trf3 Roberto Teixeira Uniao Advogad Lula

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28/04/2022 15:53 · Processo Judicial Eletrônico - TRF3 - 2º Grau

PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 3ª Região
1ª Turma

APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 0008034-16.2016.4.03.6100


RELATOR: Gab. 03 - DES. FED. HELIO NOGUEIRA
APELANTE: ROBERTO TEIXEIRA
Advogados do(a) APELANTE: MARIA DE LOURDES LOPES - SP77513-A, CRISTIANO ZANIN MARTINS -
SP172730-A
APELADO: UNIÃO FEDERAL
OUTROS PARTICIPANTES:
ASSISTENTE: ASSOCIACAO DOS JUIZES FEDERAIS DO BRASIL

ADVOGADO do(a) ASSISTENTE: FABIO MEDINA OSÓRIO - SP290720

PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 3ª Região
1ª Turma

APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 0008034-16.2016.4.03.6100


RELATOR: Gab. 03 - DES. FED. HELIO NOGUEIRA
APELANTE: ROBERTO TEIXEIRA
Advogados do(a) APELANTE: MARIA DE LOURDES LOPES - SP77513-A, CRISTIANO ZANIN MARTINS -
SP172730-A
APELADO: UNIÃO FEDERAL

OUTROS PARTICIPANTES:
ASSISTENTE: ASSOCIACAO DOS JUIZES FEDERAIS DO BRASIL

ADVOGADO do(a) ASSISTENTE: FABIO MEDINA OSÓRIO - SP290720

RELATÓRIO
Trata-se de apelação interposta por ROBERTO TEIXEIRA contra
sentença proferida pelo Juízo da 1ª Vara Federal de São Paulo/SP (ID
107782700 – p. 790 e ss.), que, em sede de ação condenatória cumulada com
obrigação de fazer ajuizada contra a União Federal, julgou improcedente o
dd d á d d
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pedido de compensação pecuniária por danos morais, nos termos do art. 485,
inc. VI, do Código de Processo Civil, e extinguiu o processo sem julgamento de
mérito, na forma do art. 487, inc. I, do diploma processual civil, em relação ao
pedido de retirada da rede mundial de computadores do conteúdo de
interceptações telefônicas efetivadas no âmbito da denominada “Operação
Lava Jato”. A parte autora foi condenada ao pagamento de custas, bem como
de honorários advocatícios sucumbenciais, fixados em 10% (dez por cento) do
valor atualizado da causa.
Em suas razões recursais (ID 107782702 – p. 866 e ss.), aduz o
Apelante, preliminarmente, a nulidade da sentença recorrida, sob a alegação
de que não houve a devida análise dos embargos declaratórios opostos,
caracterizando violação ao art. 1022, inc. II, do Código de Processo Civil. No
mérito, reafirma a ilegalidade da interceptação telefônica e da publicação dos
diálogos, sustentando, em síntese, que: a alegação de condição de investigado
do interceptado constitui manobra para justificativa posterior das ilegalidades
cometidas no sentido de monitorar conversas entre advogado e cliente; a
inviolabilidade da comunicação telefônica do advogado no exercício de sua
profissão encontra amparo constitucional e na Lei 8.906/94; a quebra do sigilo
das suas comunicações telefônicas deu-se na qualidade de advogado que
presta assessoria jurídica a clientes na aquisição de um imóvel, vale dizer, na
prática de ato privativo da advocacia, distante de configurar indício de crime,
em flagrante ofensa aos artigos 133 e 5º, inciso XII, da CF, art. 7º, inc. II, do
Estatuto da OAB, assim como ao art. 2º, inc. I, da Lei 9.296/96; não foi
observado o sigilo das gravações e transcrições de interceptações telefônicas
nos moldes previstos no art. 8º da Lei n 9.296/96 e nos termos da
jurisprudência do STF; bem como que o indevido levantamento do sigilo de
conversas telefônicas interceptadas por magistrado federal, em violação
manifesta à legislação de regência, enseja a responsabilidade objetiva da União
Federal.
Com contrarrazões (ID 107782703 – p. 907 e ss.), subiram os autos
a esta Egrégia Corte Regional.
Em 16/12/2021, o Apelante peticionou novamente nos autos,
juntando documentos (ID 239185834).
É o breve relatório.

PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 3ª Região
1ª T
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1ª Turma

APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 0008034-16.2016.4.03.6100


RELATOR: Gab. 03 - DES. FED. HELIO NOGUEIRA
APELANTE: ROBERTO TEIXEIRA
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VOTO

O Desembargador Federal HÉLIO NOGUEIRA: Tempestivo, recebo o recurso de


apelação em seus regulares efeitos (art. 1.012, caput, do Código de Processo Civil).

A matéria devolvida ao exame desta Corte será examinada com base na


fundamentação que passo a analisar topicamente.

Da nulidade da sentença

Alega o Apelante que não houve a devida análise dos embargos de


declaração opostos em face da sentença recorrida, restando caracterizada nulidade por
ausência de prestação jurisdicional.

Não lhe assiste razão.

Consoante se verifica da análise dos autos, o Juízo a quo, ao analisar os


embargos opostos pelo Autor, rejeitou-os sob o fundamento de inexistência de omissão e
por entender que a pretensão deduzida pelo Embargante consubstanciaria tentativa de
obter a modificação do pronunciamento judicial através de via inadequada para
rediscussão da matéria (ID 107782702 – p. 855 e ss.).

Com efeito, os embargos de declaração são inadequados à modificação do


pronunciamento judicial proferido, devendo a parte inconformada valer-se dos recursos
cabíveis para lograr tal intento.

Evidenciada a oposição dos referidos embargos como tentativa de


promover o reexame da causa, escorreita a rejeição.

Ademais, não há de se confundir fundamentação concisa com a ausência


dela, não se exigindo do juiz a análise pormenorizada de cada uma das argumentações
lançadas pelas partes, podendo ele limitar-se àquelas de relevância ao deslinde da
causa, atendendo, assim, ao princípio basilar insculpido no art. 93, inc. IX, da
Constituição Federal. Nesse sentido:

“O t 93 IX d C tit i ã F d l ã d t i ó ã j di t
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“O art. 93, IX, da Constituição Federal não determina que o órgão judicante
se manifeste sobre todos os argumentos de defesa apresentados, mas sim
que ele explicite as razões que entendeu suficientes à formação de seu
convencimento”.

(RE 1.047.242 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, Segunda Turma, j. 08/08/2017)

Nesses termos, rejeito a preliminar de nulidade.

Da intervenção da Associação dos Juízes Federais do Brasil – AJUFE

De início, verifico que o ingresso da Associação dos Juízes Federais do


Brasil (AJUFE) no presente feito se deu na qualidade de assistente simples da União
Federal (art. 121 do CPC), ao fundamento de que o objeto da demanda se refere a ato
judicial típico, ligado às prerrogativas da magistratura, o que justifica o interesse da
aludida entidade de classe de âmbito nacional. A inclusão foi deferida em decisão
prolatada em 07/07/2017 (ID 107782699 – p. 653).

No entanto, posteriormente, o magistrado prolator dos provimentos


jurisdicionais sobre os quais se fundamenta a pretensão deduzida nestes autos, Sérgio
Fernando Moro, veio a ser exonerado, a pedido, do cargo de juiz federal, em ato
publicado em 19/11/2018.

Por conseguinte, resta configurada a perda superveniente de interesse


processual da AJUFE em intervir no feito na qualidade de assistente simples (art. 17 do
CPC), porquanto não mais subsiste interesse jurídico da referida entidade de classe em
que a sentença seja favorável a uma das partes, devendo o polo passivo ser ocupado
apenas pela União Federal.

Assim, determino a extinção do feito, sem resolução de mérito, em relação à


AJUFE, nos termos do art. 485, inc. VI, do CPC.

Como consequência da extinção da ação em relação à AJUFE, ficam


prejudicadas as alegações formuladas em sede de memoriais, incluindo a nulidade por
ausência de não observância do contraditório, decorrente da juntada de documentos, os
quais dizem respeito a decisões que reconheceram a incompetência da 13ª Vara Federal
de Curitiba/PR, suspeição do magistrado e cópia de ação civil pública proposta pelo
Ministério Público Federal, até porque são fatos públicos e notórios, reiteradamente
divulgados pelos meios de comunicação.

Passo ao exame do mérito.

Do mérito

O ordenamento jurídico brasileiro consagra o direito fundamental à


intimidade, à vida privada, à honra e à imagem, bem como resguarda a inviolabilidade
das correspondências e comunicações, assegurando, ainda, o direito à indenização por
dano material, moral ou à imagem (art. 5º, inc. V, X e XII, da Constituição da República).
Da mesma forma, as normas infraconstitucionais protegem os direitos da personalidade
em face de lesão ou ameaça, bem como asseguram a reparação por perdas e danos (art.
12 do Código Civil).

T i d ti d di it à ã t
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Tais comandos normativos, que resguardam o direito à reparação por atos
violadores de interesses jurídicos patrimoniais ou extrapatrimoniais, são concretizados,
em âmbito legal, pelo conjunto que rege a disciplina da responsabilidade civil, cujos
pressupostos – conduta humana, dano e nexo de causalidade – encontram-se previstos
pelo Código Civil (art. 186 e 927) e cujos fundamentos se subdividem entre a
responsabilidade subjetiva calcada na culpa e a responsabilidade objetiva embasada na
teoria do risco administrativo (art. 37, § 6º, da Constituição) e da atividade (art. 927,
parágrafo único, e art. 931, ambos do Código Civil).

No que tange, especificamente, ao sigilo das comunicações telefônicas, a


Constituição ressalva tal direito fundamental apenas nas hipóteses estabelecidas pela lei,
para fins de investigação criminal ou instrução processual penal, por força de decisão
judicial (art. 5º, inc. XII). Verifica-se, portanto, em relação a tal garantia, a denominada
“reserva legal qualificada” – assim compreendidas as hipóteses em que"a Constituição
remete para a lei apenas a delimitação de um aspecto específico do âmbito de um
determinado direito fundamental, cabendo então à lei executar essa delimitação" (J. J.
Gomes Canotilho/Vital Moreira apud Virgílio Afonso da Silva, in Cláudio Pereira de Souza
Neto/Daniel Sarmento/Gustavo Binenbojm (orgs.), “Vinte anos da Constituição Federal de
1988”. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009: p. 607). Veja-se que a medida limitadora, em
lei, deve preservar a extensão e alcance do conteúdo essencial do preceito
constitucional.

