Patologias Causadas Por Deficiência de Projeto e Mão de Obra e Desgaste Natural Das Estruturas

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CENTRO UNIVERSITÁRIO PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS

UNIPAC BARBACENA
ENGENHARIA CIVIL

VALÉRIA MÁRCIA DE MELO RODRIGUES

PATOLOGIAS CAUSADAS POR DEFICIÊNCIA DE PROJETO E MÃO DE OBRA E


DESGASTE NATURAL DAS ESTRUTURAS

BARBACENA
2020
VALÉRIA MÁRCIA DE MELO RODRIGUES

PATOLOGIAS CAUSADAS POR DEFICIÊNCIA DE PROJETO E MÃO DE OBRA E


DESGASTE NATURAL DAS ESTRUTURAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de


Engenharia Civil do Centro Universitário Presidente
Antônio Carlos – UNIPAC, como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil.

Orientador: Me. Elvys Dias Reis.

BARBACENA
2020
AGRADECIMENTOS

Ao chegar nesse momento em que entrego meu trabalho de conclusão de curso, preciso
agradecer a todos aqueles que me acompanharam nessa caminhada, me incentivando e torcendo
por mais essa vitória...
A Deus, que me deu força para começar a essa jornada com coragem e sabedoria;
À minha família, que esteve sempre presente;
Aos meus amigos, que vibraram comigo nas vitórias e se solidarizaram nas adversidades;
Aos professores, que dedicaram seu tempo, o bem mais precioso que alguém pode oferecer;
Ao meu orientador Elvys, por aceitar me conduzir nesse trabalho que consolida a conclusão do
meu tão sonhado curso de engenharia civil;
Aos meus anjos, em forma de amigos mais que especiais, que em muitos momentos foram os
maiores incentivadores, quando me faltaram as forças...
Um agradecimento deveras especial ao professor Sérgio Guedes, que sempre me incentivou e
dedicou grande parte de seu tempo em nossa Iniciação Científica e em outras ocasiões que eu
precisei de orientações e apoio para o prosseguimento do curso.
RESUMO

Este trabalho tem como foco as principais patologias existentes nas edificações. Estas, que
devem ser consideradas com cautela desde a concepção do projeto, podem acontecer em
qualquer fase da obra e atingir fundações, pilares, lajes, vigas e principalmente as paredes. Por
meio de uma ampla revisão dos trabalhos disponíveis na literatura, constatou-se que as
patologias mais comuns são as fissuras, que facilitam a entrada de umidade ao cerne da
estrutura, atingindo a armadura e a oxidando. Quando isso ocorre, o concreto reage
quimicamente e se torna frágil, perdendo a resistência e facilitando a abertura de trincas e
rachaduras, o que pode comprometer a segurança da edificação. Nos casos em que não
comprometem a estrutura, as fissuras causam incômodos aos proprietários e usuários, que
precisam conviver com sua presença, as quais são esteticamente desagradáveis e desvalorizam
o imóvel. Com este trabalho, pôde-se constatar que o processo de tratamento não é fácil ou
rápido, entretanto, empregando materiais capazes de retardar a continuidade do processo, é
possível a recuperação e o aumento da vida útil da edificação. Dessa forma, pode-se ratificar a
recomendação de empregar materiais de boa qualidade, técnicas construtivas eficientes, mão
de obra qualificada, fazer a manutenção correta dos elementos construtivos e utilizar a
edificação somente para o fim a que se destina, não sobrecarregando sua estrutura ou utilizando-
a de forma inadequada.

Palavras-chave: Patologias. Fissuras. Trincas.


ABSTRACT

This work focuses on the main pathologies in buildings, which must be considered with caution
since the design of the project and can happen at any stage of the work and reach foundations,
pillars, slabs, beams, and especially the walls. Through a wide bibliographic review, it was
found that the most common pathologies are fissures, which facilitate the entry of moisture into
the core of the structure, reaching the reinforcement and oxidizing it. When this occurs, the
concrete reacts chemically and becomes brittle, losing strength and facilitating the opening of
cracks and cravices, which can compromise the building safety. In cases where they do not
compromise the structure, the cracks cause inconvenience to the owners and users, who need
to live with their presence. Besides, these pathologies are aesthetically unpleasant and devalue
the property. With this work, it was found that the treatment process is not easy or fast, however,
using materials capable of delaying the continuity of the process, it is possible to recover and
increase the building lifetime. Thus, it is possible to ratify the recommendation of using good
quality materials, efficient construction techniques, qualified labor, maintaining the
construction elements correctly, and using the building only for its intended purpose, without
overloading its structure or using it inappropriately.

Palavras-chave: Pathologiess. Fissures. Cracks.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................6

2. DESENVOLVIMENTO ...............................................................................................8
2.1 Manifestações patológicas: o estado da arte .............................................................. 8
2.2 Principais patologias nas edificações .......................................................................... 8
2.2.1 Instalações hidráulicas .................................................................................................. 9
2.2.2 Alvenaria ...................................................................................................................... 10
2.2.3 Esquadrias ....................................................................................................................20
2.2.4 Impermeabilização ....................................................................................................... 20
2.2.5 Instalações elétricas ..................................................................................................... 26
2.2.6 Gesso ............................................................................................................................ 27
2.2.7 Cerâmicas .................................................................................................................... 27
2.2.8 Eflorescências .............................................................................................................. 30

