Princípios Da Tecnologia Assistiva 2

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Princípios da Tecnologia Assistiva

Conteudista: Prof. Me. Adriano Conrado Rodrigues


Revisão Textual: M.ª Maiara Stéfani Costa Brandão

Objetivo da Unidade:

Abordar amplamente aspectos conceituais e práticos da Terapia Ocupacional,


utilizando a Tecnologia Assistiva como recurso terapêutico na abordagem a
pessoas com deficiência, transtornos, síndromes ou outras alterações do
desenvolvimento neuropsicomotor e percepto-cognitivo.

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📄 Material Complementar
📄 Referências
📄 Material Teórico
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Conceituação e Classificação
Para subsidiar a composição desta Unidade sobre Tecnologia Assistiva, muitos
documentos foram encontrados em revisão bibliográfica, o que denota alta produção
dos pesquisadores brasileiros nessa área. Inicio citando os documentos desenvolvidos
pelo Comitê de Ajudas Técnicas (CAT), da Secretaria dos Direitos Humanos da
Presidência da República, que discorre sobre os marcos legais presentes em nosso

território quando falamos sobre Tecnologia Assistiva a partir do ano de 1996 aos dias
atuais. Estão disponíveis, também, as normas traduzidas pelos comitês de
desenvolvimento da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT); além da
produção científica dos principais autores nacionais dentro dessa temática, bem como
uma produção específica dos Terapeutas Ocupacionais, que registram as ações
propostas e desenvolvidas na busca por evidências e uma prática mais eficiente e
resolutiva.

Nesse contexto, existem ainda os materiais contidos e disponibilizados por meio


eletrônico da Associação Brasileira da Indústria Comércio e Serviços de Tecnologia
Assistiva (ABRIDEF), materiais produzidos e disponibilizados pela Association for the
Advancement of Assistive Technology in Europe (AAATE), European Assistive Technology
Information Network (EASTIN), Empowering Users Through Assistive Technology
(EUSTAT), Rehabilitation Engineering and Assistive Technology Society of North
America (RESNA), Assistive Technology Industry Association (ATIA); e, para concluirmos
essa seleção, cito os marcos de referência nos EUA, para a garantia de acesso das
pessoas com deficiência aos produtos ou soluções assistivas a partir do ADA –
American with Disabilities Act (PUBLIC LAW, 1990).

Toda essa organização e arcabouço teórico vai ao encontro dos trabalhos


desenvolvidos nos principais serviços de atenção à saúde e Tecnologia Assistiva no
Brasil e no mundo.

Como definição geral, temos que a Tecnologia Assistiva (TA) é qualquer produto, ou

itens, peças de equipamentos ou sistemas adquiridos comercialmente, modificado ou


feito sob medida, que é utilizado para aumentar, manter ou melhorar as habilidades
funcionais da pessoa com deficiência (ADA – American with Disabilities Act - PUBLIC
LAW, 1990).

No cenário da saúde do Brasil, ao tentarmos definir a TA, temos como área técnica, que
abrange o âmbito da interdisciplinaridade, produtos, recursos, metodologias,
estratégias, práticas e serviços com o objetivo de ganho funcional e melhor
desempenho nas atividades e a possibilidade de participar, mesmo apresentando
deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida. A autonomia, independência,
qualidade de vida e inclusão social compõem a conclusão do raciocínio clínico quanto
aos objetivos.

Como observado, existem particularidades acerca das definições sobre TA no Brasil e

no mundo. No Brasil, autores ampliam erroneamente a TA como um campo composto


por método e estratégia que ultrapassam os princípios da tecnologia e se ampliam para
os da educação e reabilitativo genericamente propostos, abordando, assim, o fazer
humano – uma ação ou atividade – e menos um produto ou solução assistiva. E, assim,

não estabelece uma linha de evidência clara sobre o que pode ser proposto ou prescrito.

Apesar das questões conceituais envolvidas, pode-se observar o aumento de análises,


discussões ou indicação de TA, no Brasil, e um maior uso por aqueles que se
beneficiam desse importante recurso.

Em análise mais ampla, as abordagens dos profissionais brasileiros passam por um


período de transição, onde poucas pessoas faziam uso de recursos de TA, associado à
pouca disponibilidade de recursos técnicos para possíveis soluções, para uma fase em
que os profissionais passam a acessar recursos de TA e propô-los aos seus pacientes,
no entendimento de que a melhor interação com o ambiente em que vivem podem ser
determinantes para o sucesso de um processo de reabilitação

Ao longo da história nacional, novas políticas públicas são propostas para auxiliar na
garantia de acesso à TA, como, por exemplo, o Plano Viver Sem Limite (Governo
Federal entre os anos de 2011 e 2014), com orçamento de 7,6 bilhões de reais para o
fomento de ações que abordassem os direitos das pessoas com deficiência, como, por
exemplo, os projetos de soluções ou tecnologias assistivas.

Como vimos, o governo, os empresários e as universidades passaram a compor um

trabalho conjunto para o desenvolvimento de ações em Tecnologia Assistiva. Isso


gerou um alerta para o emprego e o uso indiscriminado de recursos de Tecnologia
Assistiva, o que exigiu atenção dos órgãos regulatórios na preservação da ética
envolvida inclusive na relação terapeuta-paciente.

Uma hipótese é que esse processo seja decorrente da falta de organização dos serviços
quanto à competência dos profissionais, bem como de atenção às reais demandas dos
pacientes.

Um olhar sobre o contexto europeu de uso da TA aponta para uma visão profissional
ampliada e práticas igualmente mais abrangentes.

