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Estudos de poesia

Prof.º Mário Bruno

Descrição

Gênero lírico e elementos estruturais do poema. Formas e exemplos de


liricidade em diferentes períodos históricos. Convenções da leitura
poética e reflexões sobre a figura do eu lírico.

Propósito

Compreender as formas de estruturação poética e os métodos e as


convenções de leitura do texto lírico para ampliar a competência leitora
e o trabalho com a Literatura.

Preparação

Tenha em mãos um dicionário de Literatura para compreender o


vocabulário específico da área. Na internet, você acessa gratuitamente o
E-Dicionário de Termos Literários, de Carlos Ceia, e o Dicionário de
Cultura Básica, de Salvatore D’Onofrio. Também é recomendado ter em
mãos uma boa antologia de textos poéticos. No portal Domínio Público,
você pode ter acesso a poemas de vários autores consagrados.

Objetivos
Módulo 1

Elementos estruturais do poema


Descrever os elementos estruturais do poema.

Módulo 2

Formas e manifestações do lírico


Definir as formas e as manifestações de liricidade.

Módulo 3

O eu lírico e leitura poética


Identificar o eu lírico e as convenções de leitura poética.

meeting_room
Introdução
Desde os tempos de escola, você deve ter experimentado a
leitura de poemas e, quem sabe, escrito alguns poemas como
atividade escolar ou como expressão de suas emoções, de seus
sentimentos e suas vivências.

A poesia existe há muito tempo na história e no começo esteve


ligada ao mito, à palavra mágica e à música. Para ser mais
facilmente memorizada, provavelmente passou a ser elaborada
em versos, com determinados ritmo e rima.

Os poemas trataram ao longo do tempo de muitos assuntos,


usando variadas formas e sendo escritos em diferentes línguas.
Por isso, a poesia faz parte da civilização e da sua história.
Temos, então, alguns motivos para estudar esse gênero literário e
conhecer seus aspectos mais formais e conceituais.

1 - Elementos estruturais do poema


Ao final deste módulo, você será capaz de descrever os elementos
estruturais do poema.

As origens do fazer poético na


Grécia antiga
A palavra poética é de origem grega e abrevia a expressão poetikè
téchne, o que provavelmente tinha o sentido de “arte de fazer poesias”.
No que diz respeito à produção lírica na nossa cultura, as raízes
remontam à Grécia Antiga, ao oitavo século antes de Cristo, à palavra
cantada do aedo. Na Grécia, nos tempos de Homero, a poesia narrava
sobretudo as façanhas dos guerreiros; o poeta, além de um funcionário
palaciano, era um árbitro a serviço da comunidade dos guerreiros.

Aedo
Aedo era um cantor, um rapsodo, que apresentava suas composições
acompanhado pela música da lira ou da cítara. O aedo era, portanto, um
poeta primitivo no mundo grego.
Safo cantando para Homero, 1824. Óleo sobre tela.

Marcel Detienne (1988) nos fala que os poetas cantavam sobre dois
assuntos:

Kydos Kleos
O que iluminava o A glória transmitida de
guerreiro na hora da close geração a geração pela
batalha. palavra poética.

O poeta era, assim, a memória dos acontecimentos heroicos. A poesia


girava em torno da relação entre memória e esquecimento (mnemosyne
e lethe). Era preferível ao guerreiro uma morte cantada a uma
sobrevivência no esquecimento.

Os gêneros e a poesia lírica


O primeiro estudioso da Literatura a estabelecer uma classificação das
obras literárias em gênero foi o filósofo grego Aristóteles (384 a.C. –
322 a.C.). Ele dividiu, inicialmente, os gêneros em dois. Veja:

Épicas e trágicas Satíricas, líricas e


ocasionais
Imitam ações nobres.
close Imitam ações
corriqueiras.
Ainda a partir de Aristóteles, tornou-se tradicional a tripartição dos
gêneros em narrativo, lírico e dramático.

O gênero lírico (genus liricum) foi definido como a palavra cantada pelo
poeta, como expressão da subjetividade.

Essa divisão foi mantida pelas diferentes estéticas ao longo do tempo,


sendo esse modelo quebrado pelo movimento do Romantismo.

Sturm und Drang (expressão alemã para Tempestade e Ímpeto) foi o


movimento que desencadeou a estética romântica, insurgindo-se contra
os padrões clássicos. O Romantismo golpeou fortemente a antiga teoria
dos gêneros. O princípio da liberdade do escritor em relação aos
padrões do cânone literário foi o que passou a prevalecer, as regras da
estética clássica passaram a ser consideradas empecilhos à
imaginação criadora (D’ONOFRIO, 1997).

Johann Gottfried von Herder, grande nome do movimento Sturm und Drang, Anton Graff, 1785.

No Romantismo, a concepção de poeta artífice, que projeta as


estruturas de cada gênero, foi substituída pela concepção platônica de
poeta inspirado. A poeticidade reside em dons naturais expressos por
meio da linguagem emotiva.

O gênero lírico e as teorias da


literatura
Para os romanos na Antiguidade Clássica, era considerada lírica toda
poesia que se assemelhasse em composição, extensão e,
principalmente, em métrica às composições da tradição. Os romanos
consideravam Horácio (65 a.C. – 8 a.C.) lírico, mas não viam Catulo (84
a.C. – 54 a.C. aproximadamente) como lírico. Catulo desenvolvia os
seus versos em uma métrica cujos pés não coincidiam com o cânone
lírico (STAIGER, 1977).

Pés
O pé é a unidade elementar do ritmo e da melodia do verso de um poema.
Uma explicação para essa denominação está relacionada com o fato de a
marcação da subida e da descida do ritmo de um poema ser feita com a
mão e, principalmente, com o pé na antiguidade greco-latina.

Atenção!
A poesia conta, no Ocidente, com mais de dois mil anos de criação, que
envolvem baladas, canções, hinos, odes, sonetos e outras formas. É
muito difícil descobrir o que há de comum a essas composições para
chegarmos a um conceito global de gênero lírico.

Embora, para Staiger (1977), muitas obras possuam características dos


três gêneros literários, ele consegue encontrar alguns elementos que
são próprios do gênero lírico, veja:

A recordação;

A fusão do sujeito e objeto;

O sentir e as sensações;

A linguagem na fase de expressão sensorial;

A fluidez e pouca necessidade de conexões lógicas;

A maneira de desenvolver o tema;

A repetição de idênticas unidades de tempo;

O tempo verbal: oscilação entre o presente e o passado; o presente


predomina; o paradoxo a ser trazido quase sempre não está longe;

Às vezes, livre de historicidade; não tem causas nem


consequências.

É necessário dizer: várias dessas características, embora adjetivamente


líricas, podem também ser encontradas nos textos em prosa, sobretudo
na chamada prosa poética.

De acordo com o linguista russo Roman Jakobson (1896-1982), a


poética trata daquilo que faz da mensagem verbal uma obra de arte,
trata da estrutura verbal nos textos literários.
Jakobson (1989) propôs seis funções para a linguagem, dentre elas,
vamos destacar a função poética, aquela que está centrada na própria
mensagem. Essa seria a função predominante no texto literário, no texto
lírico, pois a linguagem está orientada para a mensagem enquanto tal. O
centro de interesse incide exatamente sobre a mensagem considerada
por si mesma, o que define a função poética.

A partir dos estudos do professor e teórico D’Onofrio (1977), podemos


ainda considerar quatro teóricos importantes nessa breve relação entre
o gênero lírico e o campo da Teoria da Literatura. Vejamos a seguir!

Seis funções para a linguagem


As seis funções estão vinculadas aos seis elementos do esquema
tradicional da comunicação, assim:

A função expressiva ou emotiva está relacionada com o emissor;

A função apelativa ou conativa ligada ao receptor;

A função fática relacionada com o meio ou canal;

A função metalinguística vinculada ao código;

A função referencial ligada ao referente;

A função poética relacionada com a mensagem.


Northrop Frye
O crítico literário canadense Northrop Frye (1912-1991), ao levar em
consideração o aspecto formal, encontrou quatro gêneros específicos
na Literatura. Confira:

O epos (épico), caracterizado pelo ritmo da repetição;

A prosa, caracterizada pelo ritmo da continuidade;

O drama, caracterizado pelo ritmo do “decoro”;

A lírica, caracterizada pelo ritmo da associação.

Ritmo da associação
Refere-se à estreita relação que se estabelece na lírica entre o ritmo da
música e da poesia. O uso de recursos como a rima e de figuras de
linguagem como a aliteração e a assonância, entre outras, realiza essa
associação.

Mikhail Bakhtin
O filósofo e teórico russo Mikhail Bakhtin (1895-1975) analisa na
história literária a alternância do monologismo e do dialogismo. Os
cânones estéticos tradicionais são monológicos; as obras de caráter
dialógico expressam a revolta contra a tradição estética conformada à
ideologia dominante, ou seja, as obras dialógicas não se conformam às
regras que definem um gênero ou estilo literário.

Monologismo
Remete à ideia de discurso único, um discurso uniforme e definitivo que
não revela outras vozes. Por exemplo, um romance monológico, nesse
sentido, seria aquele em que há uma única voz, a do próprio autor.

Dialogismo
Para Bakhtin, refere-se às relações entre os interlocutores na linguagem em
ação, entre os discursos, entre as diversas vozes sociais.

Como exemplo, Bakhtin faz menção aos romances de Dostoiévski, nos


quais outras vozes não são silenciadas pela voz autoritária de um autor.

