Nas Trincheiras Da Lei - Tudo Que Você Precisa Saber para Não Ser Vítima de Falsas Denúncias - Sociedade Primitiva Podcast

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NAS TRINCHEIRAS DA LEI

Seu manual de defesa contra falsas acusações

Tudo que você precisa saber para não ser vítima de falsas acu-
sações de violência doméstica, estelionato judicial e o que
fazer caso aconteça.
PREFÁCIO

Por: Ernane Carreira

Meu nome é Ernane Carreira, e sou responsável pela cria-


ção de um podcast que acabou se tornando um projeto de vida, o
Sociedade Primitiva Podcast. Estou nessa empreitada há 7 anos.

O programa surgiu justamente da minha insatisfação com


os relacionamentos modernos e por constatar que os homens
acabam sempre sendo massacrados na vara da família ou escravi-
zados, tendo seu patrimônio dilapidado por términos de relacio-
namento. Eu passei por isso também.

Não é pra você fcar bitolado, a informação deve te aler-


tar e preparar para os diferentes cenários. Entenda que o jogo
dos relacionamentos, no momento atual, é um jogo de alto risco,
onde a mera denúncia da mulher pode prejudicar sua vida em
diversos campos. Um fnal de relacionamento conturbado pode
ser um problema real se ela começar a gritar dizendo que você a
agrediu, ou se espalhar boatos para família e sociedade.

Às vezes escuto pessoas dizerem que se arrependem de


ter essas informações. Ora, amigo ouvinte, como você pode que-
rer deixar de saber a realidade? Imagine que você vai explorar
uma foresta sem o mapa. Essa aventura pode ser até mesmo mais
divertida, porque você vai explorar, mas pode ser fatal se você
cair em algum lugar ou confrontar algum perigo. Com o mapa,
a exploração fca mais previsível, mas mais segura. Assim é este
livro e esse tipo de conhecimento. Você precisa fazer seus relacio-
namentos da forma mais assertiva e segura possível.

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Os relacionamentos são negócios. Não que esteja simpli-
fcando e racionalizando tudo, não é isso. Porém, você está colo-
cando sua segurança, seu patrimônio e sua liberdade em jogo.
Isso é um negócio que será frmado pelas duas partes, deve ser
encarado assim, e avaliado se compensa ou não. Se você entra
nesse negócio em desvantagem, não compensa e é um mau ne-
gócio.

Lógico que temos emoções, que as coisas não são simples


assim, porém a visão de negócio nos ajuda a buscar em nossa
RAZÃO o motivo de nossas ações. É fundamental entender isso.

No campo das emoções, tudo pode acontecer. Se você for


chamado de abusivo, bom, isso é vago. O que é abusivo? Quem
abusa de alguém ou quem só quer olhar o celular da mulher? É
abusivo ir atrás da mulher escondido para saber se ela está te
traindo? É abusivo querer saber o passado da mulher? Esse tipo
de artifício é cortina de fumaça, são emoções, é impreciso, não
expressa algo claro, objetivo, essas discussões não levam a lugar
algum (famosa DR).

Agora, e se eu te falar que armaram uma falsa acusação


contra você e agora você vai ter que se defender na justiça? Isso
é bastante objetivo, você pode acabar puxando uma cana. É isso.

Você precisa permanecer no seu lado RACIONAL. No nos-


so lado da razão, somos senhores do nosso destino (obviamente
descontando as imprevisibilidades e limitações). Quando sua mu-
lher jura amor eterno pra você, bom, isso ela não pode cumprir,
ninguém sabe como que será o ano que vem, imagine saber pela
eternidade. Quem te fortalece contra essas e outras falácias é a
razão. Tanto faz as palavras, a maioria delas não tem nada de novo
pra você, o que importa são os fatos, é a leitura fria, enxergar por
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trás do que é dito. Se você se entrega por palavrinhas bonitas e
tapinha nas costas, você fca rendido. E pode ser que a mulher
seja honesta e você não perca nada, mas você está sob total risco.
Entende?

Conhecimento é libertador, mas alguns não nasceram pra


serem livres, e lide com isso. Cada um sabe seu fardo, se preocu-
pe apenas com o seu. Entenda o valor da sua companhia. Ser feliz
exige coragem, e por isso, liberdade é para poucos desbravado-
res. Tempo vale mais do que dinheiro.

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INTRODUÇÃO

Não é difícil encontrar na internet perfs de “advogadas de


Instagram” que passam o dia respondendo perguntas e “ensinan-
do” para mulheres qual a melhor forma de se divorciar e levar
consigo o maior patrimônio possível de seu ex-companheiro. Ou,
ainda pior, como forjar denúncias de violência doméstica.

Já não tão fácil, mas também em grande quantidade, ve-


mos também os famosos “grupos das palitas”, lugares fechados
na internet, cuja a entrada só é permitida para mulheres, onde as
maiores atrocidades do mundo acontecem.

Mulheres que ensinam umas às outras como trair, como for-


jar episódios de violência doméstica que nunca existiram, como
chantagear seus ex-companheiros usando a alienação parental,
compartilhamento de fotos para serem usadas em chantagens
emocionais... A quantidade de crimes e absurdos éticos cometi-
dos dentro destes grupos é assustadora, mas esse não é o ponto.

O ponto é: mulheres se unem para conseguir o que que-


rem, à qualquer custo!

Do outro lado, todos os homens que tentem alertar outros


homens, orientar outros homens, ou simplesmente oferecer aju-
da, são massivamente bombardeados com denúncias, shamming,
perseguição... e muitas vezes são obrigados a “se esconder” do
mainstream para sobreviver, para não ter sua vida arruinada.

Porém, nós estamos aqui, e nós também iremos nos unir.

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Aqui, trataremos de preencher esse vazio, que não pode
ser tratado abertamente na internet.

Aqui, veremos todos os absurdos legais que permeiam a


vida dos homens, e, mais do que isso, como funciona a prática!

São mais de cinco anos nas trincheiras das varas de família


e violência doméstica que serão retratados nesta obra.

São mais de cinco anos à frente da defesa dos homens em


situação de vulnerabilidade, que são jogados às garras da justiça
estatal, que os destrói de todas as formas imagináveis, que serão
retratados nesta obra.

Aqui, nós veremos o dia a dia, a realidade, os bastidores


das varas de família e violência doméstica que, por diversas ra-
zões, não são levadas ao grande público.

Não é só teoria, não é só analise de leis, é a prática, é a


vivência de alguém que toda semana entra em cadeias para aten-
der homens vítimas de falsas denúncias, alienação parental, chan-
tagem fnanceira, dentre outros absurdos.

É a vivência de alguém que rotineiramente enfrenta todo o


aparelho estatal, moedor de gente, em defesa dos homens.

O que se verá nesta obra, não se encontra em absoluta-


mente nenhum outro lugar. Ninguém na internet irá trazer casos e
histórias reais, e suas respectivas sentenças e desfechos, quando
falamos de Maria da Penha. O que veremos aqui, é o calabouço
do sistema judiciário brasileiro.

Aqui, você encontrará, principalmente, orientações de quem vive


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essa realidade a mais de meia década, e estará preparado para
não cair neste calabouço.

A partir de agora, você não está sozinho!

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SUMÁRIO

Aviso Legal / Disclaimer


Prefácio, por Ernane Carreira
Introdução

Capítulo 1 – Breve introdução ao direito.


1. O que é crime?
2. A delegacia e o inquérito policial
3. Das medidas protetivas
4. O problema da prisão preventiva
5. Da ação pública incondicionada
6. Das qualifcadoras em razão de gênero
7. Das provas admitidas no direito

Capítulo 2 – Do universo Maria da Penha e seus crimes.


1. Lei Maria da Penha
2. Lesão corporal e ameaça
3. Estelionato amoroso
4. Dos crimes sexuais dentro do matrimonio
5. Crime de stalking
6. O crime de chatear mulher
7. O crime de divulgação de pornografa
8. Mariana Ferrer

Capítulo 3 – Dos crimes sexuais.


1. A violação sexual mediante fraude
2. A importunação sexual
3. O assédio sexual
4. Do aborto
5. Da idade de consentimento
6. Do estupro de vulnerável
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Capítulo 4 - Demais questões processuais.
1. Os efeitos secundários da condenação
2. Da notifcação obrigatória por profssionais de saúde
3. A extensão da lei Maria da Penha a terceiros
4. A coabitação
5. A questão da guarda compartilhada
6. A defesa particular e a defensoria pública

Capítulo 5 – Incertezas e futuro.

Capítulo 6 – Em memória das verdadeiras vítimas

Capítulo 7 – Considerações fnais.

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CAPÍTULO 1
BREVE INTRODUÇÃO AO DIREITO

1. O que é crime?

Inicialmente, é importante nós defnirmos o que é crime


segundo a legislação.

A lei prevê que, para que algo seja considerado crime, essa
conduta deve ser um fato típico, antijurídico e culpável. Isso signi-
fca que, para que haja um crime, é preciso haver um fato típico,
ou seja, uma conduta, seja ela ativa ou omissiva, é preciso que
essa conduta seja prevista em lei como antijurídica, ou seja, é pre-
ciso que a lei preveja que essa conduta é ilegal, e essa conduta
precisa ser culpável, ou seja, o agente não pode ser inimputável
(menores de idade ou defcientes intelectuais).

Isso quer dizer que o agente, para cometer um crime, deva


ter cometido ele no mundo real, essa conduta deve ser prevista
em lei como ilegal, e a culpa possa ser atribuída ele.

A forma mais simples de descrever essa situação é, por


exemplo, o crime de roubo. O artigo 157 do código penal prevê
que é crime subtrair para si coisa alheia móvel mediante violência
ou grave ameaça, ou seja, no roubo nós temos o fato típico, que é
a conduta de subtrair coisa alheia móvel para si, e que a lei prevê
ser ilegal, e, se o agente não for menor de idade ou incapaz, será
culpável e punido pelo estado.

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Essa descrição é importante, principalmente quando fala-
mos em casos de violência doméstica e varas de família, pois nes-
ta área nem tudo é o que parece e nem tudo é o que está na lei.

Por exemplo, o Supremo Tribunal Federal, órgão máximo


da justiça brasileira, aquele que dita a última palavra no Brasil, já
frmou entendimento de que um dos meios de provas mais im-
portantes em casos de violência doméstica é o depoimento da
vítima, é o depoimento de quem acusa. Ou seja, o STF, basica-
mente cria algo que não está previsto em lei e obriga todos os
demais tribunais do país a seguir este entendimento.

A lei é clara no sentido de que “quem acusa deve provar”,


é um princípio básico do direito, que aquele que é acusado deve
ter todos os meios de defesa assegurados, principalmente no
que tange as provas de acusação. O problema é que quando o
Supremo Tribunal Federal frma o entendimento de que a palavra
da vítima serve como prova para condenar o acusado, ele impede
a ampla defesa do acusado.

Se não houver outras provas, principalmente provas de de-


fesa, a palavra da vítima servirá como prova cabal para sua con-
denação, isso quer dizer que em situações em que a violência
doméstica supostamente acontece dentro da residência e não
há, por exemplo, uma câmera ou testemunha que demonstre que
essa violência não aconteceu, e de outro lado existe a palavra da
vítima dizendo que aconteceu, a condenação será certa.

Em uma situação hipotética, se um vítima prestar depoi-


mento em delegacia dizendo que foi ameaçada por seu compa-
nheiro, dentro de casa, em momento em que estavam sozinhos,
e este último, o acusado, não tiver nenhuma prova de que isso é
mentira (como gravações, câmeras, testemunhas), as simples ale-
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gações da “vítima” servirão como prova para condenação.

Não somente, o Código Penal brasileiro prevê em seu arti-


go primeiro que “Não há crime sem lei anterior que o defna. Não
há pena sem prévia cominação legal.”

Um outro exemplo de que, no mundo real, nem sempre


prevalece a lei é a fgura do estelionato amoroso. O estelionato
amoroso, que consiste na prática de enganar sentimentalmente
uma pessoa, sempre do sexo feminino, para obter vantagem eco-
nômica para si, nunca foi prevista em lei! Nunca existiu um artigo
no código penal dizendo que essa conduta constitui crime.

O estelionato amoroso surgiu nos tribunais, surgiu em de-


cisões isoladas de varas comuns, que se confrmaram em deci-
sões de Tribunais de Justiça estaduais (segunda instância) e, pos-
teriormente, confrmadas pelo Superior Tribunal de Justiça e pelo
Supremo Tribunal Federal. Então, aqui nós temos uma fgura típi-
ca, que constitui crime em todas as varas criminais do país, porém
não existe uma única letra de lei que preveja tal crime.

Então, voltando ao tema do início, o que é crime? O que


pode ser considerado crime? A lei diz que é o que está nela, que
é o que está na lei, como nós descrevemos anteriormente. Porém,
em casos de violência doméstica, em casos de varas de família, a
situação nem sempre é essa.

Como vimos, muitas vezes criam-se novas normas, criam-


-se novos entendimentos, criam -se novos crimes sem que estes
tenham sido submetidos ao crivo do poder legislativo e criam-se
através de entendimento jurisprudencial, criam-se através de rei-
teradas decisões, sejam de varas comuns, sejam de tribunais de
justiça, sejam das cortes superiores. Então, o mais importante que
nós devemos tirar de tudo isso é que, no que tange à matéria de
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violência doméstica e varas de família, a legislação nem sempre
vai ser o principal parâmetro, bem como a realidade muda dia
após dia...

A situação no que tange aos crimes oriundos do universo


de leis Maria da Penha é de verdadeira insegurança jurídica. Hoje,
temos a lei, que nos diz o que é crime e o que não é, amanhã, um
tribunal pode “entender a lei” como bem quiser, e criar, do dia
para noite, uma nova modalidade de crime.

Por isso, e esse é o motivo de toda a explicação, devemos


sempre ter em mente que, quando se trata de violência domésti-
ca ou de crimes praticados conta mulher, muitas vezes vamos en-
contrar dissonância, vamos encontrar diferenças gritantes entre
o que diz a lei e o que acontece na prática, com o que acontece
todos os dias nas varas de família e violência doméstica.

A realidade jurídica de hoje pode não ser a de amanhã, e


essa mudança muitas vezes vem a galope, na calada da noite, e
sequer passam pelo crivo do poder legislativo. Então, esteja infor-
mado e preparado!

2. A delegacia e o inquérito policial.

Bom, agora que vimos o que é um crime e como essa de-


fnição hoje enfrenta uma verdadeira insegurança jurídica, pode-
mos passar para a fase do inquérito policial.

O processo sempre vai ter origem em um inquérito poli-


cial, que se inicia, via de regra, com uma denúncia, tenha sido ela
feita pela própria vítima ou por um terceiro.

Aqui é importante salientar que, em crimes de violência


doméstica, a titularidade do processo, ou seja, quem tem o poder
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de processar ou não, é sempre o Ministério Público, independen-
temente da vontade da vítima. Então, como ocorre muitas vezes,
a vítima faz uma denúncia, se arrepende posteriormente, e “pede
para tirar o processo”, porém a legislação não permite, uma vez
que o Ministério Público entenda que existam indícios de crime, o
processo acontecerá.

Em casos de violência doméstica, após feita a denúncia e


concluído o inquérito, quem assume todo o poder em torno dis-
so é o Ministério Público, então, é o Ministério Público que vai
decidir, sem consultar a vítima, se o processo vai seguir ou não. A
partir do momento que existe uma denúncia, qualquer que seja,
quem decide é o Ministério Público, e, salvo raras exceções, ele
irá processar.

Quando uma vítima comparece em uma delegacia e nar-


ra uma situação de violência doméstica, o delegado responsável
irá lavrar um boletim de ocorrência e irá encaminhar a vítima ao
Instituto Médico Legal, para que este faça um laudo pericial nela,
onde poderá ser apontado eventualmente alguma agressão, vio-
lação sexual ou qualquer coisa do tipo.

O delegado então munido destes documentos, do depoi-


mento da vítima narrando o crime, do laudo do IML, e outras pro-
vas, como fotos que a vítima pode apresentar, print’s de celular,
imagens de câmera, etc., irá instaurar o inquérito policial. O in-
quérito policial é fase inquisitória, onde não há oportunidade de
defesa do investigado, o que não quer dizer que ele não possa
estar acompanhado de advogado, mas, se não estiver, isso não
causa nenhuma nulidade.

Ou seja, via de regra, e como acontece em quase todos


os casos, se o acusado não estiver acompanhado advogado, não
juntar provas, não tiver a oportunidade de dar a sua versão dos
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fatos livremente, o inquérito terá plena validade.

Costumam acontecer duas situações, ou o inquérito é feito


em uma situação de fagrante delito, ou seja, em que as duas par-
tes são conduzidas à delegacia, onde já se toma o depoimento
do acusado, ou nos casos em que não há uma situação de fagran-
te, mas tão somente o comparecimento espontâneo da vítima e
o seu depoimento/denúncia, a autoridade policial irá intimar o
acusado para que preste seu depoimento.

Durante o depoimento o acusado tem o direito de per-


manecer em silêncio e de estar acompanhado de um advogado.
Aqui é importante salientar que o silêncio é um direito constitu-
cional não pode ser violado sob pena de nulidade do ato e que
deve ser assegurado ao acusado em todas as oportunidades, seja
em uma delegacia ou perante o juiz.

Porém, não é sempre assim que acontece... É importante


esclarecer como funcionam as coisas na prática.

Na imensa maioria das vezes, o delegado responsável,


quando for tomar o depoimento do investigado irá dizer a ele
que “se o investigado colaborar, a situação fcará melhor”, “se o in-
vestigado confessar, ele não vai ser preso”, “ele vai conseguir uma
pena mais branda”, dentre outras coisas, mas tudo isso é mentira.

O direito ao silêncio é constitucional e não é permitido que


faça uma barganha com ele, em troca de benefícios, e a lei não
prevê nenhum tipo de benefício pra quem confessa crime em
delegacia (não devemos confundir o depoimento em delegacia
com a atenuante da pena da confssão, que somente poderá ser
concedida por um juiz, e após audiência!).

Justamente por ser uma fase inquisitorial, onde não há o


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direito ao contraditório (ampla defesa), todas as provas, todos os
depoimentos, etc., terão que ser refeitos dentro do processo pe-
rante o juiz. O acusado terá que prestar depoimento novamente
perante o juiz, a vítima terá que prestar depoimento novamente
perante o juiz, as testemunhas deverão prestar depoimento pe-
rante o juiz, as provas que foram feitas dentro do inquérito terão
que ser refeitas ou revalidadas perante o juiz, e, o mais importan-
te: quem decide pela acusação ou não do investigado é o Mi-
nistério Público, na fase judicial! O delegado apenas irá “dar sua
opinião” jurídica sobre os fatos, mas, quem toma a decisão de
denúncia, é o MP.

Aqui, o mais importante é esclarecer que, primeiro, todos


tem direito ao silêncio perante a autoridade policial, segundo, e
mais importante, confessar ou dar sua versão dos fatos perante
a autoridade policial não vai trazer nenhum benefício concre-
to no processo, e, terceiro, o delegado não pode barganhar o
depoimento em troca de uma redução de pena ou depoimento
em troca de não acusar o investigado porque o delegado não
tem poder pra tomar essa decisão. Essa decisão só quem toma é
o Ministério Público e o juiz que vai analisar o caso.

Diante disto, o mais indicado é o silêncio. Sempre que for


intimado para prestar depoimento em uma delegacia recomen-
da-se duas condutas: a primeira é que vá sempre acompanhado
de um advogado, e a segunda é que permaneça em silêncio.

Quanto menos provas se produzir em delegacia, mais


fácil fca a defesa no processo.

Aqui também cabe esclarecer que quando o acusado re-


cebe uma citação postal (correios) ou recebe a citação de um of-
cial de justiça em casa para que preste depoimento futuro, um
advogado poderá ter acesso ao inquérito antes do acusado ir à
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delegacia, ou seja, o advogado poderá diligenciar até a delegacia
que intimou o acusado e ter acesso a todo o inquérito antes do
depoimento e desta forma “preparar melhor o terreno”.

É importante também esclarecer uma situação comum


dentro deste contexto. Não são raras as vezes em que um acusa-
do que já tem contra si um mandado de prisão em aberto seja in-
timado à “prestar depoimento”, isso acontece para que o acusado
seja levado a erro, vá até a delegacia acreditando que irá apenas
prestar depoimento, e lá ele fca preso. Nesses casos, a atuação
de um advogado é de extrema importância.

Um advogado particular poderá facilmente, antes do acu-


sado ir até a delegacia, ter acesso à investigação, verifcar se exis-
te mandado de prisão em aberto, etc.

Para aqueles que não podem contar com o trabalho de um


advogado, é possível consultar no Banco Nacional de Mandados
de Prisão, através de consulta gratuita, se há qualquer mandado
de prisão expedido em seu nome, e evitar armadilhas da polícia:

https://portalbnmp.cnj.jus.br/#/pesquisa-peca

Então, resumidamente, devemos lembrar do seguinte:

a) Quando prestar depoimento em delegacia, escolha fcar


em silencio.

b) O delegado não tem poder de “aliviar sua barra” ou de


“diminuir sua pena”.

c) Quem decide se você será acusado ou não será sempre


o Ministério Público, não o delegado.

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d) Se possível, esteja sempre acompanhado de um advo-
gado.

e) Antes de ir à delegacia, sempre consulte seu nome no


Banco Nacional de Mandados de Prisão ou peça para um advo-
gado consultar.

3. Das medidas protetivas.

Medidas protetivas nada mais são do que determinadas


regras impostas por um juiz, como por exemplo a proibição de
contato do ofensor com a vítima, o afastamento do lar, etc.

Via de regra, as medidas protetivas são concedidas auto-


maticamente após a comunicação do episódio de violência do-
méstica, sem a oportunidade de defesa do acusado.

O parágrafo 4º, do artigo 18 da Lei Maria da Penha prevê


que:

§4º As medidas protetivas de urgência serão


concedidas em juízo de cognição sumária a
partir do depoimento da ofendida perante
a autoridade policial ou da apresentação de
suas alegações escritas e poderão ser indefe-
ridas no caso de avaliação pela autoridade de
inexistência de risco à integridade física, psi-
cológica, sexual, patrimonial ou moral da ofen-
dida ou de seus dependentes.

Então, como surge uma protetiva? Vejamos um exemplo


prático. Toda vez que uma “vítima” comunica um episódio de vio-
lência doméstica à autoridade policial, o delegado responsável
por lavrar o boletim de ocorrência fará um questionário à vítima,
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com perguntas pessoais sobre o acusado, e sem ouvir este último,
como este (deixaremos as respostas sem censura para ciência):

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23
Como pode ser visto, quando a vítima prestar depoimen-
to narrando a suposta violência, será questionada com perguntas
como “você se sente ameaçada?”, “o ofensor é usuário de dro-
gas?”, e, com base unicamente nas respostas destas perguntas,
que são feitas sem a presença do acusado, e sobre as quais ele
não tem o direito de se manifestar, é que o juiz vai determinar as
medidas protetivas.

Com base nas perguntas, respondidas pela vítima, do tipo


“seu agressor usa drogas?” é que o juiz vai determinar o afasta-
mento do lar, a proibição de aproximação dos flhos e da vítima e
a proibição de qualquer contato, inclusive por mensagens/telefo-
ne com os flhos e a vítima, e o acusado, não terá oportunidade de
se defender ou de questionar as respostas.

