Tecnologias Assistivas Disponíveis Aos Alunos Com Deficiência e Seus Educadores

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Tecnologias

RELATO DE EXPERIÊNCIA

assistivas
disponíveis aos
alunos com
deficiência e seus
educadores
Rutiléia Maria de Lima Portes
Mestre em educação
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Triângulo Mineiro (IFTM)

Daniela Resende Silva Orbolato


Mestre em ciência da computação
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Triângulo Mineiro (IFTM)

Resumo
Este trabalho tem por finalidade relatar
as experiências vivenciadas pelos integrantes
do projeto “Tecnologias assistivas disponíveis
aos alunos com deficiência e seus educadores”,
cujas atividades aconteceram no período de
abril a novembro de 2016. Este ocorreu em con-
tinuidade ao projeto “biblioteca de tecnologias
assistivas do IFTM”, finalizado no ano de 2015.
O objetivo principal consistiu na catalogação e
composição de um acervo constituído por tec-
nologias assistivas destinadas às pessoas com
formação a 16 educadores da Escola Uberaba e
deficiência nos dias atuais. Tendo em vista as
do Instituto dos Cegos do Brasil Central – ICBC
várias modalidades de tecnologia assistiva,
– sobre como baixar, instalar e utilizar as ferra-
buscou-se apenas pelas novas tecnologias, ou
mentas assistivas catalogadas. Tal experiência
seja, aquelas que envolvem a informática com
foi de grande relevância e aprendizado tanto
o intuito de possibilitar ou facilitar o acesso à
para os alunos bolsistas que ministraram as
informação da pessoa com deficiência e ao
aulas como para as professoras que partici-
conhecimento, bem como à interação nos
param do curso. Vários tutoriais de tecnologias
meio-ambientes sociais comuns a todos. O
assistivas foram construídos e já postados numa
projeto abrange tecnologias assistivas na sua
plataforma virtual que esperamos aperfeiçoar e
variedade de instrumentos e procedimentos
disponibilizar no próximo ano a partir da conti-
auxiliares e muitas vezes determinantes na
nuidade deste projeto em sua terceira versão.
vida de quem possui algum tipo de deficiência
(física, sensorial e intelectual), transtornos glo-
bais do desenvolvimento e altas habilidades. Ao Palavras-chave: Tecnologia assistiva. Formação
fim da catalogação, foi oferecido um curso de de professores. Pessoas com deficiência.

