Artigo Economia Circular

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ECONOMIA CIRCULAR, SUSTENTABILIDADE E LOGÍSTICA:

Uma combinação para melhorar o planeta, as pessoas e os negócios

Mauro Campello
MC Treinamentos
[email protected]

Resumo
O objetivo principal do artigo é uma análise sobre a economia circular, ou seja, entender o que é, os conceitos
principais sobre o tema, seus princípios e, claro, seus benefícios. Também aborda aspectos sobre a economia
linear - o modelo base atual de produção, sustentabilidade, logística e logística reversa, essas última
fundamentais para a produção. O processo tradicional de produção de bens e serviços usa, em grande maioria,
recursos extraídos da natureza em uma velocidade elevada, sem que haja tempo de regeneração da mesma. Por
outro lado, no final do processo de produção e pós-consumo dos produtos, ocorre um acúmulo de resíduos nem
sempre adequadamente descartado, com outro impacto para a natureza - o lixo. Porém, muitas vezes esse lixo
tem valor, se bem processado, além de poder ser reaproveitado como insumo de outros processos e, em um
limite maior, nem existir. Esse é o novo conceito da economia circular, que permite mudanças significativas, não
só na produção, mas em todo o processo, alterando formas de consumo, de relacionamento entre os entes da
cadeia de suprimentos, de produção, além do próprio negócio. São abordados temas de desenvolvimento
sustentável, os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS), a forma como a economia circular contribui
para alguns desses objetivos, a importância da logística reversa em relação à economia circular e na
sustentabilidade para as empresas e sociedade do ponto de vista econômico, ambiental e social, gerando
benefícios e valor para as partes envolvidas.
Palavras-chave: economia linear, economia circular, logística, sustentabilidade.

Abstract
The main objective of the article is an analysis of the circular economy, that is, to understand what it is, the main
concepts on the theme, its principles and, of course, its benefits. It also addresses aspects of the linear economy -
the current base model of production, sustainability, logistics and reverse logistics, the latter fundamental to
production. The traditional process of producing goods and services uses, in the great majority, resources
extracted from nature at a high speed, with no time for its regeneration. On the other hand, at the end of the
production and post-consumption process of the products, there is an accumulation of waste that is not always
properly disposed of, with another impact on nature - garbage. However, this garbage is often valuable, if well
processed, in addition to being able to be reused as an input for other processes and, at a higher limit, not even
exist. This is the new concept of the circular economy, which allows significant changes, not only in production,
but in the entire process, changing forms of consumption, of relationships between the entities in the supply
chain, of production, in addition to the business itself. Sustainable development themes are addressed, the 17
sustainable development objectives (SDGs), the way the circular economy contributes to some of these objectives,
the importance of reverse logistics in relation to the circular economy and sustainability for companies and
society from the point of view. economic, environmental and social view, generating benefits and value for the
parties involved.
Keywords: linear economy, circular economy, logistics, sustainability.
1. Introdução
A economia vem mudando rapidamente ao longo do tempo com diversas descobertas e
invenções logo incorporadas no dia-a-dia das pessoas e empresas. Desde a produção manual
(artesanal) até a Indústria 4.0, muitas mudanças aconteceram na busca de resultados,
resultados e mais resultados.
Em muitos processos produtivos, as matérias-primas principais são extraídas da natureza e
isso vem acontecendo em velocidade tal que não permite a recuperação do planeta. Da mesma
forma, muitos resíduos do processo de produção e pós-consumo contribuem para impactos ao
meio ambiente e ao ser humano, com graves consequências: problemas de poluição,
aquecimento global, saúde, doenças entre outros.
O processo atual de produção de bens ou serviços é baseado na exploração, produção
propriamente dita, consumo e descarte final, a chamada economia linear. Com certeza, esse
processo tem algumas implicações negativas, como a exploração desenfreada de recursos
naturais, além do descarte final, muitas vezes feito de forma indevida, com sérios problemas
ao meio ambiente.
O artigo visa apresentar o conceito atual de produção - a economia linear - e um conceito
diferente - a economia circular - com mudanças em muitos aspectos, principalmente a
exploração de recursos naturais e o descarte, com o objetivo ideal de chegar ao volume zero
de resíduos ou bem próximo disso. Também são feitas considerações sobre sustentabilidade,
logística - um processo importante da produção de bens e serviços - e logística reversa, que já
incorpora aspectos relevantes da economia circular e contribui para seu maior
desenvolvimento. Esses três conceitos são importantes de acordo com as premissas do
processo de economia circular, tema principal do trabalho.
Como fato adicional, no final de 2019, o mundo foi afetado pela pandemia do corona vírus,
causa da doença denominada COVID-19, com crescente contaminação de indivíduos, muitos
óbitos e efeitos negativos para a economia mundial, sem ser possível imaginar tal impacto,
mas isso gera outros tipos de resíduos - os hospitalares - que demandam tratamento específico
no descarte e tratamento.
2. Economia: suas fases e as mudanças
A evolução da economia ao longo do tempo ocorre por mudanças significativas que levam a
sociedade ao progresso, muitas vezes podendo se questionar tal progresso. As mudanças nesse
desenvolvimento ocorrem de forma tão significativa que refletem na forma como a sociedade
vive, consome e se relaciona.
Até 1780 era uma sociedade principalmente agrícola com emprego da força física e uma vida
praticamente sem tecnologia, nos moldes da tecnologia atual (SANTOS, 2020). De 1780 a
1980, vivemos a sociedade industrial com uso da força da máquina. Ocorre forte aumento da
produção. De 1980 até nossos dias, temos a sociedade digital, com a conectividade.
Nessa era tudo acontece de forma muito rápida. Para que se tenha uma ideia dessa velocidade,
a Figura 1 apresenta o que acontece na internet em apenas um único minuto, com base no ano
de 2019.
Nesse ambiente de fortes e rápidas mudanças, são necessárias novas habilidade nas pessoas,
além de novos modelos de negócios, como, por exemplo, as relações bancárias feitas por
internet ou aplicativos bancários sem necessidade de ir às agências, e também nos governos,
em termos de atualização de legislações específicas e fiscalização e controle das ações
necessárias.
Figura 1- O que acontece na internet em um minuto.

