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Universidade do Extremo Sul Catarinense

VIII Semana de Ciência e Tecnologia

SUMÁRIO

35096 - APOIO E CUIDADO AOS CUIDADORES: RELATO DE ESTÁGIO JUNTO A


EQUIPE DO CAPS II DO MUNICIPIO DE CRICIÚMA-SC
Maurício Lopes da Silva, Dipaula Minotto da Silva .............................................................. 2

34580 - CANDIDÍASE VAGINAL: UMA BREVE REVISÃO SOBRE PREVENÇÃO E


TRATAMENTOS
Eduardo Zanatta Medeiros, Bertha Bloemer, Claudio Sérgio da Costa, Ana Paula Bazo,
Andressa Córneo Gazola, Adalberto Alves de Castro ....................................................... 21

35432 - PREVALÊNCIA DE PARASITOS INTESTINAIS EM CRIANÇAS DE ESCOLA


ASSISTENCIAL DO MUNICÍPIO DE CRICIÚMA- SC
Luana Damiani Rosso, Alisandra Valim Pereira, Marilda da Rosa, Ana Carolina da Silva
Vieira, Ana Daniela Coutinho Vieira, Renan Antônio Ceretta, Cleonice Maria Michelon ... 38

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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

Trabalho Completo de Ensino

35096 - APOIO E CUIDADO AOS CUIDADORES: RELATO DE ESTÁGIO JUNTO A


EQUIPE DO CAPS II DO MUNICIPIO DE CRICIÚMA-SC

Maurício Lopes da Silva1, Dipaula Minotto da Silva1,2

1 Curso de Psicologia,
2 Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva,
Universidade do Extremo Sul de Catarinense, Criciúma, Brasil.

Este trabalho é resultado da experiência em Estágio de Psicologia Social, requisito


obrigatório do curso de psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense. Visou
ofertar apoio à equipe do CAPS II, na perspectiva do apoio e cuidado aos cuidadores, no
sentido, de compartilhamentos acerca das práticas de cuidado com ‘o outro’ e do cuidado
‘consigo’. Foram realizados cinco encontros, com duração de 1h:30min, proporcionando
um espaço de vivências e diálogos sobre temas de interesse da equipe, de acordo com
os objetivos da proposta. Desenvolveu-se processos grupais dialógicos, de estratégias de
cuidado-mútuo, estímulo ao autocuidado, e autoconhecimento. Nestes encontros,
questões como comunicação, autoconhecimento pessoal e profissionais foram temas
emergentes, pela avaliação da equipe, diante das influências que estas questões
exerciam diretamente no desempenho e nas dificuldades pessoais e de trabalho. Ao final
dos encontros, percebeu-se que as práticas de autocuidado envolvem o reconhecimento
do “eu” frente ao processo de trabalho, assim como o reconhecimento do “outro”
enquanto sujeito capaz, proporcionando não só uma comunicação mais coesa, mas
também direcionando o focando em suas potencialidades e qualidades, facilitando a
prática e a relação profissional e pessoal.

Palavras-chave: CAPS; Cuidado ao cuidador; Psicologia Social; Saúde Mental; Reforma


Psiquiátrica.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho é fruto da experiência em Estágio de Psicologia Social, requisito


obrigatório do curso de psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense. Visou
ofertar apoio à equipe do CAPS II, como uma das ações do projeto de estágio. Partiu da
necessidade do serviço e dos profissionais de práticas que ao promover saúde, levasse-
os a refletir sobre si e sobre o outro enquanto sujeitos que podem ser, de alguma forma,
afetados mutuamente na rotina do serviço, e sua inter-relação com o modelo de serviço e
práticas que são exercidas diariamente.
Este trabalho buscou proporcionar práticas de autocuidado, autoconhecimento
e relaxamento, oferecendo aos profissionais momentos de percepção do corpo, de suas

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emoções, do seu estado no “agora”. Retirando-os do foco no outro e os levando a pensar


no próprio eu.
O apoio e cuidado dos cuidadores em saúde mental representa, não só um
fazer humanizado, mas também reafirma os ideais da reforma psiquiátrica,
proporcionando aos profissionais a prática do serviço em liberdade, desinstitucionalizando
por meio do reconhecimento das questões pessoais o ‘eu’ e o ‘outro’, suas práticas
diárias. Situando o sujeito frente ao sofrimento dos usuários, viabilizando o
reconhecimento desta condição, como possível a sua existência.
Estas práticas tem por base de aplicação as teorias da psicologia social
comunitária, da reforma psiquiátrica e de grupos, viabilizando conceder suporte e
condições para que os conteúdos manifestados sejam passiveis de acolhimento, bem
como a troca mutua de informações e reflexões a certa dos assuntos discutidos.
Compreende-se que o fazer na atenção psicossocial em um CAPS, leva
consigo uma grande responsabilidade, representar a substituição de um modelo asilar
que historicamente trouxe grande sofrimento aos sujeitos em sofrimento psíquico, seus
familiares e para a sociedade, é ainda uma desafia diário, porém um desafio possível.
Com isto, o cuidar da saúde mental, física e relacional, torna-se ferramenta imprescindível
aos profissionais de saúde mental, enquanto estratégia de efetivação do princípio da
integralidade do cuidado, interferindo diretamente nas ações de gerenciamento do serviço
e de si mesmo.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 PSICOLOGIA SOCIAL

De acordo com Jacques et al., (2013), no Brasil a Psicologia Social é


representa pela Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), que tem em meio
suas qualificações a psicologia social crítica, psicologia social histórica crítica, psicologia
social sócio histórico, que dão sustento crítico teórico em relação a Psicologia Social
vigente na época, vendo os sujeitos como ser construtor da sociedade, assim como
produto sócio histórico, capaz de transformar o seu meio. A psicologia social que se
constrói no Brasil no início dos anos 80 encontra um modelo teórico que não condiz com
sua realidade e reproduz um modelo tradicional. Inicialmente. A partir das transformações
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proporcionadas por críticas a um modelo de psicologia importada, surgem alternativas


teóricas que buscam a compreensão de uma complexidade do simples, a pluralidade da
teoria e aplicação, a intersecção das diversas áreas da psicologia, o cuidado ético em
relação aos compromissos sociais tendo a coerência de um reconhecimento político e
vendo a constituição do sujeito por meio desse social que o torna ser.
Segundo Lane (2002) o surgimento da psicologia Social Comunitária (PSC)
nasce atrelado ao movimento social, cultural e econômico que em 1964 surgia -golpe
militar-, pois neste período era eminente a opressão vivia pela população brasileira. Este
momento propiciou uma profunda reflexão crítica sobre o real papel da psicologia na
conscientização e organização da sociedade. Este movimento é fonte de impacto na
universidade quando em 1968 questiona-se o ensino e a academia.
Importante ressaltar que, segundo Sawaia (2002) o conceito de comunidade é
ausente na história das ideias da psicologia. Surge como referencial de análise somente
na década de 70 quando surge a psicologia social comunitária, definindo instâncias para
seu direcionamento enquanto ciência, comprometendo-se com a realidade dos excluídos
de cidadania. O conceito de comunidade englobou todas as práticas profissionais que
eram desenvolvidas fora de instituições e consultórios, abrindo espaço para seu uso em
meio ao discurso político neoliberal. Com isto entende-se o sentido de comunidade do
final do século passado, XX, como uma utopia de enfrentamento ao processo de
globalização. Falar atualmente sobre a prática da Psicologia Comunitária é falar da
história política presente no Brasil e na América Latina (FREITAS, 2002).
Gonçalves e Portugal (2016) ressaltam que, torna-se evidente que incialmente
a psicologia atuava afastada das questões socais e políticas. O surgimento da PSC nasce
na busca por uma profissão que atue e compreenda os processos socais de forma
equânime, estando dentro da realidade e a par das questões sociais. Porém, a atuação
da psicologia dentro do campo social não pertencia especificamente a PSC, sendo assim
não existia um viés teórico específico de atuação e intervenção em sociedade, não
havendo identificação dos profissionais da psicologia como psicólogos e psicólogas
comunitários. Ao decorrer de quase cinco décadas houve o aperfeiçoamento do campo
teórico da PSC, que viabilizou aqueles que tivessem a necessidade de intervir na
comunidade, uma teoria que desse base e sustento para tal intervenção, entendendo que
a PSC se apresenta como base teórico e de intervenção para os profissionais, podendo

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assim limitar aqueles que querem intervir socialmente nas comunidades, pois esse campo
fica em específico do psicólogo social comunitário.

2.2 REFORMA PSIQUIÁTRICA E CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS)

As primeiras instituições psiquiátricas no Brasil surgem em meio a tentativa de


construção e manutenção da ordem e da paz social. A função saneadora dos primeiros
hospitais psiquiátricos, conhecidos como hospícios dão as bases para a existência das
ações assistenciais psiquiátricas brasileiras. Além do surgimento recente, outra atitude
não desenvolvida e leiga era a classificação dos sujeitos internados que ia desde
alienados comuns até criminosos. Entende-se que estes espaços não serviam com um
local de cura, e a caridade assim como os princípios humanitários não estavam presentes
(TUNDIS; COSTA, 2001).
Entre 1872 a 1890 houve um crescimento populacional nos grandes centros
urbanos, devido ao comércio da época. Esta urbanização afetou diretamente as
condições de vida, de higiene e saneamento das populações. Percebe-se nesse
crescente desenvolvimento a construção de cortiços e favelas. Marca-se então como um
divisor do conhecimento psiquiátrico, posterior a Proclamação da República, dividindo a
psiquiatria baseada no empirismo e a psiquiatria científica. Mesmo havendo uma
mudança na base do conhecimento psiquiátrico, pouco ou nada mudou em relação ao
entendimento e aos serviços em saúde mental (TUNDIS; COSTA, 2001).
De acordo com o Relatório de 15 anos após o tratado de Caracas realizado
pelo Ministério da Saúde (2005) o processo de Reforma Psiquiátrica (RP) no Brasil é
posterior ao surgimento do “movimento sanitário”, nos anos 70. Mesmo atrelado ao
movimento da Reforma Sanitária a RP tem uma história própria, que tem influencias das
mudanças internacionais, entre elas a superação da violência asilar, sendo constituído em
meio ao clima contra ditatura militar em busca de uma organização social (AMARANTE,
1997). Neste momento, segundo Amarante (1997) nasce o Movimento dos Trabalhadores
em Saúde Mental (MTSM) que a princípio luta por mudanças da assistência psiquiátrica,
seja por meio da necessidade de transformação do modelo tradicional hospitalocêntrico
ou em busca de desenvolver alternativas baseadas em propostas de desospitalização.
Este movimento assume uma postura crítica ao saber psiquiátrico e a partir disto, vem
traçando o atual modelo de reforma psiquiátrica. Sendo considerada um processo político
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e social de grande complexidade, composto por diversos atuantes, como as instituições e


