A Justiça 4.0 Como Ferramenta de Eficiência: O Caso Ambiental

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A JUSTIÇA 4.

0 COMO FERRAMENTA DE EFICIÊNCIA:


O CASO AMBIENTAL
Justice 4.0 as an efficiency tool: the environmental case

Admara Falante Schneider


Andréa Cristiane Sales Moreira

Resumo: O presente estudo pretende, a voo de pássaro, apreciar a importância da Justiça


Digital, destacando a Justiça 4.0 para o atingimento dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS). O trabalho tem início numa breve revisão de literatura, considerando-se o
uso de meios tecnológicos na prestação jurisdicional, derivado do isolamento social advindo da
pandemia da Covid-19. Surge então a Justiça 4.0 com juízos 100% digitais e a percepção de a
Justiça ser efetivamente um serviço, no lugar de um prédio físico, o Fórum. Apresentam-se os
ODS por motivo de a Justiça 4.0 ter estabelecido ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro (TJRJ) contribuir para a consecução de metas previstas na Agenda 2030. Finalmente,
aborda-se a Justiça 4.0 no seu prevalente papel de ferramenta de eficiência funcional inspirado
por sucessivas Resoluções do Conselho Nacional de Justiça.

Palavras chave: Justiça 4.0; Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; Direito ambiental;


Agenda 2030 da ONU.

Abstract: The present study intends, in a bird's eye view, to appreciate the importance of
Digital Justice, highlighting Justice 4.0 for achieving the Sustainable Development Goals
(SDG). The work begins with a brief literature review, considering the use of technologies in
the provision of jurisdiction, derived from the social isolation resulting from the pandemic of
Covid-19. Then comes Justice 4.0 with 100% digital judgments and the perception that Justice
is effectively a service, rather than a physical building, the Forum. The SDGs are presented by
reason why Justice 4.0 has established to the Court of Justice of the State of Rio de Janeiro
(TJRJ) to contribute to the achievement of goals set out in the 2030 Agenda. if Justice 4.0 in its
prevalent role as a functional efficiency tool inspired by successive Resolutions of the National
Council of Justice.

Keywords: Justice 4.0; Sustainable Development Goals; Environmental law; UN Agenda


2030.

Submissão: 03/08/2023
Aprovação: 23/08/2023


Juíza de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) - Coordenadora do Justiça 4.0
Ambiental.

Mestre em Sistemas de Gestão Ambiental pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

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INTRODUÇÃO

Mais do que oportuna, a Justiça 4.0 representa iniciativa para aperfeiçoar a prestação
de serviços jurisdicionais no território nacional, além de atender, por via de consequência, a
consecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos na Agenda 2030
da Organização das Nações Unidas.
Na década de 1960, quando o polímata canadense Marshall Mc Luhan cunhou o
conceito da aldeia global e o de que o meio é a mensagem, antecipando a relevância imperativa
dos meios de comunicação social associada ao progresso tecnológico planetário, longe se
dimensionava a extensão daquelas formulações teóricas. Décadas depois, sejam moradores de
comunidades subdesenvolvidas ou governantes poderosos e CEO de conglomerados
transnacionais, ninguém abdica da realidade virtual, que hoje carece de ordenamento a conflitos
éticos devido ao avanço da Inteligência Artificial sobre as atividades humanas.
Desse contexto evolutivo emerge a Justiça com juízos totalmente digitais, concebida
sob o ponto de vista prático de facilitar o acesso às instâncias jurídicas por incalculável número
de pessoas, que enfrentariam enorme dificuldade caso recorressem a procedimentos
rotineiros.
A rigor, a inovação aludida acompanha crescentes demandas funcionais ao universo
digital em busca de soluções, mormente após a pandemia Covid -19, verdadeiro marco gerador
de novas relações trabalhistas e quebra de paradigmas consagrados, alguns, talvez, para sempre:
home office, redução de gastos com pessoal, material e esvaziamento de antigos locais de
trabalho passaram a delinear o molde genérico de providências para debelar a gigantesca crise
sanitária, sendo ainda atual em parte das organizações.
Da racionalidade e abrangência implícitas nos seus pressupostos, a Justiça 100%
digital se estende a incrementar a efetivação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis
(ODS) coligidos pela ONU em 2015 (Programa das Nações Unidas Para Desenvolvimento,
[2023]).
Assim, é propósito determinante deste trabalho apresentar fundamentos teóricos e
legais para melhor compreensão da Justiça 4.0 e sua contribuição para o atingimento dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
“Surpreender-se, estranhar-se é começar a entender. É o esporte e o luxo específico do
intelectual. Daí a necessidade de vermos e de olhar o mundo com olhos dilatados pela surpresa.