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 31

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 32
6

1 INTRODUÇÃO

No início da década de 1990, no Brasil, “Patologia das Edificações”, estatisticamente,


já estava na moda. A partir da década anterior (1980), eventos acadêmicos variados assim como
cursos específicos se multiplicavam, fomentando pesquisas e as publicações resultantes, no país
e no exterior. As comunidades técnica e científica passaram a associar defeitos a doenças e
soluções a tratamentos.
De acordo com Lima (2015), este crescente interesse conduziu a bons encaminhamentos
relacionados a novos materiais e seus comportamentos, evoluções do cálculo estrutural e o
consequente aumento da esbeltez e flexibilidade das estruturas, melhoria da gestão da
produtividade dos processos construtivos, crescimento da profissionalização da mão de obra,
entre outras relações. Nesta descrição, o que é consequência também pode ser visto como causa,
em um envolvimento cíclico entre as diversas iniciativas.
Tudo isso abriu um novo mercado de trabalho, mas o tema não era novo. O Código de
Hamurabi, no séc. XVIII A.C., já obrigava o construtor a solucionar problemas em suas
construções. No cenário nacional, o Código Civil Brasileiro também faz referência ao tema,
juntamente com o Código de Defesa do Consumidor. Soma-se ao contexto o envolvimento da
indústria da construção civil com o meio ambiente: preservação de mananciais, possibilidades
de contaminações diversas, resíduos sólidos e desperdício de recursos, entre outros. Em resumo,
garantia de bons resultados, reparos e manutenções não surgiram com a “Patologia das
Edificações” (BAUER, 2017).
Então, após sintetizar a descrição de um contexto particular nestas últimas quatro
décadas, uma questão que, talvez naturalmente, se imponha é: as patologias em edificações
estão aumentando? E uma possiblidade de resposta é: no Brasil, por enquanto, não é medido
suficientemente para se saber. Possibilidade de resposta porque a questão pode levantar
polêmica frente às possíveis respostas. Mas esta não é a intenção desse texto. Antes, a intenção
é trazer luz, a importância e a possibilidade de benefícios possíveis com esta abordagem.
Independente de resultados estatísticos sobre crescimento ou não do interesse, o que não pode
ser negado é sua migração do ambiente acadêmico para o ambiente empresarial, nas grandes
metrópoles brasileiras. O interesse por patologias, suas causas, como evitá-las e como tratá-las,
vem acompanhado daquele por produtividade e controle de qualidade, para a satisfação do
usuário e maximização de bons resultados. Juntamente, observam-se as evoluções dos
materiais, dos processos de planejamento, gerenciamento e execução, assim como seus
7

impactos ambientais. A ideia está associada ao interesse pela construção industrializada de


maior performance.
Dentro deste contexto, a narrativa das ocorrências de patologias de edificações pode ser
associada a duas causas fundamentais: as novidades conceituais nas formas arquitetônicas e,
consequentemente, na engenharia projetiva e construtiva; o surgimento de novos materiais de
construção que ainda não foram avaliados quanto à durabilidade em função das suas curtas
idades.
A norma brasileira ABNT NBR 15575:2013 – Desempenho de edificações
habitacionais, em parte, demonstra o esforço das comunidades técnicas e científicas no sentido
de melhorar os resultados da construção civil. Ela trata, entre outras coisas, dos requisitos do
usuário quanto à habitabilidade, a saber: estanqueidade à água, desempenho térmico,
desempenho acústico, desempenho lumínico, saúde, higiene e qualidade do ar, funcionalidade,
acessibilidade, conforto tátil e antropodinâmico. Todos estes requisitos estão, direta ou
indiretamente, ligados às possibilidades de patologias.
Neste sentido, o objetivo principal deste trabalho foi revisar o tema da Patologia das
Edificações, associado às questões de manutenção preventiva e de reparação, em edificações
de naturezas diversas. As ocorrências em questão são muito comuns e muitas vezes
negligenciadas desde os projetos, passando pela execução e manutenção pós-ocupacional dos
imóveis. A causa dessa negligência pode ser o desconhecimento das interações entre os tipos
patológicos e as possibilidades de evolução destes problemas. Especificamente, portanto,
pretende-se fornecer esclarecimentos sobre a identificação, as origens, a caracterização e as
possibilidades de interações diversas das patologias com o desempenho de edificações,
principalmente para iniciantes no assunto.
Para alcançar os objetivos supracitados, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o
assunto, abordando as causas, consequências e inferências possíveis, ilustrando-se
substancialmente os principais tipos de patologias.
Foram consultados trabalhos de conclusão de cursos de graduação e pós-graduação,
revistas, artigos de eventos acadêmicos temáticos além de normas técnicas. Atenção especial
foi dada à análise dos textos utilizados como referências para que não fossem aproveitadas
informações sobre as quais restassem dúvidas. Para isso, procurou-se sempre cruzar os dados
entre trabalhos similares e, quando possível, verificá-los em livros de autores notoriamente
reconhecidos.
8

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Manifestações patológicas: o estado da arte

Conforme mencionado anteriormente, o interesse pelo melhor entendimento sobre as


manifestações patológicas em edificações aumentou nos últimos anos, sendo acompanhado por
diversos trabalhos encontrados na literatura.
No trabalho desenvolvido por Ferreira e Lobão (2018), em virtude de inúmeras falhas
presentes nas construções, as manifestações patológicas são cada vez mais frequentes. De
acordo com os autores, elas aparecem por diversos motivos e, por isso, existe a necessidade do
estudo sobre as manifestações patológicas, seus diferentes níveis e consequências.
Brito (2017), por sua vez, afirma que as estruturas de concreto armado, ao interagirem
com o ambiente externo, podem sofrer alterações que, ao longo do tempo, ocasionem perda na
capacidade da estrutura em suportar as condições para as quais foi concebida. Esses fatores
influenciam diretamente na deterioração do concreto, como a utilização de material de má
qualidade e a falta de manutenção periódica. Segundo o autor, apesar da evolução das
tecnologias utilizadas na construção civil, as manifestações patológicas em edificações
relativamente novas comprometem o desempenho, a estabilidade e a funcionalidade.
Neste sentido, Pontes Junior e Barbosa (2019) apresentam um trabalho que indica que
o desempenho é o comportamento em serviço de cada produto ao longo de sua vida útil,
correspondendo a forma como foram desenvolvidos o projeto, a execução e utilização da
estrutura. Além disso, o desempenho de cada material e componente pode ser comprometido
por ações externas, variando de acordo com o nível de exposição, mesmo com a correta
manutenção.
Gonzales et al. (2020) desenvolveram um artigo que apresenta as principais patologias
dentro da construção civil, tais como fissuras e rachaduras causadas principalmente pelo
recalque da fundação, deterioração do concreto ocasionado pela perda do potencial aglomerante
do cimento, manchas causadas pelas infiltrações. Os autores visaram mostrar às empresas como
isso afeta a qualidade do produto, acarretando problemas de insatisfação do cliente e gastos
desnecessários com assistência pós obra.
De acordo com Lima et al. (2017), as empresas que atuam no setor da construção civil
geralmente priorizam, no processo produtivo de seus empreendimentos, controlar os custos dos
mesmos, obter lucro e ofertar produtos que atendam as satisfações dos clientes. Visando a longa
vida útil esperada pelos clientes por parte das edificações, cabe às construtoras estudar e aplicar
9