René Wellek e Austin Warren


Por fim, o crítico literário austríaco René Wellek (1903-1995) e o crítico
literário norte-americano Austin Warren (1899-1986) eliminaram a
distinção tradicional entre poesia e prosa, e apresentaram a seguinte
tripartição genérica da Literatura:

Ficção (épica, conto e romance);

Drama (em prosa ou verso);

Poesia (relativamente à poesia lírica).

Os elementos estruturais que


constituem os poemas
Vamos conhecer os elementos estruturais do poema a partir das
classificações que encontramos em Pires (1981) e de exemplos de
alguns poetas em língua portuguesa citados em Goldstein (2000).

O verso
O verso se constitui como uma linha escrita, de sentido completo ou
fragmentário, que obedece a determinados preceitos rítmicos, fônicos
ou meramente gráficos, pelos quais se difere da prosa.

Vejamos um exemplo dessa constituição na primeira estrofe do poema


Boca, de Carlos Drummond de Andrade:

O metro
Unidade rítmica repetida ou combinada em um verso. O metro de um
verso é definido pelo número de sílabas que o compõem, consideradas
ou contadas somente até a última sílaba tônica. Na contagem das
sílabas métricas, o poeta pode fazer uso dos seguintes artifícios:

Última sílaba tônica


A contagem das sílabas ou dos pés de um verso até a última sílaba tônica
do verso é um sistema de metrificação denominado padrão agudo, adotado
no francês e no português (o italiano e o espanhol usam o padrão grave,
que conta uma sílaba a mais depois da última sílaba tônica do verso).

Elisão expand_more

Quando, em um verso, uma palavra termina por vogal e a


seguinte começa por vogal, considera-se uma única sílaba
métrica a formada pela sílaba final da primeira e a inicial da
segunda.

Ex.: De amor = /De a/ + /mor/ = duas sílabas

Se a palavra termina por nasal e a seguinte começa por vogal,


pode haver a supressão da ressonância nasal para permitir a
elisão. Este artifício é chamado eclipse.

Ex.: Com o = /Co’o/ = uma sílaba

Sinérese expand_more

Transformação de um hiato em um ditongo.

Ex.: piedade = /pie/ + /da/ + /de/ = três sílabas

Diérese expand_more

Transformação de um ditongo em um hiato.

Ex.: saudade = /sa/ + /u/ + /da/ + /de/ = quatro sílabas

Classificação da estrofe (ou estância) pelo número de versos


De maneira simplificada, a estrofe se define por um conjunto de versos
que é antecedido por uma linha branca e que tem depois dele também
outra linha branca, linhas que separam a estrofe das outras partes do
poema.

As estrofes podem ser de tamanho variado e, de acordo com o número


de versos, têm uma denominação. Confira:
bookmark Dois versos
Dístico

bookmark Três versos


Terceto

bookmark Quatro versos


Quadra ou quarteto

bookmark Cinco versos


Quintilha ou quinteto

bookmark Seis versos


Sextilha ou sexteto

bookmark Sete versos


Setilha

bookmark Oito versos


Oitava
bookmark Nove versos
Novena ou nona

bookmark Dez versos


Décima

bookmark Onze versos ou mais


Irregular

Classificação do verso pelo número de sílabas métricas


Veja a seguir quais são as doze formas de classificação do verso pelo
número de sílabas métricas, que também são conhecidas como sílabas
poéticas:

Uma sílaba
Monossílabo.

Duas sílabas
Dissílabo.

Três sílabas
Trissílabo.

Quatro sílabas
Tetrassílabo.
Cinco sílabas
Redondilha menor.

Seis sílabas
Heroico quebrado (menor).

Sete sílabas
Redondilha maior.

Oito sílabas
Octossílabo.

Nove sílabas
Eneassílabo.

Dez sílabas
Decassílabo { Sáfico / Heroico}.

Onze sílabas
Hendecassílabo.

Doze sílabas
Alexandrino (ou dodecassílabo).

Sáfico
Sáfico: O acento de intensidade ou as tônicas do verso caem na 4ª, 8ª e 10ª
sílabas.

Heroico
Heroico: O acento de intensidade ou as tônicas do verso caem na 6ª e 10ª
sílabas.
É importante prestar atenção quando os versos de uma estrofe são de
igual medida, ou seja, cada verso tem o mesmo número de sílabas
métricas, nesse caso temos a estrofe isométrica. Se a estrofe for
constituída por versos de diferentes medidas, ela será chamada de
estrofe heterométrica.

video_library
Versos e metrificação
Entenda a seguir a classificação dos versos.

Encadeamento
É quando a frase de um verso ou mesmo uma palavra termina no verso
seguinte. Também chamado de cavalgamento e, pelos franceses,
denominado de enjambement.

Veja o exemplo em uma das estrofes do poema Voltas para casa, de


Ferreira Gullar:

Tua casa está ali: A


janela
acesa no terceiro
andar. As crianças
ainda não dormiram.
(GULLAR, 1975, p. 157)

Rima
É a concordância de sons, finais ou interiores, entre um verso e outro, ou
no interior do mesmo verso.

As rimas são designadas, convencionalmente, por uma letra do alfabeto.


Assim, a letra A vai corresponder ao primeiro tipo de rima do poema; a
letra B, ao segundo tipo de rima; a letra C, ao terceiro tipo de rima, e
assim sucessivamente. Em estudos e publicações sobre poesia, é
possível encontrar a indicação dessas letras após os versos para indicar
o tipo de rima.

Em relação ao modo como as rimas estão distribuídas ao longo do


poema, podemos classificá-las em:

Emparelhadas (aabb);

Alternadas ou Cruzadas (abab);

Interpoladas (abba);

Encadeadas (aba, bcb, cdc ...).

Veja o exemplo no trecho do poema Dados biográficos, de Carlos


Drummond de Andrade (1902-1987), em que temos rimas abab cdcd
(rimas cruzadas ou alternadas):

Mas que dizer do poeta rima A

numa prova escolar? rima B

Que ele é meio pateta rima A

e não sabe rimar? rima B

Que veio de Itabira, rima C

terra longe e ferrosa? rima D

E que seu verso vira, rima C

de vez em quando prosa? rima D

Na estrofe do poema O sentimento dum ocidental, do poeta português


Cesário Verde (1855-1886), temos um exemplo de rimas abba (rimas “b”
são emparelhadas e rimas “a” são interpoladas):

Nas nossas ruas, ao anoitecer A


Há tal soturnidade, há tal melancolia B

Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia A

Despertam-me um desejo absurdo de sofrer. B

A rima também pode ser interior, quando ocorrer no interior do mesmo


verso ou quando a rima ocorrer entre a última palavra de um verso e
outra palavra no meio do verso seguinte.

Veja outras classificações para as rimas:

Mesmo verso
É o caso da rima entre “cheirosas” e “rosas” neste verso do poema O amor
tem vozes misteriosas, de Alphonsus de Guimaraens (1870-1921):

Como são cheirosas as primeiras rosas.

Meio do verso seguinte


É o caso da rima entre “errante” e “distante” nos dois versos do poema A
judia, de Tomás Ribeiro (1831-1901):

Anjo sem pátria, branca fada errante,

Perto ou distante que de mim tu vás.

Soante ou consoante expand_more

Quando há identidade de sons de consoantes e vogais.

Exemplo:No poema Tristeza, do poeta português João de Deus


(1830-1896):

Na marcha da vida {IDA}

Que vai a voar {AR}

Por esta descida {IDA}

Caminho do mar {AR}

Perceba que tanto as vogais quanto as consoantes se


assemelham.
Toante expand_more

Quando há identidade ou semelhança apenas de vogal tônica.

Exemplo:

Rimas toantes no poema Melancolia, de Guilherme de Almeida


(1890-1969):

1. Sobre um fruto cheiroso e bravo → {vogal tônica A}

2. todo pintado de vermelho vivo → {vogal tônica I}

3. uma lagarta verde dorme → {vogal tônica O}

4. O silêncio quente do meio-dia → {vogal tônica I}

5. respira como o papo de uma ave. No ar alvo → {vogal tônica


A}

6. a asa de uma cigarra risca um silvo → {vogal tônica I}

7. longo – brilhante – e some. →{vogal tônica O}

8. Melancolia → {vogal tônica I}

As rimas toantes são:

verso 1 brAvo / verso 5 Alvo;

verso 2 vIvo / verso 4 dIa / verso 6 sIlvo / verso 8 melancolIa;

Rica ou Pobre expand_more

1 – Rica
Desde um critério gramatical, quando a rima se estabelece entre
classes de palavras diferentes; desde um critério fônico, quando
os sons que se assemelham começam antes da vogal tônica.

2 – Pobre
Segundo o critério gramatical, quando a rima se estabelece na
mesma classe de palavras; conforme o critério fônico, quando os
sons são semelhantes a partir da vogal tônica.

a) Exemplo de critério gramatical


Estrofe do soneto A instabilidade das cousas do mundo, de
Gregório de Matos (1636-1696):
Nasce o Sol e não dura mais que um dia.
Depois da luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas, a alegria.

1 - Rima rica
“escura” (adjetivo) e “formosura” (substantivo).

2 - Rima pobre
“dia” e “alegria” (ambos são substantivos).

b) Exemplo de critério fônico

Estrofe do poema Um beijo, de Olavo Bilac (1865-1918):

Foste o melhor beijo da minha vida {A}

Ou talvez o pior... Glória e tormento, {B}

Contigo à luz subi do firmamento, {B}

Contigo fui pela infernal descida. {A}

As rimas “A” são pobres porque a identificação entre “vida” e


“descida” se dá a partir da vogal tônica.

