Filosofia e Educação - Texto 3 (Unidade 4)

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Artigo P á g i n a | 38

DOI: 10.20396/rfe.v14i2.8668592

A relação entre filosofia e educação: aportes teóricos e


orientações metodológicas para a pedagogia

Maria Núbia de Araújo1


Maria Elly Krishna dos Santos Pereira2
Ruth Maria de Paula Gonçalves3

Resumo
O texto discute os fundamentos filosóficos e as contribuições teórico-metodológicas
para a pedagogia, com a análise das concepções educacionais pedagógicas, constituem
nossas pesquisas na pós-graduação. De natureza teórico-bibliográfica apresenta uma
síntese das correntes da filosofia da educação, a função social, limites e possibilidades
considerando a especificidade na sociedade de classes nos autores: Aranha (1996);
Saviani (2012, 2013, 2013ª) e Severino (1994). A educação e a formação humana no
modo de produção capitalista perpassam por mecanismos explícitos e implícitos
inerentes às teorias educacionais e à práxis educativa determinando as concepções de
homem, de mundo e de sociedade.

Palavras-chave: Filosofia da educação. Teoria pedagógica. Pedagogia.

The relationship between philosophy and education: theoretical


contributions and methodological guidelines to pedagogy

Abstract
The textual content discusses the philosophical foundations and the theoretical-
methodological contributions to pedagogy, with the analysis of pedagogical educational
conceptions, which constitute our research in postgraduate studies. A theoretical-
bibliographic nature, it presents a synthesis currents of the education´s philosophy, the
social function, limits and possibilities considering the specificity in the class society in
authors: Aranha (1996); Saviani (2012, 2013, 2013a) and Severino (1994). Education and
human formation in the capitalist mode of production runs through explicit and implicit
mechanisms inherent to educational theories and educational praxis, determining the
conceptions of man, the world and society.

Keywords: Philosophy of education. Pedagogical theory. Pedagogy.

1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do


Ceará. Professora da Educação Básica na Secretaria Municipal de Educação Ciência e
Tecnologia do município de Caucaia-Ceará. E-mail: [email protected]
2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do

Ceará. Professora na Secretaria de Educação do Estado do Ceará. E-mail:


[email protected]
3 Professora Doutora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual

do Ceará. E-mail: [email protected]

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Introdução
Este artigo é fruto das discussões realizadas em nossas pesquisas na
universidade, no âmbito da pós-graduação, com ênfase na área das ciências
humanas e sociais, a saber, particularmente da filosofia da educação e suas
contribuições para a educação escolar e para a pedagogia, bem como as
orientações para a práxis educativa como fundamento e mediação entre o
cotidiano e o não cotidiano.
Existem outros campos do conhecimento, tais como a história, a
antropologia, a biologia e a estatística etc. que contribuem para a análise da
educação, das políticas educacionais, dos sistemas de ensino e da formação
de professores. Priorizamos apenas a filosofia da educação, pois essa área
compreende o que foi denominado de campo de estudo e de pesquisa dos
fundamentos da educação e abrange a pedagogia como uma teoria é um
espaço privilegiado da formação específica do pedagogo.
O estudo objetiva, por seu turno, investigar a concepção pedagógica e
seus pressupostos históricos e filosóficos, no que se refere à finalidade da
educação para expor brevemente algumas formulações da área da filosofia
como fundamento para a compreensão da educação e da pedagogia no
capitalismo. Esse movimento faz-se necessário para situar o contexto de
nascimento e consolidação dos campos do conhecimento sobre educação,
formação dos indivíduos e a relação entre esses aspectos e a formação da
sociedade moderna.
Não se pretende esgotar essa discussão, mesmo porque todas as áreas
de fundamentos merecem, cada uma delas uma apuração específica, com a
rigorosidade e o aprofundamento necessários para assimilar adequadamente
os problemas e as questões educacionais com base no seu arcabouço teórico-
metodológico. Propomos assim, suscitar uma discussão acerca dos
pressupostos filosóficos da educação e da pedagogia que colaborem com a
compreensão das tensões, conflitos e alternativas desses campos do
conhecimento e práxis humanas.
Com base nessas premissas, será possível identificar a gênese, a
natureza e a função social da educação no capitalismo, pautando as