Concedidas as medidas protetivas, um ofcial de justiça –


ou, no caso de fagrantes com prisão, o juiz da audiência de cus-
tódia – irá intimar o acusado, pessoalmente, para que este tome
ciência das medidas protetivas determinadas, e, a partir da cita-
ção pessoal, é que as protetivas começam a ter validade, sendo
que, qualquer violação delas a partir daí, caracteriza novo crime
(art. 24-A da lei 11.340/06).

Havendo a violação de qualquer uma das medidas, além


de responder pelo crime principal, que ensejou elas, responderá
também pelo seu descumprimento.

É importante salientar que a proibição de contato com a


vítima vale também para mensagens através das plataformas vir-
tuais, como Instagram, WhatsApp, etc., e também ocasionam seu
descumprimento.

E é aqui que a maioria das prisões preventivas são decreta-


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das. Não raros os casos, é comum que a vítima procure o agressor,
através de mensagens, ligações, ou até mesmo um e-mail, e, o
acusado, inadvertidamente, responde uma mensagem, ou aten-
de uma ligação, e faz um breve contato com a vítima. Aqui, ainda
que o contato tenha sido iniciado pela vítima, houve o descumpri-
mento, e, portanto, um novo crime.

Isso também vale para a restrição de aproximação física,


pessoal. É muito comum também que o acusado acabe sendo le-
vado a se aproximar a vítima, inadvertidamente, ocasionando seu
descumprimento. Vamos a um caso prático.

Roberto, acusado por sua ex-companheira de violência do-


méstica, e morando em uma cidade pequena do interior paulista,
teve determinado contra si medidas protetivas de afastamento do
lar e proibição de se aproximar da vítima. Em um dia qualquer,
circulando pela cidade, próximo de onde habitava com sua ex-
-companheira, avistou esta carregando um caminhão de mudan-
ças com seus pertences, e, como não podia se aproximar dela, e
na casa ainda haviam seus pertences, solicitou apoio da polícia
militar, para que pudesse resgatar seus pertences da mudança,
como narra:

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Entre o telefone para a polícia e a chegada da viatura, sua
ex-companheira avista Roberto, aguardando a polícia, dentro de
seu carro, no fnal da rua, afastado do seu antigo lar. Vendo seu
ex-companheiro ali, vai em direção a ele, e com batidas no vidro
do carro e gritos histéricos, começa ali uma discussão, provocada
pela própria vítima, que dura até a chegada da viatura.

Quando os policiais militares chegam, se deparam com o


acusado e a vítima discutindo, aos berros, no meio da rua, e con-
duzem todos a delegacia. Roberto então é preso pelo delegado
de plantão por ter violado as medidas protetivas.

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Sobre Roberto, interessante mencionar um fato tragicô-
mico. Sua defesa, quando instaurado o processo, requereu que
fosse anexada ao processo cópia da ligação feita por Roberto à
polícia, para demonstrar que este jamais violou as medidas prote-
tivas, e, para surpresa de todos, a ligação “não pode ser resgatada
por um problema no sistema”:

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E desta forma, Roberto acaba preso. Esse caso é perfeito
para ilustrar a importância de não permitir o mínimo risco quando
se trata de medidas protetivas. A maioria dos crimes que envol-
vem violência doméstica possuem penas que podem ser cumpri-
das no regime aberto, porém, com o descumprimento de uma
protetiva, vem a prisão preventiva, e todos os problemas ineren-
tes à ela.

Então, é muito importante, depois de ter sido citado de


qualquer medida protetiva, respeitá-la, e, mais importante ainda,
não dar oportunidade para vítima forjar uma situação de descum-
primento.

Após receber a citação, ainda que tenha flhos com a vítima


ou que seus pertences pessoais tenham fcado no lar do qual você
foi afastado, não faça nenhum tipo de contato, bloqueie todas as
formas de contato da vítima com você (Whatsapp, ligação telefô-
nica, Instagram), bem como dos familiares dela, e jamais chegue
perto da sua casa, trabalho, ou qualquer lugar que ela frequenta.

Evitando a prisão você poderá, em conjunto com seu de-


fensor, preparar melhor sua defesa e encerrar o problema mais
rápido, e de forma defnitiva, mesmo que para isso você tenha
que fcar sem contato com seus flhos por algum tempo ou tenha
que perder pertences pessoais que tenham fcado com a ex-com-
panheira.

Importante esclarecer que, em caso de determinação de


medidas protetivas – que como já falamos acontece sem sequer
dar a oportunidade ao acusado de dar sua versão – seu nome será
imediatamente lançado em banco de dados nacional de agresso-
res (lei 11.340/06):

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Art. 38-A.
Parágrafo único. As medidas protetivas de ur-
gência serão, após sua concessão, imediata-
mente registradas em banco de dados manti-
do e regulamentado pelo Conselho Nacional
de Justiça, garantido o acesso instantâneo do
Ministério Público, da Defensoria Pública e dos
órgãos de segurança pública e de assistência
social, com vistas à fscalização e à efetividade
das medidas protetivas.

Ou seja, além de ser afastado compulsoriamente do seu


lar, ser proibido de manter contato com seus flhos, se tiver, terá
seu nome inscrito em banco de dados nacional – e tal informação
constará em atestado de antecedentes criminais – sem nem mes-
mo ter oportunidade de defesa.

E, por fm, embora raramente utilizada, existe a previsão le-


gal de que o acusado seja obrigado ao pagamento antecipado,
em forma de calção, por eventuais danos que tenha causado a
sua companheira:

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem


prejuízo de outras medidas:

IV - prestação de caução provisória, mediante


depósito judicial, por perdas e danos materiais
decorrentes da prática de violência doméstica
e familiar contra a ofendida.

Assim, sempre que a vítima falar em seu depoimento que,


por exemplo, teve seu carro danifcado, e que este é seu meio de
trabalho, novamente, sem oportunidade de defesa, o juiz poderá
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determinar que o acusado faça depósito pecuniário (em dinheiro)
do valor arbitrado, pela própria vítima, dos danos supostamente
praticados.

Então, lembre-se: jamais faça contato ou responda o con-


tato da vítima após a decretação das medidas protetivas, em ne-
nhuma hipótese!

4. O problema da prisão preventiva.

A lei brasileira prevê a existência do instituto da prisão pre-


ventiva, que é essencialmente a prisão antes de uma sentença
condenatória.

A prisão preventiva possui alguns requisitos legais para ser


decretada por um juiz, como por exemplo garantir a ordem pú-
blica ou para assegurar a aplicação da lei penal, como vemos no
artigo 312 do Código Penal. São casos específcos, que, infeliz-
mente, viram regra aos olhos de juízes, e que permitem a prisão
do acusado antes de seu julgamento.

No universo da violência doméstica, existe uma problemá-


tica maior ainda quanto a prisão preventiva. A prisão preventiva,
via de regra, não pode ser decretada para crimes cuja pena míni-
ma seja inferior a 4 anos, já que, se condenado a pena inferior de
4 anos, o réu cumprirá sua pena no regime aberto, e portanto não
é razoável que responda o processo preso por crime que não o
manterá preso quando condenado.

A maioria dos crimes relacionados a violência doméstica


tem pena inferior a 4 anos de reclusão. O crime de descumprir
medida protetiva, por exemplo, previsto no art. 24-A da Lei Maria
da Penha, possui pena de reclusão de 3 meses a 2 anos, ou seja,
se condenado por este crime, o acusado cumpriria sua pena em
30
regime aberto.

Porém, não é raro, e na verdade é basicamente uma regra,


que juízes e principalmente juízas que atuam nas varas de vio-
lência doméstica decretem a prisão preventiva de acusados por
violência doméstica à esmo, sem embasamento legal.

O inciso III do art. 313 do Código Penal prevê a possibi-


lidade da prisão preventiva em caso de denúncias de violência
doméstica para assegurar o cumprimento de medidas protetivas
– aquelas que são decretadas sem provas e sem a possibilidade
do acusado se defender, como vimos anteriormente – veja:

III – se o crime envolver violência doméstica e


familiar contra a mulher, criança, adolescente,
idoso, enfermo ou pessoa com defciência,
para garantir a execução das medidas proteti-
vas de urgência;

Porém, como podemos ver, esse artigo exige que existam


indícios de descumprimento de medida protetiva, já que, via de
regra, pelas penas baixas dos crimes envolvendo violência do-
méstica, não cabe a prisão preventiva.

Mas a realidade que acontece todos os dias nas varas de


violência doméstica é outra. Embasado nesse artigo, juízes decre-
tam a prisão preventiva dos acusados na primeira oportunidade,
mesmo que este não tenha antecedentes criminais e que não haja
nenhum indício de possibilidade de descumprimento das medi-
das protetivas.

De tais decisões por óbvio que cabem recursos, como o


habeas corpus, e é aqui que entramos no problema principal...
uma decisão infundada, sem embasamento legal, e cuja legali-
31
dade só existe na cabeça do juiz, pode facilmente ser derrubada
com um habeas corpus, porém, pelo menos no Estado de São
Paulo (um dos mais rápidos do país), o julgamento de um habeas
corpus dura em média 3 meses!

Se for necessário recorrer para as instâncias superiores, como o


Superior Tribunal de Justiça por exemplo, essa espera pode levar
mais de um ano.¹

E por que isso é relevante? Vejamos, tomando por exem-


plo o crime anteriormente citado, que tem uma pena mínima de 3
meses, se a prisão preventiva (ilegal) for decretada quando acon-
tecer a denúncia, o acusado irá esperar, preso, pelo menos 3 me-
ses para ter seu habeas corpus julgado... Isso signifca que ele
cumprirá a totalidade da pena mesmo antes da sentença, e, pior:
se fosse condenado, cumpriria TODA A PENA no regime aberto!

Não é incomum na rotina forense situações como esta, o


acusado responde ao processo preso, é condenado ainda sem o
julgamento do habeas corpus ou do pedido de liberdade, e, ao
fnal, é condenado a uma pena em regime aberto. Vamos ao caso
prático, o “peixinho dourado”.

Agenor, ou “peixinho dourado”, apelido dado carinhosa-


mente pelos policiais que fzeram sua prisão, foi denunciado por
sua ex-companheira, mãe de suas flhas, por ameaça em contexto
de violência doméstica. Foi intimado das protetivas e deixou seu
lar.

Agenor tem dois flhos, um casal, com sua ex-companheira,


e certa vez, no dia do aniversário de sua flha, decidiu presenteá-la

¹ https://www.conjur.com.br/2008-mar-04/stj_leva_400_dias_julgar_habeas_
corpus

32
com um peixe beta, daqueles comprados em pet shop.

Agenor então comprou o presente para sua flha, e ligou


para sua ex-companheira, perguntando se poderia levar o pre-
sente para sua flha, no dia de seu aniversário, e ela consentiu,
dizendo que não haveria problema.

Chegando lá, Agenor liga para sua ex-companheira e diz


que está na sua porta, e pede pra que sua flha vá até o portão
para pegar seu presente, e ela pede pra ele esperar. Lá, com o
presente da sua flha em suas mãos, um simples peixe beta, ele
aguarda por bastante tempo, acha estranho, mas permanece lá,
para não perder o dia do aniversário da sua flha.

Para sua surpresa, em vez da sua flha aparecer no portão,


quem aparece é uma viatura da polícia militar, que foi acionada
por sua ex-companheira, que disse que Agenor teria violado a
medida protetiva e estava em seu portão à ameaçando, “exigin-
do” para ver sua flha...

Os policiais militares então conduzem Agenor para a dele-


gacia, onde, ainda com o presente de sua flha em mãos, é lavra-
do o Boletim de Ocorrência por violação das medidas protetivas,
e de lá, ele só veria a liberdade meses depois...

Agenor é preso e enviado a um Centro de Detenção Provi-


sória pela prática do crime previsto no art. 24-A da Lei Maria da
Penha:

Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que de-


fere medidas protetivas de urgência previstas
nesta Lei:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois)
anos.

33
Após ser preso, a defesa de Agenor faz o pedido de revo-
gação da prisão preventiva perante o juiz que a decretou (passo
obrigatório para um futuro recurso), e tem seu pedido negado,
quase um mês depois da sua prisão, sob a alegação que Agenor
poderia “voltar a ameaçar a vítima”, e diante deste cenário, a de-
fesa impetra recurso de habeas corpus, salientando a ilegalidade
da prisão decretada e pedindo sua liberdade.

Três meses depois de sua defesa impetrar seu habeas cor-


pus, Agenor é levado a julgamento (4 meses depois da prisão),
tendo permanecido esse tempo todo preso, e é condenado a
pena de 5 meses em regime semiaberto, com o direito de recor-
rer em liberdade:

34
Como vemos, Agenor, se tivesse permanecido em liberda-
de durante o processo, jamais teria passado um dia na prisão...
Faz sentido manter alguém preso durante o processo, mas per-
mitir que ele recorra em liberdade? Pois é, e nesse interim, Age-
nor perdeu o emprego, e passou 4 meses de sua vida privado de
liberdade, por crimes que, em tese, não permitiram sua prisão, e
essa é a realidade da rotina forense...

Então, o que podemos extrair disso tudo, é que prisões ile-


gais existem e são decretadas todos os dias Brasil afora, e ainda
que seja possível sua revogação através de recursos, muitas vezes
o tempo necessário para julgamento de um recurso é superior até
mesmo a pena do crime cometido, e assim o acusado fca preso,
mesmo sem ser condenado a pena de prisão.

Então, se eventualmente você descobrir que está com um


mandado de prisão em aberto contra si (e as formas de descobrir
isso estão no capítulo anterior), o melhor a se fazer é permane-
cer foragido.

Se omitir da justiça não é crime – inclusive a tentativa de


fuga da polícia ou da cadeia não é considerado crime, pois en-
tende-se que é algo natural do ser humano – e permanecendo
em liberdade enquanto aguarda sua sentença, mesmo foragido,
dependendo do caso, pode te poupar de alguns meses privado
de liberdade sem necessidade.

Não somente isso, estando em liberdade poderá organizar


seus recursos, procurar um bom advogado de sua confança, pe-
dir férias ou licença não remunerada do trabalho para não correr
o risco de perder o emprego, procurar e entregar provas favorá-
veis ao seu defensor, entre outras coisas que podem auxiliar no
enfrentamento dos problemas que virão pela frente.
35
Então, sempre que desconfar que tem contra si um man-
dado de prisão em aberto, ou se fcar sabendo que a polícia foi
até a sua casa ou a casa de um parente lhe procurar, mesmo que
ele digam que “precisam apenas te ouvir”, procure seu nome no
Banco Nacional de Mandados de Prisão, como já ensinamos, e se
possível, procure um advogado. Mas nunca, em nenhuma hipóte-
se, vá a delegacia com o risco de não sair de lá.

5. Da ação pública incondicionada.

Aqui, devemos explicar como funciona o processo penal


no Brasil. Basicamente, se tratando de processos criminais, a ação,
o processo em si, começa de três formas, e é classifcado de três
formas, vejamos.

a) Ação penal privada: são processos que só se iniciam com


a iniciativa da vítima, ou seja, a própria vítima, através de advoga-
do particular ou defensor público é que faz o papel de acusação
(ex.: injúria, difamação);

b) Ação penal pública condicionada a representação: aqui,


o processo será iniciado pela Ministério Público, porém somente
com o pedido da vítima, nestes casos, é necessário haver uma re-
quisição formal da vítima para que o Estado processe o agressor
(ex.: ameaça, lesão corporal leve);

c) Ação penal pública incondicionada: são aquelas ações


onde quem detém o pleno poder de processar ou não é o Minis-
tério Público, ações em que não dependem da concordância ou
do pedido da vítima para acontecerem (ex.: roubo, homicídio);

Por que isso é importante? A partir da Lei Maria da Penha


toda ação penal que trate sobre violência doméstica passou a ser
36
pública incondicionada, ou seja, não depende de representação
da vítima, e nem pode esta última impedir o prosseguimento do
processo.

Isso signifca que, sempre que houver uma denúncia de


violência doméstica, o Ministério Público irá promover a ação
penal. E é importante também esclarecer que a vítima não pode
“desistir” da denúncia. Uma vez feita a denúncia, a titularidade, a
“propriedade” da ação passa para o Ministério Público, e mesmo
que a vítima diga expressamente em juízo que não quer prosse-
guir com o processo, não fará nenhuma diferença, o processo se-
guirá.

É muito comum episódios onde a vítima, após uma briga


corriqueira de casal, vá até uma delegacia, ou faça isso de forma
online mesmo, e registre um Boletim de Ocorrência sobre supos-
ta ameaça que na verdade nunca existiu, e tempo depois se ar-
rependa disso. Só que, a partir do momento da denúncia, não é
mais possível voltar atrás.

Assim como são comuns audiências em varas de violência


doméstica onde as vítimas e acusados relatam ao juiz do caso que
voltaram a conviver juntos, que as brigas cessaram, que foi ape-
nas um episódio isolado, etc., mas, mesmo assim, e até por força
de lei, o processo não poderá ser extinto ou suspenso.

A ação penal pública incondicionada deverá ser levada até


o fm, sob pena de prevaricação se o Ministério Público ou o juiz
não o fzer. Então, uma vez feita a denúncia para a autoridade poli-
cial, o processo acontecerá, independente da vontade das partes,
inclusive da vítima.

37
6. Das qualifcadoras em razão de gênero.

Por fm, no que tange ao processo, necessário falarmos so-


bre as qualifcadoras existentes na lei penal para crimes cometido
em razão de gênero.

Para compreensão, uma qualifcadora é basicamente uma


causa de aumento da pena, para qualquer crime que seja. A exem-
plo, no crime de roubo, que tem uma pena estipulada de 4 a 10
anos, em sua forma qualifcada pelo resultado morte (art. 157, §
3º, II, do Código Penal), sua pena se eleva para de 20 a 30 anos.

No contexto da violência doméstica, existem, em diversos


crimes previstos neste universo, a qualifcadora do gênero, o que
quer dizer que quando o crime é praticado contra mulher, a pena
será maior.

Por exemplo, no crime de lesão corporal, que prevê a pena


de três meses a um ano, se for cometido contra mulher, tem sua
pena aumentada para de um a quatro anos! Mais que o dobro:

§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher,


por razões da condição do sexo feminino, nos
termos do § 2º-A do art. 121 deste Código:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos).

Como podemos ver na lei acima transcrita, o único requisito


para que a pena seja aumentada é que o crime tenha sido come-
tido “contra a mulher”. Essa qualifcadora também está presente
em outros crimes, como homicídio, perseguição, e independe da
haver casamento, união estável, ou vínculos amorosos/afetivos.

38
O mesmo acontece com o famigerado feminicídio, previs-
to no inciso VI do art. 121, que prevê que a pena por homicídio
será de doze a trinta anos quando a vítima for mulher, enquanto
que a pena será de seis a vinte anos, se for homem. Literalmente
a metade da pena, quando a vítima for um homem, mesmo que
este venha a morrer pelas mãos de sua esposa/companheira.

Entenda: sempre que o crime for cometido contra mu-


lher, a pena será maior!

Aqui, podemos ver uma clara disparidade, quando a pena


por lesão corporal praticada contra o homem tem a metade da
pena de quando a mesma lesão corporal é contra a mulher, essa
é a realidade.

7. Das provas admitidas no direito.

Uma das questões mais técnicas e mais importantes no


processo penal são as provas. Muitas falsas acusações poderiam
ser evitadas e muitas condenações também com o uso adequado
do direito à prova que é garantido ao acusado.

Porém, muitas dúvidas também surgem, até mesmo entre


os profssionais do direito, do que é permitido e do que não é,
quando falamos de provas. Bem, vamos destrinchar o assunto.

Inicialmente, devemos esclarecer que o ônus, a obriga-


ção de provar um fato no processo penal é de quem acusa! Ou
seja, via de regra, cabe à acusação provar o fato criminoso, po-
rém, como veremos ao longo desta obra, nem sempre é isso que
acontece no mundo real. Como já vimos, no universo da violência
doméstica, a palavra da vítima, isolada, sem outras provas, tem
valor sufciente para condenação, e por isso a contraprova, ou, a
39
prova de defesa, é tão importante. Então, vamos ver o que pode-
mos produzir à título de prova e o que não podemos.

A possibilidade mais comum de contraprova que pode ser


utilizado pelo acusado é a gravação ambiental de áudio e ima-
gem, e essa prova é lícita. Basicamente, existem três tipos de cap-
tação ambiental:

a) A interceptação: é feita por alguém que não se


encontra no mesmo contexto do que está sendo captado, por
exemplo a escuta telefônica feita pela polícia. Essa prova é proibi-
da de ser produzida pelo acusado.

b) A escuta: é a mesma conduta do modelo anterior,


porém é feita por um terceiro, um particular, que não é das forças
de segurança pública. Também é proibida.

c) A gravação: esta é aquela feita por uma pessoa,


um particular, quando em contato direto, dentro de um mesmo
contexto, com outro particular. Essa é a única modalidade permi-
tida, vamos ver com mais detalhes.

Na gravação, o último exemplo da lista, estão incluídas a


captação ambiental de áudio e de imagem, não havendo diferen-
ça na lei entre as duas, e, para pode ser utilizada como prova, am-
bas as partes devem estar presentes no mesmo contexto! Não
é permitido captar audiovisual de uma pessoa em um contexto
em que não esteja presente, sob pena de confgurar outro crime.

Ou seja, você pode utilizar a gravação somente quando


você também está participando dela, no mesmo contexto. Isso
vale tanto para o ambiente físico como virtual. Não é lícito, por
exemplo, utilizar como prova de defesa a gravação da conversa
entre outras duas pessoas, se você não participou desta conversa.
40
A única exceção à essa regra são imagens de câmeras de
segurança, de circuito interno, desde que estejam a vista e a
pessoa gravada esteja ciente delas.

Também não é lícito utilizar uma conversa de WhatsApp ou


uma troca de e-mails tida entre duas pessoas, se você não partici-
pou dela. Então, estando você dentro do mesmo contexto, parti-
cipando do que está sendo gravado, a prova é lícita e deve ser
produzida.

Neste contexto, sugerimos que utilize aplicativos no seu


celular que façam a captação de áudio e vídeo mesmo com a tela
apagada/bloqueada, e que você pode encontrar com uma breve
pesquisa na internet, e mantenha sempre gravando quando se
sentir minimante ameaçado, ou até mesmo quando não se sentir,
principalmente se estiver sozinho com uma pessoa que acabou
de conhecer.

Além disso, você poderá instalar uma dashcam no seu car-


ro, daquelas comumente utilizadas por motoristas de aplicativos,
e manter ela funcionando sempre que estiver com uma mulher
em seu carro. O mesmo vale para sua residência, é permitido, e
recomendado, que você instale câmeras de segurança dentro da
sua casa, escondidas, e mantenha elas sempre funcionando.

Dentro desse contexto, é importante lembrar também que


essas gravações devem estar disponíveis para terceiros caso
você seja preso! Assim, recomendamos que você programe seus
sistemas de segurança para armazenar automaticamente esses ar-
quivos em nuvem, em uma conta específca para isso, e que você
memorize os dados acesso, para que, se for preso, seu advogado
ou algum familiar possa ter acesso a isso e usar para sua defesa.
Lembre-se que se você for preso seu celular será apreendido, e
41
somente poderá ser acessado com determinação judicial, logo,
manter essas provas acessíveis poderá fazer a diferença.

