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Farmacotécnica I

Pontos Críticos na Manipulação e nas Formas


Farmacêuticas Semissólidas

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Esp. Rosana Maria Zanoli

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Pontos Críticos na Manipulação e nas
Formas Farmacêuticas Semissólidas

• Introdução;
• Formas Farmacêuticas Semissólidas e sua Classificação;
• Estabilidade;
• Composição Química dos Emulgentes;
• Outros Adjuvantes;
• Compatibilidade.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Desenvolver a análise crítica para a avaliação das associações interessantes e possíveis
­incompatibilidades entre as matérias-primas;
• Desenvolver a habilidade técnica para a produção de diferentes Formas Farmacêuticas, apli-
cáveis para manipulação.
UNIDADE Pontos Críticos na Manipulação
e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas

Introdução
Antes de iniciarmos o tópico referente às Formas Farmacêuticas semissólidas, vamos
compreender o que é uma emulsão, esse Sistema de liberação de fármaco que é ampla-
mente utilizado em Formas Farmacêuticas semissólidas, quais emulsões são utilizadas na
Farmácia e por qual via de administração.
Emulsão, de acordo com Aulton (2016), é uma dispersão de dois líquidos imiscíveis
(ou parcialmente miscíveis) – um distribuído uniformemente na forma de gotículas finas
(a Fase Dispersa) por meio do outro (a Fase Contínua).
Dentre as aplicações para emulsões, citamos alguns segmentos:
• Medicamentos;
• Alimentícia, veja como exemplo os sorvetes, maionese e o leite;
• Química, como os revestimentos (tintas);
• Agroquímicos;
• Cosméticos.
Franzol e Rezende (2015) as definem como um Sistema Polifásico, no qual se e­ ncontra
uma fase fragmentada (Fase Dispersa) dentro de outra (Fase Contínua), sendo o tama-
nho dos fragmentos da Fase Dispersa um fator importante na estabilidade da emulsão,
em que a Fase Líquida (Descontínua ou Interna) é estabilizada em outra Fase Líquida
(Contínua ou Externa) pela ação de um agente emulsionante.
As emulsões Óleo em Água (O/A) contêm gotículas de óleo dispersas em água e as
emulsões Água em Óleo (A/O) contêm gotículas d’água dispersas no óleo (Figura 1).

Figura 1 – Tipos de emulsões: Óleo em Água (A) e Água em Óleo (B)


Fonte: AZEREDO, 2012

Formas Farmacêuticas e vias de administração de emulsões


As emulsões podem ser formuladas para várias vias de administração. Encontramos
a maioria desses produtos comerciais para as vias oral, parenteral e tópica.
As emulsões orais e intravenosas são quase exclusivamente do tipo O/A, enquanto
as emulsões dermatológicas e as emulsões para injeção subcutânea ou intramuscular
também podem ser formuladas como emulsões A/O (AULTON, 2016).

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Administração oral
Têm sido utilizada há muitos anos, com a função da liberação de óleos, como o de rí-
cino e o mineral no intestino, no tratamento da constipação e como suplementos alimen-
tares orais, rico em vitaminas lipossolúveis, como a A e a E, presente no óleo de fígado
de bacalhau, estando na fase interna da emulsão O/A, possui a característica de ser mais
palatável, devido ao sabor do óleo ser mascarado pela fase aquosa e pelo odor suprimido.

Emulsão Scott, disponível em: https://bit.ly/3d8b2it

De acordo com Aulton (2016), aprimora-se a absorção intestinal quando uma solução
oleosa do fármaco é apresentada na forma de gotículas submicrométricas de óleo, por
causa da maior área interfacial disponível para contato no local de absorção, que costu-
ma ser mais rápida e mais completa do que (nas) formas de suspensão ou comprimido,
pois o fármaco nas emulsões orais já está solubilizado no óleo, o que elimina o passo de
dissolução antes da absorção.

Emulsões estéreis intravenosas


O/A compostas de lipídios e utilizadas com a finalidade nutricional, sendo fonte de
ácidos graxos essenciais para pacientes debilitados.

Aulton (2016) descreve as vantagens das emulsões intravenosas usadas como car-
readores para fármacos de solubilidade aquosa limitada, citando produtos disponíveis
comercialmente para fármacos como o diazepam (Diazemuls®), o propofol (Diprivan®) e
a vitamina K (Fitonadiona®), dentre elas:
• Maior carga útil ao fármaco – Solubilizado por vários cossolventes;
• Menor toxicidade;
• Menos dor na injeção;
• Proteção de fármacos lábeis a ambiente oleoso.

Emulsões dermatológicas
A maior classe de emulsões e as quais abordaremos nesta Unidade com maior ênfase,
variando em consistência, desde fluidos (loções, linimentos) até os semissólidos (cremes).

O termo loção é usado para designar preparações tópicas para uso sobre a pele.
Entretanto, inclui as dispersões, isto é, suspensões e emulsões. As dispersões podem
se apresentar líquidas ou semissólidas e, no primeiro caso, tem maior viscosidade que
as soluções, para diminuir a sedimentação da Fase Interna. Por esse motivo, devem ter
fórmula ajustada para rápida e homogênea redispersão, após breve agitação (FORMU-
LÁRIO NACIONAL DA FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2012).

As emulsões dermatológicas possuem boa aceitação pelos pacientes devido aos atri-
butos sensoriais, como textura e “toque macio” na pele, conferindo a formação de filme
e aumentando a hidratação com o uso de alguns ativos incorporados, como silicones
e polissacarídeos oriundos da fermentação bacteriana, por processos biotecnológicos,
como o Fucogel®.

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e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas

Formas Farmacêuticas
Semissólidas e sua Classificação
Os veículos ou excipientes semissólidos são destinados ao uso externo, sobre a pele
ou mucosas, utilizados por via nasal, vaginal ou retal, sendo a maioria empregado con-
forme efeitos dos agentes terapêuticos que possuem e são classificados em pomadas,
cremes, géis e pastas.

As formulações tópicas e transdérmicas possuem a finalidade de liberar o fármaco em


níveis terapeuticamente ativos em locais diferentes, respectivamente, local e sistêmico.

Dessa forma, faz-se necessário o conhecimento da estrutura e da fisiologia da pele


para desenvolver a formulação tópica ou transdérmica, de forma a obter a adesão do
paciente, a eficácia e a segurança do produto.

Independentemente do tipo de base semissólida utilizada em uma formulação, seja


vaselina em uma pomada, sejam ceras emulsionantes em emulsões, os constituintes
citados a seguir são imprescindíveis:
• Conservantes: As bases líquidas e semissólidas fornecem ótimo meio para o cres-
cimento de microrganismos, como fungos, leveduras e bactérias, justificando a pre-
sença desses adjuvantes nas formulações, sendo selecionados conforme seu espec-
tro de ação, inocuidade e compatibilidade físico-química. Podem ser substituídos,
desde que mantidas a eficácia, a estabilidade e a compatibilidade. Em Introdução
à Farmácia de Remington, Allen (2016) descreve como os principais critérios a
serem considerados na seleção dos conservantes, apresentados a seguir:
» As características físico-químicas, como solubilidade e constante de dissociação: o
pH da preparação deve ser levado em consideração para garantir que o conser-
vante não se dissocie, tornando-o ineficaz, ou que seja degradado por hidrólise
ácida ou básica. A porção não dissociada ou a forma molecular do conservante
possui capacidade de conservação, visto que a forma ionizada é incapaz de pene-
trar no microrganismo;
» Ser efetivo contra um amplo espectro de microrganismos;
» Estável durante o prazo de validade;
» Não tóxico;
» Não sensibilizante;
» Compatível com os outros componentes da formulação, inclusive com recipientes
e outros materiais de acondicionamento usados no fechamento;
» Ser de baixo custo;
» Relativamente livre de odor e sabor;
» Não deve ter impacto sobre a segurança e o conforto, como, por exemplo, causar
irritação em mucosas nasais do paciente quando administrado.