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possibilidades e os limites desse complexo social a partir das contribuições


dessas ciências. Nas palavras de Saviani (2013), a filosofia da educação tem
como base propiciar aos educadores um método de reflexão amplo e
inteligível, permitindo à compreensão dos problemas educacionais,
aprofundando a sua complexidade e possibilitando resolução de questões.
Essas reflexões reúnem uma breve revisão de literatura, de natureza
teórico-bibliográfico, das reflexões formuladas por Dermeval Saviani nas
obras: Educação: do senso comum à consciência filosófica (2013);
Pedagogia no Brasil: história e teoria (2012), História das ideias
Pedagógicas no Brasil (2013a) articulada às formulações dos autores – Maria
Lúcia de Arruda Aranha, em sua obra Filosofia da Educação (1996) e
Antônio Joaquim Severino, no livro Filosofia (1994), as quais demonstram
as categorias analíticas, a concepção de educação, de indivíduo e de sociedade
que proporcionam-nos à assimilá-las na totalidade social inserida na
sociedade capitalista.
A apropriação e o debate da função da educação requerem um esforço
para assimilar os fundamentos onto-históricos do trabalho e da sociedade
propiciando uma compreensão mais adequada dos elementos textuais e
contextuais. Consideramos que, os aspectos implícitos ou explícitos nas
teorias educacionais e nos processos educativos que apresentam uma
determinada concepção de homem, de mundo e de sociedade expressas na
política educacional, especialmente na formação de professores.
Essa compreensão constitui-se como uma mediação no conjunto da
prática social global e expressa uma apropriação das determinações do real,
de maneira a tornar a ação educativa cada vez mais humana, democrática e
universal, orientando-se pelo compromisso com a garantia do acesso irrestrito
ao conhecimento sistematizado e em defesa da transformação social.

1. Fundamentos Filosóficos da Educação e da Pedagogia

A filosofia da educação constitui um núcleo do conjunto de ciências


humanas que orientam os fundamentos da educação, ao lado das disciplinas
de Antropologia, de História, de Psicologia e de Sociologia da Educação,

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entre outras. Estas têm como objetivo contribuir no processo de apropriação


e entendimento das orientações, ora expressas ou ora ocultas nas teorias
educacionais e nos processos educativos. Em cada uma dessas áreas do
conhecimento há uma concepção de homem, de sociedade e de educação que
se expressam na elaboração do conhecimento e nas políticas educacionais as
quais compõem interlocuções para a práxis educativa.
Este texto elege como objetivo discutir e examinar brevemente os
fundamentos e os sentidos para a práxis educativa a fim de desvelar os
pressupostos filosóficos da educação e a concepção pedagógica e, com a
intenção de contribuir na resolução dos problemas humanos para o
desenvolvimento de sua personalidade, através do acesso à educação e ao
conhecimento, considerando que o processo de formação humana envolve o
desenvolvimento da atividade, do sentimento e do pensamento e ocorre de
modo não espontâneo na vida do ser humano.
A análise do real deve realizar-se de modo radical, coerente e rigoroso
(SAVIANI, 2013). Quando agimos, tomamos partido com compromisso
político que pressupõe e pretende uma leitura crítica da realidade, na defesa
da democratização do acesso ao conhecimento para contribuir no processo de
transformação da sociedade. Nesse sentido, afastamo-nos das concepções que
defendem a neutralidade da pesquisa e da ciência, haja vista que
compreendemos que o posicionamento crítico e a práxis social
transformadora devem perpassar todos os esforços investigativos que se
direcionam para a apreensão da realidade.
Paulo Freire (1921-1997), na obra A importância do ato de ler (2000)
afirma que o mito da neutralidade da educação leva à negação da natureza
política do processo educativo e tomá-lo como um quefazer puro, em que nos
engajamos a serviço da humanidade entendida como uma abstração. Na
verdade, não há separação entre educação e política, porquanto as relações
entre educação como subsistema, e o sistema maior são relações dinâmicas,
contraditórias e não mecânicas.
Não se pretende resumir a filosofia à área da educação e, tampouco,
suprimir o complexo educativo ao campo filosófico, mas tratar sinteticamente

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dos fundamentos e contribuições da filosofia para a educação. Estas se


aproximam numa relação intrínseca, cujo vínculo próximo fora revelado na
história da cultura ocidental. A filosofia sempre se constituiu vinculada a uma
intenção pedagógica e formativa do ser humano. E a educação, embora se
expressando como uma práxis social, nunca deixou de referir-se aos
fundamentos filosóficos, mesmo na utilização meramente ideológica.
A filosofia, a história, a sociologia, a antropologia, a psicologia e a
biologia ocupam lugar especial na elaboração do pensamento pedagógico
mundial, embora a negação dos elementos onto-históricos perpassa as
dimensões teórico-pedagógicas dominantes no interior da formação de
professores, em especial, na pedagogia e espraiam-se pelo âmbito da teoria
pedagógica, do currículo, dos cursos de formação inicial e continuada e do
mundo da práxis.
Saviani (2012) assegura que a concepção pedagógica é constituída por
três níveis. O primeiro é a filosofia da educação, caracterizada pela finalidade
e valores, expressando a visão de homem e de sociedade. O segundo é a teoria
da educação, que se constitui para compreender o lugar e o papel da educação
na sociedade, sistematizando os métodos, os processos e os procedimentos.
Por fim, a prática pedagógica, voltada para a organização e a realização do
ato educativo.
Considerando que, “a educação é um fenômeno próprio dos seres
humanos”, (SAVIANI, 2013, p. 11), nesse sentido, para entender a natureza
da educação, é necessário compreender primeiramente a natureza humana. A
humanidade necessita produzir permanentemente a sua própria existência
realizando o trabalho de transformação da natureza. A identificação da
essência humana se dá através do desenvolvimento histórico das forças
produtivas e dos meios de produção, em que a divisão social do trabalho se
complexifica impondo a separação entre trabalho manual e trabalho
intelectual no capitalismo.
Nessa direção, é possível elucidar os fundamentos dissimulados na
concepção de educação e nas políticas educacionais, derivados do mundo do
trabalho e das orientações identificadas na perspectiva dual de uma educação