Nesta linha, temos que fazer algumas observações também


em relação às suas contas, endereços eletrônicos, números de te-
lefone, etc. Existem alguns tipos de crimes novos, que surgiram
com o advento da internet, e que dão margem a novos tipos de
falsas acusações. Hoje por exemplo é extremamente fácil e não
requer nenhum intelecto, forjar conversas de WhatsApp, através
de aplicativos, e, por isso, por mais que cause estranheza, é im-
portante sempre manter suas contas eletrônicas rastreáveis!
Vejamos.

Imagine que alguém forje uma conversa por aplicativo atri-


buindo mensagens ameaçadoras ao seu número, ou a um número
qualquer, e alegue que ele é seu. Se você tiver seu número de te-
lefone registrado no seu CPF, suas redes sociais, inclusive e-mail,
registrados com seus dados, no seu endereço IP, tudo isso poderá
ser rastreado através de perícia técnica, que pode ser requerida
pela defesa no processo, e poderão provar que as conversas fal-
sas nada tem a ver com você. Então, por mais que pareça um con-
trassenso, manter seu “rastro” eletrônico diretamente vinculado a
você pode te livrar de uma falsa acusação.

Também existe uma outra forma de produção de prova,


muito mais onerosa, porém com muito mais força também que é
a ata notarial. Qualquer cartório de registros públicos pode pro-
duzir uma ata notarial de tudo que está online, na internet, como
post’s em redes sociais, conversas por aplicativos, etc. Caso essas
informações sejam apagadas ou se percam, o registro de que isso
existiu, feito em cartório, servirá como prova. Isso é muito útil por
exemplo quando você receber mensagens ameaçadoras em apli-
cativos de conversa que podem ser apagadas por quem enviou a
qualquer momento, com a ata notarial, isso fcará registrado “para
42
sempre” em cartório, e vale como prova.

Esse tipo de serviço costuma ser caro, e quem estipula o


valor são os próprios cartórios, mas, se estiver ao seu alcance, re-
comendamos que faça.

Aqui cabe também fazer menção à imagens de câmeras de


segurança que eventualmente existam no local do suposto crime
e que não são suas, mas de uma bar ou um supermercado por
exemplo. Em caso de uma falsa acusação onde essas imagens
possam provar a falsidade da denúncia, o tempo é extremamente
importante! Devido aos custos de manutenção das imagens em
servidor, a maioria dos estabelecimentos armazena esses dados
por pouco tempo, e eles são permanentemente apagados dentro
de algumas semanas, muito comum que fquem armazenadas du-
rante apenas um mês.

Então, aqui, o tempo é o essencial, a imensa maioria dos es-


tabelecimentos privados, até por questões legais, não irá fornecer
esse tipo de prova a um estranho. Quando se trata de estabeleci-
mentos públicos então, esqueça essa possibilidade. Então, nesse
caso, você dependerá de um advogado particular para conseguir
essa prova. O advogado poderá entrar com uma ação na justiça
só para obter essa prova, uma ação antecipada de prova, e a de-
cisão, se seu advogado for bom, poderá ser em caráter liminar,
para determinar que o estabelecimento ou forneça de imediato
as provas, ou que mantenha elas armazenadas até o momento
certo de apresentar isso na ação penal. Quanto a isso, vale ressal-
tar também que a Defensoria Pública não atua com esse tipo de
pedido, então, a única forma de conseguir, é com um advogado
particular.

Para sua defesa também poderão ser arroladas, apresen-


tadas, testemunhas, mas temos que tomar alguns cuidados. Toda
43
testemunha que presta depoimento em juízo tem a obrigação de
dizer a verdade – isso não se aplica ao acusado – sob pena de
responder por crime de falso testemunho. O problema é que es-
ses depoimentos “falsos” raramente são investigados, e, se forem
provados falsos posteriormente, o processo penal do início muito
provavelmente já terá terminado, com uma condenação. Então,
parentes da vítima por exemplo, por mais que digam a você que
“estão do seu lado”, muito provavelmente irão mentir durante a
audiência, sendo um risco muito grande traze-los para o proces-
so.

Porém, se existirem testemunhas que realmente poderão


te ajudar, devem ser apresentadas no processo, e o compareci-
mento delas em audiência é obrigatório, podendo inclusive ser
determinada sua condução forçada para ser ouvida, se houver
pedido da defesa para isso.

Quanto as provas ilícitas, proibidas de serem produzidas


e usadas no processo, são aquelas que já falamos, por exemplo,
utilizar conversas de WhatsApp das quais você não participou ou
que se obteve de maneira ilícita (clonar o celular de sua compa-
nheira, por exemplo), o que inclusive irão gerar outras acusações.
A regra para o processo é a liberdade de se defender, podendo
utilizar quase todo meio de prova para isso, como nos exemplos
acima.

Então, por fm, o que você deve ser lembrar é que provas
se perdem no tempo, então, trate de produzi-las e mantê-las à
salvo caso precise usá-las. E, mais que isso, garanta que outras
pessoas possam ter acesso a elas caso você seja preso.

44
CAPÍTULO 2
DO UNIVERSO MARIA DA PENHA E SEUS CRIMES

1. A lei Maria da Penha

A Lei Maria da Penha, que inaugurou no nosso ordenamen-


to jurídico os crimes de violência doméstica, de gênero, etc., está
em vigor desde 2006, e vem sofrendo alterações hodiernamente,
sempre com a inclusão de novos crimes, qualifcadoras, etc.

Em seu texto, se diz que esta lei nasce e entra vigor para
criar mecanismos de combate à violência contra a mulher, e, em
seu art. 5º, prevê o que é violência contra mulher:

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, confgura vio-


lência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero
que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patri-
monial:

Como vemos, a defnição de violência é extremamente ge-


nérica, prevendo desde lesão corporal até sofrimento psicológi-
co. E essa previsão genérica refetiu em diversos outros disposi-
tivos do Código Penal, como por exemplo no crime de violência
psicológica, do art. 147-B do Código Penal, que prevê inclusive
ser crime qualquer conduta contra a mulher “que vise a degra-
dar”, como veremos mais adiante.

E isso nos traz uma série de problemas. Um dos princípios


básicos do Código Penal e da defnição de crime no Brasil é o fato
45
típico, como já vimos, ou seja, para que uma conduta seja con-
siderada crime, ela precisa estar descrita como tal na lei. Agora,
quando temos condutas extremamente genéricas na lei, como é
o caso dos crimes de violência doméstica, o que é crime ou não
passa a ser decidido por cada juiz, individualmente, caso a caso.

E isso é muito grave, isso nos coloca em situação de inse-


gurança jurídica e social, sem guarida legal. Ora, o que é violência
psicológica? Quem pode determinar o que é violência psicológi-
ca e o que é mero aborrecimento? Será que o entendimento de
um juiz, homem, de uma vara criminal qualquer, será o mesmo
entendimento de uma juíza mulher de uma vara específca de vio-
lência doméstica?

Então, no frigir dos ovos, os crimes inseridos no código pe-


nal depois da publicação da Lei Maria da Penha deixam margem
para interpretações diversas e, no fnal das contas, na dúvida, o
acusado será condenado. É muito importante mantermos essas
informações em mente para prosseguirmos no assunto.

Ao longo deste capítulo veremos os crimes previstos no


universo da violência doméstica e muitas vezes fcará um “ponto
de interrogação” quanto ao que caracteriza o crime, o que não
caracteriza, quando ele acontece, quando não... e essa lacuna
não existe somente na cabeça do leitor, mas de todo operador
do direito, e via de regra a conclusão de um juiz sobre a prática
consumada de um crime ou não vai depender de suas inclinações
pessoais.

Além disso, temos um outro grande problema quanto a cri-


mes dessa natureza que é a regra de segredo de justiça. O que
signifca e por que isso é um problema? Via de regra todos os pro-
cessos envolvendo violência doméstica tramitarão sob segredo
de justiça, ou seja, somente as partes (acusado, vítima, advoga-
46
dos) é que terão acesso a eles, para que se resguarde a intimida-
de das partes.

Acontece que, como vimos, muitos dos crimes são com-


pletamente interpretativos, e uma das formas de entender o que
pensam juízes, tribunais e cortes sobre determinado tema, nebu-
loso na lei, é a pesquisa e análise de casos análogos, o que não é
possível por conta da tramitação em segredo de justiça!

Então, na prática, além de termos crimes com previsão ge-


nérica, que podem ser interpretados de várias formas diferentes,
também não temos a opção de pesquisar livremente para enten-
der a posição dos tribunais do país sobre determinado tema.

É muito comum nos depararmos com decisões diferentes,


de juízes ou tribunais diferentes, sobre um mesmo fato. Um juiz
qualquer pode entender, por exemplo, que criticar a roupa que a
mulher esteja vestindo confgura o crime de violência psicológica,
enquanto outro pode entender que não passa de uma situação
hodierna da vida. As decisões são completamente subjetivas, en-
viesadas, e de caráter pessoal.

Resumidamente, existe uma lacuna nas varas de violência


doméstica do país que permite que o juiz decida, por si próprio,
o que é crime e o que não é, e a lei de fato, aquela escrita, fca em
segundo plano, e isso não vai mudar...

Agora, vamos entrar nesse mar nebuloso.

2. A lesão corporal e a ameaça em geral.

Um das situações mais comuns e recorrentes nas varas de


violência doméstica são os crimes de lesão corporal e ameaça em
geral, e geralmente acontecem e são processados juntos.
47
Como dito, ambos os crimes são as hipóteses mais comuns e cor-
riqueiras dentro das varas de violência doméstica, pois basta uma
simples denúncia e o processo acontecerá.

Especifcamente em crimes de violência doméstica, exis-


te uma valoração exacerbada da palavra da vítima como prova,
dando valor absoluto a esta do crime supostamente cometido, e,
como via de regra esse contexto acontece dentro do lar, longe de
testemunhas, câmeras de segurança ou coisa do tipo, a condena-
ção é certa.

Então, a situação a seguir é a mais comum: a vítima ou acio-


na a polícia militar, dizendo que está sendo ameaçada e agredida
pelo seu cônjuge, e então uma viatura se desloca até a residência
para conduzir ambos a delegacia, ou a vítima comparece espon-
taneamente a delegacia, onde, como é comumente chamado,
presta queixa e narra que foi agredida, ameaçada, entre outros
detalhes.

Em qualquer das hipóteses, a vítima será conduzida pela


autoridade policial ao Instituo Médico Legal para exame de corpo
de delito – essa prova é extremamente valiosa em falsas acusações
e, se a polícia não requerer e o acusado estiver acompanhado de
advogado, este poderá requerer – onde serão apontadas eventu-
ais lesões, violações sexuais ou qualquer outro tipo de violência
praticada. Após isso, tudo será enviado ao Ministério Público para
que este apresente a denúncia.

Nestas duas hipóteses de tipo penal, temos penas que não


admitem a prisão, via de regra. São penas que não superam os
quatro anos de reclusão, e por isso, via de regra, o acusado deve-
rá responder a todo o processo em liberdade e, se condenado,
também cumprirá sua pena no regime aberto, em liberdade. Ha-
48
vendo o reporte de uma situação de violência doméstica com a
ocorrência de lesão corporal e ou ameaça, de pronto, como vimos
anteriormente, serão decretadas medidas protetivas que, se des-
cumpridas, irão ocasionar a prisão do acusado, e provavelmente
responderá todo o processo preso.

Nesses casos é extremamente importante produzir provas


a seu favor! Veja, não havendo provas em sentido contrário ao
depoimento da vítima, o depoimento dela é que valerá para con-
denação!

E aqui podemos explorar inúmeros tipos de prova, hoje é


possível encontrar aplicativos para celular que fazem a gravação
de áudio ambiental e até mesmo a gravação através das câmeras
do celular sem que isso apareça na tela. Provas como essa são
fundamentais para derrubar falsas acusações, se você tiver, por
exemplo, a gravação da vítima fazendo ameaças de processo e
denúncias, isso já serve de base para descontruir seu depoimen-
to.

Isso pode ser visto em vários casos midiáticos, como o caso


Neymar¹ , que conseguiu se livrar das falsas acusações gravando
as agressões, chantagens e ameaças da suposta vítima. Releiam
sempre que preciso o nosso capítulo sobre as provas.

Então, as melhores maneiras de se precaver de falsas acu-


sações é sempre, sempre gravar, ainda que seja somente o áudio,
todo o período em que estiver acompanhado de alguém possa te
denunciar.

Nesse crimes, muitas vezes a única prova produzida é a


palavra da vítima, que como veremos ao longo deste livro, vale

¹ https://www.youtube.com/watch?v=SD1lEyXcWYo

49
como prova. Então, não são incomuns casos em que a própria ví-
tima causa lesões em si mesma, faz o exame de corpo de delito, e
o acusado acaba condenado por lesões que não causou. Quanto
as ameaças, é o mesmo caso, quando a vítima narrar ao delegado
que foi ameaçada, que sofreu chantagens ou coisa do tipo, e o
acusado não puder provar o contrário, via de regra será condena-
do.

Então, sempre que possível, produza provas. Sempre que


sentir que está entrando em uma situação perigosa, como uma
discussão que está ganhando força, ou se começarem a profe-
rir ameaças contra você, deixe o lugar imediatamente, e vá para
outro público, onde outras pessoas poderão testemunhar a situa-
ção.

Quanto a sua segurança dentro de casa, instale câmeras


de segurança, de forma velada, escondida, com armazenamento
em nuvem. A maioria das falsas acusações acontecem dentro de
casa, entre casais que já convivem a certo tempo juntos, e, den-
tro de casa, é muito difícil produzir provas em seu favor. Então,
a instalação de um circuito de câmeras de segurança internas e
escondidas, e cujas imagens possam ser acessadas por terceiro
se você for preso, pode te livrar de ser um preso inocente.

Isso também vale para o seu carro, hoje é possível encon-


trar no mercado dashcams, aquelas câmeras de segurança, muito
usadas por motoristas de aplicativos. Quando estiver com uma
mulher no carro, é sempre bom manter a câmera ligada, para pre-
venir por exemplo uma denúncia de assédio de uma mulher que
esteja no seu carro.

Enfm, se lembre sempre que a sua melhor arma contra


uma falsa acusação é uma prova de que ela não existiu! E, se lem-
bre também que, não existindo essa prova de que a denúncia é
50
falsa, a regra é a condenação.

Esteja preparado e espere o ataque de todo lugar.

3. O estelionato amoroso.

Bom, aqui temos uma fgura bem controversa no universo


jurídico brasileiro, como nós dissemos anteriormente, a fgura do
estelionato amoroso não existe na legislação, não existe um único
artigo de lei que preveja o estelionato amoroso. O que existem
são decisões espalhadas pelo país que acabaram criando um en-
tendimento no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal
de Justiça, as cortes superiores, de que esta fgura penal existe,
de que esta fgura penal, ainda que ela não esteja escrita na lei,
existe e constitui crime. Então, o que é de fato o estelionato amo-
roso?

O crime de estelionato é previsto no artigo 171 do código


penal e prevê que é crime obter para si ou para outrem vantagem
ilícita mediante prejuízo alheio, induzindo a pessoa em erro ou
qualquer coisa do tipo. Então, a partir do crime de estelionato, a
jurisprudência criou a fgura do estelionato amoroso que, como
podemos ver em decisões espalhadas pelo país, constitui a práti-
ca de enganar uma mulher, ludibriar uma mulher, iludir uma mu-
lher ou qualquer outro verbo que você queira escolher, para ob-
ter para si vantagem fnanceira.

Mas, vamos ver, à título exemplifcativo, o que o Ministério


Público entende como estelionato amoroso. O que você verá a
seguir é uma denúncia real apresentada pelo Ministério Público:

51
52
Resumidamente, para que aconteça o estelionato amoroso
– e aqui é importante lembrar que, como não existe uma lei espe-
cífca para este crime, a interpretação pode variar de acordo com
o juiz ou tribunal – é preciso que haja a coação – ou seu simples
convencimento - da vítima em emprestar dinheiro, ou transferir
bens, quaisquer que sejam, para o acusado, e aqui temos um pro-
blema.

Quando se torna um crime e quando é apenas uma situa-


ção corriqueira da vida? Veja, vamos imaginar a hipótese onde,
passando por um problema fnanceiro, você pede dinheiro em-
prestado a sua companheira, e ela o faz. Logo após, você desco-
bre uma traição, termina o relacionamento, a contragosto dela,
e, tomado pela raiva, deixa de pagar o empréstimo. Foi crime?
Depende...

53
Esta é uma situação clara onde a arbitrariedade do juiz que
irá julgar o processo é o que vai defnir o que é crime de fato ou
não. Pedir dinheiro emprestado para sua companheira é crime? E
se fosse para um amigo qualquer, seria crime também? E se você
tiver complicações fnanceiras e não conseguir pagar, é crime?

Claro, existem casos onde fca evidente a prática de golpes


reiterados, como o caso Galã do Tinder², onde o acusado conti-
nuamente fertava com mulheres com a intenção de obter van-
tagem fnanceira delas. Mas, e nas situações do dia a dia, onde
por exemplo, uma mulher má intencionada lhe transfere dinheiro,
com a suposta intenção de te ajudar com algo, e depois usa isso
como suposta prova de um crime?

É um campo nebuloso e sem respostas conclusivas, não


há sequer um artigo na lei prevendo este crime, mas todos os
dias homens são condenados por isso, então, é importante tomar
cuidados nas relações fnanceiras entre companheiros, tendo em
mente que você poderá ser processado futuramente se tomar di-
nheiro, emprestado ou doado, de sua companheira.

Vejamos a seguinte decisão, proferida em uma vara cível,


sobre o tema:

“PROCESSO CIVIL. TÉRMINO DE RELACIO-


NAMENTO AMOROSO. DANOS MATERIAIS
COMPROVADOS. RESSARCIMENTO. VEDA-
ÇÃO AO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA.
ABUSO DO DIREITO. BOA FÉ OBJETIVA.

² https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2022/09/22/golpista-conhecido-
-como-gala-do-tinder-e-preso-em-operacao-conjunta-entre-policia-civil-e-mi-
nisterio-publico.ghtml

54
PROBIDADE. SENTENÇA MANTIDA.

1. [...] depreendendo-se que a autora/ apela-


da efetuou continuadas transferências ao réu;
fez pagamentos de dívidas em instituições
fnanceiras em nome do apelado/réu; adqui-
riu bens móveis tais como roupas, calcados e
aparelho de telefonia celular; efetuou o paga-
mento de contas telefônicas e assumiu o pa-
gamento de diversas despesas por ele realiza-
das, assim agindo embalada na esperança de
manter o relacionamento amoroso que existia
entre a ora demandante. Corrobora-se, ainda
e no mesmo sentido, as promessas realiza-
das pelo varão-réu no sentido de que, assim
que voltasse a ter estabilidade fnanceira,
ressarciria os valores que obteve de sua ví-
tima, no curso da relação.

2. Ao prometer devolução dos empréstimos


obtidos, criou-se para a vítima a justa expec-
tativa de que receberia de volta referidos
valores. A restituição imposta pela sentença
tem o condão de afastar o enriquecimento
sem causa, sendo tal fenômeno repudiado
pelo direito e pela norma […].”

Imagine você vivendo seu relacionamento, sem problemas,


recebendo presentes de sua companheira, e, após o termino, ser
processado para que devolva o valor equivalente a todos os pre-
sentes que recebeu? E, ao fnal, ser condenado a isso...

Simplesmente não é seguro receber dinheiro ou qualquer


bem de valor de uma mulher, mesmo que esteja passando por
55
difculdades fnanceiras ou que a mulher se ofereça para lhe dar/
emprestar dinheiro, isso pode, a depender da mulher e do juiz do
caso, virar um crime no futuro, mesmo que tudo que tenha dito à
sua companheira tenha sido a verdade.

Então, evite a todo custo receber ou pedir dinheiro de qual-


quer mulher que seja, e, se não houver opção, trate disso pesso-
almente – nunca por mensagens – e receba somente dinheiro em
espécie, e não deposite esses valores em suas conta correntes.
O mesmo vale para outros bens de valor, como joias, relógios,
automóveis, etc. Não existe um parâmetro – já que não existe lei
escrita – para caracterizar este crime, então não é possível “medir-
mos” até que ponto receber bens de sua companheira é seguro
ou não, então, evite!

4. Dos crimes sexuais dentro do matrimônio.

Para pessoas normais é impensável a possibilidade de


ocorrer um crime sexual dentro do matrimônio, afnal, é de se
imaginar que um casal, casados e conviventes, mantenham con-
sensualmente relações sexuais, mas essa não é a realidade.

Dentro do contexto da violência doméstica, é comum ca-


sos onde, tomada de raiva momentânea, a companheira registre
boletim de ocorrência alegando alguma violação sexual. Este é o
caso de Sergio.

Sergio, certa vez, após ter discussão com sua esposa, dei-
xou o lar, e retornou alguns dias depois. Coisa corriqueira, do dia
a dia. Ocorre que sua esposa, assim que Sergio deixou a casa, se
dirigiu a delegacia da mulher, e narrou ao delegado de plantão
que teria sido estuprada por seu marido. Daí, se iniciou o inquéri-
to policial e o processo.

56
Acontece que Sérgio nunca soube da existência dessa de-
núncia, até o dia que foi preso. Após esta briga, e após a denún-
cia, o casal permaneceu junto por mais três anos, sem maiores
problemas. O casal se mudou de onde morava logo após o episó-
dio, e a delegacia nunca mais conseguiu encontrar nenhum dos
dois para prosseguir com a investigação.

O processo seguiu, e por não terem localizado o acusado


para prestar esclarecimentos, foi decretada sua prisão preventiva.
Sérgio, só descobriu isso em uma abordagem de rotina, feita pela
polícia militar, onde, quando consultaram seus documentos, foi
descoberto um mandado de prisão contra si, e, daquele dia, ele
passaria mais de dois anos preso.

Sergio então foi recolhido a um Centro de Detenção Provi-


sória, onde aguardou o julgamento do seu habeas corpus, por 2
anos, e foi solto, para aguardar sua sentença em liberdade. E, por
mais absurdo que pareça, foi condenado:

57
Importante esclarecer que, no caso de Sérgio, a única pro-
va do suposto crime era o depoimento da vítima, sua esposa!

Este é o clássico caso onde a vítima alega que algo aconte-


ceu, o acusado alega que não aconteceu, e não havendo nenhu-
ma outra prova, nem que sim e nem que não, o acusado acaba
condenado.

58
Então, é importante esclarecer: a existência de matrimônio
ou namoro não é garantia de consentimento para relação sexual!
Se houver a comunicação, pela mulher, à polícia, de que houve a
conjunção carnal sem consentimento, será instaurado inquérito
policial, e provavelmente isso irá virar uma acusação de estupro,
que tem pena mínima de 6 anos (que será agravada pela Lei Ma-
ria da Penha) e é crime hediondo. Se for preso, irá dividir cela
com estupradores de verdade e outros tipos de presos que não
podem fcar com a população comum, o famoso “seguro”.