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Tudo no mundo é estranho e maravilhoso para umas pupilas bem abertas" (Ortega Y Gasset,
2006, p. 48).
Esperamos que a perplexidade diante da veloz inserção dos meios tecnológicos no
Judiciário nos ajude a proporcionar a prestação continuada de um serviço visceral ao bem-estar
social: a justiça, real e duradoura.

1 REVISÃO DE LITERATURA

Esta seção aborda conceitos relacionados ao tema de estudo; entre eles, Justiça 4.0 e
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

1.1 Justiça 4.0

Enquanto este artigo é escrito, os meios midiáticos publicam de forma incessante


reportagens acerca da elevação de temperatura na terra, mudanças climáticas e desajustes de
condições naturais meteorológicas.
Por outro lado, avançam os meios tecnológicos de tal forma que, através da rede
intencional de computadores, alugamos um carro, uma casa, chamamos um transporte em
qualquer lugar do mundo.
Nos serviços públicos não haveria como afastarmos o uso dessas tecnologias
priorizando formalismos desmedidos em detrimento da eficiência: mais serviços com menos
desgastes de meios, sejam materiais ou pessoais.
Daí, e premido pela necessidade da apartação social decorrente da pandemia COVID-
19, o Judiciário é lançado emergencialmente ao mundo digital.
Evoluímos, em termos tecnológicos, vinte anos em dois! E a descoberta inexorável é
que a tecnologia também nos leva à economia de meios, rompendo o paradigma arcaico da
necessidade de prédios gigantes, gastos expressivos, meios humanos infindáveis, para o alcance
da realização da Justiça. Nesse meio de descobertas e revoluções que se implementa a Justiça
4.0 com juízos 100% digitais.

A paradigmática criação do “Juízo 100% Digital” consubstancia uma necessária


alteração de referencial, concebendo a Justiça efetivamente como um serviço (“justice
as a service”) e deixando de relacioná-la a um prédio físico. Assim, por meio da
promoção à Justiça Digital, logra-se alcançar um sem-número de pessoas que

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lamentavelmente não conseguiam fazer valer seus direitos por uma miríade de razões
(Araujo; Gabriel, 2022, p. 23).

E, a par e passo, atendemos por via transversa os reclamos da Agenda 2030 da


Organização das Nações Unidas.

1.2 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

A evolução histórica dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) começou


em 2000, quando a ONU e seus Estados-Membros estabeleceram um pacto global, denominado
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Voltado às nações em desenvolvimento, o
pacto foi consolidado por meio da Declaração do Milênio, e propôs metas para serem atingidas
até 2015. Os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) propostos foram: reduzir
a pobreza; atingir o ensino básico universal; igualdade entre os sexos e autonomia das mulheres;
reduzir a mortalidade na infância; melhorar a saúde materna; combater o HIV/Aids, a malária
e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental e estabelecer uma parceria mundial para
o desenvolvimento (Programa das Nações unidas para o Desenvolvimento, [2023]).
Os esforços conjuntos, até o fim de 2015, para o alcance dos ODM não se encerraram.
Em setembro de 2015, reunião de chefes de Estado das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável aprovou a nova agenda de desenvolvimento sustentável, intitulada "Transformando
o Nosso Mundo: Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável", oficialmente em vigor a
partir de 1º de Janeiro de 2016 e implementação até 2030, fixando, portanto, os 17 Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que guiarão as ações globais por mais 15 anos. A nova
agenda de desenvolvimento contempla compromissos que se aplicam tanto a países em
desenvolvimento quanto aos desenvolvidos (Programa das Nações unidas para o
Desenvolvimento, [2023]).
O conjunto de 17 objetivos, com 169 metas associadas, demonstra a escala e a ambição
deste novo compromisso internacional. Os ODS aprovados foram construídos sobre as bases
estabelecidas pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), de maneira a responder
a novos desafios. São integrados e indivisíveis, e mesclam, de forma equilibrada, as três
dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. Os Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos são:

1 - Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares; 2 - Acabar


com a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a

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agricultura sustentável; 3 - Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para
todos, em todas as idades; 4 - Garantir educação inclusiva e equitativa de qualidade e
promover oportunidades de aprendizado ao longo da vida para todos; 5 - Alcançar
igualdade de gênero empoderar todas as mulheres e meninas; 6 - Garantir
disponibilidade e manejo sustentável da água e saneamento para todos; 7 - Garantir
acesso à energia barata, confiável, sustentável e moderna para todos; 8 - Promover o
crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e
produtivo, e trabalho decente para todos; 9 - Construir infraestrutura resiliente,
promover a industrialização inclusiva e sustentável, e fomentar a inovação; 10 -
Reduzir a desigualdade entre os países e dentro deles; 11 - Tornar as cidades e os
assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; 12 - Assegurar
padrões de consumo e produção sustentáveis; 13 - Tomar medidas urgentes para
combater a mudança do clima e seus impactos; 14 - Conservar e promover o uso
sustentável dos oceanos, mares e recursos marinhos para o desenvolvimento
sustentável; 15 - Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas
terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, bem
como deter e reverter a degradação do solo e a perda de biodiversidade; 16 - Promover
sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o
acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas
em todos os níveis; 17 - Fortalecer os mecanismos de implementação e revitalizar a
parceria global para o desenvolvimento sustentável. (Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento, [2023]).

A Justiça 4.0, implementada no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, foi


estabelecida visando contribuir para o atendimento de metas previstas na Agenda 2030.

2 MÉTODO DE PESQUISA

Neste estudo, adotou-se a pesquisa exploratória e documental como abordagem


metodológica, buscando embasamentos teóricos e legais, para maior entendimento sobre a
Justiça 4.0 e a sua contribuição para o atingimento dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS).

3 JUSTIÇA 4.0 COMO FERRAMENTA DE EFICIÊNCIA

Não se discute a progressão veloz do uso dos meios tecnológicos no Judiciário em


razão do período de apartação social decorrente da epidemia COVID-19.
Passado o sufoco, deparamo-nos com a perplexidade entre o amplo retorno e a
permanência de instrumentos de realização de atos judiciais pelo meio virtual.
A desterritorialização e a desmaterialização dos processos, a partir da implementação
do PJe, ao permitirem a implementação de projetos de Tribunais multiportas virtuais, levaram
a questionamentos acerca da desmaterialização da ideia de foro e de circunscrição judicial.
(Silva; Moraes, 2022, p. 46).

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Nesta esteira, o olhar arguto do Conselho Nacional de Justiça sob a batuta do Ministro
Luiz Fux criou A Justiça 4.0, do novo milênio, a nos render frutos e obstáculos.
Num primeiro olhar, por meio da Resolução 385, a adoção do Juízo 100% digital
atendia aos reclamos dos advogados que, mediante uso de ferramentas tecnológicas, puderam
dinamizar sua rotina, reduzindo tempos de deslocamentos e viabilizando atos com participação
pessoal Brasil afora.
Ocorre que, a princípio, os processos a serem remetidos a este juízo precisavam de
“opção da parte” e a oposição era ponto-final na escolha do advogado que precisa lidar com o
tempo do processo.
Posteriormente vislumbra-se que a criação de Núcleos Especializados utilizando
ferramentas tecnológicas poderia representar um poderoso instrumento de política de
Organização Judiciária.
A desmaterialização e a desterritorialização da justiça implicaram na utilização de
recursos tecnológicos sequer imaginados antes de 1979, atualmente utilizados em larga escala.
Inaugurou-se, assim, um novo cenário (Silva; Moraes, 2022, p. 46).
É editada então a Resolução 398 do CNJ e, com base nela, criam-se vários Núcleos
Especializados no Tribunal de Justiça de Estado do Rio de Janeiro, dentre eles o Núcleo de
Direito Ambiental.
Nesse contexto, a criação do 4º Núcleo de Justiça 4.0 – Direito Ambiental teve como
objetivo a especialização, a celeridade no julgamento dessas ações, em cumprimento à Meta 12
de 2022 e à Meta 10 de 2023, ambas do CNJ.