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no sentido lato e estrito, com intenção de dividir as classes sociais e formar a


força de trabalho unilateralmente para a (re) produção do capitalismo.

2. Notas Introdutórias sobre Filosofia e Educação

As duas grandes correntes da filosofia são o materialismo e o idealismo.


Elas têm uma explicação do ser e da realidade natural, social e cultural de
modos distintos. A compreensão dessas teorias sobre o ser e a realidade
exercem forte influência na educação. Suchodolski descobre, com efeito, a
partir da relação entre as teorias filosóficas e a história da educação,
[...] na história pedagógica duas tendências fundamentais, uma
pedagogia baseada na essência do homem e uma pedagogia
baseada na existência do homem, cada qual correspondendo a
uma grande corrente do pensamento filosófico (DEBESSE,
2012, p. 10).

Aranha (2006) afirma que a filosofia tem sua origem na Grécia com as
primeiras elaborações de um conhecimento sistematizado e reflexivo, que
busca a definição rigorosa dos conceitos e das categorias, a coerência interna
do discurso, com a finalidade de proporcionar o debate e a reflexão, portanto,
colaborando dessa maneira, no processo educativo. Nessa direção, a filosofia
grega proporcionou a superação do pensamento místico, do senso comum e
das concepções religiosas que fundamentaram o pensamento do mundo
antigo e medieval.
Todavia, somente a partir da modernidade, com o processo de
sistematização da ciência moderna e a universalização dos sistemas de ensino,
será definido o campo de investigação e atuação da filosofia, da sociologia,
da psicologia e da biologia, bem como das demais ciências, caracterizando
aportes teórico-práticos e metodológicos, que contribuíram com a
sistematização da educação e, por conseguinte, da pedagogia. Assim, a tarefa
da filosofia da educação nas palavras do filósofo e educador brasileiro:
[...] será oferecer aos educadores um método de reflexão que
lhes permita encarar os problemas educacionais, penetrando na
sua complexidade e encaminhando a solução de questões tais

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como: o conflito entre “filosofia de vida” e “ideologia” na


atividade do educador; a necessidade da opção ideológica e suas
implicações; o caráter parcial, fragmentário e superável das
ideologias e o conflito entre diferentes ideologias; a
possibilidade, legitimidade, valor e limites da educação; a
relação entre meios e fins na educação (como usar meios velhos
em função de objetivos novos?); a relação entre teoria e prática
(como a teoria pode dinamizar ou cristalizar a prática
educacional?); é possível redefinir objetivos para a educação
brasileira? (SAVIANI, 2013, p. 28).

Nessa tarefa hercúlea, a filosofia subsidia a área da educação com


pressupostos teóricos e metodológicos. Com suas elaborações, favorece não
somente a assimilação dos problemas por parte das professoras e professores,
como também a sua análise prática e a indicação dos possíveis caminhos na
resolução dos problemas.
Entretanto, a experiência cotidiana revela ainda que, em nossa cultura,
no que se refere à formação e à atuação dessas profissões, acontece uma
separação muito acentuada entre filosofia, enquanto fundamento teórico do
saber e do agir e a educação, enquanto saber ou prática concreta (SEVERINO,
2014).
Na obra História das Ideias Pedagógicas no Brasil, Saviani (2013)
indica nos capítulos XII e XIII os pressupostos filosóficos, nos quais abordam
as ideias educacionais e as ideias pedagógicas, estas duas concepções que
contemplam o entendimento do complexo da educação. A primeira trata da
análise do fenômeno educativo visando a explicá-lo. Estas, decorrem de
determinada visão de homem e de sociedade, sob a qual se interpreta tal
fenômeno; a segunda concepção indica elementos para a compreensão das
atividades e movimentos reais da educação, ou seja, substância da prática
educativa, ao abranger seus aspectos teóricos e práticos sobre as exigências,
os interesses e os resultados desejados a atingir. A primeira constitui-se
premissa e fundamento da segunda e mantêm uma relação de
interdependência entre ambas.