A matéria veio a ser regulamentada, em sede infraconstitucional, pela Lei


9.296/96, a qual dispõe sobre as normas e os limites para interceptação do fluxo de
comunicações em sistemas de informática e telemática para prova em investigação
criminal e em instrução processual penal. A referida lei, em plena conformidade com o
princípio da proporcionalidade, estabelece que a interceptação de comunicações
telefônicas somente será admitida, através de decisão devidamente fundamentada (art.
5º), nas hipóteses em que houver indícios razoáveis de autoria ou participação em
infração penal punida com pena de reclusão e a prova não puder ser feita por outros
meios disponíveis (art. 2º). O aludido diploma normativo dispõe, ainda, que deve ser
preservado, em qualquer hipótese, o sigilo das diligências, gravações e transcrições
respectivas (art. 8º), bem como que a gravação, que não se mostrar estritamente
pertinente à prova, deverá ser inutilizada por decisão judicial (art. 9º).

Em evidência, eventual provimento judicial que autorize a violação do sigilo


das comunicações em desconformidade com os limites constitucionais ou com o
regramento legal que disciplina a matéria consubstanciará medida lesiva a direito
fundamental de estatura constitucional, cuja tutela é passível de ocorrer por meio da
restauração do bem jurídico ao seu status quo ante ou, caso isso não seja possível,
através da fixação de compensação pecuniária. Ademais, em vista da relevância do
direito fundamental atingido em tal hipótese, a inviolabilidade das comunicações
telefônicas configura, com o advento da Lei 13.869/2019 (Lei de Abuso de Autoridade),
bem jurídico objeto de tutela penal, nos termos do art. 10 da aludida Lei nº 9.296/96, que
dispõe ser crime a realização de interceptação de comunicações telefônicas com
objetivos não autorizados em lei.

Nessa senda, ainda que administrativamente, impende sublinhar a


Resolução nº 217/16 do CNJ, relativa à interceptação telefônica, regulamentando o
monitoramento e determinando as normas cogentes a serem seguidas pelos agentes

úbli i t t ã t l fô i fi d i il ibi ã d
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públicos para a interceptação telefônica e reafirmando o sigilo e a proibição de
divulgação do seu teor por magistrados e servidores.

No caso em tela, o Autor deduz pretensão em face da União Federal,


pleiteando a obtenção de provimento jurisdicional de natureza condenatória e
mandamental, para que seja imposta compensação pecuniária pela lesão a direito
decorrente da indevida violação, por força de decisão judicial exarada no âmbito de
persecução penal, do sigilo de suas comunicações telefônicas, na condição de
advogado, bem como para que seja determinada obrigação de fazer à Ré, consistente na
retirada da rede mundial de computadores do conteúdo das interceptações telefônicas,
para que cessem os efeitos do ato ilícito.

O recurso comporta parcial provimento.

O Autor, Roberto Teixeira, ajuizou a presente demanda de reparação por


danos morais cumulada com obrigação de fazer, na qual sustenta ter ocorrido
interceptação telefônica ilegal nos autos do Pedido de Quebra de Sigilo nº 5006205-
98.2016.4.04.7000/PR. Argumenta ter sido monitorado na qualidade de advogado no
exercício de sua profissão, bem como afirma que o indevido levantamento do sigilo das
conversas interceptadas acarretou-lhe graves repercussões em sua vida profissional e
pessoal, impondo-se reparação.

Segundo a inicial, o então Juiz Federal Sérgio Fernando Moro, lotado, à


época, na 13ª Vara Criminal Federal da Subseção Judiciária de Curitiba/PR, autorizou, no
âmbito da denominada “Operação Lava Jato”, a interceptação das comunicações
telefônicas realizadas a partir do número do celular do Autor e de outros interlocutores,
com a finalidade de monitorar atos e estratégias de defesa do seu cliente, o ex-
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Aduz o Requerente que, após conclusão das
diligências, o referido magistrado, agente da ré, determinou o indevido levantamento do
sigilo das conversas telefônicas interceptadas, tornando públicos diálogos realizados com
o ex-Presidente e com terceiros, em manifesta afronta ao art. 8º da Lei 9.296/96.

Segundo consta dos autos, a interceptação telefônica do celular do Autor foi


determinada em 26/02/2016, pelo prazo de 15 dias, e prorrogada posteriormente, pelo
mesmo período, sob a justificativa de que Roberto Teixeira, “pessoa notoriamente
próxima a Luiz Inácio Lula da Silva, representou Jonas Suassuna e Fernando Bittar na
aquisição do sítio de Atibaia, inclusive minutando as escrituras no escritório de
advocacia” (ID 107782692 – p. 6), o que, segundo o Autor, comprova que a referida
interceptação deu-se na qualidade de advogado de pessoa investigada, posto a
inexistência de qualquer indício da prática de crime.

O Apelante refere que, entre os dias 26/02/2016 e 16/03/2016, foram


monitoradas conversas com o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu cliente, e com
terceiros, dentre estes, outros clientes do seu escritório de advocacia, com a clara
pretensão de “espionagem e perseguição”.

Destaca que a insuficiência na motivação da decisão que deferiu a


interceptação telefônica em questão já foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal, no
âmbito da Medida Cautelar na Reclamação nº 23.457/PR.

Ad i d tã j i f d l idi di t d b
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Aduz, ainda, que o então juiz federal que presidia o procedimento de quebra
de sigilo telefônico determinou, de forma inadvertida e não criteriosa, o levantamento do
sigilo das conversas interceptadas, em clara afronta aos dispositivos legais que regem a
matéria.

Vejamos.

Em relação à quebra de sigilo telefônico do celular do Autor, verifica-se


haver sido a medida fundamentada em suspeita de eventual participação do Recorrente
no delito de lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei 9.613/1998) – posteriormente não
confirmada –, sob o argumento de que Roberto Teixeira haveria assessorado a aquisição
de dois imóveis contíguos, situados no Município de Atibaia/SP, por interpostas pessoas,
dos quais o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria, supostamente, o real
proprietário.

Extrai-se da motivação da decisão do então juiz federal Sérgio Fernando


Moro que a suspeita foi embasada no fato das propriedades terem sido adquiridas por
dois sócios do filho do ex-Presidente, na mesma data, com cheques emitidos por apenas
um deles, cujas minutas das escrituras foram elaboradas pelo advogado do ex-
Presidente, ora Autor, assim como pelo fato de que o imóvel teria sofrido reformas
realizadas por sociedades empresárias relacionadas à prática de crimes de corrupção
envolvendo a sociedade de economia mista Petrobrás. Confira-se (ID 107782692 – p.
5/6):

“(...) Outro dos imóveis consiste em sítio em Atibaia/SP.

Referido imóvel seria composto por dois sítios contíguos, Santa Bárbara e
Santa Denise.

O sítio matrícula 19.720 do registro de Imóveis de Atibaia foi adquirido, em


29.10.2010, por Jonas Leite Suassuna Filho.

O sítio de matrícula 55.422 do Registro de Imóveis de Atibaia foi adquirido,


em 29.10.2010, ou seja, na mesma data, por Fernando Bittar.

Jonas Suassuna coadministra com Fábio Luis Lula da Silva, filho do Ex-
Presidente, a empresa BR4 Participações LTDA. Fernando Bittar, por sua
vez, é sócio com Fábio na já referida G4 Entretenimento e Tecnologia Digital
Ltda.

O advogado Roberto Teixeira, pessoa notoriamente próxima a Luis Inácio


Lula da Silva, representou Jonas e Fernando na aquisição, inclusive
minutando as escrituras e recolhendo as assinaturas no escritório de
advocacia dele.

Mensagem eletrônica apresentada pelo MPF na fl. 46 da representação,


sugere a utilização de Jonas e Fernando como pessoas interpostas. A
mensagem enviada, em 28.10.2010, por Roberto Teixeira a Aguinaldo
Ranieri, com cópia para Fernando Bittar e Meire Satarelli, tem o seguinte
conteúdo:

‘C f li it d i t d it d b á F l i
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‘Conforme solicitado, segue minuta das escrituras de ambas as áreas. Falei
ontem com o Adalton e a área maior está sendo posta em nome do sócio do
Fernando Bittar. Qualquer dúvida favor retornar.’

Para aquisição de duas áreas, segundo o MPF, teriam sido utilizados


cheques somente de Jonas Suassuna.

O sítio em Atibaia, após a aquisição, passou a sofrer reformas


significativas.

Foram colhidas provas, segundo o MPF, de que essas reformas foram


providenciadas e custeadas pelos já referidos José Carlos Bumlai, pela
Odebrecht e pela OAS, todos envolvidos em esquema criminoso da
Petrobrás. (...)”

Portanto, a autorização judicial da interceptação do celular do Apelante


haveria se fundamentado na suposta existência de indícios da participação de Roberto
Teixeira na fase de ocultação do delito de lavagem de dinheiro imputado ao ex-
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, posto ter providenciado e viabilizado os registros
desses imóveis em nome de interpostas pessoas, em tese, no intuito de dissimular a
natureza ilícita dos mesmos.

Tais fundamentos expostos na decisão autorizadora da interceptação,


contudo, mostraram-se insubsistentes e a ilegalidade da medida veio a ser reconhecida
pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

De início, é relevante notar que, de fato, no que concerne à determinação


de interceptação telefônica do número do advogado de pessoa investigada no âmbito de
persecução penal, tal medida não constitui, por si, ato ilícito.