Nessa condição, a Tecnologia Assistiva (TA) é definida como produto ou tecnologia


proposto por um serviço cujo objetivo é o melhor desempenho funcional das pessoas,
em qualquer idade, que encontram dificuldade no desenvolvimento ou execução de

tarefas relacionadas à educação, ao trabalho ou ao lazer.

Isso inclui dispositivos desenvolvidos para pessoas com deficiência ou dispositivos


facilitadores da vida em geral, onde as soluções de TA advêm do bom uso, ou uso
direcionado de tecnologias tradicionais.

Propor uma solução para uma necessidade individual pode, por vezes, envolver uma

análise mais criteriosa sobre as possibilidades de uso de um produto; e ainda, a


proposta de uso poderá ser diferente de uma pessoa para outra, ou de um contexto para
outro, e pode envolver a necessidade de adaptações do ambiente ou algum nível de
customização ou personalização, como a adaptação para um banheiro, cozinha, ou
estação de trabalho. Certamente, essa análise será balizada pelo quanto esse paciente
precisará de auxílio para a execução de suas atividades de interesse, e capacidade de
participação.
Em resumo, temos, na literatura especializada, a menção sobre a Equação dos 4 “As”
(em língua inglesa, que aqui já está traduzido para a língua portuguesa) como sendo:
Tecnologia Assistiva + Assistência pessoal + Adaptações ambientais individualizadas =

Solução Assistiva.

A TA torna possível a realização de uma ou várias atividades por uma pessoa com
deficiência, melhorando o seu desempenho funcional de acordo com sua hierarquia de
valores e significados em seu propósito de vida. Essa visão mais ampla considera não
somente os dispositivos que foram propositadamente desenvolvidos para as pessoas
com deficiência, mas também aqueles que são desenvolvidos para a população em
geral, a partir do Design Universal ou não, mas que, usados por uma pessoa com
deficiência para potencializar suas habilidades residuais, passam a ser consideradas
como um produto assistivo.

Produtos que são acessíveis para a população em geral (por exemplo, carros
automáticos), mas que para uma pessoa com determinada deficiência passam a ser
uma condição que viabiliza a realização de uma atividade de forma independente, nessa

situação, esse veículo automático ou produto com essas características passa a ser um
produto assistivo.

Os produtos assistivos abrangem desde dispositivos de tecnologia simples, que são


relativamente fáceis de construir e utilizar, tais como pranchas de comunicação e
talheres adaptados, até dispositivos mais complexos com tecnologia mais sofisticada,

sistemas de comunicação por ondas cerebrais, casas inteligentes e próteses


mioelétricas.

A TA desempenha um importante papel na medida em que possibilita uma pessoa a


desempenhar suas ocupações de escolha, participando (e, portanto, incluindo-se) em
sua comunidade. Muitos podem ser os caminhos de inclusão, e para citar alguns
exemplos, temos o aumento ou substituição de mobilidade, comunicação,
manipulação ou funções cognitivas e sensoriais, que concretizam oportunidades de
maximizar a independência e a autonomia da pessoa com deficiência, além de criar
possibilidades para a pessoa atuar em dinâmicas produtivas, de automanutenção e
econômicas, ou seja, assumindo papéis de vida com propósito e intenção. Negar esse
direito à pessoa com deficiência é ir contra ao olhar humanizado contemporâneo
sobre a saúde e, por consequência, sobre a vida.

A interdisciplinaridade no campo da Tecnologia Assistiva norteia as definições sobre o

tema e, entre os pontos em comum, temos esse conceito e o produto a ser direcionado
ao paciente como pontos mais importantes. Como visto, a definição europeia traz os
serviços de TA intimamente ligados aos processos complementares interdisciplinares
para o sucesso do uso do produto.

A proposta de uma classificação para abranger as categorias de TA auxiliará na


organização dos processos de avaliação e prescrição, e permitirá a organização mais
segura dessa área de conhecimento. Cada categoria determinada para uso de
tecnologia ou produtos e soluções assistivas exigirá especialização profissional, de

acordo com a categoria de atuação; isso também implicará na organização do mercado,


questões fiscais, e na disponibilização dos produtos pela rede pública e privada. Em
2012, uma linha de crédito subsidiada para o cidadão brasileiro foi criada pelo Banco do
Brasil, chamada de “BB Acessibilidade”, para que esse cidadão adquirisse seu produto

de Tecnologia Assistiva.

Assim, uma classificação sobre TA foi constituída pela ADA (American with Disabilities
Act), como segue:

Auxílios para a vida diária: materiais e produtos


para auxílio em tarefas cotidianas (transferir-se,
comer, cozinhar, vestir-se, tomar banho e
executar necessidades pessoais, manutenção da
casa etc.). No Brasil, há uma grande série de
produtos comercializados, desde simples até de
alta complexidade;
Figura 1 – Alimentador eletrônico
Foto: howard.md.networkofcare.org

#ParaTodosVerem: mulher vestindo um cardigan bege e uma camisa social


branca, sentada em uma cadeira de rodas, frente a uma mesa (de madeira)
localizada na cozinha da casa, utilizando um dispositivo de autoalimentação
(haste que conduz eletronicamente uma colher, a partir de uma base que dá
suporte a um prato); ela sorri e olha ao horizonte como se satisfeita. Fim da
descrição.

CSA (Comunicação Suplementar e Alternativa): soluções ou


produtos assistivos de alta ou baixa complexidade, que permitem
a comunicação expressiva e receptiva das pessoas, sem a fala
oralizada ou com limitações dela.