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Nesse sentido, as teorias pedagógicas nutrem uma ideologia vinculada


à concepção de mundo que defendem, na perspectiva de manutenção, de
transformação ou de superação das relações sociais concretas em cada
contexto. Logo, para compreender o presente e refletir sobre o
desenvolvimento de uma educação futura é relevante estudar a gênese e as
características gerais do passado, descobrindo as suas raízes e formas de
organização.
Para Severino (1994), compreender significa reconhecer no nível da
subjetividade, nexos com determinada coerência entre si, elementos da
realidade experienciada no processo vital. Por isso, a necessidade de uma
pesquisa que aprofunde a dimensão diacrônica e sincrônica das vertentes
históricas e filosóficas que embasem a educação, isto é, tanto no sentido
cronológico das correntes através do tempo, como na coexistência de diversas
correntes ao mesmo tempo.
Saviani, na obra Pedagogia no Brasil: história e teoria (2012), indica
que o conceito de conhecimento serve para compreender as relações entre os
fenômenos. Portanto, faz-se necessário entender a estrutura da realidade em
seu processo, a organização da sociedade, como os homens relacionam-se
entre si e com a natureza, isto é, pensar o desenvolvimento humano social no
percurso histórico.
Para o filósofo francês Henri Lefebvre (1995), na obra Lógica formal/
lógica dialética, o conhecimento é um fato, uma vez que conhecemos desde
a vida imediata e mais simples. É indispensável examinar e discutir os meios
de ampliar esse conhecimento. Em termos filosóficos, o sujeito e o objeto
agem e reagem um sobre o outro, mantendo uma interação dialética.
Dentre as características do conhecimento, estão os seguintes aspectos:
prático, ao resultar da atividade humana; social, o indivíduo estabelece
relações cada vez mais ricas e complexas e histórico, pois resulta de um
processo e um esforço humano secular de passar da ignorância ao
conhecimento e a busca da verdade deve ser obtida por meio metódico. Nesse
sentido, dialogamos com Lacé (2016, p. 48) em seu argumento sobre a
necessidade “[...] de analisar o objeto percebendo seus elementos de

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continuidade e descontinuidade histórica. Em outras palavras, suas


permanências e rupturas”.
Com a finalidade de assimilar a relação entre filosofia da educação e
teorias pedagógicas, passaremos agora a tratar dos fundamentos da educação
presentes nas teorias pedagógicas.

3. A Filosofia da Educação e as Teorias Pedagógicas

A relação entre as correntes da filosofia da educação e as diferentes


teorias pedagógicas compõem o âmbito dos fundamentos da educação
contemplando a visão de mundo, de sociedade e de ser humano que se
pretende formar. Esses aspectos fazem-se presentes nas teorias pedagógicas
que apresentaremos nesta seção.
As correntes da Pedagogia tradicional abrangem a pedagogia do
filósofo e matemático grego Platão (428/427 a.C. – 348/347) do período
clássico4 da Grécia antiga, a pedagogia cristã; as correntes dos humanistas e
a pedagogia da natureza, na qual inclui as formulações do cientista e
pedagogo checo João Amós Comênio5, fundador da didática moderna; a
pedagogia idealista do filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), do

4A história da Grécia Antiga é dividida em cinco períodos principais: 1) Pré-Homérico, 2)


Homérico, 3) Arcaico, 4) Clássico e 5) Helenístico. Cada período foi marcado por grandes
transformações sociais, políticas e econômicas que foram decisivas para a formação, divisão e
desenvolvimento do território grego. Na Grécia Clássica, período de cerca de 200 anos, entre os
séculos V e IV antes de Cristo. Neste período ocorre a anexação de grande parte da Grécia
moderna pelo Império Aquemênida e sua posterior independência. A Grécia Clássica teve uma
grande influência sobre o Império Romano e sobre os fundamentos da civilização ocidental.
Grande parte da política moderna, do pensamento artístico (arquitetura, escultura), do
pensamento científico, do teatro, da literatura e da filosofia deriva deste período da história grega.
No contexto da arte, da arquitetura e da cultura da Grécia Antiga, o Período Clássico, às vezes
chamado de Período Helênico corresponde à maioria dos séculos V e IV a.C. – as datas mais
comuns são a queda do último tirano ateniense em 510 a.C. e a morte de Alexandre, o
Grande em 323 a.C. Disponível em: https://www.significados.com.br/grecia-
antiga/#:~:text=A%20hist%C3%B3ria%20da%20Gr%C3%A9cia%20Antiga%20%C3%A9%
20dividida%20em%205%20per%C3%ADodos,e%20desenvolvimento%20do%20territ%C3%
B3rio%20grego. Acesso em: 28 fev. 2022.
5Vários autores preferem usar o seu nome em língua tcheca Komenský – o nome Komenský é

derivado de Komma, pequena cidade na Morávia, na qual nasceu o pai de Comenius, Martin
Komenský Outros escolhem a grafia latina, Jan Amos Comenius. Optamos pela grafia do seu nome
em língua portuguesa, João Amós Comênio. Nas citações diretas faremos o uso da grafia adotada
pelos autores citados, podendo variar conforme o autor.

