Pinto e Castrogiovanni - O Subespaço Geográfico Escola
Pinto e Castrogiovanni - O Subespaço Geográfico Escola
Pinto e Castrogiovanni - O Subespaço Geográfico Escola
Kinsey Pinto1
Antonio Carlos Castrogiovanni 2
1
Aluno do Programa de Pós-graduação em Geografia, nível de mestrado acadêmico – Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Endereço eletrônico: [email protected].
2
Doutor em Comunicação Social na área de Praticas Sociais em Geografia, Comunicação e Turismo.
Professor da UFRGS e da PUCRS. Endereço eletrônico: [email protected]
3
Referência ao período que corresponde às transformações no mundo desde os anos 70 do século
passado. Momento onde o advento de novas tecnologias impulsionadas pela ciência, demandadas nos
grandes centros de investigação e/ou corporações, impõe novas formas de produzir e consumir.
1
A escola é tensa e dinâmica, como é o próprio objeto de estudo da Geografia – o
espaço geográfico (CASTROGIOVANNI, 2007, p.13). Assim, a partir de uma análise
metalingüística, podemos através da Geografia, procurar entender a Escola enquanto um
território, ou mais especificamente. Como um (sub)espaço geográfico4, e, assim,
identificarmos categorias analíticas internas do Espaço Geográfico que estão inseridas
nesse subespaço, a fim de refletir sobre as relações existentes entre sociedade e escola.
Temos de início uma inquietude: como os sujeitos que compõe o Espaço
Geográfico lêem esse território escolar? A partir dessa leitura e da interação, que os
sujeitos estabelecem nesse espaço, pode-se estudar as categorias do espaço apontando
como a identidade escolar se faz, ou não, presente?
Um Conjunto Indissociável...
[...] é a natureza, mas a natureza em seu vaivém dialético: ora a primeira que
se transforma em segunda, ora mais adiante a segunda que reverte em
primeira, para mais além voltar a ser segunda. [...]História na sua expressão
concreta de dada sociedade [...] (MOREIRA, 1985, p.86).
4
O termo (sub)espaço aqui não está condicionado à uma submissão do espaço, pelo contrário, difere-se à
um determinado recorte, ou ainda, à uma limitação escalar.
2
esforço físico e mental humano com finalidade de produzir algo útil a si mesmo ou a
alguém.
3
No entanto, surgiram novos conceitos acerca desse tema. Por exemplo, a
configuração da hierarquia das cidades provavelmente é proveniente do estudo do
conjunto de atividades de bens e serviços disponíveis para aquelas populações que
vivem nas proximidades (áreas rurais, cidades menores), aqui existe um espaço
hierárquico e não homogêneo, como no caso do cerrado.
Na teoria exposta por Santos (1996) que é uma teoria da ação. O espaço é o
resultado da ação e objeto articulados, potência e ato dialeticamente integrados num
sistema, sendo:
4
1) a seguir, uma possibilidade de compreensão da disposição das categorias, facilitando
a leitura do objeto de estudo geográfico.
O espaço geográfico deve ser considerado como algo que participa igualmente
da condição do social e do físico, um misto, um híbrido amalgamado. Cabe a Geografia
formular e estabelecer os conceitos de Espaço Geográfico e espaço, não podendo ser
encontradas em outras disciplinas.
5
Fonte:do autor.
5
também as unem [...] o espaço geográfico pode ser lido através do conceito
de paisagem e ou território, e ou lugar, e ou ambiente; sem desconhecermos
que cada uma dessas dimensões está contida em todas as demais
(SUERTEGARAY, 2000, p.31).
A partir dos infinitos recortes que podemos atribuir ao espaço, ainda implica em
dúvidas quanto à escolha sobre qual conceito operacional que daremos enfoque diante à
um determinado estudo, pois bem, essa inquietação pode ser suprimida quando não
negamos a complementação dos conceitos e sua articulação, cada conceito operacional
ou categoria do espaço apresentam de fato diferentes olhares e expressam diferentes
leituras e, é, no caminho do método, da pesquisa que elegeremos por qual ótica do
espaço seguiremos nosso estudo.
O Território Escolar
O território, em suas mais variadas leituras está relacionado ao poder, mas não
apenas ao poder político. Ele diz respeito tanto ao poder no sentido mais concreto, de
dominação, quanto ao poder no sentido mais simbólico, de apropriação. É também, um
processo muito simbólico, carregado das marcas do vivido, do valor de uso, e ao mesmo
tempo concreto, funcional e vinculado ao valor de troca.
6
sobrevivência, o ser humano, precisou admitir e relacionar as leis da natureza, ou seja,
precisou a aprender a viver vivendo, dando início ao processo de auto-educação.
7
admitem valores desiguais de acordo com os segmentos sociais (clero, nobreza,
burguesia e “demais” – trabalho físico, que exige pouca instrução).