as melhores formas de manutenção, feitas de maneira eficaz na correção e na prevenção das


patologias. Para os autores, o resultado será uma obra de qualidade, o que garante satisfação do
cliente e a redução dos custos.

2.2 Principais patologias nas edificações

As patologias comuns nas construções civis são diversas e muitas são as investigações
que as identificam, descrevem e quantificam. Em geral, essas investigações intencionam
minimizar e prevenir as patologias.
Entre os variados tipos de patologias, as que mais incomodam usuários, por motivos
óbvios de segurança, são descontinuidades (fissuras, trincas e rachaduras) e corrosão de
armaduras. Outras também chamam a atenção, como degradação do concreto, descolamento de
revestimentos, manchas e infiltrações, entre outras. Em particular, infiltrações são seguramente
preocupantes, uma vez que podem favorecer um quadro de instabilidade estrutural.
Segundo o Sindicato da Habitação de São Paulo (SECOVI-SP, 2016), em uma
investigação que cobriu cinquenta e dois edifícios e oito construtoras, as patologias mais
comuns são referentes à hidráulica (38%), seguida por alvenaria (16,5%) e impermeabilização
(7,5%). Esquadrias de alumínio ou madeira, cerâmicas e instalações elétricas ficam próximas
de 5%.
Neste sentido, convém detalhar estes focos de patologias, que são majoritariamente
causadas por deficiência de projeto e mão de obra e por desgaste natural, conforme se verifica
adiante.

2.2.1 Instalações hidráulicas

As funções das instalações sanitárias são o abastecimento de água potável e a drenagem


de águas pluviais e esgoto. Entretanto, como estão inseridas num sistema bem mais amplo, que
é a edificação propriamente dita, elas devem interagir com os outros elementos do sistema, o
que inclui absorver tensões e deformações advindas do seu entorno.
Característico destas instalações é o funcionamento dinâmico dos fluidos nos dutos
apropriados. Tais dutos devem obedecer a diâmetros e inclinações projetados para a melhor
funcionalidade. Além disso, considera-se nos projetos a diversidade de materiais e elementos
de ligação (conexões) ou específicos (reservatórios, bombas, válvulas, registros e medidores,
entre outros).
10

Essa complexidade pode originar patologias diversas, como pressão insuficiente,


vazamentos, entupimentos, controle deficiente dos fluxos e temperaturas, e algumas destas
manifestações são amplamente recorrentes, expondo execuções malfeitas e, principalmente,
problemas de projetos.
A norma brasileira ABNT NBR 5626:2020 – Sistemas prediais de água fria e água
quente – Projeto, execução, operação e manutenção, especifica limites à velocidade da água, à
pressão estática, à conformidade dos materiais e à qualidade do projeto e da execução.
Para verificar a execução, devem acontecer inspeções e ensaios, ambos programados. A
estanqueidade deve ser verificada ainda na montagem, quando a instalação está exposta, o que
facilita a identificação e o reparo de possíveis defeitos. Ela deve ser verificada à pressão
superior ao uso corrente ao qual está projetada, em pelo menos 50%, com tubulação plenamente
preenchida.
A ABNT NBR 5626:2020, que substitui a ABNT NBR 7198:1993 – Projeto e execução
de instalações prediais de água quente, preconiza também a devida consideração em relação à
variação volumétrica em função da variação térmica das tubulações e recomenda a verificação
da conformidade dos materiais utilizados de acordo com o projeto.
Para água quente, a estanqueidade também deve ser verificada à pressão estática 50%
maior que a de serviço, à temperatura de 80°C, em trechos, anteriormente à instalação dos
isolamentos térmico e acústico.
Para o esgoto sanitário, por sua vez, a norma ABNT NBR 8160:1999 – Sistemas prediais
de esgoto sanitário – Projeto e execução, exige o direcionamento dos gases para a atmosfera
com impedimento de retorno aos ambientes de onde foram drenados. Determina ainda que em
edifícios a partir de dois pavimentos sejam tomadas medidas que evitem retorno de espuma.

2.2.2 Alvenaria

Uma das funções das alvenarias é servir à vedação, dando forma e dividindo ambientes.
Também condicionam o ambiente interno controlando a influência do ambiente externo. Deste
condicionamento, fazem parte ainda as esquadrias e os revestimentos.
Fissuras estão entre as patologias mais importantes das alvenarias. Entre as
inconformidades relacionadas, destacam-se o comprometimento de sua vida útil, sua
estanqueidade e seu isolamento termoacústico, além da insegurança quanto à integridade
estrutural causada aos usuários.
11

Erros nos projetos arquitetônico, estrutural ou de fundação podem gerar esforços


localizados além do admissível pela alvenaria, resultando no fissuramento da mesma. A
deficiência na comunicação entre os agentes que a projetam e executam justifica em parte estas
patologias.
Brandão (2007) identifica na execução a etapa de maior responsabilidade pelas
patologias apresentadas nas alvenarias (22%). Entre elas, as fissuras representam 69%. O autor
considera que as variáveis predominantes relacionadas à formação de fissuras, que orientam a
recuperação e a manutenção preventiva das alvenarias, são as movimentações térmicas ou por
umidade, a sobrecarga e a concentração de esforços, o recalque diferencial, a retração de
aglomerante hidráulico e as alterações químicas diversas.
Dentro deste contexto, Magalhães (2004) investigou especificamente fissuras em
alvenaria e levantou que: movimentações térmicas respondem por 31,84%; recalque
diferencial, 27,80%; falha ou ausência de detalhes construtivos, 14,35%; deformação estrutural,
11,66%; retração e expansão, 10,31%; sobrecarga, 2,24%; e reações químicas diversas, 1,80%.
A seguir são descritos os processos formadores de fissuras supracitados.