Efetivamente, a Lei 8.906/94 assegura a inviolabilidade do sigilo das


conversas mantidas entre o investigado e seu advogado (art. 7º, inc. II). Tal prerrogativa
da defesa, contudo, não é absoluta, comportando relativização nos casos em que se
verificar a existência de indícios da autoria de delitos por parte do advogado, hipótese em
que este profissional pode passar a figurar como investigado e, portanto, passível de
sofrer medidas restritivas à sua esfera de intimidade e privacidade, na forma e nos limites
das hipóteses legais e do comando judicial que autorizar o respectivo meio de obtenção
de prova (nesse sentido: STJ, RHC 51.487/SP, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo
(Desembargador Convocado do TJ/PE), 5ª Turma, j. 23/06/2015).

Por outro lado, em conformidade com a jurisprudência do STF (HC


129.706/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, 2ª Turma, j. 28/6/2016), a deflagração indevida de
interceptação telefônica, em dissonância com os requisitos e os limites da legislação de
regência, que enseje violação a direitos e garantias fundamentais dos investigados e
seus advogados, será inválida e poderá ter por efeito três consequências processuais:
cassação ou invalidação do ato judicial que determinou a medida; invalidação dos atos
processuais subsequentes ao ato atentatório e com ele relacionados (art. 573, § 1º, do
CPP); afastamento do magistrado, caso se demonstre que, ao assim agir, atuava de
forma parcial.

N ifi t f t j d d t ã
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No que concerne, especificamente, aos fatos ensejadores da pretensão
indenizatória deduzida nos presentes autos, veio a ser reconhecida pelo STF, no
julgamento do HC 164.493/PR e da Reclamação nº 23.457/PR, a ilegalidade da medida
de interceptação telefônica deflagrada perante o Juízo da 13ª Vara Criminal Federal da
Subseção Judiciária de Curitiba/PR nos autos do “Pedido de Quebra de Sigilo de Dados
e/ou Telefônicos nº 5006205-98.2016.4.04.7000/PR”, e que atingiu, dentre outros alvos, o
telefone celular do advogado Roberto Teixeira e do escritório de advocacia "Teixeira,
Martins & Advogados".

As razões expostas pelo STF no julgamento das ações acima mencionadas


– em que restou reconhecida a suspeição do juiz Sérgio Moro e determinada a
invalidação dos atos judiciais proferidos no “Pedido de Quebra de Sigilo de Dados e/ou
Telefônicos nº 5006205-98.2016.4.04.7000/PR” – referem-se aos mesmos fatos sobre os
quais recaem a pretensão indenizatória deduzida neste feito, razão pela qual a sua
apreciação se faz pertinente ao deslinde da causa.

No julgamento do HC 164.493/PR (Rel. Min. Edson Fachin, Relator para o


Acórdão Min. Gilmar Mendes), o STF pronunciou-se no sentido de que houve quebra da
imparcialidade por parte do então juiz federal Sérgio Fernando Moro, servidor da ré, no
âmbito da denominada “Operação Lava Jato”. Desta decisão, emergiu o comando de
nulidade de todos os atos decisórios praticados pelo magistrado no âmbito da Ação
Penal nº 5046512- 94.2016.4.04.7000/PR, incluindo os atos praticados na fase pré-
processual.

Nesse julgamento, a Colenda Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal


enumerou, dentre os fatos indicativos da parcialidade do então magistrado, a quebra de
sigilo telefônico e a divulgação das conversas tratadas na presente demanda, em
acórdão assim ementado:

“DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. PARCIALIDADE JUDICIAL E


SISTEMA ACUSATÓRIO. CONHECIMENTO. POSSIBILIDADE DE EXAME
DA SUSPEIÇÃO DE MAGISTRADO EM SEDE DE HABEAS CORPUS.
QUESTÃO DE ORDEM. DECISÃO SUPERVENIENTE DO MIN. EDSON
FACHIN, NOS AUTOS DO HABEAS CORPUS 193.726-DF, QUE
RECONHECEU A INCOMPETÊNCIA DA 13ª VARA FEDERAL DE
CURITIBA. AUSÊNCIA DE PREJUDICIALIDADE. IMPARCIALIDADE DO
JULGADOR COMO PEDRA DE TOQUE DO DIREITO PROCESSUAL
PENAL. ANTECEDENTES DA BIOGRAFIA DE UM JUIZ ACUSADOR.
DESNECESSIDADE DE UTILIZAÇÃO DOS DIÁLOGOS OBTIDOS NA
OPERAÇÃO SPOOFING. ELEMENTOS PROBATÓRIOS
POTENCIALMENTE ILÍCITOS. EXISTÊNCIA DE 7 (SETE) FATOS QUE
DENOTAM A PERDA DA IMPARCIALIDADE DO MAGISTRADO DESDE A
ÉPOCA DA IMPETRAÇÃO. VIOLAÇÃO DO DEVER DE IMPARCIALIDADE
DO MAGISTRADO. ART. 101 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
ORDEM EM HABEAS CORPUS CONCEDIDA PARA ANULAR TODOS OS
ATOS DECISÓRIOS PRATICADOS NO ÂMBITO DA AÇÃO PENAL
5046512-94.2016.4.04.7000/PR (TRIPLEX DO GUARUJÁ), INCLUINDO OS
ATOS PRATICADOS NA FASE PRÉ-PROCESSUAL. 1. Conhecimento da
matéria em Habeas Corpus. É possível o exame da alegação de
parcialidade do magistrado em sede de Habeas Corpus se, a partir dos

