Tratamento Da Psicanálise Frente Ao Paciente Com Ideação Suicida
Tratamento Da Psicanálise Frente Ao Paciente Com Ideação Suicida
Tratamento Da Psicanálise Frente Ao Paciente Com Ideação Suicida
IDEAÇÃO SUICIDA
RESUMO
Este trabalho pretende fornecer ao leitor evidências sobre a importância do conhecimento psíquico,
sobre os gatilhos e funcionamento melancólico em relação a concepção da ideação suicida baseada
na psicanálise. Este artigo foi elaborado com base em Revisão Bibliográfica, utilizando artigos
publicados em português, baseada em estudos de autores, como por exemplo Sigmund Freud,
Andrew Solomon, R M S Cassola, entre outros autores que elaboraram artigos oportuno ao assunto.
A base de dados eletrônicos utilizados foram Scielo Brasil e Pepsic. Foram utilizados os seguintes
descritores: suicídio; pulsão de morte; psicanálise e morte; pulsão de vida. Este artigo busca trazer o
conhecimento de como a psicanálise consegue dar significado àquilo que o paciente não consegue
elaborar. O sofrimento mental do sujeito será proporcional a suas dificuldades de lidar com suas
percepções e seus sentimentos. O suicídio é muitas vezes o resultado trágico do sofrimento causado
pela doença mental. Através da intervenção psicológica pode-se conhecer um outro caminho que não
seja tirar a própria vida, pois para a psicanálise o principal mecanismo de elaboração é a escuta.
ABSTRACT
This project aims to provide the reader with evidence of the importance of psychic knowledge about
triggers and melancholic functioning about the conception of suicidal ideation based on
psychoanalysis. This article was carried out through a bibliographical review, using articles published
in Portuguese, based on studies of authors, such as Sigmund Freud, Andrew Solomon, R M S
Cassola, among other authors who prepared articles appropriate to the subject. And the electronic
databases used were Scielo Brasil and Pepsic. The ensuing descriptors were used: suicide; death
drive; psychoanalysis and death; life drive. This article seeks to bring the knowledge of how
psychoanalysis manages to give meaning to what the patient is unable to elaborate. The subject's
mental suffering will be proportional to his difficulties in dealing with his perceptions and feelings.
Suicide is often the tragic result of the suffering caused by mental illness. Through psychological
intervention, it is possible to discover a path other than taking one's own life, since for psychoanalysis
the crafting mechanism is listening.
1 Acadêmica do curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva – FAIT – da Sociedade Cultural e Educacional de Itapeva.
[email protected]
2 Acadêmica do curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva – FAIT – da Sociedade Cultural e Educacional de Itapeva.
[email protected]
3 Docente do curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva – FAIT – da Sociedade Cultural e Educacional de Itapeva.
[email protected]
4 Docente do curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva – FAIT – da Sociedade Cultural e Educacional de Itapeva.
[email protected]
Introdução
5 Em 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde foi alertada sobre uma nova cepa de Coronavírus. Ao todo, sete Coronavírus humanos
foram identificados, mas o que causou a doença COVID-19 foi o 2019-nCoV, onde causa infecções respiratórias. O COVID-19 não teve apenas
repercussão biomédica e epidemiológica de escala global, mas também impactos sociais, políticos, econômicos e culturais. Em 11 de março de 2020, a
COVID-19 foi caracterizada como uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), por ser uma distribuição global da doença e não por sua
gravidade.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), “o suicídio continua sendo
uma das principais causas de morte no mundo, responsável por uma em cada 100
mortes” (Magano, 2022). Mais pessoas morrem por suicídio, em relação a mortes
por HIV, malária, câncer de mama, guerra e homicídio. “É a quarta causa de morte
no mundo entre jovens de 15 a 29 anos” (WASHINGTON, 2021).
Conforme as Estatísticas Mundiais de Saúde da OMS de 2019, estima-se que
97.339 pessoas morreram por suicídio nas Américas, e que os homens foram
responsáveis por cerca de 77% dessas mortes. Embora haja intervenções baseadas
em evidências na prevenção do suicídio, muitos países continuam apresentando
taxas crescentes. Um novo levantamento da OMS feito em 2022, consta que 800 mil
mortes no ano tem o suicídio como causa, sendo uma morte a cada 40 segundos.