forças de diferentes origens, tendo a participação de várias instâncias como o governo
estadual, federal e municipal, universidades, conselhos profissionais, associações e
familiares e movimentos sociais (BRASIL, 2005). Neste mesmo período, por meio de
alguns sanitaristas, surge em São Paulo a criação do CEBES, assim como a criação da
revista Saúde em Debate, tendo como objetivo fundamental a promoção da produção e
organização de pensamentos e práticas críticas no campo da saúde pública (AMARANTE,
1997).
Por meio das ações do MTSM foram desenvolvidas comissões de Saúde
Mental em Núcleos do CEBES, assim como sindicatos do setor de saúde, exercendo a
função de articuladores para o primeiro encontro de trabalhadores da área, levando ao
Congresso Brasileiro de Psiquiatria em Camboriú em 1978, que resultou em um grande
evento político. A loucura e discussão sobre as instituições asilares saem do meio técnico,
tomando proporções maiores nas discussões das entidades civis, assim como destaque
na grande imprensa. Com isto coloca-se em prova o estigma de que o louco é perigoso,
trazendo à tona a necessidade de debater a cidadania e os direitos humanos destes
sujeitos, bem como o direito digno de tratamento (AMARANTE,1997).
É a associação de um conjunto de características e mudanças que criam e
instituem a Reforma Psiquiátrica. São as práticas, os saberes, os valores culturais e
sociais que no cotidiano dos serviços e das relações validam este movimento enquanto
um avanço social significativo, que ao decorrer do tempo foi marcado por impasses,
tensões, conflitos e desafios, assim como ainda é hoje. Desde então se configura um
processo bastante inovador transpassado por várias ações práticas de mudanças que
geram novos questionamentos no cenário do campo da saúde mental (AMARANTE,
1997). Entende-se esse movimento como uma tentativa de substituição ao modelo do
hospital psiquiátrico, consequência de uma luta de usuários, familiares e trabalhadores.
Estas reivindicações que resultaram na RP foram fundamentais para as diretrizes de base
das políticas que incialmente foram discutidas em 1986 na Oitava Conferência Nacional
de Saúde, posteriormente na Primeira conferência Nacional de Saúde Mental (1987) e na
Segunda Conferência Nacional de Saúde Mental (1992) resultando na Terceira
Conferência Nacional de Saúde mental em 2001 (HIRDES. 2009).
De acordo com Amarante (1997) por meio da necessidade de intervir na
situação da Saúde Mental no Brasil, ousou-se uma prática experiencial mais radical, a
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implantação de uma rede territorial de atenção à Saúde Mental que substituísse o modelo
tradicional, constituindo-se então os Núcleos de Atenção Psicossociais (NAPS). Tendo
uma estrutura complexa, faziam o uso de leitos para acompanhamento a situações de
crise, ofereciam atendimento emergencial. Com isto outras estratégias foram
desenvolvidas, dentre elas o Projeto Tam-Tam, Centro de Valorização da Criança e as
Cooperativas Sociais. Este processo de desenvolvimento e tentativa de descentralizar e
desospitalização a Saúde Mental resulta, em São Paulo no ano de 1987, no primeiro
CAPS. Somente no 2001 foi aprovada a lei nacional nº 10.216 da Reforma Psiquiátrica no
Brasil, redirecionando o modelo de assistência psiquiátrica, onde em seu regulamento
estipula cuidados especiais para com os sujeitos que foram internados por muito tempo
em hospitais psiquiátricos e possibilitando punição para a internação involuntário ou
desnecessária (BRASIL, 2004). Cria-se em 2002 por meio da PORTARIA Nº 336/GM, DE
19 DE FEVEREIRO DE 2002 os atendimentos pelos Centros de Atendimento
Psicossociais (CAPS) que funcionam em modalidades diferentes de CAPS.
Segundo o Ministério da Saúde (2004) a lógica de atendimento e serviço dos
CAPS seguem o pensando e ação em rede, como uma tentativa possível de substituir os
hospitais psiquiátricos, os CAPS exercem suas funções ligados diretamente com a
comunidade. Entende-se incialmente que as redes possuem muitos centros e pontos que
a constituem e fazem a sua complexidade. Porém, é fundamental a noção que o eixo
central e principal deste emaranhado que formam as redes são as pessoas, a existência e
o sofrimento possível. Os CAPS têm um papel fundamental de articular o tecimento
dessas redes, onde trabalha com os serviços de saúde como as ESF’s, juntamente com
os agentes comunitários, quanto ao trabalho de promoção na vida comunitária em busca
da autonomia dos usuários, sendo peça importante na articulação em outras redes como
a jurídica, escolar, dentre outras (BRASIL, 2004b). Ferreira et al., (2016) apontam que, a
Reforma Psiquiátrica proporcionou grande avanço para a população, promovendo um
novo modo de olhar para os sujeitos em sofrimento mental, entendendo o CAPS como
dispositivo fundamental à vida destes sujeitos.
Para Ferreira et al., (2016), por meio da criação dos CAPS e suas adaptações
ao longo do tempo foi proporcionado um local onde se promove o apoio justo aos sujeitos
em sofrimento, possibilitando, em meio ao processo de ressocialização sua permanência
ao lado da família e em sociedade. Em um estudo realizado por Alves et al., (2017) foi
constatado que, quando reconhecido e incorporado seu sentido e funcionalidade, o CAPS
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proporciona uma queda nas necessidades das internações psiquiátricas, produzindo bem-
estar, juntamente a este processo, o envolvimento dos familiares enquanto atuantes no
cuidado e ressocialização dos usuários. Em pesquisa realizada por Bernard e Kanan
(2015) destaca-se que, em relação aos CAPS de Santa Catarina, apresenta-se um o
esforço na busca de firmar a RP e o SUS, trabalhando na lógica da clínica ampliada,
território e projetos terapêuticos singulares.
Nesta perspectiva, as principais fragilidades para efetivação do papel dos
CAPS, giram em torno da realidade das constituições das equipes profissionais, tanto em
relação a equipe mínima, quanto ao trabalho exercido por uma equipe que não atinge as
recomendações da portaria n.º 336/2002, delatando a dificuldade em manter um atuação
efetiva nos processos de reestruturação psicossocial dos usuários. Mesmo assim, tendo a
RP como um processo social amplificador, que visiona promover a mudança nas
estruturas sociais, enquanto seu funcionamento por meio das atividades dos CAPS, ela
representa uma transformação dos modelos hospitalares, de uma saúde assistencial,
possibilitando a formação de um sistema com capacidade de responder as variadas
necessidades desenvolvidas pelo sofrimento psíquico dos sujeitos, colaborando também
para a formação do SUS ao passo que a saúde mental efetiva suas práticas em cima dos
princípios básicos que regem este sistema. Ressaltando a importância da manutenção e
cuidado com o CAPS.

2.3 CUIDAR DO CUIDADOR

Pensando na de substituição dos hospitais psiquiátricos e ressignificação da


saúde mental, tem-se falado de novas práticas de cuidado e apoio que auxilie não só os
usuários, mas também os familiares, porém estas práticas de cuidado aos cuidadores
deve-se estender aqueles que também lidam com o sofrimento psíquico diariamente, os
profissionais de saúde mental. Mesmo não havendo uma noção única em relação ao
cuidado, existem várias noções que se interligam em aspectos básicos. Podendo haver
atribuições de sentido e prática de acordo com o local e o funcionamento do grupo, neste
caso a equipe de saúde mental, mostra-se presente nas práticas de acolhimento, diálogo
e ações profissionais que culminam em novas produções de subjetividade (BALLARIN,
CARVALHO E FERIGATO, 2010).

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De acordo com Campos (2016) os profissionais de saúde lidam com o sujeito


em sofrimento diariamente e com toda a demanda que isso provoca na própria pessoa,
nos amigos e familiares, assim como para estes sujeitos o profissional é o pilar de
suporte, intensifica-se mais para aqueles que não possuindo outro meio de apoio, sendo
visto o profissional como único meio de cura e cuidado. Muito se fala em cuidar dos
cuidadores a partir da ótica da enfermagem, tanto em hospitais quanto em serviços de
atenção básica. Segundo Henriques, Barros e Morais (2010) o cuidar envolve aceitar e
reconhecer o outro assim como a si mesmo enquanto sujeito, tendo como propósito a
prestação de uma assistência acolhedora e humanizada. Mas para que isto aconteça é
necessário que os cuidadores se encontrem em condições saudáveis em relação ao
físico, ao psíquicas e ao emocionais adequadas. Damas, Munari e Siqueira (2004)
ressaltam que o cuidado pode possuir dois significados que dialogam e se relacionam
entre si, sendo uma relação de atenção, atitude e delicadeza para com o outro,
representando também inquietação e preocupação, pois há um envolvimento afetivo que
se liga a este outro.
Os mesmo autores ainda ressaltam que estas práticas em cuidado simbolizam,
em menor ou maior intensidade, a abnegação do eu do sujeito que cuida, havendo uma
renúncia dos sentimentos e da vontade (DAMAS; MUNARI; SIQUEIRA, 2004). Campos
(2006) argumenta que o profissional da saúde se encontra quase sempre em um estado
de grande tensão, pois tem como objeto de trabalho o sujeito em processo de
adoecimento e intenso sofrimento, exigindo deste profissional resoluções muitas vezes
impossíveis ou além de suas práticas de trabalho, sendo levado de algum modo a lidar e
conviver com a doença, assim como com as emoções, sentimentos e conflitos que se
encontram nas relações tanto com o paciente, quanto com os familiares e amigos.
Percebe-se então esses profissionais também vulneráveis ao sofrimento e ao
adoecimento psíquico e físico.

3 METODOLOGIA

O estágio Supervisionado em Psicologia Social ocorreu no primeiro semestre


de 2017, dois períodos por semana totalizando 8 horas semanais. Inicialmente foi
realizado um período de 6 semanas de observação participante, onde o estagiário pode
conhecer a rotina do serviço, usuários e trabalhadores, atividades ofertadas e desenvolver
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diagnóstico para desenvolvimento do projeto. No caso específico do presente projeto, o


diagnóstico se deu de forma participativa a partir de conversas com trabalhadores e
usuários, e a partir da observação crítica de como as relações se estabelecem, bem como
estas interferem na efetivação dos objetivos do serviço, enquanto dispositivo de cuidado
do SUS e da Reforma Psiquiátrica.
Dentre as ações proposta no estágio, uma das atividades desenvolvidas foi a
proposta de cuidado ao cuidador profissional, que teve como objetivo promover a
sensibilização com práticas de cuidado e auto percepção individual e de grupo com os
profissionais do CAPS II. Como estratégia para atingir este objetivo, foram realizados
cinco encontros com 16 profissionais nas dependências do serviço, proporcionando um
espaço de vivências, debates e problematizações de assuntos de interesse da equipe. Os
encontros ocorriam a cada 15 dias, com duração média de 1h30min cada.
A partir de um período de observação participante dentro do espaço de reunião
semana de equipe, evidenciou-se queixas comuns de desconfortos de diversas ordens
tanto nas relações de cuidado com os usuários, quanto nas relações interpessoais. Tais
queixam tinham como núcleo básico, problemas na comunicação, cristalização de papeis,
e posturas nas práticas de cuidado, que vinham na contramão dos princípios de
integralidade do cuidado. Junto aos profissionais refletiu-se a necessidade/potencialidade
para o desenvolvimento dos encontros, que posteriormente foram planejados propondo
encontros grupais dialógicos, utilizando vivências/dinâmicas de grupo com foco no
cuidado-mútuo, estímulo ao autocuidado, e autoconhecimento atrelados ao papel de
trabalhador de saúde mental. Os encontros tiveram como objetivos, refletir e
problematizar as práticas de cuidado, promover auto percepção, podendo perceber suas
tensões, motivando e reconstruindo as ações em conjuntos para buscar suas próprias
soluções (ZIMERMAN, 1997), na transversalidade das ações executadas junto aos
profissionais.
Em sua execução, no primeiro encontro, foi efetuado uma roda de conversa
para iniciar a proposta de cuidado ao cuidador profissional, onde a ideia central girou em
torno da sensibilização e construção de um espaço onde os profissionais pudessem
expressar os conteúdos internos como medos, dificuldades, alegrias. Bem como
problemas relacionados ao trabalho gerando, assim um ambiente de escuta qualificada
aos profissionais de saúde mental. Cada profissional levantou possibilidades de temas,
optando em consenso por “comunicação”. Estava presente na fala de todos que muitas
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vezes que não havia comunicação coesa entre a equipe, dificultando assim a efetividade
de um serviço mais potente na perspectiva do cuidado em liberdade, bastante desafiador
diante de uma equipe que passara por uma grande transição há pouco mais de um ano,
com a demissão de diversos profissionais e a entrada de outros, entre outras questões
estressoras para a equipe. Como encaminhamento final, contratualizou-se junto aos
participantes o formato dos encontros e a delimitação do tema inicial.
A proposta do segundo encontro teve como foco as questões relacionadas ao
tema proposta pela equipe: comunicação. Neste sentido, usou-se como metodologia, uma
dinâmica de grupo com o objetivo de treinar e reconhecer a importância da escuta, da
comunicação bilateral, do aprimoramento das capacidades de comunicação verbal e não
verbal, de construção de estratégias para melhorar a comunicação interpessoal e em
consequência os relacionamentos em geral. Entende-se que a partir do fortalecimento da
equipe, é possível potencializar o cuidado junto aos usuários, e promover saúde mental
junto aos trabalhadores e trabalhadoras do CAPS. Após a dinâmica, houve reflexão em
equipe sobre o tema abordado, e como fechamento cada profissional estabeleceu um
palavra relacionada aquilo que foi compreendido no processo de grupo, estas giraram em
torno da “necessidade” de (re)aprender a se comunicar em equipe.
O terceiro encontro buscou potencializar a discussão e atribuir sentido para a
ações realizadas no fazer cotidiano. A temática norteadora deste dia foi “O QUE É
CUIDADO?”, proposta pelo facilitador, como estratégia de sensibilizar para o autocuidado
enquanto profissional de saúde. Os participantes foram convidados a trabalhar em
pequenos grupos, socializando suas ideias sobre o que o que entendiam por cuidado.
Verificou-se neste momento, uma dificuldade de dar um sentido total, por meio da frase.
Ao final fez-se uma rodada de conversa com foco nas construções. Verificou-se que as
dificuldades e resistência apresentadas nesta etapa, poderia estar relacionado ao
contexto de pressões distanciamentos teórico-vivencial dos profissionais decorrentes de
uma perspectivida medicalizante do cuidado em saúde mental, que coloca os sujeitos
cuidadores/profissionais, como pessoas que ofertam tratamentos em suas práticas, e não
cuidado. Após a rodada, para finalizar a atividade, foi proposto, por meio de cartolina, cola
e revistas, simbolizar por meio de imagens “O QUE É CUIDADO?”. Neste momento,
verificou-se a necessidade de problematizar os papéis cristalizados de trabalhadores de
saúde/saúde mental não passiveis de cuidado.

