380-Texto Do Trabalho-1766-1-10-20180418
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Resumo: O projeto desenvolvido em uma turma de educação infantil com crianças de cinco anos contemplou os eixos
transversais: educação para a diversidade; educação para a sustentabilidade; educação para e em direitos humanos,
educação para a cidadania e os eixos integradores cuidar e educar, brincar e interagir. Trouxe à luz questões ambientais;
o termo sustentabilidade; o contato direto e livre com ambientes naturais; valorizando a relação das crianças com a na-
tureza para que se sintam parte integrante e agentes modificadores desse meio. O relato de experiência conta o desen-
rolar desse projeto que contribuiu para uma nova realidade socioambiental no espaço físico e da comunidade escolar,
modificações que foram para além dos muros da escola, primando pela sustentabilidade do planeta Terra.
* Leiliana de Carvalho Monte é professora de Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. Contato: [email protected].
Figura 2. Plantio pedagógico desenvol- Utilizamos um espaço onde não havia plantas e era pouco utili-
veu-se ao longo de seis zado, nele, colocamos pneus coloridos e plantamos uma diver-
meses, de maio a setem- sidade de mudas que servem para fazer chá, ressignificando,
bro de 2017, em nível assim, um espaço da escola não explorado pela comunidade
crescente de dificuldade escolar e, ainda, trouxe um lindo colorido para a fachada da
e participação, visando escola. Para manter o interesse, foi elaborado um rodízio entre
práticas pedagógicas as turmas para molharem e cuidarem do Jardim dos Cheiros (fi-
que contemplem o eixo gura 3), as crianças demonstraram se importar com as plantas
integrador da Educação fazendo questão de sempre as molharem.
Infantil: Educar e cuidar, Em relação ao mês de junho, exploramos o bioma da nos-
brincar e interagir. Este sa região Centro-Oeste, o Cerrado. Iniciamos essa etapa com
eixo norteou a organi- atividades em área aberta, como a observação minuciosa e a
zação das experiências escuta dos sons da natureza. Usamos mapas e globo terrestre.
de aprendizagens ao Exploramos os cinco sentidos e integramos brincadeira na na-
Fonte: Leiliana Monte, Centro de Educação longo das atividades tureza à aprendizagem. No decorrer do projeto, conhecemos
Infantil 01 do Paranoá, 2017 para o projeto. melhor as características peculiares desse bioma, árvores, ani-
No início do projeto, mais, frutas e clima. As árvores do cerrado ganharam destaque
no mês de maio, reali- no projeto e cada turma foi batizada com o nome de uma ár-
zamos uma caminhada silenciosa pela área externa da escola, vore típica do cerrado. A turma escolheu o Jacarandá Cabiúna
com o objetivo de observar a natureza presente nesse ambien- e confeccionou um livro informativo sobre essa árvore, plantou
te. As crianças identificaram plantas e animais que compõe o sua semente e acompanhou seu desenvolvimento (figuras 4 e 5).
espaço escolar, como pássaros, calangos e insetos; observaram, Para fechar o mês de junho realizamos a leitura da poesia
também, que na escola havia plantas que servem para fazer chá, “Paraíso”, de José Paulo Paes, conversamos sobre a impor-
como por exemplo, Capim Santo, Erva Cidreira e Alfavaca. De- tância das árvores para os animais e os seres humanos, que
monstraram uma interessante prática social inicial de conhecimen- a utilizamos para construção de moradia, para a produção de
to de mundo a respeito dos chás e de suas utilidades (figura 2). alimentos, para a fabricação de móveis, produção de remédios,
Diante dessas informações solicitamos às famílias que en- papel, etc, como instruído pelo V Guia da Plenarinha. Com
viassem a escola amostras de plantas que pudéssemos fazer isso, construímos um texto coletivo com o tema “A escola que
chás. Explorou-se as amostras e promoveu-se a interação a queremos”, o que oportunizou às crianças expressarem como
partir das rodas de conversa e da exposição oral feita pelas
crianças das amostras que trouxeram de casa, possibilitando o Figura 3. Jardim dos cheiros
desenvolvimento da linguagem oral do grupo. Após o exposto,
saboreamos um delicioso chá feito com as amostras de folhas
trazidas pelas crianças.