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Introdução De acordo com Raiça (2008), o próprio conceito
de tecnologia nos possibilita inferir sua aplicabilida-
de e contribuição para os processos inclusivos de
Nos últimos 20 anos, as políticas públicas vêm
pessoas com deficiência. A autora explica que a pa-
traçando diretrizes para a inclusão de alunos com
lavra possui etimologia grega, que significa a ciência
deficiências nas escolas regulares, a começar pela
da técnica, proveniente da junção entre téchne,
Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação).
que significa arte e destreza, e logos, que quer
Entretanto, ainda hoje, observa-se que tal inclusão
dizer estudo e ciência. Nessa perspectiva, pode-se
prevalece como um dos grandes desafios da
pensar que tecnologia envolve a aplicação dos
educação nos dias atuais.
conhecimentos científicos na solução de proble-
Foram criados inúmeros mecanismos para mas, ou seja, é o estudo das técnicas que auxiliam a
que as redes de ensino públicas e privadas acolham a humanidade a viver com melhor qualidade (RAIÇA,
todos, independentemente do grau da deficiência ou 2008). Então, se a função da tecnologia assistiva é
de quaisquer singularidades e necessidades específicas. de auxiliar uma vida melhor para as pessoas com
O Atendimento educacional especializado (AEE) foi algum tipo de limitação, o seu conceito está
criado para minimizar as dificuldades enfrentadas, atrelado ao conceito genérico de tecnologia, ambos
constituindo-se como um espaço em que os alunos se adequando perfeitamente para a melhoria da
recebem complementação curricular e pedagógica vida de todas as pessoas.
em horário extraturno com professores especializados
Infelizmente, são poucas as pessoas com
que fazem uso de tecnologias assistivas destinadas às
deficiência que conhecem o potencial das tecno-
diferentes modalidades de deficiências.
logias assistivas no que se refere às facilidades de
O avanço exponencial da tecnologia (TA) nos acesso à informação e ao conhecimento, sobretudo
últimos anos tornou-se um grande aliado desses nos ambientes educacionais. Elas podem inclusive
processos inclusivos facilitando as intervenções minimizar as distâncias e diferenças comuns entre
dos especialistas, professores, pais e, sobretudo, aluno com deficiência/aluno sem deficiência, pois
a vida cotidiana e escolar dos alunos com defici- através de um mesmo recurso, como, por exemplo,
ência. Pela via de uma TA, vemos hoje um aluno um computador e um celular, interagem com o
com deficiência visual desempenhar com total conhecimento de maneira livre e independente.
autonomia suas atividades escolares valendo-se Entretanto, é preciso que seus professores sejam
de um computador com leitor de tela, ou um aluno os estimuladores dessas práticas, conheçam e
surdo se comunicando com alguém que nem sabe saibam como utilizar uma tecnologia assistiva ade-
libras. Infelizmente, ainda são poucos os alunos quada às situações de aprendizagem. Em geral,
com deficiência que têm acesso a tais ferramentas, são os professores do AEE que apoiam e orien-
por inúmeros fatores, dentre eles a desinformação tam os professores regentes quanto às práticas
ou a dificuldade de acessá-las de modo fácil e sem inclusivas e eficazes durante a educação do aluno
muitos custos financeiros. com deficiência.
As tecnologias assistivas compõem o con- Entretanto, os especialistas atuantes no AEE
junto das TICs (Tecnologias de informação e das escolas regulares desconhecem, em sua maioria,
comunicação). De acordo com a Lei Brasileira da as tecnologias assistivas disponíveis e, quando as
Inclusão – LBI 13146, aprovada recentemente, em conhecem, não sabem como utilizá-las. Foi o que
julho de 2015, tecnologia assistiva é: comprovamos durante as atividades extensionis-
tas ao visitarmos as escolas que possuem salas
tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equipa-
mentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias,
de recursos com várias tecnologias assistivas.
práticas e serviços que objetivem promover a funcionali- Muitas dessas ferramentas nunca foram utilizadas
dade, relacionada à atividade e à participação da pessoa porque os professores nunca receberam treina-
com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando mento adequado e não sabem onde buscá-lo.
à sua autonomia, independência, qualidade de vida e
inclusão educacional (art. 3, inciso iii) É preciso destacar ainda a abrangência do uso
de uma tecnologia assistiva que extrapola os ambien-
Ressalta-se que, apesar do termo “tecnologia” tes educacionais, considerando-se a necessidade cada
- amplamente citado nas políticas públicas atuais, vez mais crescente de permanente atualização
se referir muitas vezes ao sentido mais genérico da de conhecimentos e informações para ingresso
palavra, nós o utilizaremos para nos referirmos e permanência no mercado de trabalho. As tec-
principalmente às novas tecnologias, ou seja, àque- nologias assistivas podem ser determinantes para
las que envolvem a informática e as redes digitais. o livre acesso aos ambientes/espaços laborais,
Enfatizaremos a função comunicacional dessas comunicação e interação social das pessoas com
tecnologias, pois o nosso objetivo é compreender deficiência. Tais tecnologias estão disponíveis
como elas contribuem para os processos educacio- em diversos sites na internet, mas buscá-las e
nais de pessoas com deficiências, analisando suas utilizá-las nem sempre é simples e imediato. Não
potencialidades interacionais e comunicacionais tão há um catálogo unificado das mesmas e nem
importantes desde os anos iniciais da educação. todas possuem um roteiro claro de instalação e de

