Teorico
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Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Pontos Críticos na Manipulação e nas
Formas Farmacêuticas Semissólidas
• Introdução;
• Formas Farmacêuticas Semissólidas e sua Classificação;
• Estabilidade;
• Composição Química dos Emulgentes;
• Outros Adjuvantes;
• Compatibilidade.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Desenvolver a análise crítica para a avaliação das associações interessantes e possíveis
incompatibilidades entre as matérias-primas;
• Desenvolver a habilidade técnica para a produção de diferentes Formas Farmacêuticas, apli-
cáveis para manipulação.
UNIDADE Pontos Críticos na Manipulação
e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas
Introdução
Antes de iniciarmos o tópico referente às Formas Farmacêuticas semissólidas, vamos
compreender o que é uma emulsão, esse Sistema de liberação de fármaco que é ampla-
mente utilizado em Formas Farmacêuticas semissólidas, quais emulsões são utilizadas na
Farmácia e por qual via de administração.
Emulsão, de acordo com Aulton (2016), é uma dispersão de dois líquidos imiscíveis
(ou parcialmente miscíveis) – um distribuído uniformemente na forma de gotículas finas
(a Fase Dispersa) por meio do outro (a Fase Contínua).
Dentre as aplicações para emulsões, citamos alguns segmentos:
• Medicamentos;
• Alimentícia, veja como exemplo os sorvetes, maionese e o leite;
• Química, como os revestimentos (tintas);
• Agroquímicos;
• Cosméticos.
Franzol e Rezende (2015) as definem como um Sistema Polifásico, no qual se e ncontra
uma fase fragmentada (Fase Dispersa) dentro de outra (Fase Contínua), sendo o tama-
nho dos fragmentos da Fase Dispersa um fator importante na estabilidade da emulsão,
em que a Fase Líquida (Descontínua ou Interna) é estabilizada em outra Fase Líquida
(Contínua ou Externa) pela ação de um agente emulsionante.
As emulsões Óleo em Água (O/A) contêm gotículas de óleo dispersas em água e as
emulsões Água em Óleo (A/O) contêm gotículas d’água dispersas no óleo (Figura 1).
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Administração oral
Têm sido utilizada há muitos anos, com a função da liberação de óleos, como o de rí-
cino e o mineral no intestino, no tratamento da constipação e como suplementos alimen-
tares orais, rico em vitaminas lipossolúveis, como a A e a E, presente no óleo de fígado
de bacalhau, estando na fase interna da emulsão O/A, possui a característica de ser mais
palatável, devido ao sabor do óleo ser mascarado pela fase aquosa e pelo odor suprimido.
De acordo com Aulton (2016), aprimora-se a absorção intestinal quando uma solução
oleosa do fármaco é apresentada na forma de gotículas submicrométricas de óleo, por
causa da maior área interfacial disponível para contato no local de absorção, que costu-
ma ser mais rápida e mais completa do que (nas) formas de suspensão ou comprimido,
pois o fármaco nas emulsões orais já está solubilizado no óleo, o que elimina o passo de
dissolução antes da absorção.
Aulton (2016) descreve as vantagens das emulsões intravenosas usadas como car-
readores para fármacos de solubilidade aquosa limitada, citando produtos disponíveis
comercialmente para fármacos como o diazepam (Diazemuls®), o propofol (Diprivan®) e
a vitamina K (Fitonadiona®), dentre elas:
• Maior carga útil ao fármaco – Solubilizado por vários cossolventes;
• Menor toxicidade;
• Menos dor na injeção;
• Proteção de fármacos lábeis a ambiente oleoso.
Emulsões dermatológicas
A maior classe de emulsões e as quais abordaremos nesta Unidade com maior ênfase,
variando em consistência, desde fluidos (loções, linimentos) até os semissólidos (cremes).
O termo loção é usado para designar preparações tópicas para uso sobre a pele.
Entretanto, inclui as dispersões, isto é, suspensões e emulsões. As dispersões podem
se apresentar líquidas ou semissólidas e, no primeiro caso, tem maior viscosidade que
as soluções, para diminuir a sedimentação da Fase Interna. Por esse motivo, devem ter
fórmula ajustada para rápida e homogênea redispersão, após breve agitação (FORMU-
LÁRIO NACIONAL DA FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2012).