Allen (2016) alerta, ainda, para a escolha crítica para Sistemas emulsionados de duas
ou três fases, nos quais o conservante pode ser mais solúvel na fase oleosa do que na
fase aquosa.

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• Controle do pH da formulação: O pH da formulação é importante não só na esta-
bilidade dos princípios ativos. A seguir do pH 3,4, os ésteres de ácidos graxos, pre-
sentes na fase oleosa das emulsões, tendem a hidrolisar e, como resultado, o produto
pode apresentar odor desagradável;
• Água: A água utilizada como veículo para manipulação das bases é a água purificada.

Leia os seguintes tópicos, presente no Cap. 39 – Liberação tópica e transdérmica de fár-


macos (AULTON, 2016):
• Estrutura e função da pele. Disponível em: https://bit.ly/3rvNEAF
• Transporte de fármacos pela pele. Disponível em: https://bit.ly/3rndvKS
• Preparações tópicas e transdérmicas. Disponível em: https://bit.ly/3lT0Gql

Emulsões
As emulsões Água em Óleo – A/O são mais gordurosas e, embora isso transmita
sensação de maior hidratação, em formulações medicinais, devemos ficar atentos ao fato
de não se misturam bem com exsudatos aquosos de ferimentos e serem mais difíceis de
retirar da pele. A hidratação da pele nesse caso ocorre por oclusão e, segundo Aulton
(2016), esse é um fator importante na permeação (permeabilidade) do fármaco, sendo
incorporados componentes que aumentam a penetração na superfície da pele.

De acordo com a USP <41>, os cremes são emulsões semissólidas do tipo Óleo em
Água (O/A) ou Água em Óleo (A/O), que contêm mais de 20% de água e menos de
50% de hidrocarbonetos, ceras ou poliois – carboidratos poliálcoois – como veículo,
possuindo consistência leve e de fácil espalhabilidade.

As loções O/A e os cremes facilmente se misturam com os exsudatos dos tecidos e


são removidos mais facilmente por lavagem.

A permeabilidade é facilitada por incorporação de insumos que aumentam a evapo-


ração na superfície da pele. Ao ser aplicado e friccionado na pele, os cremes O/A são
distribuídos sobre a pele, formando um Sistema de entrega de fármaco pela formação de
um filme evaporante dinâmico, explica Aulton (2016), no qual o ambiente de dissolução e
partição altera-se conforme as concentrações relativas dos ingredientes voláteis mudam.

A evaporação rápida pode supersaturar temporariamente o filme, aumentando a


atividade termodinâmica e a permeação (permeabilidade) do fármaco.

Pomadas
É a Forma Farmacêutica semissólida, para aplicação na pele ou em membranas muco-
sas, que consiste na solução ou na dispersão de um ou mais princípios ativos em baixas
proporções em uma base adequada, usualmente não aquosa (FORMULÁRIO NACIO-
NAL DA FARMACOPEIA BRASILEIRA).

As bases galênicas de pomadas podem ser empregadas por seus efeitos físicos, como
emolientes ou como veículo/excipiente para incorporar insumos ativos, nesse caso sen-
do classificada como pomadas medicamentosas.

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Emolientes: são substâncias empregadas em produtos de uso tópico, como óleos ou lipídeos,
com finalidade de suavizar ou amaciar a pele ou, ainda, torná-la mais flexível. A oclusão promo-
vida pelos emolientes diminui a perda transepidermal de água e, consequentemente, aumenta
a hidratação do estrato córneo (FORMULÁRIO NACIONAL DA FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2.ed.).
Os cremes e as loções cremosas possuem, em geral, pelo menos um emoliente em sua composi-
ção. A estrutura química dos emolientes influencia em sua interação com a pele e na proprieda-
de sensorial do produto final, sendo que os óleos produzem sensação mais gordurosa, enquanto
os ésteres de ácidos graxos conferem sensação mais leve na pele e são menos oclusivos que
as ceras e os óleos. A concentração e o tipo de emoliente podem ser modificados para alterar
algumas características da formulação, tais como espalhabilidade, custo, compatibilidade, capa-
cidade solubilizante, liberação do fármaco, penetração cutânea e oclusão, entre outras.

Os tipos de bases para pomadas e suas principais características são apresentados


no Quadro 1, de acordo com o Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira, 2.ed.

Allen et al. (2013) descrevem as bases de pomadas classificadas pela United States
Pharmacopeia (USP), em quatro grupos:
• Bases hidrofóbicas;
• Bases de absorção;
• Bases removíveis por água;
• Bases hidrossolúveis.

Perceba que o Formulário da Farmacopeia Brasileira classifica, na categoria de po­


madas, a base galênica consagrada Cold Cream.

Trata-se de uma emulsão Tipo A/O, ou seja, a Fase Oleosa é a Fase Externa ou
Contínua e, quando aplicada, forma um filme oleoso protetor que permanece sobre a
pele após a evaporação da água tendo, portanto, a típica ação oclusiva da maioria das
bases de pomadas.

Quadro 1 – Características dos diferentes tipos de pomadas para uso tópico

Constituem-se de substâncias graxas.


• Características: Insolúveis em água, não laváveis, anidras,
Oleaginosas sem absorção de água, emolientes, oclusivas e gordurosas;
• Constituintes principais: Petrolato branco, petrolato líqui-
do, cera branca.

São bases de hidrocarbonetos e emulsificantes que formam


emulsões água em óleo quando se adiciona água.
• Características: Insolúveis em água, não laváveis, anidras,
De absorção anidras podem absorver água, emolientes, oclusivas e gordurosas;
• Constituintes principais: Lanolina, mistura de colesterol,
álcool estearílico, cera branca de abelha e vaselina, mistura
de vaselina, cera e sesquioleato de sorbitan.

São bases emulsivas que contém água.


De absorção emulsivas • Características: Insolúveis em água, não laváveis, podem
água em óleo absorver água (pouca), emolientes, oclusivas e gordurosas;
• Constituintes principais: Cold cream.

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São constituídas por emulsões óleo em água, também denomi-
nadas cremes.
Laváveis emulsivas • Características: Solúveis em água, laváveis, contém água,
podem absorver água, não oclusivas e não gordurosas;
• Constituintes principais: Ceras autoemulsionantes.

São bases geralmente constituídas por polietilenoglicois.


• Características: Solúveis em água, laváveis, podem conter
Solúveis em água ou absorver água, não oclusivas e não gordurosas;
• Constituintes principais: Polietilenoglicois.

Fonte: Adaptado de Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira

Agora, você vai ler as páginas 278-83 de Allen et al. (2013), observando as principais diferen-
ças entre essas bases galênicas, os seus principais constituintes, os aspectos e os métodos
importantes em seu preparo. Disponível em: https://bit.ly/3cn37P6

Veja a fórmula e o modo de preparo, bem como aplicações da base Cold cream
(Figura 2), encontrada no Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira, 2. ed.

Nesse compêndio da Farmacopeia Brasileira, você também pode encontrar outras


bases galênicas para preparações de diversas formulações, conceitos e definições farma-
cotécnicas e fórmulas oficinais de uso consagrado.