As rimas “B” são ricas porque a semelhança de som entre


“firmamento” e “tormento” se inicia antes da vogal tônica.

Aguda (Masculina) ou Grave (Feminina) expand_more

1 - Aguda ou Masculina
Rima entre palavras oxítonas.

2 - Grave ou Feminina
Rima entre palavras paroxítonas.

Exemplo:
Estrofe do poema Poemeto irônico, de Manuel Bandeira (1886-
1968):

O que tu chamas tua paixão, rima A

É tão-somente curiosidade rima B

E os teus desejos ferventes vão rima A


Batendo asas na irrealidade. rima B

1 - Aguda ou Masculina
Rimas “A” (“paixão” e “vão”).

2 - Grave ou Feminina
Rimas “B” (“curiosidade” e “irrealidade”).

Esdrúxula expand_more

Rima entre palavras proparoxítonas.

Exemplo:

Primeiro quarteto de um soneto de Cruz e Souza (1861-1898):É


um pensar flamejador, dardânico

É um pensar flamejador, dardânico

Uma explosão de rápidas ideias,

Que com um mar de estranhas odisseias

Saem-lhe do crânio escultural, titânico!

As rimas entre “dardânico” e “titânico” são esdrúxulas.

Atenção!
Os versos que não rimam são chamados brancos ou soltos.

Cesura
Corte ou pausa na estrutura de certos versos, separando-lhes os
componentes métricos. A cesura ou pausa no interior do verso era
obrigatória na métrica tradicional. Geralmente, indica-se a cesura por
meio de duas barras verticais: //.

Dica
No verso de doze sílabas (alexandrino), muito valorizado entre poetas
clássicos e parnasianos, são comuns um acento e uma cesura na sexta
sílaba.

Veja o caso do primeiro verso do soneto Amor, de Cruz e Souza: “Nas


largas mutações perpétuas do universo”. Se formos metrificar esse
verso, teremos:
A cesura divide o verso em duas partes, que chamamos de
hemistíquios.

A sílaba “ções” é a sexta sílaba e é forte.

A sílaba “ver” é a última sílaba tônica do verso, por isso não


contamos a sílaba posterior “so”.

Exemplo

Veja a cesura na poesia daquele que pode ser considerado o melhor


metrificador da poesia em língua portuguesa, Bocage.

Meu ser evaporei // na lida insana


Do tropel das paixões // que me arrastava
Ah! Cego eu cria, ah! mí//sero eu sonhava
Em mim, quase imortal,// a essência humana!

(BOCAGE, 1987)

Ritmo
A linguagem científica subentende o ritmo como uma apresentação
particular de processos motores, ou um movimento apresentado de
maneira regular.

Pode-se ter como exemplo dessa concepção os movimentos do


coração, que determinam o ritmo cardíaco. De modo geral, denomina-se
ritmo uma repetição que contém certa periodicidade verificável no
tempo e no espaço. Assim, pode-se compreender como ritmo toda
alternância regular.
A alternância de sons, no tempo, estabelece o ritmo musical; de
movimentos, o ritmo coreográfico; de sílabas, o ritmo político etc.

Em linguagem musical, entende-se por ritmo um movimento uniforme


que pode ser binário, ternário ou quaternário, dependendo da divisão
entre dois, três ou quatro tempos.

Na poesia, o ritmo é percebido por meio da metrificação e do


andamento do verso, a partir dos acentos silábicos (fortes e fracos) que
promovem a homofonia rítmica (identidade de sons ou sons
semelhantes que evidenciam o ritmo e a cadência).

Resumindo
De modo mais simples, o ritmo está relacionado com a alternância dos
sons mais fracos e mais fortes.

Na língua portuguesa, a cadeia fônica nos versos apresenta a


prevalência de uma alternância binária ( ritmo binário), que é
determinada pela sucessão de uma sílaba tônica a uma sílaba átona ou
vice-versa.

Também há casos de ritmo ternário (sucessão de duas sílabas fracas e


uma forte ou vice-versa), principalmente quando há ocorrência de
palavras compostas ou vocábulos proparoxítonos (D’ONOFRIO, 2000).

Ritmo binário
Veja um exemplo de ritmo binário, com um acento forte seguido de um
acento fraco, nestes versos de Fernando Pessoa (1888-1935):

boca

Dei vexame ontem

Tenho tanta pena


Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Assinale a alternativa que descreve corretamente um dos


elementos estruturais do poema.
O metro deve ser descrito a partir do número de
sílabas gramaticais que compõem o verso,
A
considerando inclusive a sílaba após a última sílaba
tônica.

A cesura, um dos elementos estruturais do gênero


lírico, corresponde a uma continuidade na estrutura
B
de certos versos e é assinalada pelo uso de
reticências.

A rima corresponde à concordância de sons,


podendo ser no final ou mesmo no interior dos
C
versos, e pode ser classificada como emparelhada,
alternada ou cruzada, interpolada e encadeada.

As estrofes de um poema podem ter no máximo


D onze versos e a classificação ou denominação das
estrofes se dá pela contagem das sílabas poéticas.

O ritmo de um poema é proporcional ao número de


E versos que compõem suas estrofes e, na língua
portuguesa, predomina nos poemas o ritmo ternário.

Parabéns! A alternativa C está correta.

A rima deve ser identificada com a repetição de sons semelhantes,


podendo acontecer tanto no final de diferentes versos como
também no interior de um mesmo verso. Assim, as rimas ocorrem
em posições variadas. Quando a rima ocorre por meio da
semelhança de sons nos finais dos versos, chamamos de rima
externa. Quando a rima acontece entre o final de um verso e o
interior de outro, ou mesmo entre sons semelhantes dentro de um
mesmo verso, chamamos de rima interna.

Questão 2
Leia os textos a seguir:

Texto 1

Em seu Tratado de Versificação, Olavo Bilac e Guimarães Passos


assim definem o verso: “Compreende-se por verso – ou metro – o
ajuntamento de palavras, ou ainda uma só palavra, com pausas
obrigadas e determinado número de sílabas [...]”

Para o poeta, é sílaba todo agrupamento de sons que pode ser


emitido de um único impulso de voz.

MARTIN, M. Como apreciar uma poesia. In: Blog Como Educar seus
Filhos. Consultado na internet em: 20 out. 2020.

Texto 2

Nas largas mutações perpétuas do universo


O amor é sempre o vinho enérgico, irritante...
Um lago de luar nervoso e palpitante...
Um sol dentro de tudo altivamente imerso.

CRUZ E SOUZA, J. Amor. In: Wikisource. Consultado na internet em:


11 out. 2020.

Considerando os dois textos, assinale a opção que identifica


corretamente a metrificação do primeiro verso do poema de Cruz e
Souza.

A Alexandrino ou dodecassílabo

B Hendecassílabo

C Redondilha menor

D Heroico quebrado (menor)

E Heroico quebrado (menor)


Parabéns! A alternativa A está correta.

O primeiro verso é alexandrino ou dodecassilabo porque possui


doze silabas:

  
Nas - lar- gas - mu - ta - ções - per - pé - tuas - extdou - ni - ver (so).

Note que as silabas gramaticais "do" e "u" se juntam para formar


apenas uma silaba poética. Também percebe que contamos as
silabas poéticas terminando na última silaba tônica - "ver" -, por isso
não contamos para efeito métrico a silaba "so".

Geralmente, os versos alexandrinos ou dodecassilabos possuem


um acento e uma cesura na sexta silaba, resultando em duas
metades que são chamadas de hemistíquio. No caso do verso que
estamos analisando, podemos marcar o acento destacando em
maiúscula a sexta silaba e marcando com as barras a cesura:


Nas - lar- gas - mu - ta - ÇÕES // per - pé - tuas - d ou - ni - ver (so).

2 - Formas e manifestações do lírico


Ao final deste módulo, você será capaz de definir as formas e as
manifestações de liricidade.
Modalidades do gênero lírico
Veja algumas das principais formas líricas e a descrição que fazem
Pires (1981) e D’Onofrio (2000). Como você perceberá, vamos nos deter
um pouco mais em duas dessas formas do gênero lírico: a ode e o
soneto.

Elegia
Surgiu na Grécia e, primitivamente, era um canto fúnebre. Mas os
próprios gregos passaram a usar a elegia não obrigatoriamente como
um canto triste, tornando-se também um canto que procurava promover
a reflexão sobre temas como a pátria, a guerra, a dor, o amor e a
amizade.

Ritual fúnebre grego antigo representado em terracota, Pintor Gela, final do século VI a.C.

Atualmente é usada para exprimir um lamento. O dístico (estrofe de dois


versos) era a forma preferida na composição das elegias pelos gregos.

Madrigal
Poema galante e geralmente de tema amoroso, mas também poderia
cantar o idílio pastoril (idealização dos elementos da natureza, da vida
campestre). Tem origem na Renascença italiana e foi bastante cultivado
durante o Arcadismo.

Arcadismo
O madrigal se insere no contexto lírico do Arcadismo por valorizar a
mitologia greco-romana; a musicalidade dada pelas rimas e pelo ritmo; a
natureza idealizada; o uso de vocábulos eruditos, entre outras
características.
Pastoral de outono. Óleo sobre tela, 1749.

Acróstico
Poema no qual as primeiras letras de cada verso formam na vertical
uma palavra (geralmente o nome da mulher amada).