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utilização. Logo, a catalogação e a documentação sem qualquer apoio de especialistas ou de
desses recursos demandam algum conhecimento tecnologias assistivas. Demonstrou como hoje
em informática. Já que o IFTM possui vários cursos o computador com leitor de tela é até mesmo
voltados à informática, foi propício realizar essa determinante para o desempenho de suas ativi-
atividade junto aos alunos desses cursos para que, dades profissionais e pessoais.
posteriormente, possamos divulgá-las ao público Nessa segunda versão do projeto, apenas
interno e externo. um aluno bolsista participante do ano anterior
Desse modo, o projeto veio ao encontro continuou no ano de 2016, sendo necessário
das necessidades reais dos professores atuantes retomar, com os alunos ingressantes, alguns con-
no AEE ao oferecer um curso básico que lhes en- ceitos básicos referentes ao desenvolvimento
sinasse a baixar, instalar e utilizar alguns softwares do projeto. Fez-se necessário, então, a realização
e aplicativos gratuitos úteis ao dia a dia com os de pesquisas para que os alunos se inteirassem
alunos com deficiências diversas. Paralelamente, acerca do tema, buscando informações como: o
foi dada continuidade à construção de um site que conceito de tecnologia assistiva, tipos, classificação,
disponibiliza algumas tecnologias assistivas com TICs assistivas, importância social e educacional
possível aplicação em educação juntamente com dessas tecnologias na vida das pessoas com
roteiros de instalação e utilização das mesmas. deficiência, suas relações com o ambiente com-
Foi possível, também, através desse projeto, putacional e, por fim, os tipos de deficiências para
oferecer aos alunos da área de informática do as quais tais tecnologias são arquitetadas.
IFTM Campus UPT a oportunidade para conhecer os A partir dessa pesquisa inicial, foi desenvol-
recursos tecnológicos que possibilitam às pessoas vida uma discussão aberta em que todos puderam
com deficiência terem o mesmo acesso à informa- falar de suas experiências de leitura, suas percepções
ção, ao conhecimento, comunicação e interação e perspectivas em torno do tema. O envolvimento
social comum a todos. e interesse dos alunos foram perceptíveis desde
Embora no IFTM e na rede municipal e esses primeiros momentos, pois desfrutavam da
estadual da cidade de Uberaba haja certo preparo oportunidade de construção de conhecimentos
para acolher os alunos com deficiências, ainda há novos e diferentes, não estudados nos cursos
espaço para a melhoria no que se refere ao uso de técnicos e superiores do IFTM. Para que os alunos
tecnologias assistivas. A eficiência das propostas também pudessem ter uma boa noção acerca
inclusivas que as Tecnologias Assistivas oferecem das particularidades de cada categoria de defi-
está diretamente relacionada aos fatores contex- ciência, cada um passou a pesquisar sobre uma
tuais presentes no universo habitual dentro do modalidade, o que os conduziu na sequência à
campo de atuação dos agentes sociais como: o dia pesquisa por tecnologias assistivas relacionadas
a dia, rotinas educacionais, rotinas de trabalho e à deficiência já estudada.
entretenimento. Portanto, esforços na direção do Como algumas tecnologias tinham sido
horizonte – progressão de todos com aprendiza- catalogadas no ano anterior, os alunos foram
gem estão direcionados para a construção coletiva orientados a estudá-las e buscar por outras,
do ambiente favorável à vivência de uma inclusão desde que fossem gratuitas. Aperfeiçoaram também
social com ênfase na aprendizagem, significativa, os tutoriais já elaborados e construíram novos
contextualizada e interdisciplinar. tutoriais referentes às tecnologias catalogadas
recentemente.
Em junho de 2016, por ocasião do sim-
O relato de experiência pósio de educação inclusiva que aconteceu em
Uberaba em parceria com o IFTM, pudemos
Ainda que a proposta do projeto não abran- apresentar os resultados do projeto obtidos até
gesse uma discussão conceitual acerca da inclusão então. Foi apresentada a proposta do curso de
educacional das pessoas com deficiência, acredita- formação em tecnologia assistiva, sendo esse um
mos que qualquer projeto que se empreenda nesse dos grandes objetivos do projeto. Alguns profes-
sentido exige sensibilidade e percepção de seus sores da rede municipal de ensino de Uberaba e
participantes. Isso porque qualquer intervenção ou também profissionais do Instituto dos cegos nos
ajuda técnica que busque minimizar as limita- procuraram para demonstrar seu interesse em
ções de uma pessoa com deficiência possui um tal formação. Pusemo-nos, então, a planejar e
significado para além de suas aplicações práticas e organizar o curso que seria a primeira experiência
objetivas na vida diária. nesse sentido na cidade de Uberaba.
Por isso, a coordenadora deste projeto, logo Tanto a coordenação do departamento
no primeiro encontro com os bolsistas, relatou de inclusão do município de Uberaba quanto
suas próprias experiências enquanto pessoa com a direção do instituto dos cegos apoiaram desde
deficiência visual, falando de sua trajetória educa- o início a nossa proposta, principalmente após
cional, suas frustrações e dificuldades enfrentadas conhecerem o conteúdo a ser ministrado.