Um outro detalhe importante é que nesses casos obrigato-


riamente será realizado o exame de corpo de delito, no Instituto
Médico Legal, para averiguar se houve ou não a prática da con-
junção carnal. Porém, diferente de um estupro real, onde fcam
marcas de agressão, marcas de defesa da vítima, que por exem-
plo é amarrada ou segurada, dentro do relacionamento esse tipo
de lesão não existirá (até por que se trata de uma denúncia falsa),
mas existirá a prova da conjunção carnal! Ou seja, apesar de não
haverem sinais de agressão, haverão sinais de conjunção carnal,
que, somadas às alegações da vítima de que não foi consensual,
ai terão provas sufcientes para condenação.

Aqui, cabem os mesmo conselhos já mencionados ante-


riormente. Grave o áudio ambiente sempre que tiver relações se-
xuais com qualquer pessoa que seja, para fns de provas no futuro,
se for denunciado, e não acredite que a existência de um relacio-
namento duradouro é garantia de algo. E lembre-se: compartilhar
esse tipo de conteúdo é crime, e somente deve ser utilizado em
casos de falsas acusações contra você!

5. O crime de stalking ou perseguição.

Existe no nosso ordenamento jurídico a previsão do crime


59
de perseguição, que, recentemente, foi apelidado de stalking.

De pouco tempo pra cá, esse tipo penal ganhou força e


tração, em razão dos meios tecnológicos avançados, com a fgura
dos fakes em redes sociais, etc., e isso tornou a denúncia por es-
ses crimes cada vez mais frequentes. E, no contexto de violência
doméstica, a pena para esses crimes, como sempre, é maior:

Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente


e por qualquer meio, ameaçando-lhe a inte-
gridade física ou psicológica, restringindo-lhe
a capacidade de locomoção ou, de qualquer
forma, invadindo ou perturbando sua esfera
de liberdade ou privacidade.

§ 1º A pena é aumentada de metade se o cri-


me é cometido:

II – contra mulher por razões da condição de


sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art.
121 deste Código.

Pois bem, o que é o stalking, penalmente falando? Aqui te-


mos outro tipo penal aberto, ou seja, subjetivo, interpretativo. Via
de regra, será considerado a frequência do contato com a vítima,
a forma do contato, o contexto do contato, entre outros critérios
subjetivos.

A situação mais comum é a que ocorre quando do término


de um relacionamento, o acusado, tentando recuperar o relacio-
namento perdido, começa a enviar reiteradas mensagens, pedin-
do mais uma chance, pedindo o retorno do relacionamento, etc.
Aqui, é importante salientar que, se a vítima retornar as mensagens,
responde-las, tal fato é indiferente para confguração do crime.
60
Neste caso prático, Arthur passou exatamente por essa si-
tuação. Inconformado com o término do relacionamento, mante-
ve conversa com sua ex-namorada durante certo tempo, esperan-
do retomar o convívio, e, sem ter proferido nenhuma ameaça ou
termo violento, acabou condenado:

61
Como se vê, não existe uma métrica prevista para confgu-
ração de perseguição, sendo que, como ocorre em outros tipos
penais, a interpretação casuística do juiz que irá analisar é o que
mais contará. Então, havendo a primeira resistência da outra parte
em receber mensagens, havendo o primeiro “não” em receber
mensagens ou qualquer outro tipo de contato, a partir daí poderá
se confgurar o crime em comento.

Não existe um conceito claro de “perseguição”, e não há


necessidade de existirem ameaças, ofensas, ou coisa do tipo, a
simples prática do envio de mensagens reiteradamente, ainda
que estas sejam de um teor pacífco, já pode confgurar o crime.

Apesar de vago, este é um tipo penal mais fácil de ser evi-


tado, mas são necessários alguns cuidados, começando com a
conduta de interromper o contato imediatamente, a partir do mo-
mento que a outra pessoa solicitar isso.

Lembrando que a “perseguição” contempla qualquer tipo


de contato, pessoalmente, por WhatsApp, ligação telefônica, Ins-
tagram, Facebook...

Mas, além disso, algumas outras medidas são importantes,


principalmente em casos de falsas acusações, ainda mais se tra-
tando em crime cometido por meio eletrônico, onde as provas
podem ser facilmente forjadas.

A vítima poderá, quando noticiar o crime à autoridade po-


licial, forjar mensagens de Whatsapp, por exemplo, e apresentar
isso como prova. É muito fácil criar conversas inteiras e apresentar
print’s de celular em delegacia, e aquilo contará como prova.

Neste caso, por óbvio que, se o acusado estiver sendo as-


62
sistido por um advogado, este poderá fazer um pedido de perícia
técnica, para que se os aparelhos eletrônicos sejam periciados e
possa se constata se de fato as mensagens foram enviadas pelo
acusado ou não. Não somente, no processo, poderão ser ofcia-
das as operadoras de telefonia ou até mesmo as plataformas de
troca de mensagens, como o WhatsApp e o Instagram, para que
estes forneçam informações.

Por isso, neste sentido, é importante sempre manter sua li-


nha telefônica cadastrada no seu próprio CPF, assim, caso alguém
mal intencionado forje uma conversa através de aplicativo, utili-
zando seu nome e foto, seu advogado ou defensor público po-
derá requerer que o juiz intime as empresas telefônicas para que
informem se o número (utilizado na denúncia falsa) é seu ou não,
e, não sendo, não é possível atribuir o crime a você, e você terá
sua linha verdadeira para demonstrar que a outra é falsa.

O mesmo vale para redes sociais, havendo uma denúncia


falsa imputada a você, utilizando-se de um perfl fake, será possí-
vel solicitar que as empresas responsáveis pela rede social infor-
mem no processo o endereço de IP no qual a conta foi acessada,
e, assim, provar que a denúncia é falsa. Aqui também vale lembrar
que cadastrar suas redes sociais verdadeiras no seu e-mail verda-
deiro são uma boa prova.

Por fm, é importante esclarecer que não é preciso que


exista um relacionamento entre as partes, acusado e vítima, para
confguração do crime. O crime pode se confgurar também em
relação a pessoas que somente se conhecem virtualmente, mes-
mo que ambos sejam apenas “conhecidos”.

Então, aqui, o meio mais efcaz de evitar esse problema, e


até mesmo evitar uma falsa acusação, é interromper o contato, de
forma completa, com qualquer um que demonstre estar incomo-
63
dado com isso, e se possível não permitir, bloqueando, que essa
pessoa volte a fazer contato com você.

6. 147-B, ou, o crime de chatear mulher.

Em 2021, na calada da noite, foi promulgada a alteração


legislativa que incluiu no Código Penal o crime de violência psi-
cológica contra mulher, inserido no art. 147-B do Código Penal.

A referida mudança legislativa foi a tampa sobre o caixão


de qualquer razoabilidade, bom senso e justiça de fato no que
tange a interferência estatal dentro dos relacionamentos, e colo-
cou um alvo permanente e perene nas costas de todo homem.
Como veremos a seguir, todo homem dentro de um relaciona-
mento, por mais raso que seja, está potencialmente cometendo
este crime, sem saber, a todo momento.

Este tipo penal serve de verdadeira ameaça, implícita e


permanente, para qualquer mulher usar contra qualquer homem,
e, coincidência ou não, muito pouco foi falado sobre isso na mí-
dia, internet ou qualquer outro meio. Normalmente, qualquer
mudança legislativa em benefício das mulheres é aclamado pelo
mainstream, e ventilado a exaustão por todo o meio, seja o das
feministas, seja o dos homens, mas, aqui, não foi o que aconteceu.

Sem muito alarde, essa mudança legislativa foi aprovada


e promulgada, e passou a vigorar. Faça um teste, pergunte pra
10 pessoa do seu convívio se conhecem o crime de violência psi-
cológica, e depois pergunte quantos conhecem a Lei Maria da
Penha, os resultados serão, respectivamente, 0 e 10.

Aqui, adentraremos no abismo mais profundo do universo


Maria da Penha, vejamos.

64
O crime em comento prevê nada menos que OITO VER-
BOS diferentes. Como já vimos, para que exista crime, é neces-
sário que haja a previsão desta conduta (verbo) na lei. No artigo
147-B, temos nada menos que oito condutas diferentes previstas:

Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher


que a prejudique e perturbe seu pleno desen-
volvimento ou que vise a degradar ou a con-
trolar suas ações, comportamentos, crenças e
decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, chanta-
gem, ridicularização, limitação do direito de ir
e vir ou qualquer outro meio que cause preju-
ízo à sua saúde psicológica e autodetermina-
ção:

Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois)


anos, e multa, se a conduta não constitui crime
mais grave.

Como visto, o tipo penal é tão abrangente que prevê qua-


se que todos os casos em que uma mulher possa fcar chateada
após uma simples discussão ou divergência de ideias. Como é
possível mensurar dano emocional? Como é possível mensurar
o que “perturbe seu pleno desenvolvimento”? Discordar de uma
crença ou decisão é violência psicológica?

Pois é, são as respostas dessas perguntas, totalmente vagas,


que irão determinar se você cometeu um crime ou não. Voltando
ao ponto, será que um juiz e uma juíza terão a mesma opinião so-
bre essas condutas? E, se não tiverem, a lei estará sendo aplicada
de forma diferente a duas pessoas? Essa á a problemática deste
crime.
65
Acredito que, dentre todos os crime envoltos nesse univer-
so, este seja o mais perigoso. É seguramente o crime que abre
maior margem para interpretações individuais e decisões basea-
das puramente no achismo do juiz que irá sentenciar. Se este for
com a sua cara, será um mero aborrecimento, se não for com a
sua cara – ou se for uma juíza – será violência psicológica. É sim-
plesmente impossível balizar uma decisão justa, fundamentada e
técnica em um tipo penal tão aberto.

Imagine o seguinte cenário: sua companheira diz que vai


conhecer um terreiro de umbanda, por que se interessa pelo as-
sunto e te convida para ir junto, e você, sendo de outra religião,
recusa o convite, dizendo que sua religião não permite frequentar
tais cultos. Dependendo de quem for decidir, você cometeu um
crime, pois desagradou a mulher, por não concordar com sua
crença. Esse é o tamanho do abismo.

Para exemplifcar, vamos transcrever adiante decisão da 9º


Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo,
que julgou caso de suposta violência psicológica, e que retrata
muito bem, e detalhadamente, essa situação:

“Segundo o apurado, o réu e a vítima conviviam em união


estável há quinze anos, e nos últimos dez anos o relaciona-
mento era permeado de insultos e ameaças por parte do
réu, até que no dia dos fatos, após chegar em casa embria-
gado, ele acusou-a de traição e ameaçou-a de morte.

A ofendida fnalmente fugiu de casa e compareceu ao dis-


trito policial, onde solicitou o registro da ocorrência e re-
quereu a fxação de medidas protetivas em seu favor.

66
Ouvida em ambas as fases da persecução penal, a vítima
discorreu sobre o contexto de violência doméstica por ela
vivenciado nos últimos dez anos, relatando que o acusado
constantemente a xingava e a acusava de tê-lo traído, ame-
açando-a de morte e chegando inclusive a agredi-la em al-
gumas poucas ocasiões. A respeito dos fatos aqui tratados,
disse que ele chegou em casa embriagado, como de costu-
me, e então a xingou e a ameaçou de morte, o que a deixou
aterrorizada e fez com que fugisse de casa e acionasse a
polícia, requerendo a fxação de medidas protetivas em seu
favor.

Não seria demais afrmar que nos crimes praticados em am-


biente doméstico ou familiar, nos quais normalmente não
há testemunhas, a palavra da vítima ganha especial relevân-
cia, não podendo ser desconsiderada, notadamente se em
consonância com os demais elementos de prova existentes
nos autos.

Vale ressaltar que o tipo penal do artigo 147-B do Código


Penal, introduzido pela Lei nº 14.188/2021, possui como
bem jurídico tutelado a saúde psicológica da mulher e visa
impedir que a vítima sofra qualquer dano ou abalo de or-
dem emocional. O tipo penal traz, em rol exemplifcativo,
diversas situações que caracterizam ofensa ao bem jurídico
em questão, as quais, segundo os ensinamentos de Rogério
Sanches Cunha , são assim explicadas:

“mediante ameaça (promessa de mal injusto e grave), cons-


trangimento (insistência importuna), humilhação (rebaixa-
mento moral), manipulação (manobra para infuenciar a von-
tade), isolamento (impedimento da convivência com outras
pessoas), chantagem (pressão sob ameaça de utilização de

67
fatos criminosos ou imorais, verdadeiros ou falsos), ridicula-
rização (escarnecimento, zombaria, que não passa de uma
forma de humilhação), limitação do direito de ir e vir (res-
trição da livre movimentação) ou qualquer outro meio que
cause prejuízo à saúde psicológica e autodeterminação. Por
esta última forma analógica estende-se o tipo a quaisquer
outras condutas que possam interferir na saúde psicológica
e no exercício de se decidir”.

Trata-se de crime doloso quanto à conduta de praticar atos


de violência psicológica, ou seja, o agente age com consci-
ência e vontade ao ameaçar, constranger, humilhar, mani-
pular, isolar, chantagear, ridicularizar, limitar o direito de ir e
vir ou praticar alguma outra conduta que cause à ofendida
qualquer prejuízo à sua saúde psicológica e autodetermi-
nação.[...]

E embora se trate de delito material, o crime em questão


não exige habitualidade, bastando à sua consumação um
único ato capaz de capaz de gerar dano emocional à ofen-
dida.

Não é outro o entendimento da melhor doutrina: “O tipo


penal do art. 147-B não exige habitualidade (reiteração
de condutas), consumando-se com apenas um ato cuja
gravidade concreta já cause um dano emocional signi-
fcativo. Certamente, relações abusivas e violentas que se
prolongam no tempo gerarão danos emocionais, e, portan-
to, confgurarão o delito. Nessa situação, não sendo possí-
vel separar atos individualizados de danos emocionais es-
pecífcos, o conjunto dos atos abusivos será considerado
como uma conduta única”, parecendo ser exatamente esta
a hipótese dos autos.

68
Então, como podemos ver na decisão acima, entendeu-se
que, como a vítima alegou que sofreu “humilhações” ao longo
de 15 anos de relacionamento, está confgurado o crime. Ago-
ra, como pode-se mensurar esse abalo psicológico? Se a relação
era tão prejudicial como narrou a vítima, será que seria possível
tolerar isso por 15 anos? Ou será que a situação não era maior
que um mero aborrecimento? Uma dinâmica comum de casais,
que divergem, discutem, brigam, e seguem a vida normalmente,
como pessoas normais?

E aqui entramos no campo subjetivo, interpretativo, onde


o juiz que analisar o caso concreto é que decidirá se houve crime,
e não a lei. Entendam: quem decide se houve crime não é a lei!
Pois é, parece absurdo, mas é a realidade.

Em outra decisão, proferida pela 6ª Câmara de Direito Pri-


vado do Tribunal de Justiça de São Paulo, vemos que basta con-
tratar uma psicóloga para produzir laudo atestando o que quiser,
que isso será considerado prova cabal de crime, mesmo que isso
não seja analisado por um técnico (psicólogo/psiquiatra) isento e
neutro:

“Em suas razões, ela noticia difícil convívio com


o agravado. Além disso, ela juntou aos autos
o laudo elaborado pela psicoterapeuta que a
acompanha, o qual aponta a prática de violên-
cia psicológica e patrimonial pelo agravado,
além de conter expressa recomendação para
o afastamento deste último do lar conjugal,
com o intuito de interromper a sequência de
abusos perpetrados contra a agravante (págs.
586/587 dos autos principais).

69
Muito embora referido laudo tenha sido
produzido de forma unilateral, certo é que
ele não pode ser desconsiderado e eviden-
cia, ainda que em sede de cognição sumá-
ria, a nocividade do convívio entre a agravante
e o agravado, permeada de agressividade ver-
bal (vide boletim de ocorrência págs. 74/76),
em nítido prejuízo à saúde física e mental da
agravante, bem como ao infante Joaquim,
que, com apenas dois anos de idade (pág. 45),
é expectador do confito travado entre seus
pais.”

Neste decisão vemos a seguinte situação: a vítima narra


sua versão dos fatos à sua terapeuta, com base nisso a terapeuta
elabora laudo recomendando o afastamento de seu companhei-
ro do lar e atestando violência psicológica, e, com base unica-
mente nessa prova e no depoimento da vítima, o acusado acaba
condenado pelo crime em comento. E, como se extrai da decisão
transcrita, é reconhecido pelo próprio desembargador que o re-
ferido laudo foi produzido de forma unilateral, sem análise de
um perito imparcial, e ainda assim, dá a esse documento valor
de prova incontestável.

E aqui abrimos margem para um outro questionamento. É


possível obrigar uma vítima de violência doméstica a passar por
avaliação psiquiátrica? Pense na seguinte hipótese, sendo pro-
cessado por violência doméstica, sua defesa no processo faz um
requerimento ao juiz para que a vítima seja avaliada por psiquia-
tra para que este avalie possíveis danos psicológicos. Essa prova
pode ser produzida se a vítima se negar? Não!

A lei Mariana Ferrer (que trataremos detalhadamente mais


70
adiante) proíbe tal conduta. Então, sua defesa processual não po-
derá requerer a avaliação psicológica de vítima de violência psi-
cológica, e você não poderá produzir prova a seu favor, ainda que
seja uma falsa denúncia.

E ainda que essa prova não fosse permitida de se produzir,


dado o valor probatório conferido à palavra e às provas produ-
zidas pela vítima, tal meio de prova defensivo é, via de regra, re-
chaçado, como se verifca nesta decisão da 14ª Câmara de Direito
Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo:

“Não há falar em nulidade por cerceamento


de defesa, porquanto a avaliação psicológica
da vítima, requerida pela Defesa, foi devida-
mente indeferida pela magistrada “a quo” por
duas vezes (págs. 105 e 143).

Nas decisões referidas, julgou-se que as


provas carreadas aos autos seriam sufcien-
tes para a apuração dos delitos nestes autos
discutidos, mormente diante da ausência de
indício de transtorno psicológico da ofendida
a justifcar a medida.

Assim, correto o indeferimento, na medida em


que a diligência não se revelou necessária.”

Ou seja, em nome da suposta defesa das mulheres, nega-


-se qualquer direito de defesa ao homem. A única forma de fazer
prova de que não há abalo emocional é justamente através de
avaliação psicológica, feita por perito isento e nomeado pelo juiz,
e é basicamente a única prova possível apta a absolver um acu-
sado deste crime, e, como vimos, esse meio de prova não é per-
mitido pela jurisprudência. Mais à frente explicaremos o conceito
71
de “revitimização”, que coloca mais uma barreira na produção de
provas.

Então, como narramos anteriormente, existe hoje um alvo


permanente nas costas de todo homem que mantém relaciona-
mento de qualquer tipo com mulheres.

Existe um crime, vago, interpretativo, e quem irá dizer se


ocorreu ou não é o juiz que analisar o caso, e que pode ser ale-
gado em inúmeras situações do cotidiano, bastando dizer que
sofreu abalo emocional. De outro lado, temos no processo a pro-
blemática da prova e do cerceamento de defesa, já que, a única
prova possível de ser produzida, é proibida de ser feita.

Resumidamente, este crime conferiu poderes quase que


ilimitados à mulher, que poderá inclusive utilizar esse tipo penal
como arma para estelionatos e extorsões, já que tem carta branca
para dizer que sofreu abalo psicológico – impossível de mensurar-
e que agora é crime.

Aqui, infelizmente, não podemos dar dicas ou conselhos


de como se prevenir de falsas acusações como esta além das bá-
sicas – gravar conversas etc., - já que não há como se defender de
algo que não conhecemos. Cada vara de violência doméstica terá
um entendimento diferente sobre o que confgura o crime, cada
juiz terá um entendimento diferente, e, de outro lado, a defesa
nunca terá oportunidade. Assim, neste cenário, não sabemos o
que pode acontecer e nem como pode acontecer.

Aqui, o remédio é se acostumar com o alvo.

72
7. O crime de divulgação de pornografa, o “porn re-
venge”.

Existe no nosso ordenamento jurídico a previsão de crime


para aquele que divulga, sem consentimento, conteúdo porno-
gráfco alheio, como diz o artigo 218-C do Código Penal:

Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar,


transmitir, vender ou expor à venda, distribuir,
publicar ou divulgar, por qualquer meio - in-
clusive por meio de comunicação de massa
ou sistema de informática ou telemática -, fo-
tografa, vídeo ou outro registro audiovisual
que contenha cena de estupro ou de estupro
de vulnerável ou que faça apologia ou induza
a sua prática, ou, sem o consentimento da ví-
tima, cena de sexo, nudez ou pornografa.

Para confguração deste crime, basta que o acusado dispo-


nibilize, a terceiro, qualquer mídia com conteúdo sexual da vítima,
somente. Aqui, a divulgação pode acontecer por qualquer modo,
WhatsApp, Instagram, e-mail, etc., e não se exige nenhuma outra
conduta exigida, basta a sua disponibilização para confguração
do crime.

O referido crime surge com a normalização da prática do


“revenge porn”, que consiste na prática de divulgação de conte-
údo pornográfco de pessoas com quem já se manteve relacio-
namento, como uma forma de vingança, e tal prática se tornou
muito comum com a realidade tecnológica atual.

Aqui, é importante salientar que a única forma de exclusão


73
da culpabilidade, ou seja, de absolvição se houver uma denúncia,
é a prova expressa da vítima autorizando a veiculação do material.
Então, o simples compartilhamento das mídias pela vítima a uma
pessoa, não confgura autorização outorgada à essa pessoa para
compartilhamento com terceiros, nesse caso, se confgura o cri-
me.

O maior risco nesse crime é, novamente, a falsa denúncia,


e por se tratar de crime cometido quase que exclusivamente no
ambiente virtual, a produção de provas também se torna mais di-
fícil.

É o caso de Divanei. Divanei manteve relacionamento com


mulher pouco casta, e que tinha por hábito compartilhar fotos
íntimas com ele, e com várias outras pessoas ao mesmo tempo.
Acontece que o relacionamento se fndou, de forma pouco ami-
gável, gerando consequências jurídicas sérias à Divanei.

Sua ex-companheira, “vítima”, que tinha esse hábito de


divulgar imagens suas com diversas pessoas, passou a receber,
através de seus familiares, chantagens econômicas para não di-
vulgação do material. Uma pessoa desconhecida, utilizando um
número de celular registrado em nome de terceiro desconhecido,
passou a enviar as fotos da vítima para seus familiares, e pedia
dinheiro para não vazá-las na internet.

Como a vítima precisava se justifcar para sua família pelo


seu comportamento online, e aproveitando que já havia denun-
ciado Divanei, falsamente, por ameaça, anteriormente, aprovei-
tou a oportunidade e disse que as fotos teriam sido enviadas so-
mente a ele, e portanto, ele seria o responsável pelo vazamento:

74
Então, com base unicamente em depoimento da vítima e
em print’s de WhatsApp, que podem ter sido enviados por qual-
quer pessoa, Divanei é processado.

Aqui, trata-se de uma defesa complexa e provas difíceis de


serem produzidas, já que a única forma de isentar alguém acusa-
do falsamente, é através de perícia técnica nos aparelhos eletrô-
nicos onde foi supostamente praticado o vazamento do material,
ou no que recebeu. E, se tratando dos aparelhos eletrônicos da
vítima, essa perícia será, via regra, negada, por conta da “revitmi-
zação”, que já tratamos aqui.