Um exemplo é o acróstico de Fernando Pessoa dedicado a Ophelia.

Onde é que a maldade mora


Poucos sabem onde é
Há maneira de o saber
É em quem quando diz que chora
Leva a rir e a responder
Indo em crueldade até
A gente não a entende
(CAVALCANTE FILHO, 2012, p. 150)

Eclóga ou Êgloga
Poemas de natureza bucólica, com temas rústicos, quase sempre
dialogados e interpretados por pastores.

O termo écloga foi usado inicialmente para designar os poemas


bucólicos do poeta clássico romano Virgílio (70 a.C. - 19 a.C.) e tinha o
sentido de “poesia selecionada”.

Ilustração do poeta Virgílio ainda jovem, século XIX.

Epitalâmio
Poemas utilizados para celebrar as núpcias de um casal, sendo
caracterizados pelo tom solene de elogio. O epitalâmio se insere no
contexto dos cantos de casamentos, muito comuns entre os poetas
gregos arcaicos, sendo também chamado de himeneu.

Himeneu
Na mitologia grega é o deus do casamento e filho de Apolo. É provável que,
na Roma antiga, o termo himeneu fosse usado para designar os cantos de
casamentos compostos em metro lírico, enquanto epitalâmio designaria os
cantos nupciais de seis sílabas poéticas (hexâmetro).
Himeneu travestido assistindo à dança em honra a Príapo. Óleo sobre tela.

Epigrama
Significa literalmente “inscrição” e nos faz lembrar dos textos curtos em
um monumento, uma lápide ou mesmo uma moeda.

O epigrama, na Literatura, é um poema curto com uma ou mais estrofes


e de caráter malicioso, irônico ou satírico.

Ode
A palavra grega ode significa canto. É um poema alegre e entusiasmado.
Os gregos usavam esse estilo para cantar temáticas de amor, prazer e
bebidas (anacreônticas) ou para a exaltação dos vencedores dos jogos
desportivos (pindáricas). A ode era cantada junto ao som de cítara e
flauta.

Originariamente, a ode era um canto individual, mas depois surgiu


também a forma coral da ode:

Anacreônticas
As odes anacreônticas foram criadas pelo poeta lírico grego Anacreonte
(563 a.C. - 478 a.C.) e o adjetivo anacreôntico designa o cantar os prazeres
da vida, como o vinho e o amor.

Pindáricas
As odes pindáricas têm origem no poeta grego Píndaro (522 a.C. - 443 a.C.
aproximadamente), que compôs as Odes Triunfais, usadas para celebrar as
vitórias e os vencedores em jogos como os realizados em Olímpia. O poeta
português Cruz e Silva (1731-1799) chegou a compor as Odes Pindáricas e
Anacreônticas, obra em que procurou seguir o ritmo e os temas da poesia
pindárica.
Canto individual Canto em forma de
coral
Mais usado para close
expressar as temáticas Destinou-se mais à
pessoais e do amor. exaltação dos temas
ligados à religião e às
vitórias esportivas ou
da pátria.

Entre os romanos, Horácio (65 a.C. - 8 a.C.) utilizava as odes para


expressar suas serenas reflexões. Observe:

Ode horaciana Odes públicas de


Píndaro
Caracterizada pelo tom
privado e pessoal. arrow_forward Glorificavam as vitórias
esportivas ou olímpicas.

Em relação ao aspecto formal, a ode horaciana era composta de três


estrofes iguais, enquanto a ode pindárica possuía a forma originária
grega de três estrofes, das quais as duas primeiras (chamadas de
estrofe e antístrofe) eram iguais e a terceira (chamada de apodo) era
diferente.

Saiba mais
No Renascimento, a ode foi a primeira forma clássica a se opor às
cantigas trovadorescas. Atualmente se relaciona a um poema
personalístico, de tom elevado, sobre qualquer tema, podendo ter forma
livre (número variável e irregular de estrofes).

As cantigas trovadorescas remetem ao Trovadorismo, movimento


poético que teve início no século XI na Provença e se espalhou pela
Península Ibérica e por outros países europeus entre os séculos XII e
XIV. As cantigas trovadorescas mais cultivadas na Idade Média foram:
Cantiga de amigo (composição lírica em que o eu poemático ou eu
lírico é uma moça que canta sua dor ou sua mágoa por causa da
ausência ou indiferença do amado, no cenário campestre ou na
natureza);

Cantiga de amor (poesia lírica em que o eu poemático é assumido


pelo próprio trovador, que fala da sua paixão não correspondida
pela sua amada por ela ser casada);

Cantiga de escárnio (poesia satírica voltada para a crítica aos


costumes, à vaidade feminina, aos vícios e outros motivos).

Na Literatura em língua portuguesa, destacamos a obra Odes de Ricardo


Reis, de Fernando Pessoa, onde encontramos a ode a seguir:

Para ser grande, sê inteiro: nada


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Soneto
O termo soneto vem do italiano sonetto, diminutivo de suono, que
significa som ou canção. A origem do soneto é popular e medieval, não
estando vinculada à poesia greco-romana antiga.

O poeta e humanista italiano Francesco Petrarca (1304-1374) é


considerado o pai do soneto em função da qualidade de suas
composições e por ter influenciado vários poetas.
Retrato de Francesco Petrarca.

O soneto regular, que também é chamado de petrarquiano, contém uma


estrutura estrófica de dois quartetos (ou quadras) e dois tercetos.
Geralmente os versos são decassílabos e o esquema rímico (rimas) é
abba/abba/cde/cde. Assim, temos:

Nos dois quartetos expand_more

A combinação das rimas se dá com a homofonia (campo fônico


homogêneo) entre os versos externos (o primeiro e o quarto) e
os versos internos (o segundo e o terceiro).

Nos dois tercetos expand_more

A combinação se dá de maneira diferente.


Desse modo, vemos que o soneto regular possui uma estrutura rígida
que impõe ao poeta a necessidade de resumir o que pretende expressar
e adequar a essa forma.

Em relação ao aspecto temático ou de conteúdo no soneto, temos os


seguintes aspectos:

Os quartetos apresentam a temática.


O último terceto traz a conclusão.
Conclusão
Entre os quinhentistas (escritores do século XVI), quando o poeta não
conseguia concluir seu assunto nos quatorze versos, era permitido
acrescentar mais um terceto – geralmente com metro e rimas diferentes –
chamado estrambote.

O primeiro terceto expressa a ideia


central do poeta.
O último verso fecha o poema com a
famosa “chave de ouro”.
Vejamos o exemplo de soneto:

Poesia de Petrarca expand_more

A alma minha gentil que agora parte


Tão cedo deste mundo à outra vida,
Terá certo no céu grata acolhida,
Indo habitar sua mais beata parte.

Ficando entre o terceiro lume e Marte


Será a vista do sol escurecida,
Virá depois, muita alma ao céu subida
Vê-la – portento de natura e arte.

E se pousasse entre Mercúrio e Lua,


Brilhará mais do que eles nossa bela,
Como só se espalhará a fama sua.

A Marte certo não chegara ela.


Mas se mais alto o seu vulto flutua,
Vencerá Jove e qualquer outra estrela.

(PETRARCA, 2002)

video_library
Formas e exemplos de
liricidade
Veja a seguir algumas formas de texto lírico.

Agora que já vimos um panorama das formas de liricidade, vejamos o


poético ou a liricidade em diferentes épocas e contextos culturais e
literários. Vamos lá!

A liricidade na era antiga


Werner Jaeger, na Paideia, nos apresenta as duas grandes vertentes da
poesia grega: Homero e Hesíodo. Jaeger (1986) nos mostra a
concepção do poeta como educador do seu povo, em diversos sentidos.
O autor afirma que Homero foi apenas o exemplo da manifestação mais
notável dessa concepção. Nessa época, a estética e a ética não eram
separáveis.

O fato de Homero, o primeiro que


entra na história da poesia grega, ter
se tornado o mestre da humanidade
inteira demonstra a capacidade
única do povo grego para chegar ao
conhecimento e à formulação
daquilo que une e move todos nós.

(JAEGER, 1986, p. 65)

Hesíodo (750 a.C. - 650 a.C. aproximadamente) foi colocado pelos


gregos como o seu segundo grande poeta. Veja:

A liricidade na era medieval


Na Era Medieval, há um longo percurso da poesia que vai do gênero
narrativo épico à Divina Comédia, do poeta e político florentino Dante
Alighieri (1265-1321). Mas, dessa trajetória, o que nos interessa, em
particular, é o gênero lírico que surge na Baixa Idade Média, a lírica
trovadoresca. Esse tipo de liricidade encontrou várias formas de
expressão: as cantigas de amor, de escárnio, de maldizer etc.Portugal
sofreu diversas influências quanto à sua arte das trovas; porém,
destacamos as Cantigas de amigo, um modo de cantar que parece só
ter se desenvolvido em terras lusitanas.

Portugal sofreu diversas influências quanto à sua arte das trovas;


porém, destacamos as Cantigas de amigo, um modo de cantar que
parece só ter se desenvolvido em terras lusitanas.

Cantigas de amigo
As cantigas de amigo, por oposição às cantigas de amor, possuíam um
eu lírico feminino, embora o autor sempre fosse um homem. O enredo
representava uma mulher que falava se dirigindo a seu “amigo”
(namorado).

As cantigas de amigo, das quais as melodias quase todas se perderam,


eram comuns nas festas como músicas para dançar. Em especial, o
trovador galego-português Pero Meogo (de quem não se tem
informação sobre data de nascimento e morte) é um dos mais
significativos poetas dessa modalidade.