Figura 2 – Base galênica Cold cream


Fonte: ANVISA, 2012

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Água purificada é a água potável que passou por algum tipo de tratamento para retirar os
possíveis contaminantes e atender aos requisitos de pureza estabelecidos na monografia
da Farmacopeia Brasileira. Ceras autoemulsionantes são utilizadas em concentrações ade-
quadas à função da capacidade emulsionante e da viscosidade desejada para o produto,
devendo ser levado em consideração, ao desenvolver uma formulação semissólida, o fator
de alterações climáticas, que pode resultar em diferenças de viscosidade. Por exemplo, em
regiões com temperaturas mais elevadas, o produto pode apresentar viscosidade mais bai-
xa e ser necessário aumentar a proporção da cera para correção da consistência da base para
uso tópico.
Petrolato é um insumo que possui aplicação em diversos segmentos industriais, como a de
construção cível e termoplásticos, sinônimo de parafina, óleo mineral e vaselina, pertence
ao grupo químico dos Hidrocarbonetos alifáticos hidrogenados, sendo sua composição a
mistura de hidrocarbonetos parafínicos, naftênicos e aromáticos, e não é biodegradável.
O uso do petrolato em cosméticos, alimentos e medicamentos é permitido apenas ao pro-
duto formulado com matérias-primas certificadas – vaselina USP, de elevada qualidade,
sendo um produto final neutro, com alto grau de pureza – obtido por tratamentos físico-
-químicos – estabilidade físico-química, portanto, muito diferente da vaselina utilizada em
aplicações industriais de outros segmentos. Vaselina grau farmacêutico ou USP – United
States Pharmacopeia – atende às rigorosas normas de qualidade imposta pelos Órgãos de
fiscalização. A Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n° 83, de 17 de junho de 2016, dispõe
sobre o Regulamento Técnico MERCOSUL, sobre a lista de substâncias que não podem ser
utilizadas em produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, na qual consta o petro-
lato, exceto se conhecerem todos os antecedentes de refinação e se for possível provar que
a substância a partir da qual foi produzida não é cancerígena até aqui. Leia os materiais
midiáticos disponíveis nos links a seguir, com diferentes especialistas relatando vantagens
e desvantagens do petrolato.

Fonte: https://bit.ly/3rq9rcG e https://glo.bo/3soc402

Unguentos e géis
Unguentos são pomadas mais resistentes que contêm, adicionada à base, uma resina
como princípio ativo, como, por exemplo, a resina extraída do Toluifera balsamum L.
(Balsamo de Tolu) – árvore de grande porte – utilizada como cicatrizante e antiparasitá-
rio – sarna.
São utilizados por via tópica, quando se pretende maior tempo de atuação e efeito de
proteção nas superfícies externas, sem elasticidade, tendo a vantagem de sofrer menos
alterações que as pomadas, além de conferir consistência maior.
Disponíveis, principalmente, para aplicação tópica, os géis, também chamados de
geleias (jellies), são constituídos por dispersão de partículas coloidais, podendo conter
carbômeros, magma de bentonita ou hidróxido de alumínio.
Nesse último caso, o gel é constituído de flóculos de pequenas partículas distintas,
sendo denominado Sistema de Duas Fases – Magma – como o Leite de Magnésia (ou
Magma de Magnésia), um precipitado gelatinoso de hidróxido de magnésio.
De acordo com o Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira, 2.ed., gel é a
Forma­Farmacêutica semissólida de um ou mais princípios ativos que contém um agente

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gelificante para fornecer viscosidade a um Sistema no qual partículas de dimensão coloi-
dal – tipicamente entre 1nm e 1µm – são distribuídas uniformemente.

Um gel pode conter partículas suspensas, podendo ser:


• Gel hidrofílico: Resultante da preparação obtida pela incorporação de agentes
gelificantes – tragacanta, amido, derivados de celulose, polímeros carboxivinílicos e
silicatos duplos de magnésio e alumínio à água, glicerol ou propilenoglicol;
• Gel hidrofóbico: Consiste, usualmente, de parafina líquida com polietileno ou
óleos gordurosos com sílica coloidal ou sabões de alumínio ou zinco.

Allen et al. (2013) relacionam os agentes gelificantes usados, que formam géis de fase
única – macromoléculas – uniformemente distribuídas por todo o líquido, sem ligações
aparentes entre elas e o líquido:
• Carbômero 934, macromolécula sintética, polímero hidrossolúvel de elevada massa
molecular;
• Derivados de celulose, como a carboximetil celulose ou a hidroxipropilmetil celulose;
• Gomas naturais, como a goma adragante.

A viscosidade dos carbômeros depende de sua composição. De acordo com Allen et al.
(2013), eles são utilizados como agentes gelificantes em concentrações de 0,5 a 2,0%
em água, tendo o carbômero 940 a maior viscosidade produzida.

Pastas
Formulação que contém o fármaco disperso em uma pasta, que se trata de preparação
rija, contendo até 50% de sólidos absorventes, comumente dispersos em uma base gordu-
rosa líquida ou semissólida, mas também em base aquosa, possui duas fases ou multifase.

De acordo com o Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira, 2.ed., trata-se da


pomada contendo grande quantidade de sólidos em dispersão (pelo menos 25%), por-
tanto, se o percentual de pós for inferior a 25% do total da preparação, a formulação
será considerada uma pomada.

Dependendo das características químicas da fase de dispersão, as pastas podem ser


classificadas em pastas gordurosas ou pastas à base de água.

São tradicionalmente utilizadas e altamente eficazes em condições dermatológicas


que se apresentam com exsudação e/ou inflamação e escoriações, portanto, possuem
ação secativa e cicatrizante, possuindo pouca ou nenhuma penetração na pele.

Pastas, disponível em: https://bit.ly/3rkDlyW

As pastas graxas tendem a ser menos gordurosas do que os unguentos, pois o pó


presente pode absorver hidrocarbonetos mais móveis da base gordurosa.

Garrote (2001) descreve pastas à base de água também como loções agitadas, sendo
loções aquosas que incorporam glicerina, sorbitol, outros poliois, polietilenoglicois de

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e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas

baixo peso molecular e outras substâncias líquidas miscíveis em água como excipientes
usuais, aos quais se incorpora uma elevada percentagem de pós em suspensão, como
nas pastas graxas.

As pastas à base de água são pouco oclusivas, secando rapidamente, apresentam f­ ácil
aderência à pele, podendo ser utilizadas em grandes superfícies afetadas e possuindo­
fácil remoção por simples lavagem com água.

A fórmula de base mais amplamente utilizada para pasta à base de água, também
conhecida como pasta d’água, é composta por partes iguais em peso, de glicerina, água
purificada, óxido de zinco e talco.

Finalidades
Garrote (2001) descreve como um dos principais objetivos da aplicação das pastas,
independentemente dos princípios ativos incorporados, a obtenção da diminuição da
temperatura da área inflamada.

As pastas de ácidos graxos – gordura, como vaselina sólida e lanolina – conseguem


isso porque a temperatura de fusão dos componentes gordurosos que as compõem cos-
tuma estar próxima à temperatura fisiológica do corpo humano.

Ao espalhar a pasta na pele, a fase gordurosa tende a derreter, absorvendo o calor


da pele. Feita a aplicação e, portanto, cessado o fluxo de calor, os componentes graxos
da pomada tendem a retornar ao seu estado inicial, com a consequente eliminação do
calor de fusão, que é disperso pelos componentes sólidos da pasta.

Um segundo objetivo desse tipo de formulações é a proteção da superfície cutânea


lesionada e/ou inflamada pela colocação de substâncias pulverulentas quimicamente
inertes sobre a pele, as quais, de forma meramente mecânica, isto é, atuando na forma
de barreira física, previne a ação de vários tipos de irritantes locais (urina, fezes suor,
fricção de roupas e outras partes do corpo próximas) na pele.

Consegue-se com esses dois fatores uma leve sensação de frescor na área afetada,
bem como uma redução da coceira e ardência características de lesões como assaduras
e leves queimaduras.

A presença de ácido salicílico, antralina e alcatrão de carvão na pasta de Lassar –


pasta de ácido graxo – foram muito utilizados no tratamento de psoríase.

As pastas aquosas possuem propriedades adstringentes e dessecantes. Por isso, é


indicada no tratamento de lesões exsudativas, como herpes zoster na fase de formação
de vesícula, nas vesículas de catapora, em queimaduras leves, e não raro são realizadas
variações na fórmula, sendo incorporados ativos, como enxofre, para o tratamento de
escabiose, cânfora e mentol, devido ao efeito acentuado de frescor e alívio do prurido.

Portanto, são úteis para tratar áreas específicas, como assaduras, queimaduras, pru-
ridos causados por escabiose e vesículas de catapora, devido à ação secativa, de frescor,
cicatrizante e pela formação de uma barreira física, mantendo a integridade da pele, e
a protegendo também do contato com fezes e urina em crianças que utilizam fraldas,
dessa forma, prevenindo dermatoses.

