1885 7821 1 PB
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ISSN 2177-3688
Resumo: Na Museologia contemporânea compreende-se a curadoria não como uma atividade em si,
mas como uma cadeia operatória que age sobre o objeto musealizado. Dentre as atividades
empreendidas nesta cadeia operatória nos interessa refletir sobre a que deliberadamente constrói e
veicula discursos: a curadoria. A Museologia brasileira, tem se organizado no último século como
espaço de construção de narrativas ligadas a branquitude e a consolidação de discursos
hegemônicos, no entanto temos visto a efervescência de novos museus e processos museológicos
não apenas questionando os discursos estabelecidos, mas principalmente desenvolvendo atividades
a partir de si e seus grupos, e colocando em disputa novos fazeres museológicos. Neste sentido, nos
interessa refletir como a mudança de perspectiva, a partir da diversidade, deflagrando novos
protagonismos nas atividades dos museus, pode se alicerçar na emergência de novo debate
epistemológico no campo. Para tanto, este artigo analisa dois processos museológicos a partir da
perspectiva da Diversidade e da aplicabilidade de métodos colaborativos, sendo eles a curadoria
expográfica e a documentação museológica. Como processos de construção de discursos
museológicos consideramos que ambos têm potencial de transformação social para inclusão de
novos protagonistas no debate dos museus atuais, independente de tipologias.
1 INTRODUÇÃO
processo a reflexão acerca das metodologias colaborativas como ponto de partida para
novos fazeres museais.
Cabe ressaltar que um movimento como esse que vemos nos anos 1970 surge
também no contexto da década anterior, com a emergência dos debates dos movimentos
negro, feminista e hippie, provocando novas perspectivas e reflexões críticas sobre os
processos colonialistas e novos caminhos. No âmbito da Museologia após a década de 70
destacamos o ano de 1984 como um importante marco com o encontro - e declaração- de
Quebec, que de forma objetiva vai subsidiar o surgimento de uma Nova Museologia, porém
XXIII Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação – ENANCIB
Aracaju-SE – 06 a 10 de novembro de 2023
não sem disputa: “A primeira década após a Declaração de Quebec foi marcada por uma
disputa acirrada entre os apoiadores da nova museologia e os defensores da museologia
tradicional, clássica ou ortodoxa, assim considerada a partir do ponto de vista dos seus
opositores” (CHAGAS; GOUVEIA, 2014, p. 11).
A década de 1990 é marcada pela Declaração de Caracas, em 1992, documento
oriundo de evento internacional comumente referenciado como importante releitura e
contribuição ao conceito de museu integral, no entanto:
Particularmente, consideramos que esse encontro não teve importância
conceitual e prática para o desenvolvimento da nova museologia; não
contribuiu para a mudança do panorama museal; o seu viés ideológico
neoliberal, ao contrário, investia na gestão profissional, na legislação e na
formação de lideranças voltadas para os museus, sem uma efetiva atenção
para os processos de desenvolvimento social, sem considerar o
protagonismo das comunidades e dos movimentos sociais. Muito mais
importante, em nosso ponto de vista, foi a Eco-92 e o I Encontro
Internacional de Ecomuseus, realizado em maio de 1992, no Rio de Janeiro,
que, diga-se de passagem, não teve a preocupação formal de produzir uma
carta ou uma declaração, ainda que tenha produzido um livro que registra a
memória do Encontro (CHAGAS; GOUVEIA, 2014, p. 13).
3 CURADORIA(S)
importantes: o primeiro relativo a grupos sociais que organizam suas próprias memórias em
museus de território (ou outras tipologias) e que tem elaborado discursos expográficos
sobre si, como o Museu da Maré (RJ), Museu dos Meninos (RJ), Acervo da Laje (BA), entre
outros. O segundo movimento se refere a entrada de artistas periféricos em museus
tradicionais e galerias de arte. A disputa sobre as curadorias se organiza como um processo
importante, uma vez que o curador detém o poder de construir a narrativa, é
necessariamente quem conta uma história.
grupos/artistas - e não apenas sobre eles - permite-se um protagonismo dos sujeitos sobre
suas próprias narrativas, de modo que o museu nesse caso é suporte.
O papel do curador, atualmente é bastante problematizado no campo das Artes, de
modo que nossa intenção nesta pesquisa se organiza na investigação de museus e artistas
negros, a fim de compreender como o conceito hegemônico que define a figura do curador
está - ou não- sendo redefinido nestes novos processos. Desta forma cabe ressaltar que:
Para estes pequeninos grupos humanos, nossas tribos, que ainda guardam
esta herança de antiguidade, esta maneira de estar no mundo, é muito
importante que essa humanidade que está cada vez mais ocidental,
civilizada e tecnológica, lembre, ela também, dessa memória comum que os
humanos têm da criação do mundo, e que consigam dar uma medida para
sua história, para sua história que está guardada, registrada nos livros, nos
museus, nas datas, porque, se essa sociedade se reportar a uma memória,
nós podemos ter alguma chance. Senão, nós vamos assistir à contagem
regressiva dessa memória no planeta, até que só reste a história. E, entre a
história e a memória, eu quero ficar com a memória (KRENAK, 1992).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CASTILLO, Sônia Salcedo del. Cenário da arquitetura da arte. São Paulo: Martins, 2008
CASTILLO, Sônia Salcedo del. Arte de Expor: curadoria como expoesis. Rio de Janeiro: Nau,
2015.
KRENAK, Ailton. Antes, o mundo não existia: Tempo e história. São Paulo: Companhia das
Letras, 1992.