2.2.2.1 Fissuras de origens térmicas

Na FIG. 1 é retratada a distribuição percentual de fissuras em alvenarias causadas por


variações térmicas e, em seguida, algumas causas são detalhadas.

Figura 1 – Percentual de fissuras em alvenarias causadas por variações térmicas

2%

Horizontais 8%
Inclinadas 18%
Verticais 8%
Verticais alvenaria
Destacamento estrutura 8%
Destacamento platibanda 15%
Inclinadas transversais 10%

Fonte: Magalhães (2004). Adaptada pela autora.


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a) Fissuras horizontais por movimentação térmica da laje


Este tipo de fissura ocorre quando a alvenaria sustenta a laje e esta última fica sujeita à
variação térmica, como no caso de lajes de coberturas. São horizontais, paralelas e posicionadas
logo abaixo da transição entre os dois materiais (concreto e alvenaria) ou mais distanciada deste
plano, conforme FIG. 2a.
b) Fissuras inclinadas por movimentação térmica da laje
Fissuras por movimentação térmica de lajes também podem ser inclinadas, próximas às
intersecções das paredes, como se verifica na FIG. 2b. Tal tipificação está associada às
dimensões da laje, à ligação da mesma com as paredes, à composição da parede e à
possibilidade de ocorrência de aberturas (THOMAZ, 1989).
c) Fissuras inclinadas em paredes transversais por movimentação térmica da laje
Como visto antes, as variações térmicas causam movimentações nas lajes que podem
causar fissuras nas alvenarias. Em alvenarias paralelas à direção da maior direção da laje,
podem surgir fissuras inclinadas, como indicado na FIG. 2c.
d) Fissuras verticais por movimentação térmica da laje
Quando verticais, as fissuras manifestam-se com abertura maior, próxima da laje, que
vão diminuindo a abertura na medida em que se aproximam do plano do piso, como
exemplificado na FIG. 2d. São de maior incidência em paredes com blocos cerâmicos furados,
dispostos verticalmente, pois assim resistem menos à tração horizontal.
e) Fissuras inclinadas por movimentação térmica da estrutura de concreto armado
As movimentações térmicas nas estruturas de concreto armado podem provocar fissuras
inclinadas na alvenaria de vedação. Mesmo que este tipo de alvenaria não tenha sido projetado
para suportar cargas além do peso próprio ou de esforços horizontais (como vento ou pequenos
impactos), as mesmas ficam sujeitas a esforços de cisalhamento provocados pela movimentação
da estrutura que a envolve (Thomaz, 1989). A FIG. 2e ilustra este tipo de fissura.
f) Fissuras de destacamento por movimentação térmica da estrutura de concreto armado
A alvenaria de vedação apresenta também fissuras de destacamento por movimentação
térmica da estrutura de concreto armado. A consequência é o aparecimento de fissuras (verticais
e horizontais) nos planos de ligação entre a alvenaria e a estrutura, como se verifica na FIG. 2f.
g) Fissuras verticais por movimentação térmica da alvenaria
Quando a alvenaria sofre movimentação térmica, fissuras verticais podem surgir
espaçadas regularmente (Thomaz, 1989). Um exemplo destas fissuras é indicado na FIG. 2g.
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h) Fissuras de destacamento de platibandas por movimentação térmica


De acordo com Thomaz (1989), as platibandas também podem sofrer fissuras de
destacamento em função de distintas movimentações térmicas entre a mesma e a laje que a
suporta. Neste caso, as fissuras são horizontais, no plano de transição dos materiais e/ou
inclinadas nas extremidades, como se vê na FIG. 2h.

Figura 2 – Fissuras típicas em alvenarias causadas por movimentações térmicas

Fonte: Duarte (1998); Verçosa (1991). Adaptada pela autora.


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2.2.2.2 Fissuras originadas em recalques de fundações

Solos são naturalmente deformáveis sob efeito de esforços (naturais ou não) e quando
tais deformações são diferenciadas sob a fundação de uma edificação, podem surgir tensões de
intensidade suficiente para gerar trincas (THOMAZ, 1989).
Pequenas deformações podem causar fissuras em edificações de alvenaria que possuem
baixa resistência à flexão e ao cisalhamento, mesmo que o momento de inércia do plano vertical
seja vantajoso à alvenaria.
Além disso, a variação do recalque admissível por uma estrutura depende de variáveis
como altura, rigidez, tipo de fundação, geometria da estrutura, entre outras.
Quanto ao recalque diferencial dos solos e fundações, possíveis causadores de fissuras,
as variáveis podem ser: sobrecarga não projetada, heterogeneidade do solo, variação do nível
do lençol freático, sobrecarga no entorno ou vizinhança, cargas pontuais muito diferenciadas
nos elementos de fundação, fundações mistas, erosão, solapamento, falhas ou escavações, no
subsolo, influência de raízes vegetais ou carreamento de material do solo em função de
vazamentos de tubulações, congelamento, inundações, vibrações e tectonismo.
Magalhães (2004) apresenta uma distribuição de fissuras por recalque de fundação em
função de suas configurações, de acordo com a qual 86% das fissuras em alvenaria causadas
por recalque de fundações seguem um eixo principal ou não, conforme se verifica na Figura 3,
11% vão verticais e apenas 3% são inclinadas em prédios estruturados.