O Pergaminho Vindel, com canções de amigo de Martim Codax, século XIII.

Suas temáticas são marcadas por certo erotismo implícito nas


metáforas expressas em seu trovar. O tema principal das cantigas de
Pero Meogo é a perda da virgindade da donzela. Vários são os
vocábulos que insinuam a relação sexual da donzela com o “amigo”:
lavar o cabelo na fonte, ir à fonte, o encontro com o cervo (símbolo da
virilidade) do monte etc.

Veja nos versos a seguir, de Pero Meogo, a referência aos cervos (que
nas canções recorrentemente ouvem os lamentos da moça) quando o
eu lírico se dirige à natureza para indagar sobre seu amado e depois
uma possível tradução dos versos:

Ay, cervos do monte, vin-vos perguntar:


foy-s’o meu amigu’, e, se alá tardar,
que farey, velidas!

(AZEVEDO FILHO, 1974)


Ai, cervos do monte, vim vos perguntar
foi-se o meu amigo e, se lá tardar,
que farei, lindas?

A liricidade no renascimento
O lirismo da época clássica da Era Moderna conheceu seu apogeu na
Renascença italiana. A Itália foi a primeira região da Europa a
desvincular-se do sistema feudal, graças às suas “repúblicas-
marítimas”, cujas administrações político-econômicas eram
semelhantes às antigas poleis da Grécia.

Poleis
Plural do grego polis (cidade).

Camões lendo Os Lusíadas.

Para exemplificarmos a liricidade renascentista, podemos tomar como


base a poesia em língua portuguesa de Camões. A épica camoniana é
bem famosa, tendo em Os Lusíadas sua maior manifestação, e se traduz
como obra gigantesca em vários sentidos, exaltando o povo português
em sua heroica trajetória.

Por outro lado, a lírica camoniana é muito controvertida quanto à sua


autoria; ela apresenta problemas graves de ecdótica, mas há alguns
consensos sobre certas obras divulgadas e atribuídas a Camões.

Camões se valeu de duas influências. Confira:


Ecdótica
Área da Filologia que se dedica a restituir a estrutura original de um texto,
por meio de uma metodologia científica.

Lírica medieval Lírica italiana


portuguesa
close Usando a medida nova.
Usando a medida velha.

Medida velha
A medida velha era a estrutura de poesia do palácio, com versos em
redondilha maior e menor, com uma estrofe de abertura contendo a ideia
central (mote) seguida de estrofes desenvolvendo essa ideia (chamadas de
glosa ou voltas).

Medida nova
A medida nova, resultado das inovações dos poetas do humanismo italiano,
usava o verso decassílabo. O soneto era uma das composições preferidas.

Vejamos um soneto de Camões, publicado pela primeira vez


provavelmente em 1595, em que a influência e a inspiração
petrarquianas se fazem sentir tanto na intertextualidade do primeiro
verso quanto no uso de antíteses e de termos que, de certo modo, ligam
uma estrofe a outra.

Intertextualidade
Compare o verso “alma minha gentil, que te partiste” deste soneto com o
verso inicial “A alma minha gentil que agora parte” do soneto de Petrarca
que vimos.

Antíteses
Oposições como alma/vida (alma/corpo em algumas edições);
repousa/viva/; céu/terra; cá/lá; assento etéreo/memória desta vida;
memória/esqueças.

Termos
Alguns termos semelhantes ou paralelos no sentido ou na forma são
usados, como recurso estilístico, para retomar termos da estrofe anterior,
ou seja, para ligar uma estrofe à outra. Por exemplo, no último verso da
primeira estrofe, a palavra “cá” permite ligar a estrofe à seguinte a partir da
ocorrência do “lá” no primeiro verso da segunda estrofe. Ainda temos: a
forma verbal “viste”, no final da segunda estrofe, liga a estrofe à seguinte
pela forma verbal “vires” no primeiro verso da terceira estrofe.

Alma minha gentil, que te partiste expand_more

Alma minha gentil, que te partiste


Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subsiste,


Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te


Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,


Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

(CAMÕES, 1976)

A liricidade no barroco
O nome Barroco só recentemente passou a indicar a corrente artístico-
literária que predominou na Europa durante o século XVII; anteriormente,
as obras que consideramos barrocas se confundiam com a arte
renascentista.

A partir do historiador suíço Heinrich Wölfflin (1864-1945), com a sua


teoria “genético-formal”, surgem categorias estéticas que distinguem o
estilo Barroco do estilo Renascença (D’ONOFRIO, 1997).
Foram inúmeras as manifestações líricas barrocas. No Brasil,
destacamos os poemas de Gregório de Matos Guerra. Vejamos um
exemplo de sua poesia:

Sátira a um desembargador que prendeu um inocente e


soltou um ladrão expand_more

Senhor Doutor, muito bem-vindo seja


A esta mofina e mísera cidade,
Sua justiça agora e equidade,
E letras com que a todos causa inveja.

Seja muito bem-vindo, porque veja


O maior disparate e iniquidade,
Que se tem feito em uma e outra idade
Desde que há tribunais e quem os reja.

Que me há de suceder nestas montanhas


Com um ministro em leis tão pouco visto,
Como previsto em trampas e maranhas?

É ministro de império, mero e misto,


Tão Pilatos no corpo e nas entranhas,
Que solta a um Barrabás e prende a um Cristo.

(MATOS, 1992)

A liricidade no
neoclassicismo
O que chamamos de Neoclassicismo é uma evolução do estilo clássico
que atinge o seu maior esplendor na França do rei Luís XIV (1638-1715).

Nessa época, o ideal estético era a beleza entendida como a harmonia


de formas e o predomínio da racionalidade.Embora em Portugal, por
motivos histórico-políticos, esse movimento quase não tenha existido,
temos um representante com obras de grande valor literário, Bocage.
Manuel Maria Barbosa du Bocage.

Vejamos um poema desse mestre dos sonetos:

Recordações de uma ingrata expand_more

Inda em meu frágil coração fumega


A cinza desse fogo em que ele ardia;
A memória da tua aleivosia
Meu sossego ainda aqui desassossega:

A vil traição, que as almas nos despega,


Não tem cabal poder na simpatia;
Gasta o mar importuno a rocha fria,
Melhor que o desengano a paixão cega:

Bem como o flavo sol, que a terra abraça,


Por mais que o veja densamente oposto,
Atraído vapor fere e repassa:

Tal, para misturar gosto e desgosto,


na sombra de teus crimes brilha a graça,
Com que o pródigo céu criou teu rosto.

(BOCAGE, 1987)

A liricidade no romantismo
A partir do século XVIII, começa o declínio das teorias da arte como
imitação da realidade exterior ou de modelos preexistentes e se inicia o
triunfo da arte como criação. Surge a figura do poeta “inspirado”, do
“gênio”, aquele que simplesmente se deixa levar pela emoção,
exprimindo livremente o que se passa em seu coração, sem se
preocupar com normas rígidas de composição (D’ONOFRIO, 1997).

O pensamento romântico se
desdobra em duas direções, que
terminam se fundindo: a busca
desse princípio anterior que faz da
poesia o fundamento da linguagem
e, por conseguinte, da sociedade; e
a união desse princípio com a vida
histórica.

(PAZ, 1984, p. 83)

Sendo a lírica um dos fundamentos da linguagem romântica,


escolhemos um poema de Almeida Garrett (1799-1854), no qual a
materialidade do prazer tem sempre um preço doloroso na ascese do
poeta em busca do amor ideal. Confira:

Ascese
Ascese, prática ou disciplina de renúncias aos prazeres, está também
relacionada com o ascetismo, uma filosofia ou estilo de vida caracterizado
pela abstenção de prazeres e de conforto por meio da disciplina e do
autocontrole, objetivando o desenvolvimento.

Gozo e dor expand_more

Se estou contente, querida,


Com esta imensa ternura
De que me enche o teu amor?
— Não. Ai! não; falta-me a vida,
Sucumbe-me a alma à ventura:
O excesso do gozo é dor.

Dói-me alma, sim; e a tristeza


Vaga, inerte e sem motivo.
No coração me poisou.
Absorto em tua beleza,
Não sei se morro ou se vivo,
Porque a vida me parou.

É que não há ser bastante


Para este gozar sem fim
Que me inunda o coração.
Tremo dele, e delirante
Sinto que se exaure em mim
Ou a vida — ou a razão.

(SOARES, 1999)

A liricidade no modernismo
Foram diversas as escolas modernistas. Do “espetáculo” e da ousadia
das vanguardas europeias à Semana de Arte Moderna de 1922 no Brasil,
muitas tendências se desenvolveram e não são mensuráveis as
modificações estéticas que se deram a partir daí.

No Modernismo brasileiro, vários nomes se destacam, mas escolhemos


a liricidade de um dos maiores dos nossos poetas, Carlos Drummond de
Andrade.

Sentimento do mundo expand_more

Tenho apenas duas mãos


e o sentimento do mundo
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu


estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram


que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,


eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitava a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.

(DRUMMOND, 1973)

Lima (1968) complementa falando mais sobre a liricidade de


Drummond. Veja:

A posse apenas das mãos e do


‘sentimento do mundo’ resume o
que é básico na construção
efetuada por Drummond: luta,
presença da realidade em que se
inclui o indivíduo, que a este
ultrapassa, enquanto lhe parece
opaca e impenetrável.