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Para aprofundar estas questões, no quarto encontro, realizou-se uma dinâmica


de autopercepção, tendo como objetivo avaliar o autoconceito dos/as participantes sobre
o autoconhecimento e autoimagem enquanto trabalhador/a de saúde mental. A dinâmica
buscou reconhecer: “Eu me sinto bem quando? Eu me sinto necessário/a quando?
Minhas principais características positivas são?”. Após a construção desta proposta,
dialogou-se sobre o que foi mais fácil realizar, as dificuldades encontradas e o que esta
atividade provocou nos participantes. Percebeu-se do profissionais dificuldades em
reconhecer esses aspectos, sendo este um indicador importante sobre a qualidade de
suas condições de trabalho.
O encerramento dos encontros foi iniciado com a realização de um
relaxamento, tendo como objetivo ofertar estratégia e autoconhecimento e autocuidado. A
atividade seguinte consistiu na proposta de dinâmica conhecida como “O Presente”, onde
buscou-se identificar e potencializar as características pessoais e de equipe, refletindo
sobre as práticas profissionais, bem como sobre a relação entre o processo que os
profissionais estabeleciam consigo mesmo e com os outros. Este processo foi importante
para o reconhecimento do outro dentro do grupo, gerando, a partir das identificações,
possibilidade para a criação de vínculos mais intensos.

4 EXPERIÊNCIA DE ENSINO

O estágio em Psicologia Social, na realidade de um CAPS, sendo este um


dispositivo importante da rede de atenção em saúde mental, proporcionou significativos
aprendizados. Estes, se deram tanto no aprofundamento dos referenciais teóricos
descritos, como na possibilidade de vivenciar o cotidiano do serviço junto a possibilidade
de experienciar os processos de observação, construção diagnóstica e pela aplicação de
recursos da psicologia sob o olhar da psicologia social junto à equipe.
Nesta perspectiva, a partir da lógica de substituição dos hospitais psiquiátricos
e ressignificação da saúde mental, tem-se falado de novas práticas de cuidado e apoio
que auxilie não só os usuários, mas também os familiares. Porém, percebeu-se que estas
práticas de cuidado aos cuidadores, devem ser estendidas também àqueles que lidam
com o sofrimento psíquico diariamente de outra forma, ou seja, aos profissionais de saúde
mental. Mesmo não havendo uma noção única em relação ao cuidado, existem várias
noções que se interligam em aspectos básicos, podendo haver atribuições de sentido e
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prática de acordo com o local e o funcionamento do grupo, neste caso a equipe de saúde
mental, mostra-se presente nas práticas de acolhimento, diálogo e ações profissionais
que culminam em novas produções de subjetividade (BALLARIN; CARVALHO;
FERIGATO, 2010). De acordo com Campos (2016) os profissionais de saúde lidam com o
sujeito em sofrimento diariamente e com toda a demanda que isso provoca na própria
pessoa, nos amigos e familiares, assim como para estes sujeitos o profissional é o pilar
de suporte, intensifica-se mais para aqueles que não possuindo outro meio de apoio,
sendo visto o profissional como único meio de cura e cuidado.
O início das atividades proporcionou maior conhecimento quanto ao
entendimento de como a comunicação é um norteador que sinalize como o grupo age,
podendo haver uma distorção das mensagens, assim como uma atribuição distinta de
sentidos (ZIMERMAN, 1997). Verificou-se neste sentido, que a comunicação como uma
ação resulta de uma interação de expressão de símbolos (signos linguísticos) entre dois
sujeitos ou mais, que por sua vez exige o ato de pensar, logo necessita de um sujeito
pensante e um objeto pensado. A comunicação é vista como uma reciprocidade
irrompível, não havendo sujeitos passivos (FREIRE, 2012). A proposta deste trabalho
partiu da ideia de resolução coletiva dos problemas, neste caso do grupo de trabalho, que
inicialmente elencou o tema em questão para ser discutido, valorizando a comunicação-
grupal, percebendo os obstáculos em que essa dificuldade se coloca, bem como os mal-
entendidos, distorções, conforme preconiza a Psicologia Social Comunitária (CAMPOS,
2016), para que exista uma melhora na fala e na escuta (ZIMERMAN, 1997). Nesta lógica
os questionamentos e discussões visam estabelecer uma comunicação ativa, que propicie
os profissionais a se reconhecerem naquilo que falam e naquilo que produzem, seus
pensamentos e práticas profissionais.
No segundo encontro, foi possível refletir que a comunicação se diferencia da
fala propriamente dita, podendo esta ser um dos instrumentos comunicativos
(ZIMERMAN, 1997). Com o uso do falar interpretativo, analisou-se além do modo como
os sujeitos recebem as informações, na dinâmica, e as comunicaram, bem como o modo
como eles interagiram frente a uma situação de difícil interpretação.
Em meio as falas, no momento da discussão, foi ressaltado a importância da
comunicação assertiva, compreendendo que muitas vezes as pessoas se sentem
“inseguras, apressadas ou no automático” e que por esta razão, não conseguem parar
para perceber o outro, entendendo que o trabalho em equipe, em sua complexidade e seu
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papel transformador, a comunicação é tida como fundamental para que haja uma efetiva
mudança no modo de lidar com o outro, seja usuário ou colega de profissão (NOGUEIRA;
RODRIGUES, 2015).
Um dos participantes relatou que as “incógnitas” que apareceram na atividade,
serviram para refletir o serviço do CAPS, sento estas a representação dos usuários
quando chegam ao serviços ‘Muitas vezes não sabem o que acontece, e como acontece,
temos que nos comunicar e entender o que o usuário”. Isso ressalta que no serviço de
saúde mental o imprevisto é algo diário, sendo necessário sempre uma integração da
equipe para uma melhor efetividade do trabalho. Finalizamos com a fala de “entender o
outro para nos entendermos, melhorando assim a efetividade e a funcionalidade das
relações”. Este trabalho buscou gerar reflexões sobre as várias dificuldades que surgiram
na comunicação, a partir do local em que cada um comunica, sendo este lugar muitas
vezes regido pela formação técnico-cientificista, que por sua vez pode privilegiar um tipo
de saber (cientifico) como verdadeiro e inigualável, não reconhecendo o saber produzido
pelos saberes dos outros profissionais (CORIOLANO-MARINUS, 2014).
Ao discutir “O QUE É CUIDADO?”, o processo se mostrou divergências entre
as atribuições verbais e as imagens projetadas, quando nas imagens projetadas o
cuidado era consigo mesmo e nas falas o cuidado sempre era voltado para o outro. Este
ponto foi ressaltando, onde todos concordaram e relataram que é uma tarefa difícil cuidar
e olhar para si. Winnicott (1982) e Campos (2016), explicitam que o sentido de holding
permeia a prática de um cuidado realmente efetivo, onde este vai além do dar atenção ao
outro, e sim vivenciar juntamente com este outro as necessidades reais e possíveis.
Partindo da lógica de cuidado da mãe ou cuidador ao bebê em seu nascimento,
onde está acolhe, interpreta do modo como o recém-nascido se expressa, onde há uma
integração de cuidado e cuidador e com isto uma comunicação que não verbal, mas sim
interpretativa ressalta a real necessidade do outro. Faz-se um paralelo com o cuidado
diários dos profissionais com o outro, assim como consigo mesmo, onde a comunicação
que foi discutida anteriormente é fundamental para haver uma efetivação desse ver e
reconhecer o outro em sua real necessidade. Percebe-se que essa dissociação entre eu
e o outro, ainda mostra que os profissionais focalizam a atenção do seu self para o
cuidado com os usuários, podendo esquecer de si em prol de um cuidado, que
profissionalmente, diz sobre a renúncia do eu pelo outro, onde o cuidado e o cuidado se
fazem ser presentes na relação pela experiência (CAMPOS, 2016).
14
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

A reflexão final girou em torno da reflexão sobre a sobrecarga vividas por


somente alguns e de responsabilidade de todos, e que mesmo havendo essas
divergências, estas ações devem ser livres de julgamentos pessoais e sim construído
modos de se comunicar que possibilitem o reajuste das funções de acordo com suas
necessidades. Ressaltando por fim que, o julgamento do outro é também o julgamento de
si próprio. O cuidar do/com o outro é, indiretamente, o cuidar de si próprio.
Ao buscar aprofundar o sentido de cuidado, objetivou-se avaliar o autoconceito
dos/as participantes, promovendo estratégias de autoconhecimento, reconhecimento da
autoimagem e autoestima. Foi possível perceber que alguns profissionais mostraram
certo grau de dificuldade de encontrar imagens que os caracterizassem, em contrapartida,
outros/as profissionais, quando mostraram seus recortes, ressaltaram um sentido sempre
em relação a um corpo passado. Características pessoais como seriedade no olhar,
formato e cor dos lábios, tonalidade do cabelo, tipo físico, sempre expressando uma
similaridade com um ideal de ego. Tentou-se a partir disso, promover a autopercepção,
servindo como função de espelho, fazendo com que os sujeitos se reconheçam e
percebam conteúdos que estão esquecidos ou ocultados em si mesmos/as, reconheçam
o ‘outro’ como sujeito diferencial de si, bem como serem reconhecidos pelo/a outro/a,
onde é comum surgir sentimentos de consideração e gratidão, promovendo a passagem
de estados narcísicos para um estado de social-ismo (ZIMERMAN, 1997).
Em relação as falas, notou-se um certo grau de dificuldade na hora de elaborar
suas principais características, aparecendo falas como “é muito difícil falar de si mesmo”,
“não consigo pensar em mais nada que me defina”, dentre outras, sempre trazendo um
grau de impossibilidade na busca de definição. Esta proposta se baseou na necessidade
de ser trabalhado características pessoais, o autoconceito traz a consciência toda a
relação e visão que o participante tem consigo mesmo, podendo assim potencializar o
autocuidado e o cuidado com o outro. Por fim, foi discutido a importância de se
reconhecer frente ao outro e a si mesmo para que haja um cuidado realmente efetivo. O
autoconhecimento denota o sentido do autocuidado, podendo levar a crer que os
profissionais tem dificuldades de se perceberem, colocando o cuidado e a percepção do
outro em primeiro plano. Esta proposta acaba por “contribuir para a estruturação de um
self coeso, confiante e criativo, fica "registrada" como experiência a ser resgatada, ou
revivida, em momentos de crise ou vulnerabilidade” (CAMPOS, 2016, p.210), importante
no processo de autocuidado e no cuidado com o outro.
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Universidade do Extremo Sul Catarinense
VIII Semana de Ciência e Tecnologia

No caminho final do trabalho de apoio e cuidado ao cuidador verificou-se


presente resistências relacionadas às questões pessoas e grupais. Resistências estas
contra o acesso aos conteúdos inconscientes, dificultando a tomada de consciência, neste
caso sobre a importância serem cuidados/as frente as dificuldades que o trabalho do
CAPS impõe no seu dia a dia. Entende-se a resistência como tudo aquilo que venha, em
processo grupal se opõe ao acesso ao inconsciente, porém, pontua-se que esta
movimentação resistente é vista como delatora de defesas (ZIMERMAN, 1997). Sabe-se
que onde há resistência, há vontade de viver, mostrando que mesmo este espaço sendo
silenciado havia a vontade de ser cuidado (ZIMEMAN, 2004).
Ao fim, a estratégia de proporcionar um espaço de autocuidado e reflexões
acerca da saúde mental de si e do outro, em paralelo ao holding trazido por Winnicott,
buscou proporcionar uma construção com base no suporte social, onde se possibilitou o
fortalecimento dos afetos, comunicação, bem como criar sentimentos de proteção e apoio
dentre a equipe, contribuindo para a reestruturação do cuidado e empatia em momentos
de crises e vulnerabilidade (CAMPOS, 2016).