E não somente, a acusadora poderá, com o intuito de pre-


judicar seu ex-companheiro, criar contas fakes em redes sociais,
compartilhar o próprio material, e, após, excluir essas contas, tor-
nando extremamente mais difícil qualquer perícia técnica para
apurar a origem dos vazamentos.

Veja que situação delicada: a vítima envia fotos íntimas


para diversas pessoas, alguma ou algumas dessas pessoas “vaza”

75
as fotos, e, partir daí, a vítima escolhe quem será condenado!
Escolhendo qual dos agraciados com suas fotos é que vão ser
processados.

E ai que entra o mais importante. Uma vez que a pessoa


tenha lhe enviado fotos íntimas, ou, ainda, se algum conhecido de
tal pessoa lhe enviar essas fotos, e você mantiver essas fotos em
seus dispositivos eletrônicos, você basicamente esta armazenan-
do provas contra si, caso esta pessoa resolva lhe denunciar, ainda
que você nunca tenha compartilhado tais mídias.

Então, é importante guardar para si que o simples fato de


manter em seu aparelho celular ou computador material porno-
gráfco de conhecidos, em uma possível denúncia, servirá de pro-
va para sua condenação.

E por mais que pareça um contra senso, é útil, no sentido


de prova, manter sua linha telefônica registrada em seu próprio
nome, bem como suas redes sociais vinculadas aos seus próprios
e-mails, para, em caso de enfrentar uma falsa acusação, possa dis-
ponibilizar seus aparelhos eletrônicos e demonstrar que as mídias
jamais partiram de você.

E, nesse tipo de crime, existe um outro fator que é extre-


mamente prejudicial para o acusado em uma falsa denúncia: a
falta de preparo técnico da polícia. Via de regra os investigadores
de polícia tem pouco – as vezes nenhum – preparo técnico para
investigação de crimes cibernéticos, a maioria sequer tem fami-
liaridade com aplicativos de celular. Então, na maioria dos casos,
a vítima irá comparecer na delegacia, irá dizer que você compar-
tilhou fotos e vídeos dela e vai apresentar print’s que corroboram
suas alegações, e que possivelmente foram montados pela pró-
pria vítima.

76
A partir daí, o investigador/delegado que não sabem nem
por onde começar uma investigação como essa, irá enviar tudo
isso para o Ministério Público, que também não sabe investigar, e
tudo isso irá virar um processo criminal, contra um inocente.

Então, por mais que lá na frente, no processo, você consiga


provar que a acusação é falsa, o que já é difícil por si só, você já
teve todo o trabalho, o gasto de tempo, dinheiro, e saúde mental,
de lidar com uma falsa acusação, tudo isso por que a polícia não
sabe ou não quer investigar a origem de um compartilhamento...
E é por isso que produzir provas a seu favor é extremamente im-
portante, seguindo as dicas que já demos. Evite a todo custo so-
licitar, receber e armazenar fotos ou vídeos com conteúdo sexual
de qualquer pessoa, mesmo que você saiba que não é o único a
receber isso.

8. A inimiga da defesa, a Lei Mariana Ferrer.

Todos conhecem Mariana Ferrer, a “vítima do estupro cul-


poso” que nunca existiu. O caso tomou repercussão nacional e
internacional, mobilizando praticamente todas as emissoras de
rádio e TV, e também todas as mulheres medianas, que levanta-
ram hashtags como o #nãoexisteestuproculposo, e que lotaram
as redes sociais, balbuciando mentiras contadas e repetidas à
exaustão sobre um fato que nunca ocorreu.

Mariana Ferrer era uma daquelas infuencers de Instagram,


que basicamente compartilhava sua vida social (depravada) e fo-
tos (ainda mais depravadas) e, certo dia, decidiu tentar decolar
na sua “carreira”, às custas da vida e do legado e um homem, acu-
sando-o de estupro. O julgamento de Mariana Ferrer veio à tona,
vazado pela própria vítima e por sua defesa no processo, com o
intuito de “ganhar o processo à força”.

77
Nas cenas do julgamento que “vazaram”, segundo a nar-
rativa das próprias mulheres na internet, vemos trechos do inter-
rogatório da vítima, feito pelo advogado de defesa do acusado,
onde este questiona Mariana Ferrer sobre suas publicações na
internet, que davam destaque aos seus atributos físicos, e esses
questionamentos surgem tendo em vista que a casa noturna onde
supostamente se iniciou o ato criminoso era famosa por receber
garotas de programa “amadoras”, daquelas que estudam, fazem
faculdade, mas gostam de dinheiro fácil.

Então, tentando demonstrar a verdade dos fatos, tentan-


do demonstrar que, na verdade, Mariana Ferrer queria apenas se
promover midiaticamente através da ruína de um homem, já que
não conseguiu obter daquele homem o que queria, o advoga-
do de defesa leva Mariana aos prantos, quando a questiona. E,
a partir disso, se inicia um movimento nacional, que obtém êxito
ao fnal, para tornar crime qualquer tipo de exposição pública de
uma mulher que denuncia, mesmo que esta denúncia seja falsa.

E, a partir daí, surge a lei 14.245/2021, conhecida como Lei


Mariana Ferrer, e que institui limitações no exercício da defesa. A
referida lei prevê o seguinte:

Art. 1º Esta Lei altera os Decretos-Leis nos


2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Pe-
nal), e 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Códi-
go de Processo Penal), e a Lei nº 9.099, de 26
de setembro de 1995 (Lei dos Juizados Espe-
ciais Cíveis e Criminais), para coibir a prática
de atos atentatórios à dignidade da vítima e
de testemunhas e para estabelecer causa de
aumento de pena no crime de coação no cur-
so do processo.
78
Art. 400-A. - Na audiência de instrução e julga-
mento, e, em especial, nas que apurem crimes
contra a dignidade sexual, todas as partes e
demais sujeitos processuais presentes no ato
deverão zelar pela integridade física e psicoló-
gica da vítima, sob pena de responsabilização
civil, penal e administrativa, cabendo ao juiz
garantir o cumprimento do disposto neste ar-
tigo, vedadas:

I - a manifestação sobre circunstâncias ou ele-


mentos alheios aos fatos objeto de apuração
nos autos;

II - a utilização de linguagem, de informações


ou de material que ofendam a dignidade da
vítima ou de testemunhas.

Art. 474-A. Durante a instrução em plenário,


todas as partes e demais sujeitos processuais
presentes no ato deverão respeitar a dignida-
de da vítima, sob pena de responsabilização
civil, penal e administrativa, cabendo ao juiz
presidente garantir o cumprimento do dispos-
to neste artigo, vedadas:

I - a manifestação sobre circunstâncias ou ele-


mentos alheios aos fatos objeto de apuração
nos autos;

II - a utilização de linguagem, de informações


ou de material que ofendam a dignidade da
vítima ou de testemunhas.

79
Então, como vemos, esta lei tornou crime qualquer conduta
que “atente contra a dignidade da vítima em crimes de violência
doméstica”, sendo que tal regra vale para todos os participantes
da mesa, para os advogados, juiz, promotor... E isso nos traz uma
série de problemas sérios, legais e jurídicos, e que colocam mais
um obstáculo na defesa do homem e na busca por justiça.

Limitando a ampla defesa, com a alegação de que pode-se


acabar ferindo a integridade da vítima, se impõem limites seve-
ros à atuação da defesa no processo. Uma das linhas de defesa
que poderiam ser utilizadas para descredibilizar as alegações da
vítima em crimes sexuais é justamente sua vida pregressa. Ima-
gine uma vítima que já denunciou um crime sexual antes e fcou
comprovado que era uma denúncia falsa. Se outro homem for víti-
ma de falsa acusação dessa mesma pessoa, não poderá usar esse
fato para sua defesa!

A possibilidade de trazer ao processo provas de que a víti-


ma já denunciou falsamente antes – e que a denúncia atual pode
também ser falsa – não existe mais, sob pena de quem o fzer in-
correr em crime.

Não somente, imagine uma denúncia falsa de crime sexual


ocorrido em uma casa noturna, e a defesa do acusado consegue
ter acesso a imagens da casa noturna onde mostram que a víti-
ma, em seu comportamento, provocou a situação que descreveu
como crime sexual, explicitamente, dando margem para erro do
acusado. Essa prova também não poderá ser usada, pois “fere a
dignidade da vítima”.

Imagine, por exemplo, que a vítima mantenha conversas


por WhatsApp com o acusado, com teor puramente erótico, insti-
gando o acusado a todo momento, e dizendo expressamente que
80
determinado dia terão conjunção carnal. Após esse determinado
dia, onde consumam o combinado, a vítima resolver denunciar o
acusado por estupro, dizendo que não teria consentido.

Essas conversas poderão ser usadas como provas de defe-


sa? Não! Sob pena de “atentar contra a dignidade da vítima” e se
caracterizar crime, contra o defensor do réu inclusive!

Essa lei, assim como outras que abordamos, tem o proble-


ma de ser genérica, aberta a interpretações diversas, e entrega
a cargo do juiz do caso avaliar o que é crime ou não. Temos dois
aspectos principais nesta lei, que são os seguintes.

O primeiro, é a proibição de “manifestação sobre circuns-


tâncias ou elementos alheios aos fatos objeto de apuração nos au-
tos”. Aqui, podemos voltar ao exemplo anterior. Trazer ao proces-
so provas de que a vítima já fez falsas denúncias anteriormente
caracteriza crime? Depende do juiz.

O segundo, é a proibição de “a utilização de linguagem, de


informações ou de material que ofendam a dignidade da vítima
ou de testemunhas”. Aqui, quem é que vai defnir a linguagem
que fere a dignidade da vítima? Se existem provas claras que de
o caso em análise é falso, e for questionado à vítima se ela mentiu
sobre um ou outro fato, isso é atentatório à sua dignidade? Nova-
mente, depende do juiz.

E, nesta linha, lembrando que este crime se aplica tanto ao


advogado de defesa quanto ao juiz, que juiz que vai se colocar
em risco de responder processo cível e criminal apenas para
garantir a defesa do acusado? Que concursado, em um dos
concursos mais disputados e mais bem remunerados do país vai
se colocar em risco, para defender o direito de um desconheci-
do? Sob a possibilidade de inclusive ter sua vida pessoal revirada
81
pela mídia e pela militância. Nenhum.

Em verdade, esta lei colocou toda e qualquer vítima, até


mesmo aquelas que praticam as falsas acusações, em um pedes-
tal imaculado, livre de qualquer questionamento, livre de qual-
quer julgamento, e, pior, livre do compromisso com a verdade.

Vejamos por exemplo a seguinte decisão, da 2ª Turma Cri-


minal do Distrito Federal, em caso onde a defesa constituída do
acusado requereu a condução coercitiva da vítima para prestar
depoimento em juízo, tendo em vista sua ausência injustifcada, e
teve seu pedido negado:

“Asseverou o Reclamante, em resumo, que cuida-se, na ori-


gem, de ação penal proposta em face de xxxxxxxxxxxxxxx,
a fm de apurar a prática de crimes de ameaça e descum-
primentos de medidas protetivas cometidos contra a vítima
xxxxxxxxxxxxxxx, sua ex-namorada, bem como crime de em-
briaguez ao volante.

Relatou que a denúncia foi oferecida, sendo arrolada a víti-


ma e três testemunhas, e recebida. Narrou que, na primeira
audiência de instrução e julgamento, a vítima, embora in-
timada, não compareceu nem apresentou justifcativa para
sua ausência, mesmo após tentativa de contato telefônico
pelo Ministério Público; em razão disso, o “Parquet” reque-
reu a condução coercitiva da vítima, mas o pedido foi inde-
ferido pelo eminente Magistrado.

Argumentou que, nos moldes do artigo 201, § 1º, do Có-


digo de Processo Penal, sempre que o ofendido for intima-
do para prestar declarações e não comparecer, poderá ser
conduzido à presença da autoridade. Aduziu que as decla-

82
rações da vítima são essenciais na busca da verdade real,
princípio basilar da ciência criminal.

Acrescentou que a vítima, ao noticiar um delito às autorida-


des competentes, dá azo à movimentação da máquina es-
tatal, tendo deveres processuais, tais como responder aos
chamados da Justiça, até por não ter a livre disposição da
ação penal (como teria caso se tratasse de ação penal pri-
vada exclusiva). Registrou que, embora não preste compro-
misso de dizer a verdade, a vítima tem o dever de compa-
recer em juízo, até mesmo para que seja apurado o motivo
de sua ausência, em aplicação analógica ao artigo 16 da Lei
11.340/06. [...]

Em relação ao argumento tecido pelo Reclamante, no sen-


tido de que, para que o Ministério Público exerça sua fun-
ção privativa de promover ação penal pública, é necessário
que possa utilizar todos os mecanismos processuais proba-
tórios, convém ressaltar que o direito à prova no processo
penal não é absoluto, devendo ceder diante da tutela de
outros direitos e garantias constitucionais confrontados, tais
como a dignidade da vítima e sua liberdade de locomoção.

Nesta diretiva, conclui-se que conduzir coercitivamen-


te a vítima de delitos de violência doméstica e familiar
contra a mulher, seja para reiterar em Juízo a narrativa
do evento delituoso seja para justifcar a sua opção por
permanecer em silêncio, principalmente quando o cenário
no qual a ofendida encontra-se inserida, em sua concepção,
já se harmonizou, implica em revitimização.”

83
E, na mesma decisão, o desembargador relator trás o con-
ceito de revitimização (é extremamente importe você entender
isso), fundamento utilizado para negar o pedido de depoimento
da vítima:

“O termo revitimização, segundo documento do Governo


Federal denominado Diretrizes para investigar, processar e
julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de
mulheres, de abril-2016, tem sido aplicado para descrever
a situação enfrentada por mulheres, crianças e adolescen-
tes vítimas de violência que têm o sofrimento prolongado
pelo atendimento inadequado por parte das instâncias de
controle social (polícia e Judiciário), notadamente durante
os procedimentos de registro e investigação policial e do
processo criminal:

O conceito de revitimização tem sido aplicado para descre-


ver a situação enfrentada por mulheres, crianças e adoles-
centes vítimas de violência, quando seu sofrimento é pro-
longado pelo atendimento inadequado nos serviços onde
tenham buscado atendimento. A revitimização expressa-se
como o atendimento negligente, o descrédito na palavra da
vítima, o descaso com seu sofrimento físico e/ou mental, o
desrespeito à sua privacidade, o constrangimento e a res-
ponsabilização da vítima pela violência sofrida. A Criminolo-
gia também trata de formas de revitimização considerando,
além da vitimização primária (o crime ou violação de direito
sofrida), a vitimização secundária, como resultado da inter-
venção das chamadas instâncias de controle social – polícia
e judiciário – especialmente durante os procedimentos de
registro e investigação policial e do processo criminal; e a
vitimização terciária, quando a vítima é discriminada e/ou

84
culpabilizada por aqueles indivíduos e/ou grupos que de-
veriam constituir sua rede apoio – familiares, amigos, entre
outros.”

Aqui, fca claro que a ampla defesa do acusado de crimes


sexuais não tem lugar no processo penal. O depoimento da víti-
ma – além de ter o dever legal de acontecer – é crucial para es-
clarecimento dos fatos. Muitas vezes é durante o depoimento da
vítima que se percebem as inconsistências e contradições entre a
verdade real do mundo e dos fatos, e o seu depoimento (que tem
valor probatório).

É no depoimento da vítima e das testemunhas que a defe-


sa do acusado poderá encontrar falhas em suas alegações feitas
na delegacia e feitas em audiência, podendo encontrar, nas in-
consistências, as mentiras.

Sem a possibilidade de interrogatório da vítima, vale no


processo somente o seu depoimento em delegacia, onde não
há a oportunidade de questionamento. E, sem a possibilidade de
produção de outras provas (como vimos anteriormente), simples-
mente não há defesa.

Imagine a seguinte situação: determinada vítima narra em


delegacia que seu companheiro praticou qualquer crime sexual
contra ela, o processo começa, e a única prova é aquele depoi-
mento prestado na delegacia. Quando intimada para prestar de-
poimento em juízo (oportunidade que poderia ser confrontada)
alega que aquela situação lhe traz angustia e medo, e assim o juiz
aceita que não compareça na audiência. Como que a prova de
defesa poderá ser produzida?

85
Neste exemplo, tendo o crime supostamente ocorrido
dentro do lar, sem testemunhas, e havendo a impossibilidade da
vítima (aquela que acusa) ser questionada para esclarecer os fa-
tos, o acusado será condenado sem oportunidade de defesa e
sem provas! Tudo isso em nome da “dignidade da vítima”, e para
evitar a “revitimização”.

E assim a defesa, garantia constitucional a todos os cida-


dãos, é sepultada quando se trata de crimes sexuais. Assim, todas
as falsas acusações, como foi o caso de Mariana Ferrer, que origi-
nou esta lei, tornam-se verdade absoluta, sem oportunidade de
defesa, sem oportunidade de produção de provas, condenando
o acusado, sob a égide da “proteção da vítima”.

Além disso, a lei prevê a punição cível e criminal para to-


dos aqueles que a desrespeitarem (o que vai depender do enten-
dimento de quem julgar), o que faz com que os operadores do
direito, advogados, juízes e promotores, temam o livre exercício
da profssão, limitando sua atuação, e colocando um alvo em suas
costas. Quem irá arriscar perder seu cargo público ou sua inscri-
ção na Ordem dos Advogados do Brasil para perseguir a justiça
para um acusado falsamente? A aposta é muito alta.

Mesmo os advogados de defesa contratados terão sua atu-


ação limitada, pois, tendo incorrido neste crime – tendo apenas
feito perguntas à vítima por exemplo – poderá perder seu ganha
pão, seu sustento, com o cancelamento da sua carteira profssio-
nal.

A lei Mariana Ferrer, independentemente dos argumentos


utilizados para sua promulgação, só tem um efeito prático: cerce-
ar a defesa.

86
E isso confere a qualquer mulher um poder muito grande,
o de acusar, sem provas, e não poder ser punida por isso. E, pior,
o de colocar qualquer inocente na cadeia.

Em verdade, essa lei colocou um alvo em todos os envolvi-


dos em um processo, que terão que assistir calados os mais diver-
sos absurdos praticados em denúncias falsas, sob pena de prati-
carem crime com simples questionamentos, e perderem o direito
de exercer sua atividade profssional.

O assunto é complexo e não permite conclusões. Ao con-


trário do que se possa imaginar, o problema aqui não é o crime
em si ou sua pena, mas sim suas consequências, e como estas
consequências trazem temor a quem atua nas varas de família e
violência doméstica, seja como defensor, seja como acusador,
seja como julgador. Manter esse estado de ameaça constante so-
bre todos que participam do processo, apenas faz com que as
falsas denúncias se proliferem, e que todos sejam desestimulados
a combate-las, além de garantir à mulher quase que o direito de
acusar falsamente, já que não poderá ser questionada.

Novamente – e infelizmente – acostumem-se com o alvo


nas costas.

87
CAPÍTULO 3
DOS CRIMES SEXUAIS

1. A violação sexual mediante fraude

O Art. 215 do Código Penal prevê o crime de violação se-


xual mediante fraude, que diz o seguinte:

Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar ou-


tro ato libidinoso com alguém, mediante frau-
de ou outro meio que impeça ou difculte a
livre manifestação de vontade da vítima:

Como podemos ver, esse crime exige basicamente duas


coisas, que tenha ocorrido conjunção carnal ou ato libidinoso, e
que isso tenha ocorrido mediante fraude, ou seja, que a vítima,
no momento do ato, não tenha tido plena ciência da situação ou
tenha sido levada a erro, o que pressupõe que sua vontade seria
outra, se soubesse da verdade. Parece simples, mas existem algu-
mas pegadinhas aqui.

Esse crime já ganhou os noticiários algumas vezes, em ca-


sos famosos como o do curandeiro João de Deus¹, onde ocorre-
ram situações que caracterizam exatamente esse crime.

No caso de João de Deus, este prometia curas espirituais e


físicas em troca da pratica de conjunção carnal e outros atos libi-
dinosos. Exatamente a situação que descreve o artigo, e, nesses
casos, e de outros médicos que abusam sexualmente de pacien-

¹ https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2023/07/10/joao-de-deus-e-conde-
nado-a-quase-100-anos-por-crimes-sexuais.ghtml

88
tes durante exames por exemplo, a situação fca clara, mas não é
sempre assim.

E quando a vítima, mesmo que “enganada”, é praticamente


tão culpada quanto o acusado? Vejamos dois exemplos:

Em um caso ocorrido no Distrito Federal, a “vítima” procu-


rou o serviço de um massagista, o contratou, e, durante a mas-
sagem, acabou por ter conjunção carnal com este. Como relata
o Desembargador que julga o caso, da 1ª Câmara Criminal do
Distrito Federal, a vítima somente aceitou ter a conjunção carnal
pois acreditava que “isso abriria seus chacras”, literalmente:

APELAÇÃO. VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE


FRAUDE. AUTORIA E MATERIALIDADE COM-
PROVADAS. TIPICIDADE DA CONDUTA COM-
PROVADAS. CONDENAÇÃO MANTIDA.

1. Nos termos do art. 215 do Código Penal,


pratica o crime de violação sexual mediante
fraude quem tem conjunção carnal ou pratica
outro ato libidinoso com alguém, mediante
fraude ou outro meio de impeça ou difculte a
livre manifestação da vontade da vítima.

2. Na hipótese, não há que se falar em absol-


vição por atipicidade da conduta, porquanto
restou comprovado que a ofendida somen-
te consentiu para a ocorrência da relação
sexual durante a realização da massagem
tântrica pelo réu porque estava totalmen-
te envolvida no engodo do acusado, e, não
sendo capaz de livremente manifestar sua von-
tade, aceitou o que lhe era dito pelo denun-
89
ciado: que a conjunção era necessária para
abertura dos chacras e que ambos deveriam
comungar do mesmo desejo.

Então, no caso acima, temos a seguinte situação: a vítima


contrata o serviço de um massagista tântrico, durante a massa-
gem, supostamente o massagista diz à vítima que eles precisam
ter conjunção carnal “para abertura de chacras”, e, após tudo aca-
bar, a vítima decide que não estava livre para decidir...

Ora, o que se espera de uma massagem tântrica? Qual-


quer pesquisa de dois minutos na internet, usando essas palavras
na busca, lhe trará pelos menos 2 páginas inteiras de anúncios
de prostitutas que se anunciam como massagistas. E isso deve-
ria fazer pensar, será que a vítima deste caso que vimos, apenas
contratou o serviço de prostituição e se arrependeu depois? Ou
será que o “massagista” realmente mentiu tanto durante o traba-
lho que ela realmente acreditou que precisaria fornicar para abrir
seus chacras? Beira a esquizofrenia.

Mas, no fnal das contas, as divagações não importam mui-


to, pois a palavra da vítima é praticamente absoluta como prova,
como nós já vimos. Então, se a vítima contrata um massagista tân-
trico, este “à seduz”, com engodos e mentiras, durante a massa-
gem, e “só por isso” ela concorda em ter relações com ele, então
temos ai o crime consumado.

Essa é uma hipótese mais incomum, até por que não de-
vem existir muitos leitores desta obra que são massagistas tântri-
cos, mas esse crime é abrangente.