As emulsões dermatológicas possuem boa aceitação pelos pacientes devido aos atri-
butos sensoriais, como textura e “toque macio” na pele, conferindo a formação de filme
e aumentando a hidratação com o uso de alguns ativos incorporados, como silicones
e polissacarídeos oriundos da fermentação bacteriana, por processos biotecnológicos,
como o Fucogel®.
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UNIDADE Pontos Críticos na Manipulação
e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas
Formas Farmacêuticas
Semissólidas e sua Classificação
Os veículos ou excipientes semissólidos são destinados ao uso externo, sobre a pele
ou mucosas, utilizados por via nasal, vaginal ou retal, sendo a maioria empregado con-
forme efeitos dos agentes terapêuticos que possuem e são classificados em pomadas,
cremes, géis e pastas.
Allen (2016) alerta, ainda, para a escolha crítica para Sistemas emulsionados de duas
ou três fases, nos quais o conservante pode ser mais solúvel na fase oleosa do que na
fase aquosa.
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• Controle do pH da formulação: O pH da formulação é importante não só na esta-
bilidade dos princípios ativos. A seguir do pH 3,4, os ésteres de ácidos graxos, pre-
sentes na fase oleosa das emulsões, tendem a hidrolisar e, como resultado, o produto
pode apresentar odor desagradável;
• Água: A água utilizada como veículo para manipulação das bases é a água purificada.
Emulsões
As emulsões Água em Óleo – A/O são mais gordurosas e, embora isso transmita
sensação de maior hidratação, em formulações medicinais, devemos ficar atentos ao fato
de não se misturam bem com exsudatos aquosos de ferimentos e serem mais difíceis de
retirar da pele. A hidratação da pele nesse caso ocorre por oclusão e, segundo Aulton
(2016), esse é um fator importante na permeação (permeabilidade) do fármaco, sendo
incorporados componentes que aumentam a penetração na superfície da pele.
De acordo com a USP <41>, os cremes são emulsões semissólidas do tipo Óleo em
Água (O/A) ou Água em Óleo (A/O), que contêm mais de 20% de água e menos de
50% de hidrocarbonetos, ceras ou poliois – carboidratos poliálcoois – como veículo,
possuindo consistência leve e de fácil espalhabilidade.
Pomadas
É a Forma Farmacêutica semissólida, para aplicação na pele ou em membranas muco-
sas, que consiste na solução ou na dispersão de um ou mais princípios ativos em baixas
proporções em uma base adequada, usualmente não aquosa (FORMULÁRIO NACIO-
NAL DA FARMACOPEIA BRASILEIRA).
As bases galênicas de pomadas podem ser empregadas por seus efeitos físicos, como
emolientes ou como veículo/excipiente para incorporar insumos ativos, nesse caso sen-
do classificada como pomadas medicamentosas.
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Emolientes: são substâncias empregadas em produtos de uso tópico, como óleos ou lipídeos,
com finalidade de suavizar ou amaciar a pele ou, ainda, torná-la mais flexível. A oclusão promo-
vida pelos emolientes diminui a perda transepidermal de água e, consequentemente, aumenta
a hidratação do estrato córneo (FORMULÁRIO NACIONAL DA FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2.ed.).
Os cremes e as loções cremosas possuem, em geral, pelo menos um emoliente em sua composi-
ção. A estrutura química dos emolientes influencia em sua interação com a pele e na proprieda-
de sensorial do produto final, sendo que os óleos produzem sensação mais gordurosa, enquanto
os ésteres de ácidos graxos conferem sensação mais leve na pele e são menos oclusivos que
as ceras e os óleos. A concentração e o tipo de emoliente podem ser modificados para alterar
algumas características da formulação, tais como espalhabilidade, custo, compatibilidade, capa-
cidade solubilizante, liberação do fármaco, penetração cutânea e oclusão, entre outras.
Allen et al. (2013) descrevem as bases de pomadas classificadas pela United States
Pharmacopeia (USP), em quatro grupos:
• Bases hidrofóbicas;
• Bases de absorção;
• Bases removíveis por água;
• Bases hidrossolúveis.
Trata-se de uma emulsão Tipo A/O, ou seja, a Fase Oleosa é a Fase Externa ou
Contínua e, quando aplicada, forma um filme oleoso protetor que permanece sobre a
pele após a evaporação da água tendo, portanto, a típica ação oclusiva da maioria das
bases de pomadas.
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São constituídas por emulsões óleo em água, também denomi-
nadas cremes.
