Tratamento Da Psicanálise Frente Ao Paciente Com Ideação Suicida

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TRATAMENTO DA PSICANÁLISE FRENTE AO PACIENTE COM

IDEAÇÃO SUICIDA

Laura do Valle ALMEIDA1


Rafaelly Fernanda Prestes BRANDÃO2
Daniely Cristina Santos SOUZA3
Lucas Assis Dias BATISTA4

RESUMO
Este trabalho pretende fornecer ao leitor evidências sobre a importância do conhecimento psíquico,
sobre os gatilhos e funcionamento melancólico em relação a concepção da ideação suicida baseada
na psicanálise. Este artigo foi elaborado com base em Revisão Bibliográfica, utilizando artigos
publicados em português, baseada em estudos de autores, como por exemplo Sigmund Freud,
Andrew Solomon, R M S Cassola, entre outros autores que elaboraram artigos oportuno ao assunto.
A base de dados eletrônicos utilizados foram Scielo Brasil e Pepsic. Foram utilizados os seguintes
descritores: suicídio; pulsão de morte; psicanálise e morte; pulsão de vida. Este artigo busca trazer o
conhecimento de como a psicanálise consegue dar significado àquilo que o paciente não consegue
elaborar. O sofrimento mental do sujeito será proporcional a suas dificuldades de lidar com suas
percepções e seus sentimentos. O suicídio é muitas vezes o resultado trágico do sofrimento causado
pela doença mental. Através da intervenção psicológica pode-se conhecer um outro caminho que não
seja tirar a própria vida, pois para a psicanálise o principal mecanismo de elaboração é a escuta.

Palavras Chave: Pulsão de morte; Pulsão de vida; Psicanálise e suicídio; Pulsões.

ABSTRACT
This project aims to provide the reader with evidence of the importance of psychic knowledge about
triggers and melancholic functioning about the conception of suicidal ideation based on
psychoanalysis. This article was carried out through a bibliographical review, using articles published
in Portuguese, based on studies of authors, such as Sigmund Freud, Andrew Solomon, R M S
Cassola, among other authors who prepared articles appropriate to the subject. And the electronic
databases used were Scielo Brasil and Pepsic. The ensuing descriptors were used: suicide; death
drive; psychoanalysis and death; life drive. This article seeks to bring the knowledge of how
psychoanalysis manages to give meaning to what the patient is unable to elaborate. The subject's
mental suffering will be proportional to his difficulties in dealing with his perceptions and feelings.
Suicide is often the tragic result of the suffering caused by mental illness. Through psychological
intervention, it is possible to discover a path other than taking one's own life, since for psychoanalysis
the crafting mechanism is listening.

Keywords: Death drive; Life drive; Psychoanalysis and suicide; drives

1 Acadêmica do curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva – FAIT – da Sociedade Cultural e Educacional de Itapeva.

[email protected]
2 Acadêmica do curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva – FAIT – da Sociedade Cultural e Educacional de Itapeva.
[email protected]
3 Docente do curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva – FAIT – da Sociedade Cultural e Educacional de Itapeva.
[email protected]
4 Docente do curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva – FAIT – da Sociedade Cultural e Educacional de Itapeva.
[email protected]
Introdução