l t já d id j t d t d édi l t l t
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elementos já produzidos e juntados aos autos do remédio colateral, restar
evidente a incongruência ou a inconsistência da motivação judicial das
decisões das instâncias inferiores. Precedentes: RHC-AgR 127.256, Rel.
Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe 10.3.2016; RHC 119.892, Rel.
Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe 1º.10.2015; HC 77.622, Rel. Min.
Nelson Jobim, Segunda Turma, DJ 29.10.1999. 2. Questão de ordem de
prejudicialidade da impetração. A Segunda Turma, por maioria, rejeitou a
questão de ordem suscitada pelo Ministro Edson Fachin, decidindo que a
decisão proferida pelo Relator, nos autos dos Embargos de Declaração no
Habeas Corpus 193.726, em 8.3.2021, não acarretou a prejudicialidade do
Habeas Corpus 164.493, vencido, nesse ponto, tão somente o Ministro
Edson Fachin. A decisão monocrática proferida pelo Ministro Edson Fachin
nos autos do Habeas Corpus 193.726 ED não gerou prejuízo do Habeas
Corpus 164.493-DF, porquanto (i) cuida-se de decisão individual do Relator;
(ii) não há identidade entre os objetos do Habeas Corpus 193.726 e do
Habeas Corpus 164.493, já que neste se discute a suspeição do magistrado
e naquele se aponta a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba/PR, o
que não se limita ao debate sobre a validade dos atos decisórios praticados
pelo ex-JuizSergio Moro; e (iii) a questão da suspeição precede a discussão
sobre incompetência, nos termos do art. 96 do Código de Processo Penal.
3. Imparcialidade como pedra de toque do processo penal. A imparcialidade
judicial é consagrada como uma das bases da garantia do devido processo
legal. Imparcial é aquele que não é parte, que não adere aos interesses de
qualquer dos envolvidos no processo. Há íntima relação entre a
imparcialidade e o contraditório. A imparcialidade é essencial para que a
tese defensiva seja considerada, pois em uma situação de aderência
anterior do julgador à acusação, não há qualquer possibilidade de defesa
efetiva; é prevista em diversas fontes do direito internacional como garantia
elementar da proteção aos direitos humanos (Princípios de Conduta Judicial
de Bangalore, Convenção Americana de Direitos Humanos, Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos e Convenção Europeia de Direitos
Humanos), além de ser tal garantia vastamente consagrada na
jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Caso Duque
Vs. Colombia, 2016) e do Tribunal Europeu de Direitos Humanos (Castillo
Algar v. Espanha, 1998, e Morel v. França, 2000). 4. Antecedentes da
biografia de um Juiz acusador. O STF já avaliou, em diversas ocasiões,
alegações de que o ex-magistrado Sergio Fernando Moro eria ultrapassado
os limites do sistema acusatório. No julgamento do Habeas Corpus
95.518/PR, no qual se questionava a atuação do Juiz na chamada
Operação Banestado, a Segunda Turma determinou o encaminhamento das
denúncias à Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), diante da
constatação de que o juiz havia reiteradamente proferido decisões
contrárias a ordens de instâncias superiores, bem como adotado estratégias
de monitoramento de advogados dos réus. Na ocasião, reconheceu o Min.
Celso de Mello que “o interesse pessoal que o magistrado revela em
determinado procedimento persecutório, adotando medidas que fogem à
ortodoxia dos meios que o ordenamento positivo coloca à disposição do
poder público, transforma a atividade do magistrado numa atividade de
verdadeira investigação penal. É o magistrado investigador”. (HC 95.518,
Redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em
28 5 2013 DJ 19 3 2014) A S d T já d idi J i
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28.5.2013, DJe 19.3.2014). A Segunda Turma já decidiu que o ex-Juiz
Sergio Moro abusou do poder judicante ao realizar, de ofício, a juntada e o
levantamento do sigilo dos termos de delação do ex-ministro Antônio
Palocci às vésperas do primeiro turno das eleições de 2018 (HC 163.943
AgR, Redator do acórdão Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma,
julgado em 4.8.2020, DJe 10.9.2020). O STF reconheceu explicitamente a
quebra da imparcialidade do magistrado, destacando que, ao condenar o
doleiro Paulo Roberto Krug, ainda no âmbito da chamada Operação
Banestado, o ex-Juiz Sergio Moro“se investiu na função persecutória ainda
na fase pré-processual, violando o sistema acusatório” (RHC 144.615 AgR,
Redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em
25.8.2020, DJe 27.10.2020). 5. Desnecessidade de utilização dos diálogos
obtidos na Operação Spoofing. Os diálogos apreendidos na Operação
Spoofing, que, nos últimos doze meses, foram objeto de intensa veiculação
pelos portais jornalísticos, destacam conversas entre acusadores e o
julgador – Procuradores da República e o ex-Juiz Sergio Moro. As
conversas obtidas sugerem que o julgador definia os limites da acusação e
atuava em conjunto com o órgão de acusação. O debate sobre o uso
dessas mensagens toca diretamente na temática das provas ilícitas no
processo penal. O Supremo Tribunal Federal já assentou que o interesse de
proteção às liberdades do réu pode justificar relativização à ilicitude da
prova. Todavia, a conclusão sobre a parcialidade do julgador é aferível tão
somente a partir dos fatos narrados na impetração original, sendo
desnecessária a valoração dos elementos de prova de origem
potencialmente ilícita pela defesa, que nem sequer constam dos autos deste
Habeas Corpus. 6. Existência de 7 (sete) fatos que denotam a parcialidade
do magistrado. As alegações suscitadas neste HC são restritas a fatos
necessariamente delimitados e anteriores à sua impetração. 6.1. O primeiro
fato indicador da parcialidade do magistrado consiste em decisão, de
4.3.2016, que ordenou a realização de uma espetaculosa condução
coercitiva do então investigado, sem que fosse oportunizada previamente
sua intimação pessoal para comparecimento em juízo, como exige o art.
260 do CPP. Foi com o intuito de impedir incidentes desse gênero que o
Plenário do STF reconheceu a inconstitucionalidade do uso da condução
coercitiva como medida de instrução criminal forçada, ante o
comprometimento dos preceitos constitucionais do direito ao silêncio e da
garantia de não autoincriminação. (ADPF 444, Rel. Min. Gilmar Mendes,
Tribunal Pleno, julgado em 14.6.2018, DJe 22.5.2019). No caso concreto, a
decisão que ordenou a condução coercitiva não respeitou as balizas legais
e propiciou uma exposição atentatória à dignidade e à presunção de
inocência do investigado. 6.2. O segundo fato elucidativo da atuação
enviesada do juiz consistiu em flagrante violação do direito
constitucional à ampla defesa do paciente. O ex-juiz realizou a quebra de
sigilos telefônicos do paciente, de seus familiares e até mesmo de seus
advogados, com o intuito de monitorar e antecipar as estratégias
defensivas. Tanto a interceptação do ramal-tronco do escritório de
advocacia Teixeira, Martins & Advogados quanto a interceptação do telefone
celular do advogado Roberto Teixeira perduraram por quase 30 (trinta dias),
de 19.2.2016 a 16.3.2016. Durante esse período, foram ouvidas e
gravadas todas as conversas havidas entre os 25 (vinte e cinco)
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advogados integrantes da sociedade, bem como entre o advogado
Roberto Teixeira e o paciente. 6.3. O terceiro fato indicativo da
parcialidade do juiz traduz-se na divulgação de conversas obtidas em
interceptações telefônicas do paciente com familiares e terceiros. Os
vazamentos se deram em 16.3.2016, momento de enorme tensão na
sociedade brasileira, quando o paciente havia sido nomeado Ministro
da Casa Civil da Presidência da República. Houve intensa discussão
sobre tal ato e ampla efervescência social em crítica ao cenário
político brasileiro. Em decisão de 31.3.2016, o Min. Teori Zavascki, nos
autos da Reclamação 23.457, reconheceu que a decisão do ex-Juiz que
ordenou os vazamentos violou a competência do STF, ante ao envolvimento
de autoridades detentoras de foro por prerrogativa de função, e ainda se
revelou ilícita por envolver a divulgação de trechos diálogos captados após
a determinação judicial de interrupção das interceptações telefônicas. O
vazamento das interceptações, além de reconhecidamente ilegal, foi
manipuladamente seletivo. 6.4. O quarto fato indicativo da quebra de
imparcialidade do magistrado aconteceu em 2018, quando o magistrado
atuou para que não fosse dado cumprimento à ordem do Juiz do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região Rogério Favreto, que concedera ordem de
habeas corpus para determinar a liberdade do ex-Presidente Lula (HC
5025614- 40.2018.4.04.0000 – Doc. 30), de modo a possibilitar-lhe a
participação no “processo democrático das eleições nacionais, seja nos atos
internos partidários, seja na ações de pré-campanha”. Mesmo sem
jurisdição sobre o caso e em período de férias, o ex-Juiz Sergio Moro atuou
intensamente para evitar o cumprimento da ordem, a ponto de telefonar ao
então Diretor-Geral da Polícia Federal Maurício Valeixo e sustentar o
descumprimento da liminar, agindo como se membro do Ministério Público
fosse, com o objetivo de manter a prisão de réu em caso em que já havia se
manifestado como julgador. 6.5. O quinto fato indicativo da quebra de
imparcialidade do magistrado coincide com a prolação da sentença na ação
penal do chamado Caso Triplex. Ao proferir a sentença condenatória, o ex-
Juiz Sergio Moro fez constar claramente diversas expressões de sua
percepção no sentido de uma pretensa atuação abusiva da defesa do
paciente. O próprio julgador afirmou que, em sua percepção, a defesa teria
atuado de modo agressivo, com comportamentos processuais inadequados,
visando a ofender-lhe. Diante disso, alega que “em relação a essas medidas
processuais questionáveis e ao comportamento processual inadequado,
vale a regra prevista no art. 256 do CPP (‘a suspeição não poderá ser
declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito
der motivo para criá-la’)” (eDOC 7, p. 35). 6.6. O sexto fato indicador da
violação do dever de independência da autoridade judiciária consiste na
decisão tomada pelo magistrado, em 1º.10.2018, de ordenar o levantamento
do sigilo e o translado de parte dos depoimentos prestados por Antônio
Palocci Filho em acordo de colaboração premiada para os autos da Ação
Penal 5063130- 17.2016.4.04.7000 (instituto Lula). Quando referido acordo
foi juntado aos autos da referida ação penal, a fase de instrução processual
já havia sido encerrada, o que sugere que os termos do referido acordo nem
sequer estariam aptos a fundamentar a prolação da sentença. Além disso,
os termos do acordo foram juntados cerca de 3 (três) meses após a decisão
judicial que o homologou, para coincidir com a véspera das eleições. Por
fi t t j t d d d t t l t t d
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fim, tanto a juntada do acordo aos autos quanto o levantamento do seu
sigilo ocorreram por iniciativa do próprio juiz, isto é, sem qualquer
provocação do órgão acusatório. A Segunda Turma do STF, no julgamento
do Agravo Regimental no HC 163.493, reconheceu a ilegalidade tanto do
levantamento do sigilo quanto do translado para os autos de ação penal de
trechos de depoimento prestado por delator, em acordo de colaboração
premiada (HC 163.943 AgR, Redator do acórdão Min. Ricardo
Lewandowski, Segunda Turma, DJe 10.9.2020). 6.7. O último fato indicativo
da perda de imparcialidade do magistrado consiste no fato de haver
aceitado o cargo de Ministro da Justiça após a eleição do atual Presidente
da República, Jair Bolsonaro, que há muito despontava como principal
adversário político do paciente.Sergio Moro decidiu fazer parte do Governo
que se elegeu em oposição ao partido cujo maior representante é Luiz
Inácio Lula da Silva. O ex-juiz foi diretamente beneficiado pela condenação
e prisão do paciente. A extrema perplexidade com a aceitação de cargo
político no Governo que o ex-magistrado ajudou a eleger não passou
despercebida pela comunidade acadêmica nacional e internacional. 7.
Ordem de habeas corpus concedida. O reconhecimento da suspeição do
magistrado implica a anulação de todos os atos decisórios praticados pelo
magistrado, no âmbito da Ação Penal 5046512- 94.2016.4.04.7000/PR
(Triplex do Guarujá), incluindo os atos praticados na fase pré-processual,
nos termos do art. 101 do Código de Processo Penal”. – g.n.

De fato, a imparcialidade do magistrado é um dos sustentáculos do devido


processo legal, que, além do respaldo constitucional, encontra também guarida em
tratados internacionais, a exemplo da Convenção Americana de Direitos Humanos –
Pacto de São José da Costa Rica, da qual o Brasil é signatário, e em cujo art. 8º há
menção expressa à imparcialidade, ao pontuar que todo indivíduo tem o direito de ser
ouvido por um "juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido
anteriormente pela lei".

Neste ponto, mostra-se pertinente a transcrição do seguinte excerto do voto


proferido pelo Min. Gilmar Mendes (Relator do acórdão), no julgamento do HC
164.493/PR (Rel. Min. Edson Fachin), em vista da relevância de seus fundamentos para
o deslinde da demanda em tela:

“O segundo fato elucidativo da atuação enviesada do juiz constitui flagrante


violação do direito constitucional à ampla defesa do paciente. O ex-juiz
realizou a quebra de sigilos telefônicos do paciente, de seus familiares e até
mesmo de seus advogados, tudo com o intuito de monitorar e antecipar as
suas estratégias defensivas.

Em 19.02.2016, a autoridade judicial, atendendo a pedido do Ministério


Público Federal, determinou a interceptação telefônica de diversas pessoas
relacionadas ao paciente, inclusive de conversas entre o réu e seus
advogados. (eDOC 25).

A interceptação também atingiu o ramal-tronco do escritório de advocacia


“Teixeira, Martins & Advogados”, de modo que todos os 25 (vinte e cinco)
advogados do escritório e seus respectivos clientes foram grampeados.

E i t t õ f d i t fi tó i
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Essas interceptações foram prorrogadas por sucessivos atos confirmatórios
e ampliativos nas datas de 20.02.2016; 26.02.2016; 29.02.2016;
03.03.2016; 04.03.2016 e 07.03.2016.

A interceptação do ramal do escritório de advocacia teria partido de uma


informação supostamente equivocada contida na petição de quebra de
sigilo telefônico apresentada ao juízo pelo Ministério Público Federal.

Na referida petição, o MPF indicou o terminal telefônico (11) 3060-3310


como sendo vinculado à pessoa jurídica L.I.L.S Palestras, Eventos e
Publicações Ltda. Assim, o acolhimento do pedido de quebra do sigilo
telefônico pelo juízo em 19.02.2016 estaria baseado na necessidade de se
colher provas para apuração dos fatos investigados no âmbito da Operação
Lava-Jato.

