Deivisentac 2004 PAP0747 D
Deivisentac 2004 PAP0747 D
Deivisentac 2004 PAP0747 D
Deivis Luis Marinoski (1); Enedir Ghisi (2); Luis Alberto Gómez (3)
(1) Eng. Civil, Mestrando. E-mail: [email protected]
(2) Eng. Civil, PhD. E-mail: [email protected]
(3) Eng. Eletricista, Dr. E-mail: [email protected]
Universidade Federal de Santa Catarina – Campus Universitário – Trindade
ECV/NPC/LabEEE, Caixa Postal 476 – CEP 88040-900. Homepage: www.labeee.ufsc.br
RESUMO
A escassez de recursos hídricos tem causado uma preocupação mundial em relação ao consumo e o
aproveitamento de água. A captação e armazenagem da água da chuva é uma técnica utilizada há
séculos. Quando armazenada com fim não potável, a água da chuva pode ser usada na lavação de áreas
externas, descargas de vasos sanitários, irrigação, entre outros. Este trabalho objetiva estimar o
potencial de economia de água tratada através do aproveitamento de água pluvial captada na cobertura
de uma edificação, visando reduzir o consumo doméstico para fins não potáveis. O alvo do estudo é
um conjunto residencial, localizado em Florianópolis. A estimativa do volume de água de chuva para
aproveitamento está baseada nas áreas de cobertura e nos valores de precipitação atmosférica. Para
determinar a redução no consumo doméstico de água tratada, foram adotados percentuais de uso final
de água verificados em um estudo de caso realizado pela USP. No caso específico da edificação em
estudo, o volume de água da chuva, com possibilidade de captação através das coberturas, poderia
suprir até 42,4% do consumo anual de água para fins não potáveis. Também é apresenta uma
estimativa dos volumes de reservatórios necessários para armazenar a água da chuva coletada.
Palavras-chave: Aproveitamento de água da chuva, Economia de água tratada, Dimensionamento de
Reservatório.
1. INTRODUÇÃO
Durante décadas o homem não teve grandes preocupações com o meio ambiente, poluindo e esgotando
diferentes recursos naturais. Os recursos hídricos já fazem parte desta lista de vítimas do
desenvolvimento humano. A água doce é considerada hoje, até mesmo como sendo um recurso
esgotável e a sua utilização e consumo são uma preocupação mundial. Estima-se que somente 2,5% da
água existente no planeta seja doce (GEO3, 2002). Deste percentual, infelizmente, mais de dois terços
está congelada nos pólos e em cumes de grandes montanhas (TOMAZ, 2003).
Empresas, organizações e especialistas no assunto estão investindo cada vez mais em pesquisas para
descobrir formas de reaproveitar e economizar a água doce. Usar a água de forma mais eficiente pode
proporcionar uma maior disponibilidade deste recurso para outros fins, tal como crescimento
populacional, industrial e a preservação do meio ambiente. Desta forma, tem se tornado urgente a
necessidade de desenvolver uma nova cultura de utilização da água e dos demais recursos naturais
existentes.
Diante desse quadro, é cada vez maior o número de setores que têm buscado alternativas para usar a
água de maneira racional; o aproveitamento da água da chuva é um exemplo disso. A água da chuva é
uma fonte de água doce valiosa e sua captação é de extrema importância para a humanidade.
Paises como EUA, Japão, Alemanha e Austrália, têm realizado esforços para desenvolver e incentivar
o aproveitamento da água da chuva para fins não potáveis. Por exemplo, em um edifício com 14
pavimentos construído em 1995 na cidade de Kitakyushu (Japão), foi projetado um sistema de
utilização de água de chuva sendo para isso previsto um reservatório enterrado com capacidade de
armazenar 1 milhão de litros. Na Califórnia, são oferecidos financiamentos para construção de
sistemas de aproveitamento da água de chuva. Na Alemanha a utilização da água da chuva para fins
não potáveis já vem sendo feita desde a década de 80 (TOMAZ, 2003).
2. OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo verificar o potencial de economia de água tratada através do
aproveitamento da água de chuva captada a partir das áreas de cobertura de uma edificação residencial
multifamiliar, visando o seu uso para fins não potáveis.
3. REVISÃO DE LITERATURA
Onde:
V(t) = Volume de água acumulado no tempo t (sujeito a condição de que V(t) ≥ 0).
V(t-1) = Volume de água acumulado no tempo t-1.
Q(t) = Quantidade de chuva no tempo t (já subtraindo as perdas).
D(t) = Consumo ou demanda no tempo t.
Assumindo um consumo médio constante ao longo do tempo, foram analisados cinco diferentes casos
de simulação, em função da precipitação atmosférica e do tempo t. Nos três primeiros casos, foram
utilizados os valores das médias mensais de precipitação fornecidos pelo DNM (Departamento
Nacional de Meteorologia). Nos casos 4 e 5 foram utilizados valores de precipitação diária, medidos
pela EPAGRI – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A..
No primeiro caso, é realizada uma verificação mensal (t = 1 mês) do volume de reservatório
necessário para armazenar o volume de água de chuva captado, levando-se em consideração a
demanda média mensal de água para fins não potáveis.
No segundo caso, a simulação é realizada para períodos de tempo (t) igual a um dia. Porém, supõem-
se que as precipitações ocorram de forma acumulada e de maneira uniforme em três dias específicos
do mês (5o, 15o e 25o dia de cada mês), e um volume inicial de água no reservatório de 10 m3. O valor
destas precipitações acumuladas corresponde a 1/3 da precipitação média do mês da série histórica
para Florianópolis (Tabela 3). Assim, simula-se o consumo ocorrendo de maneira diária, mas as
chuvas ocorrendo de forma concentrada a cada 10 dias, aproximadamente. Isso pré-supõe intervalos
máximos de 10 dias sem chuvas, o que em se tratando da cidade de Florianópolis pode ser
considerado um valor bastante razoável.
Para o terceiro caso, assume-se que ocorram precipitação diária e consumos diários. Nesta análise,
os valores de precipitação diária correspondem a média mensal de chuvas dividida pelos número de
dias do mês.
No quarto caso, é mantido o mesmo raciocínio do caso 2, no entanto, o valor de precipitação para cada
período aproximado de 10 dias é um valor médio obtido a partir da soma dos valores de precipitação
diária disponíveis para os anos de 2001, 2002 e 2003, fornecidos pela EPAGRI para a
cidade de Florianópolis. Dentre estes dados, foram desconsiderados os valores de precipitação
diária considerados espúrios.
Para o quinto caso, a simulação dos volumes acumulados também é realizada de maneira diária
(tempo t = 1 dia), ou seja, precipitações com contribuição diária e consumo diário. Os valores de
precipitações diárias utilizados correspondem à média de precipitação diária dos anos de 2001, 2002 e
2003, desconsiderando os valores espúrios.
5. RESULTADOS
1000
900 Consumo
800 2001
Consumo (m³)
700
600
Consumo
500 2002
400
300
200 M édia
mensal
100
0
Jan Fev M ar Abr M ai Jun Jul A go Set Out No v Dez
O consumo per capita no condomínio foi estimado com base no consumo médio mensal e o número
médio de moradores para um período de 30 dias. Este valor corresponde a 140,6 litros/habitante por
dia, o qual encontra-se em um ponto intermediário entre o consumo per capita apresentado pela
CASAN, de 127,6 litros/habitante por dia e o estimado por Montibeller e Schmidt (2004), de
177 litros/habitante por dia, para a cidade de Florianópolis.