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filósofo alemão Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) e do filósofo alemão


Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831); o humanista racionalista
difundido especialmente em consequência da Revolução Francesa; e a
sistematização científica de Johann Friedrich Herbart (1776-1841)
desembocava numa teoria de ensino contrapondo-se às pedagogias da
existência (SUCHODOLSKI, 2002).
O filósofo, psicólogo e pedagogo alemão Johann Friedrich Herbart, a
pedagogia foi formulada pela primeira vez como uma ciência, devidamente
organizada, abrangente e sistemática, com fins claros e meios definidos.
Aksenen (2015) atenta que Herbart desenvolveu a matriz teórica identificada
em cinco passos formais para a atividade pedagógica: apresentação, da
comparação e assimilação, da generalização e, por último, da aplicação.
A concepção de Educação e Pedagogia tradicional, segundo Saviani
(2012), tem na base de sua orientação filosófica uma visão essencial e ideal
do ser humano. Tal acepção é fundamentada na concepção clássica de
filosofia, supondo uma essência universal e imutável. Ocorre na educação
tradicional a predominância de uma concepção metafísica, em que os
fenômenos educacionais são analisados de modo unilateral segundo Aranha
(1996). Em decorrência disso, a prática pedagógica será o modo como o
professor procederá a fim de cumprir a tarefa de educar os alunos sob uma
base ideal.
Nesse âmbito, a educação deve ser organizada com base na centralidade
da instrução e da formação intelectual. A escola é pensada como uma agência,
cujo centro dela é o professor e a tarefa primordial é a transmissão dos
conhecimentos filosóficos, científicos, artísticos e culturais acumulados pela
humanidade seguindo uma gradação lógica, cabendo aos alunos assimilar os
conteúdos que lhes são transmitidos. Assim,
[...] a prática educativa era determinada pela teoria que a
moldava, fornecendo-lhe tanto o conteúdo, como a forma de
transmissão pelo professor, com a consequente assimilação do
aluno. Essa tendência atinge seu ponto mais avançado na
segunda metade do século XIX com o método de ensino intuitivo
centrado na lição das coisas (SAVIANI, 2012, p. 71).

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As correntes filosóficas renovadoras, por sua vez, desde os seus


precursores como o filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), os
pedagogos Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) e Friedrich Froebel
(1782- 1852); passando pelo filósofo dinamarquês Sören Aabye Kierkegaard
(1813-1855), o filósofo alemão Max Stirner (1806-1856), o filósofo alemão
Friedrich Nietzsche (1844-1900) e o filósofo francês Henri Bergson (1859-
1941) têm seu auge nas formulações ao movimento Escola Nova e seu maior
expoente, o filósofo estadunidense John Dewey (1859-1952), além das
pedagogias não diretivas, das pedagogias institucionais e do construtivismo
que desembocam na questão de como aprender, isto é, em teorias da
aprendizagem, em sentido geral, ao se contrapor à pedagogia da existência
(SAVIANI, 2012)
Na concepção humanista moderna, a filosofia compreende que o ser
social deve ser considerado na produção de sua existência real, com diferentes
características individuais entre si, por isso é necessário considerar as relações
sociais intersubjetivas, estabelecidas com os outros. Nessa tendência,
identifica-se como sua principal corrente, a Escola Nova, que se utiliza dos
meios científicos com aportes teóricos, lógicos e metodológicos advindos das
demais ciências particulares como biologia, psicologia e sociologia, valoriza
e considera essencial às atividades experimentais, a vida e o interesse dos
alunos.
O filósofo estadunidense Dewey foi o fundador do pragmatismo norte-
americano e desenvolveu em suas obras os princípios democráticos, laicos e
científicos. Dewey (1979, p. 48) acentua que,

O aprender a prática de um ato, quando não se nasce sabendo-o,


obriga a aprender-se a variar seus fatores combinações sem
conta destes, de acordo com a variação das circunstâncias. E isso
traz a possibilidade de um contínuo progresso, porque,
aprendendo-se um ato, desenvolvem-se métodos bons para
outras situações. Mais importante ainda é que o ser humano
adquire o hábito de aprender. Aprende a aprender.

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Na Escola e Pedagogia Nova, a educação deve ser organizada com


ênfase na centralidade do educando, pois concebem a escola como um espaço
aberto à iniciativa dos alunos que, interagindo entre si e com o professor, os
alunos realizam a própria aprendizagem, construindo seus conhecimentos.
“Ao professor, cabe o papel de acompanhar os alunos, auxiliando-os em seu
próprio processo de aprendizagem” (SAVIANI, 2012, p. 71).

