Acao Declaratoria de Nulidade Contratual C C Com Restituicao de Valores em Dobro Pedido de Tutela de Urgencia Indenizacao Por Dano Moral e Material

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AO JUÍZO DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DE CARANGOLA – MINAS

GERAIS
TRAMITAÇÃO PRIORITÁRIA - IDOSO
NOME DO CLIENTE, brasileiro, divorciado, aposentado, inscrito no cadastro nacional
de pessoas físicas sob o número XXX, portador da cédula de identidade XXX, residente
e domiciliado na Rua XXXX, sem endereço eletrônico, vem por seu advogado
signatário a presença deste D. Juízo, com base no Art. 14 do CDC c/c 186, e 927 do CPC
propor
AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE CONTRATUAL C/C COM RESTITUIÇÃO DE
VALORES EM DOBRO, PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA, INDENIZAÇÃO POR
DANO MORAL E MATERIAL
Em face de BANCO BMG S.A., pessoa jurídica de direito privado devidamente inscrita
no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas sob o número 61.186.680/0001-74,
sediada na Avenida Presidente Jucelino Kubitschek, nº. 1830, 10º, 11º, 13º e 14º
andares, Bairro Vila Nova Conceição, São Paulo, São Paulo, CEP 04543-900, com
endereço eletrônico [email protected], telefone (11) 28477486, pelos
fatos e fundamentos a seguir expostos.
I - DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA
Em primeiro plano, requer a parte Autora a concessão das benesses da gratuidade de
justiça, sob égide no art. 98 c/c Caput e parágrafo 3º do art. 99, ambos do Código de
Processo Civil c/c o art. 5º, LXXIV, da Constituição Federal, em virtude de não possuir
recursos suficientes para arcar com as custas, as despesas processuais e os honorários
advocatícios sem prejuízo de sustento e de sua família.
II - DOS FATOS
O Autor é pessoa IDOSA, humilde e de baixa instrução, possuindo junto ao INSS uma
aposentadoria por invalidez - benefício nº: XXXX, no valor mensal de R$ 1.271,73 (um
mil, duzentos e setenta e um reais e setenta e três centavos), pela qual garante seu
sustento.
Ademais, o autor possui 4 (quatro) empréstimos consignados, junto ao banco Itaú S/A,
os quais são descontados mensalmente de seu benefício.
Pois bem, há alguns meses a parte Autora constatou que vinham ocorrendo descontos
mensais obscuros de seu benefício, frente a isto, o Postulante dirigiu-se a agência
física do INSS no dia 16/08/2023, a fim de retirar um extrato bancário e apurar o
motivo dos descontos.
Ao retirar o extrato detalhado, o Autor constatou diversos descontos feitos pela Ré
referente ao impagável “empréstimo sobre a RMC” efetuados desde dezembro de
2017, em valores que variam de R$ 19,35 (dezenove reais e trinta e cinco centavos) a
R$ 63,97 (sessenta e três reais e noventa e sete centavos).
Vale ressaltar, que o Autor JAMAIS teve a intenção ou concordou com a contratação do
referido “empréstimo RMC”, sendo sua remessa feita de forma unilateral e abusiva por
parte da Ré.
Evidente que ao perceber os descontos em seu extrato de pagamento, o Autor
acreditou estar realizando a quitação de seu contrato, afinal a cobrança do
empréstimo e do valor disponibilizado ocorreu de forma idêntica aos empréstimos
consignados realizados anteriormente, sendo enganado pela ardilosa ação da Ré.
Para agravar, os descontos realizados no benefício do autor não possuem informações
quanto ao início e fim dos descontos, ou seja, não consta a periodicidade das
prestações, o tornado vitalício e irregular.
Assim, busca-se a tutela judicial para ser declarado nulo o contrato fraudulento
denominado como empréstimo sobre RMC e Reserva de Margem Consignável (RMC),
cobrados indevidamente do Autor, declarando-os inexigível e reaver os débitos em
dobro que foram cobrados de seu benefício previdenciário, nos últimos anos, bem
como ser indenizado a título de danos morais.
III - DO DIREITO
Por conta do ato comissivo praticado pelo Réu, o Autor claramente sofreu perda de
poder aquisitivo pela redução injusta de remuneração, além de ter imagem, honra e
autoestima vilipendiadas devido aos descontos mensais, feitos indevidamente em seu
benefício.