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Devido ao fato de ser uma experiência Os softwares e aplicativos cujos tutoriais
única em que não tínhamos nenhuma referência de uso e instalação constituíram o conteúdo do
para a realização de tal curso, decidimos que o curso foram:
ideal para aquele momento era trabalharmos com
uma turma pequena, avaliando assim o desem- • Software Participar 2: é uma ferramenta
penho dos alunos que ministrariam o curso como pedagógica gratuita de apoio a professores
também das professoras cursistas. O Instituto dos atuantes no processo de alfabetização de
cegos disponibilizou um laboratório de informática jovens e adultos com deficiência intelectual.
para 16 pessoas selecionadas entre profissionais Seu objetivo é estimular a interação social
do ICBC e da Escola Uberaba. entre os jovens. Sua instalação é possível
O curso iniciou no dia 10 de setembro e em máquinas com sistema operacional
finalizou no dia 21 de novembro com duas horas Windows.
diárias de aula. A inscrição foi realizada por meio • MeaVox: tem como objetivo auxiliar a co-
de um formulário no Google Docs, no qual as municação alternativa de pessoas com difi-
professoras responderam a um questionário culdades (permanentes ou temporárias) de
que nos possibilitou coletar dados acerca de sua verbalização. É possível instalá-lo em dispo-
atuação profissional, interesse por tecnologia sitivos (fabricantes): Samsung, LG, Motorola
assistiva e habilidades com a informática. As pro- com sistema operacional Android (Versões
fessoras foram orientadas, também, a levar seus acima da 3.2). Possui um mês gratuito para
dispositivos móveis para a instalação dos aplicativos experimentação do usuário (meaVox4Free),
que faziam parte do curso. Quatro alunos bolsistas após isso a pessoa pode adquiri-lo na
ministraram as aulas, mantendo-se em duplas para PlayStore (meaVox/ mvConfig).
melhor aproveitamento e acompanhamento das • TALKBACK: o TalkBack é um aplicativo para
alunas cursistas. sistema Android (ativado nas configurações
O curso foi realizado como descrito a seguir. de acessibilidade do aparelho) que permite
A primeira aula do curso foi o momento para que a deficientes visuais interagir com o dispo-
os professores da comunidade se inteirassem das sitivo móvel, transformando em voz e em
atividades propostas e os estudantes bolsistas vibração cada atividade realizada. Ou seja,
conhecessem o perfil das professoras-cursistas. sempre que o usuário selecionar um apli-
Os estudantes bolsistas se apresentaram e falaram cativo ou uma opção, o aparelho irá emitir
de suas expectativas e envolvimento com o curso. o som alertando sobre o que está sendo
Nas aulas seguintes, as atividades se desenvolve- selecionado.
ram a partir da apresentação que dois bolsistas • NVDA - NONVISUAL DESKTOP ACCESS:
faziam sobre o software ou aplicativo e auxiliavam o NVDA, ou Desktop de Acesso Não-Visual
as professoras a baixar e a instalar. Os bolsistas é um programa gratuito de leitura de tela
descreviam em slides as características gerais dos para Windows destinado à inclusão de pes-
programas, tais como: sua função social e educa- soas com deficiência visual. O objetivo desse
cional, público-alvo, sugestões de atividades e os software é fazer a leitura de textos para
requisitos básicos para instalação. usuários com deficiência visual, possibilitan-
As alunas utilizavam os computadores do do que controlem o que é lido, movendo o
laboratório e um dispositivo móvel particular, con- cursor para a área relevante do texto com
forme tinham sido orientadas. Desse modo, os um mouse ou comandos do teclado.
bolsistas auxiliavam as alunas desde os requisitos • Hand Talk: esse aplicativo é capaz de traduzir
básicos para a instalação até a utilização da tecnologia qualquer texto digitado para a linguagem de
assistiva proposta em cada aula. sinais (LIBRAS). Possui um assistente virtual
Ao fim do curso, os bolsistas fizeram uma (avatar Hugo) que sinaliza de forma gestual
avaliação escrita com as cursistas para que elas e fiel a linguagem de sinais. Esse aplicativo
falassem sobre o aprendizado obtido, de suas possibilita que o professor se comunique de
perspectivas profissionais por meio do uso de forma simples com o aluno surdo mesmo não
tecnologia assistiva e as sugestões de melhorias dominando a LIBRAS.
para os próximos cursos. • ProDeaf: é um aplicativo para celular e tablet
Como se pode perceber, os bolsistas foram que faz a tradução das palavras e frases para
responsáveis por todo o curso: da concepção do a linguagem de sinais. Diferencia-se do Hand
conteúdo, preparação do material, apresentação Talk no fato de que possui um pequeno dicio-
nas aulas, à avaliação final do curso, bem como as- nário de palavras pré-instalado no aplicativo.
pectos práticos de reservas de sala e preparação Assim, caso o usuário tenha alguma dúvida de
dos computadores para as aulas. As orientadoras palavras simples poderá consultar o aplicativo
fizeram, tão somente, o papel de guiá-los em que o mesmo traduzirá sem ter conexão com
todas as etapas. a internet.