Podem constituir as pranchas de comunicação, vocalizadores,


softwares, leitores de ondas cerebrais, dentre outras
possibilidades. Esses materiais já se encontram disponíveis no
mercado especializado, ou podem ser confeccionados de acordo
com a necessidade terapêutica do paciente.

Assim, o sucesso na abordagem passa por estabelecer o processo


terapêutico e modos efetivos de comunicação aos níveis de
conhecimento e da tecnologia disponível, para que as pessoas
com qualquer tipo de deficiência, de forma efetiva, possam ter
acesso às suas soluções assistivas;

Recursos de acessibilidade ao computador: equipamentos de


entrada e saída (síntese de voz, Braille), auxílios alternativos de
acesso (ponteiras de cabeça, eye gaze, infravermelhos, de luz),
teclados modificados ou alternativos (inovação nacional de
sucesso mundial: TIX – tix.geraestec.com.br), acionadores,
softwares especiais (de reconhecimento de voz etc.).

Figura 2 – Pessoa com tetraplegia, sentado e posicionada


em sistema de mobilidade de alta complexidade, acessando
computador com acionador controlado pelos olhos
Fonte: unifesspa.edu

#ParaTodosVerem: homem sentado de costas para quem observa, com a cabeça


direcionada por suporte que se estende a partir do encosto da cadeira, e liga-se
com um tipo de óculos que direciona seu olhar à tela de um computador (laptop)
à sua frente, apoiado em uma base, em altura confortável, para que enxergue e
interaja. Fim da descrição.
Sistemas de controle de ambiente: constituem-se por sistemas
eletrônicos que permitem às pessoas com limitações motoras o
controle remoto de aparelhos eletrônicos, sistemas de segurança,
dentre outros, localizados em diferentes ambientes ou contextos
de suas ações. Como exemplo, temos as casas inteligentes, que já
são realidade no Brasil. Podem ser automatizadas ou não, e
dependem da definição do perfil funcional e prognósticos
funcionais de seus usuários;

Projetos arquitetônicos para acessibilidade: adaptações


estruturais e reformas na casa e/ou ambiente de trabalho, através
de rampas, elevadores, adaptações em banheiros, dentre outras.

Figura 3 – Cadeira elevador para escada


Fonte: Reprodução

#ParaTodosVerem: escada em “L”, degraus “largos” na cor marrom, e


corrimão branco. O corrimão acopla-se a uma “engrenagem” que serve de base
para uma cadeira (assento, encosto e apoio de braços); essa cadeira conta ainda
com cinto de segurança e “joystick” de comando para subir ou descer, para dar
autonomia de locomoção ao seu condutor. Fim da descrição.
Figura 4 – Banheiro com adaptações
Fonte: Getty Images

#ParaTodosVerem: a imagem mostra um banheiro adaptado com barras de


apoio em metal, ao lado da pia, vaso sanitário, e chuveiro, com espaço suficiente
para o trânsito de cadeira de rodas. O piso e as paredes são de azulejos. Fim da
descrição.

Órteses e próteses: dispositivos que posicionam, substituem ou


ajustam funcionalmente um membro ou segmento corporal; ou
ainda, funcionalmente alterado, pode ser associado a recursos
eletrônicos (próteses mioelétricas), ortopédicos (órteses, apoios
etc.), para ganhos terapêuticos específicos, conforme o raciocínio
clínico do paciente (não são consideradas produtos assistivos, e
sim recursos terapêuticos);

Adequação postural/funcional: adaptações para cadeira de rodas,


ou sistema de sentar-se, onde a função, o conforto e a
distribuição adequada da pressão na superfície da pele (almofadas
especiais, assentos e encostos anatômicos), bem como
posicionadores e contentores que propiciam maior estabilidade e
postura adequada do corpo através do suporte e posicionamento
de tronco/cabeça/membros, passam a ser objetivos terapêuticos
na abordagem ao paciente.

Figura 5 – Sistema de assento com almofada plana, apoio


lateral e encosto moldado em espuma de Poliuretano
expansível em “chassi” de cadeira de rodas em aço
Fonte: Acervo do conteudista

#ParaTodosVerem: a imagem mostra uma cadeira de rodas modelo


“monobloco” com assento plano e encosto moldado anatomicamente para
compensação de deformidades na coluna de seu proprietário; possui, ainda,
apoios laterais de tronco, fixos a partir do encosto da cadeira. A cor do “gradil”
em ferro que compõe a base da cadeira de rodas é azul. Fim da descrição.

Auxílios de mobilidade: cadeiras de rodas manuais e elétricas,


bases móveis, andadores, scooters e qualquer outro meio de
mobilidade assistiva, utilizado na conduta terapêutica junto ao
paciente.
Figura 6 – Cadeira de rodas modelo manual, com sistema
de posicionamento para grave comprometimento postural,
ambos de baixo custo
Fonte: Acervo do conteudista

#Paratodosverem: a imagem traz uma cadeira de rodas no modelo de


fechamento em “X”, cor vermelha, com assento e encosto modificados
manualmente para adequação postural da pessoa “cadeirante”. Material
utilizado: travesseiros e espumas de diferentes densidades. Fim da descrição.
Figura 7 – Andador infantil com diversos acessórios que
permite crianças com maior comprometimento motor se
deslocarem por meio da marcha
Fonte: Divulgação

#ParaTodosVerem: a imagem mostra um dispositivo de auxílio à mobilidade em


ortostatismo e marcha, com posicionadores de tronco e pernas, rodas em
quatro pontos e apoio de braços (cotovelos e mãos) e apoios “antiqueda”
traseiros. A cor do “gradil” de sustentação é amarela. Fim da descrição.