Fonte: Lori Lewis (www.allcess.com).

3. As revoluções industriais
De acordo com Santos (2020), e de forma resumida, as diversas revoluções industriais são
assim descritas.
 1ª. Revolução Industrial: ocorreu na Inglaterra no final do século XVIII. Os fatos
marcantes foram o carvão, a máquina a vapor, o ferro e a indústria têxtil. A grande
mudança foi a passagem do trabalho artesanal, com baixo volume de produção, para o
trabalho mecânico, com altos volumes produzidos. Surgem as primeiras estradas de ferro,
com alta capacidade de transporte e maior velocidade;
 2ª. Revolução Industrial: data de meados do século XIX e seus fatos mais relevantes são a
eletricidade, o desenvolvimento da química, conceitos de gestão. A massificação da
manufatura é presente. Surge o avião, refrigeradores, alimentos enlatados e os primeiros
telefones;
 3ª. Revolução Industrial: surgiu na segunda metade do século XX e tem como principal
matéria-prima a informação. Temos o computador, avanços diversos em praticamente
todas as áreas do conhecimento, a manipulação atômica e a tecnologia espacial, além da
exploração do petróleo;
 4ª. Revolução Industrial: marcada pela forte utilização da tecnologia da informação (TI)
na indústria. Schwab (2018) cita que uma revolução tecnológica intensa será responsável
por mudanças na forma de viver, trabalhar e de relacionar, algo diferente de tudo que o
homem já vivenciou anteriormente. É a vida conectada.
A 4ª. Revolução Industrial reúne o conceito de fábrica inteligente que agrega a
nanotecnologia, neurotecnologia, biotecnologia, robótica, inteligência artificial, internet das
coisas, computação em nuvem, entre outros. Ou seja, é a Indústria 4.0, conceito que une
automação e tecnologia da informação, bem como outras inovações tecnológicas desses
campos, aplicado na manufatura, transformando matérias-primas em produtos de valor
agregado. Ocorre a substituição do homem pela máquina, fato que já vem acontecendo faz
tempo. Segundo a FIA-USP, é um salto tecnológico com intenso uso da automação de forma
que robôs desempenhem funções cada vez mais complexas.
Para alguns autores, seria o caminho para a 5ª. Revolução: conectando o homem, a máquina e
o mundo na era da inteligência.
4. Economia linear
O avanço da tecnologia e da industrialização provocou transformações diversas na vida
humana como novos materiais, praticidade no dia a dia, além de maior expectativa de vida.
Assim, com o aumento das necessidades humanas - hoje são cerca de 7,2 bilhões de
habitantes com previsão de 11 bilhões em 2050 - a produção crescente é diretamente
proporcional à exploração de recursos naturais com impactos sérios e desgastes ao meio
ambiente.
Essa é a característica da economia linear: um modelo de produção baseado na extração,
produção, uso e descarte de recursos e materiais, sem levar em conta a capacidade
regenerativa do planeta. O modelo é apresentado na Figura 2.
Figura 2- Economia linear

