A Cor Do Racismo
A Cor Do Racismo
A Cor Do Racismo
O que é Racismo?
Em toscas palavras, o racismo assim pode ser conceituado: é o
ato de colocar uma pessoa em situação de inferioridade,
subjugada, por causa de sua cor de pele ou etnia, em detrimento
de outra que, por causa de sua situação racial, se autodenomina
de “raça superior”.
Embora alguns usem o binômio: racismo e preconceito de modo
intercambiável, os estudiosos, contudo, costumam fazer
diferença entre eles. É que o racismo sempre será acompanhado
de alta dose de preconceito, mas nem sempre preconceito quer
dizer racismo. As manifestações preconceituosas podem
envolver muito mais que raça.
De um enfoque histórico esta questão definitivamente não se
restringe apenas a área da sociologia, mas se estende a quase
todos os campos de estudos humanos. Indo da religião à
psicanálise. Trata-se do preconceito racial que sem dúvida é um
dos grandes pivôs que dá cor à violência em nosso cotidiano.
A temática é uma questão candente do nosso tempo, está na
ordem do dia. Muito embora, tenha sido negligenciada por tanto
tempo, parece que agora as autoridades internacionais
acordaram para o assunto. Em 2001 foi realizada pela ONU a III
Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial,
Xenofobia e Formas Conexas de Intolerância, em Durban, na
África do Sul. Um dos objetivos era formar uma nova visão
mundial no combate ao racismo, ao preconceito e a intolerância.
“A discriminação entre seres humanos com base em raça, cor ou
origem étnica é uma ofensa à dignidade humana e será
condenada como uma negação dos princípios da Carta das
Nações Unidas, como uma violação dos direitos humanos e
liberdades fundamentais proclamadas na Declaração Universal
de Direitos Humanos, como um obstáculo para relações
amigáveis e pacíficas entre as nações, e como um fato capaz de
perturbar a paz e a segurança entre os povos.” (1)
Racismo no contexto brasileiro
Devido à espantosa miscigenação racial existente em nosso país,
que o coloca em uma situação impar no mundo, criou-se um
estereotipo de nação-paraíso das etnias. Na opinião de muitos, a
tolerância racial aqui é vista como em nenhum outro país do
mundo.
Não obstante essa visão mítica de “igualdade de raça”, o
contexto histórico brasileiro apresenta uma outra realidade. Não
se pode negar que o racismo faz parte do cotidiano de muitos
brasileiros. Ora, qual de nós nunca foi vítima desta prática
horrenda? Segundo o ex-diretor e assessor jurídico do Instituto
de Pesquisa e Culturas Negras, Dr. Luiz Fernando Martins da
Silva, “O Brasil possui a maior população negra fora da África. É a
segunda maior população negra do mundo, só inferior
numericamente à população do mais populoso país africano, a
Nigéria.”. Também a pesquisadora paulista Elza Berqui afirma
que a miscigenação brasileira atingiu os 21% em comparação
com os EUA que ficou em torno de 4%.
Apesar da grande parcela da população ser de origem negra, cuja
pujança não se pode negar no contexto histórico de nosso país,
não é raro encontrarmos cada vez mais brasileiros sendo vítimas
do preconceito racial.
Frases como “negão” e piadas de “preto”, já fazem parte, como
diria Jung, do inconsciente coletivo brasileiro.
Por exemplo, um artigo do jornal “O Estado de S. Paulo” de
24/09/96 – pag. A16 que trazia como subtítulo a seguinte frase
“Ex-funcionário alega ter sido demitido da Eletrosul, em Santa
Catarina, por ser negro.” é um exemplo típico do que estamos
falando. Este episódio é vivido diuturnamente e anonimamente
por milhares e até milhões de pessoas, no chamado país da
“tolerância”.
Mas quem pensa que a intolerância racial se restringe apenas à
raça negra está enganado, quem não se lembra do caso em que
um grupo de jovens ateou fogo num índio em Brasília?! O
preconceito alargou suas fronteiras, de seu alvo principal – a cor
da pele – atingiu a camada social, a religiosidade e a
nacionalidade. O pobre, o judeu, o índio, o protestante é tão
vítima da discriminação quanto é o negro. Isto porque o ser
humano tende a ter medo de tudo que é diferente, e essa
xenofobia contribui para levar à rejeição e por fim à resistência à
realidade da qual não se está habituado e nem pretende
compartilhar.
Ao analisarmos o boom do racismo é quase imperiosa a menção
a algumas entidades como a Ku Klux Klan e grupos como os
Skinheads que se tornaram notórios pela sua apologia ao
racismo que na defesa de uma nefanda ideologia de supremacia
racial deixaram e ainda deixam as marcas de suas atrocidades.
A Ku Klux Klan
Em 1866, no Estado do Tennessee, surge uma das mais
monstruosas instituições racistas que a sociedade norte
americana já conheceu – a Ku Klux Klan – formada por ex-
soldados do sul do país que serviram na guerra contra a abolição.
O grupo que já chegou a ter 4 milhões de filiados, deixou por
vários anos um rastro de terror e assassinatos que até hoje não
foi esquecido e indubitavelmente se tornou uma mancha na
história da nação que é considerada a “terra da liberdade”. Com
os rostos e corpos cobertos por lençóis brancos costumavam
queimar cruzes na frente da casa das pessoas que queriam
intimidar, principalmente de raça negra. Suas primeiras ações
eram voltadas ao combate ao voto dos negros. Depois a
intolerância se alargou para outros grupos minoritários tais como
os judeus, hispânicos, simpatizantes dos direitos civis e outros.
Mas não pense que a Klan foi algo sui generis, não, na verdade
grupos menos conhecidos de discriminação racial afloravam na
época como a Irmandade Branca (White Brotherhood), os
Homens da Justiça (Men of Justice), os Guardiões da União
Constitucional (Constitutional Union Guards) e os Cavaleiros da
Camélia Branca (Knights of White Camelia). Pasmem! O
movimento até hoje sobrevive e possui até site na Internet.
Os Skinheads *
Os Skinheads, também conhecidos por “carecas” são
notadamente mais recentes que a Ku Klux Klan. Contudo, não
menos violentos. São grupos de jovens nacionalistas. Apesar de
muitos classificá-los como nazistas, na verdade apenas um grupo
no Brasil se identifica com o nazismo – os White Powers (Força
Branca) – o mais radical de todos eles. Existem várias facções
diferentes dentro do movimento cada qual com ideologias
próprias, “por exemplo, enquanto os White Powers pregam
contra os nordestinos, homossexuais, judeus e negros, os
carecas do ABC só se opõe aos homossexuais e estrangeiros”,
explica Rosan Roberto da Silva, que foi um dos primeiros
integrantes dos carecas do ABC, hoje convertido ao Evangelho. Já
o sociólogo Sérgio Vinícius de Lima Grande, autor da dissertação
de mestrado Violência Urbana & Juventude em SP, acredita que
esta facção apesar de apoiar o anti-semitismo e o preconceito
contra os homossexuais, “não é a favor da discriminação racial”.
Todavia, se nessa diversidade há algo que os une é sem dúvida a
violência e o preconceito, seja de uma forma ou de outra. Esse
espírito nacionalista tem levado muitos destes jovens a
cometerem terríveis atrocidades em nome dessa ideologia. Um
caso que chocou o Brasil foi a morte do adestrador de cães e
homossexual Edson Neri da Silva, de 35 anos. Ele foi espancado
até a morte por Skinheads na Praça da Republica em São Paulo.
“Estes jovens praticam violência por nada, não existe uma razão,
a violência está no centro do movimento”, conclui Rosan.