Figura 3 – Fissuras causadas por recalque de fundação, seguindo um eixo principal

Fonte: Magalhães (2004). Adaptada pela autora.

Mañá (1978 apud Magalhães, 2004) ainda destaca que:


15

Fissuras por recalque de fundações segundo um eixo principal ocorrem


quando o recalque diferencial das fundações se aplica sobre um dos eixos de
simetria da edificação (supondo que exista). Neste caso, todas as paredes
afetadas estarão solicitadas, preponderantemente, por esforços de flexão, e o
seu sistema de fissuras seguirá o modelo teórico de flexão, acompanhando as
isostáticas de compressão, como em uma viga.

Se o recalque diferencial ocorre perpendicularmente à direção de planos de simetria da


edificação (caso existam), é esperado que as fissuras acompanhem as isostáticas de compressão,
como em uma viga sujeita à flexão. Se o recalque é for perpendicular a nenhum dos eixos de
simetria (numa aresta entre os planos das fachadas da edificação, por exemplo), por outro lado,
ocorre torção e consequentemente, as fissuras são em duas direções.

Figura 4 – Fissuras causadas por recalque de fundação fora do eixo principal

Fonte: Magalhães (2004). Adaptada pela autora.


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Duas hipóteses podem justificar fissuras verticais: ocorrência de flexão negativa em


peitoris e ruptura das fundações, quando aparecem no nível de apoio da edificação sobre o solo.
Exemplos destas fissuras são mostrados na FIG. 5.
Fissuras verticais causadas pela ruptura das fundações em recalque diferencial
apresentam maior afastamento entre as faces rompidas próximo do nível do solo. A ocorrência
deste tipo de fissura é maior onde a estrutura da fundação é menos resistente, em mudanças de
seções ou em locais de cargas concentradas. Também podem resultar da sobreposição de
movimentações térmicas (DUARTE, 1998).

Figura 5 – Fissuras verticais e horizontais

Fonte: Duarte (1998); Thomaz (1989). Adaptada pela autora.

2.2.2.3 Fissuras originadas em deformação da estrutura de concreto armado

De acordo com Thomaz (1989), deformações das estruturas de concreto armado podem
gerar fissuras nas alvenarias. As movimentações estruturais podem ser incompatíveis com a
rigidez das alvenarias e as tensões geradas (tração, compressão e cisalhamento) acabam por
causar fissuras.
Alvenarias apoiadas sobre vigas estruturais podem fissurar em função da deformação
destas vigas. Neste caso, as fissuras podem ser horizontais, junto à base da alvenaria e/ou em
arco. Pode ocorrer também que as vigas estruturais acima e abaixo da alvenaria se deformem e,
neste caso, as fissuras se apresentem inclinadas nas extremidades inferiores das paredes.
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Quando somente a viga superior se deforma, as fissuras características são inclinadas


nas extremidades superiores e verticais ao centro das alvenarias. Ainda segundo Thomaz
(1989), em alvenarias assentadas sobre estruturas em balanço, podem surgir fissuras inclinadas
e/ou verticais e horizontais por destacamento.
Outra possibilidade de fissura causada por deformação de elementos estruturais é aquela
surgida no plano de ligação, entre as lajes e alvenarias nelas apoiadas, em decorrência do
levantamento das extremidades da laje, por efeito de placa.
A FIG. 6 apresenta algumas configurações típicas de fissuras causadas por deformações
da estrutura de concreto armado.

Figura 6 – Configurações típicas de fissuras causadas por deformações

Fonte: Magalhães (2004). Adaptada pela autora.


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2.2.2.4 Fissuras originadas por retração e expansão

Retração de materiais que contém cimento Portland, como juntas de assentamento,


podem causar fissuras em alvenarias. A retração pode ocorrer também em elementos estruturais
como lajes e vigas e provocar as fissuras (THOMAZ, 1989).
Ao contrário da retração, Duarte (1998) afirma que a expansão também pode responder
por fissuramento. Isso pode acontecer, por exemplo, quando materiais porosos absorvem
umidade, o que provoca expansão hidroscópica.
Magalhães (2004) apresenta um grupo de fissurações típicas causadas por retração e
expansão, conforme se verifica na FIG. 7.

Figura 7 – Configurações típicas causadas por retração e expansão

Fonte: Magalhães (2004). Adaptada pela autora.


19

2.2.2.5 Fissuras originadas por sobrecarga

A sobrecarga é outra causa de fissuras por compressão da alvenaria. Em configuração


vertical, estas fissuras decorrem de esforços de tração horizontais devidos à compressão vertical
excessiva provocada sobrecarga. O mecanismo é o mesmo que ocorre nos ensaios de tração,
quando corpos de prova cilíndricos são submetidos à compressão em direção perpendicular ao
eixo de simetria dos mesmos.
Podem surgir também fissuras horizontais nas camadas de argamassa de assentamento,
entre as fiadas ou mesmo na direção dos furos de tijolos e blocos, quando dispostos
horizontalmente, devido à sobrecarga de compressão ou à flexo-compressão (Thomaz, 1989).
Tais fissuras estão intrinsecamente relacionadas à qualidade do material que compõe a
alvenaria, uma vez que a ruptura por esmagamento se deve à baixa resistência dos materiais
comprimidos.
Outra possibilidade de formação de fissuras por sobrecarga ocorre quando o esforço
compressor é concentrado e maior do que o admitido. Neste caso, as fissuras podem ser
verticais, inclinadas ou horizontais, em conformação radial, a partir do ponto de concentração
da sobre carga. Podem ocorrer ainda, fissuramento vertical por sobrecarga em pilares de
alvenaria subdimensionados.
Na Figura 8, Magalhães (2004) classifica as fissuras causadas por sobrecarga.
20

Figura 8 – Fissuras causadas por sobrecarga

Fonte: Magalhães (2004). Adaptada pela autora.