Em 23.02.2016, somente quatro dias após o deferimento da interceptação


telefônica do ramal-tronco do escritório de advocacia, a operadora de
telefonia Vivo Telefônica encaminhou ao juízo ofício contendo a relação
individualizada dos estabelecimentos a que correspondiam os números
telefônicos cuja interceptação havia sido determinada. No referido ofício,
consta que o terminal telefônico (11) 3060-3310 atribuído pelo MPF ao
instituto L.I.L.S., na realidade, seria de titularidade da sociedade “Teixeira,
Martins & Advogados”.

Destaca-se, portanto, que, no dia 23.02.2016, o juízo tomou conhecimento –


ou pelo menos poderia ter se cientificado – de que o terminal telefônico
interceptado correspondia, na realidade, à sede do escritório de advocacia
que patrocinava o paciente, então investigado na Operação Lava-Jato. A
autoridade judicial, no entanto, não tomou nenhuma providência quanto à
comunicação da operadora de telefonia.

Em 26.02.2016, em nova decisão, o juízo determinou ainda que fosse


grampeado o terminal telefônico 11 98144-777, pertencente ao telefone
celular do advogado Roberto Teixeira.

Na decisão judicial do dia 26.02.2016, a interceptação teria sido motivada


pelo fato de o advogado ser “pessoa notoriamente próxima a Luís Inácio
Lula da Silva” e também pelo fato de o advogado “ter representado Jonas
Suassuna e Fernando Bittar na aquisição do sítio de Atibaia, inclusive
minutando as escrituras e recolhendo as assinaturas no escritório de
advocacia dele”.

Na data de 07.03.2016, a autoridade judicial recebeu novo ofício da


operadora de telefonia, novamente indicando que a interceptação telefônica
determinada em 19.02.2016 estaria recaindo sobre terminal telefônico da
sede da sociedade “Teixeira, Martins & Advogados”.

Em 16.03.2016, em uma nova decisão do juízo de primeiro grau,


determinou-se a cessação das interceptações telefônicas da sociedade de
advogados e do celular do advogado Roberto Teixeira. Ressalta-se que foi

t d i ã d 16 03 2016 j í t f d t d
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somente nessa decisão de 16.03.2016 que o juízo parece ter fundamentado
a intercepção do celular do patrono do paciente.

(...)

Tanto a interceptação do ramal-tronco do escritório de advocacia “Teixeira,


Martins & Advogados” quanto a interceptação do telefone celular de Roberto
Teixeira, portanto, perduraram por quase 30 (trinta dias), de 19.02.2016 a
data de 16.03.2016. Durante esse período, foram ouvidas e gravadas todas
as conversas havidas entre os 25 (vinte e cinco) advogados integrantes da
sociedade, bem como entre o advogado Roberto Teixeira e o paciente.

A alegação da defesa é de que essas interceptações permitiram que o


magistrado pudesse monitorar os atos e a estratégia de defesa do ex-
presidente, configurando um grave atentado às garantias constitucionais da
inviolabilidade das comunicações telefônicas e da ampla defesa.

(...)

Dessas informações, portanto, é possível concluir que o magistrado,


embora tenha sido comunicado pelas operadoras de telefonia em
23.02.2016 e em 07.03.2016 de que o terminal telefônico interceptado
pertencia ao escritório de advocacia “Teixeira, Martins & Advogados”, não
analisou esses ofícios.

(...)

Observa-se, assim, que a interceptação telefônica do celular do Advogado


Roberto Teixeira e do ramal-tronco do escritório de advocacia, é admitida
com estranha naturalidade por parte do julgador com base no suposto
argumento de que o número da sede do referido escritório teria sido
equivocadamente vinculada à LILS Palestra pelo MPF.

A conduta do magistrado de interceptar os advogados do paciente para ter


acesso antecipado aos seus movimentos processuais – por si só – seria
causa suficiente para reconhecer a violação da independência judicial e a
contaminação de todo os atos praticados pelo juiz.

Se ainda fôssemos avançar para compreender os significados, no mundo


real, da violação do sigilo cliente-advogado, tenderíamos a ver que a
intercepção dos patronos permitiu de fato que o magistrado e a Força-
Tarefa de Curitiba se antecipassem às ações do paciente, deixando o sem
saída defensiva em diversas oportunidades.

(...)

Não há, portanto, nenhuma dúvida de que os passos do paciente e suas


discussões de estratégias processuais eram friamente monitorados pelo
magistrado, o que subverte totalmente a sua posição de isenção quanto às
teses defensivas.

A i há l l ã d bit á i b d i il
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Assim, há clareza na conclusão de que a arbitrária quebra do sigilo
telefônico dos advogados do paciente macula a imparcialidade do excepto
para julgamento da ação penal em que o ex-Presidente Lula figurava como
réu”

Como se pode extrair das razões que fundamentaram o juízo de


convencimento firmado na decisão exarada pelo STF na ação em que se apreciou a
suspeição do juiz Sérgio Moro no âmbito da ação penal nº 5046512-
94.2016.4.04.7000/PR, a interceptação do ramal-tronco do escritório de advocacia
“Teixeira, Martins & Advogados” foi realizada, supostamente, por um equívoco no
conteúdo das informações veiculadas da petição de quebra de sigilo telefônico
apresentada pelo Ministério Público Federal ao Juízo da 13ª Vara Federal da Subseção
Judiciária de Curitiba/PR.

Segundo relatado, o terminal telefônico do escritório de advocacia haveria


sido erroneamente associado à pessoa jurídica “L.I.L.S Palestras, Eventos e Publicações
Ltda.” – alvo das investigações – e, por conseguinte, foi incluído nas diligências de
interceptação e suas sucessivas prorrogações realizadas no período compreendido entre
20/02/2016 e 07/03/2016. Não houve, portanto, qualquer fundamento legal a amparar a
referida medida contra o escritório “Teixeira, Martins & Advogados”. Observa-se, ainda,
que, nem mesmo após o encaminhamento de ofício ao juízo pela operadora de telefonia,
em que constava a relação individualizada dos estabelecimentos a que correspondiam os
números telefônicos (ID 107782687 – p. 10/13), o suposto equívoco foi sanado, havendo
a interceptação do escritório de advocacia sido indevidamente renovada sucessivas
vezes.

Em seguida, foi determinada, em decisão exarada em 26/02/2016, a


interceptação do terminal telefônico pertencente ao telefone celular do próprio advogado
Roberto Teixeira, sob o fundamento da existência de indícios de seu envolvimento da
prática de delitos, os quais, contudo, não vieram a se confirmar.

Incontroverso, portanto, que a interceptação telefônica do ramal-tronco do


escritório de advocacia “Teixeira, Martins & Advogados” mostrou-se desprovida de
amparo legal, havendo sido realizada e renovada sem a devida apreciação e
fundamentação judicial. Ademais, a violação do sigilo de todas as conversas realizadas
pelos advogados integrantes do escritório interceptado, ao longo de todo o período de
quase trinta dias em que perdurou a medida, consubstancia notória violação às
prerrogativas constitucionais e legais da defesa.

Por outro lado, a legalidade da interceptação dos telefones do advogado


Roberto Teixeira também foi objeto de apreciação pelo STF nos autos da Reclamação nº
23.457/PR, ajuizada pela então Presidente da República Dilma Rousseff, em face de
decisão proferida nos autos do Pedido de Quebra de Sigilo de Dados e/ou Telefônicos nº
5006205-98.2016.4.04.7000/PR, em trâmite perante o Juízo da 13ª Vara Federal da
Subseção Judiciária de Curitiba/PR.

Em decisão monocrática proferida em 13/06/2016, o Rel. Min. Teori


Zavascki julgou parcialmente procedente a Reclamação para reconhecer a violação de
competência do Supremo Tribunal Federal (art. 102, inc. I, b, da Constituição da
República) e cassar as decisões proferidas em 16/03/2016 e 17/03/2016 nos autos do

“P did d Q b d Si il d D d / T l fô i º 5006205
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“Pedido de Quebra de Sigilo de Dados e/ou Telefônicos nº 5006205-
98.2016.4.04.7000/PR”, as quais determinaram o levantamento do conteúdo de
conversas interceptadas; bem como para reconhecer a nulidade do conteúdo de
conversas colhidas após a determinação judicial de interrupção das interceptações
telefônicas. É relevante notar que a referida decisão monocrática não apenas consignou
a incompetência do Juízo da 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba/PR
para deliberar sobre medida de interceptação telefônica em que constava o envolvimento
de interlocutores com prerrogativa de foro, como também asseverou a ilegalidade da
violação à norma de sigilo das diligências, rechaçando a invocação do interesse
público como fundamento válido para divulgação do teor das conversações
telefônicas interceptadas. Confira-se:

“(...) 9. Procede, ainda, o pedido da reclamante para, cautelarmente, sustar


os efeitos da decisão que suspendeu o sigilo das conversações telefônicas
interceptadas. São relevantes os fundamentos que afirmam a ilegitimidade
dessa decisão. Em primeiro lugar, porque emitida por juízo que, no
momento da sua prolação, era reconhecidamente incompetente para a
causa, ante a constatação, já confirmada, do envolvimento de autoridades
com prerrogativa de foro, inclusive a própria Presidente da República. Em
segundo lugar, porque a divulgação pública das conversações telefônicas
interceptadas, nas circunstâncias em que ocorreu, comprometeu o direito
fundamental à garantia de sigilo, que tem assento constitucional. O art. 5º,
XII, da Constituição somente permite a interceptação de conversações
telefônicas em situações excepcionais, “por ordem judicial, nas hipóteses e
na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou
instrução processual penal”. Há, portanto, quanto a essa garantia, o que a
jurisprudência do STF denomina reserva legal qualificada. A lei de regência
(Lei 9.269/1996), além de vedar expressamente a divulgação de qualquer
conversação interceptada (art. 8º), determina a inutilização das gravações
que não interessem à investigação criminal (art. 9º). Não há como conceber,
portanto, a divulgação pública das conversações do modo como se operou,
especialmente daquelas que sequer têm relação com o objeto da
investigação criminal. Contra essa ordenação expressa, que – repita-se,
tem fundamento de validade constitucional – é descabida a invocação do
interesse público da divulgação ou a condição de pessoas públicas dos
interlocutores atingidos, como se essas autoridades, ou seus interlocutores,
estivessem plenamente desprotegidas em sua intimidade e privacidade”.

