LucianoVieiraRocha Dissert
LucianoVieiraRocha Dissert
LucianoVieiraRocha Dissert
JOÃO PESSOA
AGOSTO DE 2011
1
JOÃO PESSOA
2011
Catalogação na publicação
Seção de Catalogação e Classificação
DEDICATÓRIA
A todo aquele que faz da vida sua religião, do trabalho sua manifestação de fé e agradece
com a doação.
AGRADECIMENTOS
À força criadora da vida, que traça e/ou possibilita o destino e/ou nossas possibilidades
materiais e espirituais, que nome se dê nas religiões ou religiosidades, idiomas ou dialetos não
importa.
Ao meu pai, pelo incentivo e pelos debates “filosóficos” tidos entre nós, sua colaboração
bibliográfica e revisão textual;
A Josevânia ...;
Aos meus irmãos, que sempre acreditam nos potenciais das pessoas e foram /são suporte
fraterno durante toda minha vida;
A todos os professores pelos quais passei em minha vida: ajudaram-me a concluir mais
essa etapa;
EPÍGRAFE
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE MAPAS
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 13
3 INTOLERÂNCIA RELIGIOSA 39
3.1 DELIMITAÇÃO HISTÓRICA E FILOSÓFICA 39
Raízes documentais da ideia atual de tolerância religiosa 39
John Locke e a tolerância religiosa 45
O Tratado sobre a tolerância de Voltaire 48
3.2 CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE INTOLERÂNCIA 51
O conceito no contexto político da modernidade ocidental 51
O conceito contemporâneo 53
4 O CAMINHO E A VERDADE 56
4.1 O CAMINHO – CATOLICISMO PORTUGUÊS RUMO AO NOVO MUNDO 56
Portugal, um estado católico 56
A expansão religiosa 60
O catolicismo português 61
Dicotomias sobre o Novo Mundo 65
11
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 88
REFERÊNCIAS 91
13
1. INTRODUÇÃO
A intolerância religiosa, ocorrida nos séculos XVI e XVII, pode-se classificar como
intolerância civilizatória (CAVALCANTI, 2010), pois por meio da religião implementa-se a
cultura lusitana no Brasil, justificando-se o aparelhamento de Estado, a reorganização social, e
a sistematização econômica: esta, a princípio, extrativismo e, posteriormente, a monocultura,
em detrimento de todo um modo de vida anterior ao contato com os europeus, com diferentes
paradigmas sociais e culturais.
A presente pesquisa é identificada como História das Religiões, área conexa que
chega a se confundir com a das Ciências das Religiões, uma área de reconhecimento acadêmico
recente, em que se adota uma perspectiva de construção e de ampliação dos estudos sem
proselitismo religioso nas abordagens temáticas.
A respeito das análises comparativas dos fenômenos religiosos com a história das
religiões, segue-se a linha apresentada em Origens (ELIADE, 1989), que busca entender como
o fenômeno religioso é compreendido em seu contexto, de acordo com as correntes de
pensamento de cada época, aprofundado melhor no próximo capítulo.
sentido dos jesuítas sobre si. Os resultados serão apresentados no capítulo 3, identificando os
aspectos de intolerância presentes nesse perfil frente ao nativo.
Dessa forma, o presente trabalho pretende também ser suporte para intervenções
que venham a difundir a tolerância pelo do conhecimento e pelo respeito das diferenças nos
choques religiosos ocorridos na História do Brasil. Indica-se que se reflita sobre uma
convivência harmoniosa entre os múltiplos pontos de vista, sejam eles religiosos, sejam
culturais. Manifesta-se mais uma vez o conhecimento das identidades religiosas como uma
parte complexa das relações sociais.
Durante toda a Idade Média até a Idade Moderna, com a ascensão da História como
ciência, havia, para o ocidente, a visão de linearidade do tempo rumo à escatologia devido à
forte influência da Igreja Católica, na construção do conhecimento. Prova disso são as teorias
escatológicas do ano mil e da descoberta do Novo Mundo. Isso a reflete o problema da distinção
entre tempo histórico e devir histórico, isto é, as transformações ocorridas com o passar do
tempo nas sociedades em seus diversos aspectos (LeGoff, 1994).
20
Nos calendários, têm três marcos iniciais bem distintos: a criação do mundo
segundo a Torá para os judeus, na primeira linha; O nascimento de Jesus Cristo, para os cristãos
na segunda; A fuga de Maomé para Medina, denominada de Hégira para os muçulmanos, na
terceira.
Dessa forma, pode-se observar o quão diverso pode ser o entendimento cronológico
a partir da religião, mesmo as três religiões possuindo a mesma raiz originária. O Livro de
Gênesis do Antigo Testamento e um entendimento linear da passagem do tempo
à escatologia, isto é, ao Fim do Mundo, tanto um como o outro são únicos e irreversíveis.
(ELIADE, 2007)
1
Gráfico autoral construído com dados da pesquisa (COTRIM, 2010).