2.2.2.6 Fissuras originadas por reações químicas

Reações químicas indesejáveis podem gerar fissuras por expansão da argamassa de


assentamento, quando são, quase sempre, horizontais. Segundo Thomaz (1989), esse tipo de
fissura pode ocorrer também nas juntas verticais de argamassa e podem estar associadas a
eflorescências. Tais fissuras predominam na parte superior das alvenarias onde é menor a
influência do peso próprio das mesmas.
Duarte (1998) ilustra este tipo de fissuração, como se observa na Figura 9.
21

Figura 9 – Fissuras causadas por reações químicas na argamassa

Fonte: Duarte (1998). Adaptada pela autora.

2.2.3 Esquadrias

De acordo com Yázigi (2003), as esquadrias devem atender aos requisitos de


estanqueidade ao ar e à água, de resistência a cargas uniformemente distribuídas e a operações
de manuseio, e de comportamento acústico. Defeitos das esquadrias ou em sua colocação
podem gerar patologias diversas, sendo os casos mais comuns as manifestações de infiltração
no entorno.
Em uma pesquisa realizada em São Paulo, Bernardes et al. (1998) apresentou uma
distribuição de defeitos em esquadrias que está intrinsecamente associada à ocorrência dessas
patologias. Os resultados mostrados pelos autores indicam que 23% dos defeitos estão
associados à má vedação, 23% se concentram em problemas nos trincos e fechaduras, 19% se
relacionam com a dificuldade no deslizamento, 17% se concentram nas guarnições, 12% têm
relação com problemas de vibração e 7% com a falta de esquadro.
De acordo com Moch (2009), a predominância de infiltração em esquadrias ocorre nas
duas arestas horizontais opostas: no peitoril e na verga.

2.2.3.1 Infiltrações nas interfaces do peitoril

De acordo com Moch (2009), quando ocorrem na face horizontal inferior do peitoril, as
infiltrações predominam nas extremidades (contravergas). O autor afirma que a massa corrida ou
gesso e a pintura podem ficar deterioradas e emboloradas, e isso ocorre por causa da má vedação
entre a esquadria e o revestimento da alvenaria, em função da falta de caimento do peitoril ou
22

do surgimento de trinca no local da transição entre a esquadria e o peitoril, por onde a umidade
penetra.
Quando há ausência de barreira à penetração da umidade na face superior do peitoril, é
comum que a infiltração ocorra por toda a sua extensão, o que ainda pode ser agravado pela sua
declividade inadequada.
Uma possibilidade interessante à proteção contra umidade é o prolongamento do peitoril
após os vértices gerados com as faces laterais da esquadria, além de barreiras de vedação na
face superior do peitoril (MOCH, 2009).

2.2.3.2 Infiltrações na interface janela/verga

É comum também a infiltração por fissuras na aresta superior da esquadria (verga). Isto
pode ocorrer por má vedação na interface, em função da ausência ou ineficácia de alguma
barreira. Declividade desfavorável também pode conduzir precipitação para a esquadria, ao
invés de afastá-la.

2.2.4 Impermeabilização

A norma brasileira ABNT NBR 9575:2010 – Impermeabilização, estabelece exigências


e recomendações relativas à seleção e projeto de impermeabilização para garantir a mínima
proteção admissível e necessária às construções, contra infiltrações e outras adversidades.
Com este objetivo, a norma define e caracteriza projetos de impermeabilização com
dados gráficos e descritivos. Tais projetos são subdivididos em três etapas, a saber: estudo
preliminar, projeto básico de impermeabilização e projeto executivo de impermeabilização. Na
execução destes projetos deve ser dada atenção a pontos críticos, onde predominantemente
reincidem os casos de infiltração, como ralos, juntas, arestas, conexões, entre outros.
A Figura 10 ilustra um caso de problema associado à má impermeabilização da
alvenaria.
23

Figura 10 – Patologias provocadas pela má impermeabilização da parede

Fonte: Fórum das construções1.

Em um sistema de impermeabilização, são consideradas informações importantes como


pressão hidrostática, frequência de umidade do local, insolação, cargas, movimentação, entre
outras. De forma sucinta e com caráter prático, estas informações são detalhadas a seguir.

2.2.4.1 Desempeno e caimento de pisos

Segundo a norma ABNT NBR 9575:2010, o piso acabado deve apresentar caimento
mínimo de 1%, para os ralos. Arestas e vértices devem ser arredondados ou chanfrados para
melhor interação das superfícies com o impermeabilizante, em função de angulações mais
suaves. A rigidez da fixação dos ralos proporciona estanqueidade e permite o melhor arremate
do impermeabilizante.

2.2.4.2 Ralos

De acordo com Righi (2009), os ralos estão entre os pontos mais susceptíveis dos
sistemas de impermeabilização. O acabamento do produto impermeabilizante é feito em
camadas sobrepostas e sucessivas que podem penetrar pela abertura. Existem têxteis
apropriados que aumentam a resistência dos impermeabilizantes líquidos e há também as
mantas asfálticas. Os coletores devem ter diâmetros superiores aos tubos que os sucedem, com

1
forumdaconstrucao.com.br
24

mínimos de 75 mm. O entorno do ralo deve ser rebaixado para permitir a instalação adequada
da camada impermeabilizante até o interior do ralo para evitar infiltração da umidade por
capilaridade.

2.2.4.3 Rodapés

A norma ABNT NBR 9575:2010 determina que a camada impermeabilizante deve se


estender pelas paredes até a altura de 20 cm, do piso acabado ou até 10 cm sobre o nível máximo
que a água atinge.
Para instalar a camada impermeabilizante, é necessário um recuo na superfície do plano
vertical (parede) que a receberá. Este recuo deve ter, ao menos, 3 cm e estender por 20 cm, a
partir do piso acabado, como se verifica na Figura 11. Uma tela galvanizada pode ser instalada
sobre a camada impermeabilizante para auxiliar na fixação da mesma e da argamassa de
revestimento.

