Zé Capitão

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ZÉ CAPITÃO -José Gontijo da Silva

Há mais de 50 anos, nos “pousos” da Estrada Boiadeira indo de Divinópolis


até Belo Horizonte, no Frigorífico Diniz, bem cedinho, o patrão e os seus
peões fechavam a tropa no curral, já cheio de meninos e alguns pais na
cerca, com os olhos vidrados de emoção. Primeiramente eram arreados e
montados os animais xucros, ou seja, não domesticados,

Ticadosdomesr e se amansados,sados logo seriam incorporados à tropa de


serviço, se não, iam aumentando a “tropa braba puladeira do boiadeiro Zé
do Capitão”. Uma vez por mês passava ele com sua comitiva levanto bois e
vacas gordas, cavalos e potros vindos de Divinópolis, além daqueles que os
fazendeiros, não conseguindo amansar, traziam para negociar. Se passasse
no “teste de montaria”, Zé capitão comprava ou catirava esses animais,
aumentando e melhorando sempre sua “tropa braba puladeira”. Com os
currais de montaria cada vez mais empencados de gente, a tropa puladeira
cada vez maior e melhor, os peões especializando-se a cada vez mais duros,
aprendendo com o Zé do Capitão, que também montava, a fama foi
crescendo, levando sempre a plateia ao delírio.

Em frequentes convites para participar com a sua equipe (peões, animais,


dupla de violeiros etc) em festas locais de quermesses, aniversários e outras,
Zé do Capitão, que era um entusiasmado festeiro, não pensava duas vezes.
Lá estava ele conquistando todos com seu jeitão amigo e atraente de ser. As
festas eram sempre lotadas de gente, muitos vindos de longe para assistirem
a apresentação da Equipe de Rodeios Zé Capitão, nos currais arredondados
para que os animais pulassem mais e de roda, além de ser melhor para o
público assistir de perto ao rodeio, daí o nome. Começaram então a surgir os
convites para participar das Exposições Agropecuária de Belo Horizonte e
região, e posteriormente, para vários estados como São Paulo, Paraná, Rio
de Janeiro, Espírito Santo, Mato Grosso, Goiás e outros, sempre
proporcionando alegria e fazendo muitos e grandes amigos e admiradores,
levando sempre com muito orgulho o bom nome de Divinópolis-Minas
Gerais pelo Brasil afora.

Sua presença na primeira festa de Barretos (São Paulo), a tradicional Festa


do Peão de Boiadeiro de Barretos, é um capítulo à parte na caminhada de
sucesso na vida de Zé Capitão. Conta a história que, no dia 15 de julho de
1955, um grupo de 20 jovens sentados numa mesa de bar, fundou “Os
Independentes” na cidade de Barretos. Da união do grupo foi, realizada a
primeira Festa do Peão, em 1956. Esse evento foi realizado em dois dias com
apresentações de catira, dança do folclore brasileiro, queima do alho e
outras atrações. Essas festas se identificavam com a mistura de esporte com
o trabalho diário das fazendas.

Em Divinópolis, por volta de 1955, coincidindo com o ano da fundação do


Sindicato Rural de Divinópolis, Zé Capitão, que também foi vereador por 13
anos, presidiu a comissão organizadora da primeira Exposição Agropecuária,
realizada nas dependências da Charqueada de seu grande amigo e
companheiro Oribes Batista Leite, situada no bairro Niterói. Naquela ocasião,
o rodeio despontava como a grande atração das Exposições Agropecuárias. A
primeira montaria daquele primeiro rodeio foi feita pelo próprio Zé capitão,
então com 38 anos, montando a mula Faceira. Arrancando aplausos da
apreensiva e curiosa plateia, Zico Lalau era o grande locutor. A dupla
sertaneja Joca (no violão) e Borginho (na acordeom), também muito
aplaudidos, passaram acompanhar Zé Capitão por mais de 20 anos, até seus
últimos rodeios no final da década de 70. Estava plantada a semente que,
futuramente, viria marcar o nome de Divinópolis definitivamente no cenário
do Rodeio Nacional. Posteriormente, por ocasião do aniversário da cidade, a
Charqueada ficou pequena para tanta gente, por isso Zé Capitão construiu a
arena redonda, cercada de bambu amarrado com arame nos esteios de
eucalipto, lá no campo de futebol do Divinópolis Tênis Clube (DTC). Lá
aconteceu, por dois anos consecutivos, o rodeio do Zé Capitão e sua equipe.
Como também o espaço ficou pequeno para tanta gente, o rodeio foi
transferido para o Campo do Flamengo, onde havia mais espaço e ficava
também no centro, marcando assim o aniversário da cidade por mais três
anos.

Mas foi em 1969 que se reuniram no Sindicato dos Produtores Rurais, a


Prefeitura Municipal, a Cooperativa Agropecuária e Associação Comercial
Industrial para realizarem, além do já tradicional rodeio, a Primeira
Exposição Agropecuária, comemorando como um grande e marcante evento
o aniversário da cidade naquele ano. Como já participava sempre das
maiores Exposições, e era o grande líder entusiasta e otimista do meio rural,
logo na primeira dificuldade que seria o local, Zé Capitão colocou à
disposição parte de seu terreno conhecido como “Retiro”, situado depois da
Sidil (Sociedade Imobiliária Divinópolis Ltda). Como o Sindicato, a
Cooperativa e a Associação não dispunham de recursos financeiros, e o
arrojado prefeito, o engenheiro Dr. Walkir Jesus de Resende Costa não
poderia bancar sozinho todo custo de construção daquele parque, quase que
a coisa não aconteceu, apesar da boa intenção e grande interesse de todos. E
não teria acontecido mesmo, caso o Zé Capitão não tivesse dado mais um
empurrão, doando toda a madeira necessária para construção do parque,
ficando a prefeitura encarregada da terraplenagem e mão-de-obra, daquele
que foi o recinto onde se realizaram a primeira, a segunda, e a terceira
Exposição Pecuária de Divinópolis. E assim, em 1 de junho de 1969, com o
grande parque de Exposições lotado de gente, os diretores do Sindicato
Rural inauguraram, juntamente com todos os políticos importantes da
época, entusiasmados com inflamados discursos, aquela que foi a maior
festa para os produtores rurais e para o povo da cidade e região - a primeira
Exposição Pecuária Industrial de Divinópolis.

Entre tantas idas e vindas, no dia 1 de junho de 1970 o Sindicato Rural de


Divinópolis inaugurou sua sede no alto da Avenida Paraná, onde está hoje o
parque da Divinaexpô. A aquisição do terreno foi feita com a renda dos
leilões de bezerros doados pelos produtores rurais, conforme consta no livro
de ouro do Sindicato Rural de Divinópolis. Nos dias atuais, a Divinaexpô
aprimora a cada ano a sua estrutura para receber novos visitantes e para
surpreender aqueles que já são fiéis ao evento.

Natural de Serra Negra, na época, município de Itapecerica, Zé Capitão veio


ainda criança para Divinópolis onde deu continuidade aos negócios de sua
família. Morreu aos 61 anos, no ano de 1978, por ironia do destino na
mesma data que nasceu, em 21 de setembro.

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