O suicídio é considerado tabu aos olhos da sociedade e, embora estudos


relatarem um número cada vez mais alto de suicídios entre adolescentes e adultos,
raramente é ouvido ou discutido nos dias de hoje. A proposta deste trabalho é
atentar as pessoas para tudo que possa ocasionar essas pulsões autodestrutivas.
Através da intervenção psicológica pode-se conhecer um outro caminho com
exceção do suicídio.
O suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens e consiste em
um grave problema de saúde pública. É importante quebrar os tabus e preconceitos,
para que haja a busca por ajuda e a prevenção com o processo terapêutico, no
intuito de que a ideação suicida seja conjurada e o suicídio seja evitado.
O suicídio é, normalmente, o resultado trágico do sofrimento causado pela
doença mental. A ideação suicida são pensamentos que o sujeito tem para dar um
fim ao sofrimento tirando à própria vida. Esses pensamentos se constituem com
base em fatores ocorridos durante a vida do indivíduo, de formas variadas e
imprevisíveis. Fatores genéticos, psicológicos, sociáveis e de cultura fazem parte
desta complexidade.
Para o tratamento psicanalítico, o primordial é a escuta. A escuta analítica é
uma escuta que tem função ativa onde envolve mais do que ouvir o que o outro está
dizendo. É um processo que envolve estar presente e atento ao que está sendo dito,
compreender o que está sendo comunicado, interpretar e responder
adequadamente. Além disso, também envolve estar aberto à singularidade do
indivíduo, que significa permitir que o indivíduo se expresse de forma natural e sem
julgamentos. Isso pode incluir permitir que a pessoa fale sobre suas dúvidas,
incertezas e dificuldades, bem como suas esperanças, sonhos e desejos. Com isso,
sendo o principal mecanismo de troca. O sofrimento mental do sujeito será
proporcional a suas dificuldades de manejar suas percepções e seus sentimentos.
Como o psicanalista busca dar significado àquilo que o paciente não consegue?
Através de uma perspectiva psicanalítica, entende-se os impulsos inconscientes que
existem nos pensamentos autodestrutivos, bem como nas mentes dos sujeitos com
pensamentos suicidas.
A psicanálise serve para desatar os nós da psique humana através da
análise profunda e investigação, para desvendar as relações interpessoais do
paciente, bem como o modo que o próprio paciente se enxerga e se coloca no
mundo. Desta maneira, o psicanalista detecta as ações presas em conscientes,
indicando qual tipo de tratamento é mais adequado. Também nos ensina que em
todo evento psíquico há conflito, há dois lados: no caso do suicida é entre a vontade
de se matar e a vontade de sobreviver. O suicida espera que vá existir uma
“condição de não sofrimento”, quando na realidade não existirá “estado” nenhum,
apenas um puro corpo morto.
A psicanálise se volta para a particularidade do sujeito e seu sofrimento.
Desta forma, não cabe em nada predeterminado. Cada pessoa é única e possui
peculiaridades que a constroem dialeticamente. Acima de colocar o sujeito na
categoria de sofrimento, é importante ouvi-lo, ajudá-lo em sua dor e despertar os
significados únicos de seu inconsciente que só este sujeito vivenciará. É importante
levar em consideração, em relação ao processo psicoterápico, a subjetividade do
paciente na construção da ideação suicida e não usar de técnicas padronizadas, já
que cada ser humano tem sua complexidade e cada dor é singular. Fica nítido que a
ideação suicida é consequência de uma dor intensa que necessita de acolhimento,
empatia e sensibilidade do profissional psicanalista.

Dados epidemiológicos e Organização Mundial da Saúde (OMS)

Suicídios e tentativas de suicídio não afetam apenas indivíduos, mas também


famílias, comunidades e sociedades. Fatores de risco, como perda de emprego,
trauma, transtornos mentais e barreiras ao acesso a cuidados de saúde,
aumentaram após a pandemia de COVID-195. Mais da metade das pessoas que
foram pesquisadas nos países: Chile, Brasil, Peru e Canadá relataram que a sua
saúde mental havia se agravado um ano após o começo da pandemia.

5 Em 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde foi alertada sobre uma nova cepa de Coronavírus. Ao todo, sete Coronavírus humanos

foram identificados, mas o que causou a doença COVID-19 foi o 2019-nCoV, onde causa infecções respiratórias. O COVID-19 não teve apenas

repercussão biomédica e epidemiológica de escala global, mas também impactos sociais, políticos, econômicos e culturais. Em 11 de março de 2020, a

COVID-19 foi caracterizada como uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), por ser uma distribuição global da doença e não por sua

gravidade.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), “o suicídio continua sendo
uma das principais causas de morte no mundo, responsável por uma em cada 100
mortes” (Magano, 2022). Mais pessoas morrem por suicídio, em relação a mortes
por HIV, malária, câncer de mama, guerra e homicídio. “É a quarta causa de morte
no mundo entre jovens de 15 a 29 anos” (WASHINGTON, 2021).
Conforme as Estatísticas Mundiais de Saúde da OMS de 2019, estima-se que
97.339 pessoas morreram por suicídio nas Américas, e que os homens foram
responsáveis ​por cerca de 77% dessas mortes. Embora haja intervenções baseadas
em evidências na prevenção do suicídio, muitos países continuam apresentando
taxas crescentes. Um novo levantamento da OMS feito em 2022, consta que 800 mil
mortes no ano tem o suicídio como causa, sendo uma morte a cada 40 segundos.
A maioria dos suicídios é precedida por sinais de alerta verbais ou
comportamentais, como falar sobre o desejo de morrer, sentir grande culpa ou
vergonha, sentir-se um fardo para os outros, sensação de vazio, desesperança,
estar preso ou sem razão para viver, sentir-se extremamente triste, ansioso, agitado
ou cheio de raiva, ou com dor insuportável, seja emocional ou física
(WASHINGTON, 2021).
Mudanças de comportamento, como fazer um plano ou pesquisar maneiras
de tirar se suicidar, afastar-se dos amigos, despedir-se, distribuir itens importantes
ou fazer testamentos, fazer coisas muito arriscadas, mostrar mudanças extremas de
humor, comer ou dormir muito ou pouco, e usar drogas ou álcool com mais
frequência, podem ser sinais de suicídio (WASHINGTON, 2021).