Figura 11 – Impermeabilização do rodapé

Fonte: Dr. Parede2.

2.2.4.4 Pingadeira

Pingadeira é um artifício em beirais, calhas, platibandas e peitoris cujo objetivo é evitar


que a água escorra pelas paredes subjacentes e auxiliando no obstáculo à infiltração (Righi,
2009). Seu isolamento térmico e sua proteção mecânica devem ser feitos após a
impermeabilização.

2
drparede.com.br
25

De acordo com Moraes (2002), “o sucesso de uma impermeabilização depende de uma


série de detalhes e a maior parte dos problemas de estanqueidade localizam-se em pontos
críticos, singularidades específicas para cada construção”.
Considerando a fase de projeto, entre as causas dos problemas de impermeabilização é
possível enumerar: ausência do projeto de impermeabilização, materiais inadequados, mal
dimensionamento de coletores de escoamento d’água, interferência de outros projetos com o
projeto de impermeabilização, entre outras.
Entre os problemas de impermeabilização associados à fase de execução, destacam-se:
deficiência da argamassa de regularização, que permite a perfuração da camada
impermeabilizante; intersecção de planos (arestas e vértices) não arredondados; aplicação de
impermeabilização asfáltica sobre base úmida, prejudicando a aderência e permitindo a
formação de bolhas, o que pode gerar descolamento e ruptura do impermeabilizante; falta de
limpeza da base, prejudicando a aderência da camada impermeabilizante; cantos cortantes nas
juntas; preenchimento de juntas com argamassa que podem se soltar pela ação do mastique;
descontinuidade nas emendas; agressão da camada impermeabilizante com pisoteio, tráfego de
carrinho e agentes abrasivos como areia, por exemplo (GODÓY; BARROS (1997) apud
MORAES, 2002).
Dentre as patologias decorrentes de má impermeabilização é possível citar:
desagregação de argamassa que, no concreto, inicia-se com mudança de coloração, seguida por
fissuração; desagregação de blocos cerâmicos; eflorescência de sais; gotejamento; mancha de
umidade; surgimento de vegetação em pontos de concentração de umidade; e bolhas na pintura.
A Figura 12 apresenta m exemplo de patologia em pingadeira.
26

Figura 12 – Patologia em pingadeira

Fonte: Liga3.

2.2.5 Instalações elétricas

As patologias em instalações elétricas concentram-se em defeitos de acabamento (48%),


cabos soltos (20%), ausência de espelhos (20%) e erro no fechamento de circuitos (1%), de
acordo com levantamento feito por Bernardes et al. (1998).
A não identificação dos circuitos nas caixas de distribuição, erro de posicionamento das
caixas de tomadas e interruptores, trajetórias de eletrodutos com deflexões acentuadas que
atrapalham a passagem dos condutores são outras dificuldades encontradas, apesar de não
serem consideradas patologias.
A norma brasileira ABNT NBR 5410:2004 – Instalações elétricas de baixa tensão,
recomenda ensaiar as instalações elétricas, durante a execução. Isso se faz verificando alguns
itens, como o isolamento dos cabos, a eficiência das conexões, a resistência do fio terra e o
funcionamento dos dispositivos de proteção.
De acordo com Thomaz (2001), acidentes com descarga elétrica (choque elétrico) podem ser
evitados atentando-se às causas possíveis, como condutores e isolamentos deteriorados,
quadros de alimentação e de distribuição sem barreiras, soquetes de circuitos sem aterramento,
infiltração em caixas e quadros, entre outras.

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blogdaliga.com.br
27

2.2.6 Gesso

Segundo John (2000), nos revestimentos de gesso, são comuns patologias como trincas
e fissuras que resultam de movimentação entre os elementos que servem de base à sua
aplicação, como pisos, paredes e lajes.
Para evitar a ocorrência destas patologias, juntas são necessárias para permitir a
movimentação do gesso em relação às bases. John (2000) acrescenta que:

[...] as juntas devem seccionar o forro em painéis de áreas menores


(comprimento máximo de 6 metros), e devem ser dispostas paralelamente aos
dois lados das placas de gesso, de modo que permitam um afastamento
máximo de 6 milímetros entre as juntas. Segundo o autor, deve sempre existir
uma junta de movimentação no forro acompanhando a junta de dilatação da
estrutura.

Após a aplicação destes sistemas convencionais de pinturas, é comum o surgimento de


algumas manchas amareladas. Neste sentido, Siqueira Filho (2010) afirma que:

Atualmente existem várias hipóteses sobre as causas que levam ao


aparecimento das manchas amareladas após a pintura, mas que ainda
não estão comprovadas cientificamente. Na prática, sabe-se que a
técnica da aplicação da tinta e o produto exigem cuidados e
procedimentos específicos para se obter qualidade desejada e
desempenho da área pintada. Além disso, devido à má execução das
placas de gesso podem ocorrer ondulações.

2.2.7 Cerâmicas

Patologias em revestimentos cerâmicos podem ter origem na fase de projeto, quando


são escolhidos materiais impróprios às condições inerentes. Podem também originar na
execução em função da inabilidade da mão de obra.
As patologias mais comuns são juntas danificadas, descolamentos de peças,
assentamento mal feito e manifestação de eflorescências.
28

2.2.7.1 Deteriorações das juntas

De acordo com a ABNT NBR 13754:1996 – Revestimento de paredes internas com


placas cerâmicas e com utilização de argamassa colante - Procedimento, o rejuntamento deve
ser feito somente após três dias do assentamento das peças. Esse intervalo permite que a
argamassa colante seque. Assim, quando for aplicado o rejuntamento, não há formação de
tensões em função da retração da argamassa colante. Já existem produtos que servem às duas
funções (fixação e rejunte), o que dispensa o intervalo entre as execuções distintas.
Uma das maneiras de prevenir esse tipo de patologia é escolher o material mais
adequado e realizar o controle de execução do rejuntamento, uma vez que, apesar de afetar as
argamassas que preenchem as juntas, esta deterioração pode comprometer todo o revestimento
cerâmico, afetando a sua capacidade de absorver deformações.