A parte Ré incidiu em falha na prestação dos serviços, derivando danos à esfera moral
e patrimonial a parte autora. Preenchidos, os pressupostos da responsabilidade civil,
conforme dicção do art. 186 e 927, do Código Civil, e art. 5º, X, da Constituição Federal.
Destaca-se, que a disponibilização de serviço não contratado, tal qual ocorrido no caso
em tela, é marcado por abusividade, vez que o Réu, deliberadamente, impõe ao Autor
o pagamento mínimo da fatura mensal, notório a vantagem que a instituição aufere, já
que enseja a aplicação das parcelas infinitas, gerando juros e outros encargos
extremamente lucrativos, em flagrante afronta ao artigo 6º, inciso III, do Código de
Defesa do Consumidor.
Consoante, o CDC considera em seu art. 39, prática abusiva a forma como o
empréstimo foi concedido, pois ao enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação
prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço; exigir do consumidor
vantagem manifestamente excessiva ficando vedada estas práticas.
A despeito, não poderia a parte Ré, disponibilizar os serviços de RMC sem o real
consentimento do consumidor e ainda causar cobrança excessiva visto que inexiste
fim para o pagamento das parcelas. O Autor, diante da necessidade, buscou apenas
contratar empréstimo consignado, mas, restou ludibriado.
Ademais, para a constituição de Reserva de Margem Consignável (RMC) requer
autorização expressa do aposentado, por escrito ou por meio eletrônico, nos termos
do que dispõe o Art. 3º, III, da Instrução Normativa INSS, n. 28/2008, alterada pela
Instrução Normativa INSS n. 39/2009, in verbis:
“Art. 3º Os titulares de benefícios de aposentadoria e pensão por morte, pagos pela
Previdência Social, poderão autorizar o desconto no respectivo benefício dos valores
referentes ao pagamento de empréstimo pessoal e cartão de crédito concedidos por
instituições financeiras, desde que:
III -a autorização seja dada de forma expressa, por escrito ou por meio eletrônico e em
caráter irrevogável e irretratável, não sendo aceita autorização dada por telefone e
nem a gravação de voz reconhecida como meio de prova de ocorrência.”
Corroborando Instrução Normativa supra:
“EMENTA: APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CONTRATO
DE CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC) C/C
INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C RESTITUIÇÃO DE VALORES EM DOBRO C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. EMPRÉSTIMO RMC. AUTORIZAÇÃO. NÃO
COMPROVAÇÃO. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. VENDA CASADA.
CARTÃO DE CRÉDITO. DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO. REPETIÇÃO DO
INDÉBITO.- Inexistindo autorização expressa para a constituição de Reserva de
Margem Consignável (RMC) em contrato de empréstimo consignado na modalidade
cartão de crédito, conforme estabelece o artigo 3º, III, da Instrução Normativa do INSS
nº 28/2008, alterada pela Instrução Normativa do INSS nº 39/2009, configura ato
ilícito.- Caracteriza-se o dever de indenizar por dano moral o injusto desconto
diretamente no benefício previdenciário, que tem natureza alimentar, não podendo
ser considerado como um simples aborrecimento. - Em casos de ato ilícito, a
indenização por dano moral deve ser fixada com a devida prudência, em valor que se
mostre capaz de compensar a vítima pelo desgaste e sofrimento ocasionados pelo
ofensor. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.20.068066-8/002, Relator (a): Des.(a) Pedro
Bernardes de Oliveira, 9ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 07/06/2022, publicação da
súmula em 13/06/2022)” (Grifo nosso).
A parte Autora nunca formalizou nenhum contrato de RMC com a Ré, como já narrado,
pretendia um EMPRÉSTIMO SIMPLES de crédito consignado. As informações
prestadas pela Ré, ao Autor, foram insuficientes e enganosas mediante a realização da
operação completamente diversa da ofertada. Registre-se que a publicidade enganosa
é definida pelo CDC no seu art. 37.:
Por esse motivo deve ser declarada a inexistência de qualquer reserva de margem
consignável em desfavor do Autor em relação a Ré, requer que seja determinado em
sentença.
Outrossim, pelo Código Civil, aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito, na forma do art. 186 e de forma complementar o art. 927
reforça a obrigação aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.
Não obstante que se aplique o Código de Defesa do Consumidor ao presente caso, a
responsabilidade da instituição financeira é objetiva, de modo que não se deve
perquirir acerca de sua culpa.