Fatores que desencadeiam a ideação suicida

O suicídio é um problema que afeta diferentes grupos da sociedade, incluindo


homens, mulheres, jovens e idosos. Os sinais nem sempre são claros e podem
passar despercebidos, incluindo tristeza, angústia, solidão e desmotivação. É
importante estar atento a esses sinais e buscar ajuda profissional caso necessário.
O suicídio é um fenômeno complexo e multicausal, resultante da interação de
fatores filosóficos, antropológicos, psicológicos, biológicos e sociais. Envolve a
decisão voluntária de tirar a própria vida.
Um dos fatores que se pode abordar é o sociodemográfico, o qual é um termo
utilizado para descrever a interação entre os aspectos sociais e demográficos de
uma população ou grupo social. Ele se refere a características como idade, sexo,
estado civil, renda, nível educacional, ocupação, raça/etnia, religião, dentre outras, e
como essas características se relacionam com as posições e problemas sociais. A
pesquisa sociodemográfica, portanto, é aquela que busca compreender as
particularidades e dinâmicas das populações em relação a sua composição
demográfica e aspectos sociais, com o intuito de entender as desigualdades sociais
e propor políticas públicas que visem ao bem-estar coletivo (BENTO, et al. 2018).
É interessante evidenciar tal conceito, pois são fatores estressantes e
presentes em toda a sociedade, como a sobrecarga no trabalho, desemprego, falta
de apoio familiar, problemas financeiros e outros. Contudo, todas essas condições
podem desenvolver uma depressão e outras doenças mentais, trazendo um grande
sofrimento psíquico e podendo ser um acesso para o suicídio. (BENTO, et al. 2018)
Outro aspecto que pode-se considerar é em relação a transtornos mentais.
Segundo a OMS, na maior parte dos casos de suicídio, os transtornos mentais,
particularmente depressão e abuso de substâncias, são fatores que contribuem para
tomar essa atitude extrema (SANCHES, 2019).
No que se refere a transtornos mentais, incluindo depressão, transtornos de
humor, transtornos psicóticos, de personalidade e ansiedade, podem aumentar o
risco de suicídio. Consoante a Dados da Associação Brasileira de Psiquiatria6
estima-se que 96,8% das pessoas que cometem suicídio, têm algum transtorno
mental ou distúrbio de saúde mental subjacente.
No entanto, é relevante frisar que nem todas as pessoas com transtornos
mentais ou problemas de saúde mental cometem suicídio. Existem muitos fatores
que podem contribuir para a ideação suicida, incluindo eventos estressantes da vida,
histórico familiar de suicídio, abuso de substâncias e acesso a meios letais
(SANCHES,2019).
Por isso, é significativo que os profissionais de saúde mental avaliem
cuidadosamente o risco de suicídio em pacientes com transtornos mentais e
implementem estratégias eficazes de prevenção e intervenção precoce. A detecção
precoce e o tratamento adequado de transtornos mentais também podem ajudar a
reduzir o risco de suicídio.

