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ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA

AULA 6

Profª Jacqueline Colaço


CONVERSA INICIAL

Hoje vamos entender como a antropologia foi se criando ao longo da


modernidade e suas consequências no mundo contemporâneo.
Antropologia é “o estudo do ser humano em seu aspecto mais amplo. A
antropologia estuda as constituições do ser humano em suas origens e de maneira
irrestrita. [...] busca compreender como o ser humano formou-se e tornou-se o que
ele é” (Brasil Escola, 2022).
Começaremos pela crítica de Marx aos ideais de Hegel, quando diz que ele
faz uma inversão do que é determinante e do que é determinado.
E o que era defendido por Marx? O marxismo defendia a revolução da
classe operária, devendo esta ir contra o meio de produção da burguesia.
Defendia também que o governo deveria reprimir a burguesia para que perdesse
a manutenção do poder e que a classe proletária construísse, de forma conjunta
com o governo, sua estrutura
Já para Hegel não havia algo que fosse impossível de ser pensado. Ele
afirmava que “o real é racional e o racional é real”, não havendo possibilidade de
separar o mundo do sujeito, o objeto e o conhecimento, o universal e o particular.
Em outras palavras, “o real é efetivo” (Todo Estudo, 2022).
Iremos ver também que, na filosofia atual, o existencialismo vem como um
grupo de pensamentos filosóficos que se deram na humanidade como um marco,
um ponto inicial para as reflexões de hoje.
Temos os filósofos chamados preexistencialistas. Vamos ver sobre
Heidegger e seu sentido “do ser”, a “angústia”. Vamos falar sobre Sartre e o “ser-
em-si”, as pessoas caracterizadas pelo “nada”. Veremos também Nietzsche e sua
forma mais latente de pensar: “ouse conquistar a si mesmo”. E, ao final,
saberemos mais sobre Habermas e sua reflexão na Teoria da Ação Comunicativa.

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1830) foi um filósofo alemão


idealista que abriu novos campos de estudo na História, Direito, Arte,
entre outros, através dos seus postulamentos e da lógica dialética.
O pensamento de Hegel influenciou pensadores como Ludwig
Feuerbach, Bruno Bauer, Friedrich Engels e Karl Marx. (Toda Matéria,
2022)

Hegel faz uma inversão sobre o que é determinante e sobre o que é


determinado, em outras palavras, realidade materialmente dita e o que é
representado pelo real.
A dialética marxista é, então, apresentada como a síntese da dialética
hegeliana. Os pensamentos do século XIX geram dúvidas no século XX e, desse

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modo, o entendimento do homem fica exposto.
Um novo modo de pensamento filosófico busca demonstrar as pessoas e
como a vida surge de outra forma. Surge então o existencialismo.

TEMA 1 – MARX: O SER HUMANO É HISTÓRICO-SOCIAL

Karl Marx (1818-1883) teve imensa presença na filosofia existente, pois


havia, na época, uma grande crítica ao idealismo de Hegel ou, em outras palavras,
Marx via de outra forma. Para ele, a filosofia idealista se voltava para o
entendimento da vida real, de forma absoluta.
O filósofo tentava entender a verdadeira história dos seres humanos
convivendo de forma social. Esse modo de ver, para a história, era denominado
materialismo histórico. Para Karl Marx, não havia um ser humano que se formasse
fora da vida em sociedade. O filósofo afirmava que "a essência humana é o
conjunto das relações sociais".
O que isso significava? Queria dizer que a forma como as pessoas agem
tem relação com o modo de formação da vida em sociedade. O filósofo também
entendia que o desenvolver da história em sociedade era formado a partir dos
conceitos da dialética.

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Figura 1 – Marx

Crédito: Everett Collection/Shutterstock.

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1.1 Tradição positivista

E o que é tradição positivista?