Laváveis emulsivas • Características: Solúveis em água, laváveis, contém água,
podem absorver água, não oclusivas e não gordurosas;
• Constituintes principais: Ceras autoemulsionantes.
Agora, você vai ler as páginas 278-83 de Allen et al. (2013), observando as principais diferen-
ças entre essas bases galênicas, os seus principais constituintes, os aspectos e os métodos
importantes em seu preparo. Disponível em: https://bit.ly/3cn37P6
Veja a fórmula e o modo de preparo, bem como aplicações da base Cold cream
(Figura 2), encontrada no Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira, 2. ed.
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Água purificada é a água potável que passou por algum tipo de tratamento para retirar os
possíveis contaminantes e atender aos requisitos de pureza estabelecidos na monografia
da Farmacopeia Brasileira. Ceras autoemulsionantes são utilizadas em concentrações ade-
quadas à função da capacidade emulsionante e da viscosidade desejada para o produto,
devendo ser levado em consideração, ao desenvolver uma formulação semissólida, o fator
de alterações climáticas, que pode resultar em diferenças de viscosidade. Por exemplo, em
regiões com temperaturas mais elevadas, o produto pode apresentar viscosidade mais bai-
xa e ser necessário aumentar a proporção da cera para correção da consistência da base para
uso tópico.
Petrolato é um insumo que possui aplicação em diversos segmentos industriais, como a de
construção cível e termoplásticos, sinônimo de parafina, óleo mineral e vaselina, pertence
ao grupo químico dos Hidrocarbonetos alifáticos hidrogenados, sendo sua composição a
mistura de hidrocarbonetos parafínicos, naftênicos e aromáticos, e não é biodegradável.
O uso do petrolato em cosméticos, alimentos e medicamentos é permitido apenas ao pro-
duto formulado com matérias-primas certificadas – vaselina USP, de elevada qualidade,
sendo um produto final neutro, com alto grau de pureza – obtido por tratamentos físico-
-químicos – estabilidade físico-química, portanto, muito diferente da vaselina utilizada em
aplicações industriais de outros segmentos. Vaselina grau farmacêutico ou USP – United
States Pharmacopeia – atende às rigorosas normas de qualidade imposta pelos Órgãos de
fiscalização. A Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n° 83, de 17 de junho de 2016, dispõe
sobre o Regulamento Técnico MERCOSUL, sobre a lista de substâncias que não podem ser
utilizadas em produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, na qual consta o petro-
lato, exceto se conhecerem todos os antecedentes de refinação e se for possível provar que
a substância a partir da qual foi produzida não é cancerígena até aqui. Leia os materiais
midiáticos disponíveis nos links a seguir, com diferentes especialistas relatando vantagens
e desvantagens do petrolato.
Unguentos e géis
Unguentos são pomadas mais resistentes que contêm, adicionada à base, uma resina
como princípio ativo, como, por exemplo, a resina extraída do Toluifera balsamum L.
(Balsamo de Tolu) – árvore de grande porte – utilizada como cicatrizante e antiparasitá-
rio – sarna.
São utilizados por via tópica, quando se pretende maior tempo de atuação e efeito de
proteção nas superfícies externas, sem elasticidade, tendo a vantagem de sofrer menos
alterações que as pomadas, além de conferir consistência maior.
Disponíveis, principalmente, para aplicação tópica, os géis, também chamados de
geleias (jellies), são constituídos por dispersão de partículas coloidais, podendo conter
carbômeros, magma de bentonita ou hidróxido de alumínio.
Nesse último caso, o gel é constituído de flóculos de pequenas partículas distintas,
sendo denominado Sistema de Duas Fases – Magma – como o Leite de Magnésia (ou
Magma de Magnésia), um precipitado gelatinoso de hidróxido de magnésio.
De acordo com o Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira, 2.ed., gel é a
FormaFarmacêutica semissólida de um ou mais princípios ativos que contém um agente
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gelificante para fornecer viscosidade a um Sistema no qual partículas de dimensão coloi-
dal – tipicamente entre 1nm e 1µm – são distribuídas uniformemente.
Allen et al. (2013) relacionam os agentes gelificantes usados, que formam géis de fase
única – macromoléculas – uniformemente distribuídas por todo o líquido, sem ligações
aparentes entre elas e o líquido:
• Carbômero 934, macromolécula sintética, polímero hidrossolúvel de elevada massa
molecular;
• Derivados de celulose, como a carboximetil celulose ou a hidroxipropilmetil celulose;
• Gomas naturais, como a goma adragante.