O eixo do trabalho pedagógico desloca-se, portanto, da


compreensão intelectual para a atividade prática, do aspecto
lógico ao psicológico, dos conteúdos cognitivos aos métodos ou
processos de aprendizagem, do professor para o aluno, do
esforço ao interesse, da disciplina à espontaneidade, da
quantidade para a qualidade. Tais pedagogias configuram-se
como uma teoria da educação que estabelece o primado da
prática sobre a teoria. A prática determina a teoria. Esta deve
subordinar-se à aquela, renunciando a qualquer tentativa de
orientá-la, isto é, de prescrever regras e diretrizes a serem
seguidas pela prática e resumindo-se aos enunciados que vierem
a emergir da própria atividade prática desenvolvida pelos alunos
com o acompanhamento do professor. (SAVIANI, 2012, p. 72).

Ademais, no âmbito da concepção analítica, difere-se em sua


particularidade, pois a filosofia é definida pela linguagem, e., a filosofia, para
esses últimos, não tem a função de analisar, de explicar o fenômeno
educativo, nem de orientar a prática pedagógica, pois baseia-se na
objetividade, aparente neutralidade e positividade do conhecimento. Mesmo
de modo implícito, essa tendência orienta a pedagogia tecnicista, ao se
vincular com o behaviorismo ou com as psicologias do comportamento.
Portanto, no campo da concepção denominada por Saviani (2012) de
teoria crítico-reprodutivista temos o nível da teoria da educação que
subsumia ou assimila a filosofia da educação, visto que é atribuída à teoria da
educação uma conjectura da sociedade como generalidade. Nessa tendência,
o objetivo é explicar os mecanismos que obrigam a educação a exercer
primordialmente a função de reprodutora das relações dominantes, de
maneira autônoma, a prática pedagógica a ser desenvolvida.

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Por fim, teremos a concepção sistematizada, elaborada e denominada


pelos educadores socialistas de pedagogia socialista ou pedagogia concreta,
que se fundamenta na perspectiva histórico-dialética. Nela, os três níveis
foram albergados na filosofia da educação, os quais já foram sobreditos em
nosso ensaio, estão presentes. A diferença dessa corrente para as demais dá-
se no estabelecimento das relações entre todos os níveis, nas quais estes se
comportam simultaneamente como determinado e como determinante.
A concepção de filosofia do materialismo histórico-dialético
compreende o ser humano e considera a gênese e o desenvolvimento real
como unidades e síntese de múltiplas determinações, considera ainda as
relações sociais intersubjetivas e coletivas estabelecidas na sociedade. Nessa
tendência, identifica-se como as correntes da pedagogia socialistas e contra
hegemônicas que visam a uma articulação com os movimentos mais amplos
de transformação da sociedade, por isso compreendem a educação e a escola
em sentido amplo, vinculadas às lutas dos trabalhadores e dos movimentos
sociais que se posicionam na superação da sociedade capitalista.

Quadro 1 - Síntese das principais concepções de educação

Fonte: A pedagogia no Brasil, Saviani (2012).

As concepções elencadas há pouco, muitas vezes, aparecem diluídas no


cotidiano, mescladas umas com as outras, dada a formação fragmentada,
aligeirada e empobrecida que os professores brasileiros recebem,
considerando que a maioria deles formaram-se em faculdades privadas, nem
sempre a totalidade desses professores possui clareza dos fundamentos, dos
objetivos e das orientações filosóficas que ora direcionam, influenciando e

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ora determinando o processo de formação docente e as ações no contexto


escolar em que estão inseridos.
Em síntese, no que tange aos modelos de formação de professores que
fundamentam as diretrizes para a práxis pedagógica no Brasil, podemos
elencar os seguintes paradigmas:

a) paradigma dos conteúdos culturais-cognitivos: para este


modelo, a formação do professor se esgota na cultura geral e no
domínio específico dos conteúdos da área de conhecimento
correspondente à disciplina que irá lecionar.
b) paradigma pedagógico-didático: contrapondo-se ao anterior,
este modelo considera que a formação do professor
propriamente dita só se completa com o efetivo preparo
pedagógico didático. (SAVIANI, 2009, p. 148, 149).

