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DIÁLOGOS – Michel Justamand – As Pinturas Rupestres do Brasil: Educação Para a Vida Até Hoje

As pinturas rupestres do Brasil: educação para a vida até hoje


d.o.i: 10.13115/2236-1499.2007v1n1p41
MICHEL JUSTAMAND 1
Uniban\SP

Diferentemente do que sabemos por meio dos grandes manuais e ou


enciclopédias mundiais de arte, história, cultura e outros espaços acadêmicos. Ou
ainda nos manuais didáticos do Brasil. Aqui no Brasil também se fez pinturas rupestres
– são pinturas feitas nas rochas, usando-se do ocre para executá-las (gordura vegetal
e animal) na maioria das vezes. E ficaram registradas ao longo de muitos anos. Há
muito tempo atrás, podendo chegar até a 50 mil anos antes do presente, no Brasil,
mas não somente.
As pinturas rupestres foram produzidas pelos primeiros habitantes do Brasil. E
estes habitantes deixaram nas pinturas registradas, muito provavelmente segundo
nosso entender, suas ações sociais neste registro visual. Uma das ações sociais seriam
as educativas.
Foram transmitidas por meios educativos, acreditamos nesta tese, pois as
pinturas repetem-se por extensões enormes e também porque foram identificados
vários estilos de pintar os mesmos signos. Mostrando desta maneira que houve trocas
culturais e de aprendizado entre os grupos ou mesmo dentro dos grupos que aqui
viviam.
Como afirma Anne-Marie Pessis, que:

“Durante o período inicial do estilo Serra da Capivara, a região era


pouco habitada. Sabemos que outros grupos, minoritários, partilharam o mesmo
espaço junto às comunidades culturais de Serra da Capivara. Grupos que não
tinham o domínio da técnica gráfica, mas que incorporaram às suas culturas
esta prática rupestre das comunidades dominantes. Estas populações seriam
responsáveis por outra tradição de pintura rupestre existente no Nordeste do
Brasil, a tradição Agreste”. (PESSIS, 1989: 14/15).

As tradições de rupestres pinturas em São Raimundo Nonato permitiram


incorporarem idéias, técnicas e práticas nas sociedades que não as tivessem , como
era o caso da tradição Agreste, que surge por influência da tradição Nordeste¸
representada em sua subtradição Serra da Capivara.
As pinturas rupestres seriam o registro da história social dos habitantes daquele
período. Onde lhes era possível afixarem seus costumes e práticas cotidianas.

1
Docente da Universidade Bandeirante de São Paulo – UNIBAN das disciplinas de Antropologia e Ciências
Sociais.

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Costumes que permitiriam outros grupos ou futuras gerações de seus próprios grupos
utilizassem-se destas informações registradas.
Estas ações sociais que retratariam, então, a nosso ver, parte do cotidiano da
época como caca, danças, rituais, lutas territoriais, animais que viviam naquele
momento – um cotidiano muito parecido com o nosso atualmente, onde precisamos
lutar para garantir o que nos pertence por direito – dos grafismos puros (que não
temos condições de interpretar), cenas de sexo e cenas de brincadeiras, entre outras.
Com certeza, estes locais são, em grande parte, reocupados, pois estão
carregados de informações sobre o entorno que foram passadas e/ou estão ali
representadas, conseqüentemente os novos ocupantes poderiam decodificá-las. Como
aponta Pedro I. Schmitz, assim:

“Os principais sítios localizam-se em abrigos rochosos, grutas e cavernas


e indicam certa estabilidade de (re) ocupação, tanto nas camadas sedimentares
quanto nas pinturas das paredes”.(SCHMITZ, 1999: 57).