A viscosidade dos carbômeros depende de sua composição. De acordo com Allen et al.
(2013), eles são utilizados como agentes gelificantes em concentrações de 0,5 a 2,0%
em água, tendo o carbômero 940 a maior viscosidade produzida.
Pastas
Formulação que contém o fármaco disperso em uma pasta, que se trata de preparação
rija, contendo até 50% de sólidos absorventes, comumente dispersos em uma base gordu-
rosa líquida ou semissólida, mas também em base aquosa, possui duas fases ou multifase.
Garrote (2001) descreve pastas à base de água também como loções agitadas, sendo
loções aquosas que incorporam glicerina, sorbitol, outros poliois, polietilenoglicois de
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baixo peso molecular e outras substâncias líquidas miscíveis em água como excipientes
usuais, aos quais se incorpora uma elevada percentagem de pós em suspensão, como
nas pastas graxas.
As pastas à base de água são pouco oclusivas, secando rapidamente, apresentam f ácil
aderência à pele, podendo ser utilizadas em grandes superfícies afetadas e possuindo
fácil remoção por simples lavagem com água.
A fórmula de base mais amplamente utilizada para pasta à base de água, também
conhecida como pasta d’água, é composta por partes iguais em peso, de glicerina, água
purificada, óxido de zinco e talco.
Finalidades
Garrote (2001) descreve como um dos principais objetivos da aplicação das pastas,
independentemente dos princípios ativos incorporados, a obtenção da diminuição da
temperatura da área inflamada.
Consegue-se com esses dois fatores uma leve sensação de frescor na área afetada,
bem como uma redução da coceira e ardência características de lesões como assaduras
e leves queimaduras.
Portanto, são úteis para tratar áreas específicas, como assaduras, queimaduras, pru-
ridos causados por escabiose e vesículas de catapora, devido à ação secativa, de frescor,
cicatrizante e pela formação de uma barreira física, mantendo a integridade da pele, e
a protegendo também do contato com fezes e urina em crianças que utilizam fraldas,
dessa forma, prevenindo dermatoses.
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Estabilidade
Emulsões
A noção de estabilidade em emulsões é dada por meio do tempo necessário para
o início visual de separação de fases e pode levar de alguns minutos a alguns anos
(FRANZOL; REZENDE, 2015).
Aulton (2016) salienta que a entrega oral de fármacos usando emulsões pode ser impre-
visível, pois as emulsões podem tornar-se instáveis no ambiente de baixo pH do estômago.
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e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas
Fase oleosa
A seleção dos constituintes desta fase é realizada baseada nas características dese-
jadas para o produto em função de sua aplicação. Por exemplo: na aplicação via oral,
costuma ser utilizado óleo de rícino, óleo mineral, óleo de girassol etc.
Na aplicação via parenteral, óleos como o de semente de algodão, de soja e de amen-
doim são utilizados.
Para a via tópica, comumente é utilizado óleo mineral, vaselina sólida e óleos vege
tais, como o de amêndoas, bem como ceras, como a de carnaúba, e ácidos graxos,
como o ácido esteárico e o ácido palmítico, e alcoóis graxos, como o álcool estearílico.
Havendo a incorporações de adjuvantes:
• Antioxidantes;
• Conservantes;
• Umectantes;
• Emolientes;
• Estabilizantes secundários.
Fase aquosa
As características físico-químicas e a estabilidade do fármaco presente na Fase Aquosa
são fatores importantes na seleção de adjuvantes, como antioxidantes e tampões, de for-
ma a manter estabilizadas as características do meio, favorecendo,assim, a estabilidade.
Dentre outros, estão:
• Quelantes;
• Conservantes;
• Estabilizantes secundários.
Agente emulsificante
Sabendo que tensoativos reduzem a tensão superficial, por possuírem afinidade com
as interfaces de líquidos imiscíveis, devido à sua estrutura anfifílica, ou seja, uma molé
cula com estrutura polar – hidrófila – e apolar –hidrófoba, as características que os
emulsificantes devem possuir para produzir emulsões estáveis são:
• Ter o equilíbrio adequado entre estrutura hidrófila e hidrófoba;
• Ser estável à degradação química e microbiológica e inerte;
• Ser atóxicos;
• Ser inodoro e incolor – Características organolépticas;
• Ser, de preferência, de baixo custo.