5 CONCLUSÃO

Conclui-se que na atual conjuntura do campo da saúde mental, de reafirmação


da relevância das estratégias de reabilitação psicossocial em serviços comunitários, o
papel dos trabalhadores de saúde mental tem sido compreendido como o de protagonista
do processo de cuidado (muitas vezes na perspectiva medico-centrada), ganhando assim
status de detentor de um saber que o habilita a cuidar subjetivamente do outro. Apesar da
existência das Politicas de Educação Permanente em Saúde, e de Humanização em
saúde, verifica-se a incipiência de ações que coloquem a saúde mental dos trabalhadores
de saúde mental como foco de projetos em CAPS.
Além disso, deparou-se com a dificuldade de encontra-se literaturas e
produções científicas que abordassem estratégias de cuidar do cuidado para além do
cuidado com cuidadores familiares. O cuidado com profissionais de saúde, sendo estes,
também, sujeitos que necessitam de atenção empática, proteção e auxilio, e quem têm
sido historicamente afetados pelo mundo do trabalho, com importantes impacto na vida
destes sujeitos, expressos nos índices de afastamento do trabalho por questões de saúde
mental.
16
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

Estas questões associadas as observações e diálogos no inicio do projeto,


levou o estagiário a refletir que as dificuldades encontradas no cotidiano do CAPS,
proporcionam quando compreendidas, a um crescimento humano e profissional que
viabiliza a tanto o desenvolvimento das potencias do serviço, como a promoção de saúde
mental dos trabalhadores do serviço de saúde mental.
Neste sentido, nos encontros realizados se deu prioridades aos temas de
interesse da equipe, onde questões como comunicação, autoconhecimento pessoal e
profissionais emergiram. A equipe avaliou de forma preocupada e desgastada a influência
das dificuldades de comunicação no desempenho e nas dificuldades individuais e grupais
no trabalho. Com isto, constatou-se que a integração grupal e o autocuidado podem levar
a uma melhora nas relações interpessoais da equipe, bem como uma melhora no cuidado
com o usuário, promovendo a intensificação do sentido de humanização, potencializando
as bases da Reforma Psiquiátrica Brasileira e da desinstitucionalização.
Entende-se que não há cuidado do outro sem o reconhecimento dos cuidados
necessários consigo mesmo, havendo uma dicotomia eu-outro, que quando não bem
clara, proporciona, em relação ao profissional, um direcionamento quase que exclusivo
para as necessidades desse outro. Considera-se também que, quando há o
reconhecimento da equipe em relação as suas necessidades, existe maiores condições
de autorregulação do grupo frente a estas necessidades.
Conclui-se ainda, que uma equipe capaz e efetiva é uma equipe coesa, e para
isto a permissão do erro, da desculpa e do recomeçar com o outro os coloca em par de
igualdade, não havendo hierarquia. Nota-se no grupo, uma potencialidade para um
serviço de referência, assim como vem se tornando, onde as práticas de cuidado ao
cuidador, bem como supervisões ou grupos que possibilitem estudos e espaços de
construção, vão dar suporte para uma equipe sólida e que se mostra presente na
militância da desinstitucionalização, ressaltando a importância e impacto da psicologia
social em meio a estes espaços.
Apesar do projeto não ter como característica realizar atividades de análise /
avaliação dos processos de trabalho, compreende-se que algumas tensões e resistência
ocorreram no processo atreladas as questões decorrentes das relações de trabalho.
Umas das questões verificadas como influenciadora de tais tensões é o fato de que os
encontros se davam no espaço de reuniões de equipe, quem em sua pauta discutem
tanto casos atendidos de forma multiprofissional / interdisciplinar, como questões dos
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

processos de trabalho. Verificou-se ainda, outro componente que facilmente era


expressado no cotidiano do serviço, compreendida como uma conjuntura de mudanças
estruturais, tanto no serviço como a nível mais macro na organização da rede de saúde
mental, com o fechamento dos leitos SUS do Hospital Psiquiátrico local. Por fim, o
distanciamento teórico-conceitual do projeto, com a práxis da equipe no cotidiano do
CAPS, evidenciou algumas lacunas, que gerou desconfortos que precisaram ser
mediados pelo facilitador.
Diante destas questões, os aspectos que constituam o objetivo geral do projeto
(consciência do conceito de cuidado, reflexão e problematização do papel de trabalhador
de saúde mental, e promoção de saúde mental dos trabalhadores), por vezes foram
levados a questionamento sobre sua relevância no presente espaço e tempo do projeto,
por compreender a delicadeza da temática diante da atual conjuntura micro e macro
politica. Optou-se, portanto, em continuar ofertando estratégias de apoio e
problematizando a inexistência de espaços de cuidado mutuo, que na perspectiva da
psicologia social comunitária, semeou a construção de uma perspectiva coletiva de
autocuidado junto aos trabalhadores do CAPS, diante de suas demandas cotidianas no
CAPS II. Sugeriu-se a continuidade das ações por parte da equipe, ou dos próximos
estágios, uma vez que diante de tais desafios, percebe-se a importância de se nutrir junto
equipe uma cultura de cuidado com cuidadores profissionais de CAPS.

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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

Trabalho Completo de Pesquisa

34580 - CANDIDÍASE VAGINAL: UMA BREVE REVISÃO SOBRE PREVENÇÃO E


TRATAMENTOS

Eduardo Zanatta Medeiros, Bertha Bloemer, Claudio Sérgio da Costa, Ana Paula
Bazo, Andressa Córneo Gazola, Adalberto Alves de Castro¹

¹Núcleo de Estudos Aplicados a Saúde – NEAS, Centro Universitário Barriga Verde.

A candidíase é uma patologia infecciosa causada por fungos. A identificação de infecção


no paciente consiste em uma ferramenta importante para a definição do tratamento
correto e sua completa recuperação. A candidíase vulvovaginal (CVV) é a segunda causa
mais comum de infecção vaginal caracterizada por coceira, ardor, corrimento, entre outros
fatores. O objetivo deste estudo é realizar uma revisão bibliográfica sobre aspectos de
prevenção e tratamento não farmacológico para candidíases albicans e vulvovaginal
através de artigos científicos. Esta pesquisa seguiu o preceito de estudo exploratório,
através de pesquisa de revisão bibliográfica integrativa, que busca informações sobre o
tema na literatura científica nacional e internacional. Após esse estudo pode perceber que
a maioria das mulheres entre 18 a 34 anos tem ou já tiveram algum problema relacionado
a infeção vaginal. Muitas infecções como a vulvovaginite por cândida estão relacionadas a
presença de ciclos menstruais regulares ou até mesmo o uso de hormônios. Os
profissionais de enfermagem precisam continuar orientando sobre doenças,
principalmente sobre candidíase. É de profunda importância para a mulher o incentivo
para a realização do exame Papanicolau anualmente, assim prevenindo qualquer
inflamação ou doença.

Palavras-chave: Candidíase, Doenças vaginais, Mulheres.

1 INTRODUÇÃO

A incidência de infecções fúngicas apresenta elevado crescimento nos últimos


anos onde a levedura ‘Cândida albicans’ é a líder das infecções. Esta levedura é
facilmente encontrada na mucosa bucal, trato gastrointestinal, trato urogenital e pele. O
gênero Cândida é constituído de cerca de 200 espécies de leveduras diferentes, que
vivem nos mais diversos nichos corporais (ALVAREZ, 2010).
A ‘Cândida albicans’ se apresenta amplamente distribuída na natureza,
ocupando diversos habitats, ao contrário de outras espécies do gênero e são
responsáveis pela maioria das infecções fúngicas em ambientes hospitalares e ambientes
comunitários propiciando a ocorrência de infecções (SILVA, 2004).
A identificação de infecção no paciente consiste em uma ferramenta importante
para a definição do tratamento correto e sua completa recuperação. A administração dos
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

medicamentos contra candidíase por via oral costuma ser a mais comum e se constituem o
principal recurso terapêutico. Estudos contínuos são necessários devido à relevância
dessas infecções constituindo-se um problema de Saúde Pública (FEUERSCHUETTE,
2010).
O Programa da Saúde da Família foi implantado no Brasil em 1994 tendo como
objetivo principal a reorientação do modelo assistencial da saúde brasileira. Ele teve como
base o PACS iniciado em 1990. Os municípios em que o PSF está adequadamente
implantado, com profissionais capacitados e integrados ao sistema municipal de saúde,
têm condições de dar soluções efetivas a mais de 85% dos casos de saúde da população
atendida (FERNANDES, 2009, p. 48).
A Candidíase Vulvovaginal é problema sério na saúde da mulher, e
profissionais atuantes na área de enfermagem têm a necessidade de conhecer os
aspectos desta patogenia, já que ela ainda apresenta grandes indagações para serem
respondidas (ARAUJO, 2013).
De acordo com Nunes (2009), a epidemiologia das candidemias no hospital
universitário – Universidade de Mato Grosso do Sul, as candidíases ocorreram
principalmente em pacientes bastantes debilitados, que passaram por procedimentos
invasivos e cirurgia de grande porte, que tiveram que utilizar antibióticos de amplo
espectro e permaneceram por um longo período internados. As faixas etárias mais
prejudicadas foram de recém-nascidos e adultos com idade superior a 60 anos. O agente
mais frequente nestas infecções foram a Cândida albicans, mas também houve o
predomínio de espécies de cândida não albicas.
O tratamento dessa patologia nem sempre é tão simples e pode exigir, às
vezes, a utilização prolongada de medicação para obter a sua cura. Isso se deve ao fato
de muitas vezes os profissionais de saúde tratar a candidíase um problema corriqueiro.
Neste sentido, este projeto tem sua relevância, pois devido às ações deste tipo,
normalmente aparecem casos rebeldes ao tratamento, trazendo grande angústia para o
paciente (KOSS, 2009).
Esta infecção é considerada problema de saúde pública e torna-se importante
que profissionais atuantes nessa área conheçam ambos os aspectos de maneira
atualizada em relação à patogenia. A atualização e o conhecimento de conceitos básicos
e clínicos relacionados à Cândida são essenciais para auxiliar no manejo dessa infecção
pelos profissionais da unidade de saúde.
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

Desta forma, o objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão e


atualização dos dados disponíveis sobre o tema, contribuindo com o aumento do
conhecimento sobre o assunto realizando um levantamento bibliográfico, caracterizando e
abordando os fatores de virulência dos agentes causais identificando a sua importância
nessa patologia.

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa em questão seguiu o preceito de estudo exploratório, através de


pesquisa bibliográfica que segundo Gil (2008, p. 50) é desenvolvido a partir de material já
elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Para a busca das
fontes abordadas neste trabalho de revisão foram utilizadas as seguintes palavras-
chaves: candidíase, cândida, corrimento vaginal, doenças vaginais, epidemiologia,
mulheres, vulvovaginal.
A busca por informações acerca do tema ocorreu na literatura científica
nacional e internacional encontradas online utilizando bases de dados como Scientific
Electronic Library Online (SCIELO), Medline Plus e Google acadêmico. O presente
trabalho se baseou no estudo de Mendes, Silveira e Galvão (2008) de revisão integrativa,
que é um método de pesquisa incipiente na enfermagem nacional, porém a sua
contribuição na melhoria do cuidado prestado ao paciente e familiar é inegável. A síntese
dos resultados de pesquisas relevantes e reconhecidos mundialmente facilita a
incorporação de evidências, ou seja, agiliza a transferência de conhecimento novo para a
prática.
Para o presente trabalho não foi delimitado um período de busca. Todos os
artigos independentes do ano e publicação que se encontravam nos bancos de dados
poderiam ser utilizados na escrita desta revisão bibliográfica.
Posteriormente, foram realizadas leituras com a finalidade de ordenar e
sumariar as informações contidas nas fontes, para que estas possibilitassem a obtenção
de respostas ao problema da pesquisa.

3 CÂNDIDA: ASPECTOS GERAIS

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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

A Cândida constitui um fungo presente na microbiota da pele e mucosa do


homem desde o seu nascimento. Esta levedura é detectada momento após o nascimento
na cavidade bucal do recém-nascido em todo o trato gastrointestinal da criança (BIRMAN,
2008). De acordo com Martins (2009, p. 38) estima-se que aproximadamente 80% das
mulheres já tiveram pelo menos um episódio de candidíase vulvovaginal (CVV) durante a
sua vida. Desses, 90% dos casos são atribuídos a Cândida albicans. A candidíase
vulvovaginal (CVV) é a segunda causa mais comum de infecção vaginal caracterizada por
prurido, ardor, dor e eliminação de um corrimento esbranquiçado (MALUF, 2007).
A candidíase é uma infecção causada por fungos e pelo crescimento excessivo
de um tipo de fungo denominado Cândida, geralmente Cândida albicans. Esse fungo é
normalmente encontrado em pequenas quantidades no corpo humano, não causando
qualquer sintoma. No entanto, certos medicamentos e problemas de saúde podem
fortalecer o crescimento deste fungo para esse fungo crescer, especialmente em áreas
quentes e úmidas do corpo. Isto pode causar sintomas desconfortáveis e às vezes
perigosas (BIRMAN, 2008, p. 100).
Os fatores de virulência são importantes para que os microrganismos se
estabeleçam no tecido e causem infecção ao aderir ao corpo humano e,
consequentemente uma etapa fundamental para a patogênese de muitas doenças
infecciosas se desenvolvam.
Segundo Almeida Filho (2005, p. 82) a patogenicidade de um microrganismo é
definida como sua capacidade de determinar doença, que é mediada por vários fatores.
Na vulva e a vagina encontramos de maneira recorrente edemaciada (órgão com acúmulo
de líquido no tecido do organismo) e hiperemiadas (uma coloração azul-avermelhada
intensificada nas áreas afetadas, de acordo com o acúmulo de sangue venoso). Existem
fatores que predispõe ao aparecimento da infecção: diabetes melitus, gravidez, uso de
anticoncepcionais orais, antibióticos, corticoides, imunossupressores, obesidade,
radioterapia, transplantes, infecção por HIV, dentre outros. Apesar de a virulência ser
determinada geneticamente, eles são expressos pelos microrganismos apenas quando
existem condições ambientais favoráveis específicas para cada microrganismo e para
cada isolado de determinado agente.
De acordo com Lacaz (2000) os principais fatores de virulência de leveduras
são:

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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