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Estabilidade
Emulsões
A noção de estabilidade em emulsões é dada por meio do tempo necessário para
o início visual de separação de fases e pode levar de alguns minutos a alguns anos
(FRANZOL; REZENDE, 2015).

Aulton (2016) salienta que a entrega oral de fármacos usando emulsões pode ser impre-
visível, pois as emulsões podem tornar-se instáveis no ambiente de baixo pH do estômago.

Os concentrados de emulsão, descritos como Sistemas Autoemulsificantes de Entrega


de Fármacos (SEDDS), estão disponíveis comercialmente para minimizar a instabilidade.

Os SEDDS são compostos de fármaco, óleo(s), surfactantes e, às vezes, cossolventes.


Eles não são emulsões propriamente ditas, mas formam emulsões com agitação leve no
ambiente aquoso do estômago. Embora os SEDDS tenham aspecto importante sobre a
estabilidade de emulsões, iremos nos ater, principalmente, às formas semissólidas.

Tensoativos ou surfactantes são compostos orgânicos anfipáticos que apresentam, em sua


molécula, uma porção polar – ou cabeça. Podem apresentar grupos iônicos (cátions ou ânions),
não iônicos ou anfóteros, que se comportam como ácido ou base dependendo do pH do meio –
e outra apolar – denominada cauda, é constituída por uma ou duas cadeias carbônicas.

Lembre-se de que a emulsificação nos permite misturar líquidos imiscíveis, obtendo


misturas homogêneas e relativamente estáveis, desde que observados fatores como:
• Solubilidade do insumo ativo a ser incorporado;
• Características físico-químicos dos constituintes da base de emulsão e do insumo ativo;
• Compatibilidade com todos os componentes da formulação;
• pH das fases do Sistema da emulsão;
• Proporção das Fases;
• Estabilidade durante o período de validade.

O preparo de emulsões deve ser iniciado no estudo de seleção do agente emulsificante ou


emulgente e, para isso, devemos ficar atentos aos fatores citados, que estão envolvidos nas
prováveis Teorias sobre como as emulsões são produzidas e estabilizadas. Para conhecê-las,
compreendê-las e saber quais as características químicas dos emulgentes e estabilizantes
mais utilizados e suas aplicações gerais, você deve ler o tópico Emulsões, p. 399-403, de
Allen et al. (2013). Disponível em: https://bit.ly/2QvHwLE

Assim, a função de um agente emulsificante é manter o estado de dispersão da emul-


são por um período longo, após o término da agitação durante o preparo.

As formulações de emulsões são constituídas basicamente de Fase oleosa e Fase Aquosa.

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UNIDADE Pontos Críticos na Manipulação
e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas

Fase oleosa
A seleção dos constituintes desta fase é realizada baseada nas características dese-
jadas para o produto em função de sua aplicação. Por exemplo: na aplicação via oral,
costuma ser utilizado óleo de rícino, óleo mineral, óleo de girassol etc.
Na aplicação via parenteral, óleos como o de semente de algodão, de soja e de amen-
doim são utilizados.
Para a via tópica, comumente é utilizado óleo mineral, vaselina sólida e óleos vege­
tais, como o de amêndoas, bem como ceras, como a de carnaúba, e ácidos graxos,
como o ácido esteárico e o ácido palmítico, e alcoóis graxos, como o álcool estearílico.
Havendo a incorporações de adjuvantes:
• Antioxidantes;
• Conservantes;
• Umectantes;
• Emolientes;
• Estabilizantes secundários.

Fase aquosa
As características físico-químicas e a estabilidade do fármaco presente na Fase Aquosa
são fatores importantes na seleção de adjuvantes, como antioxidantes e tampões, de for-
ma a manter estabilizadas as características do meio, favorecendo,assim, a estabilidade.
Dentre outros, estão:
• Quelantes;
• Conservantes;
• Estabilizantes secundários.

Agente emulsificante
Sabendo que tensoativos reduzem a tensão superficial, por possuírem afinidade com
as interfaces de líquidos imiscíveis, devido à sua estrutura anfifílica, ou seja, uma molé­
cula com estrutura polar – hidrófila – e apolar –hidrófoba, as características que os
emulsificantes devem possuir para produzir emulsões estáveis são:
• Ter o equilíbrio adequado entre estrutura hidrófila e hidrófoba;
• Ser estável à degradação química e microbiológica e inerte;
• Ser atóxicos;
• Ser inodoro e incolor – Características organolépticas;
• Ser, de preferência, de baixo custo.

Observação
Agentes emulsificantes secundários podem ser necessários em alguns casos, pois a
curvatura das gotas distancia as cabeças polares do tensoativo – surfactante – e, adicio-
nando-se um segundo tensoativo, obtém-se uma camada mais compacta.

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Allen et al. (2013) descrevem uma emulsão considerada fisicamente instável se:
• A fase interna ou dispersa tende a formar agregados de gotículas;
• Grandes gotículas ou agregados de gotículas surgem na superfície ou se depositam
no fundo, formando uma camada concentrada de fase interna;
• Todo o líquido ou parte do líquido da fase interna separa-se e forma uma camada
distinta na superfície ou no fundo do frasco, resultante da coalescência dos glóbulos
da fase interna.

Leia as p. 408-9 de Allen et al. (2013) para compreender melhor como ocorre a separação de
fases em uma emulsão instável. Disponível em: https://bit.ly/3spGW02

Composição Química dos Emulgentes


Segundo Allen et al. (2013), os emulgentes diferem quanto à composição química e,
dentre os eles e os estabilizantes para Sistemas Farmacêuticos, estão:
• Carboidratos naturais, como a goma arábica, o adragante, o ágar, o chondrus e a
pectina formam coloides hidrofílicos em contato com água e, em geral, produzem
emulsões O/A, tendo aplicabilidade e Formas Farmacêuticas diferentes, emprega-
dos desde a aplicação como espessantes, devido à viscosidade que confere a Fase
Aquosa em emulsões e suspensões ao regulador de viscosidade e para promover
estabilidade da dispersão;
• Substâncias proteicas, como a gelatina e a gema de ovo, produzem emulsões O/A.
A desvantagem da gelatina como emulgente é que a emulsão, frequentemente, é
muito fluida e se torna ainda mais, com o repouso;
• Álcoois de elevada massa molecular, como o álcool estearílico, o álcoolcetílico e o
monoestearato de glicerila são empregados, principalmente, como agentes espessan-
tes e estabilizantes de emulsões O/A de algumas loções e pomadas para uso externo;
• Sólidos finamente divididos, como hidróxidos metálicos – hidróxido de magnésio e
alumínio –, argilas coloidais – bentonita;
• Tensoativos contêm tanto grupos hidrofílicos quanto lipofílicos, sendo que a porção
hidrofóbica da molécula, geralmente, é responsável por sua atividade de superfície.

Nos tensoativos aniônicos, a porção hidrofílica é carregada negativamente, mas nos


catiônicos, ela tem carga positiva. Devido a suas cargas iônicas opostas, tensoativos
aniônicos e catiônicos tendem a se neutralizar e são considerados incompatíveis. Emul-
gentes não iônicos não apresentam tendência à ionização (ALLEN et al., 2013). A fase
aquosa dos tensoativos pode apresentar dissociação eletrolítica. Dessa forma, depen-
dendo desse comportamento, da via a ser administrada e da compatibilidade físico-
-química entre os componentes da fórmula, selecionam-se tensoativos – surfactantes:
• Iônicos aniônicos, ao ionizar na água, formam ânions volumosos e cátions mono-
valentes, como os sabões alcalinos – estearatos de sódio, potássio ou amônio, orientan-
do a emulsão na direção O/A, os derivados sulfatados, como o laurilsulfato de sódio;

19
19
UNIDADE Pontos Críticos na Manipulação
e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas

• Iônicos catiônicos, como sais de amônio quaternário e sais aminados, apresentam


propriedades antissépticas, como o brometo de cetiltrimetilamônio (sal de amô-
nio quaternário);
• Não iônicos, classificados conforme a natureza da ligação que une a parte lipófila­
à parte hidrófila, como ligação ésteres, amidas etc. Como exemplo, citamos o
­Monoestearato de glicerol, que é praticamente insolúvel em água e, portanto, utili-
zado como emulsionante A/O, e os ésteres de sorbitano (spans);
• Anfóteros, ou seja, comportam-se como ácido ou base, aniônico ou catiônico, em
função do pH do meio, como as betaínas, por exemplo, cocoamidopropilbetaína,
utilizada comumente como espessante em xampus.