6 A Associação Brasileira de Psiquiatria - ABP tem o objetivo de reunir os médicos psiquiatras brasileiros, para defender quem padece de transtorno mental.
https://www.abp.org.br/.
O isolamento social e as doenças crônicas podem ser fatores de risco para
ideação, tentativa e consumação do suicídio, pois podem afetar a qualidade de vida
e o bem-estar emocional das pessoas. A ausência de suporte social e emocional
pode tornar mais difícil lidar com problemas de saúde física e mental, aumentando o
indício de desesperança e desespero (BENTO, et al. 2018).
O morar sozinho pode aumentar a ameaça de suicídio em algumas pessoas,
mas é importante salientar que isso não se aplica a todos. Algumas pessoas podem
se sentir mais confortáveis e independentes morando sozinhas, enquanto outras
podem se sentir isoladas e vulneráveis (BENTO, et al. 2018).
O preconceito e a supressão de suporte social e emocional da família e da
sociedade podem ser fatores que contribuem para o aumento do risco de suicídio
em algumas pessoas. É imprescindível que a sociedade e os profissionais de saúde
mental trabalhem juntos para reduzir o estigma em relação às doenças mentais e
oferecer suporte e tratamento adequados para aqueles que precisam (BENTO, et al.
2018).
Infelizmente, o abuso sexual na infância e na adolescência é uma realidade
triste e preocupante. Estudos têm demonstrado que as vítimas de abuso sexual
podem experimentar uma variedade de efeitos negativos em sua saúde mental e
emocional, incluindo sintomas de depressão, ansiedade, transtorno de estresse
pós-traumático e pensamentos suicidas (BENTO, et al. 2018).
A vergonha, a culpa e o medo podem fazer com que as vítimas de abuso
sexual se sintam isoladas, envergonhadas e incapazes de buscar ajuda. Isso pode
resultar em um crescimento da vulnerabilidade emocional e comportamentos de
automutilação, os quais podem ser uma maneira que se escolhe para lidar com a
dor emocional e a sensação de desespero, já que não se tem recursos psíquicos
para enfrentar a situação traumática (BENTO, et al. 2018).
O último fator levantado é o uso de substâncias psicoativas e
envenenamento. Álcool, drogas ilícitas e medicamentos prescritos, tem sido
associado a um maior risco de suicídio. O uso dessas substâncias pode afetar o
equilíbrio químico do cérebro e a tomada de decisões, aumentando a impulsividade
e a desinibição (BENTO, et al. 2018).
Pessoas que sofrem de transtornos mentais e fazem uso de substâncias
psicoativas têm um risco ainda maior de suicídio, visto que os efeitos combinados
desses fatores podem ser devastadores (SANCHES, 2019).
O envenenamento é um método comum utilizado em casos de suicídio,
especialmente em locais onde há fácil acesso a substâncias tóxicas. Infelizmente, os
agrotóxicos e o "chumbinho" são frequentemente usados para esse fim, o que é
preocupante, pois essas substâncias são altamente tóxicas e podem causar danos
graves à saúde (BENTO, et al. 2018).

A abordagem psicanalítica e o olhar da psicanálise sobre a ideação suicida.

A abordagem psicanalítica é uma abordagem terapêutica que procura


entender o paciente em sua totalidade, incluindo sua história de vida, suas relações
interpessoais e sua psique. Essa abordagem se fundamenta na teoria psicanalítica
de Sigmund Freud e seus seguidores, que postulam a existência de um inconsciente
dinâmico que influencia o comportamento humano.
O terapeuta psicanalítico procura entender os conflitos e traumas
inconscientes do paciente, que podem estar relacionados aos sintomas
apresentados. A terapia psicanalítica é um processo terapêutico longo e intensivo,
que exige uma dedicação significativa por parte do paciente e do terapeuta. O
setting adequado da terapia psicanalítica inclui um ambiente calmo e seguro, onde o
paciente pode se sentir à vontade para expressar seus pensamentos e emoções
livres de julgamentos. O psicanalista procura consolidar uma relação terapêutica que
permita ao paciente explorar suas emoções e experiências de vida (CASSORLA,
2021).
A análise das resistências e transferências é uma parte importante da
terapia psicanalítica. As resistências são defesas psicológicas que o paciente utiliza
para fugir do confronto com emoções difíceis ou que causam angústia. As
transferências são reações emocionais que o paciente projeta no terapeuta, como se
ele fosse uma figura significativa de seu passado ou uma figura idealizada. A
contratransferência refere-se aos sentimentos e reações emocionais do terapeuta
em relação ao paciente. É de extrema importância que o terapeuta reconheça suas
próprias reações e sentimentos para evitar que eles interfiram no processo
terapêutico (CASSORLA, 2021).
A psicanálise preocupa-se, principalmente, com o que não é aparente,
aquilo que está no inconsciente do indivíduo. A interpretação é uma ferramenta
fundamental da terapia psicanalítica, na qual o terapeuta ajuda o paciente a
compreender o significado inconsciente de seus pensamentos, emoções e
comportamentos. A interpretação é baseada na teoria psicanalítica e na
compreensão do terapeuta sobre a dinâmica emocional do paciente.
Os psicanalistas sempre estiveram interessados no estudo do suicídio. A
argumentação sobre a temática ocorreu na Sociedade Psicanalítica de Viena em
1910:

Nele foram ditas algumas frases que se tornaram célebres: “Só quem
perdeu a esperança de ser amado se mata”; “ninguém se mata a não ser
que tenha desejos de matar outra pessoa”; “ninguém se mata se sua morte
não é desejada por outra pessoa” (CASSORLA, 2021, p. 136).