 Produção de tubos germinativos: a habilidade de transição da Cândida


albicans tem sido sugerida como importante fator de virulência por ter maior capacidade
de aderir e penetrar nas células epiteliais humanas do que outros tipos. Essas transições
representam uma resposta do fungo a alterações nas condições ambientais e possibilitam
a sua adaptação a diferentes nichos biológicos, e a consequente disseminação fúngica
nas células humanas;
 Comunicação fenotípica: significa alteração fenotípica na morfologia das
colônias de Cândida albicans. Normalmente existem várias diferenças entre as colônias
que apresentam comunicação entre as demais, incluindo mudança no formato, estruturas
de superfície celular e germinação a 37°C, que parecem ser mais virulentas;
 Aderência: a aderência permanente entre o microrganismo invasor e o tecido
do hospedeiro requer o estabelecimento de ligações específicas entre estruturas
complementares existentes na superfície do patógeno e da célula epitelial. Por isso, nem
sempre todas as etapas de virulência são cumpridas por um microrganismo, sendo
requisito básico para o estabelecimento de uma infecção que o patógeno entre em
contato com a camada que recobre a superfície epitelial da mucosa do hospedeiro;
 Produção de exoenzimas: muitas substâncias produzidas por Cândida
albicans têm sido associadas à infecção. As infecções por esse microrganismo estão
relacionadas diretamente com a produção de exoenzimas (grupo de substâncias
orgânicas de natureza normalmente protéica, com atividade intra ou extracelular que têm
funções catalisadoras, catalisando reações químicas);
 Genotípico: a identificação da genotípica tem sido possível graças aos
recentes avanços em biologia molecular. Através da análise do DNA genômico, Cândida
podem ser classificadas no nível de subespécies, sendo esses dados muito utilizados em
investigações epidemiológicas. Estudos genéticos têm determinado que, na maioria dos
casos de CVVR, um único isolado tem sido responsável pelos episódios sintomáticos
sequenciais;
 Hidrofobicidade celular: é conhecido que células leveduriformes hidrofóbicas
(superfícies que repelem a água). São mais virulentas em ratos do que células
leveduriformes hidrofílicas. Embora o mais forte mecanismo envolvendo a aderência
esteja relacionado com uma adesina manoproteína (complexos protéicos que
reconhecem e se ligam a receptores também protéicos na superfície da célula do

25
Universidade do Extremo Sul Catarinense
VIII Semana de Ciência e Tecnologia

hospedeiro) de Cândida albicans, a hidrofobicidade tem sido descrita por vários


investigadores como envolvida na aderência.
Na candidíase oral, os sintomas mais comuns incluem manchas brancas dentro
da boca e na língua, vermelhidão ou desconforto na região da boca, dor de garganta e
dificuldade em engolir e rachaduras em cantos da boca onde seus lábios se encontram. É
importante procurar um posto de saúde no caso do aparecimento desses sintomas de
candidíase oral. Se não forem tratadas, pode infectar sua corrente sanguínea, o que pode
ser muito perigoso (SALVATORE, 2011).

3.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

As manifestações clínicas causadas pela Cândida são diversas e podem gerar


infecções localizadas de mucosas e até mesmo uma doença disseminada que pode ser
fatal (ROSA, 2004). O fator que determina o tipo e a extensão da infecção causada é a
resposta imunológica do paciente.
Assim, em pacientes imunossuprimidos (que tem redução a atividade ou
eficiência do sistema imunológico) este mal pode ser considerado comum e recorrente. As
formas de manifestação da candidíase são basicamente a cutânea, mucocutânea e
sistêmica.
A candidíase cutânea pode acometer áreas do corpo como espaços
interdigitais, mamas, axilas, virilhas ou debaixo de unhas. A candidíase mucocutânea
acomete a cavidade oral e o canal vaginal, sendo a forma mais comum nos seres
humanos. E a candidíase sistêmica (disseminada) pode ocorrer em recém-nascidos de
baixo peso e hospedeiros imunocomprometidos. Este tipo acontece geralmente quando o
fungo atinge a corrente sanguínea, podendo afetar qualquer órgão e causar complicações
graves. Para Koss (2009, p 112) a cândida cutânea “é uma forma de candidíase rara, e
ocorre em pacientes terminais com doenças debilitantes”. Nesses casos, pode acometer
diferentes órgãos e tecidos como: pulmões, meninges, rins, bexiga, articulações, fígado,
coração e olhos. Almeida Filho (2005) relaciona algumas manifestações clínicas causadas
pela Cândida nos pacientes, que são:
 Esofagite: aparecimento de esofagite é quase sempre relacionado com
disfunção imune e não somente com fatores locais. Dentre os fatores de risco, incluem a

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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

supressão farmacológica da produção de ácido gástrico, uso de antibióticos, vagotomia


anterior, alterações esofágicas funcionais ou mecânicas, e as doenças endócrinas. É o
tipo mais frequente da doença de mucosa significativa.
 Candidíase orofaríngea: a Cândida albicans é um microrganismo presente
na flora normal da região orofaríngea. Sua transformação de microrganismo comensal
para patógeno está relacionada a fatores locais e sistêmicos. É uma infecção oportunista
mais comumente relatada em pacientes com AIDS. O aparecimento de candidíase oral
em indivíduo anteriormente saudável sem fatores de risco conhecidos deve levantar
imediatamente a suspeita de infecção por HIV.
 Candidíase pseudomembranosa: conhecida como “sapinho”, é a forma mais
comum e se manifesta por placas ou nódulos branco-amarelados, de consistência mole à
gelatinosa, na mucosa bucal, no palato, na orofaringe ou na língua. Na maioria dos casos,
essa forma da doença apresenta lesões assintomáticas, a não ser nos casos mais graves
onde os pacientes queixam-se de sensibilidade, ardência e disfagia.
 Candidíase eritematosa: lesão sintomática de sensibilidade intensa devido
às numerosas erosões dispersas pela mucosa e à inflamação presente, com localização
preferencial ao longo do dorso da língua. Na maior parte dos casos as lesões evoluem de
maneira assintomática, podendo causar ardência mediante a ingestão de alimentos
ácidos ou quentes.
 Candidíase atrófica crônica: conhecida como ‘estomatite por dentadura’
ocorre com frequência em pessoas que usam próteses superiores. Os sintomas clínicos
são: dor, irritação e distúrbios da salivação, entretanto, muitos pacientes são
assintomáticos.
 Candidíase vulvovaginal: é um dos diagnósticos mais frequentes na prática
diária em ginecologia e sua incidência tem aumentado drasticamente, tornando-se a
segunda infecção genital mais frequente no Brasil. Trata-se de uma infecção da vulva e
da vagina, causada pelas várias espécies de Cândida, que podem tornar-se patogênicas
sob determinadas condições que alteram o ambiente vaginal.
 Balanite: é uma inflamação aguda ou crônica da glande do pênis que pode
ser assintomática, com apenas um leve prurido, ou sintomática, iniciando-se com
vesículas no pênis que evoluem nos casos intensos, gerando placas

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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

pseudomembranosas, eritema generalizado, prurido intenso, dor, fissuras, erosões,


pústulas superficiais na glande.
 Candidíase cutânea: ocorre quando há condições de umidade e
temperatura, como as dobras da pele, embaixo das fraldas de recém-nascidos, e em
climas tropicais ou durante meses de verão.
 Candidíase mucocutânea crônica: raramente uma desordem conhecida
como candidíase mucocutânea crônica, consistindo em persistentes e recorrentes
infecções de membranas mucosas, couro cabeludo, pele e unhas, com uma variedade de
manifestações.
As manifestações clínicas da candidíase apresentam uma grande diversidade
de quadros, porém, como se pode observar, as formas mais frequentes encontradas da
doença podem ser localizadas ou sistêmicas (MIRANDA, 2008).

4 CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA SAÚDE

Dentre as atribuições do enfermeiro na atenção à saúde da Mulher está à


consulta de enfermagem sistematizada na unidade de saúde que envolve o método
científico para identificar situações de saúde e doença, prescrevendo e implementando
medidas de enfermagem que contribuam para a prevenção de agravos em caos de
cândida e reabilitação da saúde da cliente, da família e da comunidade (ROSA, 2004).
Durante décadas a atenção à saúde foi centrada no modelo de assistência
curativista, sem a preocupação com o paciente, mas com a doença já instalada. No
entanto, mudanças ocorreram com a Reforma Constitucional de 1988.

O artigo nº196 da CF estabelece a saúde como direito de todos e um dever do


Estado garantir políticas sociais e econômicas que visem à redução das doenças,
agravos e acesso igualitário aos serviços de saúde com intuito de promover a
prevenção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos (BRASIL, 2002).

Considerando o SUS como uma política pública de saúde, criada no advento


da Constituição atual, o compromisso assumido pela saúde coletiva aponta para um novo
paradigma no processo saúde e doença, sendo este entendido como processo histórico e
social que promove a saúde a partir da reorganização do modo de viver em sociedade
(ALVAREZ, 2010).

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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

O papel do enfermeiro nas questões envolvendo a cândida em mulheres


consiste no conjunto de orientações que este profissional presta as pacientes portadoras
desta patologia. Sabendo que a prevenção da infecção é sempre melhor que debelar um
processo infeccioso, dentre as recomendações que se pode instruir às mulheres, com o
intuito de prevenir o aparecimento de infecções causadas por Cândida, de acordo com
Martins (2009): evitar usar vestimentas muito justas; procurar usar lingerie de algodão;
evitar o uso de meia-calça, pois aumenta significativamente o aparecimento de
candidíases; ter uma alimentação saudável com pouca ingestão de açúcar, carboidratos e
consumo frequente de iogurtes acidófilos; usar preservativos para evitar todos os tipos de
vaginites; fazer uma higienização apropriada regularmente da região vaginal; durante a
gravidez a mulher deve evitar açúcar, álcool e alimentos fermentados, e adicionalmente
ingerir iogurte diariamente, e moduladores imunológicos (cápsulas de alho).
Ainda, de acordo com Martins (2009), constatada a doença, a mulher deve
seguir a risca o tratamento com antifúngicos e manter hábitos saudáveis como: seguir
com uma alimentação balanceada; repor a microflora vaginal, com lactobacilos; evitar ter
relações sexuais neste período ou fazer com uso de preservativo; deve ainda fazer uma
higienização adequada sem nunca fazer uso de ducha íntima, pois pode destruir os
microrganismos comensais da vagina e propiciar o aumento da colonização de
microrganismos patogênicos; seguir as orientações quanto ao uso de vestimentas
apertadas e alimentação apropriada.
A compreensão da enfermagem como processo de trabalhos como este
determinam as especificidades de sua inserção e organização no interior do trabalho em
saúde, das quais decorrem sistemas de trabalho, por referência a objetos, finalidades e
instrumentos diversos e com características centralizadas em torno das ações de cuidar,
administrar e educar.

5 PREVALÊNCIA E SUSCEPTIBILIDADE DE LEVEDURAS VAGINAIS

Estudo realizado pelo autor Galle e colaboradores (2004), que teve como
objetivo verificar a distribuição de gêneros e espécies de leveduras causadoras de
vaginite e analisar o perfil de sensibilidade das leveduras frente às drogas antifúngicas. O
método utilizado para o estudo foi de amostras colhidas de fluido vaginal de 250 pacientes
para cultura, realizando-se identificação e antifungigrama dos isolados. Após os exames
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

foram identificados que 27,6% das amostras teve leveduras do gênero Cândida. A
Cândida Albicans foi a levedura mais isolada com 74% dos casos, seguida foi de Cândida
Globrata, em 14,5%; Cândida Tropicalis, em 7,3%; e Cândida parapsilosis, em 4,3%. De
acordo com o autor todos os isolados de Cândida Albicans foram sensíveis à anfotericina
B, e apenas um isolado da espécie não-albicans apresentou concentração inibitória
mínima mais elevada. Após esse estudo concluiu-se que a Cândida Albicans foi a espécie
mais frequente encontrada na microbiota vaginal; no entanto, outras espécies foram
também comuns nessa população. Porcentual importante de isolados de Cândida
Albicans e não Albicans foi resistente a fluconazol e itraconazol, mostrando a importância
de realização de testes de identificação e antifungigrama para os episódios de Candidíase
Vaginal.
De acordo com o estudo de Barcelos e colaboradores (2008), que teve o
objetivo de descrever a prevalência e o perfil comportamental para infecções genitais em
mulheres atendidas em uma Unidade Básica de Saúde em Vitória, Espírito Santo, com
mulheres de 15 a 49 anos, atendidas numa área atendida pelo Programa Saúde da
Família (PSF) utilizou como critério de exclusão as mulheres que foram submetidas ao
exame ginecológico, em menos de um ano e mulheres que apresentaram histórico de
tratamento recente (nos últimos três meses), para infecções genitais. Esse estudo teve
como destacou como resultados principais que aproximadamente 70% relataram até oito
anos de escolaridade; 5% relataram infecção sexualmente transmissível prévia e 8% uso
de drogas ilícitas. Somente 23,7% relataram uso consistente de preservativo. As queixas
clínicas relatadas foram: úlcera genital (3%); disúria (7,7%); fluxo vaginal (46,6%); prurido
(20%) e dor pélvica (18%). As taxas de prevalência foram: Chlamydia trachomatis com
7,4%; gonorréia 2%; tricomoníase 2%; vaginose bacteriana 21,3%; candidíase 9,3%; e
alterações citológicas sugestivas de vírus 3,3%.