Auxílios para pessoas cegas ou com visão subnormal: são


adaptações específicas que incluem lupas e lentes, produtos para
produção mecânica e digital de Braille, equipamentos com síntese
de voz, grandes telas de impressão, sistema de TV com aumento
para leitura, softwares de leitura de texto, digitalizadores,
aplicativos em celulares para reconhecimento de dinheiro, de
cores, de faces, câmera que pode ser acoplada a um óculo que
realiza a leitura de textos, placas e reconhecimento de face. Esses
produtos já estão disponíveis no mercado especializado;
Auxílios para pessoas surdas ou com déficit auditivo: auxílios que
incluem equipamentos como infravermelho, aplicativos em
celulares, aparelhos para deficiência auditiva, telefones com
teclado – teletipo (TTY), sistemas com alerta táctil-visual, dentre
outros;

Adaptações em veículos: acessórios e adaptações que possibilitam


a condução do veículo, transferência para veículos como
elevadores para cadeiras de rodas, vans modificadas e outros
veículos utilizados para transporte que respeitem as condições de
segurança propostas pelo Código de Trânsito Brasileiro. Nesse
processo, a segurança do paciente e das pessoas em seu entorno
devem ser priorizadas no ato de propostas em soluções assistivas.

Atualmente, é possível encontrar uma variedade grande de produtos assistivos para

carros no Brasil.

Por que os Produtos de Tecnologia Assistiva não


Deveriam Ser Tratados como Bens de Consumo
Comuns, Comprados Diretamente pelos Usuários
sem a Intermediação de Sistemas de Prestação de
Serviços?
De forma sistemática, os serviços de Tecnologia Assistiva apontam duas tendências
antagônicas de evolução:

Necessidade crescente de produtos assistivos;

Dificuldade para muitas pessoas na obtenção dos produtos


assistivos adequados para a resolução do problema que
apresentam.
Assim, temos quatro razões a considerar e que subsidiam os serviços especializados
em TA como fundamentais, principalmente nos tempos atuais:

Ética: esse é o princípio da igualdade de


oportunidades. A sociedade deve estar
organizada para que as pessoas tenham acesso à
Tecnologia Assistiva. Nesse processo, o acesso à
TA é tido como uma condição prévia para
garantir a igualdade de oportunidades às pessoas
com deficiência e idosos;

Financeira: nesse processo, as barreiras de custo devem ser


removidas, o que permite a igualdade de acesso à TA para todas as
pessoas cuja indicação tenha sido prescrita. Essa é uma forma de
garantir o direito acima referido do indivíduo, conforme a
Convenção das Nações Unidas;

Expertise: nesse processo, há a necessidade de apoio profissional


qualificado para a seleção e execução (configuração, montagem,
treino do uso do produto etc.) de uma solução assistiva. As
soluções assistivas são individualizadas, e essa leitura avaliativa
sobre possibilidades exige grande competência do profissional.

Em alguns casos, é necessária uma abordagem que exige um


olhar avaliativo mais amplo, e a equipe multidisciplinar deverá ser
consultada, além da participação ativa do paciente e outras
pessoas envolvidas no processo de reabilitação do paciente
(familiares, cuidadores, professores, empregadores etc.).

A falta de competência especializada pode resultar no abandono


dos dispositivos, desperdício de recursos, ineficiência da
proposta de TA, junto ao paciente, e frustração para todos;

Consistência: esse processo está relacionado à necessidade de


garantir que as intervenções de TA façam parte dos protocolos
individuais de intervenção. Para consideração, o emprego de
facilitadores ambientais deve estar atrelado ao processo
terapêutico sob um olhar amplo, relacionado a fatores individuais
e temporais; questões da vida social, familiar, trabalho e educação
devem ser valorizadas na proposta de TA.

Conclui-se, então, que para a garantia de eficiência e engajamento ao uso de uma


solução assistiva, deve-se ir além do produto em si. Esse é o pensamento que forma o
conceito da solução assistiva.

Para uma organização ainda mais clara sobre o que envolve uma solução assistiva,
podemos citar:

Assistência individualizada: a avaliação da


necessidade do cliente e o monitoramento do uso
do produto ou solução assistiva em conjunto com
os demais profissionais envolvidos (educação,
saúde e assistência social) que fazem parte da
rede de apoio do paciente e seus
familiares/cuidadores. Uma assistência
individualizada envolve o cuidador, inclusive o
acompanhante escolar (se presente), ajudando a
pessoa com deficiência a integrar-se de acordo
com seus interesses. Em alguns casos, um apoio
de inclusão terá um efeito mais inclusivo do que
um aparato tecnológico ou assistivo;

Produto assistivo: o uso de um produto ou conjunto de produtos


que melhor atenda ao paciente segundo suas necessidades e
potencialidades indicará o caminho de prioridades na atenção ao
paciente, criando uma sequência de introdução dos produtos ou
ordem das soluções, quando indicado, de acordo com os
profissionais envolvidos, o paciente e seus familiares ou
cuidadores;

Adaptações ambientais individualizadas: avaliação, planejamento


e execução de modificações ambientais (escola, domicílio, local
de trabalho, outros) de forma a otimizar o desempenho funcional
da pessoa com deficiência e pessoas idosas, segundo os
princípios de acessibilidade e desenho universal.

Isso significa ir além das normas básicas de acessibilidade (ABNT 9050) e modificar e
adaptar o ambiente segundo às necessidades específicas daquele(s) usuário(s).