21
A humanidade então, vive o tempo religioso graças a sua mitologia fundadora, com
a criação do mundo, aspira a redenção a partir do início da contagem do tempo com a vinda do
salvador e aguarda seu retorno escatológico. Finda a contagem do tempo, vivenciando apenas
o sagrado a partir de então. Sob o cristianismo, o tempo religioso – pode parecer paradoxal- é
vivido na história.
Sobre a Criação do Mundo, Eliade aponta como o homem religioso aplica o mito
da criação no mundo em que o revive a partir de suas criações e descobertas, como no caso da
chegada ao continente americano onde houve uma edenização -por alguns- das novas terras,
remetendo ao paraíso de Adão e Eva.
Por outro lado, também houve uma conotação negativista da descoberta das novas
terras como uma espécie de purgatório terrestre, como analisa Laura de Mello e Souza, em
algumas de suas obras como Inferno Atlântico. Contudo, a representação dualista possui caráter
religioso, com uma interpretação escatológica da história da humana como parte do plano
divino. Os jesuítas buscavam este fim escatológico ao converter os indígenas, tirando-lhes de
sua própria cultura e introduzindo o cristianismo europeu.
Sendo o rumo à escatologia um dos pilares da ética social cristã, ocorre a vivência
de uma ambivalência entre salvação e condenação no fim dos tempos. Buscando assim,
interpretar sinais dessa escatologia na vivência diária e apontar fundamentos, principalmente,
nas passagens bíblicas do livro Apocalipse. Mais adiante, no capítulo 3, retomar-se-á o discurso
ambivalente quanto à percepção de mundo cristã, no contexto da colonização.
As referências
2
Ponto de Vista científico-evolutivo, consistindo na transformação das espécies hominídeas durante o
Paleolítico.
23
Seguindo esse raciocínio, o passado é tido como um tempo em que os fatos podem
ser remontados e reanalisados, em contradição com correntes historiográficas cristãs que tinham
uma concepção fatalista e linear da direção e significado do tempo tido como escatológico ou
determinista. (SILVEIRA, 2004).
3
Febvre, 1949, p.428 Apud Jacques Le Goff, “Documento/Monumento” In: História e Memória.
Tradução Bernardo Leitão... [et al.] Campinas: Editora da UNICAMP, 1994, p. 107.
24
Como os povos que entraram em contato com os jesuítas não dominavam a escrita
nem possuíam um costume de registrar os acontecimentos, não tinham uma produção
documental formal de funcionalidade historiográfica, sendo seus conhecimentos transmitidos
oralmente de geração para geração. Nesse sentido, a história produzida pelos jesuítas é tratada
como precursora das Ciências das Religiões4, em que há um tratamento das fontes não nos
aspectos espirituais da religião, mas sim de como eles atuaram na nossa sociedade e marcaram
nossa identidade cultural brasileiro, com um recorte de conhecimento do ponto de vista da
época.
O Jesuíta que aqui lançou as sementes da pregação cristã, via seu mundo
com olhos contemporâneos, sob a ótica do século. Sua ação se regia
pela visão o orbis christianus(...) a imagem cristã medieval do mundo
(PAIVA, 2006 pp.21-22)
4
Recorde-se que o termo Ciências das Religiões é parcialmente sinônimo de História das Religiões.
25
Este cristianismo estava passando por reformas e adaptações a partir das mudanças
que culminaram, a partir do surgimento do luteranismo, com uma ruptura de setores cristãos
com a Igreja Católica, o que demonstra que a chegada da religião ao Brasil foi um catolicismo
de contatos e de adaptações com um novo referencial, o de conquistar adeptos e súditos no
Novo Mundo. Um cristianismo reformado! Tridentino.
História eclesiástica
O presente trabalho tem como foco não a História do catolicismo no Brasil, mas a
ação de uma das ordens atuantes, a Companhia de Jesus, utilizando-se do entendimento de
outras ordens ou instituições, como o caso da Inquisição, para levantamento da mentalidade
religiosa católica na sociedade colonial. Por Inquisição, entende-se nesse contexto, o Tribunal
do Santo Ofício atuante em Portugal.
A história comparada é fundada pelo alemão Max Muller na metade do século XIX,
iniciando a utilização do termo Religionswissenchaf Ciência da Religião. utiliza-se de seus
trabalhos como filólogo interpretando o Veda, texto hindu. Sua atividade consiste, então em
uma equiparação de termos e de crenças entre as religiões analisadas, com a publicação da obra
Rig Veda.
Max Muller não partiu de uma metodologia histórica tradicional propriamente dita,
para o entendimento em sua história comparada, e sim das interpretações linguísticas indo-
europeias, sistematizando e correlacionando os significados religiosos.
O estudo sobre intolerância religiosa católica pode ser analisado como um corte
transversal, pela ação jesuítica pela adaptação à religiosidade indígena e pelas absorções das
28
duas partes, de modo que não é um estudo que abarca apenas uma religião, mas integra
elementos da diversidade religiosa colonial.