A maioria dos suicídios é precedida por sinais de alerta verbais ou
comportamentais, como falar sobre o desejo de morrer, sentir grande culpa ou
vergonha, sentir-se um fardo para os outros, sensação de vazio, desesperança,
estar preso ou sem razão para viver, sentir-se extremamente triste, ansioso, agitado
ou cheio de raiva, ou com dor insuportável, seja emocional ou física
(WASHINGTON, 2021).
Mudanças de comportamento, como fazer um plano ou pesquisar maneiras
de tirar se suicidar, afastar-se dos amigos, despedir-se, distribuir itens importantes
ou fazer testamentos, fazer coisas muito arriscadas, mostrar mudanças extremas de
humor, comer ou dormir muito ou pouco, e usar drogas ou álcool com mais
frequência, podem ser sinais de suicídio (WASHINGTON, 2021).
6 A Associação Brasileira de Psiquiatria - ABP tem o objetivo de reunir os médicos psiquiatras brasileiros, para defender quem padece de transtorno mental.
https://www.abp.org.br/.
O isolamento social e as doenças crônicas podem ser fatores de risco para
ideação, tentativa e consumação do suicídio, pois podem afetar a qualidade de vida
e o bem-estar emocional das pessoas. A ausência de suporte social e emocional
pode tornar mais difícil lidar com problemas de saúde física e mental, aumentando o
indício de desesperança e desespero (BENTO, et al. 2018).
O morar sozinho pode aumentar a ameaça de suicídio em algumas pessoas,
mas é importante salientar que isso não se aplica a todos. Algumas pessoas podem
se sentir mais confortáveis e independentes morando sozinhas, enquanto outras
podem se sentir isoladas e vulneráveis (BENTO, et al. 2018).
O preconceito e a supressão de suporte social e emocional da família e da
sociedade podem ser fatores que contribuem para o aumento do risco de suicídio
em algumas pessoas. É imprescindível que a sociedade e os profissionais de saúde
mental trabalhem juntos para reduzir o estigma em relação às doenças mentais e
oferecer suporte e tratamento adequados para aqueles que precisam (BENTO, et al.
2018).
Infelizmente, o abuso sexual na infância e na adolescência é uma realidade
triste e preocupante. Estudos têm demonstrado que as vítimas de abuso sexual
podem experimentar uma variedade de efeitos negativos em sua saúde mental e
emocional, incluindo sintomas de depressão, ansiedade, transtorno de estresse
pós-traumático e pensamentos suicidas (BENTO, et al. 2018).
A vergonha, a culpa e o medo podem fazer com que as vítimas de abuso
sexual se sintam isoladas, envergonhadas e incapazes de buscar ajuda. Isso pode
resultar em um crescimento da vulnerabilidade emocional e comportamentos de
automutilação, os quais podem ser uma maneira que se escolhe para lidar com a
dor emocional e a sensação de desespero, já que não se tem recursos psíquicos
para enfrentar a situação traumática (BENTO, et al. 2018).
O último fator levantado é o uso de substâncias psicoativas e
envenenamento. Álcool, drogas ilícitas e medicamentos prescritos, tem sido
associado a um maior risco de suicídio. O uso dessas substâncias pode afetar o
equilíbrio químico do cérebro e a tomada de decisões, aumentando a impulsividade
e a desinibição (BENTO, et al. 2018).
Pessoas que sofrem de transtornos mentais e fazem uso de substâncias
psicoativas têm um risco ainda maior de suicídio, visto que os efeitos combinados
desses fatores podem ser devastadores (SANCHES, 2019).
O envenenamento é um método comum utilizado em casos de suicídio,
especialmente em locais onde há fácil acesso a substâncias tóxicas. Infelizmente, os
agrotóxicos e o "chumbinho" são frequentemente usados para esse fim, o que é
preocupante, pois essas substâncias são altamente tóxicas e podem causar danos
graves à saúde (BENTO, et al. 2018).
Nele foram ditas algumas frases que se tornaram célebres: “Só quem
perdeu a esperança de ser amado se mata”; “ninguém se mata a não ser
que tenha desejos de matar outra pessoa”; “ninguém se mata se sua morte
não é desejada por outra pessoa” (CASSORLA, 2021, p. 136).
