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Resumo
Este artigo desenvolve uma reflexão comparativa entre o ensino de projeto
nas graduações em Arquitetura e Engenharia Civil e discute a relação dessa
formação em projeto com as práticas profissionais em projetos
multidisciplinares na indústria da construção de edifícios.
O trabalho discute como os valores culturais desenvolvidos e os métodos de
ensino empregados na formação projetual de arquitetos e engenheiros
tornam-se elementos de distanciamento da prática multidisciplinar de projeto.
Por fim, são apontados caminhos para o aprimoramento do ensino de
projeto e da formação de arquitetos e engenheiros civis com o objetivo de
incrementar seu desempenho na atuação em equipes multidisciplinares e
coordenadas de projeto.
Abstract
Initially, this work reviews design education practices in Brazilian architecture
and civil engineering schools. Secondly, it analyses to what extent design
education meets current demands on collaboration among project team
members. Thirdly, it indicates through empirical evidence that traditional
teaching methods do not encourage a multidisciplinary attitude among design
students. Finally, the paper proposes guidelines for design education in
architecture and engineering courses so as to enable student’s effective
interaction in multidisciplinary and collaborative design teams.
*
Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos da USP.
e-mail: [email protected] site: http://www.eesc.usp.br/fabricio/.
**
Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP. e-mail:
[email protected] site: http://www.pcc.usp.br/silviobm/.
11
1 Introdução
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própria disciplina e poucas atividades multidisciplinares e transversais (entre
diferentes disciplinas) são realizadas.
Por outro lado, dada a maior complexidade dos edifícios, que
envolvem diversas disciplinas de especialização crescente, e o domínio de
novos conhecimentos e tecnologias de construção, é cada vez mais
importante a formação complementar dos profissionais, em nível de pós-
graduação lato ou stricto sensu. O profissional, que passou por uma
preparação genérica em seu curso superior de origem, deve aprofundar sua
área de aplicação e desenvolver continuamente novas competências.
2 Metodologia
3 Os Cursos Estudados
6 Conclusões
20
Borges (2002) enfatiza a importância das habilidades gerenciais do
engenheiro: “não é preciso conhecer os detalhes, mas deve-se ter o poder
de interligar os sistemas, as etapas, as equipes”. O autor defende a vivência
prática no canteiro: “(...) essa talvez seja a maior dificuldade das escolas de
engenharia de hoje: formar profissionais com uma visão mais concreta da
construção”. E se ressente da formação técnica do arquiteto: “o arquiteto
precisa ter uma formação tecnológica complementar à parte artística.
Quando se separou a arquitetura da engenharia, o arquiteto optou pelas
disciplinas mais ligadas à criatividade e à forma. Se a arquitetura e a
engenharia tivessem uma formação que propiciasse mais contato entre os
alunos e os valores desenvolvidos, sua interação, quando profissionais,
poderia ser mais fácil.
Uma análise das tendências para o futuro mostra que, cada vez
mais, novas competências serão solicitadas dos arquitetos e engenheiros,
particularmente aquelas dedicadas à gestão e à integração com o trabalho
dos demais projetistas e com a execução das obras por eles projetadas –
uma conclusão que parece ser válida para o futuro de boa parte desses
profissionais no Brasil.
Esse “novo” enfoque leva a imaginar que essas “novas”
competências estarão voltadas a um melhor desempenho na gestão de
empreendimentos e coordenação do projeto. Melhado; Henry (2000)
propõem que, entre tais competências, sejam consideradas as seguintes:
● a competência de “análise estratégica”, ligada aos contextos
sócioeconômico, legal ou institucional em que se insere o empreendimento,
e à análise das suas incertezas;
● a competência de “porta-voz” de equipe, representando os
interesses de seus parceiros no âmbito do empreendimento, atentando para
objetivos globais, inclusive face à sociedade e ao meio-ambiente;
● a competência de “liderança”, capaz de estimular o
compartilhamento das soluções de projeto e a tomada de decisões
conjuntas, vinculado a um planejamento de reuniões e de etapas de projeto,
assim como a uma divisão de tarefas e de responsabilidades coerente e
equilibrada;
● a competência de “síntese”, associada à integração mais
antecipada possível dos fatores ligados ao programa de necessidades, ao
orçamento previsto e às restrições de construtibilidade e racionalização
construtiva; associada também à gestão do sistema de informação e sua
continuidade ao longo das três principais fases do empreendimento: projeto,
execução, uso, operação e manutenção .