Nova História
A revista, que tem hoje mais de sessenta anos, foi fundada para
promover uma nova espécie de história e continua, ainda hoje, a
encorajar inovações. As ideias diretrizes da revista, que criou e excitou
entusiasmo em muitos leitores, na França e no exterior, podem ser
sumariadas brevemente. Em primeiro lugar, a substituição da
tradicional narrativa de acontecimentos por uma história-problema. Em
segundo lugar, a história de todas as atividades humanas e não apenas
história política. Em terceiro lugar, visando completar os dois primeiros
objetivos, a colaboração com outras disciplinas, tais como a geografia,
a sociologia, a psicologia, a economia, a linguística, a antropologia
social, e tantas outras. (BURKE, 1991)
29
5
Victor Meireles. A Primeira missa no Brasil. Óleo sobre tela em exposição no Museu Municipal de
São Paulo. Disponível em: https://www.infoescola.com/historia/primeira-missa-no-brasil/
30
Percebe-se que essa figura acima não é apenas uma fonte histórica, é um trabalho
no campo da arte, servindo para análise do imaginário do pintor e da pintura sobre a história no
século XIX. Graças aos simbolismos presentes religiosos católicos, como a cruz e a
indumentária dos que estão mais próximos do símbolo e pela reação dos índios que estão
presentes, alguns com curiosidade apontando, abaixo à esquerda, ou rejeitando, pajé em pé
abaixo à direita.
O resultado da análise de uma fonte histórica por qualquer método ou área, será,
sem sombra de dúvida, uma análise historiográfica, seja da época em que foi produzida ou que
representa. Assim, a análise de uma fonte que remete ao fenômeno religioso será abraçada pelas
Ciências das Religiões.
Multidisciplinaridade
Têm-se como principais disciplinas-base para o estudo das Ciências das Religiões
a história, a sociologia, a psicologia, a antropologia e a linguística. Essas disciplinas-base,
porém, isso não se restringem a essas áreas: podem ser aplicadas a diversos campos da área da
saúde e tomar seus objetos para análise do fenômeno religioso.
E complementa:
Dessa forma, é necessário ter sempre em mente que esta concepção de religiosidade
vem das últimas décadas do século XX: as características do homo religiosus estavam presentes
nas sociedades indígenas, porém, não eram compreendidas como formas religiosas pelo
cristianismo institucional, pois, durante muitos séculos, só houvera a compreensão teológica,
fora isso uma negativa de outras manifestações religiosas como autênticas.
A Sociologia e as religiões
O filósofo e sociólogo alemão, Karl Marx, num primeiro momento de seus estudos
assemelha religião à alienação, posição refletida em uma de suas célebres frases: “a religião é
o ópio do povo”. Contudo, essa frase não resume as ideias completas do filósofo. A partir de A
Ideologia Alemã, ele passa a considerar a religião como ideologia, sendo um reflexo das
relações de dominação, chegando a afirmar em O Capital: “O mundo religioso é o reflexo do
mundo real” (MARX, 1965 p.623).
Vale lembrar que Marx não dedicou suas obras à religião, senão aos aspectos
econômicos das relações sociais. Ela foi mencionada como componente importante da estrutura
social, na formação das ideias e na convergência das pessoas de aspirações dogmáticas
semelhantes.
Essa identificação possui uma influência econômica que Weber chama de ethos
econômico, que permeia sua produção em várias obras, sendo a análise sociológica das religiões
uma constante nos seus livros, destacando:
ou na organização social, senão de importante valor interpretativo: cada grupo possui seus
valores de acordo com o seu contexto. Ele aprofunda essa abordagem no livro Sociologia das
Religiões. (WEBER, 2010)
Antropologia e religiões
Nesse sentido, Cristina Pompa na obra Religião Como Tradução, serve-se da base
teórica de aplicação do conhecimento antropológico, destacando a análise histórica dos jesuítas
das cartas dos missionários:
existência.” (ELIADE, 2007 p.8). Ou seja, o mito revela como deve ser a vivência das
atividades mais significativas para o homem.
Tanto nos mitos quantos nos ritos estão os símbolos que são uma das formas de se
expressar a religiosidade, ou seja, é um tipo de linguagem não verbal que remete à uma
significação, no caso, espiritual que dá sentido à leitura do mundo religioso, como afirma
Rubem Alves:
3. INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
Cada uma das revoluções burguesas gerou um documento que inspira a Declaração
Universal dos Direitos do Homem, documento que norteia a harmonia social atualmente. São
eles, respectivamente, a Declaração dos Direitos (Bill of Rights); A Declaração dos Direitos do
Estado da Virgínia (1776); Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
40
“Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo
opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem
pública estabelecida pela lei.” (FERREIRA, 1978)
6
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, pintura de Jean-Jacques-François Le Barbier, c. 1789,
óleo sobre tela, 71 cm x 56 cm, Museu Carnavalet, Paris. Disponível em:
https://ensinarhistoria.com.br/declaracoes-dos-direitos-seculo-xviii-avancos-limites/
41
Artigo 18º
7
Nos referimos à Idade Moderna.