Na responsabilidade objetiva observa-se também uma conduta ilícita, o dano e o nexo
causal. Não sendo necessário o elemento culpa, razão pela qual fala-se em
responsabilidade independentemente de culpa.
É notável que o público-alvo da ré, em geral é formado por pessoas idosas com baixo
poder aquisitivo, pouca margem para negociação e um baixo nível de escolaridade.
A situação, vem causando angústia, sofrimento, gerando grande abalo moral e prejuízo
material ao autor, razão pela qual deve ser reparado a fim de suprir os prejuízos
sofridos, onde pleiteia ter seu direito reconhecido.
Em face da má conduta, deve o réu ser condenado à reparação do dano que causou ao
autor, tanto para amenizar a dor a ele imposta, configurada pela vergonha e
impossibilidade de usufruir do que é seu em sua totalidade, quanto pelo dissabor de
gastar o precioso tempo e recursos na imaginária tentativa de solucionar o problema.
Ademais, a condenação deve se dar de maneira que sirva para punir, coibindo tais
abusos cometidos em detrimento do consumidor verdadeiramente indefeso,
impotente e exposto aos absurdos cometidos por tais prestadores de serviços, e para
ter reflexo pedagógico em outras instituições que possam incorrer neste erro, na
busca de extirpar tais práticas.
Na fixação do quantum indenizatório, hão de ser consideradas as condições especiais
e pessoais do ofendido e do ofensor, afinal é fato notório a dificuldade imposta ao
consumidor quando o assunto é a busca de informações junto as instituições
financeiras e repartições públicas.
A indenização deve ter o condão de fazer surtir efeito no mínimo razoável ao
patrimônio do ofensor, mormente ante o gigantesco porte econômico, pois,
entendimento em sentido contrário seria atribuir a tais empresas o direito de comprar
por valores ínfimos a dor e o sofrimento alheio.
III.I - DA CARACTERIZAÇÃO DE RELAÇÃO DE CONSUMO:
O réu é considerado prestador de serviço, para tanto é regido sob a égide
consumerista, visto que presta serviços bancários para seus consumidores. Deste
modo o autor por ser destinatário final de tais serviços, mesmo que não contratados é
considerado consumidor, tratando-se de relação de consumo.
É o que se extrai a partir da análise do disposto no art. 2º e no caput do art. 3º, ambos
do Código de Defesa do Consumidor.
“Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza ou adquire
produto ou serviço como destinatário final.
Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.”
Além do Código de Defesa do Consumidor regulamentar as relações de consumo entre
as instituições bancárias e os consumidores, a Súmula 297 do STJ reforça esse
entendimento, in verbis:
"Súmula 297. O Código de Defesa do Consumidor é aplicável as Instituições
Financeiras."
Dessa forma, indubitavelmente há relação de consumo entre as partes da presente
demanda, devendo, de maneira justa e eficaz ser analisada, no que couber, sob a ótica
do CDC.
III.II - DA COBRANÇA INDEVIDA E REPETIÇÃO DO INDÉBITO:
O instituto da cobrança indevida está previsto no art. 42 parágrafo único do CDC, in
verbis:
“Art. 42, Parágrafo único: O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à
repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescidos
de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.”
Desse modo, como o autor não requisitou os serviços do banco réu e não tinha
conhecimento do que se tratava, faz jus à restituição em dobro dos valores
indevidamente descontados do seu benefício até a presente data.
Nesse sentido é devidamente oportuno e conveniente trazer à baila a jurisprudência:
“EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO
C/C REPETIÇÃO DO INDÉBITO E REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAS -
DESCONTOS EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO - CONTRATAÇÃO NÃO COMPROVADA
- DANO MORAL - CONFIGURAÇÃO - RESTITUIÇÃO EM DOBRO -QUANTUM
INDENIZATÓRIO. I- A privação do uso de importância, mesmo que de baixo valor,
subtraída de benefício previdenciário da autora, gera ofensa à sua honra e viola seus
direitos da personalidade, justificando indenização por danos morais, não se
classificando como mero aborrecimento; II- A indenização por danos morais deve ser
fixada em valor suficiente e adequado para compensação dos prejuízos
experimentados pelo ofendido e para desestimular a prática reiterada da conduta
lesiva do ofensor. III - Não comprovado que as cobranças realizadas pelo banco réu
decorreram de estipulações contratuais válidas, entende-se por injustificável, no
âmbito da causalidade, o engano cometido, fazendo-se devida a restituição em dobro
dos valores cobrados da parte autora sem amparo legal ou contratual. (TJMG - ApCiv
1.0000.23.105859-5/001 - 18.ª Câmara Cível - j. 20/6/2023 - julgado por João Cancio
de Mello Junior - DJe 20/6/2023 - Área do Direito: Previdenciário).”