Como vimos, este crime não exige, para sua consumação,


que exista de fato a prática da conjunção carnal, bastando que
exista a prática de qualquer ato libidinoso, mediante fraude, como
90
o compartilhamento de “nudes” por exemplo.

Vejamos este caso, onde o acusado, prometendo vanta-


gem fnanceira à vítima, lhe pede o envio de fotos suas:

E então, após a vítima enviar fotos íntimas para um desco-


nhecido qualquer da internet, mediante a promessa de um paga-
mento que não ocorre, esta se dirige a uma delegacia, e ai está
confgurado o crime. Ora, a mulher que envia fotos íntimas para
um qualquer na internet, é realmente uma vítima de crime? Bem,
para a justiça brasileira, é.

É interessante trazer, para ilustração, trecho do julgamento


deste caso do exemplo, onde, segundo o desembargador que
julga o caso, da 7ª Câmara Criminal de Minas Gerais, essa prática
deve ser reprimida:

91
“É alarmante, hodiernamente, o crescimento da prática de
atividades ilegais por meio da internet, com larga difusão
de fraudes e de crimes sexuais que se devem a facilidade
de acesso a diversos conteúdos digitais.

Decorre da utilização de um perfl falso ou com informação


falsa nas redes sociais, por alguém que tem a fnalidade de
atrair, como um verdadeiro predador para sua rede, vítimas
ludibriadas dispostas a satisfazer as exigências do agente
manipulador, o que se tem intitulado “catfsh”.

Valeu-se, portanto, o agente, de meio fraudulento (perfl


falso), para levar a erro às vítimas, falseando a realidade e
conseguir delas, via internet, a prática de atos libidinosos
(masturbação, introdução de objetos nas partes íntimas, nu-
dez) com o objetivo da satisfação de sua própria lascívia.
Nesse sentido decidiu a 3ª Turma Criminal do TJDFT: Para a
confguração do delito de violação sexual mediante fraude,
não é necessário o contato físico presencial, de modo que
as transmissões em tempo real da vítima nua foram sufcien-
tes para confgurar a prática de ato libidinoso capaz de sa-
tisfazer a lascívia da acusada.”

É interessante observar que para o julgador do caso a prá-


tica de enviar fotos com conteúdo sexual para estranhos na in-
ternet, mediante promessa de pagamento, não causa estranheza,
mas, de outro lado, se essas mesmas vítimas, que aceitaram com-
partilhar fotos suas por dinheiro, no fm, não recebem o dinheiro
prometido, ai então existirá um problema para o estado resolver...

Então, vemos que para a confguração deste crime não é


necessário sequer que ambos, acusado e vítima, se conheçam,
bastando que tenha havido interação entre ambos no ambiente

92
virtual, e que, mesmo que a vítima tenha aceitado uma espécie de
prostituição, o crime estará confgurado.

Assim, é importante sempre manter-se alerta, e evitar qual-


quer situação que possa dar abertura para interpretações diferen-
tes de um mesmo fato. A promessa, aquela boba, vazia, infantil,
muitas vezes feita em tom de brincadeira mesmo, à uma mulher,
a depender dos olhos, pode ser entendida como “fraude”, e se,
em contrapartida você recebe uma foto por exemplo, temos ai o
crime.

E aqui devemos trazer um outro assunto que se insere nes-


se contexto e que tem se tornado cada vez mais comum, o “PPS”,
ou “pago por sexo”. Trata-se de uma espécie de modalidade de
prostituição, onde o homem oferece a mulheres “comuns” certa
remuneração, em dinheiro ou em bens, em troca de sexo. São
abordadas em aplicativos de relacionamento, Instagram, etc.,
onde são feitas as propostas e, muitas vezes, aceitas, momento
em que partem para a conjunção carnal em troca de troca de di-
nheiro.

Aqui, as possibilidades de terminar preso são tantas, que


não vale a pena discorrer sobre. Mas, considerando o crime do
qual estamos falando, é importante mencionar que cada “pro-
messa não cumprida” pode confgurar este crime. Então, prome-
ter presentes, viagens, etc., à mulheres, em troca de sexo, é exa-
tamente o que vai confgurar este crime, ainda que o sexo tenha
sido consensual.

Novamente, como já falamos antes, é extremamente ne-


cessário guardar consigo provas de consentimento em qual-
quer relacionamento, de qualquer grau, como mensagens, li-
gações, gravações ambientais, etc. Uma mulher com a qual você
se relacione e se arrependa depois, ou, ainda, tenha frustração
93
por não haver mais interesse nela, pode facilmente forjar uma si-
tuação como a descrita acima.

Por isso, sempre que puder, evite situações que podem


ser interpretadas de mais de uma forma. Evite prometer qualquer
coisa, mesmo que seja um presente, pura e simplesmente isso,
pois você estará abrindo margem para uma futura acusação, em
caso de um término não amigável.

2. A importunação sexual.

No que diz respeito aos crimes sexuais, temos também a f-


gura da importunação sexual, do art. 215-A do Código Penal, que
diz ser crime a pratica de qualquer ato libidinoso, sem anuência
da vítima, para satisfazer a própria lascívia.

Aqui, também temos um tipo penal genérico, a importu-


nação sexual pode acontecer de várias formas, desde um toque
físico na vítima sem seu consentimento, até mesmo falas sexual-
mente explicitas proferidas à vítima.

Como exemplo das inúmeras possibilidades de confgura-


ção deste crime, podemos ver que, a conduta de tirar uma foto
da vítima, por exemplo, também pode confgurar a importunação
sexual, como ocorreu no seguinte caso, no Rio Grande do Sul,
onde a vítima narra que sofreu assédio pois o fash do celular do
acusado, que estava dentro de seu bolso, disparou:

“IMPORTUNAÇÃO SEXUAL SOFRIDA POR


CONSUMIDORA POR SEGURANÇA DO ESTA-
BELECIMENTO COMERCIAL.
Caso em que a autora postula a condenação
das xxxxx xxxxxxxxx xx ao pagamento de in-
denização por danos morais em razão de im-
94
portunação de natureza sexual perpetrada por
funcionário de um dos estabelecimentos co-
merciais da demandada, eis que, após pedir
informação sobre a localização de um produto
a um dos seguranças e ser acompanhada por
ele até um corredor estreito, sentiu o celular
tocando em sua perna, e se surpreendeu com
o disparo do fash, percebendo que o funcio-
nário fotografara seu glúteo com o instinto las-
civo.”

Mas, devemos falar da hipótese mais comum para este cri-


me.

Existe uma piada muito repetida, em diversos ambientes,


que diz que a diferença entre assédio e “atitude” quando uma
mulher ouve uma cantada é o carro que o homem dirige, se esti-
ver em um Celta, é assédio, se estiver em uma Ferrari, é atitude.

E isso nos faz voltar os olhos para a forma mais comum para
este tipo de crime, a conduta em uma balada.

Muito se discute até onde a vítima seria culpada quando


“da abertura” para um homem se aproximar, tocar em si, durante
uma conversa, durante um “chaveco”, e muitas vezes essa situa-
ção acontece em baladas, barzinhos, etc., ambientes onde quase
sempre os envolvidos no caso estão sob efeito de álcool.

Mas, até que ponto essa interação é “permitida”? Vejamos


o caso a seguir, à título de exemplo:

95
Vejamos, a própria vítima diz que não quis interromper
a abordagem do acusado e que o “assédio” sofrido, dentro de
uma casa noturna, foi o “passar de mãos” do acusado em suas
costas. Ora, não causa estranheza que, dentro de um ambiente
movimentado e cheio de pessoas, a vítima teve que esperar um
terceiro chegar para interromper a investida do acusado? Não so-
mente, não causa estranheza que a suposta vítima tenha mantido
conversa durante algum tempo com o acusado, em um ambiente
onde pessoas vão para se relacionar entre si, e, de repente, com

96
um toque de mão em suas costas, a situação vira crime?

Enfm, como já vimos, a palavra da vítima reina. E aqui sur-


ge a dúvida, comentada lá no início, até quando, até que ponto é
permitido abordar uma mulher, e a partir de que ponto torna-se
crime? A lei não diz.

É como a situação do “beijo forçado”, que eventualmente


algumas mulheres alegam ocorrer. Esse tipo de situação pode ser
muito comum (e é) em festas de rua, blocos de carnaval, casas
noturnas, etc., onde eventualmente algum homem pode, durante
um ferte, beijar ou tentar beijar uma mulher, e esta, após o bei-
jo, alega que não queria ou que não havia dado permissão, e ai
temos o crime confgurado. E não é necessário nada além disso,
como podemos ver no caso a seguir:

97
Cabe a refexão: uma mulher que mantém conversa por
determinado tempo com um homem que já deixou claro suas in-
tenções, não permitiu tal conduta? Tal conduta não faz parte do
ferte, da sedução, comum à vida cotidiana? Por qual motivo uma
mulher manteria conversa com um homem que já deixou claro
que pretende ter contato físico com ela, se isso não é recíproco?

E é aqui que as armadilhas são montadas. Basicamente, o


crime irá se confgurar a depender da vítima, se esta disser que foi
assédio, ou não. Em uma conversa tida entre duas pessoas, sendo
uma delas mulher, e não havendo outras testemunhas, é a mulher
que vai decidir se houve a importunação sexual ou não, já que sua
palavra vale como prova.

E vale dizer: a importunação sexual não exige que haja se-


quer contato físico, como já vimos, e, se houver, o simples toque
de mão nas costas da vítima pode caracterizar o crime. Até mes-
mo palavras, com tom lascivo, erótico, podem ser consideradas
crime.

Então, novamente, aqui temos a lei outorgando um poder


quase que ilimitado à mulher, já que temos um crime genérico,
que não prevê com exatidão a conduta necessária para sua conf-
guração, e, de outro lado, temos a valoração excessiva da palavra
da vítima como prova, como já abordamos.

Por fm, vale lembrar que a interação entre ambos não pre-
cisa ser física, podendo ocorrer no ambiente virtual, como por
exemplo enviar fotos íntimas para uma mulher que não as solici-
tou, nesse caso, também temos o crime confgurado.

Então, devemos sempre lembrar que a mínima interação


com um mulher pode abrir margem para a confguração do crime
98
de importunação sexual, por isso é sempre importante, quando
em ambientes como estes usados de exemplo, tentar não fcar
sozinho, longe dos olhos das outras pessoas, com mulheres. Não
somente, é importante ter em mente que a qualquer momento a
mulher poderá “se arrepender” de ter mantido qualquer tipo de
interação com você e transformar a situação em um crime.

Em verdade, não existe ambiente ou condição totalmente


segura para manter ferte com uma mulher, sequer virtualmente,
e qualquer um que o faça estará sujeito a ter problemas judiciais
futuros. E mesmo que não seja essa a situação, que não se trate de
um ferte, mas de uma conversa comum, corriqueira, sem maiores
intenções, a depender do que se falar, podemos ter confgurado
o crime.

Todas as demais dicas sobre produzir provas em seu fa-


vor que já foram abordadas aqui, valem também para essas si-
tuações, evite situações dúbias, interpretativas, e investidas sem
consentimento prévio.

3. O assédio sexual.

Pois bem, depois de vermos a importunação sexual, agora


podemos estabelecer a diferença entre aquele crime, e o crime
de assédio sexual.

Por mais que erroneamente se use a determinação “assédio


sexual” para se referir ao crime que na verdade é a importunação
sexual, já vista, ambos tem uma diferença muito clara e simples:
o assédio sexual acontece sempre no ambiente de trabalho,
enquanto a importunação sexual pode ocorrer em qualquer am-
biente!

Vejamos, o crime de assédio sexual prevê que a conduta


99
acontecerá em ambiente profssional:

Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito


de obter vantagem ou favorecimento sexual,
prevalecendo-se o agente da sua condição de
superior hierárquico ou ascendência inerentes
ao exercício de emprego, cargo ou função.

Então, sempre que a conduta praticada for entre colegas


de trabalho, principalmente (mas não somente) quando um
deles é superior hierárquico ao outro, estaremos falando do cri-
me de assédio sexual, propriamente dito.

Aqui, é importante esclarecer que existe um consenso pa-


cifco nos tribunais do país que não é necessário existir de fato
uma relação hierárquica entre vítima e acusado, existe uma
interpretação extensiva do tipo penal, admitindo que, quando a
conduta ocorre entre colegas de trabalho, independente do car-
go que ocupam, um em relação ao outro, também confgura o
crime.

Essa diferenciação, por mais que tenha uma importância


técnica, para o defensor do acusado, para este último não fará
tanta diferença, mas devemos esclarecer.

Explicado esse ponto, vamos nos voltar ao crime propria-


mente dito. Como vemos na descrição dele, que é basicamente
auto explicativo, acontece o crime quando a vítima é constrangi-
da (forçada, por meio de ameaças, promessas, etc.,) a estabelecer
conjunção carnal ou outro ato libidinoso com o acusado.

A hipótese mais comum, que é comumente usada de


exemplo, é a do chefe que passa a “obrigar” funcionária a praticar
ato libidinoso para não ser despedida ou para ter uma promoção.
100
Aqui, tudo que se aplica ao crime de importunação sexu-
al também se aplica aqui, então não devemos nos alongar nos
exemplos e cautelas que você deve ter, basta ter em mente tudo
que já vimos e ter cautela na interação com seus colegas de tra-
balho, principalmente em festas de trabalho, onde muitas vezes
os funcionários consomem álcool – e até outras drogas – e acaba
existindo uma interação mais descontraída.

É importante também evitar qualquer situação perigosa,


como reuniões em salas fechadas, à portas fechadas, com mulhe-
res, sozinho, ou até mesmo uma pequena “viagem” de elevador,
desacompanhado, sozinho com um mulher. Até mesmo aquele
café na copa/refeitório do trabalho, quando houver somente mais
uma mulher no ambiente, problemas sérios podem acontecer.
Resumindo: evite a todo custo fcar sozinho no mesmo ambiente
com uma colega de trabalho!

Então, evite a todo custo qualquer situação que possa ser


usada contra você, pois, havendo uma denúncia, mesmo que fal-
sa, além de ser processado, automaticamente perderá o empre-
go, pois nenhuma empresa irá “pagar pra ver”, e te manter lá, até
que prove sua inocência (se conseguir), e, além de ser processa-
do, terá que ser defendido pela defensoria pública.

4. Do aborto.

Neste universo, devemos alertar também sobre uma práti-


ca, infelizmente comum, e diabólica, que é crime, e a maioria das
pessoas desconhece.

Quando falamos em aborto, o primeiro pensamento que


nos vem à mente é daquela mulher, que se relacionou com al-
101
gum marginal, e decidiu interromper a gravidez, matando seu f-
lho em seu ventre. Ou, ainda, aquela mulher carreirista, que “não
quer que uma gravidez atrapalhe sua vida profssional”. E essa é a
imensa maioria dos casos.

Porém, nesses casos, a mulher que induz um aborto não é


a única que pode ser culpabilizada. O artigo 126 do Código Penal
prevê que também constitui crime provocar o aborto com o con-
sentimento da gestante:

Art. 126. Provocar aborto com o consentimen-


to da gestante:

Pena – reclusão, de um a quatro anos.

Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo an-


terior, se a gestante não é maior de quatorze
anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o
consentimento é obtido mediante fraude, gra-
ve ameaça ou violência.

Aqui, para fns de violência doméstica, entende-se como


aborto qualquer interrupção da gravidez, em qualquer momento
que ocorra a interrupção.

Então, pense no seguinte cenário: uma mulher chega a


emergência de um hospital com dores abdominais e sangramen-
to, e, quando atendida pela equipe médica, se descobre que fez
uso de medicação para interromper a gravidez. Confrontada por
sua família – que até então não sabia da gestação – diz a eles que
tomou a medicação à pedido de seu namorado, e que este quem
comprou o remédio. A família então, chocada com o que narra a
mulher, informa este fato na delegacia da mulher. Aqui temos um
crime.
102
Vejam este julgamento:

É importante esclarecer também que o crime de aborto é


julgado pelo Tribunal do Júri, e no Tribunal do Júri quem conde-
na ou absolve o acusado são os jurados, que não são profssio-
nais do direito, e muitas vezes não são profssionais de nada. Os
jurados são escolhidos aleatoriamente, através do cartório elei-
toral do fórum, então, quem se senta no banco de jurados para
decidir pela condenação ou não são 7 pessoas comuns, do povo,
leigas, sem instrução jurídica.
103
E esse é o grande problema do Tribunal do Júri: as deci-
sões não são técnicas, jurídicas, mas são completamente emo-
cionais, baseadas em quem conta a melhor história, o Ministério
Público ou a Defesa do acusado.

Voltando ao nosso exemplo, o simples fato de entregar


medicamento abortivo à gestante, mesmo que esta quem tenha
pedido o medicamento, constitui crime, e, se acontecer, você será
levado à frente de 7 pessoas aleatórias, do povo, para que estas 7
pessoas decidam se você é culpado ou não.

Por fm, devemos esclarecer também que a lei não exige


que a gestante seja namorada, esposa, ou tenha qualquer vínculo
amoroso com o acusado, se este último, o acusado, auxiliar qual-
quer amiga, irmã, ou qualquer mulher que seja, com o ato de in-
terromper a gravidez, terá cometido crime. E mais, mesmo que
o medicamento, ou qualquer outro meio, não tenha causado o
aborto de fato, a tentativa também é crime.

Então, não se deve aceitar qualquer pedido, de qualquer


pessoa que seja, para qualquer tipo de ajuda para praticar aborto,
não importam quais as condições.

5. Da idade de consentimento.

Em relação aos crimes sexuais, devemos esclarecer de uma


vez por todas a idade de consentimento para qualquer ato libidi-
noso ou sexual.

A idade de consentimento nada mais é do que a idade mí-


nima necessária para que qualquer pessoa possa consentir com
o ato sexual ou qualquer outro ato libidinoso. Mas essas questões
geram certa confusão, e aqui vamos esclarecer tudo.
104
O artigo 217-A do Código Penal deixa claro:

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar


outro ato libidinoso com menor de 14 (cator-
ze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

Então, basicamente, sempre que houver conjunção car-


nal ou ato libidinoso com pessoa menor de 14 anos será cri-
me!

Aqui, a violência é presumida, pela idade da vítima, então,


não importa se houver prova de consentimento, sempre será
crime! Além disso, também não importa se a vítima já tem vida
sexual ativa, se ela que iniciou a abordagem sexual, ou praticou
qualquer conduta no sentido de consumar o ato. Nada disso é
relevante.

Repito: sempre que a vítima for menor de 14 anos, é crime!


E mais, nesse caso trata-se de crime hediondo, o pior tipo de
crime da legislação, com o maior tempo de pena à cumprir neces-
sário para progressão de regime.

Quando a pessoa tiver entre 14 e 18 anos, havendo pro-


vas de consentimento, não confgura crime.

6 . O estupro de vulnerável.

Já falamos aqui sobre o caso Mariana Ferrer, e sobre como


este caso inaugurou na legislação uma série de problemas para o
exercício da ampla defesa pelos acusados de violência domésti-
ca. Mas, não falamos sobre o que originou aquele processo em si,
105
e sobre o tal “estupro culposo”.

No caso Mariana Ferrer, esta alegou na sua denúncia que


não teria consentido com o ato sexual pois estaria alcoolizada e
drogada, e por isso “não sabia o que estava fazendo”, o que se
provou mentira no decorrer do processo, através de exames toxi-
cológicos, que não identifcaram absolutamente nenhuma subs-
tancia, nem mesmo álcool, em sua corrente sanguínea, o que pro-
vou que ela estava plenamente consciente quando houve o ato
sexual.

E por que isso é importante? Pois bem, o mesmo artigo


(217-A) que vimos anteriormente, que fala do crime de ter con-
junção carnal com menores de 14 anos, traz também a previsão
do crime de estupro de vulnerável em razão do estado mental da
vítima, como acontece, por exemplo, quando ela está embriaga-
da:

§1º Incorre na mesma pena quem pratica as


ações descritas no caput com alguém que,
por enfermidade ou defciência mental, não
tem o necessário discernimento para a prática
do ato, ou que, por qualquer outra causa, não
pode oferecer resistência.

O referido artigo traz algumas possibilidades, como por


exemplo o ato praticado contra defciente mental, o que é meio
óbvio, mas, além disso, ele também descreve a conduta de ser
crime praticar o ato contra pessoa que “por qualquer causa não
pode oferecer resistência”, e é aqui que entra o exemplo citado
acima, de Mariana.

Entende-se como “não pode oferecer resistência” o estado


mental alterado, inebriado por uso de qualquer substância quí-
106
mica, desde o álcool, até as drogas sintéticas, e, estando a vítima
sob infuência de qualquer destas substâncias – até mesmo medi-
camentos controlados - entende-se que não há consentimento,
pois esta não pode decidir por si mesmo, e, portanto, há crime.
Vejamos essa decisão:

Então, sempre que a vítima apresente estado mental alte-


rado, mesmo que seja apenas em razão do álcool, esta não tem
pleno discernimento, de acordo com a lei, para consentir com a
conjunção carnal, ou qualquer outro ato libidinoso.

Então aqui temos um grande perigo, pois, muitas vezes,


107
acontecem situações de conjunção carnal justamente após o con-
sumo de substancias inebriantes, como após festas, baladas, etc.,
e não há um parâmetro legal para auferir o grau de alcoolemia
necessário, por exemplo, para caracterizar embriaguez, como
acontece com os crimes de transito. Pelo contrário, a lei confere
ao juiz do caso amplos poderes para adotar o parâmetro que qui-
ser, desde que haja indícios de drogas na corrente sanguínea.

Não somente, todos já ouviram falar da “denúncia após ar-


rependimento”, que acontece quando uma mulher que teve con-
junções carnais com um homem, após acontecer, se arrepende,
e o denuncia por estupro, mesmo tendo consentindo com o ato
– que aconteceu em lugar fechado – e ai se instaura um inquérito
policial. Neste caso, se ela for conduzida ao Instituto Médico legal,
o laudo pericial vai constatar duas coisas: que ingeriu bebida
alcoólica ou outras drogas, e que houve conjunção carnal. E ai
temos o crime consumado.

E aqui temos que esclarecer algo importante, o laudo pe-


ricial realizado pelos exames laboratoriais podem detectar um
número grande de drogas, de todos os tipos, e, como se verifca
no laudo a seguir, a maioria das substâncias desaparecem do or-
ganismo após 72 horas:

108
109
Então, como podem imaginar, existe uma janela grande de
tempo e oportunidade para que a vítima faça uso de qualquer
substância, a maioria facilmente acessível, mesmo após ter tido
a conjunção carnal. E, no caso de medicamentos, é praticamen-
te impossível auferir precisamente quando foram consumidos,
antes, ou depois da conjunção carnal. E, quando tempos prova
de substâncias na corrente sanguínea, de conjunção carnal, e da
palavra da vítima, que como vimos, constitui prova, temos ai a
condenação. E aqui abrimos margem para que falsas acusações
sejam forjadas.

Por isso é muito importante ter cautela em determinados


ambientes, onde o consumo de álcool é regra, como bares e bala-
das, pois basta o consumo dessa substância para que caracterize
o requisito objetivo do crime: alteração do estado mental.