42
Até o século XVII, havia cartas de pensadores e livros que abordavam a intolerância
religiosa. A partir da Proclamação dos Direitos à liberdade religiosa como direito e
característica das sociedades do mundo moderno, tal liberdade passa a ganhar grande destaque
nas diretrizes jurídicas das nações.
Estes documentos e revoluções tiveram sua importância nas relações sociais de suas
sociedades: no Direito, na Filosofia e na compreensão do seu tempo. Eles inspiram o princípio
diretriz da boa vivência entre as nações, entre povos e entre indivíduos na sociedade
contemporânea do século XXI. A partir deles, tem-se a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, assinada pela Organização das Nações Unidas em 1948, que, especificamente,
quanto à tolerância religiosa, aponta as seguintes diretrizes:
Artigo II.
(...)Artigo XVIII.
(...)Artigo XXVI.
(...)1.4 (...). Significa também que ninguém deve impor suas opiniões a
outrem. (UNESCO, 1995)
8
Sistema político-filosófico-social que baseia-se na defesa da liberdade individual contra a coerção do
Estado, nos campos político ,econômico, religioso e intelectual, melhor estruturado a partir do século XVII.
45
caracteriza-se, pela tradição liberal, como doutrina dos direitos naturais, fundando os Direitos
Humanos na modernidade. (Abbagnano, 2003)
John Locke é identificado com um dos grandes nomes da tradição liberal moderna
com influência já no século XVII e consolidada no século XVIII, dentro de sua produção
filosófica. Uma das suas obras que mais se destaca no campo da liberdade religiosa é a Carta
Acerca da Tolerância, escrita entre 1685-1686, durante o exílio na Holanda, publicada somente
em 1689, de forma anônima e em latim.
Inglês, criado numa família anglicana, ao fim da vida, Locke declarava-se apenas
cristão, sendo percebido em sua época, no campo religioso, como um teólogo racionalista. Ele
tem uma grande importância nas ciências humanas, sendo considerado o idealizador do
empirismo, sistema filosófico-científico que afirma os homens aprenderem pela experiência.
Locke identifica a igreja como uma sociedade livre e voluntária sobre a qual
argumenta:
Por outro lado, o cuidado de cada homem pertence a ele próprio: não há leis que
obriguem ninguém, por exemplo, a seguir determinada profissão. Cada um atua de acordo com
seus interesses. Também não caberia ao estado criar leis que obriguem o homem a seguir esta
ou aquela doutrina do príncipe, confirmando-se um processo de intolerância religiosa aos que
não seguem a religião do monarca.
Assim, o indivíduo como cidadão teria seus direitos civis invioláveis e preservados,
não cabendo à igreja a atuação neste campo, sendo ela responsável por analisar pelos critérios
da caridade, evitando qualquer injúria por parte do Estado ou pela igreja em decorrência das
escolhas pessoais de credo.
Seguindo esta linha de raciocínio, John Locke discute que não cabe aos membros
do clero possuir autoridade sobre os que não conhecem suas doutrinas específicas, isto é, os
leigos, pois seu poder está restrito aos limites da igreja. Expõe que:
A disseminação das ideias liberais na França, contudo, não refletem sua prática,
devido à grande discriminação sofria pelos reformistas não católicos, não tendo direitos civis
legais, como casamento e herança, fora do catolicismo. É nesse contexto que o pensador francês
dará grande contribuição ao iluminismo no tocante às liberdades individuais nessa passagem
tomamo-lo como referência e inspiração para os documentos já referidos e para os costumes
sobre a tolerância religiosa.
Creia ou o odiarei; creia ou lhe farei todo o mal que puder; monstro,
você não tem minha religião, portanto, não tem religião alguma; é
necessário que você se torne o horror de seus vizinhos, de sua cidade,
de sua província. (VOLTAIRE, 2008 p. 43)
No caso de Jesus Cristo, é atribuída a dissidência religiosa dele aos judeus, sendo
estes os únicos inimigos dos cristãos, não os romanos, como Voltaire demonstra no trecho:
Quanto aos judeus, Voltaire dedica dois capítulos apontando-os como um povo de
extrema tolerância, mesmo com direito divino sobre os outros povos. Finaliza um dos capítulos,
50
afirmando que o Deus judeu não apenas tolerava como também tinha um cuidado paternal com
todos os povos.
9
Um dos principais concílios do catolicismo convocado por Paulo III, com a finalidade de assegurar a
disciplina do clero católico e a unidade da fé. Uma resposta às Reformas Protestantes no Século XVI.
53
do Estado, faz parte do imaginário religioso moderno como Voltaire, analisa no Tratado Sobre
a Tolerância, algo inconcebível pela cristandade atual.