8
Assim, a escola passa a ser um local amplo, culturalmente múltiplo que abrange
elementos organizacionais de questões sociais multidimensionais, o que nos permite
relacionar diretamente à complexidade do espaço geográfico, bem como, ao subespaço
geográfico escola.
O (Sub)Espaço Escola
9
A partir da obra do Foucault (1993), compreendem-se melhor os corpos
submissos – corpos dóceis – e exercitados produzidos pela disciplina. O período
histórico referente à disciplina é um período em que surge uma arte do corpo humano.
Fundamentado não apenas no aperfeiçoamento das habilidades, mas principalmente na
formação de uma relação que torne o corpo tão submisso quanto útil – política das
coerções: maquinaria de poder que examina, desarticula e recompõe o corpo humano –.
A disciplina prima à distribuição dos sujeitos da complexidade e, portanto,
riqueza do espaço, através dos colégios e quartéis, do quadriculamento – cada individuo
no seu lugar e em cada lugar um individuo –, das localizações funcionais, necessidade
de distribuir e dividir o espaço com rigor a partir de suas funções, e da divisão dos
corpos por uma localização que os mantém numa determinada rede de relações, a fim de
criar um quadro vivo condicionado ao controle. Esse controle se faz através de horários,
da elaboração temporal de determinada atividade, da correlação do corpo dos gestos, da
articulação corpo-objeto na codificação instrumental do corpo e da utilização exaustiva
do corpo com a finalidade de aprimorar técnicas e ganhar tempo. O poder das
disciplinas apresenta as operações do corpo como um organismo. Assim a partir desses
fatores citados configura-se o exercício, elemento de uma tecnologia política do corpo e
do tempo.
Logo, a disciplina não seria apenas uma arte da distribuição dos corpos, da
extração e acumulação do tempo, mas sim de compor forças objetivando a eficiência do
aparelho/organismo.
Segundo Foucault (1993), o poder disciplinar justifica-se no uso de simples
instrumentos: a vigilância hierárquica, a sansão normalizadora e na combinação dessas
no processo que configurará o exame. A vigilância – escalar – transforma-se num
operador econômico importante, pois além de ser parte do aparelho de produção é
fundamental no poder disciplinar. A sanção normalizadora põe em funcionamento a
relação dos atos, os desempenhos, os comportamentos singulares ao conjunto –
comparação/diferenciação – e o principio de uma regra a seguir. O exame por sua vez,
é uma combinação das técnicas, é o centro dos processos para constituição do individuo
– eixo político da individualização –.
Na apropriação do espaço pela disciplina escolar, encontramos a representação
panóptica, constituida num aparelho de controle sobre seus próprios mecanismos –
manutenção do poder –, é no panóptico que se encontra um local privilegiado para
viabilizar a analise das transformações se podem obter sobre os homens, porque
10
funciona como um laboratório de poder. Seus mecanismos de observação estão
presentes em todas as frentes, descobrindo e conhecendo a fundo objetos em todas as
superfícies.
Focault (1993) justifica o advento da prisão nas instituições seja ela de ensino ou
não, a partir da disciplina. A gênese e a razão dos processos disciplinar nos remetem a
uma série de questões no campo da educação. Entre essas, estaria o poder da disciplina,
bem como os procedimentos que o regulam, saturados na pós-modernidade ou não?
A instituição escolar parece representar „o porquê‟ da pedagogia como disciplina
humana e também dá base ao papel do educador – educar, disciplinar, instruir e
desenvolver –, sendo o dispositivo que se constrói a fim de suprimir a infância e a
adolescência.
Para Naradowisk (1998), a idéia de que, efetivamente, a criança, no sentido
moderno, obediente, dependente e suscetível de ser amada é uma idéia que está
passando por uma crise de decadência.
Referindo-se que a infância moderna morre sobre a fuga de um pólo da infância
hiper-realizada com tudo, informação e lazer ao alcance, parecem não suscitar carinho e
ternura e, outro ponto de fuga de um pólo da infância (des)realizada – independente,
crianças que vivem nas ruas e trabalham desde cedo –. Entre esses pólos, podemos
encontrar a maioria restante das crianças. Sobre pólos de atração: a infância da
realidade virtual (harmônica e equilibrada) e a infância da realidade real (violenta e
marginalizada). Neste ponto, encontramos outras inquietações: ocorre hoje uma perda
gradual de valores sociais, por parte das crianças, através de uma desvalorização do
espaço escola, ou não? Qual é a posição da família frente à essas realidades?
Essas crianças enquanto alunos colocam em crise a idéia/conceito de sujeito e o
dispositivo escola-família que põe em jogo a incapacidade da instituição escola nesse
cenário de mudanças rápidas, onde somente adolescentes e crianças são capazes de
acompanhar tal velocidade. Assim, é possível pensarmos neste momento que é
necessário voltar a pensar a escola e a infância em termos de desafio a fim de
avançarmos sobre a estagnação que se instalou sobre nós.
