Resenha - Crítica - Marília

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RESENHA CRÍTICA: pensar infância e experiência com a criança benjamin

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OBRA: SANTANA, Eduarda Aleycha Luciano; OLIVEIRA, Paula Ramos de. Pensar
infância e experiência com a criança Benjamin. Childhood & Philosophy, v. 18,
2022.

A obra oferece uma análise abrangente das obras de Walter Benjamin,


concentrando-se nas perspectivas sobre criança, experiência e infância. Destaca
obras específicas, como "A hora das crianças narrativas radiofônicas," "Infância
berlinense: 1900," "Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação," e "Rua de
mão única."
Uma parte significativa do texto explora o conceito de experiência em
Benjamin, especialmente a distinção entre Erfahrung (experiência coletiva) e
Erlebnis (experiência vivida) na era moderna. Aprofunda-se na mudança de
paradigma na experiência ao longo do tempo, considerando a transição do trabalho
artesanal para o industrial e os efeitos dessa transição na narrativa e na percepção
temporal.
A conexão entre experiência, narrativa e infância é explorada, destacando
como a narrativa é vital na transmissão de experiências. O autor argumenta que a
infância desempenha um papel crucial na resistência à decadência da narrativa na
sociedade contemporânea. O estudo dos fragmentos de "Rua de mão única" e
"Infância berlinense: 1900" ilustra a habilidade de Benjamin em desconstruir
idealizações da infância, revelando uma visão mais autêntica e complexa.
Benjamin questiona a concepção linear da história, propondo um
entendimento em que passado, presente e futuro se entrelaçam. Ele critica a ideia
de história como uma mera continuidade, destacando momentos críticos de
descontinuidade. Os conceitos de origem e ruína ajudam a entender essa
perspectiva, indicando que a origem é um salto em direção ao novo, enquanto a
ruína possui ambivalência, representando tanto a destruição quanto a memória da
injustiça.
A infância, para Benjamin, é vista como uma categoria social, histórica e
cultural que constantemente recompõe a experiência vivida, desafiando a noção de
um processo linear. Ele destaca a capacidade da criança de ver o que os adultos
não veem e sua habilidade de atribuir novos significados a objetos e palavras,
desencadeando uma crítica ao progresso e à temporalidade linear:
A concepção de infância de Benjamin vai além das abordagens
evolucionistas, reconhecendo-a como uma construção histórica, social e cultural. Ele
destaca a importância de compreender a infância para reconstituir a memória
histórica, enfatizando que a infância está relacionada à memória coletiva
(SCRAMINGNON; MAIA, s.d.).
Benjamin aborda a linguagem como tendo caráter histórico, diferenciando-a
da língua original. Ele utiliza narrativas de sua própria infância para explorar a visão
da criança como sujeito ampliado social e psiquicamente. Destaca a capacidade da
criança de criar, inovar e subverter a ordem estabelecida, criticando a ideia de uma
infância passiva.
Ao examinar a relação da criança com o mundo, Benjamin destaca seu olhar
crítico, sua capacidade de explorar detritos e reconstruir o mundo a partir de restos.
Ele contrasta essa visão com o preconceito moderno de que as crianças são
distantes e incomensuráveis, defendendo uma abordagem que reconheça a
especificidade da infância (SCRAMINGNON; MAIA, s.d.):

É que as crianças são especialmente inclinadas a buscarem todo local de


trabalho onde a atuação sobre as coisas se processa de maneira visível.
Sentem-se irresistivelmente atraídas pelos detritos que se originam da
construção, do trabalho no jardim ou na marcenaria, da atividade do alfaiate
ou onde quer que seja. Nesses produtos residuais elas reconhecem o rosto
que o mundo das coisas volta exatamente para elas, e somente para elas.
Neles, estão menos empenhadas em reproduzir as obras dos adultos do
que em estabelecer uma relação nova e incoerente entre esses restos e
materiais residuais. Com isso as crianças formam o seu próprio mundo de
coisas, um pequeno mundo inserido no grande. (BENJAMIN, 2002, p. 57-
58)

A ênfase na relação entre infância e resistência é ressaltada, especialmente


através da análise dos programas radiofônicos de Benjamin direcionados às
crianças. A abordagem crítica de Benjamin em relação à sociedade moderna é
evidente, destacando a importância de preservar a capacidade de contar histórias e
transmitir experiências.
Benjamin critica a visão filistéia da infância, relacionando-a a uma educação
que infantiliza e não reconhece a potência da criança. Propõe uma educação que
valorize o "instante do gesto" da criança, destacando a importância de uma
abordagem coletiva que garanta a realização da infância, em vez de apenas
prepará-la para o futuro (SCRAMINGNON; MAIA, s.d.).
Além disso, Benjamin destaca a infância como uma categoria social que
desafia a linearidade temporal e propõe uma compreensão mais ampla da história.
Sua visão da infância como um ser capaz de ver e reinterpretar o mundo,
contribuindo ativamente para a produção cultural, sugere que a educação deve
reconhecer e nutrir essa capacidade criativa inerente.
A pesquisa em educação, ao abordar a insatisfação com a construção de
conhecimento nas ciências humanas, destaca a desumanização resultante da
aplicação de modelos científicos das ciências naturais ao estudo do homem. Essa
abordagem, como indicado por Souza, contribui para a formação de uma
subjetividade capitalística, onde os indivíduos são normatizados e submetidos a
sistemas que desconsideram a complexidade das relações humanas.
Portanto, a visão de Benjamin sobre a infância, quando aplicada à educação,
propõe uma abordagem mais humanizada e contextualizada, reconhecendo a
importância da singularidade das experiências infantis. Essa perspectiva contrasta
com a desumanização destacada na pesquisa em educação, sublinhando a
necessidade de repensar os paradigmas científicos para abordar de maneira mais
completa e ética as complexidades da condição humana.
REFERÊNCIAS

BENJAMIN, W. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo:


Editora 34, 2002.

DA SILVA SCRAMINGNON, Gabriela Barreto; MAIA, Marta Nidia Varella Gomes. A


concepção de infância em walter benjamin.

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