Esses três fatores são proporcionais entre si: se uma pessoa com deficiência
desenvolve uma atividade em um ambiente que não seja acessível, ela vai precisar de
mais produtos assistivos e mais ajuda individualizada; o contrário também é
verdadeiro.

Reflita
Discussão de Caso – Raciocínio Clínico
Uma criança com paralisia cerebral tem uma cadeira de rodas
motorizada com uma potência de motor “fraca” e com rodas

dianteiras e traseiras pequenas. Ela é independente para dirigir a


cadeira, foi muito bem treinada e é um ás na direção! Em sua casa, na
rua em que vive e em shoppings, ela não tem dificuldades para andar

com a cadeira, pois o piso é plano e liso.


Entretanto, na rua da escola, as calçadas estão em péssimas
condições – as rodas, por serem pequenas, travam a todo momento
nos buracos e desníveis, a cadeira desestabiliza, para ou quase tomba,
o motor da cadeira por seu fraco não consegue fazer com ela empine
para vencer pequenos obstáculos; precisando, assim, de alguém que
acompanhe a criança nesse deslocamento. Nesse caso, vemos um
equipamento inapropriado para o ambiente em que a criança precisa
atuar. Um outro modelo de cadeiras de rodas motorizadas faria com
que ela tivesse maior independência nesse trajeto.

Ok, se a calçada fosse consertada, ela não teria mais esse problema.
Com certeza, mas cá entre nós: e todas as outras calçadas que existem
em nosso país? Estão elas em condições ideais para o uso de cadeira
de rodas?

Os Serviços de Tecnologia Assistiva (TA) no Brasil


A TA, pautada pelo preceito da equidade e subsidiada pela Constituição do Brasil,
impacta positivamente na autonomia das pessoas com deficiências, uma vez que
possibilita, aumenta ou mantém as possibilidades funcionais do paciente na realização
de suas atividades cotidianas, inclusive com auxílio de soluções assistivas. A Lei
Brasileira de Inclusão é o marco legal que garante esse direito ao acesso ao produto
assistivo por meio de um serviço qualificado. Na maioria dos casos, o Serviço de
Tecnologia Assistiva, que deve incluir a avaliação das necessidades, demandas e
desejos do paciente, indicação do uso de um produto assistivo, assessoria na aquisição,
treino e acompanhamento do uso e reavaliações, envolve uma equipe multiprofissional
que atuará para subsidiar o Terapeuta Ocupacional, cujo objeto específico de trabalho –
ocupação/fazer humano – e seus meios de intervenção como a análise de atividades,
estão intrínsecos à indicação da Tecnologia Assistiva.

O Brasil possui um fluxo próprio para concessão de Tecnologia Assistiva, mas ainda
não possui processos bem definidos e estruturados. Apenas na saúde, temos a
definição dos produtos concedidos pelo Ministério da Saúde, através da lista de
produtos assistivos do Sistema Único de Saúde, e uma rede de serviços credenciados
ao SUS que buscam realizar essa dispensação, mas os serviços que compõem esse
fluxo não possuem profissionais capacitados para uma prática de excelência em TA.

No sistema de educação brasileiro, ainda não há um fluxo de dispensação que vá de


encontro ao que inclusive preconiza a lei, e alguns materiais são propostos
erroneamente como Tecnologia Assistiva.

Na rede pública, alunos com deficiência podem acessar o Atendimento Educacional


Especializado realizado nas Salas de Recursos Multifuncionais (SRM).

Um olhar sobre a doença representa uma das principais barreiras à potencialização dos
direitos e das competências das pessoas com deficiência no Brasil, em qualquer
sistema e nível de ensino, e também em outros contextos.

Já para a inclusão no esporte, não há uma lista de concessão, nem processos definidos
universalmente que componham os serviços públicos para a aquisição de produtos
assistivos, o que mostra ineficiência do setor de Assistência Social.

A Competência Profissional e a Ética Deontológica


em Tecnologia Assistiva
Em qualquer modelo de serviços de Tecnologia Assistiva, é premente a atuação de
especialistas de diversas categorias profissionais das áreas da saúde, engenharia,
arquitetura, ciências sociais e humanas, além de algumas de nível técnico. Entretanto,
por natureza, a Tecnologia Assistiva, sendo uma área interdisciplinar, exige que os
profissionais que atuam nesse nicho de expertise devam estar muito atentos à
regulamentação de sua atuação por seu conselho profissional, além de obterem uma
formação específica na área de Tecnologia Assistiva que pretendem atuar.

Segundo as diretrizes do conselho de regulação ética e deontológica de cada categoria

profissional envolvida em TA, para o que lhe é permitido realizar legalmente, cada
profissão possui normativas e resoluções para atuação de forma segura, mas é comum
vermos no Brasil profissionais que, por terem realizado um curso de pós-graduação
ou similar, ou por autodidatismo, considerarem-se aptos a atuarem em áreas

diferentes daquela que sua graduação lhes regulamenta.

Na América do Norte, a criação de uma sociedade científica para regular a atuação das
diversas categorias profissionais que atuam em Tecnologia Assistiva é um exemplo de
sucesso de como lidar com estas questões relacionadas às competências profissionais

em Tecnologia Assistiva.

A RESNA (Rehabilitation Engineering and Assistive Technology Society of North America)


criou, em 2008, padrões de prática para profissionais de Tecnologia Assistiva. Estes
padrões de prática estabeleceram conceitos e regras consideradas essenciais e
fundamentais para promover o mais elevado padrão ético entre os indivíduos que
avaliam, recomendam ou fornecem TA.