Figura 13 – Deterioração das juntas de dilatação

Fonte: Casa d’água4.

2.2.7.2 Deteriorações das juntas

As peças cerâmicas se desprendem quando rompem a ligação entre a face da peça e a


base onde estavam fixadas em função de tensões superiores às forças de ligação.
Este desprendimento é perceptível através do som cavo emitido quando a cerâmica é
percutida. Pode ocorrer também o estofamento do revestimento cerâmico, quando as peças

4
casadagua.com.br
29

ficam fixadas umas às outras somente pelo rejuntamento. Desprendimento cerâmico geralmente
ocorre no primeiro e/ou último pavimento das edificações, onde as tensões são maiores.
Acidentes decorrentes desta patologia envolvendo usuários a torna mais preocupante.
De acordo com Campante e Baía (2003), o destacamento cerâmico pode ser causado
pela má qualidade da superfície de assentamento, por variações térmicas, por argamassa colante
de má qualidade ou por deformações plásticas da estrutura de concreto armado.
A FIG. 14 mostra um caso de destacamento do revestimento cerâmico da fachada de um
edifício.

Figura 14 – Destacamento do revestimento cerâmico de fachada

Fonte: AECweb5.

2.2.7.3 Defeitos nos assentamentos das peças

Para reduzir os defeitos no assentamento das peças, podem ser utilizados espaçadores e
linhas de nível, os quais, segundo Brandão (2007), favorecem o assentamento de revestimento
cerâmico.
Cortes em peças de menor resistência podem ser feitos com alicate torquês ou com
cortador cerâmico de risco e, em peças mais resistentes, é melhor utilizar serra circular. Arestas
cortadas são cobertas por cantoneiras, canoplas e espelhos (CAMPANTE; BAÍA, 2003).

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aecweb.com.br
30

2.2.8 Eflorescências

Em conformidade com Souza (1997), manchas que emergem na superfície modificando


visivelmente o aspecto do revestimento são denominadas eflorescências. Suas origens
geralmente estão na composição das argamassas subjacentes. Elas apresentam aspecto
pulverulento ou formam crostas de colorações variadas, como branco, verde e amarelo.
Bauer (1997) afirma que as eflorescências resultam de sais dissolvidos em água que se
encontram originalmente nos componentes do material subjacente que, por diferença de pressão
hidrostática, são direcionados para a superfície.
A FIG. 15 exemplifica um caso de eflorescência na superfície de concreto.

Figura 15 – Ocorrência de eflorescência de coloração branca na superfície do concreto

Fonte: AECweb5.
31

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando que a segurança das edificações pode ser reduzida e colocada em questão
quando nelas surgem manifestações patológicas, problemas que geralmente ocorrem pós-obra,
e que isso pode causar sensações desagradáveis nos seus usuários, este trabalho teve como
propósito estudar as patologias mais recorrentes em tais construções, sobretudo as
descontinuidades (fissuras, trincas e rachaduras).
Por meio de uma ampla revisão de literatura, é factível afirmar que tais patologias
podem ser evitadas ou retardadas através de inspeções técnicas e controle de qualidade durante
a execução da obra, sendo de extrema importância conhecer suas causas para evitar o problema
de forma assertiva.
Assim, é importante que a execução da obra seja feita por profissionais experientes,
capazes de detectar as manifestações durante a execução ou em situações futuras, uma vez que,
a partir do mapeamento dos danos, é possível identificar e diagnosticar as causas das patologias
e elaborar estratégias para o seu tratamento.
Além disso, entende-se que as patologias podem comprometer a estética, causando
danos arquitetônicos, funcionais e estruturais, os quais, separada ou concomitantemente, podem
alterar a vida útil dos edifícios.
Dentro deste cenário, seguir os parâmetros de qualidade, investir em bons materiais de
construção, mão de obra especializada, planejamento e controle constante e melhoria nos
processos construtivos são medidas essenciais para obter bons resultados. Ademais, vistorias
periódicas e manutenções corretivas, observando atentamente todas as etapas da obra são
fundamentais para o bom desempenho e conservação das edificações, o que permite evitar altos
custos de recuperação ou acidentes graves.
REFERÊNCIAS

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paredes internas com placas cerâmicas e com utilização de argamassa colante – procedimento.
Rio de Janeiro, 1996.

______. NBR 15575. Desempenho de edificações habitacionais. Rio de Janeiro, 2013.

______. NBR 5410. Instalações elétricas de baixa tensão. Rio de Janeiro, 2004.

______. NBR 5626. Sistemas prediais de água fria e água quente – Projeto, execução,
operação e manutenção. Rio de Janeiro, 2020.

______. NBR 7198. Projeto e execução de instalações prediais de água quente. Rio de
Janeiro, 1993.

______. NBR 8160. Sistemas prediais de esgoto sanitário – Projeto e execução. Rio de
Janeiro, 1999.

______. NBR 9575. Impermeabilização. Rio de Janeiro, 2010.

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de construção civil. 1. ed. São Paulo: Pini, 1998.

BRANDÃO, R. M. L. Levantamento das manifestações patológicas nas edificações, com


até cinco anos de idade, executadas no Estado de Goiás. 2007. 196 f. Dissertação
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Civil, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2007.

BRITO, T. F. Análise de Manifestações Patológicas na Construção Civil pelo Método


GUT: estudo de caso em uma instituição pública de ensino superior. João Pessoa, 2017.

CAMPANTE, E. F.; BAÍA, L. M. Projeto e execução de revestimento cerâmico. São Paulo:


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