Embora o conhecimento específico da área de atuação e o


conhecimento da cultura geral não elimine a necessidade do domínio didático
a ser incorporado na práxis educativa, o domínio de ambos os campos de
conteúdos proporciona uma melhor e mais adequada atuação profissional.
Assim, podemos inferir a partir da citação que a permanência na dualidade
entre teoria e prática apresenta-se como uma questão a ser superada no
cotidiano pelos professores com base numa perspectiva crítico-
emancipatória, de modo a contribuir com a formação das consciências e
auxiliando na transformação social.
Saviani (2013) e Aranha (1996) apontam para a redefinição dos
objetivos da educação brasileira ao problematizar os condicionamentos da
atividade educacional para identificar em que medida é possível superá-los
ou continuar com eles. Essa reflexão exige uma compreensão dos
fundamentos da práxis educativa em suas possibilidades da transformação
social, nos termos de Gramsci, do senso comum à consciência filosófica e
caracteriza-se por um aprofundamento da consciência da situação
educacional.
Para Saviani (2013), a educação é fundamentada numa perspectiva
crítica e dialética, devendo-se pautar em uma compreensão de mundo com

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vista à abrangência da totalidade social. Para isso, é imprescindível examinar


as conexões internas dos aspectos da filosofia, da teoria e da práxis educativa,
baseando-se numa sistematização radical, rigorosa e de conjunto que possa
determinar, em seu turno, a concepção pedagógica numa perspectiva de
transformação social.
Em primeiro lugar, o autor supracitado defende que o problema seja
posto em termos radicais visando a ser assimilado de modo adequado para
explicitar suas determinações múltiplas, superando as aparências do imediato.
Para isso, é necessário apreender as raízes do problema e expor seus
fundamentos. Dito de outro modo, exige-se que o educador tenha uma postura
de reflexão para alcançar a profundidade da questão analisada.
Em segundo lugar, com o propósito de garantir a primeira exigência,
deve-se proceder com rigor, ou seja, sistematicamente, segundo métodos
científicos colocando em evidência as conclusões do senso comum e as
generalizações apresentadas que a ciência pode oportunizar.
Em terceiro lugar, o problema não pode ser examinado de modo
unilateral, e sim numa perspectiva de conjunto, relacionando os diversos
aspectos da questão com o contexto em que estão inseridos e, dessa maneira,
enumerando as mediações sociais do problema. Aqui, há uma nítida distinção
entre filosofia e ciência, pois ao contrário da ciência, a filosofia não tem
objeto definido, ao mesmo tempo em que ela dirige-se aos diferentes aspectos
da realidade, procurando descobrir as leis que a regem. Nesse ínterim, Saviani
defende que a função da filosofia da educação é:

[...] acompanhar reflexiva e criticamente a atividade educacional


de modo a explicitar os seus fundamentos, esclarecer a tarefa e
a contribuição das diversas disciplinas pedagógicas e avaliar o
significado das soluções escolhidas. Com isso, a ação
pedagógica resultará mais coerente, mais lúcida, mais justa e
humana [...] (FURTER apud SAVIANI, 2013, p. 29).

No caso da Filosofia da educação, prevalece na abordagem um plano


sincrônico com uma postura eclética, fazendo-se necessária uma abordagem
no âmbito da dialética para que possamos conhecer as alternativas para tomar

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uma posição ontológica com base no conhecimento histórico-filosófico da


nossa área de atuação. Em consonância com o autor, é necessário mobilizar,

[...] investigações de ordem econômica, política e social do país


em cujo seio se desenvolve o fenômeno educativo que se quer
compreender, uma vez que é esse processo de investigação que
fará emergir a problemática educacional concreta (SAVIANI,
2013, p. 40).

Dessa maneira, afirmamos que a defesa de uma educação pública,


gratuita e de qualidade, que possa proporcionar conteúdos clássicos, no
sentido de apresentar às crianças e aos jovens o conjunto de objetivações
produzidas pela humanidade, assim depuramos de escritos que,

[...] a educação visa o homem; na verdade, que sentido terá a


educação se ela não estiver voltada para a promoção do homem?
Uma visão histórica da educação mostra como esta esteve
sempre preocupada em formar determinado tipo de homem. Os
tipos variam de acordo com as diferentes exigências das
diferentes épocas. Mas a preocupação com o homem, esta é uma
constante (SAVIANI, 2013, p. 43).

Assim, uma perspectiva filosófica que se pensa crítica e revolucionária


tem uma preocupação capital com os valores e os objetivos da educação e
possuirá como condição básica, a defesa da promoção de homens e mulheres,
de modo que possa elevá-los a um novo patamar de desenvolvimento das
capacidades materiais e espirituais, baseada numa compreensão humana
omnilateral. Portanto, conforme o autor:

[...] a passagem do senso comum à consciência filosófica é


condição necessária para situar a educação numa perspectiva
revolucionária [...] única maneira de convertê-la em instrumento
que possibilite aos membros das camadas populares a passagem
da condição de “classe-em-si” para a condição de “classe-para-
si”. Ora, sem a formação da consciência de classe não existe
organização e sem organização não é possível à transformação
revolucionária da sociedade (SAVIANI, 2013, p. 7).