Observação
Agentes emulsificantes secundários podem ser necessários em alguns casos, pois a
curvatura das gotas distancia as cabeças polares do tensoativo – surfactante – e, adicio-
nando-se um segundo tensoativo, obtém-se uma camada mais compacta.
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Allen et al. (2013) descrevem uma emulsão considerada fisicamente instável se:
• A fase interna ou dispersa tende a formar agregados de gotículas;
• Grandes gotículas ou agregados de gotículas surgem na superfície ou se depositam
no fundo, formando uma camada concentrada de fase interna;
• Todo o líquido ou parte do líquido da fase interna separa-se e forma uma camada
distinta na superfície ou no fundo do frasco, resultante da coalescência dos glóbulos
da fase interna.
Leia as p. 408-9 de Allen et al. (2013) para compreender melhor como ocorre a separação de
fases em uma emulsão instável. Disponível em: https://bit.ly/3spGW02
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Equilíbrio hidrófilo-lipofilíco
A classificação de tensoativos, de acordo com a sua composição hidrofílica e lipofílica,
está relacionada à polaridade, pois seus grupos hidrófilos e lipófilos posicionam-se entre
as duas fases da emulsão (aquosa e oleosa), originando o filme interfacial, que diminui a
tensão entre elas, estabilizando esse Sistema.
De acordo com Aulton (2016), o princípio de uma barreira interfacial hidrofílica favo
rece emulsões O/A, enquanto uma barreira mais apolar favorece emulsões A/O e é
empregado no Sistema de equilíbrio hidrofílico–lipofílico (EHL) para avaliação de agen-
tes emulsificantes, introduzido por Griffin em 1954), que estabeleceu que a porcentagem
da fração hidrofílica da molécula do tensoativo dividida por 5 representa o valor de EHL.
Aulton (2016) descreve, por meio desse Sistema Numérico, uma faixa de EHL estabe-
lecida de eficiência ótima para cada classe de surfactante, como visto na Figura 3, possibi-
litando a comparação entre agentes emulsificantes de características químicas diferentes.
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}}
}
Agentes solubilizantes (15–18)
Hidrofóbico
(solúvel em óleo) 15
Detergentes (13–15)
Dispersível
em água
9
} Agentes molhantes e de
espalhamento (7–9)
Hidrofílico
(solúvel em água)
6
3
}} Agentes emulsificantes A/O (3–6)
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Como observamos na Figura 3, os tensoativos possuem aplicações diferentes como
adjuvantes, de acordo com a escala EHL.
Em Síntese
Allen et al. (2013) esclarece que, pelo Método de Griffin, atribui-se a cada tensoativo um
valor de EHL ou um número indicando sua polaridade. Embora os valores tenham sido
estabelecidos até 40, a faixa usual situa-se entre 1 e 20.
Assim:
• Materiais que são altamente polares ou hidrofílicos apresentam valores mais eleva-
dos do que aqueles menos polares e mais lipofílicos;
• Em geral, tensoativos com valores de EHL entre 3 e 6 são altamente lipofílicos e
produzem emulsões A/O;
• Tensoativos com valores de EHL de cerca de 8 a 18 resultam em emulsões O/A.
Exemplos de alguns valores de EHL atribuídos para alguns tensoativos são encontrados
na Tabela 1, e na Tabela 2 está ilustrado o tipo de aplicação esperada dos tensoativos,
conforme seu EHL, descritos por Allen et al. (2013):
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Agente EHL
Éter laurílico de polioxietileno (Brij 30 )
a
9,7
Gelatina 9,8
Triton X-45b 10,4
Metilcelulose 10,5
Monoestearato de polioxietileno (Myrj 45 ) a
11,1
Oleato de trietanolamina 12,0
Goma adragante 13,2
Triton X-100 b
13,5
Monoestearato de sorbitano polioxietileno (Tween 60 ) a
14,9
Monoleato de sorbitano polioxietileno (Tween 80a) 15,0
Monolaurato de sorbitano polioxietileno (Tween 20a) 16,7
Pluronic F 68 d
17,0
Oleato de sódio 18,0
Oleato de potássio 20,0
Lauril sulfato de sódio 40,0
Fonte: Adaptada de ALLEN et al., 2013
Para realizar o cálculo EHL, antes é necessário calcular o valor EHL do tensoativo e,
para isso, devemos conhecer o PM do tensoativo e de sua fração hidrofílica. Entretanto,
facilmente encontraremos o valor do EHL de tensoativos e compostos da Fase Oleosa
de uma emulsão em Literaturas Farmacotécnicas.
