Filosofia - 11º Ano
Filosofia - 11º Ano
Arte e imitação/representação
Uma das mais antigas teorias da arte foi defendida pelos filósofos gregos Platão e Aristóteles. Ambos defendiam
que a arte é imitação. Chama-se teoria da arte como imitação ou mimese a esta teoria.
Porque considerava que a arte era imitação, Platão encarava a arte de forma negativa ao contrário de Aristóteles.
Platão considerava que qualquer imitação é digna de censura, uma vez que não nos mostrava a verdade.
Aristóteles, contudo, pensava que as pessoas podiam aprender com as imitações.
Os artistas aceitaram durante séculos que toda a arte é imitação a arte era encarada como um espelho que os
artistas colocavam diante das coisas e no qual a natureza se reflectia. Quanto mais perfeita fosse a imitação
mais valor artístico teria.
Aristóteles sabia que nem toda a imitação é arte. Apesar deste reconhecimento os defensores da teoria da
imitação pensavam que todas as obras de arte tinham de imitar algo. Isto é, defendiam que a imitação era uma
condição necessária para que algo fosse arte.
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A teoria representacionista (num sentido lato) inclui quer a representação imitativa, quer a representação não
imitativa e estabelece que algo é uma obra de arte só se algo é uma representação. Uma vez que a noção de
representação é mais lata do que a noção de imitação, esta versão da teoria representacionista resiste melhor à
crítica à teoria mimética. Ainda assim, a teoria representacionista pode ser considerada excessivamente
restritiva, pois há obras de arte sem qualquer intuito representativo.
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- o artista tem de sentir emoção, o público tem de sentir emoção, as emoções do público e do artista têm de ser
as mesmas; tem de haver autenticidade da parte do artista, o artista tem de ter a intenção de provocar emoções,
os sentimentos expressos têm de ser individualizados, a expressão consiste em clarificar sentimentos.
Por outro lado, dois dos filósofos que melhor sistematizaram esta posição trabalharam já no início do século XX,
com destaque para o inglês R. G. Collingwood (1889-1943), que salienta a importância do que se passa na mente
do artista, onde a obra é criada. A verdadeira obra é, na verdade, algo puramente mental, que o artista pode
concretizar fisicamente, projetando-a sob a forma de um objeto de arte (a que costumamos, erradamente, chamar
obra). O artista procura compreender e clarificar para si próprio uma sua emoção particular através de uma
ideia. Ao concretizar, depois, esta ideia num objeto, exprime a emoção original de modo imaginativo,
comunicando essa ideia - a verdadeira obra - a outras pessoas, embora isso não seja essencial à arte. A tarefa do
público é, então, exercitar, pela sua parte, a imaginação sobre o objeto que tem à sua frente, de modo a recriar
nas suas mentes a emoção inicial do artista (a obra).
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Bell parte do seguinte pressuposto: arte é um objecto que provoca emoções estéticas no seu público. Mas para
produzir emoções estéticas a obra de arte tem de ter alguma característica especial. Bell diz que essa
característica é a forma significante.
Mas o que é a forma significante? É uma característica da estrutura da obra que decorre da relação estabelecida
entre as partes que a constituem. Embora se possa aplicar a todas as formas de arte, a teoria formalista é
utilizada sobretudo para a pintura, onde a forma significante é definida como uma certa combinação de formas,
linhas e cores.
Antes de Bell, o crítico musical Hanslick defendera o formalismo na música, valendo-se do exemplo da música
instrumental "pura", isto é, sem um texto nem uma história. Obras deste tipo estão entre as mais admiradas da
história da arte, e, no entanto, não são capazes de imitar, representar ou exprimir emoções particulares, nem de
"dizer" algo sobre o que quer que seja. A música é arte em virtude da qualidade dos seus padrões formais, que
resultam dos modos como o compositor conseguiu conjugar as melodias, as harmonias e as mudanças de
tonalidade, os ritmos, a instrumentação, a intensidade dos sons e os andamentos.
Embora a teoria formalista pareça demasiado fria e técnica, especialmente quando comparada com a teoria
expressivista, ela tem a vantagem de não fazer depender o estatuto de obra de arte de fatores demasiado
subjetivos e flutuantes, centrando-se antes, segundo os seus defensores, em propriedades objetivas e autónomas
das próprias obras.
Objeções:
- Em que consiste a forma significante na escultura, literatura ou na música?
- Não clarifica o conceito de forma significante para cada uma das obras de arte definindo-a apenas como
aquilo que produz emoção estética;
- Não explica porque razão as obras de arte não provocam emoção estética em todas as pessoas;
- Faz depender o valor da arte da sensibilidade dos críticos.
- Forma e conteúdo são inseparáveis: ignorara a relação dos aspetos formais com os materiais (o sentido e a
referencia a algo) e a ligação das obras com a realidade, não nos permite perceber o sentido e valor dos
próprios elementos formais das obras, e isso seriam defeitos delas.
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Assim, ser um artefacto é uma condição necessária para que algo seja considerado obra de arte, embora não
seja uma condição suficiente (caso contrário, todo o artefacto seria obra de arte). Só satisfazendo as condições
de artefactualidade e de atribuição de estatuto é que algo pode ser considerado obra de arte.
Sendo uma conceção extremamente flexível em relação àquilo que pode ou não ser considerado arte, a teoria
institucional apresenta algumas virtudes, mas é também alvo de criticas:
- Esta teoria é muitas vezes acusada de elitismo, uma vez que considera que apenas um grupo de privilegiados,
formado pelos membros do mundo da arte, tem o poder de conferir o estatuto de obra de arte aos artefactos.