Segundo o proposto pela RESNA, no desempenho de suas obrigações profissionais,


independentemente de sua formação, os seguintes princípios e regras devem ser
observados:

Os profissionais devem manter como objetivo primordial a


promoção do bem-estar daqueles servidos profissionalmente;

Os profissionais deverão desenvolver apenas os serviços que


estão dentro do âmbito de sua competência, o seu nível de
educação, experiência e formação, e devem reconhecer as
limitações impostas pela extensão de suas habilidades pessoais e
conhecimentos em qualquer área profissional;
Ao fazer determinações quanto quais áreas de atuação estão
dentro suas competências, os profissionais de Tecnologia
Assistiva e fornecedores deverão observar todas as leis aplicáveis
de licenciamento (resoluções de seus conselhos profissionais),
considerar a qualificação para a certificação ou outras credenciais
oferecidas por autoridades reconhecidas nas profissões primárias
que compreendem o campo da Tecnologia Assistiva, e respeitar
todos os relevantes padrões de prática e os princípios éticos,
incluindo o Código de Ética da RESNA. No Brasil, a certificação de
especialistas em Tecnologia Assistiva ainda só é possível por meio
dos cursos de pós-graduação Lato Sensu em Tecnologia Assistiva;

Os profissionais não podem deliberadamente deturpar as suas


credenciais, competência, educação, treinamento e experiência,
tanto no campo da Tecnologia Assistiva e da sua profissão
primária. Os indivíduos devem comunicar ao seu empregador qual
pode ser o seu papel na prestação de serviços de TA e dispositivos
em todas as formas de comunicação, incluindo publicidade que se
refere à sua certificação em Tecnologia Assistiva;

Os profissionais devem informar aos consumidores, ou aos seus


defensores de quaisquer interesses, afiliações de emprego e
financeiros ou profissionais, que podem ser percebidos como
conflito de interesses. Em alguns casos, indivíduos devem
recusar-se a fornecer serviços ou fornecimentos, quando o
conflito de interesse é tal que se pode razoavelmente concluir que
tal afiliação ou interesse é susceptível de prejudicar julgamentos
profissionais;

Os profissionais deverão utilizar os recursos disponíveis para


atender as necessidades identificadas dos consumidores,
incluindo encaminhamento para outros profissionais, ou para
outras fontes que podem fornecer o produto e/ou serviço
necessário;

Os profissionais devem cooperar com indivíduos de outras


profissões, se for o caso, na prestação de serviços para os
consumidores, e devem participar ativamente do trabalho em
equipe, quando as necessidades dos consumidores requererem tal
abordagem;

Os serviços de Tecnologia Assistiva podem oferecer a avaliação,


julgamento, simulação, recomendações, entrega, instalação,
treinamento, ajustes e/ou modificações e promover a plena
participação do consumidor, em cada fase de serviço;

Os profissionais devem verificar as necessidades do consumidor,


usando procedimentos específicos;

Os profissionais devem informar o consumidor sobre todas as


opções de dispositivos e mecanismos de financiamento
disponíveis, independentemente de sua condição financeira, no
desenvolvimento de recomendações e estratégias para a aquisição
do serviço ou produto de Tecnologia Assistiva;

Os profissionais devem considerar as necessidades futuras e


emergentes do consumidor para o desenvolvimento de
estratégias completas de intervenção e de informação para
atender as necessidades do cliente;

Os profissionais devem fornecer tecnologias que minimizem a


exposição dos consumidores a riscos excessivos; fornecer
ajustes, instruções ou modificações necessárias que minimizem o
risco;

Os profissionais devem informar plenamente aos consumidores,


ou a seus representantes, os aspectos relevantes das
recomendações finais para o fornecimento de tecnologia,
incluindo as implicações financeiras, e não deve garantir por si só
os resultados de qualquer serviço ou tecnologia. Os profissionais
podem, no entanto, fazer declarações razoáveis sobre a
intervenção recomendada;

Os profissionais devem documentar, dentro dos sistemas de


registros adequados (por exemplo, prontuários), o processo de
avaliação da necessidade da solução assistiva, reavaliações,
recomendações, serviços ou produtos fornecidos e preservar o
sigilo desses registros, a menos que exigido por lei, ou a menos
que a proteção do bem-estar da pessoa, ou da comunidade, esteja
em risco ou quaisquer disposições em contrário;

Os profissionais devem esforçar-se, por meio de


desenvolvimento contínuo, incluindo a educação continuada,
para permanecer atualizado em Tecnologia Assistiva relevante
para a sua prática, incluindo a acessibilidade, financiamento, legal
ou questões públicas, práticas recomendadas e tecnologias
emergentes;

Os profissionais devem esforçar-se para instituir procedimentos,


de forma contínua, para avaliar, promover, aprimorar e valorizar a
qualidade do serviço prestado aos consumidores;

Os profissionais devem ser verdadeiros e precisos quando


fizerem declarações em público acerca do seu papel na prestação
de serviços e provisão de produtos de Tecnologia Assistiva;

Os profissionais não devem discriminar com base na deficiência,


diagnóstico, incapacidade, raça, nacionalidade, religião, credo,
gênero, idade, ou orientação sexual na prestação de serviços ou
fornecimento de produtos assistivos;

Os profissionais não podem cobrar por serviços não prestados,


nem distorcer serviços prestados ou produtos dispensados para
cunho de reembolso ou qualquer outra finalidade;

Os profissionais não devem se envolver em fraude, desonestidade


ou deturpação de qualquer espécie, ou formas de comportamento
ou atividade criminosa que reflita negativamente sobre o campo
da Tecnologia Assistiva, ou a capacidade do indivíduo para servir
consumidores profissionalmente;
Os profissionais, cujos serviços profissionais são negativamente
afetados pelo abuso de drogas, devem procurar aconselhamento
profissional, e se adequado, voluntariamente retirar-se da
prática;

Os indivíduos devem respeitar os direitos, conhecimentos e


habilidades dos colegas e de outras pessoas, o que representa o
respeito a diferentes pontos de vista, informações, ideias e outros
ativos tangíveis e intangíveis, incluindo os direitos autorais,
patentes, marcas, design, contribuições e descobertas.