60,0
40,0
50,0
Volume (m³)
Volume (m³)
40,0 30,0
30,0 20,0
20,0
10,0
10,0
0,0 0,0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Na Figura 6, pode-se observar o volume que estaria sendo acumulado no reservatório ao longo de cada
dia do ano, através da simulação do caso 2. Nota-se que o perfil deste caso segue a mesma tendência
do caso 1, uma vez que os dados de precipitação e consumo são os mesmos, porém o volume do
reservatório é otimizado. Os valores máximos acumulados são de 17 m3 e 10 m3, para os blocos 1 a 4 e
para os blocos 5 e 6, respectivamente.
Volume acumulado no reservátorio (blocos 1 a 4) Volume acumulado no reservátorio (blocos 5 e 6)
21,0 12,0
18,0
10,0
Volume (m³)
15,0
Volume (m³)
8,0
12,0
9,0 6,0
6,0 4,0
3,0 2,0
0,0 0,0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Semelhante ao que ocorre no primeiro caso, na terceira alternativa o volume captado nunca ultrapassa
o valor do consumo. Desta forma, para um máximo aproveitamento das chuvas, seria necessário um
reservatório capaz de armazenar a maior precipitação diária. Isto conduz a volumes
de reservatório de 2 m3, para os blocos 1 ao 4, e 3 m3, para os blocos 5 e 6. A Figura 7 apresenta o
perfil dos volumes acumulados para este caso durante o ano.
Volume acumulado no reservátorio (blocos 1 a 4) Volume acumulado no reservátorio (blocos 5 e 6)
21,0 12,0
18,0 10,0
Volume (m³)
Volume (m³)
15,0 8,0
12,0 6,0
9,0
4,0
6,0
3,0 2,0
0,0 0,0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan f ev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
21,0 12,0
18,0 10,0
Volume (m³)
Volume (m³)
15,0 8,0
12,0
6,0
9,0
6,0 4,0
3,0 2,0
0,0 0,0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan f ev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Realizando uma simulação com valores de precipitação diária, a captação e o consumo ocorrem para
um mesmo tempo t, possibilitando otimizar novamente o volume de reservatório. A Figura 9 mostra os
volumes acumulados ao longo dos dias do ano para o quinto caso proposto. Observa-se que
os valores máximos encontrados para os blocos 1 a 4, e para os blocos 5 e 6, foram de 13 m3 e 8 m3,
respectivamente.
21,0 12,0
18,0 10,0
Volume (m³)
Volume (m³)
15,0 8,0
12,0
6,0
9,0
6,0 4,0
3,0 2,0
0,0 0,0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
A Tabela 7 apresenta um resumo dos valores de volume de reservatório encontrados para cada caso
analisado, os quais atendem a necessidade de armazenamento durante todo o período do ano (100% de
confiança), e também os valores de volume do reservatório que atenderiam a necessidade de
armazenamento durante 95% dos dias do ano (em 5% dos dias do ano ocorrendo extravasamento).
Tabela 7. Volumes estimados para os reservatórios
Reservatórios Blocos 1 a 4
100% de confiança 95% de confiança
Dados de
Caso o
N de dias No de dias
precipitação Capacidade
Redução no
por ano com Capacidade
Redução no
por ano com
consumo não consumo não
(m³) reservatório (m³) reservatório
potável (%) potável (%)
vazio vazio
Analisando os resultados da Tabela 7, é possível notar que a estimativa realizada no caso 1 conduz aos
maiores volumes de reservatório, visto que o período de tempo (t), igual a um mês, é bastante longo, e
não representa de modo real a ocorrência do consumo e da precipitação. Nos casos 2 e 4, foi utilizada
uma estimativa onde se considera o consumo ocorrendo de maneira diária e as precipitações como
sendo concentradas em média a cada 10 dias, o que proporcionou uma considerável redução dos
volumes dos reservatórios. Para os casos 3 e 5, que propõem uma verificação diária, como já era
esperado, encontrou-se os menores volumes necessários para armazenagem.