Interposto agravo regimental contra a referida decisão monocrática, o


recurso veio a ser parcialmente conhecido e não provido, nos termos da decisão
proferida, por unanimidade, pelo Plenário do STF, em 23/03/2017 (DJE 17/04/2017). O
acórdão transitou em julgado em 13/05/2017 (DJE 27/09/2017).

Nesse contexto, exsurge, portanto, a ilegalidade da medida de


interceptação telefônica e divulgação do conteúdo das conversações interceptadas no
âmbito do “Pedido de Quebra de Sigilo de Dados e/ou Telefônicos nº 5006205-
98.2016.4.04.7000/PR”, envolvendo o advogado Roberto Teixeira e seus clientes.

A t ã d t d l j í d i i t
https://pje2g.trf3.jus.br/pje/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsultaPublica/documentoSemLoginHTML.seam?ca=71d607f65a6a12f3ca492086cc7d73e60a… 17/26
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A argumentação adotada pelo juízo de primeiro grau, em sentença, no
sentido de que o interesse público tem primazia sobre interesses privados, a justificar a
divulgação de teor da interceptação, não procede.

De início, remarque-se que o Colendo Superior Tribunal de Justiça vem


entendendo de maneira firme que “o art. 8º da Lei 9.296/96 determina que o sigilo das
gravações telefônicas deverá ser sempre preservado” (STJ, RMC 15.917, Rel. Min.
Arnaldo Esteves Lima, j. 14.6.2007), com nítida opção, em caso de confronto, pela
intimidade e privacidade do cidadão (art. 5º, inc. X, da CF).

O sigilo do monitoramento telefônico, ao revés do que afirma a sentença em


relação ao Autor, deveria sim ser mantido e não divulgado o seu teor, inclusive nos meios
midiáticos, preservando-se a intimidade do interceptado (art. 5º, LX, da CF), mormente
nos diálogos gravados sobre assuntos privados e pessoais do Requerente, não se
divisando espaço, portanto, para discussões acerca de que interesses públicos serviriam
para autorizar a divulgação de diálogos telefônicos interceptados.

O jurista Pedro Serrano, sobre o tema relativo a interceptações, embora


alusivo a outras pessoas, arreda a publicidade do ato judicial (art. 93, IX, da CF) e
assenta a prevalência da intimidade e privacidade:

“(...) São públicos os atos processuais em geral, obviamente. Mas não os


atos que impliquem ingresso na intimidade das pessoas”, avalia. “O que se
qualifica como intimidade? Uma conversa entre duas pessoas. A conversa
entre Dilma e Lula era íntima. Não se pode alegar que não era. Então não
se enquadra nessa hipótese do artigo constitucional citado. O direito à
intimidade precede o dever de publicidade. O direito à intimidade é uma
exceção à regra geral da publicidade”, diz o advogado. (...)” cf.
www.redebrasilatual.com.br/politica/2016/03/
(http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2016/03/)

Demonstrada, portanto, a indevida violação ao sigilo das comunicações do


advogado Roberto Teixeira, no exercício da atividade profissional, por medida de
interceptação telefônica realizada em desconformidade com os limites constitucionais e
as normas estabelecidas pela legislação de regência, assim como a ilegalidade da
divulgação das conversações telefônicas interceptadas (art. 8º da Lei 9.296/96), resta
caracterizada a lesão a direitos extrapatrimoniais do Requerente, impondo-se reparação.

No que tange à repercussão do indevido levantamento do sigilo das


interceptações na esfera dos direitos de personalidade do Autor, verifica-se que, segundo
exposto pelo Apelante, a divulgação pela imprensa do número de seu celular e dos
diálogos interceptados, repercutiu negativamente na sua vida privada e profissional.
Segundo relata, a divulgação do conteúdo das interceptações motivou diversos atos de
ameaças e insultos contra o Requerente, bem como deu ensejo a recusas e
cancelamentos de contratos de seu escritório de advocacia, com queda substancial do
volume de clientes.

Quanto ao ponto, a prova testemunhal produzida – em especial, o


testemunho do gerente administrativo do escritório de advocacia do Autor – revelou que o
mesmo passou a receber incontáveis mensagens através do aplicativo Whatsapp,
contendo ameaças e xingamentos, além de fotos com teor ofensivo. A testemunha
f i i d h id d d t li h d l l d l d t
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referiu, ainda, que houve a necessidade de trocar a linha de celular de longa data, com
implicações de ordem profissional, visto que também era usado para contato com
clientes. Segundo consta dos autos, o número da linha de celular do Autor estava
habilitado desde 05/07/2010 (ID 107782695 – p. 475).

Encontram-se devidamente demonstradas, portanto, as repercussões do


ato ilícito sobre a esfera de direitos da personalidade do Recorrente.

Nesta ordem de ideias, considero que o levantamento do sigilo das


conversas interceptadas – uma das condutas maculadas pela seletividade do ex-
magistrado Sérgio Fernando Moro, conforme entendimento do STF – repercutiu na esfera
da personalidade do Autor e transcendeu o mero aborrecimento, violando o patrimônio
imaterial do Requerente, no âmbito das suas relações de direito privado.

Por oportuno, registro que, em relação ao levantamento do sigilo aqui


tratado, embora a Procuradoria Regional da República, nos processos nº
5051013.42.2016.4.04.0000 e 5051467-22.2016.4.04.0000, tenha promovido o
arquivamento das notícias crimes por atipicidade, tal fato não obsta a caracterização do
ilícito civil e o reconhecimento do direito à reparação.

Deste modo, considero devida a compensação pecuniária por danos


morais.

No que se refere ao arbitramento do valor a título de indenização por danos


morais, é firme a orientação jurisprudencial no sentido de que, nesses casos, a
compensação pecuniária deve ser determinada segundo o critério da razoabilidade e do
não enriquecimento despropositado, nos seguintes moldes, in verbis:

“A indenização por dano moral deve ser fixada em termos razoáveis, não se
justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento
indevido, devendo o arbitramento operar-se com moderação,
proporcionalmente ao grau de culpa, ao porte empresarial das partes, às
suas atividades comerciais e, ainda, ao valor do negócio. Há de orientar-se
o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com
razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom senso, atento à
realidade da vida, notadamente à situação econômica atual e às
peculiaridades de cada caso”.

(STJ, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, in RT 776/195)

Considerando as circunstâncias específicas do caso concreto, em especial


o levantamento indevido do sigilo das interceptações telefônicas, que inviabilizou o uso
do número do telefone móvel do Autor, notadamente em sua atividade profissional, bem
como a extensão do dano moral imposto, atento às circunstâncias fáticas e repercussão
social do caso, assim como a posição do agressor e ainda sopesando a a posição da
Turma relativa à matéria, tenho que o valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) revela-
se razoável e suficiente à compensação pretendida, sem importar no indevido
enriquecimento da parte, razões pelas quais fixo a indenização neste patamar.

O l i d i tó i d di lid l U iã f di ã d t
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O valor indenizatório deve ser adimplido pela União, conforme dicção do art.
37, § 6º, da Constituição Federal, diante da ilegalidade da conduta do seu então agente
político, sem prejuízo de, ulteriormente, buscar a ré ressarcimento junto ao seu servidor
público. A conduta do agente da ré, em franca violação aos comandos legais e com sua
parcialidade reconhecida pela Suprema Corte, denota que suas decisões refugiam à
mero atos judiciais tomados no decorrer do processo e visavam outros intentos, ao largo
do processo em testilha, agindo com dolo para prejudicar terceiros, fazendo incidir a
norma do art. 143, inc. I do CPC (antigo art. 133 do CPC/73).

Colaciono lição de Theotonio Negão, acerca do tema:

"(...) Diversamente das anteriores (CF/69, art. 107), a CF de 1988 não


limitou a responsabilidade do Estado pelos danos causados apenas pelos seus
funcionários a terceiros; atualmente, o Estado responde pelos danos de seus agentes,
conceito que abrange todos aqueles que exercem função estatal, em caráter permanente
ou não, e em que se incluem os membros do Poder Judiciário. Nesse sentido (...) : STF -
2a T, RE 228997-2-SP, Min. Neri da Silveira, DJU 14.04.02)" Código de Processo Civil e
legislação processual em vigor - Theotonio Negrão ... et all- 48 ed. -Saraiva, 2017,
comentário ao art. 143).

Sobre o valor indenizatório deve incidir correção monetária pelo índice


IPCA-E, ante a inconstitucionalidade do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com redação dada
pela Lei nº 11.960/2009, neste ponto, e juros de mora de 0,5% ao mês (ADI 4.425 e RE
870.947/SE), ambos a partir da data do acórdão.

Da jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), através de ato editado em


07/01/2022 (Recomendação nº 123), recomendou aos órgãos do Poder Judiciário
brasileiro a observância dos tratados e convenções internacionais de direitos humanos e
o uso da jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, devendo a
motivação da presente decisão, portanto, em vista da natureza da matéria afeta à
demanda, considerar as normas do regime jurídico de proteção internacional dos direitos
humanos.

O Brasil possui a prevalência dos direitos humanos dentre os princípios


regentes das relações internacionais (art. 4º, inc. II, da Constituição da República), bem
como encontra-se vinculado, no âmbito do sistema interamericano de proteção dos
direitos humanos, à Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), nos termos do
Decreto nº 678/92, e à competência obrigatória da Corte Interamericana de Direitos
Humanos (Corte IDH) em todos os casos relativos à interpretação ou aplicação do Pacto
de São José da Costa Rica, conforme o Decreto nº 4.463/2002.