Fonte: SENAI
O desenvolvimento tecnológico contribui com a otimização de processos produtivos, acelera a
produção em níveis cada vez maiores, contribui com ganhos de capacidade e maior
produtividade, mas com maior exploração dos recursos naturais.
Tal exploração contribui para o desgaste de reservas naturais importantes com duas
possibilidades bem marcantes: escassez de recursos naturais e indisponibilidade de matérias-
primas para a indústria. No primeiro caso, a maior exploração e de forma mais rápida que a
capacidade de regeneração provoca desgaste no ecossistema. No segundo caso, ocorre
impacto nas reservas globais e empresas terão problemas com suprimento de matérias-primas
e o resultado, além da indisponibilidade, é a volatilidade no custo das commodities.
Essa situação é crítica, pois compromete, dentro de certo tempo, a continuidade de muitos
negócios.
5. O novo consumidor
Esse avanço tecnológico gera transformações na produção e, também, no consumo. Com a
oferta constante de produtos, os indivíduos e consumidores são afetados e tendem a consumir
por impulso na maioria das vezes. Isso, no modelo de economia linear, gera mais extração e
mais descarte, com impactos de diversas formas no meio ambiente: extração de materiais,
descarte indevido, poluição, não regeneração, apenas citando alguns.
Se a forma de comprar das pessoas mudar, as empresas terão que mudar a forma de produzir e
vender, adaptando-se a essas mudanças. Não se pode deixar de considerar que o consumidor
está mais informado, mais exigente, mais consciente e pesquisa antes de comprar. A internet
facilita tal pesquisa. Assim, muda a forma de compra, não mais por impulso e preço: é a
compra consciente.
A revolução digital atual propicia mudanças culturais, bem como mudanças no
comportamento dos consumidores, fazendo com que a indústria se atente para isso.
A revolução industrial dava a sensação que o fornecimento de produtos ou serviços seria
constante. Com um modelo de produção baseado na exploração de recursos naturais e sendo o
desenvolvimento de produtos com obsolescência programada, ocorria nova compra em
função do curto ciclo de vida. Com o cliente mais informado, acontece a insatisfação do
mesmo com opção de compra por outra marca do mesmo produto que o satisfaça de forma
mais completa, comprometendo a perpetuidade do negócio pela perda de clientes. Um
exemplo marcante é a NOKIA, que foi líder mundial na produção e venda de celulares e, de
uma hora para outra, praticamente desapareceu e está tentando retornar ao mercado.
Podem-se ser destacados quatro riscos nesse processo de economia linear:
 Risco de suprimento pela falta de recursos naturais pela exaustão atual verificada e seus
impactos ambientais;
 Risco de competitividade devido à obsolescência programada que afeta a qualidade dos
produtos;
 Risco de conflitos pela perda de colaboração na cadeia produtiva;
 Risco de sobrevivência no futuro.
Os riscos exigem uma boa gestão dos mesmos de forma a mitiga-los e definir investimentos
nos negócios.
6. Definição de sustentabilidade
Na observação dos avanços tecnológicos e científicos que ocorreram ao longo dos anos,
percebe-se que a espécie humana também passou por profunda evolução.
Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a
expectativa de vida da população aumentou 41,7 anos em pouco mais de um século. Temos
como exemplo um cidadão brasileiro que pode viver até 75 anos de idade, mas para isso se
faz necessário o uso de diversos recursos naturais que garantam seu bem estar e a manutenção
de uma vida saudável. O crescimento acelerado da população e a intensa utilização da
tecnologia na produção geraram uma necessidade de extrair recursos naturais de forma
inconsciente e com maior velocidade, ocasionando o desequilíbrio ambiental capaz de colocar
em risco o ecossistema (ou seja, o sistema formado pela inter-relação dos seres vivos com o
ambiente), segundo Peña et al (2017). Para alguns autores e pesquisadores, o ecossistema
terrestre é incapaz de sustentar o nível de atividade econômica e de consumo de matéria-
prima nos níveis atuais.
Com os diversos impactos causados pelo homem ao meio ambiente, surgiram diversos
movimentos e conceitos relativos à preservação do planeta. Atualmente a sustentabilidade é
uma ferramenta que pode auxiliar no equilíbrio dessa situação preocupante vivida em várias
partes do mundo, apesar de ser compreendida e interpretada de diferentes percepções por
alguns países, o que compromete o seu real significado. Diversos autores a definem como
uma transformação social e ecológica, para outros é o desenvolvimento, crescimento de
maneira renovada, diferente da atual.
O termo sustentabilidade passou a ter maior relevância a partir da década de 70, com a
Conferência sobre o Ambiente Humano das Nações Unidas (em Estocolmo), onde é
manifestada, de forma clara e a nível mundial, a preocupação com as questões ambientais
globais. O Relatório Brundtland - Our Common Future - preparado pela Comissão Mundial
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1987), formaliza pela primeira vez o conceito de
desenvolvimento sustentável: “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades e
aspirações”.
A Conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável estabeleceu, em 2012,
no Rio de Janeiro, 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A meta era produzir
um conjunto de objetivos que suprisse os desafios ambientais, políticos e econômicos mais
urgentes que o mundo enfrentava. Tais objetivos são apresentados na Figura 3.
Figura 3- 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Fonte: nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/.
Importante destacar que para os países em desenvolvimento, existe a necessidade de atuação
em todos os 17 objetivos definidos pelas Nações Unidas, como o caso do Brasil, com grandes
diferenças econômicas e sociais.
A sustentabilidade também pode ser definida como a utilização dos serviços da natureza
dentro do princípio de manutenção do capital natural, isto é, a utilização dos recursos naturais
de acordo com a sua capacidade de renovação dentro do sistema como um todo (BELLEN,
2002). As duas definições de sustentabilidade citadas apresentam em comum a preocupação
com o futuro, não só das gerações, mas de todo o sistema envolvido.
Apesar da situação atual vivida pelo planeta, o termo sustentabilidade gera controvérsia, pois
ainda não atingiu a sociedade de forma global. Ferramentas que estimulem o desenvolvimento
de ações sustentáveis na sociedade, monitoramentos, aceitação das restrições ecológicas e os
desafios socioeconômicos são necessários. O método da pegada ecológica (do inglês
ecological foot print method) procura sensibilizar as pessoas, relacionando os limites da
natureza com os limites biofísicos para auxiliar nas decisões. A sociedade precisa ter
consciência de que não se deve visar apenas o lucro e o bem-estar, que além desses fatores há
uma ligação entre o mundo natural e o mundo do trabalho que não pode ser desfeita,
conforme Peña et al (2017).
Chaves e Campello (2016) citam que de acordo com a evolução do mundo em relação às
questões estratégicas relacionadas aos aspectos econômicos, ambientais e sociais, surge um
novo conceito na década de 90 que fica mundialmente conhecido como The Triple Bottom
Line (ELKINGTON, 1997), conhecido por tripé da sustentabilidade ou 3 P’s: People, Profit
and Planet, que envolve os aspectos social, econômico e ambiental. A Figura 4 apresenta o
tripé da sustentabilidade e as interseções entre as três áreas envolvidas: suportável, equitável e
viável.
Figura 4- Tripé da sustentabilidade.