Resultados e discussões
7 Na teoria Psicanalítica de Freud, Eros é o impulso que nos move em direção à vida, ao amor, à união e à criação, enquanto Tânatos é o impulso que nos move em
direção à morte, à destruição e à dissolução. A saúde psíquica depende do equilíbrio entre eles.
do paciente. Além disso, ao fazer sua própria autoanálise, o paciente pode entender
melhor a dinâmica inconsciente existente na sua vida (BASTOS, 2019).
É importante compreender que as dores psíquicas são tão reais e intensas
quanto as dores físicas e têm de ser tratadas com o mesmo respeito e seriedade.
Freud reconhece que muitas vezes as pessoas são rotuladas como imaginativas
quando apresentam sintomas psíquicos, o que reflete uma falta de compreensão e
de valorização da dimensão subjetiva da experiência humana (PEREIRA; ROSSAL,
2019).
A psicanálise se propõe a olhar para além desses pré-conceitos e buscar
compreender as causas profundas dos conflitos e sofrimentos psíquicos, muitas
vezes enraizados no inconsciente e nas relações interpessoais. Através da escuta
atenta e do diálogo terapêutico, o paciente é convidado a explorar suas emoções,
pensamentos e comportamentos de maneira mais profunda e reflexiva, buscando
um maior autoconhecimento e de suas dificuldades (PEREIRA; ROSSAL, 2019).
Assim, a psicanálise oferece um espaço de acolhimento e compreensão para
as dores da alma, reconhecendo a singularidade da dimensão psíquica na vida
humana e buscando ajudar o paciente a encontrar o alívio do sofrimento psíquico.
Segundo Fochesatto (2011), a psicanálise acredita que acessar conteúdos
inconscientes por meio da fala é uma forma de ajudar o paciente a lidar com suas
angústias e conflitos internos. Há conteúdos psíquicos reprimidos no inconsciente,
que não são acessíveis diretamente à consciência, mas que podem ser explorados
através da fala e da associação livre.
Para Sigmund Freud (1956), a pulsão de morte é uma das principais ideias da
teoria psicanalítica, que postula a existência de duas pulsões básicas no ser
humano: a pulsão de vida, que busca a sobrevivência e a reprodução, e a pulsão de
morte, que busca a aniquilação e o retorno ao estado inorgânico. De acordo com a
psicanálise, acredita-se que a pulsão de morte pode ser a fonte de angústia e
sofrimento para o paciente.
Ao acessar conteúdos inconscientes por intervenção da terapia, o paciente
pode entrar em contato com a pulsão de morte que traz angústia e encontrar
mecanismos psíquicos para lidar com ela. A ressignificação dos conteúdos
recalcados é uma técnica fundamental da psicanálise, que busca ajudar o paciente a
compreender melhor suas emoções e experiências passadas, permitindo-lhe
entender traumas e conflitos internos, para que sejam tratados em processo
terapêutico.
Portanto, o terapeuta deve estar atento aos seus próprios conteúdo internos
ao trabalhar com um paciente, especialmente quando se trata de uma abordagem
psicanalítica que enfatiza a significância da transferência e contratransferência. A
transferência é o processo em que o paciente projeta seus sentimentos e emoções
no terapeuta, enquanto a contratransferência é a resposta emocional do terapeuta a
essa projeção.
Outrossim, o terapeuta deve se esforçar para manter uma conduta analítica
sadia, o que inclui respeitar os princípios éticos e de privacidade do paciente,
criando um ambiente seguro e acolhedor para que seja possível o paciente se
expressar livremente.
Considerações Finais
BENTO, A.M.T. et al; Fatores predisonentes que levam jovens adultos à ideação
suicida e ao suicídio no Brasil. Rev. Ciências Biológicas e de Saúde Unit. Alagoas.
v. 5, n. 1, p. 153-166. Disponível em:
https://periodicos.set.edu.br/fitsbiosaude/article/view/5804/3089 Acesso em: 09 abr.
2023.
FREUD, Sigmund; Luto e Melancolia. 12. ed. Cosac & Naify, 2010. p. 01-144.
LOLLI, João Felipe. Levantamento da OMS mostra que uma pessoa se mata no
mundo a cada 40 segundos. Itatiaia, 2022. Disponível em:
https://www.itatiaia.com.br/noticia/levantamento-da-oms-mostra-que-uma-pessoa-se-
mata-no-mundo-a-cada-40-segundos. Acesso em: 13 abr. 2023.
MACEDO, K.M.M.; WERLANG, G.S.B. Trauma, Dor e Ato: o olhar da psicanálise
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08 abr. 2023.