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A consciência de classe é fator fundamental para possibilitar uma


compreensão crítica da realidade bem como uma intervenção revolucionária.
Nesse sentido, faz-se necessário apropriar-se do papel que a educação tem
desempenhado na sociedade do capital, bem como as possibilidades que esse
complexo apresenta em colaborar com a construção de um processo
emancipatório.
Desse modo, apresentamos de maneira breve as diferentes correntes da
filosofia da educação com o objetivo de apreender suas características, seus
elementos contraditórios e, por fim, defender uma filosofia da educação com
a finalidade de contribuir com a formação das consciências por meio de uma
educação capaz de superar a unilateralidade do conhecimento.
Embora a educação mantenha uma dependência ontológica e uma
autonomia relativa perante o complexo fundante que distingue os homens dos
demais animais, i. e. a educação mantém certa autonomia diante do trabalho,
além de uma determinação recíproca que se caracteriza pelo movimento de
influenciar e ser influenciada pela totalidade social. Sobre essa questão, Lima
e Jimenez (2011, p. 83) elucidam que a educação:

Por outro lado, gozando de autonomia relativa, não é


deterministicamente ordenada pela sociedade. Assim, o campo
específico da sua realização pode ser o espaço para a objetivação
de posições teleológicas concretas vinculadas à emancipação
humana ou destinadas a manter as desigualdades sociais e a
exploração do homem pelo homem. Em ambos os casos, o
material sobre o qual opera essas teleologias secundárias é um
sujeito que também reage com alternativas, podendo produzir
resultados bem diferentes daqueles intencionados pelas práticas
educacionais.

Esses parâmetros mais gerais e essenciais das relações sociais


estabelecidas pela humanidade na produção de sua existência implicam na
apreensão do processo histórico e social e no entendimento do fenômeno
educativo. O conhecimento da realidade, de modo profundo, conforme os
autores trabalhados em nosso ensaio pode proporcionar um caminho para a
liberdade humana. Como uma esfera pessoal e intransferível, esta impõe o

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respeito do ser humano para com a natureza e com seus semelhantes. E tomar
posições, avaliar, fazer opções e engajar-se por elas, mesmo que de maneira
situada e limitada, garantem a liberdade.
Em consequência, tais atitudes de garantir o livre arbítrio de homens e
mulheres desde que não impeça a liberdade de outros indivíduos de também
pensar e defender suas posições proporciona um tipo de desenvolvimento dos
sujeitos concretos que não são indiferentes diante de uma situação também
concreta, qual seja a formação do ser humano.
A apreensão do papel da filosofia da educação possibilita assimilar os
fundamentos racionais, históricos e lógicos, tornando inteligíveis o exame das
teorias educacionais e dos processos educativos que dissertam sobre a
concepção de mulher, de homem, de mundo e de sociedade que se quer formar
presentes nas bases das políticas educacionais, bem como nos modelos de
formação de professores e no processo de ensino e de aprendizagem.
Para sintetizar: do ponto de vista da educação, o que significa, então,
educar os indivíduos? Significa torná-los cada vez mais capazes de conhecer
a realidade do mundo natural, físico e social, apropriar-se dos elementos de
sua circunstância para intervir na sociedade, transformando-a no sentido de
uma ampliação da liberdade, da comunicação e da coletividade entre os seres
humanos. Por fim, garantir a ação de tais estratégias de ensino e de
aprendizagem é uma tarefa complexa a ser realizada. Em contrapartida, isso
nos permite perceber a necessidade de conhecer os fundamentos do real para
a produção e reprodução da vida humana, visto que eles compreendem o que
é e o que pode vir a ser, contemplando as expectativas e as intenções que
caracterizam os homens e as mulheres no esforço de transcender-se a si
mesmos e sua situação histórica, entre o ser e o deve ser na busca do ser mais.
Notas Conclusivas

A compreensão dos pressupostos histórico-filosóficos da educação e


da pedagogia faz-se necessário revisitar as elaborações teóricas no campo do
idealismo e do materialismo acerca do ser e da realidade, haja vista que essas
correntes influenciam o desenvolvimento das concepções de educação, de

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sociedade e de ser humano, por conseguinte, os desdobramentos do seu papel


social e as ideias pedagógicas. Nesse sentido, situar historicamente as teorias
pedagógicas é tarefa fundamental para a apreensão das contradições e das
possibilidades que atravessam a produção do conhecimento dessas
formulações, possibilitando um entendimento mais amplo e complexo sobre
o papel desempenhado por essas teorias na sociedade de classes.
A filosofia, com a colaboração de outras ciências, contribui na
compreensão da estrutura e dos fundamentos da educação e da pedagogia em
seus aspectos teóricos e práticos. Assim, os conhecimentos relacionados ao
ser humano e à sociedade e a relação destes com o meio a partir do trabalho
estabelecem um diálogo que se faz perceber nas políticas educacionais, na
formação de professores e, de forma mais ampla, na práxis educativa.

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Artigo recebido em: 08/04/2022


Artigo aprovado em: 22/06/2022
Artigo publicado em: 30/08/2022

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