Isto posto, deve o réu ser condenado a ressarcir em dobro os valores que foram
descontados indevidamente do benefício previdenciário do autor, uma vez que está
anexado documentos comprobatórios de que o mesmo vem sofrendo deduções de seu
benefício mensal, por contrato que jamais celebrou.
III-III - DO CÁLCULO:
Conquanto aos numerários que envolvem a questão travada, tomando por base as
diretrizes do ordenamento específico, considerando a taxa média aplicada nas
operações de crédito consignado à época da contratação da operação vertida,
extraindo-as das séries temporais – BACEN, percebe-se que o débito discutido seria
quitado em menos de 40 (quarenta) prestações.
Nesses termos, a taxa média BACEN em dezembro de 2017, tem por talude a taxa de
2,00% a.m., ao passo que os descontos realizados no benefício do consumidor, se
deram em média no importe de R$ 46,13 (quarenta e seis reais e treze centavos).
Nesse espeque, a operação creditícia restaria liquidada em março de 2021, totalizando
a quantia paga de R$ 1.845,33 (mil oitocentos e quarenta e cinco reais e trinta e três
centavos), pelo que, os valores descontados posteriormente a essa data, estariam
encobertos pelo manto da ilicitude.
Sabido e ressabido, por sua vez que, os valores ilícitos devem ser restituídos ao
consumidor, inclusive, de forma dobrada, nos termos do códex consumerista. Com
isso, até a presente data, são 28 (vinte e oito) meses de descontos irregulares,
totalizando a quantia de R$3.504,21 (três mil quinhentos e quatro reais e vinte e um
centavos).

III.IV - DO DANO MORAL:


De início, frisa-se que o dano moral se presta a ressarcir alguém em virtude de abalo
psicológico, estético e físico. Além disso, tem o condão de estabelecer como a vítima se
recuperou desta lesão, se sofreu humilhação, dor, sofrimento, vexame etc. Nesse
sentido, é o conceito de Carlos Roberto Gonçalves:
“Dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu patrimônio. É
lesão de bem que integra os direitos da personalidade, como a honra, a dignidade, a
intimidade, a imagem, o bom nome, etc., como se infere dos art. 1º, III, e 5º, V e X, da
Constituição Federal, e que acarreta ao lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e
humilhação"(GONCALVES, 2009, p.359).
Já o texto constitucional garante o direito à indenização por dano moral nos incisos V
e X do art. 5º, ressaltando, entretanto, sua efetiva violação, o que, insiste, ocorreu na
hipótese dos autos. Assim, para facilitar a leitura, eis os dispositivos:
“Art. 5º. (...)
V - É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da Indenização
por dano material, moral ou à imagem; (...)
X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação.”
Ainda nesta perspectiva, o Código Civil prevê o dano moral nos arts. 186 e 927, a
saber:
“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.”
Neste caso específico o dano moral é bastante robusto, pois em virtude de tais
descontos, o autor, teve seus parcos recursos ainda mais reduzidos em virtudes destes
descontos ilegais e praticados em duplicidade.
Portanto, o desconto desta consignação de empréstimo bancário, não contratado e
covardemente cobrado em duplicidade, reduz demasiadamente a remuneração que
constitui fonte de renda da família, causando amargo sentimento de impotência e
indignação.
O art. 39, III, do CDC esclarece a proibição que decorre da lei e que a tudo indica o
banco réu desconhece, senão vejamos:
“Art. 39: É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas
abusivas:
III - Enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou
fornecer qualquer serviço.”
Destarte, fica mais clarividente o abuso perpetrado pela instituição financeira contra o
autor, sobretudo porque tal dano é de natureza objetiva, ou seja, independe de
comprovação de existência de culpa, ainda que esta seja gritante, nos termos do art.
14, caput do CDC.
Por tais razões, requer a condenação do réu, ao pagamento da reparação a título de
Danos Morais. E, por ser este detentor de enorme poder econômico, se faz necessário
que o quantum reparatório corresponda a um montante capaz de atribuir pedagogia
inibidora ao banco réu, a fim de persuadi-lo a não praticar mais condutas nefastas à
vida dos cidadãos, principalmente aos mais idosos e indefesos, motivo pelo qual este
deve ser fixado no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), segundo determina o art.