Durante o mês de maio continuamos com o trabalho con-
cernente aos benefícios do chá, listamos os nomes das mudas
de chá no quadro, para contemplar a Linguagem Oral e Escrita,
conhecemos e nomeamos as partes das plantas em atenção a
Linguagem Natureza e Sociedade, contamos e registramos a
quantidade de árvores dentro da escola para o trabalho com
a Linguagem Lógico-Matemática, realizamos degustações de
chás e começamos o plantio das mudas.
Iniciamos, então, a construção de um Jardim dos Cheiros. Fonte: Leiliana Monte, Centro de Educação Infantil 01 do Paranoá, 2017
Fonte: Leiliana Monte, Centro de Educação Infantil 01 do Paranoá, 2017 Fonte: Leiliana Monte, Centro de Educação Infantil 01 do Paranoá, 2017
gostariam que fosse o ambiente escolar e a comunidade. Dessa Figura 6. Arraial do Cerrado: Festa Julina Sustentável
forma, o tema escolhido para a festa julina da escola, que conta
com a participação de toda a comunidade, foi o Arraial do Cer-
rado, que trouxe comidas, danças, vestimentas típicas e uma
decoração feita pelas próprias crianças, utilizando materiais re-
ciclados, abordando a sustentabilidade, reaproveitamento de
materiais e a utilização de materiais alternativos.
Assim, os espaços escolares foram decorados e ocupados
por produções das crianças, valorizando o protagonismo infan-
til e a produção criativa das crianças.Reutilizamos galhos de po-
das de árvores para a confecção de árvores típicas do cerrado,
como o Mama-cadela, Faveiro e os Ipês, que com suas cores
vibrantes deram um colorido especial a nossa festa (figura 6).
Fonte: Leiliana Monte, Centro de Educação Infantil 01 do Paranoá, 2017
O currículo da Educação Infantil é concebido como um conjunto de Durante esse mês, Figura 7. Pé de romã
práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças experimentamos as fru-
com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artís- tas que temos o privi-
tico, científico e tecnológico. Tais práticas são efetivadas por meio de légio de ter na escola,
relações sociais que as crianças desde bem pequenas estabelecem com o pé plantado e produ-
os professores e as outras crianças, e afetam a construção de suas iden- zindo frutos, como o
tidades. Intencionalmente planejadas e permanentemente avaliadas, as tamarindo, a romã e o
práticas que estruturam o cotidiano das instituições de Educação Infantil mamão. Aprendemos a
devem considerar a integralidade e indivisibilidade das dimensões expressi- cuidar e amar a nature-
vo-motora, afetiva, cognitiva, linguística, ética, estética e sociocultural das za que nos cerca e pas-
crianças, apontar as experiências de aprendizagem que se espera promover samos um bom tempo
junto às crianças e efetivar-se por meio de modalidades que assegurem as fora de sala de aula, ex-
metas educacionais de seu projeto pedagógico (BRASIL, 2009, p. 6). plorando e vivenciando
a área externa da esco-
Julho, mês do recesso escolar, passou rápido como um pás- la (figura 7).