Equilíbrio hidrófilo-lipofilíco
A classificação de tensoativos, de acordo com a sua composição hidrofílica e lipofílica,
está relacionada à polaridade, pois seus grupos hidrófilos e lipófilos posicionam-se entre
as duas fases da emulsão (aquosa e oleosa), originando o filme interfacial, que diminui a
tensão entre elas, estabilizando esse Sistema.

O balanço entre as duas porções moleculares com características opostas dessas


substâncias é denominado equilíbrio hidrófilo-lipofílico e se baseia na solubilidade dos
tensoativos em solventes polares e apolares.

De acordo com Aulton (2016), o princípio de uma barreira interfacial hidrofílica favo­
rece emulsões O/A, enquanto uma barreira mais apolar favorece emulsões A/O e é
­empregado no Sistema de equilíbrio hidrofílico–lipofílico (EHL) para avaliação de agen-
tes emulsificantes, introduzido por Griffin em 1954), que estabeleceu que a porcentagem
da fração hidrofílica da molécula do tensoativo dividida por 5 representa o valor de EHL.

Aulton (2016) descreve, por meio desse Sistema Numérico, uma faixa de EHL estabe-
lecida de eficiência ótima para cada classe de surfactante, como visto na Figura 3, possibi-
litando a comparação entre agentes emulsificantes de características químicas diferentes.

18
}}
}
Agentes solubilizantes (15–18)
Hidrofóbico
(solúvel em óleo) 15
Detergentes (13–15)

12 Agentes emulsificantes O/A (8–16)

Dispersível
em água
9
} Agentes molhantes e de
espalhamento (7–9)

Hidrofílico
(solúvel em água)
6

3
}} Agentes emulsificantes A/O (3–6)

Agentes antiespumantes (2–3)

Figura 3 – Escala EHL mostrando a classificação da função surfactante


Fonte: Adaptado de AULTON, 2016

20
Como observamos na Figura 3, os tensoativos possuem aplicações diferentes como
adjuvantes, de acordo com a escala EHL.

Allen e Loyd (2016) relacionam essas características em produtos farmacêuticos da


seguinte maneira:
• Oftálmicos tópicos podem conter tensoativos para dispersar ingredientes insolúveis
ou auxiliar na solubilização. Entretanto, são utilizados na menor concentração
para obter o efeito desejado, visto que eles podem ser irritantes aos tecidos oculares
sensíveis. Tensoativos não iônicos são preferíveis, pois são menos irritantes do que
os iônicos, como o Polissorbato 80, que é usado para preparar emulsões oftálmicas;
• Estabilizar fármacos mais hidrofóbicos para, por exemplo, prevenir a perda por
adsorção nas paredes dos recipientes, como o óleo de rícino polioxil-40 hidrogenado
(HCO-40) que é usado para estabilizar o travoprosta, um derivado de prostaglandina;
• Similarmente, o Cremophor EL é usado para estabilizar o diclofenaco na formulação
do Voltaren®, comercializado pela Novartis.

Em Síntese
Allen et al. (2013) esclarece que, pelo Método de Griffin, atribui-se a cada tensoativo um
valor de EHL ou um número indicando sua polaridade. Embora os valores tenham sido
estabelecidos até 40, a faixa usual situa-se entre 1 e 20.
Assim:
• Materiais que são altamente polares ou hidrofílicos apresentam valores mais eleva-
dos do que aqueles menos polares e mais lipofílicos;
• Em geral, tensoativos com valores de EHL entre 3 e 6 são altamente lipofílicos e
produzem emulsões A/O;
• Tensoativos com valores de EHL de cerca de 8 a 18 resultam em emulsões O/A.
Exemplos de alguns valores de EHL atribuídos para alguns tensoativos são encontrados
na Tabela 1, e na Tabela 2 está ilustrado o tipo de aplicação esperada dos tensoativos,
conforme seu EHL, descritos por Allen et al. (2013):

Tabela 1 – Valores de EHL para alguns emulgentes


Agente EHL
Distearato de etilenoglicol 1,5
Triestearato de sorbitano (Span 65 )
a
2,1
Monoestearato de propilenoglicol 3,4
Triton X-15 b
3,6
Monoleato de sorbitano (Span 80 ) a
4,3
Monoestearato de sorbitano (Span 60a) 4,7
Monolaurato de dietilenoglicol 6,1
Monopalmitato de sorbitano (Span 40 ) a
6,7
Dioleato de sacarose 7,1
Goma arábica 8,0
Amercol L-101 c
8,0

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UNIDADE Pontos Críticos na Manipulação
e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas

Agente EHL
Éter laurílico de polioxietileno (Brij 30 )
a
9,7
Gelatina 9,8
Triton X-45b 10,4
Metilcelulose 10,5
Monoestearato de polioxietileno (Myrj 45 ) a
11,1
Oleato de trietanolamina 12,0
Goma adragante 13,2
Triton X-100 b
13,5
Monoestearato de sorbitano polioxietileno (Tween 60 ) a
14,9
Monoleato de sorbitano polioxietileno (Tween 80a) 15,0
Monolaurato de sorbitano polioxietileno (Tween 20a) 16,7
Pluronic F 68 d
17,0
Oleato de sódio 18,0
Oleato de potássio 20,0
Lauril sulfato de sódio 40,0
Fonte: Adaptada de ALLEN et al., 2013

Tabela 2 – Valor EHL de tensoativos e sua aplicação


Aplicação Valor de EHL
Antiespuma 1-3
Emulgentes (A/O) 3-6
Agentes molhantes 7-9
Emulgentes (A/O) 8-18
Solubilizantes 15-20
Detergentes 13-16
Fonte: Adaptada de ALLEN et al., 2013

Para realizar o cálculo EHL, antes é necessário calcular o valor EHL do tensoativo e,
para isso, devemos conhecer o PM do tensoativo e de sua fração hidrofílica. Entretanto,
facilmente encontraremos o valor do EHL de tensoativos e compostos da Fase Oleosa
de uma emulsão em Literaturas Farmacotécnicas.

Veja um exemplo, em que precisamos calcular a quantidade de tensoativos a ser utili-


zada, conhecendo o valor EHL de tensoativo e componentes da fase oleosa:

Calcular EHL da emulsão a seguir e a quantidade a ser utilizada de cada tensoativo.

Dados
Sistema tensoativos a ser utilizado =>​5g​. Formado por A – Span (EHL = 4,7) e B –
Tween (EHL= 15)

Cera de abelha ......................... 8g (EHL = 9,0) ​

Cera de carnaúba .................... 4g (EHL = 12) ​

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Lanolina .................................... 3g (EHL = 12)

Óleo mineral ............................. 35g (EHL = 10)

Emulsifcante .............................. 5 g

Água purificada ........................ q.s.p. 100 g

Resolução

1ª etapa
1. Determinar a quantidade total de Fase Oleosa

8g + 4g +3g + 35g = 50g de Fase Oleosa total

2ª etapa
Calcular a fração de cada componente na Fase Oleosa

Basta pegarmos o peso em g de cada componente e ÷ pelo peso total da quantidade


oleosa (50 g) obtida na etapa anterior

Cera de abelha: 8g = 0,16 (16%)

Cera de carnaúba: 4g = 0,08 (8%)

Lanolina: 3g = 0,06 (6%)

Óleo mineral: 35 g = 0,7 (70%)

Nota

Observe que podemos obter a fração em % ao x 100

3ª etapa
EHL necessário para cada componente x fração do componente da Fase Oleosa

Fração do componente na Fase Oleosa x EHL correspondente:

Cera de abelha: 0,16 x 9 = 1,44

Cera de carnaúba: 0,08 x 12 = 0,96

Lanolina: 0,06 x 12 = 0,72

Óleo mineral: 0,7 x 10 =7

4ª etapa
EHL total da emulsão igual a soma dos valores obtidos na 3ª etapa

1,44 + 0,96 + 0,72 + 7 = 10,12 EHL total da emulsão

23
23
UNIDADE Pontos Críticos na Manipulação
e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas

5ª etapa
Para que o tensoativo esteja com valor de EHL mais próximo do obtido para o
total da emulsão, vamos calcular a quantidade (g) de cada tensoativo a ser utilizado
com EHL previamente definido de acordo com a quantidade total da formulação.