Nesses casos é muito importante sempre ter testemunhas,


que presenciem o comportamento da vítima quando estiver em
local público, para que possam afrmar que esta estava agindo de
forma plena e convicta, e não estava alterada ao ponto de não po-
der consentir com algo. Essa opção já não existe quando a intera-
ção acontece em ambientes privados, como dentro da residência,
e aqui o que podemos aconselhar são as mesmas provas que já
falamos anteriormente, câmeras, gravação de áudio ambiente,
etc.

O ideal é que se evite a todo custo ter relações sexuais com


mulher que tenha utilizado ou ingerido qualquer tipo de substân-
cia apta a alterar seu estado mental, inclusive medicamentos con-
trolados, como antidepressivos e ansiolíticos. E, se essa relação
acontecer, é sempre bom lembrar de fazer as provas possíveis
para se precaver de eventual acusação futura.

110
Em verdade, sempre que houver a mínima alteração psí-
quica da vítima, seja por qualquer substância que for, inclusive
remédios controlados de uso contínuo, haverá uma situação de
risco, que pode ocasionar em crime, mesmo que tenha havido
consentimento. Então, evite qualquer interação com qualquer
pessoa que esteja alterada.

111
CAPÍTULO 4
OUTRAS QUESTÕES PROCESSUAIS

Além de todo percalço processual e da condenação crimi-


nal, todo aquele condenado nos crimes aqui comentados serão
também condenados à pena pecuniária (indenização), em favor
da vítima.

O Código Penal prevê no seu artigo 387 que, quando da


sentença condenatória, o juiz deverá fxar “valor mínimo para re-
paração dos danos causados pela infração, considerando os pre-
juízos sofridos pelo ofendido”. Não somente, o Superior Tribunal
de Justiça já frmou entendimento – orientação para os tribunais
inferiores – de que nos casos de violência doméstica o dano moral
é presumido e deve se arbitrado:

Nos casos de violência contra a mulher pratica-


dos no âmbito doméstico e familiar, é possível
a fxação de valor mínimo indenizatório a título
de dano moral, desde que haja pedido expres-
so da acusação ou da parte ofendida, ainda
que não especifcada a quantia, e independen-
temente de instrução probatória. (Tema repeti-
tivo 983)

Então, sempre que houver condenação por qualquer cri-


me que envolva violência doméstica, automaticamente o juiz tam-
bém irá arbitrar a condenação em dano moral em favor da vítima.
Importante salientar que o dano moral é presumido, isso quer di-
zer que não é necessário fazer prova do abalo emocional, basta
que o crime tenha ocorrido (condenação) e, daí, entende-se que
houve o dano, e torna-se devido.
112
Nos casos em que o juiz, por ventura, deixe de arbitrar a
condenação por danos morais, isso poderá ser objeto de ação
autônoma. A vítima de violência doméstica poderá distribuir pro-
cesso cível requerendo indenização por abalo moral sofrido em
razão da violência doméstica. Vejamos a seguinte decisão da 1ª
Vara Cível de Jacareí, em caso onde vítima de violência domés-
tica, após a condenação do acusado na vara criminal, pede in-
denização por danos morais, que exemplifca perfeitamente essa
hipótese:

“Trata-se de ação de indenização por danos morais decor-


rentes de ofensas e ameaças proferidas pelo ex-marido
contra a ex-mulher quando ainda vivendo no mesmo lar.
Alega a parte autora, em síntese, que, no curso do casa-
mento, sofreu ofensas e ameaças do requerido, hoje seu
ex-marido. No dia 30 de maio de 2020, ele a agrediu ver-
balmente, chamando-a de “vagabunda”, e ainda a ameaçou
de morte. Assim, pleiteia pela reparação moral no montante
de R$50.000,00.

Em sua defesa, o requerido alegou que, de fato, a situação


ocorreu, mas que diferente do narrado, o contexto era de
animosidade mútua entre as partes.
Alegou que não houve a intenção ofensiva, visto que as pa-
lavras foram ditas no calor das emoções, em meio a uma
briga conjugal, ocorrida após ter sido provocado ao fagrar
a requerente conversando com outro homem.

No presente caso, tem-se como fato incontroverso nos autos


que a requerente sofreu ofensas e ameaças do requerido.
Ademais, ele foi condenado na esfera criminal, conforme
sentença proferida nos autos da ação penal (fs.101/107).

113
No caso em concreto, nos termos em que ocorreram os fa-
tos, não tinha o requerido o direito de extrapolar os limites
do decoro, da sobriedade, do razoável e proferir palavras
ofensivas à requerente. Em que pese o requerido alegar
que o caso retratava caso de ofensas mútuas, não apre-
sentou prova nesse sentido, ou seja de que a requerente o
ofendia, ônus que lhe incumbia.

Assim, restou comprovado que o requerido proferiu ofen-


sas à honra e dignidade da requerente e que não há prova
em sentido contrário de que esta tenha ofendido, também,
o requerido. A justifcativa do requerido não foi comprova-
da e, ainda que o fosse, não lhe autorizava ofender a reque-
rente. A ilicitude se caracteriza com a mera conduta, inde-
pendentemente do resultado que se quer produzir. Basta a
realização de qualquer ato revelador da prática de injúria.
A potencialidade das palavras ultrajantes é que dá o tom
dessa ilicitude, vale dizer, a lei se contenta com a vontade
de concretizar o ato, dispensando a consciência do ilícito.

Ante o exposto, julgo parcialmente procedente o pedido


formulado por __________ para o fm de condenar o reque-
rido, contra _________, ao pagamento de R$10.000,00 (dez
mil reais), a título de danos morais, acrescido de correção
monetária pela tabela prática do Tribunal de Justiça de São
Paulo, a partir da data da presente decisão, e de juros de-
mora de 1% ao mês, a partir da citação.”

Então, além da condenação criminal, haverá também a


condenação pecuniária, e muitas vezes essa condenação poderá
ser requerida após o fm do processo criminal, em ação autôno-
ma, fazendo com que o acusado, além dos custos com advogado
na primeira ação, tenha também que arcar com esses custos na
segunda, além da indenização arbitrada.
114
E, em casos mais graves, o acusado pode ser condenado
até mesmo a ressarcir o Sistema Único de Saúde, por eventuais
gastos que o Estado tenha para amparar a vítima de violência do-
méstica, é o que prevê o art. 9º, no seu § 4° da lei Maria da Penha:

§ 4º Aquele que, por ação ou omissão, cau-


sar lesão, violência física, sexual ou psicológi-
ca e dano moral ou patrimonial a mulher fca
obrigado a ressarcir todos os danos causados,
inclusive ressarcir ao Sistema Único de Saúde
(SUS), de acordo com a tabela SUS, os custos
relativos aos serviços de saúde prestados para
o total tratamento das vítimas em situação de
violência doméstica e familiar, recolhidos os
recursos assim arrecadados ao Fundo de Saú-
de do ente federado responsável pelas unida-
des de saúde que prestarem os serviços.

O titular desta ação, desta cobrança, é o Estado, ente fede-


rativo, e para tal exige uma ação autônoma, probatória, demons-
trando efetivamente os custos dispendidos pelo Sistema Único
de Saúde (gratuito e custeado com impostos) para amparar as
vítimas de violência doméstica. É uma hipótese rara de acontecer,
mas está previsto em lei, e pode acontecer com qualquer um.

Além disso, diversos municípios do país já sancionaram leis


que impedem o aprovado em concurso público de assumir os
cargos caso condenados por qualquer crime de violência domés-
tica, como é o caso da lei 17.910/2023 do Município de São Paulo.
E já há projeto de lei federal¹, com o mesmo tema, aguardando
¹ https://www.camara.leg.br/noticias/941831-projeto-proibe-condenados-por-violen-
cia-contra-mulher-de-exercer-cargo-publico/#:~:text=O%20Projeto%20de%20Lei%20
539,em%20comiss%C3%A3o%20na%20administra%C3%A7%C3%A3o%20p%C3%BAblica.

115
votação, que provavelmente será a favor de tal medida.

2. Da notifcação obrigatória pelos profssionais de saú-


de.

Existe também na lei um mecanismo ardiloso, que faz com


que todo e qualquer profssional de saúde, seja do setor público
ou do setor privado, comunique, imediatamente, sob pena de co-
meter crime, qualquer indício de violência doméstica que verif-
quem em seus pacientes, vejamos.

Art. 1º Constitui objeto de notifcação compul-


sória, em todo o território nacional, a violência
contra a mulher atendida em serviços de saú-
de públicos e privados.

§1º Para os efeitos desta lei, entende-se por


violência contra a mulher qualquer ação ou
conduta, baseada no gênero, inclusive decor-
rente de discriminação ou desigualdade étni-
ca, que cause morte, dano ou sofrimento físi-
co, sexual ou psicológico à mulher, tanto no
âmbito público quanto no privado.

§ 2º Entender-se-á que violência contra a mu-


lher inclui violência física, sexual e psicológica
e que:

Como podemos ver, a obrigatoriedade de notifcação é


para toda situação que possa demonstrar indícios de violência
doméstica, seja ela física de fato (agressões, estupro), seja ela psi-
cológica, que, como vimos anteriormente, é algo totalmente sub-
jetivo, sendo impossível de se determinar com certeza.

116
E aqui surgem alguns problemas. A obrigatoriedade de
notifcação, mesmo sem pedido ou autorização da vítima, gera
crime em caso de desobediência, o crime de prevaricação, e, por
isso, nenhum profssional da saúde, seja do setor público ou pri-
vado, irá se arriscar em não o fazer.

E, como vimos, a partir do momento em que há uma de-


núncia, quem passa a “ser dono” do processo é o Ministério Pú-
blico, e não a vítima, e a vontade da vítima pouco importa para
prosseguimento do processo ou não, e isso pode gerar uma série
de processos e denúncias sem embasamento e, pior: sem a par-
ticipação da vítima!

Imagine que uma mulher qualquer vá a um psicólogo da


rede SUS, e conte a este psicólogo que está passando por pro-
blemas conjugais com seu marido, e que na última discussão este
proferiu palavras ofensivas à ela, e esta se sentiu extremamente
ofendida. Situação normal, do dia a dia da vida a dois.

Porém, tal conduta, a do marido, caracteriza crime de vio-


lência doméstica, como vimos anteriormente, e, assim sendo,
mesmo que esta mulher não se manifeste nenhuma vontade de
denunciar ou processar seu marido durante a consulta, esta psicó-
loga está obrigada a comunicar o fato à polícia, e, como também
já vimos, uma vez que existe a denúncia, mesmo que não tenha
sido feita pela vítima, o inquérito e o processo vão acontecer...

Ou seja, de uma simples consulta psicológica onde a mu-


lher narre ao profssional uma briga de casal, episódio corriquei-
ro, que não causa danos a ninguém, pode surgir um processo por
violência doméstica, mesmo que a vítima não queira processar!

E aqui não há nada que nenhum do envolvidos possa fa-


117
zer. O profssional da saúde, se não comunicar, comete crime. O
delegado, por sua vez, também comete crime se não instaurar o
inquérito após o recebimento da denúncia. E, por sua vez, o Mi-
nistério Público também é obrigado a oferecer a denúncia, quan-
do existirem indícios mínimos de crime.

Como vemos, não é apenas uma lei ou outra, um artigo ou


outro, mas todo um sistema desenvolvido para manter o homem
médio sempre em cheque, com uma arma apontada para suas
costas, cujo gatilho poderá ser acionado a qualquer momento,
sem aviso prévio.

Muitas vezes, como no exemplo fctício descrito acima,


nem mesmo a vítima precisa participar do inquérito ou denunciar,
a legislação atual criou um sistema quase que autônomo para co-
locar homens inocentes na cadeia, e não há nada que ninguém
possa fazer. De uma consulta médica, onde o profssional de saú-
de deveria guardar sigilo, pode-se evoluir para um processo cri-
minal, inclusive contra a vontade da vítima. Esse é o nosso sistema
atual de “defesa das mulheres”.

3. A extensão, ou não, da Lei Maria da Penha a “tercei-


ros”.

Como vimos, a Lei Maria da Penha inaugurou precedente


para várias aberrações jurídicas e arbitrariedades, e a situação só
se agrava. Porém, aqui é importante esclarecer que não somente
em relação a esposa/namorada/cônjuge é que esse universo de
arbitrariedades se aplica.

Segundo o entendimento pacifcado pelas cortes superio-


res, o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal,
aqueles que ditam as regras, os efeitos e dispositivos da Lei Maria
da Penha e de suas leis complementares podem ser aplicados
118
em relação a qualquer mulher do convívio do homem. Vejamos a
seguinte decisão, proferida pela 6ª Turma do Superior Tribunal de
Justiça:

“Segundo a doutrina, não só as esposas, companheiras ou


amantes estão no âmbito de abrangência do delito de vio-
lência doméstica, mas também flhas e netas do agressor
como sua mãe, sogra, avó ou qualquer outra parente
que mantém vínculo familiar com ele podem integrar o
polo passivo da ação delituosa (DIAS, Maria Berenice. A
Lei Maria da Penha na Justiça. São Paulo: Revista dos Tribu-
nais, 2007, pág. 41).

A Terceira Seção deste Superior Tribunal afrmou que o le-


gislador, ao editar a referida norma, teve em conta a mulher
numa perspectiva de gênero e em condições de hipossu-
fciência ou inferioridade física e econômica em relações
patriarcais. Ainda, fcou consignado que o escopo da lei é
a proteção da mulher em situação de fragilidade/vulnera-
bilidade diante do homem ou de outra mulher, desde que
caracterizado o vínculo de relação doméstica, familiar ou de
afetividade (CC n. 88.027/MG, Ministro Og Fernandes, DJ
18/12/2008).

Em síntese, a Lei Maria da Penha objetiva proteger a mulher


da violência doméstica e familiar que lhe cause morte, le-
são, sofrimento físico, sexual ou psicológico, e dano moral
ou patrimonial, desde que o crime seja cometido no âmbito
da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação
íntima de afeto (AgRg no REsp n. 1.427.927/RJ, Ministro
Moura Ribeiro, DJe 28/3/2014). [...]

E, assim como entendi quando proferi voto-vista no HC n


184.990/RS (DJe 09/11/2012), parece-me também que,
119
aqui, é indiscutível a incidência da Lei n. 11.340/2006, nos
termos do art. 5º, I, ante o relato à autoridade policial (f. 12)
de ocorrência de maus tratos e injúria em tese praticados,
em razão da relação de intimidade e afeto existente, contra
a mãe do suposto agressor, que se aproveitou da vulnerabi-
lidade da genitora, mulher com quase 80 anos.”

Já a 5ª Turma, do Superior Tribunal de Justiça, já decidiu em


outra oportunidade que se aplica também a Lei Maria da Penha
em relações colaterais, como em relação a irmãs, por exemplo:
“Destarte, confgurada, no presente caso, a prática de violência
doméstica e familiar contra a mulher, uma vez que os fatos foram
praticados dentro do âmbito familiar, em relação ao gênero da
ofendida, irmã do autor.”

Então, os efeitos da Lei Maria da Penha não se aplicam so-


mente a cônjuges em geral, mas sim em favor de toda e qualquer
mulher do convívio do homem, desde que haja algum tipo de vín-
culo afetivo. Então, da mesma forma que uma esposa pode pedir
(e conseguir) o afastamento de seu marido do lar, sem oportuni-
dade de defesa para este, uma irmã pode fazer isso contra seu
irmão, ou uma mãe contra seu flho.

E, neste contexto, é importante dizer que a vulnerabilidade


da mulher, quem quer que seja, será presumida, não sendo ne-
cessário demonstrar que realmente existiu, pelo simples fato de
ser mulher:

“A própria Lei n. 11.340/2006, ao criar mecanismos especí-


fcos para coibir e prevenir a violência doméstica praticada
contra a mulher, buscando a igualdade substantiva entre os
gêneros, fundou-se justamente na indiscutível despropor-
cionalidade física existente entre os gêneros, no histórico
discriminatório e na cultura vigente. Ou seja, a fragilidade

120
da mulher, sua hipossufciência ou vulnerabilidade, na
verdade, são os fundamentos que levaram o legislador
a conferir proteção especial à mulher e por isso têm-
-se como presumidos (AgRg no AREsp n. 1.439.546/RJ,
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe
5/8/2019).

No caso, incide a Lei n. 11.340/2006 por estar evidenciado


o vínculo familiar entre o acusado e a vítima, já que são
cunhados um do outro. Precedente”

Já em relação a vítimas homens, a situação é diferente. Não


se aplicam os dispositivos referentes à violência doméstica quan-
do se tratam de vítimas do sexo masculino, ainda que vulneráveis.
Na seguinte decisão, também do Superior Tribunal de Justiça, fca
claro que a proteção estatal no âmbito da violência doméstica só
será acionada quando a vítima for do gênero feminino:

“De acordo com a denúncia ofertada, o recorrente teria se


dirigido até a casa de seu pai, local em que, alterado e su-
postamente sob o efeito do uso de substâncias entorpecen-
tes, teria começado a bater nas paredes da residência pe-
dindo que lhe fossem entregues alguns documentos (e-STJ
f. 74 do Apenso 1).

No momento em que a vítima abriu a porta, o acusado ten-


tou ferir-lhe com uma enxada, motivo pelo qual sacou de
um facão com a intenção de defender-se, ocasião em que
teria sido empurrado contra um muro, o que lhe teria causa-
do lesões corporais (e-STJ fs. 74/75 do Apenso 1).

Pois bem. Conquanto se esteja diante de crime em tese pra-


ticado no âmbito das relações domésticas e familiares, já
que o acusado é flho da vítima, o certo é que esta última

121
é pessoa do sexo masculino, o que afasta as disposições
específcas previstas na Lei 11.340/2006 - cuja incidên-
cia é restrita à violência praticada contra mulher -, notada-
mente a que dispensa a representação do ofendido para
que possa ser iniciada a persecução penal nos delitos de
lesão corporal.”

Então, é certo que, ainda que o crime ocorra dentro do


mesmo contexto, a balança não será igual quando a vítima for
homem. O crime praticado pela mulher contra o homem terá
sempre uma pena mais baixa do que se fosse ao contrário, e, o
homem, não poderá requerer medidas protetivas, por exemplo,
como pode a mulher, mesmo que ameaçado constantemente.

4. A coabitação e o relacionamento já terminado.

Não menos importante, é necessário desmistifcar o fato de


que para aplicação da Lei Maria da Penha é necessário coabitar,
morar junto, da vítima ou manter relacionamento estável. O ar-
cabouço das leis de violência doméstica não exigem que haja a
coabitação, que as partes morem juntos, podendo ocorrer com o
mínimo de vínculo demonstrado, sendo esse tema já pacifcado
pelo STJ:
“Relativamente à terceira insurgência, destaco
que não é necessária a coabitação entre autor
e vítima ao tempo do delito para que se carac-
terize a violência baseada em relação íntima
de afeto e, por conseguinte, a presunção de
vulnerabilidade da vítima. Esse entendimento
foi consolidado na Súmula n. 600/STJ, segun-
do a qual, “para a confguração da violência
doméstica e familiar prevista no artigo 5º da
Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), não se
exige a coabitação entre autor e vítima”.”
122
Tampouco é necessário que o relacionamento entre acusa-
do e vítima esteja “vigente”, a Lei Maria da Penha pode também
ser aplicada a ex-namorados ou ex-casados, como decidido no
seguinte julgamento: “Considerando que restou consignado na
origem que o recorrente e a vítima mantiveram relacionamento
afetivo, tendo, inclusive, uma flha em comum, com menos de um
ano de idade, a agressão à ex-namorada confgura crime de vio-
lência doméstica abrangido pela Lei Maria da Penha.”

5. A questão da guarda compartilhada.

Em casos de divórcio com a existência de flhos menores


do casal, via de regra, a não ser que um dos genitores abdique do
seu direito, a guarda da criança ou crianças será no regime com-
partilhado, ou seja, os flhos passarão o mesmo tempo com a mãe
e com o pai, por exemplo, rodízios de 15 dias com cada.

Porém, isso pode mudar. Entrou em vigor durante a pro-


dução desta obra a lei 14.713/2023, que alterou o Código Civil,
justamente no que tange a guarda. Veja o que diz a referida lei:

Art. 1.584 [..]

§ 2º Quando não houver acordo entre a mãe


e o pai quanto à guarda do flho, encontran-
do-se ambos os genitores aptos a exercer o
poder familiar, será aplicada a guarda compar-
tilhada, salvo se um dos genitores declarar ao
magistrado que não deseja a guarda da crian-
ça ou do adolescente ou quando houver ele-
mentos que evidenciem a probabilidade de
risco de violência doméstica ou familiar.

123
Art. 699-A. Nas ações de guarda, antes de ini-
ciada a audiência de mediação e conciliação
de que trata o art. 695 deste Código, o juiz
indagará às partes e ao Ministério Público se
há risco de violência doméstica ou familiar,
fxando o prazo de 5 (cinco) dias para a apre-
sentação de prova ou de indícios pertinentes.

E aqui surge um novo problema, que estará presente nas


varas de família daqui em diante.

Inicialmente devemos observar que a referida lei não exige


que existam provas da violência doméstica ou que o genitor te-
nha sido condenado por violência doméstica, ela exige apenas
que “exista risco ou indícios”.

Já mostramos ao longo desta obra diversos casos onde a


palavra da vítima apenas serve como prova para condenações
por crimes de violência doméstica, e isso será estendido para os
efeitos cíveis, ou seja, para questões como esta, da guarda de me-
nores.

No capítulo sobre as medidas protetivas, trouxemos um


questionário, real, feito pelo delegado de polícia quando recebe
uma suposta vítima de violência doméstica fazendo uma denún-
cia, Naquele questionário, como pudemos ver, são feitas pergun-
tas à vítima, como por exemplo se o cônjuge usa drogas, consome
álcool, se é agressivo, etc. E esse mesmo questionário é utilizado
para determinar as medidas protetivas, mesmo sem a oportunida-
de do acusado contar sua versão, como já vimos.

O mesmo acontecerá com a guarda a partir de agora.

124
A lei não exige a prática da violência, mas somente o seu
“risco”. Ora, como se mede o risco concreto da violência domés-
tica? Da mesma forma que é usada para determinar as medidas
protetivas? Se essa for a métrica, basta que a mãe diga que se
sente ameaçada! Novamente, a lei abre nova margem para arbi-
trariedades e para o uso abusivo da lei.

Não existindo a exigência de prova concreta, mas apenas


de “indícios”, entendemos que a simples alegação da mãe peran-
te o juiz de que se sente ameaçada pode ser sufciente para que o
direito de guarda seja afastado do pai, até por que uma das forma
de violência doméstica é a psicológica, que já vimos anteriormen-
te, e que é simplesmente impossível de ser mensurada.

Assim, o pai que tiver contra si a simples alegação de que


praticou qualquer tipo de violência doméstica contra a mãe, ain-
da que a psicológica, passará a ser impedido de conviver com
seus flhos, e, quando puder, terá que ser acompanhado por ter-
ceiro constantemente, sob vigilância.

Vale lembrar também que em casos como este a prova de


defesa é extremamente difícil de ser produzida, devido ao alto
valor que é conferido à palavra da vítima em casos como este.

Não sabemos ainda como será o entendimento desta nova


lei nas varas de família e violência doméstica já que ela acabou de
ser publicada, mas temos a certeza que novas arbitrariedades e
abuso da lei serão cometidos, e que mais uma arma foi entregue
na mão das mulheres.