Embora esses princípios e regras tenham sido desenvolvidos considerando a realidade


norte-americana, percebe-se que são pertinentes a vários problemas relacionados que
são vivenciados no Brasil. Torna-se necessário a organização e normatização da
atuação das categorias profissionais na área da Tecnologia Assistiva.

Considerações Finais: O que Fazer? Qual Direção


Tomar?
Diante desse cenário, momentos para a discussão de questões éticas que perpassam, e
têm afetado a qualidade percebida dos usuários de produtos assistivos no Brasil, a
partir de modelos adotados no Brasil para a inovação, pesquisa e desenvolvimento,
produção/fabricação, comércio, financiamento, fornecimento, e educação na área de

Tecnologia Assistiva, buscando proposições intersetoriais e interdisciplinares que


possam promover a melhoria do cenário, são muito necessários.

Nos últimos trinta anos, a evolução e a aplicação da Tecnologia Assistiva ajudaram


muito as pessoas com deficiência. A humanidade avança na sofisticação tecnológica,

no entanto, a aplicação efetiva dessas tecnologias para atender às necessidades de


pessoas com deficiência tendem a se desenvolver a um ritmo muito mais lento. O uso
ou não uso de produtos assistivos configuram-se como problemas éticos de alta
relevância que diz respeito inclusive a como a sociedade lida com os direitos das
pessoas com deficiência.
O sucesso no uso de produtos assistivos não são universais, e há muitos relatos de
desuso, ou abandono ou problemas oriundos de uso de produtos que não estão de
acordo com as necessidades dos usuários. Só aumentar a disponibilidade de produtos

assistivos não garante que quem deles necessita, os use de forma que não lhes causem
nenhum malefício, ou que realmente otimizem as habilidades funcionais dos usuários.
Dessa forma, urge a necessidade de acompanhamento de profissionais especializados
nesse processo.

A Tecnologia Assistiva inclui uma ampla gama de produtos, que vão muito além
daqueles relacionados à saúde. As habilidades subjacentes às atividades humanas mais
fundamentais do autocuidado, recreação e produtividade através do emprego ou da
educação podem ser otimizadas com o uso adequado de produtos assistivos. O foco nas

habilidades funcionais da pessoa com deficiência coloca a ênfase nos resultados do


mundo real, de forma a aumentar a autonomia dessas pessoas. A Tecnologia Assistiva
também inclui serviço de Tecnologia Assistiva como qualquer serviço que auxilia
diretamente um indivíduo com deficiência na seleção, aquisição ou uso de um

dispositivo de TA. Alguns exemplos específicos de procedimentos desses serviços que


esclarecem ainda mais essa definição: (a) avaliação de necessidades e habilidades para
Tecnologia Assistiva; (b) apoio e orientação na aquisição dos produtos; (c) seleção,
projeto, reparo e fabricação de sistemas/soluções assistivas; (d) serviços de
coordenação com outras terapias; e (e) treinamento de indivíduos com deficiência e

profissionais de diversos setores que trabalham para o uso dos produtos assistivos
efetivamente. Estes serviços invocam a consideração de princípios éticos.

Tecnologia Assistiva Intangível e Tangível: Tecnologia Assistiva Tangível (hard) é


usada para descrever os produtos em si (cadeiras de rodas, engrossadores, barras,

dentre outros). Tecnologia Assistiva Intangível (soft) são as áreas humanas de tomada
de decisão, estratégias, treinamento, formação de conceitos e prestação de serviços
incluída no atendimento serviços de tecnologia. Tecnologias Assistivas Intangíveis, as
quais sem a Tecnologia Assistiva Tangível são ineficazes, suaves, são muito mais
difíceis de obter, porque são altamente dependentes do conhecimento humano em vez
de objetos tangíveis. E aqui está um dos maiores problemas brasileiros: a carência de
recursos humanos especializados em Tecnologia Assistiva Intangível.
Tecnologia Assistiva também inclui serviço de Tecnologia Assistiva como qualquer
serviço que auxilia diretamente um indivíduo com deficiência na seleção, aquisição ou
uso de um dispositivo de TA. Alguns exemplos específicos de procedimentos desses
serviços que esclarecem ainda mais essa definição: (a) avaliação de necessidades e
habilidades para Tecnologia Assistiva; (b) apoio e orientação na aquisição dos
produtos; (c) seleção, projeto, reparo e fabricação de sistemas/soluções assistivas; (d)
serviços de coordenação com outras terapias; e (e) treinamento de indivíduos com

deficiência e profissionais de diversos setores que trabalham para o uso dos produtos
assistivos efetivamente. Estes serviços invocam a consideração de princípios éticos.

Só desenvolvimento, fabricação e comercialização/distribuição de produtos assistivos


deixa uma lacuna na usabilidade deles, ocasionando maleficência e não uso dos

produtos de forma satisfatória, promovendo a real autonomia e inclusão das pessoas


com deficiência e seus cuidadores.