Meta 12(Impulsionar os processos de ações ambientais - STJ, Justiça Estadual e


Justiça Federal - Justiça Estadual: Identificar e julgar 25% dos processos relacionados
a ações ambientais distribuídos até 31/12/2021).
Meta 10 – Impulsionar os processos de ações ambientais (STJ, Justiça Estadual e
Justiça Federal) • Superior Tribunal de Justiça: Identificar e julgar 70% dos processos
relacionados às ações ambientais distribuídos até 31/12/2022. • Justiça Estadual:
Identificar e julgar, até 31/12/2023, 30% dos processos relacionados às ações
ambientais distribuídos até 31/12/2022. • Justiça Federal: Identificar e julgar, até
31/12/2023: FAIXA 1 (TRF1 e TRF6): 20% dos processos que tenham por objeto
matéria ambiental distribuídos até 31/12/2022. FAIXA 2 (TRF2, TRF3, TRF4 e
TRF5): 30% dos processos que tenham por objeto matéria ambiental distribuídos até
31/12/2022 (Encontro Nacional do Poder Judiciário, 2021).

Dispõe a Resolução nº 398, de 9 de junho de 2021:

Art. 1º Os “Núcleos de Justiça 4.0”, disciplinados pela Resolução CNJ no 385/2021,


também podem ser instituídos pelos tribunais para atuarem em apoio às unidades
judiciais, em todos os segmentos do Poder Judiciário, em processos que:

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I – abarquem questões especializadas em razão de sua complexidade (...) IV – estejam
em situação de descumprimento de metas nacionais do Poder Judiciário (Conselho
Nacional de Justiça, 2021).

Como se percebe, no âmbito da matéria ambiental, o Núcleo 4.0 desborda o interesse


privado em várias vertentes, pois além de a matéria conter interesse precipuamente público,
enquadra-se na disciplina autorizativa aos Tribunais para criação do órgão como política de
organização judiciária.
É de conhecimento notório que os feitos envolvendo essa matéria, complexos e, via de
regra, volumosos, à similitude das demandas de improbidade administrativa, tiveram um olhar
cuidadoso do CNJ. Nessa esteira, sai na frente o TJRJ, mediante uso de ferramentas eficientes,
com a criação do Juízo Digital Ambiental.
E vejam que, havendo remessa pelo juízo competente, em prol do alcance dos
objetivos estipulados pelo CNJ, ante a natureza da matéria, prevalece o sentido organizacional
da especialidade deste em relação à vontade privada externada pela parte, o que encontra
amparo permissivo na Resolução 398 do Conselho.
Merece atenção ainda o disposto na mesma resolução citada acima ao disciplinar que
a oposição deve ser fundamentada e, ainda que acolhida, poderá haver nova remessa se
caracterizada hipótese de inserção em meta, in verbis:

Art. 2º Admitir-se-á a oposição fundamentada das partes aos “Núcleos de Justiça 4.0”
nos processos a eles encaminhados com base no inciso I do artigo anterior, hipótese
em que deverá ser deduzida na primeira manifestação que vier a ser realizada após o
envio dos autos ao “Núcleo de Justiça 4.0.
Parágrafo único. A oposição fundamentada ao encaminhamento dos autos a um
“Núcleo de Justiça 4.0” manifestada por qualquer das partes, se acolhida, é irretratável
e vinculativa, de forma a gerar o efeito obrigatório do retorno dos autos à vara de
origem, ficando vedado novo encaminhamento ao núcleo para tramitação e/ou
julgamento, salvo se caracterizada posteriormente alguma das hipóteses previstas nos
incisos II a V do art. 1º (Conselho Nacional de Justiça, 2021).

Aqui é necessário trazer à baila o Ato Normativo nº 05/2022, que criou o Núcleo
Ambiental junto ao TJRJ, estabelecendo permissão de remessa de feitos individuais ou
coletivos em matéria de Fazenda Pública, e em seu bojo estabelece que, em matéria cível,
somente devem ser enviados os processos de natureza coletiva e não aqueles que discutam
interesses individuais.
Todavia, as varas cíveis pelo Estado vêm sendo infestadas de processos distribuídos
de maneira individual, mas trazendo em seu bojo interesse homogêneo, logo tutela de natureza
coletiva, envolvendo acidentes ambientais de vasta proporção. Também nesses feitos parece
que o melhor seria classificá-los como tutela coletiva, embora distribuídos de forma individual.