Na Idade Moderna, a religião fazia parte do jogo político com bastante força,
fortalecendo e legitimando o poder real, que havia surgido enfraquecido no decorrer da Idade
Média com o declínio do comércio e do isolamento das cidades. Na primeira grande cisão10 do
Cristianismo moderno no século XVI, o discurso sobre a intolerância religiosa apresenta mais
uma aspiração política e social, do que religiosa propriamente dita pelo dogmatismo cristão.
O conceito contemporâneo
10
A Reforma Luterana em 1517. A excomunhão de Lutero e crescente número de seguidores a partir da publicação
das suas críticas à Igreja Católica resulta no surgimento de uma nova Igreja cristã, sem subordinação ao papa.
54
11
Charge de NANI: Campanha de uma nota só - Religião. Disponível em:
http://www.nanihumor.com/search/label/%eleicoes202010
55
A charge acima serve de exemplo que na vida política atual se faz necessário
apresentar-se com identidade religiosa na maior parcela da população. O uso da religião na
campanha também ocorreu em eleições Estaduais.
Para entender o processo social dessa negação do outro analisa-se como se deu a
introdução do cristianismo no Brasil pela Companhia de Jesus, tomando sua doutrina como a
única verdade: negam-se cultos não cristãos e trazem para si as futuras gerações que originam
em parte a religiosidade católica no Brasil.
4. O CAMINHO E A VERDADE
4.1. O CAMINHO - CATOLICISMO PORTUGUÊS RUMO AO NOVO MUNDO
12
Os muçulmanos haviam ocupado a Península Ibérica do início do Século VIII até o final do século XV.
13
Formação das monarquias nacionais de Portugal e Espanha. (COTRIM, 2010 pg.255.)
57
Desde sua formação como estado nacional, Portugal tem o catolicismo como uma
das afirmativas de identidade nacional de grande valor tanto do Estado quanto do aspecto social,
tendo servido também como um aglutinador de interesses. Esse processo compreende as
condições históricas que proporcionaram a formação simultânea da nacionalidade e do Estado,
onde a organização política existente permitiu a duradoura luta contra os muçulmanos e contra
as forças de Leão e de Castela, que também participaram da luta pela reconquista da Península
Ibérica.
O primeiro rei de Portugal foi D. Afonso Henrique, tendo seu primeiro ato de
reconhecimento da independência, com a vitória em São Mamede14, sobre as intenções do reino
de Galiza em incluir Portugal nos seus domínios. Porém, o reconhecimento formal se dá por
parte da Igreja de Roma. Dessa forma, o Estado nasce a partir do reconhecimento de D. Afonso
Henrique pela Igreja em 1179, caracterizando-se a união entre a Igreja e o Estado português
desde já.
14
Torneio de jogos entre nobres que valia acordos políticos.
58
cosmogonia cristã foi na Batalha de Ourique15, tendo Sant´Iago de Compostela como patrono
na expulsão dos mouros. Neste sentido José Hermano Saraiva aponta:
Dessa forma, confirma-se mais uma vez o sentimento do povo português como uma
nação abençoada por Deus frente à sua fidelidade em devoção ao catolicismo. Esse sentimento
se repetirá outras vezes, até mesmo na colônia, como no processo de expulsão dos Holandeses,
relatado por Evaldo Cabral de Mello16: “Os milagres são não só a causa da vitória mas também
‘nosso maior brasão’" (MELLO, 2008, p. 260)
Expansão religiosa
15
Em inferioridade numérica os cristãos vencem o exército mouro.
16
A obra Rubro Veio, é um levantamento do imaginário lusitano sobre a reconquista de Pernambuco, que
havia sido invadida pelos holandeses e lá estavam à quase um quarto de século.
59
O progresso náutico e o avanço por águas cada vez mais longínquas não é fruto de
empreitada de determinado grupo comercial, mas sim o resultado de trabalho técnico conjunto
que buscava ampliar o poder do rei, fortalecer o comércio e difundir a fé católica.
Muito do que se vê hoje apenas como intolerância religiosa, dar-se-á como parte de
uma destinação divina que marcou a constelação simbólica fundadora da nação portuguesa.
Sendo assim, teria a missão de levar o cristianismo a todos.
Tal simbolismo está presente na imagem abaixo nas várias cruzes presentes no
estandarte, no Brasão português, nas bandeiras das caravelas e no cetro, o que aponta para a
forte ligação da expansão marítima portuguesa com a Igreja Católica, no imaginário moderno.
17
Iconografia de Ernesto Casanova, parte da edição de Os Lusíadas de 1880. Disponível em:
< http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Vascodagama.JPG >
60
Um outro fator, no século XIV, também é destacado pelo historiador Arno Wehling
com motivador para a expansão marítima:
estenderia às novas regiões, levado por diversas Ordens como: as dos missionários jesuítas, as
dos franciscanos e as dos capuchinhos, além das intervenções do Santo Ofício na colônia.
como explica Felipe Fernández – Armesto, no qual o protestantismo surge não como uma
O catolicismo português
do Estado, a identidade apenas cristã é assimilada pela sociedade portuguesa, as duas últimas
começaram a ser excluídas com a Reconquista, não sobrando elementos substanciais para
estudos de culturas tão ricas.