Essas frases indicam que, para a psicanálise da época, o suicídio estava


relacionado a repressão sexual, fantasias incestuosos e masturbação, fatos que
estão em incumbência do método de identificação e aspectos internos destrutivos
(CASSORLA, 2021).
Naquele momento histórico, a psicanálise estava ainda em seus primeiros
passos e muitos dos conceitos ainda estavam sendo desenvolvidos. Com o tempo, a
psicanálise evoluiu e o entendimento sobre o suicídio também se transformou.
De acordo com Cassorla (2021), a psicanálise compreende que o suicídio
pode estar relacionado a uma variedade de fatores, tais como problemas
psicológicos, sociais, familiares, econômicos, entre outros. O suicídio pode ser
percebido como um sintoma de um problema maior, e é importante compreender as
questões internas e externas que levam a essa escolha (CASSORLA, 2021).
Ainda assim, a psicanálise continua sendo uma abordagem importante para
lidar com o suicídio, pois ela oferece uma compreensão profunda dos processos
mentais e emocionais do paciente, permitindo uma intervenção mais precisa e eficaz
(CASSORLA, 2021).
Em 1920, Freud introduziu o conceito de pulsão de morte, também chamado
de "Tânatos" ou "pulsão destrutiva". Segundo essa teoria, todas as pessoas têm
uma pulsão inata que as leva em direção à morte, oposto à vida, a qual seria o
instinto da vida, ou Eros, é definido como um gerador de impulsos inconscientes e
excitação orgânica (isto é, pulsão) que é evidenciada como uma busca de retorno ao
repouso absoluto da inexistência (CASSORLA, 2021).
Freud também destacou que as forças externas, como doenças, fome,
inimigos, entre outras, podem contribuir para a ação da pulsão de morte. Neste
sentido, as pessoas precisam desenvolver mecanismos de defesa para enfrentar
essas forças externas e proteger sua própria vida. A agressividade, isolamento,
negação seriam uns desses mecanismos de defesa (CASSORLA, 2021).
Quando a pulsão de morte se torna dominante, pode ocorrer um
enfraquecimento da capacidade de investimento psíquico em objetos externos e em
si mesmo, levando a sentimentos de desvitalização, vazio e desinteresse pela
própria vida. Nesse contexto, o indivíduo pode experimentar angústias catastróficas,
terrores de aniquilamento e desejos de desaparecer ou morrer. O suicídio pode ser
entendido como uma investida de escapar dessa realidade ou de encontrar uma
maneira de enfrentá-la (CASSORLA, 2021).
É relevante ressaltar que as pulsões de Tânatos e Eros7 não são
necessariamente opostas ou excludentes, mas sim complementares e presentes em
quaisquer indivíduos em diferentes graus. A saúde psíquica depende do equilíbrio e
da integração dessas pulsões, proporcionando uma relação satisfatória com o
mundo externo e consigo mesmo (CASSORLA, 2021).

Resultados e discussões

Os conceitos da psicanálise e sua metapsicologia, que buscam compreender


as forças inconscientes que moldam o comportamento humano, são apresentados
como ferramentas poderosas para a averiguação e acesso à natureza humana.
Alicerçado nesse entendimento, o analista pode ajudar o paciente a identificar e
trabalhar com seus conflitos internos, possibilitando uma transformação pessoal e
um alívio do sofrimento psíquico.
Destaca-se a relevância da escuta na prática psicanalítica de Freud e como
essa postura diferenciada do analista permitiu uma maior participação do paciente
no processo terapêutico, para que ele próprio possa ter conhecimento da sua
inconsciência. Ao dar à transferência evidência na clínica, Freud reconheceu a
importância das relações interpessoais e da influência do passado na vida presente