Fonte: Google (2020).

7. Logística: definições, conceitos práticos e aplicações


Foram comentados muitos aspectos sobre economia linear, produção e sustentabilidade. À
medida que a produção aumentou ao longo dos anos, um conceito também evoluiu: a logística.
A logística tem uma importância e participação intensa no processo produtivo, seja qual for
esse processo. É uma área que vem se desenvolvendo rapidamente, tanto pela demanda por
maior produção, como pelo desenvolvimento e aplicação da tecnologia da informação na
logística, comentam CAVALCANTI et al (2019). Apesar dos diversos os conceitos existentes
em relação à logística, aqui serão analisados alguns mais comuns segundo autores que
atribuem diferentes significados para a palavra logística e suas aplicações diversas.
Ballou (1993) cita que a logística trata de todas as atividades de movimentação e
armazenagem que facilitam o fluxo de produtos/serviços, desde o ponto de aquisição da
matéria-prima até o ponto de consumo final, assim como dos fluxos de informação que
colocam os produtos em movimento com o propósito de providenciar níveis adequados aos
clientes a um custo razoável.
Por outro lado, Daskin (1995) comenta que logística pode ser definida como sendo o
planejamento e operação de sistemas físicos, informacionais e gerenciais necessários para que
insumos e produtos vençam condicionantes espaciais e temporais de forma econômica.
Já para Christopher (1997), logística está relacionada ao processo de gerenciar a compra, o
monitoramento e a armazenagem de materiais, peças e produtos acabados por meio da
organização, de forma a maximizar a lucratividade presente e futura com a utilização de um
atendimento de baixo custo.
É evidente a preocupação com os custos da operação nas visões dos três autores citados, o que
é um fator importante na produção - baixo custo - e nos resultados - maximizar lucro - uma
vez que custos logísticos tem uma participação significativa no custo total da produção. Outro
aspecto importante, segundo um dos autores citados, é o fluxo de informações necessárias no
processo, úteis para o controle e apurações devidas dos resultados.
Analisando todas as definições, Cristopher (1997) menciona a logística como o processo de
gerenciar as operações de modo a aumentar o lucro presente e futuro com baixo custo de
atendimento; Daskin (1995) a vê como o planejamento e operação de sistemas, voltado à
economia, enquanto Ballou (2001) destaca também os níveis de qualidade exigidos pelos
clientes, visualizando a logística de uma forma mais ampla, uma visão empresarial,
alcançando um custo razoável no processo. Desta forma, todas as definições se referem à
logística como um planejamento voltado a alcançar um meio de minimizar custos, reduzir
processos operacionais, satisfazer clientes e aumentar o lucro dos processos e das operações
(CAVALCANTI et al, 2019).
8. Logística reversa
Com aplicação cada vez mais intensa da tecnologia na logística e o atendimento de outras
necessidades de natureza ambiental, surge a logística reversa. Segundo o Ministério do Meio
Ambiente, a logística reversa tem como objetivo o retorno dos bens utilizados no consumo do
adquirente no ciclo de negócios, tanto no pós-venda, quanto no pós-consumo.
É uma área ligada à logística empresarial que tem como foco agregar valores econômico,
ecológico, legal, logístico, ou mesmo no que diz respeito à imagem corporativa, trazendo um
olhar positivo para a instituição e permitindo economia nos processos produtivos das
empresas, uma vez que estes resíduos entram novamente na cadeia produtiva, diminuindo o
consumo de matérias-primas.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS, de 2010, caracteriza a logística reversa
como uma cadeia de ações que visa coletar e direcionar de modo adequado os resíduos
sólidos das empresas para reaproveitamento no ciclo produtivo das mesmas, ou em caso de
não ser material reaproveitável, a destinação ambiental correta. A PNRS contribuiu para que
as empresas pesquisassem cada vez mais alternativas para tornarem seu processo de produção
sustentável, envolvendo não apenas a parte produtiva, mas toda a sua cadeia de stakeholders,
ou seja, uma política que interfere no modus operandi das empresas: geração de resíduos de
todos os processos produtivos e sua devida destinação.
Leite (2009) entende que a logística reversa é a área da logística empresarial que planeja,
opera e controla o fluxo, e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de
pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, através dos canais de
distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal,
logístico, de imagem corporativa, entre outros. A logística reversa envolve um processo de
planejamento, implementação e controle de eficiência das matérias-primas utilizadas na
produção que acontece desde o consumo até o ponto de origem e descarte de forma que, ao
fim do ciclo de consumo pelo cliente, seja alcançada a recuperação de valor e se utilize um
descarte correto, com menor impacto ambiental possível. Porém Leite (2002), inicialmente,
definia logística reversa como um processo de planejamento, implementação e controle de
eficiência das matérias-primas utilizadas na produção de embalagens e produtos que acontece
desde o consumo até o ponto de origem e descarte de forma que, ao fim do ciclo de consumo
pelo cliente, fosse alcançada a recuperação de valor e se utilizasse um descarte correto, sem
fazer nenhuma relação à logística empresarial.
Segundo Fleischmann (2001), logística reversa é o processo de organização, efetivação e
controle eficiente e eficaz do fluxo de entradas e guarda de materiais, inclusive os menos
importantes, processo distinto no sentido comum da cadeia de abastecimento, com a
finalidade de reaver valor ou descartar materiais de forma correta.
Rogers e Tibben-lembke (1999) dizem que a logística reversa é o processo de organização,