Dados
Sistema tensoativos a ser utilizado =>5g. Formado por A – Span (EHL = 4,7) e B –
Tween (EHL= 15)
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Lanolina .................................... 3g (EHL = 12)
Emulsifcante .............................. 5 g
Resolução
1ª etapa
1. Determinar a quantidade total de Fase Oleosa
2ª etapa
Calcular a fração de cada componente na Fase Oleosa
Nota
3ª etapa
EHL necessário para cada componente x fração do componente da Fase Oleosa
4ª etapa
EHL total da emulsão igual a soma dos valores obtidos na 3ª etapa
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5ª etapa
Para que o tensoativo esteja com valor de EHL mais próximo do obtido para o
total da emulsão, vamos calcular a quantidade (g) de cada tensoativo a ser utilizado
com EHL previamente definido de acordo com a quantidade total da formulação.
Considerando que temos 5g total de tensoativo e que A e B são frações dos emulsificantes:
A + B = 1 (ou 100%)
Portanto, A = 1– B
(1 – B).4,7 + 15 B = 10,12
– 4,7 B + 15 B = 5,42
10,3 B = 5,42
B = 0,53 ou 53 %
Se B corresponde 0,53 partes, então, A corresponde a 0,47 partes (5- 0,53 = 0,47)
X = 2,65 g de B
Outros Adjuvantes
Após compreender como ocorre o preparo e a estabilização de emulsões durante o
seu prazo de validade, que pode variar de dias, para emulsões de preparação extempo-
rânea, há meses ou anos, em especialidades farmacêuticas – preparações comerciais –,
discutiremos a importância dos conservantes em qualquer forma farmacêutica, princi-
palmente, as que possuem água livre, pois a Fase Contínua Aquosa de uma emulsão
Óleo em Água pode produzir condições ideais para o crescimento de bactérias, levedu-
ras e fungos.
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Essa contaminação, um risco à saúde, também pode afetar as propriedades físico-quími-
cas da formulação, causando mudanças de cor, odor ou pH, ou mesmo separação de fases.
Umectantes são agentes utilizados para evitar perda de água das formulações, como
o propilenoglicol, o glicerol e o sorbitol em concentrações de até 5%, frequentemente
adicionados às bases galênicas como emulsões e géis dermatológicos para reduzir a
evaporação da água durante o armazenamento.
Adjuvantes farmacotécnicos
De acordo com o Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira, 2.ed. rev. 02, as
substâncias adjuvantes são todas as substâncias adicionadas ao produto com a finalidade
de melhorar a sua estabilidade ou a sua aceitação como Forma Farmacêutica. Possuem a
função de estabilizar e preservar o aspecto e as características físico-químicas da fórmula.
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UNIDADE Pontos Críticos na Manipulação
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Importante!
É muito importante que você leia as Literaturas e os Artigos direcionados e os estu-
de, como o Cap. 3 – Composição das fórmulas farmacêuticas, de Farmacotécnica:
Técnicas de Manipulação de Medicamentos,dando ênfase ao tópico Principais adju-
vantes ou excipientes e suas funções. Disponível em: https://bit.ly/3dadPY9
Compatibilidade
Os estudos de estabilidade de um medicamento se iniciam no desenvolvimento da
formulação, quando são avaliados todos os fatores intrínsecos, como a fórmula, a com-
patibilidade entre os seus componentes, o pH e a adequação da embalagem primária,
entre outros. Uma vez definido e obtido o produto farmacêutico, segue-se longo período
de armazenamento das amostras, já em sua embalagem final, sob condições controladas
de temperatura e umidade, que simulem aquelas em que o produto estará exposto na
cadeia de distribuição e de comercialização. No Brasil, definido como Zona Climática IV,
essas condições são temperatura de (30 ± 2)°C e umidade relativa de (70 ± 5)% (FOMU-
LÁRIO NACIONAL DA FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2.ed. 2.rev., 2012).
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Figura 4 – Monografia da Solução de Cloreto de Cetilpiridínio
Fonte: ANVISA, 2012
Note que instabilidade descreve as reações que são irreversíveis e originam produtos
distintos – produtos de degradação –, que podem ser inativos e/ou apresentam toxi-
cidade. Entretanto, a incompatibilidade é considerada na avaliação de estabilidade de
uma preparação.