Na tradição positivista a sociedade poderia ser compreendida da mesma
forma como são compreendidos os fenômenos da natureza. A tradição positivista
acreditava que os fatos sociais poderiam ser estudados por meio dos mesmos
métodos científicos empregados, por exemplo, nas ciências naturais.
Vamos ver dois fatores fundamentais do que Durkheim chama de fato
social. O primeiro deles é a generalidade; ela funciona para todo mundo, tem a
coerção sobre todos os comportamentos. O segundo fator é uma força coercitiva
sobre o indivíduo, maior do que o indivíduo e que está colocada para fora dele,
um tipo de consciência social para fora do indivíduo, o que quer dizer que o
indivíduo não tem sobre ela muito poder de manipulação, sendo então
constrangido por essa força.
O fato social, segundo Durkheim, consiste em maneiras de agir, de pensar
e de sentir que exercem determinada força sobre os indivíduos, obrigando-os a
se adaptar às regras da sociedade em que vivem: “O indivíduo só poderá agir na
medida em que aprender a conhecer o contexto em que está inserido, a saber
quais são suas origens e as condições de que depende. E não poderá sabê-la
[sic] sem ir à escola, começando por observar a matéria bruta que está lá
representada.” (Mundo Educação, 2022)
Os fatos sociais estão fora das consciências individuais. Eles estão em uma
consciência coletiva que não é uma consciência do grupo, mas uma consciência
da sociedade, tais como cumprir as obrigações como irmão, como marido, como
cidadão; é quando o indivíduo executa seus contratos. É mais ou menos desse
tipo de coerção e de constrangimento que Durkheim fala: “É fato social toda
maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção
exterior; ou, ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada,
apresentando existência própria, independente das manifestações individuais que
possa ter” (Mundo Educação, 2022).
Outro aspecto fundamental na obra do autor é a oposição, que vai ser uma
posição fundamental em toda a ciência social e para a sociologia, como na
antropologia e na ciência política, que é a oposição indivíduo-sociedade como
uma questão central. Para Durkheim a sociedade prevalece sobre o indivíduo,
uma vez que ela se constitui como um conjunto de normas e regras de ação
construídas de fora que se externam nas próprias regras do fato social; estão fora

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das consciências individuais. A sociedade então tem uma definição de conjunto
de normas de ação, de pensamento, de sentimento que não apenas está presente
nas consciências individuais, mas também tem uma construção social. Temos
outra definição do que são os fatos sociais, qual é o método que Durkheim
defende, que é o método de observação e a experimentação indireta, ou seja,
começa na forma comparativa.
Durkheim estava pensando em comportamentos desviantes, que chama de
patologias sociais, uma crise moral, crise essa que faz parte do objeto de
investigação do sociólogo. É o fato social como coisa e não como ideia, então há
uma diferença também fundamental na obra do autor, porque é algo que não está
na cabeça das pessoas e dos indivíduos, mas que paira sobre todos os indivíduos.
Nesse sentido a sociedade é sempre maior do que o grupo de indivíduos que a
compõe e essa condição de vida em sociedade está tentando constituir a
sociologia e o método científico.
Durkheim mostra o método comparativo, do qual falaremos mais adiante,
mas como método por excelência das ciências sociais.
Ele também apresenta uma consequência dessa consciência coletiva.
Nesse sentido, falamos dos constrangimentos e das forças de coerção, dos fatos
sociais, da Igreja, por exemplo, das instituições, das escolas, que compõem um
pouco esse quadro normatizador.
Esse quadro era a consciência coletiva e esse fato social que constrange o
tempo todo e se movimenta diante desses constrangimentos. Vamos agora
colocar as questões fundamentais sobre a obra de Max Weber.

TEMA 2 – NIETZSCHE: A BUSCA DO ÜBERMENSCH

Friedrich Nietzsche (1844-1900) faz uma crítica em relação ao


tradicionalismo filosófico ocidental, afirmando que ele vai contra a instituição que
gerou o modo de pensamento que vinha antes, a chamada filosofia pré-socrática.
O que defendia a filosofia de Nietzsche?

Nietzsche defendia a inexistência em vários sentidos: de Deus, da alma


e do sentido da vida. Para ele, o ser humano deveria abandonar as
muletas metafísicas, a chamada morte dos ídolos. O filósofo se opunha
aos dogmas da sociedade, principalmente ao defender que a verdade
era uma ilusão.

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Figura 2 – Nietzsche

Crédito: roseed abbas/Shutterstock.

Seu pensamento era baseado em Apolíneo (deus da razão) e em Dionísio


(deus da aventura), que complementavam sua visão sobre o que era real e, por
não fazerem parte da filosofia antiga, desfizeram o que, para ele, criava
essencialmente o ser humano.

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Figura 3 – Modo de ver baseado em deuses

Crédito: Alex Brylov/Shutterstock.

O filósofo faz uma crítica à moralidade e tenta impor um novo modo de


pensamento chamado genealogia da moral. Ele conclui que existe uma noção
imposta sobre o bem e o mal, ou seja, para ele o valor moral é gerado pelo próprio
homem através de seus interesses. Esse modo de pensamento crítico se volta
para o cristianismo que, segundo Nietzsche, deixa de ser verdade absoluta e se
torna apenas uma forma de interpretar a sociedade como um todo. Pensando
dessa forma, há um avanço do chamado niilismo moderno afirmado pelo filósofo,
que tem a visão voltada para o denominado Übermensch.

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Figura 4 – Nietzsche

Crédito: Everett Collection/Shutterstock.

TEMA 3 – HEIDEGGER: O SENTIDO DO SER

Martin Heidegger (1889-1976) rompeu com o modo de pensar dominante


na filosofia contemporânea e fez uma averiguação direta voltada ao ser. O filósofo
achava que o motivo principal da filosofia é o ser humano e sua criação foi o que

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gerou tudo no mundo.