(LIMA, 1968)

Lembre-se de que você viu no início deste módulo algumas das


principais formas de gênero lírico, tendo todas elas em comum a
consagração pela tradição literária e formas fixas, estabelecidas pelos
modelos canônicos.
Porém, temos também as formas líricas ou poéticas que não são fixas,
ou seja, existem as chamadas formas livres, em que o poeta se sente
livre em relação aos padrões de rima, metro e ritmo. Nesse sentido, o
poeta Drummond é um grande exemplo de libertação formal.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Nas alternativas a seguir, são apresentadas algumas formas de


liricidade e suas respectivas definições. Assinale a única opção em
que a forma lírica mencionada é definida corretamente.

Soneto: forma lírica ou poemática que teve origem


ligada à antiga lírica greco-romana e tem no
A
chamado soneto regular sua principal estrutura:
com duas quadras (quartetos) e três tercetos.

Ode: poema que originalmente era entoado pelo


cantor acompanhado de instrumento musical e,
B mais tarde, teve também sua forma coral,
celebrando os prazeres da vida ou as vitórias nos
jogos.

Elegia: forma poética exclusiva dos poetas latinos e


que celebrava as bodas ou os casamentos por meio
C
do canto do poeta e o acompanhamento de flautas
de bambu.

Epitalâmio: canto que surgiu na Grécia e,


originariamente, tinha o caráter de canto fúnebre,
D mais tarde vindo a tratar também de temas
relacionados com o povo e os sentimentos
humanos.

Madrigal: poema curto apresentado na forma de


jogral, acompanhado por músicos, e que tratava de
E
temas relacionados com feitos heroicos, como as
vitórias nas guerras.
Parabéns! A alternativa B está correta.

A ode se caracteriza originariamente por ser um canto alegre e de


celebração, cantado originariamente por um cantor e acompanhado
por um instrumento de cordas. Depois, passou também a ser
cantado por um coral. As odes que celebravam os prazeres da vida,
como o vinho, eram denominadas anacreônticas, enquanto as odes
que festejavam as vitórias em jogos nacionais eram chamadas de
pindáricas.

Questão 2

O Renascimento, período histórico compreendido entre os séculos


XIV e XVI, consolidou-se como um movimento de rupturas e
inovações, com mudanças que permearam os conhecimentos
filosóficos, artísticos, literários e científicos. Tal época modificou o
rumo da civilização. A partir de seus conhecimentos sobre a lírica
renascentista, analise as proposições a seguir.

I. A Renascença italiana pode ser considerada o ponto alto do


lirismo da época clássica da Era Moderna.
II. Um dos principais representantes ibéricos da lírica renascentista
é Luís de Camões, tendo sido influenciado também pela lírica
italiana, usando a chamada “medida nova” em muitos de seus
poemas.
III. Representou o declínio da arte como imitação da realidade e
inovou ao subverter os padrões de metrificação do poema.
IV. As influências e as inspirações petrarquianas foram
abandonadas nessa época, pois a chamada “medida velha” ou ideal
poético medieval prevalecia nos poetas renascentistas.

Apenas estão corretas:

A I e II.

B I e III.

C I e IV.
D II e III.

E II e IV.

Parabéns! A alternativa A está correta.

O Renascimento italiano corresponde à valorização da época


clássica, movimento que ficou conhecido como Classicismo, e
marca a mudança da Idade Média para a Idade Moderna. Em
Portugal, na Península Ibérica, Camões é um grande representante
dessa estética renascentista com sua lírica inspirada em autores
petrarquistas e na “medida nova”, ainda que sua obra também
tivesse influências da lírica medieval portuguesa (medida velha).

3 - O eu lírico e leitura poética


Ao final deste módulo, você será capaz de identificar o eu lírico e as
convenções de leitura poética.

O eu lírico
O autor que escreve convencionalmente não é o eu do poema; o eu que
aparece na poesia é o eu poemático ou eu lírico. Mas é claro que esse
“eu poemático”, quase sempre, tem muito do autor. Além disso, o leitor
muitas vezes se vê refletido no poema como se olhasse em um espelho.
É interessante analisarmos essa relação entre o poeta e o eu poemático,
assim como o jogo de espelho que se constitui na relação com o leitor,
em um poema de Fernando Pessoa, veja:

Autopsicografia expand_more

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,


Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda


Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

(PESSOA, 1999)

O poeta (autor) sente uma dor, a dor sentida, mas a dor que é expressa
pelo eu lírico é a dor fingida no poema, uma vez que a dor sentida só o
poeta mesmo a conhece. Por outro lado, os que leem, por se verem
refletidos na dor escrita no poema, também sentem algo a partir da dor
fingida. Contudo, há um paradoxo: a dor fingida pelo poeta é a dor que
ele deveras (realmente) sente.

Saiba mais
É interessante lembrar que Fernando Pessoa criava os seus eus
poemáticos e dava nome e biografia a eles; chegou a ter 127 e os
denominava conceitualmente de heterônimos.

Para dar continuidade a esse tema, escolhemos dois eus poemáticos,


um romântico e um pré-modernista.

Almeida Garrett
O poeta romântico português, no poema Ignoto Deo, expõe de maneira
dramatizada a experiência amorosa de um “eu” em diálogo consigo ou
com outrem, a personagem do conflito de amor.
Litografia sobre papel representando Almeida Garrett, político, poeta e dramaturgo português.

Há quem atribua o poema a seguir a uma paixão, vivida e conhecida, de


Garrett por Rosa Montufar Infante, a Viscondessa da Luz, uma
espanhola muito bonita, mas que era casada com o oficial do exército
Joaquim António Barreiros, o Visconde da Luz. Observe:

Ignoto Deo expand_more

Creio em ti, Deus; a fé viva


De minha alma a ti se eleva
És: — o que és não sei. Deriva
Meu ser do teu: luz... e treva,
Em que – indistintas! – se envolve
Este espírito agitado,
De ti vem, a ti devolve.
O nada a que foi roubado
Pelo sopro criador
Tudo mais, o que há-de-tragar.
Só vive de eterno ardor
O que está sempre a aspirar
Ao infinito de onde veio
Beleza és tu, luz és tu,
Verdade és tu só. Não creio
Senão em ti; o olho nu
Do homem não vê na terra
Mais que a dúvida, a incerteza,
A forma que engana e erra.
Essencial! A real beleza,
O puro amor – o prazer
Que não fatiga e não gasta...
Só por ti os pode ver
O que inspirado se afasta,
Ignoto Deus, das ronceiras,
vulgares turbas: despidos
Das coisas vãs e grosseiras
Sua alma, razão, sentidos,
A ti se dão, em ti vida
E por ti vida têm. Eu, consagrado
A teu altar, me prosto e a combatida
Existência aqui ponho, aqui votado
Fica este livro – confissão sincera
Da alma que a ti voou e em ti só ‘spera.

(SOARES, 1999)

Garrett, ao ser perguntado sobre esse poema, disse:

O meu Deus desconhecido é


realmente aquele misterioso, oculto
e não definido sentimento de alma
que leva às aspirações de uma
felicidade ideal.

(GARRETT apud SOARES, 1999)

Cesário Verde
Faremos referência agora a um poema pertencente ao poeta pré-
modernista. No poema O sentimento dum Ocidental, vemos Cesário
expressar-se por meio de um eu lírico que se aproxima muito da figura
do flâneur do poeta e teórico francês Charles Baudelaire (1821-1867).

O flâneur é aquele eu lírico que despreza a massa e é cúmplice dela. É o


passante, o homem na multidão: aquele que vê o mundo através dela e
deixa de vê-lo por culpa dela. O flâneur oscila entre a cidade que se
torna opaca e ao mesmo tempo torna-se excessivamente visível.

Vejamos alguns fragmentos de O sentimento dum Ocidental:

Cercam-me as lojas, tépidas. Eu


penso
Ver círios laterais, ver filas de
capelas,
Com santos e fiéis, andores, ramos,
velas,
Em uma catedral de um
comprimento imenso.

(MACEDO, 1999)

Cercado por lojas “tépidas”, o eu poemático, em uma visão alucinatória,


pensa estar em uma imensa catedral profana e os manequins nas
vitrines figuram como os novos santos. Confira:

As burguesinhas do Catolicismo
Resvalam pelo chão minado pelos
canos.
E lembram-me, ao chorar doente
dos pianos,
As freiras que os jejuns matavam de
histerismo.

(MACEDO, 1999)
A intoxicação religiosa das moças burguesas assemelha-se, na
percepção do flâneur, às suicidas freiras histéricas. A cidade traz,
mediante novas formas, a repressão do corpo feminino.

Convenções de leituras
poéticas
Antes de iniciarmos, reflita nessas quatro questões sobre a leitura:

O que é ler?

Um questionamento do texto?

Uma interpelação do texto na procura de significados?

Um acompanhamento metódico de tudo isso?

Ler, com certeza, é decodificar vocábulos, expressões; entretanto,


sempre é muito mais do que isso.

Ler não é soletrar. Ler é muito mais


saber estabelecer relações
inteligentes entre os fatos, as
observações, os sinais e elaborar o
significado dessas relações.

(CASTRO, 1976)

Houve um tempo, mais especificamente no século XIX, em que ler um


texto literário significava adotar uma metodologia filológica, ou seja,
estudar as fontes, a origem e a filiação desse texto. Era um método que
se caracterizava por uma abordagem positivista (mais objetiva) e
cientificista do fato literário.

Nessa visão do texto a partir da Filologia, o papel do


sujeito na leitura ficava reduzido, pois, para se analisar
um texto, seria preciso abrir mão de gostos pessoais a
fim de evitar equívocos ou erros.