6 FATORES ASSOCIADOS À CANDIDÍASE VULVOVAGINAL

Uma pesquisa de Rosa e colaboradores (2004), avaliou os fatores de risco


para candidíase vulvovaginal identificados ao exame e anamnese ginecológico, em
amostra de conveniência. O método utilizado foi de estudo transversal, com amostra de
conveniência, envolvendo todas as trabalhadoras (135 mulheres) de uma indústria de
confecção em Criciúma (SC), sintomáticas e assintomáticas, no período de julho a
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

setembro de 2002. Após os exames, os resultados mostraram que a prevalência de


candidíase vulvovaginal foi de 19,3%. A frequência de vulvovaginite diagnosticada pelo
exame clínico foi de 17%, com sensibilidade de 38% e especificidade de 88%. O fator de
risco significante para vulvovaginite por cândida nessa população foi a presença de ciclos
menstruais regulares e para vulvovaginite clínica foi o uso de hormônios e idade entre 25
a 34 anos. Neste estudo concluiu-se que a prevalência de candidíase vulvovaginal é alta
entre mulheres consideradas saudáveis e o fator de risco encontrado com significância
estatística foi a presença de ciclos menstruais regulares, reforçando a importância de
possível relação entre o ciclo hormonal e está infecção. Embora haja fatores prevalentes
entre estudos literários e estudos locais é precoce afirmar, sem comprovação clínica e
laboratorial, a presença de candidíase vulvovaginal e tratá-la adequadamente.
O artigo de Oliveira e colaboradores (2007), comparou a frequência de
vulvovaginite em mulheres infectada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) com
mulheres não infectadas. Para esse estudo foi utilizado o método de corte transversal
realizado entre maio de 2006 e maio de 2007 numa amostra de 108 mulheres em dois
grupos (infectadas e não infectadas). Respeitados critérios necessários de inclusão
(maioridade, vida sexual ativa, sorologia positiva para HIV e negativa e assinatura de
termo de responsabilidade) e exclusão (gestantes, puérperas, com uso de antifúngicos ou
antibióticos nos últimos 30 dias, portadoras de diabetes mellitus, insuficiência renal e
fazendo uso de corticoides) todas as mulheres responderam um questionário e foram
submetidas a exame ginecológico de sangue e coleta de material vaginal. Também foram
analisados exames anteriores dos últimos 6 meses. Comparando-se os dois grupos, foi
observado com maior prevalência de infecções vaginais as pacientes com HIV, com uma
incidência de 29,7% nos casos, em comparação com a candidíase vaginal. Quanto aos
sintomas clínicos, nas três vulvovaginites o resultado foi semelhante entre os grupos.
Com relação à terapia antirretroviral, não houve diferença na frequência de infecções
vaginais nas mulheres que a utilizavam. Também a proporção de linfócitos T CD4 foi
semelhante entre os dois grupos. Podemos concluir que a candidíase e outras infecções
vaginais (VB e tricomoníase) são mais frequentes em portadoras de HIV. Portanto é
necessário que estas pacientes sejam submetidas, mais sistematicamente, a avaliações
ginecológicas.
Segundo o estudo feito por Gunther et al., (2014) que investigou a frequência
de isolamento total de Cândida spp. vaginal, e diferentes quadros clínicos (CVV e CVV
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recorrente CVVR) em mulheres com Diabetes Mellitus (DM) tipo 2 comparadas às não
diabéticas. A razão de cura do tratamento com fluconazol também foi avaliada. Este
estudo foi realizado no sistema público de saúde de Maringá, Paraná. O método estudado
envolveu 717 mulheres de 17 – 74 anos de idade e destas, 48 (6,7%) tinham DM 2 (média
de 53,7 anos), independentemente de sinais e sintomas de CVV. As leveduras foram
isoladas e identificadas por métodos fenotípicos clássicos. Os resultados desta pesquisa
foi que no grupo de não diabéticas (controle), leveduras vaginais totais foram isoladas em
79 (11,8%) mulheres, e no grupo de diabéticas, 9 (18,8%). O grupo de diabéticas mostrou
mais mulheres sintomáticas (CVV + CVVR = 66,66%) do que colonizadas (33.33%), e
significativamente mais colonização, CVV e CVVR, que as controle. A razão média de
cura com fluconazol foi de 75 % no grupo diabéticas e 86,7% no controle. A conclusão
após esse estudo foi que mulheres com diabetes mellitus tipo 2 associou-se com
colonização vaginal por leveduras, CVV e CVVR, razão similar de isolamento de cândida
albicans e espécies não albicans. Boa taxa de cura foi obtida com fluconazol em ambos
os grupos.

7 DIAGNÓSTICO CLÍNICO E CITOLÓGICO

O estudo de Camargo e colaboradores (2014), o estudo realizado teve como


objetivo estimar a prevalência da vaginose bacteriana, candidíase e tricomoniase e
compara com o diagnóstico microbiológico, obtido pelo estudo de Papanicolau. O método
utilizado por esse estudo é de corte transversal que inclui 302 mulheres com idades entre
20 a 87 anos, submetidas à entrevista e exames ginecológico para avaliação da secreção
vaginal e coleta de esfregaço citológico, no período de junho de 2012 e maio de 2013.
Para realizar a avaliação com acurácia das características da secreção vaginal foram
empregadas as análises de sensibilidade, especificidades, valor preditivo positivo (VPP) e
valor preditivo negativo (VPN). O exame citológico Papanicolau mostrou que houve
prevalência de vaginose bacteriana (25,5%), candidíase (9,3%) e tricomoníase (2,0%). As
características da secreção vaginal sugeriam também a prevalência de vaginose
bacteriana (34,8%), candidíase (16,6%) e tricomoníase (0,3%). A escolha do método do
diagnóstico requer, além das considerações cientificas, que seja de fácil emprego, pouco
complexo de realizar e baixo custo, para que possa ser acessível ao maior número de
mulheres possíveis. Por isso o Papanicolau, segundo a literatura, é ainda, o exame de
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

maior disponibilidade, baixo custo e eficácia comprovada para o diagnóstico da flora


vaginal, incluindo vaginite bacteriana, candidíase e tricomoniase.
Outro estudo realizado por Cavalcante e colaboradores (2005), teve como
objetivo verificar a prevalência de candidíase vaginal em mulheres submetidas a
screening para câncer cérvico uterino, comparando os resultados do Papanicolau e
bacterioscopia corada pelo Gram e a fresco. O estudo teve 145 mulheres, na faixa etária
de 15 a 45 anos, que, no período de janeiro a maio de 2002, as quais foram submetidas
ao preventivo do câncer cérvico uterino na Unidade Materno-Infantil do Centro de
Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade do Estado do Pará. Considerou-se
candidíase vaginal a identificação de Cândida sp. e ausência de Trichomonas vaginalis e
clue cells, em pacientes com corrimento vaginal. Após os exames os resultados foram
que a prevalência foi de 35%, sendo que a bactérioscopia detectou Cândida sp. em
74,8% das pacientes com corrimento e o Papanicolau em 22,5% destas. Após o estudo
conclui-se que a candidíase vaginal foi afecção prevalente e o exame bacterioscópico foi
o método laboratorial mais sensível na detecção do fungo.

7.1 EXAMES LABORATORIAIS, SINAIS E SINTOMAS CLÍNICOS DAS PACIENTES


COM CANDIDÍASE VULVOVAGINAL

O estudo realizado pelo autor Boatto e colaboradores (2005), teve como


objetivo, relacionar as leveduras identificadas aos sinais e sintomas clínicos das pacientes
com candidíase vulvovaginal e investigar a importância dos parceiros sexuais na
reincidência da infecção. O método utilizado foi um estudo de julho de 2001 a julho de
2003 com uma amostra de mulheres residentes na Grande São Paulo. Foram avaliadas
179 pacientes com suspeita clínica de vaginite fúngica, com idade entre 18 e 65 anos.
Foram excluídas pacientes grávidas, comprometimento imunológico intrínseco e
extrínseco, incluindo AIDS, diabetes e imunossupressão, pacientes em terapia com
corticosteroide, antibiótico ou hormônios, em pós menopausa, em uso de dispositivo intra
uterino e duchas vaginais ou espermicidas. Após o estudo resultou-se que os sinais e
sintomas clínicos mais relevante na candidíase vulvovaginal foram prurido e corrimento,
sendo por eritema. As manifestações de vulvovaginites foram mais prevalentes em
mulheres de 18 a 34 anos. A suspeita clínica foi confirmada por exame microscópico em
77 pacientes (43%), sendo sete na menopausa. Vulvovaginites de repetição foram
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

observadas em 24 (60%) mulheres, das quais 16 apresentaram dois episódios; seis, três
episódios e duas, quatro episódios, com tempo médio de 92,7 dias entre os episódios.
Dos 58 companheiros sexuais examinados, 38 eram sintomáticos e 20 assintomáticos. As
mesmas espécies foram detectadas nas companheiras e parceiros em 87% dos casos.
Conclui-se que os sinais e sintomas dominante como prurido e corrimento e outros menos
prevalentes, são presuntivos e não correlacionaram com as espécies isoladas. Os testes
laboratoriais são importantes para a confirmação etiológica do agente, inclusive de
infecções mistas. Em caso de vulvovaginite de repetição, os parceiros sexuais devem ser
avaliados devido à possibilidade de serem reservatórios de Cândida ssp.
O estudo realizado pelo autor Filho e colaboradores (2013) quantificou o
número de células de defesa e os níveis de imunoglobulina E (IgE) no sangue periférico
em amostra de mulheres com candidíase vaginal recorrente. O método utilizado neste
estudo foi de corte transversal com 60 mulheres, com 40 mulheres com candidiase
vulvovaginal e 20 mulheres do grupo de controle (sem doença). Após a pesquisa o
número de eosinófilo no sangue periférico de pacientes com candidíase vulvovaginal, teve
uma incidência maior do que o grupo de controle. Os níveis séricos de IgE total e
específica foram semelhantes em ambos os grupos de mulheres com e sem candidíase
vulvovaginal recorrente. Porém, observou-se uma correlação positiva moderada entre
eosinofilia e níveis de IgE total no sangue periférico de mulheres com candidíase vaginal
recorrente. Conclui-se, que mulheres com candidíase vaginal recorrente parecem ter
maior concentração de eosinófilos no sangue periférico que as assintomáticas.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após esse estudo verificamos com a presente revisão bibliográfica, que a


maioria das mulheres entre 18 a 34 anos tem ou já teve algum problema relacionado a
infecção vaginal. Algumas infecções como a vulvovaginite por cândida estão relacionadas
à presença de ciclos menstruais regulares, ou até mesmo o uso de hormônios. De acordo
com a literatura, o Papanicolau é o exame de maior disponibilidade de acesso, com baixo
custo e grande eficácia, que comprova o diagnóstico da flora vaginal.
Alguns estudos mostraram ainda que a Candidíase é mais frequente em
portadoras de HIV, e mulheres com diabetes mellitus tipo 2 apresentam grandes chances
de contraírem a candidíase vulvovaginal e a recorrente da mesma. O medicamento
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

fluconazol apresentou uma boa taxa de cura para cândida albicans e para outras espécies
não albicans.
A enfermagem pode repassar informações aos seus pacientes em vários
momentos durante as atividades em uma Unidade de Saúde, por exemplo: na hora da
consulta de enfermagem, em palestras sobre o tema, e principalmente na hora do exame
Papanicolau. O enfermeiro pode auxiliar com orientações sobre o uso inadequado de
vestimentas justas, orientar sobre o uso de preservativos para que não ocorra nenhum
problema relacionado a candidíase, DST, ou até mesmo uma gravidez precoce.
Assim, concluímos que os conhecimentos da equipe de enfermagem podem e
devem melhorar com capacitações aos profissionais que atuam nos procedimentos
diários com os pacientes, além de realizar o trabalho técnico que já está na rotina
profissional. Se faz necessário ainda, uma maior atenção na observação e na melhoria
em certos hábitos higiênicos femininos e na prática constante de procurar um auxílio
profissional sempre que a mulher seja acometida por sinais e sintomas indesejáveis que
possam comprometer sua saúde e seu bem-estar.

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37
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Trabalho Completo de Pesquisa

35432 - PREVALÊNCIA DE PARASITOS INTESTINAIS EM CRIANÇAS DE ESCOLA


ASSISTENCIAL DO MUNICÍPIO DE CRICIÚMA- SC

Luana Damiani Rosso1, Alisandra Valim Pereira2, Marilda da Rosa2, Ana Carolina da
Silva Vieira2, Ana Daniela Coutinho Vieira3, Renan Antônio Ceretta3, Cleonice Maria
Michelon3

1 Curso de Odontologia
2 Curso de Biomedicina
3 Professores da Unidade Acadêmica de Ciências da Saúde,
Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, Brasil.