execução e gestão de produtos acabados além das respectivas tratativas de movimentações
desde o ponto de consumo até o ponto de origem, com a finalidade de agregar valor ou
adequar a sua correta destinação.
Stock (1998) explica que a logística reversa trabalha a reciclagem via o retorno de materiais
anteriormente consumidos, troca de produtos, reutilização de produtos, distribuição ordenada
de resíduos e remanufatura de bens retornados.
Assim pode-se notar o grande avanço e aprimoramento da logística reversa com o passar dos
anos, fruto de pesquisas e desenvolvimento contínuo.
Entre as principais razões que levam as empresas aderirem ao processo de logística reversa
podem ser citadas (PEÑA et al, 2017):
 Legislação ambiental;
 Benefícios econômicos gerados pela reutilização;
 Conscientização ambiental partindo dos consumidores;
 Razões competitivas no mercado;
 Proteção da margem de lucro;
 Recaptura de valores e ativos.
No Brasil, o resíduo com tratamento mais popular são as latas de alumínio, que tem como
principal alvo as empresas alimentícias, e atingiu um índice de reciclagem de 98,4% segundo
a ABRALATAS - Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio. As latas de
alumínio também são parte integrante da renda das famílias mais próximas da linha da
pobreza (ABRALATAS, 2015). Modelos de reciclagem de outros tipos de materiais, como
exemplo, a construção civil, mesmo tratando-se de uma parcela considerável do PIB brasileiro
que é de aproximadamente 15% de seu total, somados aos componentes eletrônicos,
engatinham em projetos de baixa escala e de pouca representatividade comercial no Brasil.
A construção civil afeta o meio ambiente de diversas formas: extração de várias matérias-
primas utilizadas em outros produtos (revestimentos cerâmicos, louças sanitárias, tubos e
conexões), utilização de areia e pedra britada, alteração do entorno da construção, geração de
resíduos e impactos na locomoção de pessoas e mercadorias.
De forma geral, a construção civil é considerada, por muitos, uma das maiores geradoras de
resíduos sólidos, e também sofre com problemas logísticos (transporte, armazenagem, etc.) e
há um grande consumo de materiais derivados de produtos extraídos do meio ambiente com
potencial para reciclagem, por exemplo, cerâmica, argamassa, areia, fibrocimento, concreto,
pedra, madeira e ferro, porém, muitas vezes, isso não acontece.
Segundo Pinto (1999), resíduos de construção e demolição (RCD) como matéria sólida são
um componente que interfere no meio ambiente. Por isso, precisam ser classificados quanto
ao seu destino para o devido tratamento. A resolução n°. 307 do CONAMA - CONSELHO
NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, de 05/07/2002, classifica os resíduos sólidos em quatro
classes, com alguns exemplos:
 Classe A - os resíduos que podem ser reutilizados: agregados, componentes cerâmicos;
 Classe B - os resíduos que podem ser reciclados: plásticos, papelão, metais, vidros;
 Classe C - os resíduos não recuperáveis: produtos oriundos do gesso;
 Classe D - os resíduos perigosos: contaminados, amianto e produtos nocivos à saúde.
Segundo Brasileiro e Matos (2015), os RCD’s podem corresponder a materiais de pintura ou
de acabamento em superfícies que podem contaminar o solo, e desse modo, devido ao grande
impacto gerado pelas empresas de construção civil, as políticas de sustentabilidade são de
extrema importância.
9. Uma nova economia
Com base nos fatos comentados, é evidente a necessidade de uma nova economia que
considerasse as situações presentes na economia linear. O sistema linear não permite o tempo
necessário de regeneração dos recursos naturais, além dos impactos relativos ao aquecimento
global pela emissão de gases do efeito estufa (GEE). A história mostra que no passado os
impactos ao meio ambiente eram causados por fenômenos naturais, mas hoje, as atividades
humanas são responsáveis pelos impactos, com mais intensidade nos últimos 50 anos.
A 21ª. Conferência do Clima (COP 21, do inglês Conference of the Parties), realizada em
2015, na cidade de Paris, definiu um acordo global com 195 países para redução das emissões
de gases do efeito estufa, com os seguintes objetivos, para limitar o aumento da temperatura:
 Aumento da eficiência energética dos processos;
 Maior uso de energias renováveis;
 Redução do desmatamento.
Assim, algumas alternativas podem ser elencadas, sobre três óticas (SENAI, 2020).
 Compromissos nacionais: energia sustentável, eficiência energética, reduzir desmatamento;
 Nova economia: recuperação e reuso de itens, aumento da vida útil, compartilhamento de
serviços, novo design;
 Como outras medidas: aumento da escala dos renováveis e da eficiência energética,
reflorestamento, agricultura inteligente.
É fato que os recursos necessários na produção não são infinitos e são grandes os riscos de
colapso na atual economia linear, pois o aumento da produção gera mais extração no meio
ambiente, gera mais lixo da produção e sem recursos naturais não há produção.
Esse novo modelo de economia é chamado economia circular. Nela, os fluxos de materiais
são contínuos e os resíduos são transformados em matéria-prima; o sistema é regenerativo, ou
seja, nada se perde e tudo se transforma, como na natureza: ou seja, o lixo é abolido.
Compartilhar, consertar e reutilizar são conceitos importantes na economia circular, ou seja, o
que se extrai do meio ambiente volta naturalmente ao final do ciclo, sendo regenerado e
reutilizado.
Segundo Luz (2017), com base na instituição holandesa Circle Economy, apenas 9% do
material utilizado na produção industrial retorna ao processo produtivo ou ao meio ambiente
de forma devida. O restante vai para aterros sanitários, na melhor das hipóteses, porém, na
maioria das vezes o material vai para a natureza sem qualquer tratamento, poluindo cidades,
rios e mares, causando danos enormes. A Figura 5 ilustra duas visões do modelo de economia
circular.
Figura 5- Economia circular.