Ao repensarmos a escola e a form(ação) dos sujeitos é entendermos que se trata
de um desafio na busca de medidas/passos que devemos tomar rumo não somente a
novos pensamentos e, sim, a novas ações. Quando sabemos da tamanha velocidade das
mudanças e das dificuldades em alcançá-las, o não-inovar, mas o renovar se faz
urgente... Sempre é hora, portanto de iniciarmos!
11
Parece não ser possível esquecermos o papel do professor nesse contexto ao
fazermos esse tipo de leitura. Novas criações e trabalhos de formas diferentes em sala
de aula (Por que não fora da sala?), não são sinônimos de trabalhar mais, pelo contrário,
de termos mais prazer e trabalharmos, assim, menos! Este desafio pode desenvolver a
capacidade reflexiva dos sujeitos professores e alunos. Na escola de hoje pouco temos
visto sobre a operacionalização as categorias da Geografia, através da reflexão, de novas
possibilidades de comunicação, motivações nos processos escolares. Não é por menos
que a Geografia e a escola são “chatas” e/ou os alunos “são fracos”. Conforme Kaercher
(2004, p. 173), certas são utopias necessárias:
Para dar conta desta preocupação parece ser importante compreendermos a categoria
espacial da totalidade – um processo básico externo ao espaço –, reexaminado suas
transformações, processos, atuação com a própria existência do espaço geografíco, bem
como suas formas de aparência. Refere-se a noção de totalidade ao conjunto de todas as
coisas e de todos os homens, em sua realidade, ou seja, em suas relações, e em seu
movimento. Totalidade é o tecido absoluto das partes em relação mútua. Compreende
conjuntamente o Planeta, isto é, natureza e comunidade humana – duas formas
principais da totalidade. Conhecimento da totalidade sugere sua desarmonia, está
sempre em movimento em um ciclíco processo de totalização. Dessa forma, o espaço é
numa especificação do conjunto social, um aspescto particular da sociedade global. O
todo só se faz através do conhecimento das partes (fragmentos), e essas se fazem
simultâneamente somente através do todo – processo de totalização.
12
O movimento da totalidade altera os signos das variáveis que o constitui, pois os
signos não acompanham o movimento, ou seja, a cada transformação social,
obrigatóriamente, renovam-se ideologias e símbolos que assumem novos e mutantes
sentidos nesse processo.
Ao procurarmos compreender o território escolar como um (sub)espaço do Espaço
Geográfico que é constituído por esse conjunto indissociável de sistemas de objetos e
sistemas de ações constantemente tensionados entre si. Lemos um (sub)espaço capaz de
representar as tensões do mundo, e, que, ao mesmo tempo assume uma individualidade
quase que impossível de ser compreendida isoladamente.
As categorias como lugar, não-lugar, “entre-lugar” (CASTROGIOVANNI, 2006),
permitem entender o subespaço geográfico escola – ler as identidades –. Os conceitos
categóricos do espaço geográfico ao serem analisados para que proponham estudos e
conseqüentemente se apontem contribuições para um repensar do espaço escolar a fim
de qualificá-lo. Cada subespaço geográfico escola é específico, porém mundializado nas
suas atitudes e aparências, pois faz parte do todo.
Entendemos que nessa leitura, da escola como um recorte espacial, seja possível
aplicar sobre esse os mais variados conceitos operacionais do Espaço Geográfico, como
a paisagem, a região e o lugar. E, é, no lugar, como um sentimento de pertencimento,
que localizamos a identidade, categoria mais próxima do sujeito no complexo objeto de
estudo da Geografia. Para Massey (2008), a categoria lugar pode ser entendida “como
um tecer de estórias em processo, como um momento dentro das geometrias de poder,
como uma constelação particular, dentro das topografias mais amplas de espaço, e como
em processo, uma tarefa inacabada”. Assim, sendo, reflete nesse (sub)espaço a(s)
identidade(s) da sociedade de hoje, e configuram-se no cotidiano escolar as tensões
deste, que se trata também, de um espaço social.
Na tentativa de construir os conceitos de lugar, não-lugar e “entre-lugar” na
complexidade do (sub)espaço geográfico escola, adiantam-se as inquietações: cumpre a
escola e a seu real papel enquanto instituição de ensino? De quê papel devemos referir
13
na atualidade? Que leituras fazem os sujeitos e atores sociais sobre esse subespaço?
Como utilizar as próprias categorias que a Geografia nos oferece para entendermos o
espaço geográfico na compreensão do (sub)espaço geográfico escola? Parece um
desafio e ao mesmo tempo uma sabedoria que deve advir do conhecimento geográfico!
Referências
CASTROGIOVANNI, Antonio C.. A Complexidade do Espaço Geográfico Escola:
lugar para estudar ou entre - lugar para turistificar?. Cadernos do Aplicação (UFRGS).
2006. v. 19, p. 87-96.
14
_____, Antonio. C.; ROSSATO, S.; LUZ, R. R. S.. Ensino de Geografia: caminhos e
encantos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007.
15