É importante destacar, que supor a ocorrência das chuvas de maneira concentrada a cada dez dias
também não representa exatamente a realidade, mas esta simplificação possibilitou bons resultados
para a cidade de Florianópolis. Os volumes encontrados nestas simulações foram maiores que os
encontrados nos casos 3 e 5, porém ainda viáveis construtivamente, o que representa uma maior
garantia de armazenagem para proporcionar suprimento durante intervalos maiores de dias sem chuva.
Embora a obtenção das médias de precipitação diária a partir de um período de 3 anos represente uma
incerteza, devido à variabilidade dos índices pluviométricos diários ao longo dos anos, a simulação
dos volumes acumulados através do caso 5 pode ser considerada a mais recomendada. No entanto,
haveria maior confiabilidade na aplicação desta alternativa caso estivessem disponíveis séries
históricas de precipitação diária para o local.
O dimensionamento através do caso 2 pode ser uma alternativa para reduzir o volume dos
reservatórios em locais em que existam apenas dados de precipitações médias mensais, porém deve-se
analisar sempre o período de dias sem chuva que melhor represente a situação da região.
Outra maneira de otimizar o volume dos reservatórios, reduzindo o tempo e o espaço ocioso, é o
dimensionamento visando atender as necessidades de armazenamento para um determinado grau de
confiabilidade, que atenda os volumes requeridos durante a maior parte do ano. Neste trabalho, um
grau de confiabilidade de 95% proporcionou reduções de 29% a 63% nos volumes de reservatórios
inicialmente estimados (100% de confiança), através dos casos 2, 4 e 5.
6. CONCLUSÕES
O uso de água é função dos hábitos culturais e da educação da população. As análises de consumo e
aproveitamento de água dependem em muito de indicadores de consumo per capita e usos finais.
Existem poucas pesquisas no Brasil relacionadas a estes valores, sendo que os dados disponíveis são,
normalmente, médias gerais que muitas vezes não representam a realidade local.
Para edificações com grandes áreas de cobertura, a água de chuva apresenta uma boa relação entre
volume captado e potencial de aproveitamento. A utilização da água pluvial para fins não potáveis é
facilitada por não necessitar de tratamentos complexos de purificação.
Neste trabalho, a análise de uso de água de chuva para fins não potáveis (descargas de vasos sanitários
e lavação de roupas) no interior dos blocos, teve como finalidade a verificação do potencial existente
de redução no consumo de água tratada. No caso específico da edificação em estudo, o volume de
água da chuva com possibilidade de captação através dos telhados dos blocos poderia suprir 42,4% do
consumo anual de água para fins não potáveis. Supondo a adoção dos volumes de reservatórios
estimados no caso 5 (para 95% de confiança), contabilizando os 6 blocos, seriam desperdiçados
180,2 m3 de água da chuva (eliminados pelo extravasor), e o índice geral de redução no consumo de
água tratada para fins não potáveis na edificação seria de 38,6%.
Um dos grandes obstáculos do aproveitamento da água da chuva está diretamente relacionado ao
clima. A distribuição e o volume das chuvas durante o ano é muito importante para a armazenagem da
água, influenciando na capacidade dos reservatórios.
Estimar volume de reservatórios para água de chuva é um processo que apresenta incertezas, pois
depende em muito da disponibilidade e confiabilidade dos dados de precipitação e consumo. Além
disso, fatores como custo de construção e ocupação do terreno devem ser levados em consideração.
A água de chuva é uma fonte de suprimento valiosa. A utilização deste recurso deveria sempre ser
levada em consideração em projetos de edificações, uma vez que, de maneira geral, apresenta um bom
potencial de aproveitamento.
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TOMAZ, Plínio. Aproveitamento de água de chuva - Aproveitamento de água de chuva para áreas
urbanas e fins não potáveis. Navegar Editora. São Paulo, 2003.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos órgãos nacionais de fomento à pesquisa (CNPq – Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico; CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior ) pelo apoio prestado durante o período de desenvolvimento deste trabalho.