Era de uma necessidade sem precedentes deter os conhecimentos a respeito


dos meios de subsistência, pois não se poderia perder tempo diariamente em busca da
caça, pesca e/ou coleta de frutas. Por este motivo às pinturas teriam o papel de
retratar com precisão os locais onde foram desenhadas informando o que havia
naquele meio. Assim Niéde Guidon afirma que:

“A base econômica continuava sendo a caça, a coleta e a pesca: as


pinturas rupestres retratavam com detalhes a evolução sociocultural desses
grupos durante pelo menos 6 mil anos, o que constitui um dos mais longos e
importantes arquivos visuais sobre a Humanidade disponível, hoje, no
mundo”.(GUIDON, 1998: 43/44).

Para E. Adamson Hoebel:

“quase todas as inter-relações sociais são dominadas pela cultura existente.


Não temos notícia de nenhum grupo humano sem cultura. ..., uma sociedade
humana é mais do que mero agregado expressando comportamento instintivo.
A sociedade humana é uma população permanentemente organizada de acordo
com sua cultura”.(HOEBEL, 1982: 222/223).

Ao julgar que as comunidades humanas são compostas por grupos


intercambiantes (inclusive como nós hoje, veja a globalização), cujos membros fazem
parte de um todo mestiço nas relações existentes entre si, principalmente no caso da

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cultura, cuja produção executada por esses homens/mulheres é um material exemplar


para as pinturas rupestres.
Se todos os grupos humanos têm sua própria cultura e interagem significa que,
além de se manifestarem culturalmente, ainda transmitem seus conhecimentos. Por
meio da cultura produzida por estes grupos humanos das mais diferentes formas
estéticas, e por meios educativos.
A partir destas cenas podemos, então, depreender que houve sim no território
brasileiro, como em outros locais do mundo, história e educação muito antes de 1500.
O Brasil com sua imensa extensão territorial teria também uma grande complexidade
de formas, estilos de pinturas e locais pintados. Auxiliando a comprovar que as escolas
rupestres teriam se disseminado.
Entendemos as pinturas rupestres foi uma das mais importantes, (senão a
mais), formas sociais de garantir a transmissão cultural e pedagógica da época. E que
contribuiu para a interação e a relação entre humanos e destes com a natureza. E
sobreviveu até hoje para nos prestando o testemunho do que foi a sociedade de ontem
no Brasil.
As pinturas nos mostram, desde muito tempo, que devemos lutar e muito para
que a nossa sobrevivência garanta-se. E que sem esta nada conseguimos. E, ainda,
que por meio da educação social esta luta torna-se mais fácil de ser vencida.
O humano só se faz em sua plenitude por meio de lutas. E os primeiros
habitantes do Brasil já sabiam disto – assim como também nos sabemos. Para que
possamos compreender melhor a nossa própria historia antiga e ver nela um reflexo
para o nosso cotidiano. Façamos em nossas vidas muitas lutas políticas, sociais,
culturais e para a sobrevivência. Como já fazemos em nossas praticas cotidianas de
educadores sociais que todos somos. Façamos, também, nossas festas, viagens e
passeios, entre outras praticas sociais em nome de nossos prazeres. Como nos
mostram os antigos habitantes de nosso Brasil que viveram muito bem, relacionando-
se entre si, com o meio ambiente e com os outros grupos humanos que aqui viveram.
Diferentemente do que pensamos.
Fonte: http://www.espacoacademico.com.br/041/41cjustamand.htm

Referências bibliográficas
GUIDON Niéde.In: “As ocupações pré-históricas do Brasil”. In: CUNHA, Manuela Carneiro
da. Historia dos Índios no Brasil. São Paulo, Editora Cia das Letras. 1998.
HOEBEL E. Adamson. In: “A natureza da cultura”. In: Harry L. SHAPIRO. Homem,
cultura e sociedade. São Paulo, Editora Cultrix.1982.

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PESSIS Anne-Marie. In: “Apresentação gráfica e apresentação social na tradição


Nordeste de Pintura rupestre do Brasil”. In: Revista Clio numero 5, serie
arqueológica.recife, UFPE. 1989.
SCHMITZ Pedro I. In “A questão do paleolítico”. In: TENORIO, Maria Cristina. Pré-
História da Terra Brasilis .Rio de Janeiro, UFRJ. 1999.

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