7 Na teoria Psicanalítica de Freud, Eros é o impulso que nos move em direção à vida, ao amor, à união e à criação, enquanto Tânatos é o impulso que nos move em
direção à morte, à destruição e à dissolução. A saúde psíquica depende do equilíbrio entre eles.
do paciente. Além disso, ao fazer sua própria autoanálise, o paciente pode entender
melhor a dinâmica inconsciente existente na sua vida (BASTOS, 2019).
É importante compreender que as dores psíquicas são tão reais e intensas
quanto as dores físicas e têm de ser tratadas com o mesmo respeito e seriedade.
Freud reconhece que muitas vezes as pessoas são rotuladas como imaginativas
quando apresentam sintomas psíquicos, o que reflete uma falta de compreensão e
de valorização da dimensão subjetiva da experiência humana (PEREIRA; ROSSAL,
2019).
A psicanálise se propõe a olhar para além desses pré-conceitos e buscar
compreender as causas profundas dos conflitos e sofrimentos psíquicos, muitas
vezes enraizados no inconsciente e nas relações interpessoais. Através da escuta
atenta e do diálogo terapêutico, o paciente é convidado a explorar suas emoções,
pensamentos e comportamentos de maneira mais profunda e reflexiva, buscando
um maior autoconhecimento e de suas dificuldades (PEREIRA; ROSSAL, 2019).
Assim, a psicanálise oferece um espaço de acolhimento e compreensão para
as dores da alma, reconhecendo a singularidade da dimensão psíquica na vida
humana e buscando ajudar o paciente a encontrar o alívio do sofrimento psíquico.
Segundo Fochesatto (2011), a psicanálise acredita que acessar conteúdos
inconscientes por meio da fala é uma forma de ajudar o paciente a lidar com suas
angústias e conflitos internos. Há conteúdos psíquicos reprimidos no inconsciente,
que não são acessíveis diretamente à consciência, mas que podem ser explorados
através da fala e da associação livre.
Para Sigmund Freud (1956), a pulsão de morte é uma das principais ideias da
teoria psicanalítica, que postula a existência de duas pulsões básicas no ser
humano: a pulsão de vida, que busca a sobrevivência e a reprodução, e a pulsão de
morte, que busca a aniquilação e o retorno ao estado inorgânico. De acordo com a
psicanálise, acredita-se que a pulsão de morte pode ser a fonte de angústia e
sofrimento para o paciente.
Ao acessar conteúdos inconscientes por intervenção da terapia, o paciente
pode entrar em contato com a pulsão de morte que traz angústia e encontrar
mecanismos psíquicos para lidar com ela. A ressignificação dos conteúdos
recalcados é uma técnica fundamental da psicanálise, que busca ajudar o paciente a
compreender melhor suas emoções e experiências passadas, permitindo-lhe
entender traumas e conflitos internos, para que sejam tratados em processo
terapêutico.
Portanto, o terapeuta deve estar atento aos seus próprios conteúdo internos
ao trabalhar com um paciente, especialmente quando se trata de uma abordagem
psicanalítica que enfatiza a significância da transferência e contratransferência. A
transferência é o processo em que o paciente projeta seus sentimentos e emoções
no terapeuta, enquanto a contratransferência é a resposta emocional do terapeuta a
essa projeção.
Outrossim, o terapeuta deve se esforçar para manter uma conduta analítica
sadia, o que inclui respeitar os princípios éticos e de privacidade do paciente,
criando um ambiente seguro e acolhedor para que seja possível o paciente se
expressar livremente.

Considerações Finais

Através de pesquisa e levantamento bibliográfico realizado, pôde-se


compreender que o conteúdo de ideação suicida e suicídio é bastante abrangente
na teoria psicanalítica e, que, as últimas produções acerca da temática, diante os
artigos revisados, abordam sobre a temática de maneira rigorosa com base nas
escrituras de Freud e outros psicanalistas.
Diante das hipóteses abordadas, considere-se o suicídio um assunto muito
relevante a ser abordado, pois atinge grande parte da população e precisa deixar de
ser um assunto tratado com preconceito, com fito de buscar formas de fazer com
que ao invés das pessoas buscarem esse meio para a resolução de problemas, elas
busquem ajuda de profissionais.
Para a psicanálise a ideação suicida é resultado do sofrimento psíquico
decorrente das pulsões morte. O tratamento se respalda na premissa de que o
acesso aos conteúdos inconscientes permite que o paciente encontre mecanismos
para lidar com esse sofrimento, trazendo alívio para a psique. Com base na terapia e
com a ajuda do (a) profissional psicólogo (a), o paciente pode ressignificar os
conteúdos recalcados, consistindo em um processo essencial para que compreenda
melhor suas emoções e experiências passadas, e possa trabalhar em seus traumas
e conflitos internos durante o processo terapêutico.
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