A expressão viver com o “credo na boca” passaria a ser uma constante ante as
perseguições da intolerância religiosa portuguesa aos muçulmanos e aos judeus, que, inclusive
foram recebidos por Portugal, enquanto Aragão e Castela18 os perseguiam, para, depois também
expulsá-los ou eram, então, convertidos ao catolicismo sem mais opções e se tornariam os
principais inimigos do catolicismo português durante séculos, já que os muçulmanos não
representavam mais uma ameaça. Os inimigos da fé seriam, depois os judeus conversos,
chamados de cristãos-novos.
A migração dos judeus e cristãos novos vem a ser uma das necessidades atendidas
pela expansão marítima, que, ao alargarem a fila de marinheiros purgavam seus pecados
enfrentando o mar. Além disso serviam à Coroa portuguesa. Dessa forma, Portugal buscava ser
uma nação unicamente católica.
18
Reinos da Península Ibérica.
63
Ser lusitano é sinônimo não somente de professar o credo católico, mas vivenciá-
lo. Contudo, isso não basta. É necessário possuir uma genealogia católica a fim de ter uma
pureza de sangue, principalmente, para adentrar nas ordens religiosas ou na Inquisição e levar
as práticas adiante na sociedade.
Algumas das práticas mais comuns do catolicismo português na vida privada, que
mantinham a força da religião eram: a confissão auricular; os espaços estilizados de capelas
particulares, mas de acesso público, sendo, assim, ponto de coesão social; a relação pessoal com
o sagrado pela oração, destacando-se entre, suas finalidades, a proteção e as necessidades
básicas da vida diária e o entendimento da comunidade como o conjunto dos vivos e dos mortos,
dos pecadores e dos santos. (MATTOSO, 2011)
19
São Sebastião é um santo protetor português que morrera crivado por flechas.
65
Uma lista enorme de produção historiográfica atual pode ser elencada, mas tome-
se como principal referência Ronaldo Vainfas que, na obra A Heresia dos Índios, faz um
esclarecimento da mentalidade portuguesa do combate com as sombras, isto é, diante do
desconhecido apontar algo negativo do seu repertório imaginário mediante animalização e
demonização, analisadas com relação aos rituais indígenas ou com relação ao:
A partir do mapa a seguir, pode-se ter uma melhor noção do impacto geográfico
que a expansão marítima produziu. Pelo mapa mundi que o veneziano Fra Mauro produziu a
pedido da coroa portuguesa em 1459 pode-se perceber o fenômeno:
20
FRA MAURO. Mapa Mundi. 1459. Disponível em:
< http://commons.wikimedia.org/wiki/File:FraMauroMap.jpg >
67
Por outro mapa, feito pelo cartógrafo Abraham Ortelius em 1570, intitulado o
“Typvs Orbis Terrarvm”, que numa tradução literal seria “Tipo do Mundo das Terras”
apresenta-se novas dimensões geográficas do mundo conhecido:
21
ORTELIUS, Abraham. Typvs Orbis Terrarvm.1570 Disponível em:
< http://commons.wikimedia.org/wiki/File:OrteliusWorldMap1570.jpg?uselang=pt >
68
Por outro lado, o historiador brasileiro, Sérgio Buarque de Holanda, faz uma análise
das representatividades que possuíam os animais no Brasil encontrados pelos portugueses, a
partir das obras modernas e medievais, fazendo sempre a associação com o bestiário ou fábulas
medievais que relatavam criaturas semelhantes e com os diversos significados que a um mesmo
animal poderiam ser atribuídos. Por exemplo, a jiboia, era ora associada à serpente do mal, ora
à cautela e sabedoria. (HOLANDA, 2000).
Vale lembrar que essas são as percepções dos historiadores a partir dos documentos
e das obras da época que eles destacam e tomam como objeto de estudo. A narrativa
historiográfica na atualidade requer cuidados que os documentos e livros analisados pelos
autores dessas épocas passadas não tiveram ou são claramente a visão cristã tomada como
verdade absoluta por parte de quem as produziu, como membro da Igreja Católica, ou fruto da
mentalidade da época.