saro livre no céu, mas tivemos a oportunidade de consolidar as Agosto, um mês
aprendizagens e de, mais uma vez, ter contato com a nature- quente e com muito
za ao nosso redor, vivenciamos piquenique na área externa da aprendizado, tivemos
escola, molhamos as plantas, passeamos pela escola, desco- a oportunidade de co-
brimos que na escola, temos muitas árvores frutíferas, cupin- nhecer o poema “Meu
zeiro, formigueiro, tocas de lagartixas, casa de corujas, ninhos Quintal” da escritora
de pássaros. O olhar atento e curioso das crianças possibilitou Ana Neila Torquato, Fonte: Leiliana Monte, Centro de Educação
Infantil 01 do Paranoá, 2017
o encontro de diversos elementos da natureza inseridos no mostrado e sugerido
ambiente escolar, fazendo a turma perceber que a natureza pelo V Guia da Plenari-
não é algo separado, não está somente no imaginário de nha. O poema serviu de subsidio para a confecção de textos
uma floresta longe do alcance e distante da cidade e, sim, coletivos sobre como as crianças gostariam que fossem o quin-
que a natureza somos nós, que ela está em nós, que somos, tal da casa delas. Este foi um momento de reflexão junto às
também, a natureza, que fazemos parte dela e que nossas crianças e à comunidade escolar, a partir do olhar das crianças
atitudes, positivas ou negativas, interferem diretamente na que relataram o desejo de ter em suas casas um espaço verde
vida de animais e plantas ao nosso redor. com árvores, gramas, insetos e sombra, muita sombra, onde
Figura 9. Técnica monotipia com tinta de açafrão Figura 10. Interações com a natureza
Fonte: Leiliana Monte, Centro de Educação Infantil 01 do Paranoá, 2017 Fonte: Leiliana Monte, Centro de Educação Infantil 01 do Paranoá, 2017
sobre a prática pedagógica na busca de melhores caminhos para orientar com os outros, e, além disso, o desenho das crianças como a repre-
as aprendizagens das crianças. sentação do seu pensamento e da sua prática (figura 12).
Diante das boas colheitas realizadas com o desenvolvimento do
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
projeto ‘Sentir, conhecer e experimentar, criança na natureza já!’,
Infantil (2009, p. 22):
surgiram ideias para formular um novo projeto que aborde as pecu-
As instituições de Educação Infantil devem criar procedimentos para acom- liaridades da cidade e do campo, com seus espaços e características,
panhamento do trabalho pedagógico e para avaliação do desenvolvimento para a conscientização da interdependência entre esses espaços, bem
das crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou classificação, garan- como, sua preservação e importância para a sustentabilidade planetária.
tindo: I - a observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e Com essas experiências pedagógicas foi possível se aproximar
interações das crianças no cotidiano; II - utilização de múltiplos registros mais da comunidade escolar, dos saberes, das pessoas e dos seres
realizados por adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns etc.); vivos que compõe a escola. O espaço escolar passou a ter um novo
IV - documentação específica que permita às famílias conhecer o trabalho da significado em que a sala de aula deixou de ser o único lugar propício
instituição junto às crianças e os processos de desenvolvimento e aprendiza- para acontecer a aprendizagem e tornou-se só mais uma possibilida-
gem da criança na Educação Infantil. de na imensidão desse espaço (figuras 13 e 14).
Assim, uma nova trajetória profissional foi aprendida, visto que,
Dessa maneira, a validação da aprendizagem e do ensino ocor- a escola como um todo, espaços físicos, servidores e comunidade
reu em diferentes momentos, utilizou-se uma pauta de observa- contribuem de forma dialética com a aprendizagem significativa dos
ção que registrou as falas, expressões, o relacionamento entre as envolvidos nesse processo, e não somente na relação da professora
crianças e entre a criança e a natureza, a interação com o objeto e ou professor com a criança dentro de uma sala de aula.
Referências bibliográficas
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
______. Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília/DF: Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica, aprovado em 11 de novembro de 2009.
BRASÍLIA. Currículo em Movimento da Educação básica – Educação Infantil. Brasília/DF: Secretaria de Estado de Educação-SEEDF/GDF, 2014.
________. Guia da V Plenarinha da Educação Infantil: A criança na natureza: por um crescimento sustentável. Brasília/DF: Secretaria de Estado de Educação-SEEDF/GDF. Subsecretaria de Educação Básica/Coorde-
nação de Políticas Públicas Educacionais/Diretoria da Educação Infantil, 2017.
________. Guia da IV Plenarinha da Educação Infantil: A cidade e o campo que as crianças querem. Brasília/DF: Secretaria de Estado de Educação-SEEDF/GDF. Subsecretaria de Educação Básica/Coordenação de
Políticas Públicas Educacionais/Diretoria da Educação Infantil, 2016.