Fonte: SENAI (2020); adaptado de The circularity gap report (2018).


Os modelos são muito similares, apenas o segundo agrega aspectos como desacelerar a
extração, reduzir perdas, abolir o lixo, otimizar uso e recomeçar o ciclo.
Assim, de acordo com Passenier (2015), a economia circular defende que:
 Os resíduos devem ser tratados como um recurso valioso e não outros sem qualquer valor;
 A coleta, a triagem e a reciclagem de produtos e materiais descartados devem ser atividades
rotineiras, gerando uma mudança de atitude;
 Os produtos e materiais devem ser concebidos visando uma possível reutilização e não
apenas o descarte;
 A transformação dos produtos em novas matérias-primas ou em outros produtos de melhor
qualidade seja uma atividade comumente empregada.
9.1. A mudança para a economia circular
Dentro desse novo conceito de produção onde o objetivo é não ter lixo, alguns caminhos são
necessários, como desacelerar a extração, redução de perdas no processo produtivo,
otimização do uso de materiais e circular mais e melhor.
O objetivo do crescimento econômico é atender necessidades da sociedade. No modelo linear,
esse crescimento demanda mais material, mais recursos naturais, gerando mais resíduos.
Na economia circular, o crescimento econômico é desconectado da exploração de recursos
naturais, pensando em novos ciclos de materiais e novos modelos de negócio.
Freitas et al. (2017) citam, com base em levantamento da Ellen MacArthur Foundation, os
três princípios-base da economia circular:
1. Preservação e aumento do capital natural, por meio do controle de estoques finitos e do
equilíbrio dos fluxos de recursos renováveis. Entende-se por capital natural o valor
inerente aos bens retirados da natureza para utilização no processo produtivo, ou seja, o
valor do que é retirado da natureza. Para a manutenção deste capital é necessário reduzir a
extração de recursos, promover o uso de recursos renováveis, além de conseguir a
reinserção de insumos de volta na natureza;
2. Otimizar o rendimento de recursos, fazendo circular produtos, componentes e materiais no
nível mais alto nível de utilidade o tempo todo, seja no ciclo técnico ou no biológico. Isso
significa a recuperação de produtos e, caso sejam descartados, que os mesmos sejam
reinseridos na cadeia produtiva de forma a contribuir para a economia. O uso de materiais
biológicos é estendido ao máximo, bem como acontece a economia compartilhada, que
amplia a utilização dos produtos;
3. Aumentar a eficácia do sistema, revelando as externalidades negativas geradas e
excluindo-as dos projetos. Há que se conhecer os impactos socioambientais existentes ao
longo do ciclo de vida dos materiais e produtos, para que sejam reduzidos os danos ao
meio ambiente - uso da terra, água, poluição sonora, liberação de substâncias tóxicas e
mudança climática.
Convém destacar alguns aspectos que não se referem à energia circular, tais como:
 Refere-se apenas às práticas de reciclagem, atributos sustentáveis e valorização de resíduos.
A economia circular promove o redesenho dos produtos com na modularidade e sua
durabilidade.
 É a solução dos problemas da economia. A economia circular muda o sistema e evita o
problema.
 Está relacionada à produção mais limpa e eficiência de processo. Ocorre que a economia
circular vai além, gerando efetividade com novos modelos de negócio.
A inovação é fator decisivo na economia circular, seja na escolha dos materiais, no design dos
produtos, serviços e plataformas que modificam a maneira de comunicação, consumo com
geração de novos modelos de crescimento.
A economia circular é impulsionada por cinco novos modelos de negócios:
1. Renováveis: materiais e combustíveis renováveis; plástico da cana de açúcar é renovável e
reciclável; carro movido a etanol, embalagens de fécula de mandioca são comestíveis e
compostáveis;
2. Resíduos como recursos: os consumidores devem devolver os produtos usados,
conscientização; transformar o lixo sem valor em algo que traz valor no processo; casca de
arroz gerada no cultivo como geração de sílica verde usada na performance dos pneus sem
extração na natureza; trigo do resíduo do pão para fabricação de cerveja;
3. Compartilhamento: prolongar a vida útil de produtos por reparos, modernização, revenda e
compartilhamento; implicações no design para que permita consertos; copos e garrafas
reutilizáveis nos restaurantes;
4. Durabilidade e modularidade: aumento da taxa de utilização de produtos por vários
usuários com atendimento de mais pessoas sem aumento da produção; compartilhamento;
bicicletas, patinetes, salas para reuniões (coworking) e carros por aplicativo;
5. Produto como serviço: experiência de uso sem a aquisição, sem propriedade do usuário;
conserto/manutenção; limpeza por m2, serviços de iluminação e não fornecimento de
lâmpadas; desmaterialização de produtos; ingredientes para alimentação entregues em casa
de acordo com periodicidade definida; fidelização de clientes; consumidor vs. usuário.
A economia circular surge da consciência de que a velocidade da produção e exploração dos
recursos naturais é superior à capacidade da Terra se regenerar, sendo necessário conter o
aumento de temperatura, seja por tecnologias eficientes ou uso de energia renovável, mas é
necessária uma mudança forte do processo de desenvolvimento com novos modelos de
negócio. Uma mudança rápida e maciça, bem como a consciência do modelo de crescimento
regenerativo em equilíbrio com o meio ambiente faz sentido econômico, garantindo a
sobrevivência dos negócios.
A 5ª. Revolução Industrial, segundo alguns autores, envolveria os conceitos da 4ª. Revolução
Industrial somados com os conceitos da economia circular, conforme Figura 6. Observa-se na
figura a introdução dos conceitos da economia circular mudando o paradoxo atual da
economia linear.
Figura 6- 5ª. Revolução Industrial.