Os parasitas intestinais são responsáveis por infecções que intensificam morbidade e


mortalidade principalmente em crianças em idade escolar. Estima se que 3,5 bilhões de
indivíduos se encontram infectados no mundo, destes, aproximadamente 450 milhões são
crianças. O clima brasileiro contribui como fator de disseminação dos parasitos intestinais
que são endêmicos em várias regiões do país, constituindo problema de Saúde Pública.
Os altos índices de parasitoses no Brasil estão relacionados à falta de saneamento
básico, ao nível socioeconômico e de higiene. O presente estudo tencionou determinar a
prevalência de parasitos intestinais em crianças de uma Instituição Assistencial do
município de Criciúma - Santa Catarina. Foram incluídas no estudo as crianças
matriculadas no 1º e 2º ano. Amostras de fezes foram coletadas no período de maio a
junho de 2016 e encaminhadas para o LENAC - UNESC. As amostras foram analisadas
pelo método de sedimentação espontânea. Os responsáveis pelos escolares
responderam um questionário socioeconômico. A amostra foi constituída de 52 escolares,
sendo 53,8 do sexo feminino. Das amostras analisadas 23% mostraram positividade para
parasitos intestinais, sendo que Entamoeba coli esteve presente em 83,3% das crianças
parasitadas, Giardia lamblia em 16,6% e Ascaris lumbricoides em 8,3%. Com respeito às
condições de vida, 51,9% apresentaram renda entre 1 e 2 salários, 96,2% são
beneficiados com água tratada, 94,2% têm coleta de lixo e 82,7% tem tratamento de
esgoto. Os resultados mostraram correlação significativa entre o consumo de água não
tratada e o desenvolvimento de parasitoses intestinais.

Palavras-chave: Parasitos Intestinais, Prevalência, Escolares, Saneamento básico.


Fonte financiadora: UNESC

1 INTRODUÇÃO

De acordo com Neves (2011) o parasitismo é uma relação que se baseia na


associação entre seres vivos onde somente um se beneficia. O parasito como agente
agressor utiliza o hospedeiro como fonte alimentar e como abrigo. Favorecendo-se e
podendo causar dano ao hospedeiro, bem como a doença parasitaria decorre de um
desequilíbrio entre ação do parasito e o potencial de resistência do hospedeiro.

38
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

Os parasitos intestinais são responsáveis por infecções decorrentes do meio e


das circunstâncias as quais os indivíduos estão expostos. Estes intensificam morbidade e
mortalidade, e merecem atenção principalmente em países em desenvolvimento, onde o
saneamento básico é precário ou inexistente (BATISTA; TREVISOL; TREVISOL, 2009;
GIL et al., 2013; CARDOSO et al, 2015). Nos países em desenvolvimento
aproximadamentente 2,5 bilhões de indivíduos não tem acesso a saneamento adequado
e 780 milhões de indivíduos ainda não têm acesso à água potável em todo o mundo
(CDC, 2014).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 3,5 bilhões de indivíduos
se encontram infectados por helmintos e protozoários intestinais no mundo, no entanto,
destes, estima-se que 450 milhões são crianças (BELO et al, 2012; GIL et al, 2013;
CARDOSO et al, 2015). Mais de 1 bilhão de indivíduos no mundo estão infectados por
Ascaris lumbricoides, Trichuris trichuria e Ancilostomídeos, os helmintos mais prevalentes
na epidemiologia mundial, 600 milhões indivíduos no mundo estão infectados por
Entamoeba histolytica e por Giardia lamblia, os protozoários mais prevalentes na
epidemiologia mundial (CARDOSO et al, 2015). Entre os protozoários intestinais a
Entamoeba histolytica infecta 50 milhões de indivíduos e a Giardia lamblia infecta 500
milhões de indivíduos anualmente na Ásia, África e na América latina (GIL et al, 2013).
Os parasitos intestinais afetam aproximadamente 30% da população mundial.
Estes números costumam evidenciar as fragilidades socioeconômicas de países onde
estas enfermidades são endêmicas (BELO et al, 2012; SILVA et al, 2015). As doenças
parasitárias intestinais são responsáveis por degradar o estado de saúde dos indivíduos
infectados, mostrando quadros assintomáticos e quando sintomáticos as manifestações
mais comuns são anorexia, irritabilidade, alterações do sono, náuseas, êmese, diarréia e
dores abdominais (BELO et al, 2012; BARBOSA; SOUZA; THOMÉ, 2015).
O clima brasileiro contribui como fator de disseminação dos parasitos
intestinais que são endêmicos em várias regiões do país, constituindo problema de saúde
pública de difícil solução. Os protozoários e os helmintos, agentes causadores das
doenças parasitarias intestinais encontram-se amplamente distribuídos geograficamente
no Brasil, ambos atingem tanto a áreas rurais quanto áreas urbanas (CARDOSO et al,
2015).
Os altos índices de parasitoses no Brasil estão relacionados à falta de
saneamento básico de muitos dos municípios brasileiros. De acordo com Instituto
39
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2008), de 5564 municípios pesquisados,


3069 tinham algum tipo de esgotamento sanitário, evidenciando a falta de infraestrutura
básica dos municípios brasileiros. Ainda segundo o IBGE (2008) a população da área
rural é mais desfavorecida em abastecimento de água que a população da área urbana
em todas as regiões do Brasil com uma desigualdade de 91,9% para 25,2%. As áreas
rurais também exibem uma menor cobertura de esgotamento sanitário em relação à área
urbana. Em algumas áreas do Brasil como do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, essa
cobertura passa a ser inferior a 60%, inclusive na área urbana (BRASIL, 2010).
O saneamento básico se baseia, entre outros aspectos, no abastecimento de
água às populações e no tratamento de esgoto sanitário. Portanto a água deve garantir
condições básicas de conforto e de promoção da saúde para população atendida pelos
serviços de saneamento básico. Isto é, o abastecimento de água potável é relacionado à
promoção de saúde e qualidade de vida. Assim, o consumo de água inadequada acarreta
na ocorrência de enfermidades, gerando problemas de saúde pública (GUIMARÃES;
CARVALHO; SILVA, 2007).
Conforme Macedo (2004) a água veicula a transmissão de doenças
infectocontagiosas através da ingestão de água contaminada ou da utilização desta em
outras atividades humanas, como preparo de alimentos, uso na agricultura e na pesca.
Sendo que a contaminação da água por fezes humanas e de animais e também em
contato com solo e vegetais, representa a principal fonte de contaminação.
Segundo Tsutiya (2006) as enfermidades que podem ser transmitidas pela
água estão no grupo das Doenças Infecciosas e Parasitárias – DIP, conforme a
Classificação Internacional de Doenças – CID, estabelecida pela Organização Mundial da
Saúde. Entre as DIP, as doenças caracterizadas por veiculação hídrica são as infecciosas
intestinais caracterizadas pelas diarreias, sendo que, entre as melhorias do saneamento
básico, os sistemas de abastecimento de água são os que geram maior impacto na
redução de doenças infecciosas.
Em um levantamento multimetacêntrico feito em estudantes em faixa etária de
7 a 14 anos, abrangendo alguns estados do Brasil, 55,3% de crianças albergavam algum
parasito intestinal, do qual a ascaridíase, tricuríase e a giardíase exibiram uma divisão
semelhante, comprovando ampla disseminação e elevada incidência dos parasitos
intestinais no país. Os parasitos intestinais albergados por crianças em idade escolar
assumem destaque não somente pela morbidade, mas pela forma como estão ligados
40
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

aos casos de diarreia infantil, levando à insuficiência nutricional, deficiência estrutural, e


intelectual como dificuldade de concentração e aprendizado e em quadros diarreicos mais
graves podendo levar a óbito (BARBOSA et al, 2009; SANTOS, 2014).
As complicações causadas pelas doenças diarreicas matam mais crianças que
a AIDS, malária e sarampo juntos, fazendo das doenças diarreicas a segunda maior
causa de óbito de crianças menores de 5 anos de idade no mundo. Em 88% dos óbitos
por doenças diarreicas são conferidos a falta de higiene, água e saneamento
inadequados (CDC, 2014).
As crianças requerem cuidados diferenciados, pois a infecção parasitária leva a
morbidade que pode levar a alterações biológicas dependendo da espécie, assim
ocasionando deficiência nutricional (Ascaris lumbricoides e Trichuris trichiura), anemia
ferropriva (Ancylostoma duodenale ou Necator americanus), diarreia e má absorção
(Entamoeba histolytica e Giardia lamblia), alteração do trânsito intestinal, gerando
retenção das fezes ou dificultando a evacuação, aumento exagerado de gases
particularmente no intestino, trazendo um desconforto abdominal com dores intensas,
produzindo dificuldade no aprendizado entre outras alterações psicológicas,
demasiadamente relacionadas à carga parasitaria (SANTOS, 2014).
As crianças possuem o sistema imunológico imaturo que juntamente com
deficiência nutricional, a alta carga parasitária induz a ocorrência de casos graves, como
obstrução intestinal, volvo, colite fulminante com perfuração, abscesso cerebral que
podem ocasionar uma sepse e em consequência levar ao óbito (BATISTA; TREVISOL;
TREVISSOL, 2009; SILVA et al., 2015).
Crianças em idade escolar são mais acometidas por parasitos intestinais, pois
estão constantemente expostos a condições de infecção e reinfecção. Os espaços
coletivos sustentam grande circulação e transmissão de microrganismos patogênicos
devido ao elevado contato entre elas, devido os maus hábitos de higiene pessoal e
coletiva, por terem contato maior com solo levando a mão, objetos e/ou alimentos
potencialmente contaminado a boca (ARAUJO FILHO, et al, 2011, SILVA et al., 2015).
Os ambientes usados para recreação infantil são de alta transmissibilidade, em
um levantamento feito nas caixas de areia em sete escolas municipais de educação
infantis em Uruguaiana, 100% delas foram positivas para parasitos, sendo que os ovos de
Ancilostomídeos foram os mais prevalentes, e quanto a sazonalidade o número ovos
aumentou com chegada do verão (FIGUEIREDO et al., 2011).
41
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

Dentro deste contexto os estudos de prevalência se propõem em determinar a


problemática das altas taxas de morbidade associadas aos parasitos intestinais, visando
melhorar a qualidade de saúde dos escolares já que, estes ambientes são propícios para
essas infecções, afetando-os diretamente, alterando seu potencial intelectual e físico,
para tanto o objetivo deste estudo foi determinar a prevalência de parasitos intestinais e
promover atividades de prevenção através informações a respeito das formas de
contágio, diagnóstico, tratamento e profilaxia usando uma linguagem simples, música,
teatro e brincadeiras ligando a higiene com educação sanitária eficaz para solução da
problemática que as doenças parasitárias produzem nas crianças.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 HELMINTOS MAIS PREVALENTES

Ascaris lumbricoides, Trichuris trichuria e Ancilostomídeos, são os helmintos


mais prevalentes encontrados no trato gastrointestinal dos seres humanos (CARDOSO,
2015) onde produzem seus ovos, eliminando por meio das fezes. Apresentam o mesmo
mecanismo de transmissão para o ser humano, por meio da ingestão de ovos do parasita
através do contato com solo contaminado, na água e/ou alimentos contaminados com
fezes (REY, 2002).
Ascaris lumbricoides é agente responsável pela ascaridíase doença que é
comum, sendo os sintomas mais comuns, dor abdominal, diarreia, náuseas e anorexia;
podendo causar obstrução intestinal e em alguns pacientes pode apresentar infestações
pulmonares causando bronco espasmo hemoptise e pneumonite, e até mesmo a
expulsão do verme adulto por via oral (BRASIL, 2010, NEVES, 2011).
A tricuríase é causada pelo helminto Trichuris trichiura e pode ser
assintomática, mas em pacientes debilitados nutricionalmente, de acordo com a
quantidade de vermes leva sintomas graves e morte do parasitado (REY, 2002; AMATO
NETO, 2008). Os principais sintomas são: dor abdominal, tenesmo, perda de peso,
flatulência, constipação e febre, ocorrendo intensa irritação intestinal e prolapso retal,
devido grande quantidade de vermes no intestino grosso (BRASIL, 2010; NEVES, 2011).
Ancilostomideos são responsáveis pela Ancilostomose, doença popularmente
conhecida como amarelão, causada por nematódeos dos gêneros Ancylostoma
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duodenale e Necator americanus, esses parasitas se fixam no intestino delgado de seu


hospedeiro sugando seu sangue, podendo apresentar-se de forma assintomática ou não
sendo os principais sintomas a anemia ferropriva, desnutrição, vômitos, diarreia e
flatulência (AMATO NETO, 2008; NEVES, 2011).