Não adoram coisa alguma nem têm para si que há na outra vida glória
para os bons, e pena para os maus, tudo cuidam que se acaba nesta e
que as almas fenecem com os corpos, e assim vivem bestialmente sem
ter conta, nem peso, nem medida. (GANDAVO, 1980 p. 9)
... a gente toda vive em pecado mortal, e não nenhum que deixe de ter
muitas mulheres das quais estão cheios de filhos e é grande mal(...) os
índios dessa terra tem grande desejo de aprender e perguntados se
querem, mostram grandes desejos(...) todos estes que tratam conosco,
dizem que querem ser com nós. (LEITE, 1954 p.110-111)
Uma outra questão apontada por ela seria a dos conflitos internacionais para o
domínio colonial entre franceses e portugueses, entre portugueses e holandeses, cada um com
suas alianças e percepções sobre a demonização do outro, presente também nos estilos
literários. São várias as intolerâncias religiosas que entrecruzam entre si nesses conflitos.
Por fim, são levados em conta os relatos de católicos e de protestantes com pontos
de vista divergentes quanto à economia, à política e à crítica da civilização ocidental por parte
dos protestantes. (POMPA, 2003)
22
Brasão da Companhia de Jesus. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Jesus#/media/Ficheiro:Ihs-logo.svg.
73
23
PARREIRAS, Antônio. Fundação de São Paulo, 1913. obra exposta na Pinacoteca Municipal de São
Paulo. Disponível em: < http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ant%C3%B4nio_Parreiras_-
_Funda%C3%A7%C3%A3o_de_S%C3%A3o_Paulo,_1913.jpg >
75
O historiador Arno Wehling confirma que os jesuítas eram mais que simplesmente
uma intervenção do Estado pela Igreja, pois tinham seus próprios objetivos, que algumas vezes
se confrontavam com os interesses colonizadores. Por exemplo a oposição à escravidão dos
nativos: “É errôneo apresentá-los como mero braço religioso do estado ou acobertados de
interesses privados. Tinham seus próprios fins, nem sempre compatíveis com os demais.”
(WEHLING, 1994 p.83) Essa finalidade principal é especificada no próprio regimento por
Loyola:
A própria Ordem via-se como um corpo, disperso pelos quatro continentes da obra
missionária, em que cada integrante era um membro regido pelo preposto Gera em Roma, a
cabeça do corpo. Tal Ordem tem a compreensão ambígua do desgaste do corpo e da capacidade
de evolução da alma com o passar do tempo, de acordo com as atitudes de cada um. Isso é uma
contradição inerente ao homem, entendimento claro no próprio documento de criação da
Ordem, em que o próprio Inácio afirma no corpo do texto:
Devido ao caráter de difusão pela conquista espiritual, uma das formas de manter a
ordem e a disciplina pela dificuldade da dispersão dos jesuítas, foi a comunicação feita por de
cartas. No caso do Brasil, os deslocamentos eram perigosos devido aos animais e às tribos, que
desconheciam o trabalho missionário mais ao interior. Assim o meio mais viável de transporte
era a navegação litorânea, mas isso implicava abandonar o posto e abrir espaço para dispersão
religiosa, sendo o envio de cartas por esse meio.
As cartas serviam tanto como relatos aos superiores como troca de experiências
entre os jesuítas, já que cada um possuía liberdade de agir. Nos ideais da instituição, reforça-se
a questão da adaptabilidade e as particularidades de cada região, levando à flexibilização da
ortodoxia católica colonial em relação às práticas religiosas europeias.
como parte do processo dito civilizatório pelo europeu moderno, ou seja, uma intolerância
religiosa como parte de uma intolerância civilizatória, como se concebe academicamente na
atualidade. No pensamento cristão moderno, o trabalho catequético consiste exatamente em
modificar os parâmetros desviantes e conflitivos da fé católica, com o como resultado da
conversão fidedigna e da consequente salvação do converso.
A Companhia de Jesus chega ao Brasil com apenas seis membros no governo geral
de Tomé de Souza, com menos de nove anos de fundação, marcando o início da História da
Educação no Brasil e consequentemente uma enorme força transformadora da mentalidade dos
povos nativos da colônia com novos paradigmas a serem assimilados. A chegada da Companhia
é um ato de imposição cultural visto com a maior naturalidade no século XVI. Dessa forma,
incompreensão e rejeição das práticas religiosas dos nativos brasileiros caracterizam a
intolerância religiosa dentro de um projeto de intolerância civilizatória.
É uma cultura básica que tem como elemento de ligação e de assimilação a religião.
Esse modelo cultural estabelece pontos de associação para um melhor entendimento entre
portugueses e nativos a apresentação do paradigma religioso português como um benefício,
algo positivo. Essa cultura apresenta um entendimento dualístico do mundo que servia também
como amálgama da diversidade social na colônia e traz uma noção de unidade espiritual da
cristandade, isto é, da sociedade colonial que no Brasil se formava com a crescente ocupação
europeia.
Tendo consigo os meios para a salvação, cabia ao jesuíta fazer a mediação religiosa
com os nativos e estabelecer pontos de convergência entre as culturas para uma melhor
assimilação dos nativos ao pensamento sotereológico que, a princípio, alegava-se não
conhecerem os nativos. Contudo, os estudos de Ronaldo Vainfas relatam uma prática religiosa
dos nativos na Bahia que remete a uma noção de salvação chamada de Santidade pelos
católicos, mas que numa tradução direta da língua seria a “Terra sem mal”.