Considerando que temos 5g total de tensoativo e que A e B são frações dos emulsificantes:

A + B = 1 (ou 100%)

Portanto, A = 1– B

(A x EHL A) + (B x EHLB) = EHLTotal

(1 – B).4,7 + 15 B = 10,12

4,7 – 4,7 B + 15 B = 10,12

– 4,7 B + 15 B = 5,42

10,3 B = 5,42

B = 0,53 ou 53 %

Se B corresponde 0,53 partes, então, A corresponde a 0,47 partes (5- 0,53 = 0,47)

Agora, convertemos partes para peso (g):

Se, 1 parte -------------- 5 g

0,53 partes --------- x

X = 2,65 g de B

E, 2,35 g de A(5 g- 3,65 g)

Outros Adjuvantes
Após compreender como ocorre o preparo e a estabilização de emulsões durante o
seu prazo de validade, que pode variar de dias, para emulsões de preparação extempo-
rânea, há meses ou anos, em especialidades farmacêuticas – preparações comerciais –,
discutiremos a importância dos conservantes em qualquer forma farmacêutica, princi-
palmente, as que possuem água livre, pois a Fase Contínua Aquosa de uma emulsão
Óleo em Água pode produzir condições ideais para o crescimento de bactérias, levedu-
ras e fungos.

De acordo com Aulton (2016), as fontes de contaminação microbiológica em poten-


cial podem ser a água usada, as matérias-primas (especialmente se elas forem produtos
naturais), o equipamento de fabricação e a embalagem, ou introduzidos pelo paciente
durante o uso.

24
Essa contaminação, um risco à saúde, também pode afetar as propriedades físico-quími-
cas da formulação, causando mudanças de cor, odor ou pH, ou mesmo separação de fases.

As emulsões A/O são menos suscetíveis à contaminação microbiológica, devido à


Fase Aquosa estar essencialmente protegida pelo óleo.

Um conservante ideal deve apresentar um amplo espectro de atividade contra bac-


térias, leveduras e fungos, entretanto, deve ser livre de atividade tóxica, irritante ou
sensibilizante ao usuário.

O fenoxietanol, o ácido benzoico e os parabenzoatos são usados como conservantes


em emulsões orais e tópicas.

Incompatibilidades entre os emulsificadores e os conservantes podem ocorrer, con-


forme Aulton (2016), que descreve os emulsificadores surfactantes não iônicos de polio-
xietileno e os conservantes fenólicos, não apenas destruindo sua atividade microbiana,
mas também as propriedades emulsificantes do surfactante.

Agentes antioxidantes são utilizados frequentemente em emulsões, a fim de evitar a


deterioração oxidativa da fase oleosa – odor e sabor rançosos –, do insumo ativo e do
agente emulsificador durante o período de validade, no armazenamento.

Aulton (2016) relaciona como antioxidantes comumente usados na Farmácia:


• Butil-hidroxianisol (BHA) e o butil-hidroxitolueno (BHT) em concentrações de até 0,2%;
• Galatos de alquila, que são efetivos em concentrações muito baixas (0,001-0,1%);
• Alfatocoferol – Adicionado a algumas emulsões lipídicas comerciais para evitar a
peroxidação de ácidos graxos insaturados.

Umectantes são agentes utilizados para evitar perda de água das formulações, como
o propilenoglicol, o glicerol e o sorbitol em concentrações de até 5%, frequentemente
adicionados às bases galênicas como emulsões e géis dermatológicos para reduzir a
evaporação da água durante o armazenamento.

Adjuvantes farmacotécnicos
De acordo com o Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira, 2.ed. rev. 02, as
substâncias adjuvantes são todas as substâncias adicionadas ao produto com a finalidade
de melhorar a sua estabilidade ou a sua aceitação como Forma Farmacêutica. Possuem a
função de estabilizar e preservar o aspecto e as características físico-químicas da fórmula.

Dependendo da formulação, os excipientes podem funcionar como diluentes, desin-


tegrantes, aglutinantes, lubrificantes, conservantes, solventes, edulcorantes, aromatizan-
tes, agentes doadores de viscosidade, veículo, agentes antioxidantes etc.

Em geral, os excipientes são terapeuticamente inertes, inócuos nas quantidades adi-


cionadas, e não devem prejudicar a eficácia terapêutica do medicamento.

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UNIDADE Pontos Críticos na Manipulação
e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas

Importante!
É muito importante que você leia as Literaturas e os Artigos direcionados e os estu-
de, como o Cap. 3 – Composição das fórmulas farmacêuticas, de Farmacotécnica:
Técnicas de Manipulação de Medicamentos,dando ênfase ao tópico Principais adju-
vantes ou excipientes e suas funções. Disponível em: https://bit.ly/3dadPY9

A RDC nº 67/2007, no item 9 – Controles – 9.1. Controle de Qualidade das Pre-


parações Magistrais e Oficinais, descreve em 9.1.1. os seguintes ensaios que, no mí-
nimo, de acordo com a Farmacopeia Brasileira ou outro Compêndio Oficial reconhecido
pela ANVISA, devem ser realizados nas preparações magistrais e oficinais semissólidas:
• Descrição (semissólido, líquido ou sólido);
• Aspecto (por exemplo, branco, leitoso, incolor etc.);
• Caracteres organolépticos (odor por exemplo);
• pH (quando aplicável);
• Peso.

Os resultados dos ensaios devem ser registrados na ordem de manipulação, junto


com as demais informações da preparação manipulada. O farmacêutico deve avaliar os
resultados, aprovando ou não a preparação para dispensação.

Compatibilidade
Os estudos de estabilidade de um medicamento se iniciam no desenvolvimento da
formulação, quando são avaliados todos os fatores intrínsecos, como a fórmula, a com-
patibilidade entre os seus componentes, o pH e a adequação da embalagem primária,
entre outros. Uma vez definido e obtido o produto farmacêutico, segue-se longo período
de armazenamento das amostras, já em sua embalagem final, sob condições controladas
de temperatura e umidade, que simulem aquelas em que o produto estará exposto na
cadeia de distribuição e de comercialização. No Brasil, definido como Zona Climática IV,
essas condições são temperatura de (30 ± 2)°C e umidade relativa de (70 ± 5)% (FOMU-
LÁRIO NACIONAL DA FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2.ed. 2.rev., 2012).

O Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira, 2.ed., 2.rev., contém monografias de fór-


mulas oficinais e magistrais (Figura 6), bem como fórmulas de bases galênicas, descrevendo
orientações de preparo, principais incompatibilidades e armazenamento, dentre outras in-
formações. Leia Considerações sobre a estabilidade de produtos farmacêuticos, p. 33-7.
Disponível em: https://bit.ly/39g7MjV

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Figura 4 – Monografia da Solução de Cloreto de Cetilpiridínio
Fonte: ANVISA, 2012

De acordo com Pombal et al. (2010), a incompatibilidade refere-se, geralmente, a


evidências visuais e fenômenos físico-químicos, como precipitação, dependente da con-
centração e das reações ácido-base, cujos produtos da reação se manifestam como uma
mudança de estado físico.