2.2 PROTOZOÁRIOS MAIS PREVALENTES

Giardia lamblia e Entamoeba histolytica são protozoários patogênicos, mais


frequente em seres humanos (CARDOSO, et al., 2015), apresentam cisto como forma de
transmissão (NEVES, 2011).
A Giardia lamblia é um protozoário patogênico mais frequente em crianças,
sendo que sua contaminação fecal-oral em grande parte se deve a presença de cisto na
água, esse predomínio se deve ao fato da cloração usado no tratamento da água não ser
o suficiente para eliminar o cisto e hábito de não se ferver a água usada para beber, o
cisto também pode estar nos alimentos e em ambientes contaminados por fezes, a
Giardia lamblia acomete principalmente a porção superior do intestino delgado, sendo
muitas vezes assintomática, quando se apresenta de forma aguda podem ocorrer os
seguintes sintomas: dor abdominal acompanhada de diarreia, o principal agravamento
está no aumento de trofozoíto agregado a má absorção de gordura e vitaminas,
acarretando em fezes líquidas de aspecto gorduroso e persistente, cansaço, falta de
apetite, flatulência e distensão abdominal (REY, 2002, NEVES, 2011).
Amebíase é a doença causada por protozoário Entamoeba histolytica. Os
cistos ou trofozoítos podem ser transmitidos ao indivíduo humano através de água
contaminada por fezes humanas, e os alimentos ingeridos contaminados são os modos
mais comuns de transmissão (NEVES, 2011).
Os sintomas podem variar desde um leve desconforto abdominal, até uma
diarreia aguda e fulminante, de aspecto sanguinolento e com muco, presença de febre e
calafrios. Em casos graves os trofozoítos se espalham pela corrente sanguínea. O
período de incubação varia entre 2 a 4 semanas podendo durar dias ou anos. As
complicações mais severas são o granuloma amebiano na parede abdominal, abcesso
pulmonar, hepático ou cerebral, pancreatite, empiema, colite fulminante com perfuração.
No diagnóstico os cistos ou trofozoítos são encontrados nas fezes, ou raspados
realizados através de endoscopia digestiva, aspirados ou cortes de tecidos dos órgãos
43
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acometidos. A tomografia computadorizada também pode ser um exame útil no


diagnóstico dos abcessos (BRASIL 2010; NEVES, 2011).

2.3 PROTOZOÁRIOS COMENSAIS

Com frequência são detectados protozoários nos exames parasitológicos de


fezes, que até o momento não se tem conhecimento de ação patogênica. Eles têm
importância pelo fato de conferir exposição a parasitos por via hídrica ou alimentar e
também porque não há designação de tratamento para erradicação desses agentes. Os
protozoários Entamoeba coli e a Endolimax nana e as demais amebas gastrointestinais
são apontados como não patogênicos, porém indicam contaminação oral-fecal e ambiente
precário de higiene. A Entamoeba díspar não patogênica pode ser confundida devido à
grande semelhança morfológica com a Entamoeba histolytica no exame de fezes
(REY,2002).
A Entamoeba coli são as amebas comensais mais encontradas nos seres
humanos, dentre que seu diagnostico deve-se a diferenciação nas dimensões dos cistos e
trofozoítos (NEVES, 2011).

3 METODOLOGIA

O estudo transcorreu no município de Criciúma/SC em uma Instituição


Assistencial, sendo parte do projeto de extensão Prevenção de Doenças Infecciosas e
Parasitárias, vinculado ao programa de Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças. A
amostra foi censitária, consistindo em aplicação de questionário socioeconômico aos pais
ou responsáveis (renda familiar, saneamento básico, hábitos higiênicos) e coleta de
material biológico (fezes) de escolares dos 1º e 2º anos. Das 150 crianças matriculadas,
participaram do estudo 52 crianças entre 6 e 8 anos. Para coleta das fezes, foram
entregues orientações impressas aos pais ou responsáveis, sendo dispensado aos
mesmos um frasco coletor de boca larga totalmente isento de contaminação, ideal para
coleta da amostra fecal, sendo que foi solicitado a cada escolar apenas uma amostra de
fezes. Posteriormente, a amostra foi entregue na Instituição juntamente com o Termo de
Consentimento Livre Esclarecido e com questionário socioeconômico devidamente
preenchidos e assinados pelos pais ou responsáveis. As amostras foram refrigeradas
44
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

como forma de preservação, acondicionadas em caixas térmicas e enviadas ao


Laboratório de Ensino em Análises Clínicas – LENAC I pertencente aos Cursos da Saúde,
da Universidade do Extremo Sul Catarinense, onde se processou as análises. As
amostras foram recebidas e cadastradas em formulário contendo os dados da criança e
analisadas por sedimentação espontânea. O método de Hoffman, Pons, Janer ou Lutz
(HPJ), sendo um dos métodos mais utilizados na rotina laboratorial, pois este permite a
pesquisa de ovos e larvas de helmintos e cistos e alguns oocistos de protozoários que
possuem tamanho maior (NEVES, 2011). Após obtenção dos resultados, foi determinada
a prevalência de parasitos na população estudada e feita correlação com os aspectos
socioeconômicos, sanitários, hábitos de higiene, idade, sexo, pelo teste estatístico Qui-
quadrado, considerando nível de significância de 95%, através do programa estatístico
SPSS 20.0. Os resultados foram apresentados na forma de gráficos e tabelas.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos -
CEP da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, Número do Parecer
1.521.740.

4 RESULTADOS

Das 150 crianças matriculadas no 1º e 2º anos do Bairro da Juventude em


Criciúma convidadas a participar da pesquisa, 52 crianças aderiram ao exame de fezes
juntamente com questionário e o termo de consentimento, sendo que 28 eram do sexo
feminino e 24 do sexo masculino, com idade de 6 a 8 anos, entre maio a junho de 2016.
Verificou-se que a maior parte dos participantes (51,9%), possui renda familiar
entre 1 e 2 salários mínimos, enquanto que somente 5,8% das famílias possui renda entre
3 e 5 salários mínimos mensais, sendo que a renda familiar não mostrou correlação
estatisticamente significativa com a positividade dos exames de fezes.
A análise das 52 amostras de fezes mostrou 12 (23%) resultados positivos,
apresentaram positividade para um ou mais parasitos, e 40 (77%) resultados negativos
(Gráfico 1). Dentre os casos positivos que foram detectados, considerando somente os
patogênicos, o percentual cai para 5,76%.

Gráfico 1 - Resultados do exame parasitológico de crianças de Instituição Assistencial do


município Criciúma/SC, (n=52), 2015.
45
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

Fonte: dados do pesquisador, 2016.

A baixa positividade para parasitos patogênicos observada na população


avaliada pode ser decorrente da assistência em saúde recebida pelos estudantes da
Instituição que conta com assistência permanente de médico, odontólogo e profissional de
enfermagem.
Nossos resultados se aproximam dos apresentados em estudo realizado no
município de São Joaquim/SC por Schimitt e Paes (1997) que mostrou 22,36% de
positividade para parasitos.
Diversos autores efetuaram estudos semelhantes no Brasil e no mundo, porém
as prevalências foram bastante divergentes (Tabela 1), possivelmente por diferenças em
aspectos socioeconômicos, sanitários, epidemiológicos, culturais, da metodologia
aplicada e do número de amostras (SCHIMITT; PAES, 1997; SANTOS, 2014; SOUZA;
THOME; SOUZA, 2015; CAVAGNOLI et al., 2015).

Tabela 1: Prevalência de parasitoses em crianças em idade escolar nas diferentes


regiões do Brasil.
Cidade/Estado Prevalência % Autor Ano
Coari/AM 83,00 SANTOS et al. 2010
Italva/RJ 71,05 SOUZA; THOME; SOUZA 2015
Florianópolis/SC 61,40 SANTOS et al. 2014
Crato/CE 60,80 COUTINHO et al. 2011
Cunha/RS 10,00 CAVAGNOLLI 2015

Estudo realizado por Escobar-Pardo et al., (2010), no Parque Indígena do


Xingu na região norte do Brasil, avaliou a prevalência de parasitos intestinais em 304

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crianças indígenas entre dois e nove anos, foram coletadas duas amostras com intervalo
de um ano, em uma primeira amostra de duzentas e duas crianças identificou-se
presença de parasitoses em 97,5%, a segunda contou com cento e duas crianças, onde
96,1% foram positivas. Em estudo realizado no Centro de Saúde Municipal de Criciúma,
Santa Catarina por Schnack et al. (2003), com crianças de 0 a 5 anos em quadro
diarreico, 85,1% estavam infectados por Cryptosporidium, e 56,4% por Giardia lamblia,
4,3% infectados por Entamoeba histolytica, e 4 amostras foram positivas para Escherichia
coli enteropatogênica, sendo que apenas uma das amostras positivou para Rotavírus.
Entre os resultados positivos encontrados nos escolares da Instituição
Assistencial, os parasitos mais frequentes foram o protozoário comensal Entamoeba coli,
seguido pelo patogênico Giardia lamblia, e o helminto encontrado Ascaris lumbricoides
conforme Tabela 2.

Tabela 2: Frequência de parasitos intestinais encontrados na análise de fezes de


escolares da Instituição Assistencial do município de Criciúma/SC.
Parasitos intestinais Frequência n (%)
Entamoeba coli 10 (83,3)
Giardia lamblia 2 (16,6)
Ascaris lumbricoides 1 (8,3)
n= 13
Fonte: dados do pesquisador, 2016.

A frequência elevada de Entamoeba coli é preocupante, pois conforme Basso


et al. (2008), ainda que o protozoário seja comensal, sua transmissão é por via fecal-oral,
situação de risco de infecções por organismos patogênicos que possuem o mesmo
mecanismo de disseminação. Segundo o estudo que visou avaliar a variação em 35 anos
da prevalência de parasitos intestinais nos escolares de Caxias do Sul/RS, houve
crescimento do parasito Entamoeba coli, sendo o protozoário não patogênico mais
prevalente, redução na helmintíase por Ascaris lumbricoides, para Giardia lamblia não
houve alteração significativa na detecção ao longo do tempo.
A frequência de Giardia lamblia, pode estar subestimada, pois a eliminação da
forma evolutiva do parasito é intermitente nas fezes, visto que o necessário seria de pelo
menos três amostras fecais de cada aluno (NEVES,2011), sendo que este estudo teve
intervenção transversal, obtendo-se apenas uma amostra de cada aluno. Já a frequência
de Ascaris lumbricoides foi a mais baixa, o que pode ser um indicativo de melhores
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VIII Semana de Ciência e Tecnologia

condições de saneamento básico, sendo 82,7% utilizam rede de esgoto para o destino
final dos dejetos e 96,2% relataram consumo de água tratada.
Apesar do baixo percentual de consumo de água não tratada relatado, houve
correlação estatisticamente significativa entre o consumo de água não tratada e a
presença de parasitos intestinais (Gráfico 2). Segundo Macedo (2004) o uso de agua não
tratada para consumo humano contribui para transmissão de vários parasitos, pois suas
formas evolutivas são veiculadas pela água sendo este um fator de risco já conhecido
para desenvolvimento de doença parasitária.

Gráfico 2: Correlação dos parasitos pela qualidade da água de abastecimento das


moradias dos 52 estudantes da Instituição Assistencial Bairro do município Criciúma/SC,
amostra da pesquisa.
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
*
Entamoeba coli Giardia lamblia Entamoeba Ascaris lumbricoides Negativo
coli/Giardia lamblia

Água Tratada Água Não Tratada

Fonte: dados do pesquisador, 2016.


*p<0,000

Em um estudo realizado com 257 escolares com idades entre cinco e treze
anos, em doze escolas da rede municipal, localizados na zona urbana de Caxias do Sul -
RS, revelou-se uma baixa prevalência das parasitoses nas amostras pesquisadas, onde
99,2% consumiam água potável, e moradias com boas condições de saneamento
(CAMELLO et al., 2016).
No que se refere ao gênero da população estudada, 28 (53,8%) pertenciam ao
sexo feminino e 24 (46,2%) ao sexo masculino, a infecção por helminto foi diagnosticada
48
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somente no sexo feminino, protozoários foram detectados em ambos os gêneros. A


análise correspondente à faixa etária mostrou que 23 (44,2%) dos alunos tinham 6 anos,
23 (44,2%) 7 anos e 6 (11,5%) tinham 8 anos. Em relação à positividade nas diferentes
faixas etárias, observou-se que dos infectados por Entamoeba coli 22,2% tinham 6 anos,
66,7% tinham 7 anos e 11,1% tinha 8 anos, a criança infectada por Ascaris lumbricoides
tinha 6 anos, dos parasitados por Giardia lamblia e por biparasitismo por Entamoeba coli/
Giardia ambos tinham 7 anos.
No estudo de Santos et al. (2014) a faixa etária com maior prevalência foi entre
5 e 6 anos, o que difere da pesquisa atual, onde o maior número de parasitados foram
encontrados nos indivíduos de 6 e 7 anos. Em Seefeld e Pletsch (2007) a faixa etária com
maior presença de parasito foi a de 6 e 7 anos, o que se assemelha com o presente
estudo. Belloto et al., (2011) em Mirassol/SP afirma que a maior positividade foi entre 8 a
10 anos, sendo que não observou significância entre as faixas etárias. No estudo de
Costa et al. (2015) em Xanxerê/SC, 66% das crianças que frequentavam uma escola de
ensino público, de seis meses a 5 anos de idade, encontravam se parasitadas.

5 CONCLUSÃO

Frente aos resultados observados fica evidenciada a existência de uma relação


direta entre as crianças parasitadas e o uso de água não tratada. A falta de cuidados com
o tratamento preventivo é considerada uma importante forma de veiculação de parasitos,
o que sugere a necessidade da própria população fazer o tratamento adicional da água a
ser consumida como ferver ou fazer uso de filtros.
Podem ser apontados como limitações do estudo: o baixo número de amostras,
resultante da baixa adesão dos pais ou responsáveis e também o número de coletas
realizadas, sendo que um resultado ideal e satisfatório deve prover de três amostras
consecutivas, minimizando o risco de se obter um resultado falso negativo relacionado ao
ciclo biológico dos parasitos.

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