292, inciso V, CPC.
Finalmente, cabe frisar que o valor ora requerido não deve ser encarado como
hipótese de enriquecimento sem causa, o que se almeja é tão somente, através do
caráter disciplinar e desestimulador da indenização, do poderio econômico do banco
réu, das circunstâncias do evento e da gravidade do dano causado ao autor, evitar que
o banco cometa tal conduta com os demais cidadãos.
III.V - DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA:
A inversão do ônus da prova está exarada no art. 6º, inciso VIII do CDC, in verbis:
“Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...)
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências.”
Extrai-se do artigo que, para a inversão do ônus da prova é necessário a
verossimilhança da alegação, presente no caso concreto, ou a hipossuficiência do
autor.
A verossimilhança das alegações está arrimada na documentação e nas afirmações
acostadas na exordial. Consubstanciada a tal fato, tem-se a hipossuficiência técnica do
autor em relação ao banco réu.
Assim, requer, a inversão do ônus da prova, cabendo ao réu provar a existência e
como se deu a suposta contratação.
III.VI - DA OFENSA AO DISPOSITIVO NORMATIVO REGULAMENTADOR:
Como se não bastasse, verifica-se o desrespeito às normas específicas pertinentes ao
contrato de empréstimo consignado.
O contrato de empréstimo consignado é, hoje, um dos instrumentos de concessão de
crédito mais utilizado por indivíduos que percebem benefício previdenciário, seja pelo
seu fácil acesso e quitação, seja pelo número de instituições financeiras credenciadas
para o oferecimento deste serviço.
Mesmo frente a este fator, o número de fraudes e crimes cometidos no uso do contrato
de empréstimo consignado é enorme. O beneficiário se tornou alvo de indivíduos que
buscam o enriquecimento ilícito através de contrato criminoso e inexistente em nome
da vítima.
A situação das fraudes e crimes mostrou-se tão preocupante que, o INSS editou a
INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS/PRES Nº 28, que estabelece critérios e procedimentos
operacionais relativos à consignação de descontos para pagamento de empréstimos e
cartão de crédito, contraídos nos benefícios da Previdência Social.
Referida Instrução Normativa não permite que os contratos sejam firmados fora das
agências bancárias e que as contas favorecidas não sejam aquelas de titularidade do
contratante, o que diminuiu, com certeza, o número de “golpes” até então facilitados.
Esta atitude do Poder Público mostra seriedade do problema enfrentado.
Como dito anteriormente, o autor jamais ingressou e sequer conhece agência do banco
réu, não firmou contrato de empréstimo consignado e nunca esteve em uma agência,
fato que é exigência legal para a validade do contrato em discussão, conforme
preceitua o Art. 4º, I da IN/INSS/PRES Nº 28, de 16 de maio de 2008:
“Art. 4º A contratação de operações de crédito consignado só poderá ocorrer, desde
que:
I - A operação financeira tenha sido realizada na própria instituição financeira ou por
meio do correspondente bancário a ela vinculada, na forma da Resolução Conselho
Monetário Nacional nº 3.110, de 31 de julho de 2003, sendo a primeira responsável
pelos atos praticados em seu nome;”
Ressalta-se ainda a impossibilidade de autorização por telefone, onde a gravação de
voz funcione como prova do ato, conforme estabelece o Art. 1º, VI, § 7º da IN/INSS/DC
121/2005.
De todos os lados há inobservância das regras relativas à consignação, regulamentada
pelas duas instruções normativas citadas. Muito mais que inobservância o autor é
vítima de possível fraude.
Portanto, resta evidente que o banco réu violou disposições normativas
regulamentadoras as quais deveria ter como regra de conduta, os fatos revelam que o
réu impõe produtos ou serviços sem o menor constrangimento e por esta razão deve
ser punido a rigor da lei.
IV - DA TUTELA ANTECIPADA
Dispõe o artigo 300 do Código de Processo Civil, in verbis:
“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil
do processo.”
Para que o pedido liminar seja deferido, torna-se indispensável a presença de dois
elementos, quais sejam, exigência do periculum in mora e probabilidade do direito.
Tais elementos estão mais do que demonstrados nos autos.
Periculum in mora está presente, levando em consideração a perca irreparável dos
direitos do autor, o qual usa desse benefício para se manter e está sofrendo com a
cobrança de empréstimo que não realizou e de forma duplicada.