Nas referências utilizadas, foram citados cinco tipos de princípios éticos. Subjacente a
todo o desenvolvimento e aplicação de TA são os conceitos de beneficência,

garantindo que as ações conduzam a bons resultados que beneficiam outros e


fidelidade, fiéis, leais, honestos e confiáveis. Outro aspecto importante da beneficência
aplicado à Tecnologia Assistiva é a identificação de possíveis consequências de tais
aplicação e o equilíbrio de aspectos positivos e potencialmente prejudiciais para
maximizar o benefício para o indivíduo. A falta de maleabilidade refere-se ao princípio

de não causar danos aos outros diretamente ou por meio da prevenção de ações que
possam prejudicar os outros. Este conceito é fundamental para a prática assistencial.

Um objetivo importante em toda a aplicação de Tecnologia Assistiva é o aumento da


independência e autonomia do usuário. O processo de tomada de decisão em torno da

escolha de produtos assistivos específicos para um dado indivíduo também deve ser
fiel ao princípio ético da autonomia, isto é, foco na liberdade de ação e escolha.
Finalmente, o princípio ético de justiça trata da questão da equidade individual,
interpessoal, contextos organizacionais e sociais.

A distribuição de Tecnologias Assistivas em si não é suficiente para eliminar as


desigualdades enfrentadas pelas pessoas com deficiência. No entanto, a equiparação
de oportunidades, por meio do uso adequado de TA, pode proporcionar alguma
equalização da capacidade funcional e, portanto, alterar positivamente a percepção
social da dependência com o aumento da funcionalidade das pessoas com deficiência.

Infelizmente, o uso de produtos assistivos pode exacerbar a percepção negativa de


pessoas com deficiência, criando um estigma que chama a atenção para a deficiência e
não para a capacidade da pessoa.

Especificamente, o uso de TA pode estigmatizar ainda mais as pessoas idosas,

tornando-as menos funcionais e mais vulneráveis. O grau de estigma difere de acordo


com o tipo de Tecnologia Assistiva (por exemplo, aparelhos auditivos, cadeiras de
rodas etc.). Assim, neste caso, os produtos assistivos contribuem negativamente para
a desejada equalização das pessoas de um determinado perfil funcional, aumentando,
de fato, a diferença entre a maioria da população. Já os membros de um grupo de perfil
funcional específico podem ser menos propensos a usar produtos assistivos os
escolhe e é percebido para reforçar os estereótipos associados à sua condição
funcional.

Políticas públicas com base na justiça ignoram a diferença apenas até o ponto em que
resulta em desvio considerável da norma. Além disso, a diferença pode ser descontada
(justiça formal) ou reavaliada positivamente (justiça interativa). Os estigmas
associados aos produtos assistivos podem ser dissipados se a tecnologia se tornar
muito familiar (por exemplo, o uso de computadores laptop para comunicação

aumentativa ou cadeiras de rodas para mobilidade). Quanto mais pessoas usando


produtos assistivos em locais públicos, mais acostumadas as pessoas se tornam com
os produtos e com os ganhos funcionais que o uso desses produtos representa na vida
dessas pessoas, diminuindo a percepção de incapacidade que a sociedade brasileira

associa às pessoas com deficiência.

Conclui-se, portanto, que o Brasil já evoluiu bastante na área de Tecnologia Assistiva,


mas que é necessário mais investimento principalmente em Tecnologia Assistiva
Intangível, ou seja, nas áreas humanas de tomada de decisão, estratégias, treinamento,

formação de conceitos e prestação de serviços especializados, para que possamos agir


de acordo com preceitos éticos aceitáveis. Os Terapeutas Ocupacionais devem
aprofundar seu conhecimento na área de forma sistematizada para além dos cursos de
graduação e exercer uma prática baseada em evidências.
Livro
A Interface da Terapia Ocupacional no Contexto Multiprofissional da
Educação, Saúde, Previdência e Assistência Social
Leio o capítulo 5 do livro indicado.
NASCIMENTO, D. et al. Adaptações de Espaços/Ambientes de
Interação: Acessibilidade e Prevenção de Quedas. In: RODRIGUES, A.

C. A Interface da Terapia Ocupacional no Contexto Multiprofissional


da Educação, Saúde, Previdência e Assistência Social. 2 ed. Crefito 3:
São Paulo, 2018.
📄 Material Complementar
Página 2 de 3

Para expandir os conhecimentos dessa Unidade, acesse os


conteúdos complementares abaixo:

Leitura

Assistive Technology: Examples, Funding, and OTs

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ACESSE

Assistive Technology, Occupational Therapy, and More


Accessibility Resources

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ACESSE
Assistive Technology and Occupational Performance

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ACESSE

O Uso da Tecnologia Assistiva por Terapeutas


Ocupacionais no Contexto Educacional Brasileiro: Uma
Revisão da Literatura

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ACESSE
📄 Referências
Página 3 de 3

AMERICANS WITH DISABILITIES ACT. What is the Americans with Disabilities Act (ADA)?
Disponível em: <https://adata.org/learn-about-ada>. Acesso em: 13/12/2023.

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for assistive technology in Europe: position paper. Aaate, 2012. Disponível em:
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content/uploads/sites/12/2016/02/ATServiceDelivery_PositionPaper.pdf>. Acesso

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BORGES, A. P. Representação da população idosa na luta por seus direitos no Brasil: o


caso dos Conselhos Estaduais do Idoso. 2009. Dissertação (Mestrado em Ciências da
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<http://www.siva.it/research/eustat/>. Acesso em: 13/12/2023.
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA, COMÉRCIO E SERVIÇOS DE TECNOLOGIA
ASSISTIVA. Disponível em: <http://abridef.org.br/>. Acesso em: 13/12/2023.

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