Martin Heidegger elaborou um pensamento com importantes


consequências para a compreensão do ser humano. Sua descrição do
homem como Dasein implica numa mudança de paradigma que
pretende superar a relação objetificadora que se instalou na civilização
ocidental, ou seja, na Metafísica.

Heidegger começou averiguando a existência do ser, pois ela é,


essencialmente, o consciente humano. O modo de pensar heideggeriano critica
tudo o que era considerado confuso no decorrer da história. Para ele, o ente é a
nossa criação e os modos de ser manifestados.
O ser é essencial, iluminado, o que dá vida a nossa própria existência.
Através desse modo de pensar é permitido enxergar os dois lados das bases
heideggerianas.
O primeiro conceito é baseado no conhecimento do ser humano, quando
analisado. O segundo conceito sai desse pensamento e se volta para a criação
do homem e sua existência. Esse filósofo foi responsável pela terminologia
chamada Dasein ou ser-aí.

TEMA 4 – SARTRE: A RESPONSABILIDADE POR AQUILO QUE FAZEMOS

Jean Paul Sartre (1905-1980) foi um dos filósofos mais respeitados na fase
conhecida como existencialismo. Sua principal criação foi o livro O ser e o nada,
em que ele faz um ataque ao modo de pensar de Aristóteles.
Esse filósofo enxergava que o ser é o que é, ou, o ente em si. O ente não
era considerado de maneira passiva, nem o sim nem o não, mas que descansa
em si mesmo, de maneira maciça e rígida.
Seres humanos, de modo geral, são denominados para ele o ser ente para-
si, o qual se opõe ao ente em-si, ou, em outras palavras, o ente para-si é o nada.
O filósofo afirma que o principal conceito típico humano é o nada, um
espaço visto como aberto. Essa forma de pensamento não quer dizer que o ser
humano seja o nada, porque tem corporeidade, porém o nada é o princípio, o que
gera o chamado ente não estático, que tem livre acesso a novas conquistas e
poder de modificação. O consciente é o que ele chama de espaço aberto e a
liberdade é poder de mudanças escolha. Se o homem fosse considerado
completo, não teria essas duas condições, a da consciência e a da liberdade.

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Figura 5 – Sartre

Crédito: Marusya Chaika/Shutterstock.

TEMA 5 – HABERMAS: A TEORIA DA AÇÃO COMUNICATIVA

Dentre os teóricos da Escola de Frankfurt, o que mais exerce influência


atualmente é Jürgen Habermas (1929-). De acordo com Habermas, o pensamento
de Adorno e Horkheimer sobre a razão emancipatória pode levar a uma crítica
radical em relação à modernidade e, consequentemente, da razão, o que poderia
levar ao irracional.
Essa razão é chamada ação comunicativa do uso da linguagem como meio
para conseguir o consenso. O fruto da ação comunicativa é que a verdade se
torna intersubjetiva. Nesse sentido, o homem, para Habermas, não é muito
diferente daquele descrito por Sócrates.

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Jürgen Habermas é um filósofo e sociólogo alemão vinculado à teoria
crítica, corrente de pensamento desenvolvida pela Escola de Frankfurt,
e ao pragmatismo contemporâneo. Habermas trabalhou como assistente
de ensino do professor Theodor Adorno no Instituto de Pesquisa Social
da Universidade de Frankfurt, o que o colocou como um representante
da chamada “segunda geração” da Escola de Frankfurt. Os estudos de
Habermas centram-se na ação comunicativa como forma de entender-
se a ética e a política. (Brasil Escola, 2022)

Figura 6 – Habermas

Crédito: 360b/Shutterstock.

NA PRÁTICA

Para que possamos fixar os conteúdos trabalhados, vamos elaborar um


quadro sobre o pensamento dos séculos XIX e XX e suas influências. Retomando
as correntes filosóficas do marxismo, do existencialismo e da Escola de Frankfurt,
apresente as principais questões filosóficas de cada corrente, bem como seus
conceitos e influências.

FINALIZANDO

Nesta etapa entendemos um pouco sobre como a antropologia foi se


criando ao longo da modernidade e suas consequências no mundo
contemporâneo por meio do pensamento de alguns estudiosos.
Falamos sobre modos de pensar filosóficos que buscaram mostrar o

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surgimento da vida e do existencialismo e sobre a tradição positivista.
Os filósofos que conhecemos foram Marx, com o tema do ser humano
sendo histórico-social; Nietzsche e sua forma de pensar, o Übermensch;
Heidegger e o sentido do ser; Sartre e a responsabilidade por aquilo que fazemos
e Habermas e a teoria da ação comunicativa.

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