipamentos, móveis e imóveis utilizados para seu
funcionamento. O ativo é separado em ativo circulante (AC) e ativo não
circulante (ANC). O passivo representa os valores que a empresa deve pagar,
normalmente aos empregados, fornecedores, instituições financeiras
(empréstimos e financiamentos), instituições públicas (impostos e taxas),
separado por passivo circulante (PC), passivo não circulante (PNC) e
patrimônio líquido (PL), o qual representa a diferença do ativo menos o
passivo; o que sobra pertence aos sócios, proprietários e/ou investidores.

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Tabela 1 – Balanço patrimonial

Ativo 31-12-X4 31-12-X5 Passivo 31-12-X4 31-12-X5


Circulante 580.000 650.000 Circulante 340.000 280.000
Caixa 40.000 10.000 Fornecedores 200.000 220.000
Duplicatas a receber 150.000 220.000 Salários a pagar 30.000 40.000
Estoques 390.000 420.000 Impostos a pagar 60.000 6.000
Dividendos a pagar 50.000 14.000

Não circulante 210.000 180.000 Não circulante 100.000 150.000


Realizável a longo prazo 50.000 40.000 Exigível a L. P (financiamentos) 100.000 150.000
Investimentos 60.000 50.000
Imobilizado 70.000 60.000 Patrimônio líquido 350.000 400.000
Intangível 30.000 30.000 Capital 300.000 340.000
Reservas de lucros 50.000 60.000

Total 790.000 830.000 Total 790.000 830.000


Fonte: elaborado com base em Marion, 2019, p. 49.

Observe que o valor total do ativo é igual ao do passivo. Essa dinâmica


ocorre devido ao fato de o sistema contábil adotar o método da partida
dobrada, no qual para cada lançamento haverá uma contrapartida – uma
origem e uma aplicação correspondente (no mínimo). Imagine que sua
empresa compre mercadoria para revenda no valor de R$ 1.000,00 (mil reais) a
prazo. Ela deve registrar o valor de R$ 1.000 na conta estoque (ativo),
reconhecendo o ingresso do bem mercadoria para revenda; em contrapartida,
deve registrar R$ 1.000,00 na conta fornecedor (passivo), reconhecendo a
dívida contraída.
Ao longo de nosso estudo, usaremos muitos dados do BP para analisar
a empresa, então, segure firme a mochila e aguarde as próximas páginas, para
compreender mais a fundo a DC. Agora, vamos para a segunda demonstração
mais importante e utilizada.

TRILHA 2 – DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO (DRE)

Lembro de falar muito aquele velho e corriqueiro ditado (“na vida só


tenho levado prejuízo!”) na minha adolescência quando tinha um desafeto, um
desamor ou algum evento contrário às minhas vontades... Ei, esse texto é do
livro de autoajuda, o que está querendo dizer? O resultado alcançado era o
indesejado, contrário aos meus planos e aspirações.
Então, o contrário de prejuízo... hum, deixe-me lembrar: é lucro.
A DRE serve para isto, simples assim: qual o resultado da nossa
empresa esse mês? Só pode ser lucro ou prejuízo, até porque raras vezes a

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empresa consegue um valor nulo, igual a zero. O que na prática ocorre são
valores acima de zero (lucro) ou abaixo (prejuízo).
Resumidamente a DRE apresenta a receita, valor relacionado a tudo
que a empresa vendeu e/ou que prestou serviços, representando o ingresso de
recursos originados de sua atividade principal (objeto social). Na venda, ela
concede mercadorias, produtos ou presta serviços, obtendo em troca dinheiro
ou uma promessa de pagamento (crédito) do seu cliente ou consumidor. Esses
itens são benefícios futuros que são registrados no ativo. Um comércio de
roupas, por exemplo, apresentaria o total de vendas do vestuário do respectivo
mês. Além da receita, a DRE apresenta os custos e as despesas.
Os custos são os valores extraídos do estoque, quando damos baixa na
venda ou computamos o custo do serviço prestado. Até porque a empresa não
ganhou a mercadoria, ela pagou ou pagará por ela. Na venda tal valor
representa custo para se obter a receita.
As despesas são valores consumidos para manter a empresa
trabalhando intensamente e para vender seus produtos e serviços. Dessa
forma, as despesas servem para obter receitas e gerenciar a empresa. Esses
três elementos são itens essenciais, todavia, na DRE, você observará inúmeras
contas, mas todas terão relação direta com os conceitos de receitas, custos e
despesas.

Tabela 2 – Demonstração do resultado do exercício

Receita bruta de vendas 900.000


(-) Impostos sobre vendas (100.000)
(=) Receita líquida 800.000
(-) Custos das mercadorias vendidas (CMV) (650.000)
(=) Resultado operacional bruto 150.000
(-) Despesas operacionais (100.000)
Despesas com vendas (30.000)
Despesas administrativas (70.000)
Lucro antes das operações financeiras 50.000
Despesas financeiras (30.000)
Receitas financeiras 10.000
(=) Lucro antes do IRPJ e CSLL 30.000
(-) IRPJ e CSLL (6.000)
(=) Lucro líquido 24.000
Fonte: elaborado com base Marion, 2019, p. 49.

O lucro líquido representa o valor do resultado econômico da empresa


nesse período. Esse valor de R$ 24.000,00 (vinte e quatro mil) em algum
momento estará disponível na empresa, todavia não se sabe quando, pois
depende de como a receita será recebida (venda) e como os demais valores
serão pagos (custos e despesas). Por isso, o aspecto econômico (comprar e
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vender) é objetivo da evidenciação na DRE, e não os aspectos financeiros
(pagar e receber – movimentação do caixa).

ELO

Para uma análise clara e objetiva, é vital compreender o teor


informacional que cada demonstração apresenta e conhecer como todo
processo de lançamento e escrituração ocorre. As empresas são repletas de
inúmeras transações, alterando a situação econômica e financeira do seu
patrimônio a cada evento. A contabilidade é a técnica, o procedimento e a
ciência usada para controlar e divulgar as informações produtivas, econômicas,
financeiras e patrimoniais das atividades empresariais. Compete à empresa
que vai reportar (declarar, apresentar) as DCs atentar para todas as normas e
regras para sua elaboração, visando satisfazer as necessidades de seus
usuários.

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REFERÊNCIAS

ALVES, A.; LAFFIN, N. H. F.; PUGUES, L. M. Análise das demonstrações


financeiras. Porto Alegre: SAGAH, 2018.
MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis. 8. ed. São Paulo:
Atlas, 2019.

MARTINS, E.; MIRANDA, G. J.; DINIZ, J. A. Análise didática das


demonstrações contábeis. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2020.

RIBEIRO, O. M. Noções de análise de demonstrações contábeis. v. 4. São


Paulo: Érica, 2020.

SILVA, A. A. Estrutura, análise e interpretação das demonstrações


contábeis. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2019.

SOUZA, A. F. et.al. Análise financeira das demonstrações contábeis na


prática. São Paulo: Trevisan, 2015.

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