Observa-se que a CADH adota o princípio da subsidiariedade própria ou


procedimental, estabelecendo, em seu art. 46, que a admissão, pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, de uma petição ou comunicação que contenha
denúncias ou queixas de violação da Convenção por um Estado Parte, está
condicionada, em regra, à comprovação de interposição e esgotamento dos recursos da
jurisdição interna.

N t t t â bit d t ã i t i l d di it
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Nota-se, portanto, que, no âmbito da proteção internacional dos direitos
humanos, os Estados possuem responsabilidade primária pela tutela de direitos dessa
natureza, assim como por assegurar a reparação na hipótese de sua violação. Por outro
lado, eventual omissão das instâncias internas na proteção dos direitos humanos pode
dar ensejo ao reconhecimento da responsabilidade do Estado perante tribunais
internacionais a cuja jurisdição se encontre vinculado, devendo a jurisdição interna atuar
de forma primária e preventiva em relação aos processos de responsabilidade
internacional.

No que tange aos direitos relacionados à matéria veiculada nos presentes


autos, é relevante notar a existência de precedente na jurisprudência da Corte IDH, no
caso denominado “Escher e Outros vs. Brasil”, em que foi reconhecida a
responsabilidade do Estado brasileiro pela violação de direitos humanos em decorrência
de interceptações telefônicas deflagradas ilicitamente em desfavor de membros do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. No referido caso, o Brasil foi condenado
pela violação dos deveres de proteção a garantias judicias, à honra, à dignidade e à
liberdade de associação (artigos 1.1, 8.1, 11, 16 e 25.1 da CADH).

No presente caso, busca-se, igualmente, a reparação pela violação de


direitos em decorrência da realização e divulgação ilícita do conteúdo de interceptações
telefônicas, de modo que a determinação da compensação à vítima, pelos danos
sofridos, tem por escopo, para além da reparação do direito violado, também a
reafirmação da responsabilidade primária da jurisdição interna pela tutela dos direitos
humanos e pela prevenção à responsabilidade internacional do Estado, notadamente em
face dos deveres de proteção às garantias judicias, à honra e à dignidade, os quais
possuem assento convencional no Pacto de São José da Costa Rica.

Da retirada do conteúdo da rede mundial de computadores

No que concerne ao pedido de “promoção da retirada de todo o conteúdo


das conversas interceptadas envolvendo o autor dos sites de pesquisa na Rede Mundial
de Computadores, como Google, Live Search e Bing” (ID 107782689 – p. 37), o Juízo a
quo considerou a União Federal como parte ilegítima, sob o fundamento de que a Ré não
pode ser responsabilizada por divulgações oriundas da imprensa.

Neste capítulo, a sentença não comporta reforma.

A disponibilização do conteúdo na rede mundial de computadores não pode


ser imputada exclusiva e diretamente à União Federal.

Segundo entendimento firmado pela jurisprudência do STJ acerca da


matéria, é possível a determinação da retirada de conteúdo eminentemente privado
indevidamente veiculado na rede mundial de computadores, em prol da tutela do direito à
intimidade e à imagem, devendo tal pretensão, porém, ser deduzida em face dos
provedores de conteúdo, responsáveis pela disponibilização do material indevido na
internet. Excepcionalmente, é possível, ainda, a imposição de obrigação de fazer em face
dos provedores de busca da internet para que promovam a desvinculação entre o nome
da pessoa prejudicada - utilizado como critério exclusivo de pesquisa - e a notícia que se
pretende dissociar dos resultados (nesse sentido: REsp 1.660.168-RJ, Rel. Min. Nancy
Andrighi, Rel. do Acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, 3ª Turma, j. 08/05/2018).

Ad i t d t 19 d L i 12 965 (M Ci il d I t t)
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Ademais, nos termos do art. 19 da Lei 12.965 (Marco Civil da Internet), a
determinação de indisponibilização de conteúdo indevido “deverá conter, sob pena de
nulidade, identificação clara e específica do conteúdo apontado como infringente, que
permita a localização inequívoca do material” (§ 1º). Em consonância com a interpretação
conferida pela jurisprudência acerca do referido dispositivo, o reconhecimento da
responsabilidade dos provedores de hospedagem e de conteúdo dependerá da
indicação, pela parte interessada, do respectivo URL em que se encontra o material
apontado como impróprio. Nesse sentido, esclareceu a Min. Nancy Andrighi, no voto
proferido no julgamento da Rcl 5.072 (STJ, Segunda Seção, DJe 04/06/2014):

“(...) 32. Na realidade, apenas mediante indicação do URL (sigla que


corresponde à expressão Universal Resource Locator, que em português
significa localizador universal de recursos. Trata-se de um endereço virtual,
isto é, diretrizes que indicam o caminho até determinado site ou página)
específico da página onde se encontra o conteúdo considerado ilegal ou
ofensivo é que seria possível ao provedor de pesquisa controlar com
eficiência a sua exclusão dos resultados da busca virtual, assegurando a
eficácia da medida ao longo do tempo. 33. Entretanto, conhecendo o URL
da página, a vítima terá como identificar o próprio responsável pela inclusão
do conteúdo ilegal, ou pelo menos o provedor utilizado para hospedagem do
respectivo site que, por sua vez, poderá indicar o IP (sigla que corresponde
à expressão Internet Protocol, um número único, exclusivo, que individualiza
cada computador na rede e por meio do qual cada máquina se identifica e
se comunica) do autor do ilícito. 34. Diante disso, poderá agir diretamente
contra essa pessoa, o que torna absolutamente dispensável a imposição de
qualquer obrigação ao provedor de busca, pois, uma vez obtida a supressão
da página de conteúdo ofensivo, ela será automaticamente excluída dos
resultados de pesquisa.”

No caso, embora a publicização do teor das interceptações telefônicas haja


sido determinada por força de decisão judicial, a sua divulgação se deu através de
diversos veículos de imprensa que, na qualidade de provedores de conteúdo, foram
responsáveis pela disponibilização do material indevido na internet. Portanto, em
conformidade com a legislação de regência e com o entendimento jurisprudencial acerca
da matéria, a pretensão de retirada do conteúdo das interceptações telefônicas
impugnadas da rede mundial de computadores deve ser deduzida diretamente em face
dos provedores de conteúdo responsáveis pela veiculação do material indevido, ou,
excepcionalmente, contra os provedores de busca da internet, para que promovam a
desvinculação entre o nome do Autor, utilizado como critério exclusivo de pesquisa, e as
notícias que se busca dissociar dos resultados.

A União Federal, contudo, não possui pertinência subjetiva para figurar no


polo passivo da lide em relação a tal pretensão, devendo, neste ponto, o feito ser extinto
sem resolução do mérito, por ilegitimidade passiva ad causam (art. 485, inc. VI, do
CPC).

Dos encargos da sucumbência

Na hipótese, cabível a fixação dos honorários advocatícios, nos termos do


art. 85, §§ 2º e 3º, do Código de Processo Civil.

E â i i í i d lid d d d
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Em consonância com o princípio da causalidade, sendo o recurso de
apelação parcialmente provido para reformar a sentença recorrida e julgar parcialmente
procedente a pretensão autoral, acolhendo-se parte substancial do pedido, impõe-se a
inversão do ônus sucumbencial, para que a Ré seja condenada ao pagamento de
honorários advocatícios.

Nesses termos, condeno a União Federal ao pagamento de honorários


advocatícios sucumbenciais, fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da
condenação, na forma do art. 85, § 3º, inc. I, do Código de Processo Civil.

Dispositivo

Ante o exposto, dou parcial provimento ao recurso de apelação para


julgar parcialmente procedente a pretensão autoral e condenar a União Federal ao
pagamento de compensação pecuniária por danos morais à parte autora, no valor de R$
50.000,00 (cinquenta mil reais), sobre o qual deverá incidir correção monetária, pelo
índice IPCA-E, e juros de mora de 0,5% ao mês (ADI 4.425 e RE 870.947/SE), ambos a
partir da data do acórdão.

Determino a extinção do feito, sem resolução de mérito, em relação à


AJUFE, nos termos do art. 485, inc. VI, do Código de Processo Civil.

Mantido o segredo de Justiça apenas no que diz respeito às


interceptações telefônicas e ao eventual sigilo de documentos.

É o voto.

EMENTA
CONSTITUCIONAL. CIVIL. APELAÇÃO. AÇÃO MANDAMENTAL E CONDENATÓRIA.
EXCLUSÃO DE CONTEÚDO INDEVIDO DA REDE MUNDIAL DE COMPUTADORES E
COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. ERRO JUDICIÁRIO. OPERAÇÃO “LAVA
JATO”. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS. AJUFE. PERDA SUPERVENIENTE DE
INTERESSE PROCESSUAL. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. VIOLAÇÃO A LIMITES
CONSTITUCIONAIS E LEGAIS. DIVULGAÇÃO INDEVIDA DE CONTEÚDO
INTERCEPTADO. LESÃO A PRERROGATIVAS DA ADVOCACIA E A DIREITOS DA
PERSONALIDADE DO OFENDIDO. DIREITOS FUNDAMENTAIS. JURISPRUDÊNCIA
DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. REPARAÇÃO.
COMPENSAÇÃO PECUNIÁRIA POR DANOS MORAIS. RETIRADA DE CONTEÚDO
INDEVIDAMENTE VEICULADO NA REDE MUNDIAL DE COMPUTADORES.
PERTINÊNCIA SUBJETIVA DOS PROVEDORES DE CONTEÚDO RESPONSÁVEIS.
ILEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO. RECURSO DE APELAÇÃO PARCIALMENTE
PROVIDO.
1. Afastada a alegação de nulidade por ausência de prestação jurisdicional na apreciação
dos embargos de declaração opostos em face da sentença recorrida. Os embargos de
declaração são inadequados à modificação do pronunciamento judicial proferido,
devendo a parte inconformada valer-se dos recursos cabíveis para lograr tal intento.
Evidenciada a oposição dos referidos embargos como tentativa de promover o reexame
da causa, escorreita a rejeição.