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Também nesse contexto, o Núcleo passou a representar importante ferramenta para
evitar decisões conflitantes, pois através de um (às vezes alguns) processo paradigma,
chegamos à realidade do assunto posto em pauta, alinhando-se, sob esse prisma, ao objetivo da
gestão de inteligência dos Tribunais, por meio da detecção e tratamento de demandas
predatórias.
Por todo o contexto, repita-se, no âmbito da matéria ambiental, o Núcleo 4.0 desborda
dos limites iminentemente privados, revestindo-se de caráter de política de organização
judiciária e, como tal, deve representar órgão de apoio para enfrentamento das demandas cujo
objeto seja matéria ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Justiça 100% Digital, criada por meio de Resoluções do Conselho Nacional de


Justiça (CNJ), incorpora importante paradigma para as partes, seus representantes, servidores
da Justiça, magistrados e a sociedade em geral.
No bojo de transformações advindas do enfrentamento da recente pandemia,
destacam-se a desterritorialização e a desmaterialização dos processos, corolários naturais da
moderna prestação jurisdicional de serviço, em vez do Fórum petrificado como representação
física e acabada do Judiciário.
A Resolução 398, do CNJ, permitiu a criação de Núcleos Especializados no Tribunal
de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), incluindo o 4º Núcleo de Justiça 4.0 – Direito
Ambiental, ativando o uso de ferramentas tecnológicas como poderoso instrumento de política
de Organização Judiciária – particularmente no atingimento dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável, propostos pela ONU.
Muito há a compreender e aprender no chamado Microssistema de Justiça Digital, um
portal de múltiplas possiblidades nas integrações funcionais, desoneração de sistemas,
unificação de trâmites processuais, celeridade e desobstrução da máquina administrativa.
Superado o impacto inicial de profundas mudanças suscitadas, a Justiça Digital
caminha a passos largos e irreversíveis para melhor atender às demandas cidadãs,
proporcionando aprimoramento histórico às relevantes atribuições sociais do Judiciário.
Novos desafios, novas soluções! Esse é o lema.

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REFERÊNCIAS

ARAUJO, A. V.; GABRIEL, A. P. Justiça 4.0: a transformação tecnológica do poder


judiciário deflagrada pelo CNJ no biênio 2020-2022. Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios, Brasília, DF, p. 20-37, 2022.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (Brasil). Resolução n. 345, de 9 de outubro de


2020. Dispõe sobre o “Juízo 100% Digital” e dá outras providências, Diário da Justiça [do]
Conselho Nacional de Justiça: Brasília, DF, n. 331, p.2-3, out. 2020.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (Brasil). Resolução n. 385, de 6 de abril de 2021.


Dispõe sobre a criação dos “Núcleos de Justiça 4.0” e dá outras providências. Diário da
Justiça [do] Conselho Nacional de Justiça: Brasília, DF, n.86, p.6-8, 7 abr. 2021.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (Brasil). Resolução n. 398, de 9 de junho de 2021.


Dispõe sobre a atuação dos “Núcleos de Justiça 4.0”, disciplinados pela Resolução CNJ no
385/2021, em apoio às unidades jurisdicionais. Diário da Justiça [do] Conselho Nacional de
Justiça: Brasília, DF, n.150, p.3-5, 11 jun. 2021.

ENCONTRO NACIONAL DO PODER JUDICIÁRIO, 15., 2021, Brasília, DF. Metas


nacionais 2022: aprovadas no 15° Encontro Nacional do Poder Judiciário. Brasília, DF: CNJ,
2021. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/12/metas-nacionais-
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ORTEGA Y GASSET, J. A rebelião das massas. [Rio de Janeiro]: Biblioteca do Exército


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PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Os objetivos de


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SILVA, K. Y. C.; MORAES, C. M. A justiça 4.0 e o acesso sob a lente da agenda 2030 da
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2022.

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