Note que instabilidade descreve as reações que são irreversíveis e originam produtos
distintos – produtos de degradação –, que podem ser inativos e/ou apresentam toxi-
cidade. Entretanto, a incompatibilidade é considerada na avaliação de estabilidade de
uma preparação.

Ferreira (2000) alerta para as incompatibilidades físicas e químicas, de interesse para


a Farmacotécnica, que podem se desenvolver entre:
• Substâncias ativas;
• Coadjuvantes farmacotécnicos;
• Substâncias ativas e coadjuvantes;
• Material de embalagem;
• Impurezas.

Bermar (2014) lembra-se de que antes da incorporação de ativos, é necessário


solubilizá-los em veículo compatível com o gel – técnica que é necessária a qualquer
outra base semissólida utilizada – ou molhá-los com agentes de levigação, isto é, o pro-
cesso de redução de partículas sólidas por trituração em um gral, utilizando pequena
quantidade de líquido ou base fundida na qual o sólido não é solúvel.

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UNIDADE Pontos Críticos na Manipulação
e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas

Na Tabela 3, observe as incompatibilidades e as faixas de pH de estabilização de


alguns géis.

Tabela 3 – Principais agentes gelificantes com características,


concentrações usuais e faixas de pH para estabilização
Principais agentes Concentrações pH de
Características Incompatibilidades
gelificantes usuais (%) estabilização
Resinas de ácido acrílico combi-
nado com a alisacarose ou alil-
-éteres de pentaertirol. Agente
Resorcinol, fenol, polímeros
Carbômero – gelificante mais utilizado nas
catiônicos, ácidos fortes e altas 0,5-1,0 5,0-11,0
­Carbopol® farmácias de manipulação. Pro-
concentrações de eletrólitos.
move o espessamento após neu-
tralização com bases inorgânicas
(exemplo: trietanolamina).
Forma géis aniônicos. Não uti-
Ativos fortemente ácidos, sais in-
lizado para géis com incorpora-
CMC-Na (carboxime- solúveis de ferro, alumínio e zinco,
ção de ativos dermatológicos. 4,0-5,0 2,0-10,0
tilcelulose sódica) goma xantana, álcool (ph < 2),
Utilizado usualmente em for-
gelatina, pectina, colágeno.
mas orais e internas.
À base de celulose, não iônico,
solúvel em água fria ou quen-
Hidroxietilcelulose – te, praticamente insolúvel em
Zeína, soluções salinas. 0,1-3,0 2,0-12,0
Natrosol® álcool.­Utilizado no âmbito far-
macêutico para incorporação de
ativos ácidos e despigmentantes.
Cloridrato de aminacrina, clo-
Forma géis não iônicos, solúvel rocresol, cloreto de mercúrio,
Metilcelulose em água fria, praticamente in- ácido tânico, metilparabeno, 2,0-5,0 3,0-11,0
solúvel em água quente e álcool. propilparabeno, butilparabeno,
sais de ácidos minerais.
Fonte: Adaptada de BERMAR, 2014

Incompatibilidades físicas
A não uniformidade, visível, assim como a falta de palatabilidade e, principalmente,
a não uniformidade da dose, caracterizam essas incompatibilidades e podem ocorrer
devido à prescrição incorreta, na escolha da Forma Farmacêutica ou veículos e/ou exci-
pientes não adequados.

A seguir, são descritos os casos mais comuns:


• Quantidade inadequada de solvente ou insolubilidade e imiscibilidade
Pode ocorrer por falha técnica no estudo de pré-formulação por falha na prescri-
ção, como insolubilidade de gomas em álcool e de resinas em água.
Ferreira (2000) oferece estratégias de correção, como:
» Aquecimento. Entretanto, deve ser dada atenção às características de solubilidade
no Certificado de Análise da matéria-prima ou na farmacopeia, pois após o res-
friamento, o material pode novamente não se misturar ou solubilizar;
» Alterar o veículo pelo mais adequado, ou quantidade do solvente ou veículo. Nesse
caso, em se tratando de prescrição, o prescritor deve ser consultado previamente;

28
» Filtração, apenas se o material não dissolvido for dispensável;
» Adicionar um cossolvente, melhorando a solubilidade;
• A precipitação pode ocorrer por insolubilidade ao solvente em uma solução, como
adição de eletrólitos a substâncias coloidais, ou álcool adicionado a substâncias mu-
cilaginosas e albuminosas;
• A separação de fases em líquidos imiscíveis como soluções oleosas em álcool com
a adição de água;
• Alguns sólidos misturados se liquefazem por meio da formação de misturas eutéti-
cas ou liberação de água de hidratação.

Substâncias como alúmen sulfato de atropina, sulfato de sódio, sulfato ferroso, sulfato
de zinco, cafeína, cloreto de cálcio, codeína, ácido cítrico, bromidrato de escopolamina
e acetato de sódio, dentre outros, contêm água de cristalização. Nesse caso, procura-
-se utilizar a substância anidra em quantidade equivalente em formulações passíveis de
ocorrer liquefação por incompatibilidades com outros componentes.

As substâncias que absorvem umidade do ar, como cloreto de cálcio, sulfato de efe-
drina, carbonato de lítio, citrato de potássio, pilocarpina e cloreto de magnésio, dentre
muitas outras, causam problemas de incompatibilidades similares.

Também podem produzir liquefação as substâncias eutéticas, devido à redução do


ponto de fusão quando combinadas, como, por exemplo, cânfora, mentol, AAS (Ácido
Acetil Salicílico) e timol, dentre outras.

Incompatibilidades químicas
Desde o aprendizado e a prática de Laboratório nas Disciplinas de Química, desen-
volvemos conhecimentos a respeito de várias classes de substâncias e as principais rea-
ções químicas envolvidas, a princípio, em soluções, depois, as necessárias para a síntese
de fármacos, de forma que sabemos que a associação de substâncias incompatíveis pode
causar acidentes, como explosões, e liberar vapores tóxicos.

No desenvolvimento de formulações, não é diferente, a probabilidade de ocorrer a


formação de produtos tóxicos e/ou inativação ou perda de atividade farmacológica pode
ser grande, devido a falhas no pré-estudo de formulação magistral, podendo trazer pre-
juízos ao paciente, à reputação do médico e do farmacêutico.

A formação de compostos pouco solúveis pode ocorrer devido a reações como:


• Precipitação de ácido e bases fracas pouco solúveis devido à alteração do valor de pH;
• Adição de íons em soluções que contenham sais que contenham íons em comum;
• Formação de sais pouco solúveis entre componentes de uma formulação. Ocorre,
frequentemente, com alcaloides e alguns sais, como citratos e salicilatos, ocorrendo
formação de sais alcaloídicos insolúveis;
• Tensoativos aniônicos como o lauril sulfato de sódio em pó utilizados em formu-
lações sólidas como cápsulas, como a função desaglutinante, é incompatível com
substâncias catiônicas, como fosfato de codeína e íons de cálcio, formando precipi-
tados insolúveis.

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29
UNIDADE Pontos Críticos na Manipulação
e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas

Le Hir (1997) apontou inúmeras incompatibilidade dos surfactantes iônicos, além


de serem irritantes para a pele e as mucosas, principalmente, os aniônicos, sendo mais
indicado os não iônicos nesse caso e, dentre eles:
• Os aniônicos só agem em meio alcalino;
• Os catiônicos só agem em meio ácido;
• Os aniônicos e os catiônicos são incompatíveis entre si;
• Os sabões alcalinos são sensíveis aos sais dissolvidos, como os presentes em
águas duras.

Reações de oxidação e redução são prejudicais à estabilidade dos medicamentos, e


grande número de fármacos são sensíveis a essas reações.

Ferreira (2000) enumera os fatores que afetam a velocidade de oxidação:


• Presença de oxigênio;
• Luz;
• Presença de íons de metais pesados;
• Temperatura;
• pH;
• Presença de substâncias que atuem como agentes oxidantes.