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Essas ferramentas estão disponíveis em um Emer (2011), ao investigar a percepção
site (design e criação pelos alunos), disponível dos professores da rede municipal de ensino
provisoriamente em http://kelwin-hike.wix.com/test1, das cidades de Caxias do Sul e Farroupilha, refe-
com informações pertinentes à tecnologia, como rente ao processo de inclusão escolar de alunos
e onde obtê-la, os requisitos para sua instalação, o com deficiência, concluiu que uma das questões
descritivo das funcionalidades, da forma de instalação mais evidenciadas na pesquisa foi concernente à
e de uso. O formato de disponibilização dessas in- falta de formação do professor, ou seja, a grande
formações na web foi constantemente analisado maioria dos professores precisa conhecer as
pela equipe executora e extensionistas tendo em potencialidades das tecnologias assistivas e se in-
vista as normas de acessibilidades para os ambientes formarem acerca do seu baixo e alto custo para
virtuais. Esse processo de construção incremental mediar o processo de desenvolvimento do aluno
permitiu avaliações, por parte da equipe executora, com deficiência. Seguem outras conclusões de
do formato e dos dados disponibilizados, retroali- sua pesquisa: falta formação de professores para
mentado a construção do site para as tecnologias já o uso de TICs seja de baixa ou de alta tecnolo-
listadas e para as próximas. gia; não existe tempo de planejamento entre os
No próximo ano, pretendemos dar conti- professores da sala de recurso multifuncional
nuidade ao projeto, aprimorando o site e também e da sala comum; não existe tempo de estudo
dar continuidade ao curso de formação, pois referente aos recursos de tecnologia assistiva;
inúmeros interessados não puderam participar muitas falas relataram a falta de conhecimento
no ano de 2016 devido à quantidade de vagas do que é tecnologia assistiva; a atividade mais
disponíveis. Inclusive a Secretaria regional de ensino desenvolvida na sala de recurso são os jogos
de Uberaba nos procurou para realizar esse treina- pedagógicos; a maioria dos professores não
mento com cerca de 100 professores atuantes no percebe uma relação entre a sala de recurso
AEE das escolas estaduais atendidas pela SRE. multifuncional, a tecnologia assistiva e a sala de
aula comum (EMER, 2011). E, por fim, concluiu a
Consideramos, entretanto, que a concreti-
autora, que as tecnologias assistivas não estão
zação dos objetivos deste projeto significa apenas
inseridas no contexto escolar.
uma pequena parcela de um objetivo maior e mais
abrangente. Trata-se da utilização dessas tecnologias O mais preocupante é que essa realidade
digitais assistivas no dia a dia da escola, entre figura o quadro da maioria das escolas brasileiras,
educadores e alunos com deficiências. Esse é um fato constatado por pesquisas semelhantes a apli-
desafio que perpassa não somente a educação cadas em outras regiões, afirmação da própria
inclusiva, pois a utilização de tecnologias digitais autora dessa pesquisa.
em ambiente escolar tem produzido inúmeros Existem muitos projetos de inclusão digital
debates entre estudiosos. No entanto, indepen- nas escolas, tanto no âmbito da educação inclusiva
dente dos defensores e críticos, o fato é que essas como no ensino convencional, mas se tratam de
tecnologias integram o cotidiano dos alunos e não iniciativas isoladas que não abrangem todo o corpo
é mais possível pensar em políticas públicas edu- escolar, fazendo que se desenvolvam apenas as
cacionais, didática e metodologia docente sem a de interesses de alguns gestores ou professores
contemplação dessas tecnologias. cientes da importância da inclusão digital. Para
A análise em torno das políticas públicas, uma maior abrangência, o ministério da educação
tanto referentes à educação geral como à educação precisa traçar diretrizes específicas sobre como in-
especial e inclusiva, demonstra que no âmbito pres- serir as tecnologias no currículo escolar e na didá-
critivo, estão acompanhando as tendências sociais tica geral dos professores, independente de seus
e culturais da era digital. São claras quanto à neces- interesses particulares com as novas tecnologias.
sidade de inserção das TICs nos currículos escolares O professor só será capaz de atuar na perspectiva
e nos planos docentes, dando abertura para a ade- da inclusão digital com pessoas com deficiências
quação da escola aos tempos do mundo virtual e in- ou não, se tiver orientações claras sobre como
formatizado. Fala-se da necessidade de adequação trabalhar seus conteúdos disciplinares usando as
curricular e pedagógica, da formação dos professores novas tecnologias, assim como domina a utilização
e provimento de recursos tecnológicos na escola. do livro didático em suas aulas.
Contudo, não há uma orientação específica de
como os professores devem inserir essas tecnologias
no cotidiano da sala de aula e quais as estratégias Conclusão
que realmente causariam estas mudanças.
Por meio do Decreto nº 6.571/2008, o MEC A conclusão do presente projeto e a divul-
amplia o apoio aos sistemas de ensino para a disponi- gação de seus resultados são de grande impor-
bilização de recursos de tecnologia assistiva nas escolas, tância para a disseminação de ideias, concepções
alcançando significativos avanços na efetivação do e práticas em torno do uso das tecnologias assis-
direito de todos à educação (INTERVOX site, 2002). tivas em ambiente educacional.