Do positivismo filológico aos dias atuais, muitas convenções literárias


de leitura se estabeleceram. Houve abordagens que explicavam o texto
literário a partir dos condicionamentos sociais e psicológicos. Outras
abordagens focavam o processo de criação do texto, usando para isso a
análise de manuscritos. Havia ainda abordagens que valorizavam a
forma literária, tentando isolar a forma do texto de seu contexto.

Como você pode notar, há uma diversidade de métodos e abordagens


do texto literário e poético. Mas queremos ainda mencionar duas delas:
o método estruturalista e o Pós-Estruturalismo. Para exemplificar o
método estruturalista, podemos recorrer ao linguista francês François
Rastier.

Retrato de François Rastier, 2018.

Estruturalista
O Estruturalismo na Literatura corresponde a uma metodologia científica
aplicável ao estudo do texto literário a partir de princípios universais que
governam o uso da linguagem, isto é, a partir de todos os elementos que o
constituem e que estão relacionados entre si por um sistema único de
significação, a que se chama estrutura.

Segundo Roland Barthes, trata-se de uma “atividade” que tem um fim


específico: “O fim de toda a atividade estruturalista, seja ela reflexiva ou
poética, é de reconstituir um ‘objeto’, de maneira a manifestar nesta
reconstituição as regras do funcionamento (as ‘funções’) deste objeto.”
(LUC DE HEUSCH, 1967).

Fonte: CEIA, 2009.

Pós-Estruturalismo
Movimento que critica o Estruturalismo cultural e literário a partir dos anos
1966 e 1967. Caracteriza-se pela crítica a um modelo de análise do texto
literário que seja universal, pois compreende que todos os textos literários
não correspondem a uma estrutura única, por isso mesmo não seria
pertinente um único modelo de análise do texto em face da diversidade
textual. Todo texto seria, de certo modo, o seu próprio modelo ou sua
própria estrutura.

Vejamos as diferenças:

Estruturalismo Pós-Estruturalismo
O foco do crítico ou A ênfase é dada aos
pesquisador é a obra close aspectos textuais.
literária.

No auge do estruturalismo, Rastier propôs um método de análise do


discurso lírico por meio de isotopias. A isotopia é a iteratividade de
agrupamento de vocábulos que tornam o discurso homogêneo. A
isotopia pode ser ainda entendida como um plano comum de sentido,
como a repetição de categorias semânticas ou sentidos recorrentes. As
linhas isotópicas ou os sentidos recorrentes conferem unidade e
coerência na leitura do texto literário. (D’ONOFRIO, 2000)

O linguista classificava as isotopias como semióticas, sintagmáticas e


paradigmáticas. A isotopia entendida como um tipo de acordo
semântico é determinada por dois tipos de contextos:

Contexto de Contexto
natureza paradigmáticos
sintagmática
É dado pela cultura e
É interno ao texto e está relacionado ao
oferece o sentido no sentido para além do
texto, assim, a natureza texto, ou seja, à
sintagmática deve ser
close significação que vai
abstraída das relações além do texto e envolve
entre as várias unidades os saberes de um grupo
de sentido existentes social ou os valores do
em um texto. mundo exterior
(D’ONOFRIO, 2000).
Quanto ao Pós-Estruturalismo, a referência é o pensador e semiólogo
francês Roland Barthes (1915-1980) e seu livro O Prazer do Texto.
Rompendo com todas as convenções tradicionais de leitura, Barthes
nos propõe uma análise literária a partir do prazer. Sendo assim,
distingue texto de prazer (plaisir) de texto fruição ou gozo (jouissance).

Para Barthes, o texto de prazer é o que nos enche de


euforia, que vem da cultura e não rompe com ela, é a
parte confortável da leitura.

O texto de fruição é o que faz vacilar nossa consistência dos nossos


gostos, dos nossos valores e das nossas lembranças. A fruição é
indizível e “in-terdita”. O escritor de prazer (e o seu leitor) aceita(m) o
estereótipo e a repetição. Entre o prazer e a fruição há um combate e
uma incomunicação (BARTHES, 1983).

Análise do texto poético


Para finalizar, nos apoiaremos em D’Onofrio (2000) para fazer breves
considerações sobre a análise de textos poéticos, dando alguns
exemplos.

A leitura e análise do texto poético devem ir além do aspecto formal do


poema (como sua metrificação) para se debruçar sobre o poema a
partir de aspectos relacionados com seu léxico, sua sintaxe e sua
semântica.

Atenção!
Antes de vermos cada um desses aspectos, lembre-se de que na leitura
e na fruição do texto poético devemos também relacionar nossa
experiência de mundo com os conhecimentos que temos sobre a
Literatura ou, especificamente, o gênero lírico.

Aspectos relacionados ao extrato lexical


Veja a seguir quais são os aspectos relacionados ao extrato lexical e
alguns exemplos:

Alterações da palavra expand_more


Alterações no nível da palavra considerada isoladamente, como
o acréscimo, a supressão ou a inversão, na maioria das vezes
para produzir efeitos relacionados com a rima ou a metrificação.

Exemplos:

No verso “De ouro e de perlas mais abaixo estavam”, de


Camões em Os Lusíadas, temos “pérola” modificada para
“perlas”.

No verso “E com ventos contrairos a desvia”, da mesma


obra, temos “contrairos” no lugar de “contrários”.

O uso da palavra expand_more

Escolha lexical a partir do uso de neologismos (inovações no


vocabulário) ou arcaísmos (termos antigos que caíram em
desuso), além de preferência por determinada categoria
gramatical (por exemplo, excesso de verbos indicando um
caráter narrativo ou abundância de adjetivos indicando um
caráter qualificativo ou predicativo).

Exemplos:

Veja um caso de predomínio de substantivos e adjetivos


nesta estrofe do poema Ulisses, de Fernando Pessoa: “O
mito é o nada que é tudo, / O mesmo sol que abre os céus /
É um mito brilhante e mudo – / O corpo morto de Deus, /
Vivo e desnudo.”

Perceba que o efeito é indicar uma definição do mito, e não uma


ação ou um acontecimento.

Nos versos a seguir, temos o predomínio de formas verbais,


indicando a ação do mito: “Assim a lenda se escorre/ A
entrar na realidade. / E a fecundá-la decorre. Em baixo, a
vida, metade / De nada, morre.”

Aspectos relacionados ao extrato sintático


Alterações estilísticas que apontam para os desvios que a linguagem
poética realiza na forma da frase (sintaxe), a partir das relações entre as
palavras na frase. Essas alterações podem ser por acréscimo e
supressão, entre outras alterações.

Acréscimos
Podem acontecer por meio de figuras, como:

Repetição expand_more

Recorrência de palavra, sintagma ou frase.

Digressão expand_more

Interrupção por meio de parênteses ou travessão para inserir


elementos secundários a fim de provocar reflexão ou sentimento
sobre o que se está tratando.

Pleonasmo expand_more

Uso desnecessário e redundante de palavras.

Perífrase expand_more

Rodeio de palavras em vez de enunciar de maneira sintética uma


ideia.

Veja dois casos de repetição nos versos do poema E agora, José, de


Drummond:

“E agora José? / e agora, você?”, repetição de “e agora”;

“Está sem mulher, / está sem discurso, / está sem carinho”,


repetição de “está sem”.
Agora, veja mais exemplos de alterações por meio de acréscimos nos
versos do poema O guardador de rebanhos, de Fernando Pessoa,
enfatizando e provocando a identificação do divino com a natureza.

Exemplo
“Mas se Deus é as árvores e as flores / E os montes e o luar e o sol, /
Para que lhe chamo Deus? / Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e
luar; / Porque, se ele se fez, para eu o ver, / Sol e luar e flores e árvores e
montes, / Se ele me aparece como sendo árvores e montes / E luar e sol
e flores, / É que quer que eu o conheça / Como árvores e montes e flores
e luar e sol.”

Supressão
Acontece pelo princípio da condensação, ou seja, com o uso de figuras
ou recursos estilísticos, como:

Elipse expand_more

Omissão de termo ou parte da frase.

Zeugma expand_more

Caso particular de elipse, em que não se repete um termo já


expresso.

Anacoluto expand_more

Espécie de elipse, caracterizado pela ausência de um termo que


habitualmente vem acompanhado de outro ou alteração abrupta
de construção.

Reticências expand_more

Indica inacabamento da frase ou sugerir ou apontar para


direções abertas da frase que se vinha enunciando.
Preterição expand_more

Uma contradição, ou seja, declara-se não querer dizer o que está


sendo dito.

Assíndeto expand_more

Supressão de conjunções ou elementos que marcam a relação


de coordenação entre as frases.

Veja alguns exemplos:

Nos versos do poema Ao Deus Kom unik assão, de Drummond,


temos uma situação de elipse na expressão comparativa “como se”,
que ficou sem complementação: “Nossa goela sempre escãocarada
/ engole elefantes / engole catástrofes / tão naturalmente como se.
/ E PEDE MAIS.”.

Temos exemplo de zeugma, com interrupção sintática indicando


um novo rumo do pensamento do eu lírico, no poema Radiograma,
de Murilo Mendes: “O gigante despenteia o mar das Antilhas / A lua
se levanta pálida como a musa / Não há notícias do fogo / Dormem
algumas constelações / Passam ao largo netas de ondas cascos de
sereias / É difícil ficar sozinho.”