Fonte: Santos (2020).

10. Benefícios da economia circular


A produção de bens e serviços gera uma quantidade significativa de resíduos sólidos e a
gestão de tais resíduos é um grande desafio para os governos, principalmente nos centros
urbanos. De acordo com Abramovay et al (2013), as cidades em todo o mundo geravam em
torno de 1,3 bilhão de toneladas de resíduos sólidos por ano, sendo estimado que tal
quantidade duplicará nos próximos 20 anos em países de baixa renda.
Em termos globais, o custo da gestão de resíduos sólidos supera a cifra de US$ 200 bilhões,
ou seja, um ônus financeiro significativo para governos municipais que nem sempre possuem
recursos suficientes para uma coleta e destinação adequada de tais resíduos (HOORNWEG;
BHADA-TATA, 2012).
A economia circular tem o potencial de reverter esse quadro e transformar tal passivo
ambiental em ativos reais. Por meio da reciclagem e da reutilização de materiais descartados,
por exemplo, poderiam ser economizados mais de US$ 1 trilhão por ano (ISWA; UNEP,
2015). É necessário desenvolver modelos que possibilitem dar escala para as atividades de
reciclagem e reutilização de resíduos dos processos produtivos. Ainda que os diversos tipos
de resíduos sólidos possam, em sua maioria, ser coletados e reciclados, o percentual de
reciclagem em países em desenvolvimento é muito, mas muito baixo. Os resíduos restantes
acabam sendo aterrados, incinerados ou, simplesmente, não coletados, nesse caso são
abandonados no meio ambiente, o que contribui para impactos em saúde pública, alagamentos,
poluição do ar, de lençóis freáticos, da água dos rios e dos oceanos.
Outro impacto negativo da não reciclagem é relativo às emissões significativas e
desnecessárias de gases de efeito estufa (GEE). Para muitos tipos de materiais, as emissões
relacionadas à reciclagem são significativamente menores do que para a produção e uso de
matérias-primas virgens (ISWA; UNEP, 2015).
A não reciclagem também acarreta a perda de oportunidades financeiras de mais de US$ 30
bilhões por ano, de acordo com UN-HABITAT (2010). Quando se considera que a separação
e a reciclagem de resíduos sólidos nos países em desenvolvimento tendem a envolver e
beneficiar grupos de baixa renda, com a geração de renda e aumento da autoestima desses
grupos, esse desperdício de oportunidades se revela particularmente condenável.
De acordo com dados da ABRELPE (2013), o Brasil produziu aproximadamente 67 milhões
de toneladas de resíduos sólidos por ano, mas apenas 1% foi reciclado.
Estima-se que o valor dos materiais recicláveis desperdiçados no Brasil soma mais US$ 3
bilhões por ano (IPEA, 2010). A gestão de resíduos é um dos maiores desafios enfrentados
por governos municipais, segundo ISWA (2015); ABRELPE (2013).
Do total de resíduos sólidos produzidos no Brasil, menos de 3% são separados em nível
domiciliar (IPEA, 2013) e a coleta seletiva de resíduos só está disponível em 17% dos
municípios (CEMPRE, 2015), muitos das quais sem condições de tratamento de resíduos. A
Lei n°. 12305, de 2 de agosto de 2010, criou a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)
que visa buscar soluções para o desafio da geração e eliminação de resíduos sólidos no Brasil.
A legislação cria o conceito de responsabilidades compartilhadas para a coleta e destinação
adequada de resíduos sólidos gerados por uma gama de setores industriais e comerciais. A lei
define uma série de obrigações a fabricantes, importadores, revendedores e distribuidores de
sete setores industriais: pneus, óleos lubrificantes, baterias, agrotóxicos, lâmpadas
fluorescentes e produtos elétricos e eletrônicos, assim como embalagens em geral (incluindo
diferentes setores), obrigações para as quais a economia circular pode contribuir para solução.
Mas um grande benefício do modelo de economia circular é que o mesmo dá impulso aos
negócios, gera emprego e protege o meio ambiente, ou seja, contribui para a sustentabilidade.
11. Considerações finais
Economia circular não surgiu para solucionar problemas da economia linear, ela surgiu para
mudar o sistema atual e evitar os sérios problemas atuais.
Joustra e Eijk (2017) citam que a economia circular muda conceitos: produto se transforma
em serviço, consumidor em usuário e economia sem exploração de recursos naturais. Isso
significa uma mudança de mentalidade de todos - consumidores, fabricantes, cadeia produtiva
e governo nos seus diversos níveis.
Assim, segundo os mesmos autores, a economia circular faz total sentido, pois com base nos
metabolismos da natureza, estimulará desenvolvimento e crescimento, em vez de destruição e
desvalorização. Uma mudança nas “regras do jogo”, quebrando paradigmas dominantes desde
a 1ª. Revolução Industrial, ou seja, trata-se de outra forma de projetar, produzir e consumir.
O design dos produtos tem uma significativa importância de forma a repensar os próprios
produtos e suas embalagens com utilização de materiais renováveis ou recicláveis.
A sustentabilidade está diretamente relacionada com a economia circular, uma vez que
considera os aspectos sociais, econômicos e ambientais.
O conceito e as práticas de economia circular ainda são relativamente novos no Brasil, mas