- De acordo com esta teoria, quase tudo - ou mesmo tudo – se pode transformar numa obra de arte, bastando para
tal o parecer de pessoas avalizadas nessa matéria. Assim, esta teoria não permite distinguir a boa da má arte:
dizer que algo é arte é apenas classificá-lo como tal, sem avançar qualquer apreciação valorativa a respeito do
facto de essa obra ser boa, má ou indiferente.
- Esta teoria inviabiliza a possibilidade de se falar numa arte primitiva, visto que é muito implausível que nos
tempos primitivos existisse o mundo da arte, pondo igualmente em causa a existência da arte criada por artistas
solitários, isto é, criada à margem da instituição social que é o mundo da arte.
- Estamos perante uma teoria que parece ser viciosamente circular: uma obra de arte é um artefacto a que o
mundo da arte conferiu estatuto, sendo o mundo da arte um conjunto de pessoas com poder de conferir a um
artefacto o estatuto de obra de arte. Assim, poderíamos ser levados a dizer, por exemplo, que Guernica é uma obra
de arte porque há pessoas que pensam desse modo, e essas pessoas pensam desse modo porque esse quadro
é uma obra de arte.
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- No caso do mundo da arte, ao invés do que acontece com outras instituições sociais, não existe uma
organização suficiente nem procedimentos reconhecidos para conferir a algo o estatuto de obra de arte,
havendo, muitas vezes, grandes discordâncias quando se trata de o fazer.
- Finalmente, como observa o filósofo Richard Wollheim (1923-2003), ainda que se admita que as pessoas ligadas
ao mundo da arte têm o dom de converter qualquer artefacto numa obra de arte, deve haver razões para
escolherem uns artefactos e não outros. Se há razões, então são essas a fixar o que é arte e o que o não é,
tornando-se desnecessária a teoria institucional. Se não há razões, se isso é feito de forma extravagante e
arbitrária, então a arte também será vista como arbitrária, não possuindo propriamente interesse.
Apesar destas objeções, a teoria institucional chama-nos a atenção para o carácter decisivo do campo cultural em
que uma obra aparece no que diz respeito à avaliação que dela se faz.
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- O problema da Intencionalidade. Há situações que, embora sejam raras na realidade, mesmo que nunca
tivessem sucedido, a simples possibilidade de as concebermos serviria de contraexemplo a esta condição o
caso real mais conhecido é o do escritor Franz Kafka, que deixou instruções para que, quando
morresse, os manuscritos de O Processo e O Castelo fossem destruídos. Aparentemente Kafka
não teve a intenção de que eles fossem vistos como arte, mas sim a intenção de que não fossem vistos de modo
algum. Como sucede frequentemente com estes pedidos, alguém reconheceu valor nos manuscritos e,
contrariando a intenção do autor, publicou as obras, que são consideradas obras cimeiras da literatura do séc. XX.
- Excesso de inclusividade . Finalmente, temos a objeção de que há práticas que continuam um aspeto de uma
tradição de ver algo como arte, mas que ninguém reconhece como arte. E o caso do retrato em pintura, em que
um dos objetivos/intenções (mesmo que muitas vezes nāo o mais importante) é ver no retrato a imagem da
pessoa retratada. Ora, se esse é um dos muitos modos legítimos de ver retratos, seguir-se-ia que tirar fotografias
do tipo passe ou outro intencionalmente para atender à semelhança entre a fotografia e a pessoa, e assim usando
um modo de ser visto que faz parte do repertório da arte, poderia também ser produzir arte.
- Esta teoria não responde à questão de saber o que muda no objeto propriamente dito quando este se
transforma em obra de arte, deixando por explicar o que uma obra de arte é em si mesma.
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- uma obra é arte se, e só se, é - uma obra é arte se, e só se, exprime sentimentos e - uma obra é arte se, e só se, provoca
produzida pelo homem e imita algo emoções do artista nas pessoas emoções estéticas
Imitação da natureza ou das acções Expressão e comunicação intencional de um sentimento Um objecto dotado de forma significante
vivido pelo artista para provocar o mesmo sentimento no que provoque no público receptor uma
público receptor emoção estética
Objeções/limitações
- Há inúmeras obras de arte que não Exclui do mundo da arte: - O conceito de forma significante não
imitam nada, como é o caso das obras - A arquitectura, a música aleatória e foi definido com rigor.
musicais, da arquitectura e do romance, inúmeras manifestações de arte - Baseia-se num raciocínio incorrecto.
bem como das obras da pintura contemporânea. - Faz depender o valor da arte da
abstracta. - As obras de arte produzidas sem intenção sensibilidade dos críticos.
- O artista não representa as coisas que de comunicar. - Não explica por que razão as obras de
vê, mas como as vê e também como as - As que não são expressão dos arte não provocam emoção estética em
imagina. sentimentos vividos pelo artista. todas as pessoas.
- Baseia-se numa concepção ingénua - As que sendo expressão dos sentimentos - Em que consiste a forma significante
da realidade do artista não suscitam o mesmo sentimento na escultura, literatura ou na música?
no público.
- As que exprimem sentimentos imaginados
pelo artista.
- As que não exprimem sentimentos.
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Algo é arte se, e só se, é uma artefacto que Algo é uma obra de arte, se e só se,
possui um conjunte de características ao alguém com os direitos de propriedade
qual foi atribuído o estatuto de candidato a sobre isso tem a intenção séria de eu seja
apreciação por um representante do mundo encarado da mesma forma que outros
da arte. objetos artísticos foram ou são
corretamente encarados.
Objeções