Essas competências serão tanto mais solicitadas, quanto maior ou
mais complexo for o empreendimento em questão. Elas deverão se associar
21
àquelas reputadas como “clássicas” para o exercício profissional, e não
substituí-las.
Outro ponto importante é a atuação do arquiteto como coordenador
da equipe de projeto. De acordo com o modelo mais tradicional, a
coordenação de projetos de edifícios é uma atividade de responsabilidade do
arquiteto autor do projeto da obra, uma vez que o projeto de arquitetura é
tido como definidor das diretrizes a serem seguidas pelos demais. Essa
visão é respaldada até hoje por associações e por muitos, se não pela
grande maioria, dos projetistas de arquitetura.
Entretanto, no Brasil, tal modelo vem recebendo uma série de
críticas, visto que cada vez mais o arquiteto se distancia do conhecimento
das técnicas construtivas e do próprio canteiro de obras, e não recebe
formação adequada quanto aos aspectos de gestão envolvidos.
Apesar disso, vários autores, como Carvalho Jr. (1994), defendem
que o arquiteto não pode abrir mão do domínio técnico e que esse tipo de
saber deve ser revalorizado na profissão, pois a realidade mostra que a
formação dos arquitetos é progressivamente deficitária para esse fim. É
necessário, também, reconhecer que a crescente amplitude do
conhecimento cultural, técnico e tecnológico apresenta dificuldades à
arquitetura e às escolas de arquitetura para praticar o seu ideal, ou seja,
formar um profissional que domine amplamente os conhecimentos
pertinentes à atividade de projetar edifícios.
Assim, à medida que as soluções tecnológicas para os
subsistemas da construção se tornam mais complexas, envolvendo
profissionais cada vez mais especializados, ganha importância a
necessidade de soluções multidisciplinares e, conseqüentemente, de
coordenação dos projetos, que exige a articulação e o questionamento das
especialidades de projeto em benefício do todo
Nessa tarefa, o papel do coordenador requer um amplo
conhecimento multidisciplinar (incluindo projeto e obra) e a capacidade de
gerenciar o processo e de integrar os profissionais das equipes e seus
trabalhos.
A liderança no processo de projeto requer o balanceamento de
habilidades técnicas, gerenciais e interpessoais, estas últimas dificilmente
focalizadas na formação acadêmica.
As disciplinas dos cursos de arquitetura não possuem uma
integração eficiente, especialmente no tocante ao ensino de projeto. O
sistema pressupõe, de forma equivocada, a aptidão do aluno para descobrir
como as partes podem ser integradas para trabalhar de forma sistêmica.
Adicionalmente, verifica-se a carência de disciplinas, ou abordagem pouco
relevante nas disciplinas existentes, que tratam de questões relacionadas a
legislação, economia, finanças, gestão de pessoas, liderança e motivação,
22
competitividade, qualidade, gestão de suprimentos, processo de trabalho em
obra e filosofias da produção.
Dentro desse quadro, constata-se que a atitude dos arquitetos face
à atividade de coordenação do projeto torna-se crucial para os resultados do
empreendimento.
Uma metáfora para explicar o papel do arquiteto como
coordenador de projeto é evocada por Melhado; Henry (2000): a do líder de
uma banda de jazz, que ao mesmo tempo cria e participa da criação dos
demais músicos do grupo, estimulando a sinergia de grupo dentro de um
“processo criativo planejado”.