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e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas
Incompatibilidades físicas
A não uniformidade, visível, assim como a falta de palatabilidade e, principalmente,
a não uniformidade da dose, caracterizam essas incompatibilidades e podem ocorrer
devido à prescrição incorreta, na escolha da Forma Farmacêutica ou veículos e/ou exci-
pientes não adequados.
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» Filtração, apenas se o material não dissolvido for dispensável;
» Adicionar um cossolvente, melhorando a solubilidade;
• A precipitação pode ocorrer por insolubilidade ao solvente em uma solução, como
adição de eletrólitos a substâncias coloidais, ou álcool adicionado a substâncias mu-
cilaginosas e albuminosas;
• A separação de fases em líquidos imiscíveis como soluções oleosas em álcool com
a adição de água;
• Alguns sólidos misturados se liquefazem por meio da formação de misturas eutéti-
cas ou liberação de água de hidratação.
Substâncias como alúmen sulfato de atropina, sulfato de sódio, sulfato ferroso, sulfato
de zinco, cafeína, cloreto de cálcio, codeína, ácido cítrico, bromidrato de escopolamina
e acetato de sódio, dentre outros, contêm água de cristalização. Nesse caso, procura-
-se utilizar a substância anidra em quantidade equivalente em formulações passíveis de
ocorrer liquefação por incompatibilidades com outros componentes.
As substâncias que absorvem umidade do ar, como cloreto de cálcio, sulfato de efe-
drina, carbonato de lítio, citrato de potássio, pilocarpina e cloreto de magnésio, dentre
muitas outras, causam problemas de incompatibilidades similares.
Incompatibilidades químicas
Desde o aprendizado e a prática de Laboratório nas Disciplinas de Química, desen-
volvemos conhecimentos a respeito de várias classes de substâncias e as principais rea-
ções químicas envolvidas, a princípio, em soluções, depois, as necessárias para a síntese
de fármacos, de forma que sabemos que a associação de substâncias incompatíveis pode
causar acidentes, como explosões, e liberar vapores tóxicos.
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COOH COOH
O
O C CH3 OH + CH3COOH
Fármacos podem ter sua estabilidade química reduzida com adição de alguns adju-
vantes farmacotécnicos.
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e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Farmacotécnica – Técnicas de Manipulação de Medicamentos
BERMAR, K. C. O. Farmacotécnica – Técnicas de Manipulação de Medica-
mentos. São Paulo: Érica, 2014. Cap. 6 – Manipulação de Formas Farmacêuti-
cas semissólidas.
Leitura
Surfactantes sintéticos e biossurfactantes: vantagens e desvantagens
https://bit.ly/3ffnoYM
Elaboração de géis e análise de estabilidade de medicamentos
https://bit.ly/39iatkZ
Estabilidade dos medicamentos manipulados
https://bit.ly/2NT6yDH
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UNIDADE Pontos Críticos na Manipulação
e nas Formas Farmacêuticas Semissólidas
Referências
ALLEN, L. V.; POPOVICH, N. G.; ANSEL, H. C. Formas farmacêuticas e sistemas
de liberação de fármacos [Recurso Eletrônico] 9.ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. Dis-
ponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788565852852/>.
Acesso em: 28/10/2020.
ALLEN JR., LOYD V. Introdução à farmácia de Remington. Porto Alegre: Artmed, 2016.
Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582712528/>.
Acesso em: 12/11/2020.
LE HIR, A. Noções de Farmácia Galênica. 6.ed. São Paulo: Organização Andrei, 1997.
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POMBAL, R.; BARATA, P.; OLIVEIRA, R. Estabilidade dos medicamentos manipulados.
Revista da Faculdade de Ciências da Saúde, Porto, n. 7, p. 330-341, 2010. Disponível
em: <https://core.ac.uk/download/pdf/61012529.pdf>. Acesso em: 17/11/ 2020.
USP 41. The United States Pharmacopeia. Rockville: THE UNITED STATES
PHARMACOPEIAL CONVENTION, 2018. 5v.
Site Visitado
QUIMIDROL. Ficha Técnica: Vaselina Líquida Industrial. Disponível em: <http://www.
quimidrol.com.br/media/blfa_files/Vaselina_Liquida_Industrial_2.pdf>.
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