2 O i d A i ã d J í F d i d B il (AJUFE) t f it
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2. O ingresso da Associação dos Juízes Federais do Brasil (AJUFE) no presente feito
deu-se na qualidade de assistente simples da União Federal (art. 121 do CPC), ao
fundamento de que o objeto da demanda se refere a ato judicial típico, ligado às
prerrogativas da magistratura. Havendo o magistrado prolator dos provimentos
jurisdicionais sobre os quais se fundamenta a pretensão deduzida nos autos sido
posteriormente exonerado, a pedido, do cargo de juiz federal, resta configurada a perda
superveniente de interesse processual da AJUFE em intervir no feito, porquanto não mais
subsiste interesse jurídico da referida entidade de classe em que a sentença seja
favorável a uma das partes, devendo o polo passivo ser ocupado apenas pela União
Federal.
3. O ordenamento jurídico brasileiro consagra o direito fundamental à intimidade, à vida
privada, à honra e à imagem, bem como resguarda a inviolabilidade das
correspondências e comunicações, assegurando, ainda, o direito à indenização por dano
material, moral ou à imagem (art. 5º, inc. V, X e XII, da Constituição da República). Da
mesma forma, as normas infraconstitucionais protegem os direitos da personalidade em
face de lesão ou ameaça, bem como asseguram a reparação por perdas e danos (art. 12
do Código Civil). Tais comandos normativos, que resguardam o direito à reparação por
atos violadores de interesses jurídicos patrimoniais ou extrapatrimoniais, são
concretizados, em âmbito legal, pelo conjunto normativo que rege a disciplina da
responsabilidade civil, cujos pressupostos – conduta humana, dano e nexo de
causalidade – encontram-se previstos pelo Código Civil (art. 186 e 927) e cujos
fundamentos se subdividem entre a responsabilidade subjetiva calcada na culpa e a
responsabilidade objetiva embasada na teoria do risco administrativo (art. 37, § 6º, da
Constituição) e da atividade (art. 927, parágrafo único, e art. 931, ambos do Código Civil).
4. A Lei 9.296/96, em plena conformidade com o princípio da proporcionalidade,
estabelece que a interceptação de comunicações telefônicas somente será admitida,
através de decisão devidamente fundamentada (art. 5º), nas hipóteses em que houver
indícios razoáveis de autoria ou participação em infração penal punida com pena de
reclusão e a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis (art. 2º). O aludido
diploma normativo dispõe, ainda, que deve ser preservado, em qualquer hipótese, o sigilo
das diligências, gravações e transcrições respectivas (art. 8º), bem como que a gravação
que não se mostrar estritamente pertinente à prova deverá ser inutilizada por decisão
judicial (art. 9º).
5. Eventual provimento judicial que autorize a violação do sigilo das comunicações em
desconformidade com os limites constitucionais ou com o regramento legal que disciplina
a matéria consubstanciará medida lesiva a direito fundamental de estatura constitucional,
cuja tutela é passível de ocorrer por meio da determinação de restauração do bem
jurídico ao seu status quo ante ou, caso isso não seja possível, através da fixação de
compensação pecuniária.
6. O STF, no julgamento do HC 164.493/PR e da Reclamação nº 23.457/PR, reconheceu
a ilegalidade da medida de interceptação telefônica deflagrada perante o Juízo da 13ª
Vara Criminal Federal da Subseção Judiciária de Curitiba/PR, nos autos do “Pedido de
Quebra de Sigilo de Dados e/ou Telefônicos nº 5006205-98.2016.4.04.7000/PR”, e que
atingiu, dentre outros alvos, o telefone celular do advogado Roberto Teixeira e o ramal-
tronco do escritório de advocacia “Teixeira, Martins & Advogados”.
7. No julgamento do HC 164.493/PR (Rel. Min. Edson Fachin, Redator para o Acórdão
Min. Gilmar Mendes), o STF pronunciou-se no sentido de que houve quebra da
imparcialidade por parte do então juiz federal Sérgio Fernando Moro, no âmbito da
denominada “Operação Lava Jato”, e enumerou, dentre os fatos indicativos da
parcialidade do então magistrado, a quebra de sigilo telefônico e a divulgação das
conversas realizadas pelo advogado Roberto Teixeira.
8. A interceptação telefônica do ramal-tronco do escritório de advocacia “Teixeira, Martins
& Advogados” mostrou-se desprovida de amparo legal, havendo sido realizada e
renovada sem a devida apreciação e fundamentação judicial. Ademais, a violação do

i il d t d li d l d d i t t d itó i
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sigilo de todas as conversas realizadas pelos advogados integrantes do escritório
interceptado, ao longo de todo o período em que perdurou a medida, consubstancia
violação às prerrogativas constitucionais e legais da defesa.
9. O STF julgou parcialmente procedente a Reclamação 23.457/PR para reconhecer a
violação de competência do Supremo Tribunal Federal (art. 102, inc. I, b, da Constituição
da República) e cassar as decisões proferidas em 16/03/2016 e 17/03/2016, nos autos do
“Pedido de Quebra de Sigilo de Dados e/ou Telefônicos nº 5006205-
98.2016.4.04.7000/PR”, as quais determinaram o levantamento do conteúdo de
conversas interceptadas; bem como para reconhecer a nulidade do conteúdo de
conversas colhidas após a determinação judicial de interrupção das interceptações
telefônicas. A referida decisão monocrática não apenas consignou a incompetência do
Juízo da 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba/PR para deliberar sobre
medida de interceptação telefônica em que constava o envolvimento de interlocutores
com prerrogativa de foro, como também asseverou a ilegalidade da violação à norma de
sigilo das diligências, rechaçando a invocação do interesse público como fundamento
válido para divulgação do teor das conversações telefônicas interceptadas.
10. As razões expostas pelo STF no julgamento do HC 164.493/PR e da Reclamação nº
23.457/PR indicam fundamentos inequívocos da ilegalidade dos atos sobre os quais recai
o pleito indenizatório apresentado neste feito.
11. Demonstrada a indevida violação ao sigilo das comunicações do advogado Roberto
Teixeira, no exercício da atividade profissional, por medida de interceptação telefônica
realizada em desconformidade com os limites constitucionais e as normas estabelecidas
pela legislação de regência, assim como a ilegalidade da divulgação das conversações
telefônicas interceptadas, resta caracterizada a lesão a direitos extrapatrimoniais do
Requerente, impondo-se reparação.
12. O levantamento indevido do sigilo das conversas interceptadas repercutiu na esfera
da personalidade do Autor e transcendeu o mero aborrecimento, violando o patrimônio
imaterial do Requerente, no âmbito das suas relações de direito privado.
13. No que se refere ao arbitramento do valor a título de compensação por danos morais,
é firme a orientação jurisprudencial no sentido de que, nesses casos, o montante
indenizatório deve ser determinado segundo o critério da razoabilidade e do não
enriquecimento despropositado.
14. Considerando as circunstâncias específicas do caso concreto, em especial o
levantamento indevido do sigilo das interceptações telefônicas, que inviabilizou o uso do
número do telefone móvel do Autor, notadamente em sua atividade profissional, bem
como a extensão do dano moral imposto, a posição social do agressor, atento às
circunstâncias fáticas e repercussão social do caso, arbitra-se o valor de R$ 50.000,00
(cinquenta mil reais), por revelar-se razoável e suficiente à compensação pretendida, sem
importar no indevido enriquecimento da parte.
15. A determinação da compensação à vítima, pelos danos sofridos, tem por escopo,
para além da reparação do direito violado, também a reafirmação da responsabilidade
primária da jurisdição interna pela tutela dos direitos humanos e pela prevenção à
responsabilidade internacional do Estado, notadamente em face dos deveres de proteção
às garantias judicias, à honra e à dignidade, os quais possuem assento convencional na
Convenção Americana de Direitos Humanos. Precedente da Corte IDH, no caso
denominado “Escher e Outros vs. Brasil”.
16. Em relação à pretensão de retirada do conteúdo das conversas interceptadas da rede
mundial de computadores, o pedido deve ser deduzido diretamente em face dos
provedores de conteúdo responsáveis pela veiculação do material, não possuindo a
União Federal pertinência subjetiva para figurar no polo passivo da lide, razão pela qual,
neste ponto, o feito ser extinto sem resolução do mérito, por ilegitimidade passiva ad
causam (art. 485, inc. VI, do Código de Processo Civil). Precedentes do STJ.

17 E â i i í i d lid d d U iã F d l
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28/04/2022 15:53 · Processo Judicial Eletrônico - TRF3 - 2º Grau
17. Em consonância com o princípio da causalidade, condena-se a União Federal ao
pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais, fixados em 10% (dez por cento)
sobre o valor da condenação, na forma do art. 85, § 3º, inc. I, do Código de Processo
Civil.
18. Dado parcial provimento ao recurso de apelação para julgar parcialmente procedente
a pretensão autoral e condenar a União Federal ao pagamento de compensação
pecuniária por danos morais à parte autora, no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil
reais), sobre o qual deverá incidir correção monetária, pelo índice IPCA-E, e juros de
mora de 0,5% ao mês (ADI 4.425 e RE 870.947/SE), ambos a partir da data do acórdão;
e determinada a extinção do feito, sem resolução do mérito, em relação à AJUFE, nos
termos do art. 485, inc. VI, do Código de Processo Civil.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Primeira Turma,
por unanimidade, deu parcial provimento ao recurso de apelação para julgar parcialmente
procedente a pretensão autoral e condenar a União Federal ao pagamento de
compensação pecuniária por danos morais à parte autora, no valor de R$ 50.000,00
(cinquenta mil reais), sobre o qual deverá incidir correção monetária, pelo índice IPCA-E,
e juros de mora de 0,5% ao mês (ADI 4.425 e RE 870.947/SE), ambos a partir da data do
acórdão, e determinou a extinção do feito, sem resolução de mérito, em relação à AJUFE,
nos termos do art. 485, inc. VI, do Código de Processo Civil, nos termos do relatório e
voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Assinado eletronicamente por: HELIO EGYDIO DE MATOS NOGUEIRA


28/04/2022 12:53:38
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22042812533834600000254741820
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