algumas empresas procuram implantá-los em suas políticas de produção e relacionamento
com clientes e fornecedores.
Pena et al (2017) citam a Natura que desde o início de sua trajetória almeja tornar-se uma das
maiores empresas sustentáveis do planeta, realizando investimentos em pesquisas e
desenvolvimento de novas tecnologias que possam tornar este sonho cada vez mais real. A
empresa tem um processo de logística reversa das embalagens de seus produtos pós-consumo,
apesar de que ainda assim não consegue reciclar 100% em seu processo. Entretanto, existem
diversas vantagens da logística reversa das embalagens, dentre elas, a economia de recursos
naturais, diminuição de resíduos e impacto ambiental, economia na produção de novas
embalagens, além de ganhar uma imagem positiva perante o mercado.
Pereira et al (2019) destacam as construtoras NEWINC, PRECON e MRV que incorporaram
conceitos inovadores em seus processos construtivos gerando benefícios e resultados
positivos em seus empreendimentos: utilização de resíduos de construção civil como matéria-
prima, como pó de pedra, areia e pedriscos que formam um subproduto utilizado como
argamassa em substituição da areia para contra piso, orientação aos proprietários sobre
políticas sustentáveis dentro do ambiente doméstico, diminuição de resíduos nos canteiros de
obras, troca de acabamento cerâmico (gera muito resíduo pelos cortes e quebras) por
laminados de madeira, doação de produtos recicláveis (plásticos, vidros, latas e sacos de
cimento) para cooperativas de reciclagem, melhoria na produção de lajes evitando desperdício
de concreto e aumento da produtividade, nova gestão de resíduos com reaproveitamento de
materiais e coleta e tratamento de águas da chuva para reuso.
Outra empresa muito comprometida com a economia circular é a FLEX BRASIL com
soluções completas de manufatura e pós-manufatura (SANTOS, 2020).
A DELL, fabricante de computadores, anuncia modelos ecologicamente inteligentes,
considerando a preservando dos mares, reconhecida com o prêmio O Melhor da Inovação da
CES® 2018 - Consumer Electronics Show, cujas bandejas de embalagem pretas estão um
passo à frente da reciclagem, pois 25% dos materiais consistem em plástico coletado do
oceano em áreas litorâneas, enquanto os 75% restantes são compostos por outros plásticos
reciclados, materiais mais seguros sem uso de cádmio, chumbo, mercúrio e outros com risco à
saúde humana, além de 90% das peças dos equipamentos podem ser facilmente recicladas ou
reutilizadas, e as bandejas das embalagens de bambu são 100% recicláveis.
A inovação é fator relevante para a implantação de processos produtivos com base na
economia circular, seja no desenvolvimento de novos produtos, tanto o projeto e os materiais,
no design dos mesmos, nas novas relações dos elementos da cadeia de suprimentos e nos
modelos de negócio.
Observa-se que a logística reversa já incorpora conceitos significativos da economia circular,
uma vez que se preocupa com o não descarte dos resíduos da produção ou a minimização dos
mesmos e em condições corretas.
Um fato a ser considerado no desenvolvimento da economia circular no Brasil é a educação,
ou seja, a atitude das pessoas em geral com o consumo e o processo de descarte dos produtos
consumidos, bem como a educação propriamente dita das crianças, futuros consumidores,
funcionários de empresas ou mesmo empreendedores que precisam ter uma nova visão do
processo produtivo, do consumo consciente, da forma correta de descarte e do planeta em
relação à sua preservação.
Outro aspecto relevante que deve ser considerado é a falta de infraestrutura dos governos
municipais para o tratamento, tanto do lixo orgânico e hospitalar, bem como dos resíduos
recicláveis.
Finalizando, entre os 17 ODS, a economia circular contribui mais diretamente para sete deles:
 6° objetivo: Água potável e saneamento - pelo menor descarte de resíduos no ambiente sem
comprometimento de rios e lençol freático;
 8° objetivo: Trabalho decente e crescimento econômico - com geração de emprego e renda
para diversas comunidades antes na informalidade;
 9° objetivo: Indústria, inovação e infraestrutura - pelo desenvolvimento de novos produtos,
materiais e design de produtos para consumo consciente com baixo impacto ambiental;
 11° objetivo: Cidade e comunidades sustentáveis - pela redução da poluição dos processos
de produção sem geração de resíduos e com geração de emprego e renda;
 12° objetivo: Consumo e produção responsáveis - conceito relevante da economia circular,
com consumo responsável e desenvolvimento de novos negócios sustentáveis sem impactos
ambientais;
 13° objetivo: Ação contra a mudança global do clima - pela utilização de recursos e
matérias-primas renováveis e não de origem fóssil;
 15° objetivo: Vida terrestre - pela redução da poluição, geração de empregos, consumo
consciente e responsável, preservação da natureza.
Assim, como já citado, a economia circular dá impulso aos negócios - atuais e novos, gera
emprego e protege o meio ambiente, contribuindo para a sustentabilidade.
Seria, então, a economia circular o “novo normal” da produção?
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