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A partir dos relatos das professoras
cursistas foi possível perceber a necessidade que
Referências
se tem hoje de incrementar as práticas pedagógicas
BRASIL. Decreto nº 6.571, de 17 de setembro de
com ferramentas que despertem o interesse dos
2008. Dispõe sobre o atendimento educacional
alunos ao mesmo tempo em que proporcionem
especializado, regulamenta o parágrafo único do
aprendizado. A satisfação das professoras du-
art. 60 da Lei no9.394,de 20 de dezembro de 1996,
rante as aulas foi evidente, especialmente por
e acrescenta dispositivo ao Decreto no 6.253, de
se tratar de um curso com conteúdo e metodo-
13 de novembro de 2007. 2008. Disponível em:
logia totalmente inovadores e interativos, sendo
<http://www.andi.org.br/file/51322/download?
a prova clara de que a educação precisa de uma
token=iPduFKyi> Acesso em 10 out. 2017.
inovação tecnológica, valorizando as ferramentas
digitais já disponíveis e de fácil acesso e usabilidade
_______. Lei n. 9. 394, de 20 de dezembro de 1996.
nos dias atuais.
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Acreditamos que tal iniciativa pode re- 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
presentar o despertar de outras propostas ccivil_03/leis/L9394.htm> Acesso em: 10 out.. 2017.
nesta direção através de parcerias entre o IFTM,
rede municipal de ensino de Uberaba, Secretaria _______. Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015.
Regional de Ensino de Uberaba, UFTM e outras Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
instituições governamentais e não governamentais Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
que primam pela inclusão educacional das pessoas 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
com deficiência. ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>
Enfrentamos, assim, de modo consciente, o Acesso em: 10 out. 2017.
desafio de oferecer nossa contribuição à garantia
dos direitos de todos à vida social e educacional EMER, Simone de Oliveira. Inclusão escolar:
plenas, independentemente de suas condições Formação docente para o uso das TICS aplicada como
físicas, sensoriais e intelectuais. tecnologia assistiva na sala de recurso multifuncional
Vimos que qualquer projeto empreendido e sala de aula. 2011. 149 p. Dissertação (Mestrado)
nesse sentido passa pelo conhecimento do perfil programa de Pós-graduação da Faculdade de
dos usuários, aliado à suas expectativas de sucesso. Educação. Universidade Federal do Rio Grande
São, na sua grande maioria, indivíduos oriundos do Sul, Porto Alegre.
de núcleo familiar com pouca instrução acerca
das possibilidades de melhoria para suas vidas INTERVOX. O MECDAISY. 2002. Disponível em:
como um todo. Nesse contexto, acreditamos que <http://intervox. nce. ufrj. br/mecdaisy/daisy. htm.>
as Tecnologias Assistivas favorecem grandemente, Acesso em out. 2017.
ampliando as possibilidades de inclusão social e
educacional pela via digital RAIÇA, Darcy (Org.). Tecnologia para Educação
Inclusiva. São Paulo: Avercamp, 2008.t

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