Outrossim, quanto ao outro elemento autorizador da liminar, no caso em exame, há
mais do que a possibilidade do pleito, há sim, a certeza da procedência conforme se
extrai das provas carreadas.
Diante disso, requer a concessão da antecipação de tutela, determinando-se ao banco
réu que se abstenha de efetuar os descontos mensais do benefício do autor nº
618.430.926-2, e da conta corrente onde mesmo recebe sua aposentadoria junto ao
banco Itaú.
Notória a necessidade de concessão de tutela provisória de urgência, tendo em vista o
preenchimento de todos os seus requisitos, uma vez que é demonstrada a
probabilidade do direito do autor, bem como o perigo de demora.
De tão patente, a demonstração do preenchimento dos requisitos não comporta
maiores esforços.
O preenchimento do primeiro pressuposto, a probabilidade do direito do autor, já foi
excessivamente demonstrado no decorrer de toda esta petição, ademais todo o
alegado pode ser comprovado de plano, pela via documental, sem necessidade de
qualquer dilação probatória.
Observa-se, no caso, agressão frontal a direitos e garantias fundamentais assegurados
pela Constituição Federal, o que, por si só, justifica o reconhecimento da
verossimilhança.
O segundo requisito, perigo de demora, esse se mostra também atendido, uma vez
que, havendo os descontos, duplicados, em decorrência de empréstimo não
contratado junto ao banco réu, o autor terá sua renda mensal excessivamente
diminuída e seu patrimônio lapidado, sendo necessária a vedação de possíveis
descontos.
Por fim, é importante ressaltar que não há a irreversibilidade da medida, uma vez que,
sendo improcedente os pedidos autorais, hipótese muito remota, o réu poderá efetuar
os descontos posteriormente.
Desse modo, na tentativa de salvaguardar sua condição digna, somente a concessão de
um provimento antecipado que vise impedir a efetivação de descontos em seu
benefício e conta poupança pelo réu, evitará maiores percalços para o autor.
V - DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer o autor:
1 – A concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita, nos termos do artigo
98 do Código de Processo Civil;
2 – A citação da Requerida, na pessoa de seu representante legal, para que, querendo,
apresente contestação sob pena de lhe ser aplicado os efeitos da revelia;
3 – A inversão do ônus da prova, em favor da Requerente, diante da verossimilhança
de suas alegações e de sua hipossuficiência, com fundamento no artigo 6º, inciso VIII,
do CDC, e no artigo 373, § 1º do CPC;
4 – A concessão de TUTELA DE URGÊNCIA, para que seja determinado que a Ré se
abstenha de descontar os valores a título de RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL
(RMC) e EMPRÉSTIMO DE RMC do benefício previdenciário da parte Autora, sob pena
de causar danos financeiros irreparáveis à parte Autora, no prazo máximo de 5 (cinco)
dias úteis a contar a intimação, sob pena de multa diária no patamar de R$ 500,00
(quinhentos reais);
5 – Ao final seja a presente demanda julgada TOTALMENTE PROCEDENTE, nos
seguintes termos:
5.1 – Seja DECLARADA a NULIDADE do contrato de empréstimo VIA CARTÃO DE
CRÉDITO COM RMC, igualmente a RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC),
realizado no benefício previdenciário da parte Autora e a INEXIGIBILIDADE das
parcelas;
5.2 – Seja a Requerida CONDENADA AO RESSARCIMENTO EM DOBRO à parte
Autora, dos valores que foram e vierem a ser cobrados indevidamente de seu
benefício previdenciário, referente aos útimos 5 (cinco) anos, sendo que até a
presente data alcança o montante de R$ R$3.504,21 (três mil quinhentos e quatro
reais e vinte e um centavos), acrescido de correção monetária e juros legais, desde
cada desembolso;
5.3 – Seja a Requerida condenada ao pagamento de indenização a título de danos
morais em favor da parte Autora, na importância R$ 10.000,00 (dez mil reais);
5.4 – Seja a Requeria ao final condenada ao pagamento de custas e despesas
processuais e honorários advocatícios, no importe de 20% (vinte por cento);
Requer provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos, estando
tudo, desde logo, requeridos.
Dá-se à causa o valor de R$ 13.504,21 (treze mil quinhentos e quatro reais e vinte e
um centavos).
Termos em que, pede deferimento.
Local, data.
Advogado, OAB.

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