A Doença Da Vanglória
A Doença Da Vanglória
A Doença Da Vanglória
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A doença da vanglória
Quem busca a própria glória, e não a de Deus, torna-se incapaz de reconhecer a verdade
sobre si mesmo e, portanto, de crer no Único que nos pode redimir.
Naquele tempo, disse Jesus aos judeus: “Se eu desse testemunho de mim mesmo, o
meu testemunho não seria digno de fé. Outro é que dá testemunho de mim, e sei que
é digno de fé o que afirma de mim. Vós mandastes perguntar a João e ele deu
testemunho da verdade. Mas não invoco testemunho humano; se vos digo isto, é
para vossa salvação. João era uma lâmpada que queimava e iluminava e à sua luz
quisestes vos alegrar um momento. Mas tenho um testemunho maior que o de João:
as obras que o Pai me deu para cumprir. Essas obras eu as faço e dão o testemunho
de que o Pai me enviou. Sim, o Pai que me enviou dá testemunho de mim. Nunca
ouvistes sua voz, nem vistes sua face, nem conservais em vós sua palavra porque
não credes naquele que me enviou. Percorreis as Escrituras, pensando ter nelas a
vida eterna, mas elas também dão testemunho de mim, e vós não quereis vir a mim
para terdes a vida! Não recebo a glória que vem dos homens. Aliás, eu vos conheço:
não tendes em vós o amor de Deus. Vim em nome de meu Pai e não me recebeis; se
outro vier no seu próprio nome, certamente o haveis de receber. Como é possível
que creiais, se recebeis glória uns dos outros e não procurais a glória que só vem de
Deus? Não penseis que vos acusarei ante o Pai. Vosso acusador será Moisés, em
quem colocais todas as vossas esperanças. Porque, se acreditásseis em Moisés,
acreditaríeis também em mim, pois foi sobre mim que ele escreveu. Mas, se não
credes nos seus escritos, como acreditareis nas minhas palavras?”
No Evangelho de hoje, Jesus olha para os fariseus e lhes diz: “Como é possível que creiais, se
recebeis glória uns dos outros e não procurais a glória que só vem de Deus?” Isso nos
mostra, em primeiro lugar, que o pecado da vanglória é um grande empecilho à fé. Trata-se de
uma doença espiritual que subjaz, não raras vezes, a uma vida já convertida, a obras de
aparente virtude, a um caráter livre daqueles vícios mais grosseiros e escandalosos como o
roubo, o homicídio, a fornicação, a intemperança etc. A vanglória é como um verme, discreto
e quase imperceptível, que se oculta nas entranhas da alma. E é justamente aí, nessa
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discrição venenosa, que reside o seu perigo, pois os pecados, quanto mais espirituais,
menos se notam e, contudo, mais fazem dano. Basta pensar, por exemplo, que a queda de
Lúcifer se deveu não a bebedeiras e destemperos sexuais, mas à soberba e à vaidade. Aqui
está a dificuldade dos fariseus: são homens convertidos, fiéis às menores cláusulas da Lei,
que praticam, sim, o que é certo, mas pelas razões erradas. Toda a sua justiça, mais fingida do
que qualquer outra coisa, tem aquela nódoa de vaidade, de autocomplacência, de prudência
humana, de interesses distorcidos. Mas nós, se queremos de coração ser todos de Deus,
precisamos nos humilhar diante dele, como aquele publicano arrependido de que nos falava
o Senhor há poucos dias. Todas as páginas do Evangelho, com efeito, dão testemunho de
que são os que se humilham aos pés de Cristo que acabam convertendo-se — a adúltera, a
mulher pecadora, o bom ladrão, todos ecoam a súplica do cego Bartimeu: “Jesus, Filho de
Davi, tem compaixão de mim” (Mc 10, 47). Que também as nossas vozes, brotando de um
coração contrito e humilhado, possam associar-se ao coro dos pequeninos e humildes a
quem o Pai se dignou revelar os seus mistérios.
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