Mal, que estaria no tempo sagrado, no sentido de origem ou fim. Caracteriza-se, dessa forma,
o que ele chama de homo religiosus, isto é, o homem que acredita em algo. (ELIADE, 1992)
Havia uma não compreensão dos ritos e das crenças indígenas, por não haver semelhança, mas
entendiam que os nativos possuíam práticas religiosas, fazendo pontos de convergência e de
significado das práticas indígenas no imaginário católico.
Sendo a maior parte da população iletrada, no Brasil colonial, a palavra oral era o
veículo transmissor de ideias. Na cultura ocidental moderna, a arte da retórica constituiu-se
como lugar de experimentação das potencialidades da palavra, sendo esse processo o de
transmissão do ensino jesuíta. A palavra eloquente não apenas veicula a coisa, como induz
comportamentos diante dela, associando a razão, a verdade e a moralidade. (MASSIMI &
FREITAS, 2007)
A construção do outro
A missão aos infiéis- não por terem renegado a fé mas por não a terem
conhecido ainda- era dever de todos portanto era todo o seu universo
que se estremecia com o desafio nascente. Havia urgência de anunciar
a Palavra da salvação, para que, crendo, fossem batizados e
ingressassem no mundo verdadeiro, e não crendo, fossem castigados e
escravizados. Assim, submetidos, haveria lugar para a implantação de
uma ordem, legal, institucionalizada; a presença da graça cobrindo
novamente todas as regiões, da terra, garantindo-se desta forma a
unidade do orbe cristão. Era sua mesma sobrevivência que impunha a
conquista, pela força das armas, em guerra santa, para declarar aos
índios o seu direito de se tornarem cristão, de se salvarem. Os direitos
humanos do orbis christianus eram, com efeito, direitos de ser cristão,
direitos estes que ninguém podia restringir, mas direitos estes, também,
que ninguém podia recusar. (PAIVA, 2006 p. 23)
fosse natural à cosmologia dos nativos pelas traduções religiosas e pelas adaptações ao
imaginário já existente, tendo com o objetivo do avanço do cristianismo, a Igreja Católica, na
modernidade, atua com:
Era intolerância religiosa sem uso de violência física, mas por imposição de um
modo de vida aos nativos que não era o de sua sociedade, a regulamentação do cotidiano a partir
da própria referência portuguesa, sem permitir a liberdade do outro, estigmatizando-o como
bárbaro. Havia um entendimento pejorativo de que somente os jesuítas poderiam torná-los
homens: ignoravam a crença alheia.
Desse modo, o discurso sobre o outro não é um relato que busca de fato
compreender o outro e sim uma projeção das próprias características cristãs portuguesas ou da
ausência delas, como a própria questão da "Santidade de Jaguaripe24”, analisada por Ronaldo
Vainfas. Este confirma, por parte da Inquisição, ou seja, Igreja Católica, a não compreensão
dos ritos dos índios apontados como heresias. Contudo, o ritual existia antes mesmo da chegada
dos portugueses, o que não caracteriza uma afronta ou violação do catolicismo, senão uma
perseguição às suas práticas religiosas. (VAINFAS, 1995)
A primeira delas dá-se na Ordem da Companhia de Jesus, que havia sido criada
com caráter itinerante. No Brasil, porém, só foi possível de se realizar conversões com local
fixo, isto é, as missões ou as reduções, uma espécie de escola com a finalidade de assimilar os
costumes para melhor transmitir a religião católica: havia dificuldades de transporte e de
imensidão geográfica. Sendo assim, a fixação era uma necessidade para atração e manutenção
dos convertidos e reforço da fé dos fiéis.
24
Cerimônia religiosa indígena, ora analisada como rito profético, ora como movimento de resistência
aos portugueses.
85
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A religião Católica em Portugal faz parte da própria identidade nacional, pois sua
formação como Estado Nacional acontece com a reconquista territorial, após expulsão dos
muçulmanos da Península Ibérica pelos cristãos e consolida-se politicamente com o aval do
Papa. A partir da reconquista territorial dos cristãos na Península Ibérica, ocorre a expansão do
comércio e a consolidação da força do Estado, resultando no Sistema Colonial, que ampliaria o
império português e levaria a religião católica ao Novo Mundo.
dos próprios costumes religiosos e a aceitação real de Cristo é que o índio se salva do inferno e
das perseguições dos colonos em busca de mão-de-obra.
Assim, conclui-se que assim como Portugal já nasce como Estado Católico, o
Brasil, como parte do mundo ocidental conhecido e posteriormente com sua emancipação
política, também nasce católico, deixando o cristianismo como herança à maior parte da
população brasileira, mesmo após a laicização do Estado como o republicanismo em 1889. É
um cristianismo dogmático e dualista: dentro dele a salvação, fora dele o pecado.
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