Dentre as estratégias utilizadas para proteger o fármaco e a formulação da oxida-


ção, estão:
• Embalagens sem espaços para ar, ou seja, em quantidade própria para o volume
do produto;
• Embalagens foto-resistentes, como vidro âmbar;
• Uso de agentes quelantes ou sequestrantes na formulação, de forma que se com-
plexam a metais pesados, que são catalisadores de reações de oxidação, como
exemplo comumente utilizados estão os sais de EDTA;
• Uso de antioxidantes, como vitamina E (acetato de tocoferol), palmitato de ascorbila e
BHT, dentre outros, utilizados em Sistemas Oleosos, quesão susceptíveis à oxidação;
• Em Sistemas Aquosos, que necessitem de antioxidantes, são comumente utilizados
o metabissulfito de sódio e o ácido ascórbico (Vitamina C);
• Controle de pH da formulação e de ajustes, se necessário, pois algum componente
pode ser sujeito à oxidação e, de acordo com Ferreira (2000), a oxidação é frequen-
temente favorecida pelo pH alcalino.

A hidrólise, um dos maiores fatores na instabilidade de fármacos em soluções, é um


processo de solvólise, no qual a molécula interage com moléculas de água, ocorrendo a
decomposição da molécula.

Como exemplo, temos o AAS: ao sofrer hidrólise, os produtos de degradação do


AAS são o ácido salicílico e o ácido acético.

30
COOH COOH
O
O C CH3 OH + CH3COOH

Aspirina-ácido acetilsalicílico Ácido salicílico Ácido acético

Figura 5 – Degradação do AAS por hidrólise

Ferreira (2000) salienta que o processo de hidrólise é, provavelmente, a causa mais


importante de decomposição de fármacos, devido à grande quantidade de drogas sus-
ceptíveis ao processo de hidrólise, como os ésteres, como o AAS, os anestésicos locais,
como a procaína, ou que contêm grupamentos, como amidas com anéis do tipo lactâ-
mico, como a penicilina.

Os fatores que aceleram a velocidade da hidrólise são:


• Presença de água na formulação;
• pH;
• Temperatura;
• Componentes que podem catalisar o processo de hidrólise, como a dextrose.

Como estratégias para evitar a hidrólise, Ferreira (2000) cita:


• Uso de recipientes hermeticamente fechados e de dessecantes, dessa forma contro-
lando a exposição da droga sólida à umidade;
• Checar, antes da manipulação, o pH de todos os fármacos da formulação, controlar
e ajustar o pH da formulação aquosa;
• Consultar referências nos estudos de pré-formulação, incluindo efeitos de ácidos e
bases, evitando o uso de tampões como citratos e fosfatos, se o fármaco for sus-
ceptível à hidrólise;
• Controle da temperatura de armazenamento do fármaco e do produto.

Fármacos podem ter sua estabilidade química reduzida com adição de alguns adju-
vantes farmacotécnicos.

Veja alguns exemplos:


• Lactose reage com compostos como anfetaminas e aminoácidos – grupo amino
primário, resultando em coloração amarronzada, devido à condensação do tipo
Maillard, tratando-se de reação entre o grupamento aldeídico do açúcar reduzido –
a glicose – presente na lactose e em aminas primárias;
• CMC-Na (carboximetilcelulose sódica), um polímero linear aniônico, derivado de
celulose, e usado como agente de viscosidade. É incompatível com goma xantana –
polissacarídico obtido naturalmente pela fermentação da bactéria Xanthomonas
campestres, usado como estabilizante de suspensões e emulsões, ácidos fortes e
metais como alumínio e zinco;

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UNIDADE Pontos Críticos na Manipulação
e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas

• Parabenos são incompatíveis com Polisorbato 80-tensoativos hidrofílicos (alto HLB),


geralmente, solúveis ou dispersíveis em água e empregados para obter emulsões
do tipo Óleo em Água (O/A), como dispersantes ou solubilizantes de óleos e como
cotensoativos em xampus e pH maiores que 8;
• As vitaminas sintéticas – diferente das vitaminas encontradas nos vegetais – têm
a proteção natural dos antioxidantes, como os bioflavonoides – sendo instáveis
quando incorporadas em preparações líquidas como xaropes e suspensões, sendo
que a degradação pode ser acelerada por fatores como aumento da temperatura,
presença de luz e oxigênio, água, metais catalizadores e reações de oxi-redução e
interação entre outros componentes da fórmula e, até mesmo, outras vitaminas e
minerais, com características físico-químicas que exigem meio com pH diferentes,
por exemplo.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Farmacotécnica – Técnicas de Manipulação de Medicamentos
BERMAR, K. C. O. Farmacotécnica – Técnicas de Manipulação de Medica-
mentos. São Paulo: Érica, 2014. Cap. 6 – Manipulação de Formas Farmacêuti-
cas semissólidas.

Leitura
Surfactantes sintéticos e biossurfactantes: vantagens e desvantagens
https://bit.ly/3ffnoYM
Elaboração de géis e análise de estabilidade de medicamentos
https://bit.ly/39iatkZ
Estabilidade dos medicamentos manipulados
https://bit.ly/2NT6yDH

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UNIDADE Pontos Críticos na Manipulação
e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas

Referências
ALLEN, L. V.; POPOVICH, N. G.; ANSEL, H. C. Formas farmacêuticas e sistemas
de liberação de fármacos [Recurso Eletrônico] 9.ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. Dis-
ponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788565852852/>.
Acesso em: 28/10/2020.

ALLEN JR., LOYD V. Introdução à farmácia de Remington. Porto Alegre: Artmed, 2016.
Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582712528/>.
Acesso em: 12/11/2020.

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegia-


da – RDC nº 83, de 17 de junho de 2016. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.
br/bvs/saudelegis/anvisa/2016/rdc0083_17_06_2016.pdf>. Acesso em: 12/11/2020.

AULTON, M. E. A. Delineamento de Formas Farmacêuticas. 4.ed. Rio de


­Janeiro: Elsevier, 2016. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788595151703/>. Acesso em: 09/11/2020.

BERMAR, K. C. O. Farmacotécnica: Técnicas de Manipulação de Medicamentos.


São Paulo: Érica, 2014. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788536520902/>. Acesso em: 19/11/2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº 67, de


8 de outubro de 2007. Aprovar o Regulamento Técnico sobre Boas Práticas de Mani-
pulação de Preparações Magistrais e Oficinais para uso humano em Farmácias e seus
Anexos. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília,
9 out. 2007. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2007/
rdc0067_08_10_2007.html>. Acesso em: 19/11/2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário


Nacional da Farmacopeia Brasileira. 2.ed.rev. 2.ed. Brasília: Anvisa, 2012. Disponí-
vel em: <https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/farmacopeia/formulario-nacional/
arquivos/8065json-file-1>. Acesso em: 11/11/2020.

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volvendo emulsionantes aniônico, catiônico e não iônico, Polímeros, São Car-
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so em: 10/11/2020. https://doi.org/10.1590/0104-1428.1669.

GARROTE, A. Las pastas como forma farmacêutica. Aplicación terapêutica, Offarm:


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<https://www.elsevier.es/es-revista-offarm-4-articulo-las-pastas-como-forma-farmaceu-
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LE HIR, A. Noções de Farmácia Galênica. 6.ed. São Paulo: Organização Andrei, 1997.

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POMBAL, R.; BARATA, P.; OLIVEIRA, R. Estabilidade dos medicamentos manipulados.
Revista da Faculdade de Ciências da Saúde, Porto, n. 7, p. 330-341, 2010. Disponível
em: <https://core.ac.uk/download/pdf/61012529.pdf>. Acesso em: 17/11/ 2020.

USP 41. The United States Pharmacopeia. Rockville: THE UNITED STATES
PHARMACOPEIAL CONVENTION, 2018. 5v.

Site Visitado
QUIMIDROL. Ficha Técnica: Vaselina Líquida Industrial. Disponível em: <http://www.
quimidrol.com.br/media/blfa_files/Vaselina_Liquida_Industrial_2.pdf>.

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