125
6. A defesa particular e a defensoria pública.

Por fm, devemos alertar sobre um outro perigo que per-


meia o homem nas varas de violência doméstica e da família: a
defensoria pública!

Obrigatoriamente, todo acusado em processo criminal,


seja pelo que for, deverá estar assistido de advogado durante o
processo (lembrando que a fase do inquérito policial/delegacia
não entra nessa previsão), sob pena de todo o processo ser con-
siderado nulo.

Também é assegurado ao acusado, quando este não pu-


der pagar por um defensor particular, ser assistido por um defen-
sor público, e aqui temos um problema.

Muitas vezes o homem, por acreditar que o processo “não


vai dar em nada”, ou, ainda, que “não vale a pena gastar com ad-
vogado”, acaba por não constituir seu próprio defensor, e deixa
sua defesa à cargo da defensoria pública. E onde está o problema
nisso?

Embora existam inúmeros defensores públicos que exer-


cem seu trabalho com brilhantismo – até por que tiveram capaci-
dade intelectual de serem aprovados em concurso público dispu-
tadíssimo – nesse universo de violência doméstica, até mesmo o
defensor do acusado pode ser acometido por razões emocionais
no curso do processo. E, para piorar, o defensor público não tem
lá muitos motivos para “dar tudo de si” para perseguir e trazer à
tona a verdade no processo.

Vamos fazer um exercício de imaginação, será que uma de-


fensora pública, mulher, que seja nomeada para atuar em um pro-
126
cesso de violência doméstica – considerando que eles não esco-
lhem os casos que vão trabalhar ou não – terá o mesmo empenho
em defender o acusado que um advogado particular?

E isso não se trata de uma tentativa de convencimento para


que o acuado gaste dinheiro com advogado particular, mas de
pura lógica. Um defensor público (ou defensora, no nosso exem-
plo), se não tiver uma boa atuação na defesa do processo, não
terá prejuízo nenhum, não perderá seu “cliente”, já que trabalha
para o estado e tem estabilidade, e tampouco terá sua reputação
como profssional abalada, pois, novamente, trabalha para o Esta-
do, e não para o acusado!

Pior que isso, o defensor público tem a faculdade de fazer


a “alegação de inocência genérica”, que é, basicamente, dizer que
o réu é inocente, e só! Sem debater questões processuais, de pro-
va, interpretações da lei, nada disso. O defensor público pode,
simplesmente e literalmente, dizer “protesto pela absolvição do
réu”, e só!

Lembram do Sérgio, caso que comentamos lá no começo


desta obra, que teria, supostamente, praticado estupro contra sua
própria esposa? Pois bem ele foi defendido por uma defensora
pública, mulher, e, a seguir, você pode ver a defesa dele no pro-
cesso, feito por esta defensora pública, em uma única página:

127
É isso mesmo, em um processo complexo, que envolve di-
versos tipos de provas, testemunhas, discussão de jurisprudência,
a defensora pública nomeada para defender o réu limita-se a di-
zer no processo “ele é inocente”, e só.

Nenhuma linha sequer discutindo as alegações da vítima,


nenhuma linha sequer discutindo outras decisões sobre casos
análogos, nenhuma linha sequer discutindo as provas periciais
produzidas ao longo do processo, absolutamente nada.

E não há nada de ilegal nesta conduta, existe a previsão

128
legal para atuação do defensor público neste sentido. Essa não
é a regra, e existem inúmero defensores públicos que realmente
prezam pelo bom trabalho, mas, vale a pena arriscar alguns anos
preso, contando com a sorte de ter um defensor aleatório?

Claro, decisões baseadas em defesas como esta utilizada


de exemplo podem ser revistas posteriormente, através de recur-
so, sob a fundamentação de ausência de defesa técnica. Porém,
até você ter seu recurso julgado, tenha certeza que já terá cumpri-
do sua pena integralmente.

Também vale mencionar como é a prática, no dia a dia. De-


vido à alta demanda da defensoria pública, na maioria dos casos
o acusado e o defensor público só terão contato entre si no dia
da audiência minutos antes desta acontecer, principalmente em
casos que o réu está preso. Nenhum defensor público vai até a
cadeia para ouvir a versão do réu.

E, além disso, isso retira toda oportunidade de defesa du-


rante o processo, fazendo com que o acusado eventualmente
perca a oportunidade de requerer uma perícia, uma prova técni-
ca, etc.

Imagine-se sendo acusado, por uma falsa denúncia, de vio-


lência doméstica, e que você tenha optado por ser assistido pela
defensoria pública. Quando chega na audiência, você se depara
com uma juíza mulher, uma promotora mulher, e uma defensora
pública mulher. O que você acha que vai acontecer? Você acha
que realmente vai ter uma defesa ampla, técnica, objetivando os
seus interesses?

E fca pior. Em estados como São Paulo por exemplo, devi-


do à alta demanda, a defensoria pública faz convênios com a Or-
dem dos Advogados do Brasil para que advogados se inscrevam
129
para funcionarem como defensores públicos, em troca de hono-
rários irrisórios. E o problema aqui é que, devido ao valor irrisório
de honorários, via de regra, os advogados que atuam neste con-
vênio, ou são recém formados, ou não prosperaram na carreira,
tendo que fazer disso seu meio de sustento. Ou seja, invariavel-
mente você terá sua defesa prejudicada.

Então, apesar de os honorários cobrados por um bom ad-


vogado criminalista serem altos, considerando a média salarial do
brasileiro, vale a pena economizar esse dinheiro e ter uma defesa
ruim, ou, pior, as vezes nenhuma defesa? Vale perder alguns me-
ses ou até anos de vida, por determinada quantia de dinheiro?

Então, devemos nos atentar também para este fato, como


quase tudo no Brasil, o serviço público da defensoria pública tam-
bém é uma porcaria.

130
CAPÍTULO 5
INCERTEZAS E FUTURO

Como vimos ao longo dessa obra, a palavra que mais vem


à mente quando adentramos nesse universo é essa: incerteza.

No Brasil, não temos segurança jurídica, princípio basilar


de toda civilização. Ora, como podemos frmar um contrato, por
exemplo, com um construtor, sem saber se no futuro esse con-
trato será valido? Sem saber se temos alguma garantia de que o
contrato vai ser cumprido por ele, e, se não for, ou se ele tentar te
acusar de não paga-lo, você terá respaldo para não ser prejudica-
do ou ter prejuízo fnanceiro? Pois bem, essa é a realidade dos
relacionamentos no Brasil.

A realidade jurídica, o que acontece na prática, pode mu-


dar do dia pra noite. Recentemente tivemos estampado em todos
os jornais o caso do motorista de Uber que “abandonou” uma
passageira embriagada na rua após o término da corrida, e esta
passageira acabou sendo estuprada por um morador de rua. O
que nos vem à mente é, esse motorista era responsável por essa
mulher? Um motorista de aplicativo, que está trabalhando, as ve-
zes a mais de 10 horas seguidas, torna-se responsável pelas deci-
sões inconsequentes dos usuários do aplicativo?

Bem, esse motorista atualmente é investigado pelo crime


de abandono de incapaz.¹ Crime punível com até 5 anos de re-
clusão. Por que isso é importante? Como vimos, a fgura do este-

¹ https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/motorista-que-abandonou-mulher-
-na-rua-antes-de-estupro-pode-pegar-ate-5-anos-de-prisao/

131
lionato amoro não existe na lei, foi criado a partir de decisões iso-
ladas em diversas varas do país, até que se criou o entendimento
de que ele existe.

E mesmo que este motorista não seja condenado, terá que


dispender tempo, dinheiro, e sua saúde mental se defendendo
das acusações durante o inquérito policial e durante o processo,
se houver, tendo que perder dias de trabalho, tendo que pagar
honorários de advogado, e, talvez até pior que isso tudo, teve
seu nome divulgado por diversos veículos de comunicação como
sendo um homem que abandonou uma mulher para ser estu-
prada! Os prejuízos sociais podem ser irreparáveis, e, se for pre-
so, será jogado junto a estupradores reais!

Parece apenas especulação maluca ou terrorismo social,


mas isso já aconteceu antes, com o estelionato amoroso, ou como
no caso Mariana Ferrer. E a mídia tem um papel fundamental nis-
so.

Vamos voltar ao caso Mariana Ferrer, que foi tão emblemá-


tico que terminou com a publicação de uma das leis mais arbitrá-
rias do nosso sistema jurídico. Mariana Ferrer, quando denunciou
André Camargo Aranha, disse à polícia que teria sido estuprada
por André, e que isso aconteceu pois ele teria drogado ela, dei-
xando ela inconsciente de seus atos, oportunizando o estupro.
Veja a seguir a transcrição real do depoimento de Mariana em
audiência:

132
Durante o seu julgamento, como todos devem lembrar, sua
própria defesa vazou os vídeos da audiência, onde ela foi con-
frontada pelo advogado de defesa de André, como já narramos
aqui. Mas o que é interesse é demonstrar que o exame toxicológi-
co de Mariana constou negativo para toda e qualquer droga:

133
André acabou sendo absolvido das acusações, já que as
provas eram cristalinas, o que nem sempre garante a absolvição,
mas foi o resultado desta vez. Porém, mesmo absolvido, teve sua
vida destruída, antes mesmo do fm do processo.

A militância organizada feminista, como forma de vingança


em favor de Mariana revirou a vida pessoal de todos os envolvi-
dos no processo, desde o Réu, André, divulgando na internet seu
endereço, telefone, entre outros dados, de seu advogado, que
perdeu a posição de professor que ocupava em faculdade de Di-
reito devido à pressão das alunas, do juiz do caso, que acabou
investigado², e até mesmo do promotor do caso, também inves-
tigado.³ E, para fechar o pacote, ainda levou a edição da lei que
comentamos antes.
² https://www.cnj.jus.br/aberto-pad-para-investigar-suposta-omissao-de-juiz-
-do-caso-mariana-ferrer/
³ https://www.conjur.com.br/2020-nov-04/cnmp-apura-atuacao-promotor-ma-
riana-ferrer-outubro

134
O mesmo já aconteceu antes, com a famigerada Maria
da Penha, aquela que acusou seu então marido, Marco Antônio
Heredia, de agredi-la e atirar nela, causando sua paralisia, o que
aparentemente se mostrou mentira, décadas depois, quando a
vida de Marco já havia sido completamente destruída e a lei que
deu origem a isso tudo já havia sido publicada.4 Novamente, o
trabalho midiático e a atuação da militância feminista agiram em
conjunto para que essa narrativa fosse repetida tantas vezes que
todos passam a aceita-la como verdade.

E dizemos “aparentemente” apenas por que não tivemos


acesso ao processo e suas provas, mas tudo nos leva a crer nessa
afrmação.

Ainda sobre a atuação da mídia, esta também é responsá-


vel pela difusão do fenômeno “me too”. O Me Too aparece pela
primeira vez nos corredores das produtoras de Hollywood, onde
após uma denúncia de uma vítima contra um suposto assediador,
várias outras vítimas, que até então nunca haviam se manifestado,
surgem para servir como testemunhas contra esse suposto acusa-
dor ou até mesmo para dizerem que também sofreram agressões
sexuais deste. E esse comportamento se alastrou.

No Brasil, temos como o exemplo o caso Marcius Melhem,


que foi originalmente acusado por uma colega de trabalho de
assédio e logo após outras supostas vítimas apareceram das som-
bras para dizerem que também teriam sido assediadas por ele.
Marcius foi acusado em vários processos diferentes, e provou que
pelo menos uma das vítimas, ao contrário do que ela havia alega-
4
https://www.brasilparalelo.com.br/noticias/ex-marido-de-maria-da-penha-
-diz-que-e-inocente-e-que-fcou-preso-e-sem-ver-as-flhas-por-causa-de-uma-
-mentira

135
do, manteve relacionamento amoro consigo, e que toda relação
teria sido consensual.5

Isso abre margem para que mulheres, apoiadas na militân-


cia e no apoio midiático, possam acusar qualquer um, baseadas
na acusação de outras mulheres, mesmo que nunca tenha aconte-
cido nada. Nesses casos, claro que as chances de absolvição das
acusações são maiores, porém, como vimos nos casos citados, an-
tes mesmo da absolvição da vida do acusado será sumariamente
destruída!

Terá sua vida pessoal revirada, irá virar manchete de jornais,


de programas de televisão, de páginas de fofoca, terá sua vida
profssional prejudicada, seu círculo social abalado... Os prejuízos
podem ser irreparáveis, e tudo isso não trará nenhum prejuízo a
quem acusa falsamente.

Trouxemos todos esses fatos e informações para esclarecer


um único ponto: não há segurança jurídica no Brasil e não pode-
mos sequer imaginar como será o futuro!

Do dia pra noite podemos ter um “novo tipo de crime”,


como o abandono de incapaz do motorista de Uber, mesmo sem
que isso seja aprovado pelo legislativo.

Sempre que uma vítima isolada surge para acusar alguém


minimamente conhecido, a mídia e a militância organizada jogam
todos os holofotes possíveis sobre a acusação, mesmo sem o mí-
nimo de provas do que a vítima alega.

Todos aqueles que tentam apenas buscar a verdade, como


o juiz do caso Mariana Ferrer, acabam tendo prejuízos pessoais e
5
https://www.estadao.com.br/emais/gente/ator-marcius-melhem-revela-con-
versas-intimas-com-atrizes-que-o-acusam-de-assedio-nprec-/

136
profssionais por sua atuação.

Todos os governos, de direita ou de esquerda, aprovam


cada vez mais leis feministas e misândricas, sem distinção, sempre
em desfavor do homem.

Os absurdos que acontecem todos os dias nas varas de vio-


lência doméstica já foram retratados aqui, e você pode ver com
seus próprios olhos todos os problemas que os homens enfren-
tam simplesmente por interagir com mulheres. E o pior, não po-
demos ter certeza sequer do que é crime ou não no dia de hoje,
amanhã, alguém (algum juiz) poderá decidir que algo é, mesmo
sem previsão legal.

Então, devemos nos acostumar com a incerteza, tanto do


presente, quanto do futuro.

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CAPÍTULO 6
EM MEMÓRIA DAS VERDADEIRAS VÍTIMAS

Bem, ao longo desta obra utilizamos a nomenclatura “víti-


ma” para se referir à mulheres que acusam falsamente homens,
apenas por questões técnicas, já que em qualquer processo ou
inquérito é assim que elas são tratadas. Mas, as verdadeiras víti-
mas não são elas, e devemos nos lembrar disso.

No capítulo em que abordamos a prisão preventiva, con-


tamos a história de Agenor, o “peixinho dourado”, preso quando
tentava entregar um presente de aniversário à sua flha.

Durante a produção desta obra, em 08 de outubro de


2023, Agenor, mais uma vítima do moedor de carne estatal, tirou
a própria vida.

Não poderíamos encerrar esta obra sem prestar o devido


respeito, e mostrar como o sistema destrói a vida de inocentes
todos os dias, pois foi desenhado pra isso.

Agenor era um homem comum, possuía um bom empre-


go, uma família, composta por sua esposa e por seus dois flhos,
um casal, sustentava sua casa, e nunca havia sido preso ou sequer
processado.

Depois de ser afastado de seu lar, sem oportunidade de


defesa, apenas por que sua esposa assim quis, denunciando Age-
nor por algo que nunca fez, inocentemente pediu permissão à
sua mulher para ir até sua casa, onde morava e cujo aluguel per-
manecia pagando, mesmo afastado de lá, para entregar o presen-
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te de aniversário de sua flha, cumprindo com seu dever de pai.
Ali a armadilha foi montada. A partir daquele dia, Agenor nunca
mais seria a mesma pessoa, e nem sua vida seria a mesma.

Após ser preso, Agenor, à época com 38 anos e sem uma


única passagem criminal sequer, foi atirado junto a população
comum de um presídio em São Paulo, onde passou a dormir e
acordar no mesmo cômodo que trafcantes, homicidas, assaltan-
tes, membros de facções criminosas, e outros criminosos de ver-
dade, o que não era seu caso. Agenor teve que sobreviver, diante
da sua nova realidade, alguém que jamais havia sequer sonhado
em passar uma única noite preso, já que sempre levou uma vida
honesta, foi obrigado a se fazer frme frente aos demais presos, da
forma que pode. Aquilo mudaria sua vida para sempre, mesmo
que esta tenha sido breve.

Eu tive longas conversas com Agenor no parlatório de onde


estava preso, eu sempre gostei de ouvir as histórias dos clientes
que atendi ao longo desses anos, e ele não pertencia àquele lugar,
defnitivamente. Ele me falava dos flhos, os quais amava incondi-
cionalmente, do seu trabalho, era designer, de como doía em si o
que sua esposa havia feito – que mesmo depois de tudo ele ainda
à chamava de esposa – e dos planos que tinha para quando fosse
solto. Porém a cadeia o mudou, ele teve que sobreviver.

Quando consegui sua liberdade, Agenor foi procurar seu


antigo empregador, onde foi funcionário por quase uma déca-
da, para tentar retomar sua vida, porém a porta estava fechada.
Ninguém queria trabalhar com um suposto acusado de violência
doméstica. Além da sua liberdade, também ceifaram sua carreira.
Agenor me confessou pouco tempo depois que estava em liber-
dade que havia aprendido com outros presos algumas “técnicas”
de práticas criminosas, que não irei comentar aqui em respeito à
sua memória, e que diante de sua situação – até por que ainda era
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obrigado a pagar pensão, mesmo desempregado – estava cogi-
tando seriamente em coloca-las em prática. Um homem de quase
40 anos, que sempre trabalhou honestamente, havia mudado.

Segundo ele mesmo, em uma das conversas que tivemos,


“se o Estado me prendeu sem eu fazer nada, pelo menos agora
eu vou preso ganhando alguma coisa”. O Estado mudou Agenor.
O estado destruiu um homem honesto.

Agenor conseguiu se recolocar no mercado de trabalho,


mesmo com a mácula de “agressor de mulheres”, mas sua vida
nunca mais voltou ao que era. Agenor continuava a enfrentando
outros problemas, dessa vez a alienação parental, já que sua espo-
sa (nunca se divorciaram) usava sua denúncia feita anteriormente
para impedi-lo de ver seus flhos, e, segundo Agenor, para não
criar um ambiente de disputa e confito para seus flhos, achou
melhor não reivindicar seu direito à visita judicialmente. E seguiu
sua vida, inocente, maculado pelo sistema judicial e penitenciário,
e sem convívio com seus flhos, até o dia que não conseguiu mais
aguentar.

Agenor tirou a própria vida.

Talvez a pior parte disso, é que muito provavelmente se-


quer seus flhos souberam do seu óbito. Essa informação chegou
a este autor através de um processo de pensão que eu acom-
panhava, pro bono, para Agenor. Há algum tempo já não tinha
contato com ele, já que não havia nada para ser feito no proces-
so. Porém, quando um ofcial de justiça foi citar Agenor de uma
decisão sem importância no processo, foi avisado pela sua irmã
do ocorrido, e ai essa informação veio para o processo. Isso leva
a crer que sequer seus flhos foram avisados, já que sua esposa
nada falou no processo.

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E, diante disso, muito provavelmente seus flhos irão cres-
cer ouvindo uma história mentirosa, de que seu pai foi um crimi-
noso, que agredia sua mãe, e que não suportou o mal que fez.
Nem sua memória será respeitada pelos seus flhos.

E assim termina a história de Agenor, mais uma vítima de


um sistema desenhado para destruir homens. Agenor não foi uma
“falha” do sistema, o sistema foi desenhado para funcionar assim.
O Estado cumpriu o papel dele, de triturar um inocente.
E, infelizmente, novos “Agenores” nascem todos os dias. Todos os
dias o sistema faz novas vítimas, destrói vidas e famílias, e mancha
para sempre a história de homens inocentes. Alguns não conse-
guem suportar.

Esperamos que esta obra possa não só honrar a memória


de Agenor, um desconhecido, vítima do sistema, como tantos ou-
tros, mas que possa também de alguma forma impedir que novos
“Agenores” surjam.

Existe um inimigo perene na vida de todo homem cha-


mado Estado, e ele está sempre pronto para atacar, e isso não
vai mudar. Então, esperamos que esta obra possa ajudar tantos
quantos “Agenores” existirem nesse país, para que seus fns não
sejam como este, retratado aqui.

Cuide de você. Não lute contra moinhos, o sistema não irá


perder, ele é imparável. Esteja atento e preparado, e não se torne
mais uma vítima.

Em memória de Agenor e de tantos outros “Agenores”.

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CAPÍTULO 7
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como vimos ao longo desta obra, nos últimos anos o esta-


do vem fazendo um grande esforço para cada vez mais criar leis,
orientações jurisprudenciais e normas ministeriais que colocam
a vida do homem médio, do homem comum, em cheque. E esse
esforço não vem apenas de um ou outro deputado, mas vem de
todos os lados, do poder executivo, legislativo e do judiciário, e
não tem lado político, quando se trata desse assunto, esquerda
e direita, liberais, conservadores e progressistas, todos se unem,
uníssonos, para reforçar essa posição.

Aqui, o ponto é que as coisas caminham nesta direção, e


não irão mudar, não haverá um “revogaço” de leis, ou uma alte-
ração das leis vigentes, voltando ao estado jurídico anterior ao
ponto que estamos, buscando trazer novamente uma mínima se-
gurança jurídica para a vida a dois. Ora, quem é que vai se propor
a tentar revogar a Lei Mariana Ferrer? Colocando sua vida nos ho-
lofotes da mídia como alguém que quer “tirar direitos das mulhe-
res”? Ninguém vai.

Então, não devemos perder tempo lutando por uma mu-


dança legislativa, ou por criação de leis mais justas, por que isso
não vai acontecer. Também não devemos acreditar que uma even-
tual conscientização da realidade que os homens vivem nas varas
de família e violência doméstica irá fazer efeito nas cabeças dos
juízes e desembargadores que todos os dias cometem excessos
em suas decisões, condenando inocentes sem provas. Eles não se
importam com sua inocência, tampouco com justiça.

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A única coisa que podemos fazer é nos preparar. E isso in-
clui diversos fatores, que vão desde inteligência emocional, pas-
sando por recursos fnanceiros, e, como fzemos nesta obra, co-
nhecimento prático da realidade.

Ao longo desta obra, se você foi um leitor atento, você


recebeu todas as ferramentas necessárias para se proteger dos
abusos legais cometidos por mulheres, e, até mais importante
que isso, viu como as coisas funcionam na prática, uma realidade
trazida por alguém que enfrenta esses abusos todos os dias, a
mais de meia década.

Então, mesmo sendo impossível se precaver de forma ple-


na destes abusos, a partir de agora você tem toda informação ne-
cessária para se proteger, e diluir esse risco ao máximo.

E não se engane, isso aqui não é um livro de contos e histo-


rinhas para você se entreter, isso aqui é um manual, técnico, feito
por alguém que vê isso todos os dias, com ferramentas e ensina-
mentos que devem ser colocados em prática por você leitor.

Então, faça bom proveito desta obra e todo o conhecimen-


to que tem aqui. Leia, releia quantas vezes for necessário, e visi-
te esse material novamente, sempre que se sentir em risco, isso
pode salvar sua vida.

Esteja preparado!

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