Aspectos relacionados ao extrato semântico


Estudo das relações semânticas que as palavras estabelecem entre si. É
o entendimento de que as palavras são polissêmicas, ou seja, possuem
múltiplos sentidos. Por isso, na leitura do poema, deve-se levar em conta
o processo de transferência de sentido, como ocorre com as figuras de
sentido ou tropo. Entre as figuras, destacamos a metáfora, a metonímia
e o oxímoro (paradoxo). Observe:

Topo
Termo originário do grego trópos, que significa giro ou direção, e que
designa as figuras de linguagem ou de retórica, pois elas se caracterizam
pela mudança de sentido ou linguagem conotativa.
Metáfora expand_more

Entendida aqui como figura de estilo característica da linguagem


poética, seu mecanismo básico é constituído pela associação
em um sintagma de dois significantes apresentados como
semelhantes, a que correspondem, contrariamente, significados
diferentes.

A metáfora pode ser considerada uma comparação implícita ou


condensada, já que ela condensa a analogia ou comparação sem
usar conectivos (como, assim etc.). Junto à metáfora, temos,
então, a comparação que se vale de termos para estabelecer a
analogia, por isso é chamada de metáfora explícita.

Exemplos:

No poema Desencanto, de Manuel Bandeira, temos logo no


início da primeira estrofe uma comparação: “Eu faço versos
como quem chora”. No começo da segunda estrofe, temos
uma metáfora: “Meu verso é sangue”.

Em Camões, o verso “Amor é fogo que arde sem se ver” do


conhecido soneto traz a metáfora do fogo para se referir ao
amor.

Metonímia expand_more

Uma figura construída por contiguidade semântica, ou seja, um


objeto é designado por outro objeto que tem com o primeiro uma
relação de causa e efeito ou de continente e conteúdo ou de
produtor e produto etc.

Exemplos:

No verso “Cesse tudo que a Musa antiga canta”, de Camões


em Os Lusíadas, temos a metonímia “Musa”, pois foi tomada
por “poesia”.

No Poema de sete faces, de Drummond, os versos “O bonde


passa cheio de pernas: / pernas brancas pretas amarelas”
nos apresentam exemplo de metonímia porque trazem o uso
de “pernas” no lugar de “pessoas”: o bonde está cheio de
pessoas; pessoas brancas, pretas e amarelas.ara se referir
ao amor.

Oxímoro expand_more

O oxímoro está baseado em uma oposição semântica, assim


como a antítese e o paradoxo, evidenciando contradições,
contrariedades, conflitos e tensões.

Exemplo:

O soneto nº 4 de Camões é um bom exemplo de construção


poética oximórica (caracterizada por termos contraditórios).

Amor é um fogo que arde sem se ver


É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais bem que querer;


É um andar solitário por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;


É servir a que vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode ser favor


Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

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Leitura do texto poético
Veja a seguir alguns princípios e procedimentos relacionados com a
prática de leitura de poemas.
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Diversos estudos e teorias buscaram sistematizar o que seria o ato


de ler. Estudamos algumas dessas análises e seus respectivos
representantes. Assim, analise as afirmativas abaixo e relacione
com as respectivas abordagens. Depois, assinale a alternativa que
corretamente faz essas correlações.

Utilize (1) para Filologia, (2) para Estruturalismo e (3) para Pós-
Estruturalismo.

( ) Tem como um dos representantes Roland Barthes. Propõe uma


análise literária que distingue os textos de prazer (plaisir) e os
textos de fruição (jouissance).
( ) Baseada em ideais positivistas, defende o fato literário a partir de
perspectivas metodológicas e cientificistas.
( ) Defende uma redução do papel do sujeito na leitura, pois, para se
analisar um texto, deve-se abdicar de gostos pessoais a fim de
evitar equívocos ou erros.
( ) Dentro de sua perspectiva radical da análise do discurso, teve
como uma das propostas a análise poética por meio de isotopias.

A 3–1–1–2

B 2–1–1–3

C 2–3–2–2

D 2–2–1–2

E 1–2–1–2
Parabéns! A alternativa A está correta.

No enfoque filológico do estudo do texto literário ou poético,


prevalecia uma visão positivista, cientificista, o que implicava uma
rejeição ao aspecto subjetivo na leitura do texto, ou seja, não havia
espaço para manifestações de predileções ou gostos pessoais a
fim de se evitar leituras enviesadas ou incorretas.
O Estruturalismo teve como uma de suas vertentes a proposta de
leitura de texto literário a partir de formas recorrentes, chamadas de
isotopias.
O Pós-Estruturalismo, que tinha Barthes como um importante
representante, trouxe como uma de suas contribuições a ideia do
“prazer do texto”, que seria distinta da fruição ou gozo do texto.

Questão 2

Fernando Pessoa, no poema Autopsicografia, expressa um


paradoxo sobre o poeta e sua poesia. Em seus célebres versos, o
autor português afirma que “o poeta é um fingidor”.

A partir de seus conhecimentos sobre a distinção entre o eu


poemático (eu lírico) e o autor, considere as seguintes afirmativas.

I. O uso de heterônimos é uma saída para o dilema entre poeta e eu


poemático, pois Fernando Pessoa usou esse recurso para provar
que ele não era o autor de poemas escritos pelos heterônimos.
II. Embora haja uma distinção formal entre eu lírico e autor, as duas
instâncias podem ter pontos em comum.
III. Não há qualquer ponto de contato entre as duas instâncias; a
ficcionalidade é incompatível com os fatos da vida real.
IV. A ficção pode carregar algo de autobiográfico, mesmo que seja
uma subjetividade ou o âmago de uma fantasia do autor.

Estão corretas apenas as afirmativas:

A I e II.

B I e III.
C II e III.

D II e IV.

E III e IV.

Parabéns! A alternativa D está correta.

O estudante é chamado a atenção desde os tempos da educação


básica para não fazer confusão entre o eu lírico (eu poético) e o
autor de um texto poético, assim como é alertado para a diferença
entre o narrador e o autor de uma obra narrativa literária. A
distinção entre o eu lírico e o autor que convencionalmente escreve
o poema pode nos ajudar a não reduzir a leitura do poema a
aspectos biográficos. Porém, é preciso reconhecer que pode haver
uma relação ou um ponto de contato entre o eu lírico e o autor,
mesmo que os aspectos referentes ao autor (elementos
autobiográficos) sejam recriados poeticamente no texto.

Considerações finais
Vimos que, ao longo do tempo, o gênero lírico tem sido objeto de debate
nos estudos literários, havendo diversas abordagens conceituais no
campo da Teoria da Literatura. A partir da tradição das formas poéticas,
identificamos os elementos que compõem a estrutura dos poemas,
verificando a importância do verso, do metro, da rima e do ritmo nas
abordagens mais formais do texto poético.

Em relação às formas fixas do gênero lírico, verificamos diferentes


manifestações de liricidade, como a ode e o soneto, além de atentarmos
para o fato de que há também formas livres, que não se sujeitam a
regras e normas rígidas do fazer poético.

Finalmente, lembramos que eu lírico ou eu poético é distinto do autor do


poema, ainda que entre eles possa haver pontos de contato, e
conhecemos algumas convenções de leitura e perspectivas de análise
do texto poético.

Assim, percorrendo esse caminho, apresentamos um leque amplo de


perspectivas para que você se situe diante desse fenômeno complexo e
multifacetado que denominamos de liricidade.

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Leia o artigo Procura da poesia: algumas reflexões sobre o estatuto da


linguagem poética, de Antônio Donizete, que resume vários pontos
abordados neste conteúdo.

Referências
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Edições Gernasa, 1974.

BARTHES, R. O prazer do texto. Lisboa: Edições 70, 1983.


BOCAGE, M. B. Poemas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987.

CAMÕES, L. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1976.

CASTRO, E. M. Experiência de liberdade. Lisboa: Deabril, 1976.

CAVALCANTE FILHO, J. P. Fernando Pessoa: uma quase autobiografia.


Rio de Janeiro: Record, 2012.

CEIA, C. Estruturalismo. E-dicionário de termos literários de Carlos Ceia,


2009.

DETIENNE, M. Os mestres da verdade na Grécia antiga. Rio de Janeiro:


Zahar, 1988.

D’ONOFRIO, S. Literatura Ocidental. Autores e obras fundamentais. Rio


de Janeiro: Ática, 1997.

D’ONOFRIO, S. Teoria do texto 2: teoria da lírica e do drama. São Paulo:


Ática, 2000.

DRUMMOND, C. Reunião. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973.

GOLDSTEIN, N. Versos, sons e ritmos. 13. ed. São Paulo: Ática, 2000.

GULLAR, F. Dentro da noite veloz. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,


1975.

JAEGER, W. Paideia. A formação do homem grego. São Paulo: Martins


Fontes, 1986.

JAKOBSON, R. Linguística e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 1989.

LIMA, L. C. Lira e antilira. Mario, Drummond, Cabral. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 1968.

LUC DE HEUSCH et al. A Atividade Estruturalista. In: O Método


Estruturalista. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.

MACEDO, H. Nós. Uma leitura de Cesário Verde. Lisboa: Presença, 1999.

MATOS, G. Obra poética. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1992.

PAZ, O. Os filhos do barro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

PESSOA, F. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999.

PETRARCA, F. O cancioneiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.

PIRES, O. Manual de teoria e técnica literária. Rio de Janeiro: Presença,


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SOARES, A. Para uma leitura de folhas caídas de Almeida Garrett.


Lisboa: Presença, 1999.
STAIGER, E. Conceitos fundamentais da poética. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1977.

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