Essas críticas ganham espaço, ainda de forma lenta, em algumas
instituições, tais como a Escola Politécnica da USP e a Escola de
Engenharia de São Carlos-USP, onde se criaram disciplinas específicas
de gestão e coordenação de projetos para seus graduandos de
engenharia e arquitetura (turmas dos cursos de arquitetura e engenharia em
conjunto), embora ainda com uma carga horária bastante limitada. Deve-se
considerar, contudo, que a solução para a deficiência em uma determinada
área de formação tem sido, tradicionalmente, a proposição de uma disciplina
“complementar” para atender aquela falha (por exemplo, proposição de uma
disciplina de coordenação). No entanto, é de se esperar que esse tipo de
deficiência ocorra em relação a diferentes campos do conhecimento, dentro
de uma mesma formação (engenharia ou arquitetura). Trata-se, portanto, de
uma iniciativa interessante, mas que, não resolve o problema de valorização
da prática multidisciplinar, que não é exercitada na grande maioria das
disciplinas projetuais e, por outro lado, esbarra nos limites da carga horária
cada vez mais inchada frente às novas demandas e ao crescente incremento
do conhecimento.
Uma solução mais abrangente é a proposição de ênfases
complementares durante a formação nos cursos de engenharia e arquitetura,
permitindo a manutenção de cursos relativamente amplos e, ao mesmo
tempo, um aprofundamento em determinadas habilidades e competências
conforme os interesses da formação de cada aluno.
Potencialmente interessantes são também iniciativas de
aproximação entre as formações em engenharia e arquitetura, com a
introdução, em 2004, das primeiras turmas, na USP, em que alunos da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-SP) têm a opção de
complementar seu currículo com dois anos adicionais cursados na
Engenharia Civil, valendo o mesmo para os alunos de Engenharia, no
sentido inverso.
Dado que a visão das interfaces e do trabalho em equipes
multidisciplinares é melhor compreendida após uma vivência prática que
contemple conhecimentos de obras e experiência em equipes de projeto, é
23
preciso considerar também a necessidade da formação continuada pela
implementação de cursos de especialização (pós-graduação lato sensu)
voltados à formação de profissionais mais preparados para atuarem nas
reais condições sóciotécnicas em que se desenvolvem os projetos e à
formação de coordenadores de projetos.
Assim, cursos de pós-graduação voltados à prática da
coordenação de projetos podem se valer das experiências dos alunos (parte
dos critérios de seleção) e fornecer conhecimentos sobre técnicas de gestão
de prazos e custos, comunicação, liderança, formação de equipes, gestão do
processo de projeto, planejamento econômico-financeiro, sistemas de
colaboração, etc.
Nesse sentido, é importante destacar que as universidades
públicas, particularmente as paulistas, apresentam uma situação conflituosa
com relação aos cursos de especialização e pós-graduação
profissionalizantes. Poucos cursos dessa natureza são oferecidos
regularmente, entretanto eles se proliferam nas fundações privadas ligadas
às universidades públicas o que tem gerado debates acalorados no meio
universitário. É cada vez mais urgente o engajamento formal e sem
intermediários das universidades de excelência, notadamente as públicas,
na formação continuada de arquitetos e engenheiros, tanto para reciclar os
profissionais que atuam no mercado, como para complementar a formação
em situações tais em que a vivência prática é importante e que, portanto,
não podem ser plenamente contempladas na graduação.
Nessas especializações, deve-se aproveitar a bagagem técnica
dos profissionais e associá-la ao seu aperfeiçoamento em modernas
técnicas de projeto e construção visando, principalmente, ao aprimoramento
das habilidades dos coordenadores de projetos em técnicas organizacionais,
gerenciais e de liderança, e no uso dos recursos da tecnologia da
informação.
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