TERRITORIOS ACERVOS E IDENTIDADES e Book
TERRITORIOS ACERVOS E IDENTIDADES e Book
TERRITORIOS ACERVOS E IDENTIDADES e Book
HUCITEC EDITORA
2023
© Direitos autorais, 2023,
da organização de,
Ana Luce Girão & Inês El-Jaick Andrade
© Direitos de publicação reservados por
Hucitec Editora Ltda.
www.lojahucitec.com.br
Depósito Legal efetuado.
Direção editorial: Mariana Nada
Produção editorial: Kátia Reis
Assessoria editorial: Mariana Terra
Circulação: Elvio Tezza
T327
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-8404-398-9
CDD 363.69
6 Apresentação
12 Capítulo 1. Identidade e desigualdades em territórios invisibi-
lizados: Igreja de São Daniel profeta em Manguinhos (RJ), Éric
Alves Gallo & Inês El-Jaick Andrade
44 Capítulo 2. Planos de conservação preventiva para edifícios
históricos: uma proposta para a Igreja da Penha, Rio de Janeiro,
Carla dos Santos Feltmann
80 Capítulo 3. A participação social na gestão sustentável do pa-
trimônio cultural: um estudo sobre o plano de requalificação
do Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos (NAHM),
Roberta dos Santos de Almeida
96 Capítulo 4. Patrimônio industrial da saúde: o Pavilhão Henri-
que Aragão, Bianca Sivolella
116 Capítulo 5. O acervo fotográfico do Instituto Oswaldo Cruz
em dois tempos, Lucas Cuba Martins
4 ∫ Sumário
141 Capítulo 6. A utilização de metadados embutidos no objeto
digital: estratégia para organização e recuperação de documen-
tos fotográficos nato digitais, Jeferson Mendonça & Aline Lopes
de Lacerda
180 Capítulo 7. Narrativas e autoridades: subsídios para uma cura-
doria compartilhada no Museu Afrodigital do Rio de Janeiro,
Suzana Camillo Marques
202 Capítulo 8. Memórias de espectadores dos cinejornais da
Agência Nacional, Amanda Heloisa Souza Custódio
226 Capítulo 9. O acervo do Banco de Imagens Darcy Ribeiro,
Claudio Oliveira Muniz
261 Capítulo 10. Proposta de educação patrimonial para a Cole-
ção Dadinho, Thalles Yvson Alves de Souza
291 Capítulo 11. Carolina Maria de Jesus: a preservação da me-
mória e o impacto na contemporaneidade da literatura produ-
zida pela mulher negra brasileira, Clarice Maria Silva Campos
Sumário ∫ 5
APRESENTAÇÃO
E
sta coletânea, composta por 11 capítulos, constitui uma
valiosa contribuição para os estudos desenvolvidos no
estado do Rio de Janeiro no âmbito da memória e do
patrimônio cultural, em suas dimensões materiais e imateriais.
Debatendo em torno do reconhecimento do patrimônio, nas
disputas e reivindicações por grupos sociais submetidos ao
esquecimento forçado, por um lado, e por outro, buscando
incorporar novos e antigos saberes e fazeres, apresenta ao pú-
blico leitor uma variedade de textos que abordam, sob ângulos
diferentes, as categorias encadeadas no título: territórios, cul-
tura e acervos.
A presente publicação é o resultado do encontro promovi-
do pelos programas de pós-graduação em Preservação e Gestão
do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde (PPGPAT), da
Casa de Oswaldo Cruz/FIOCRUZ; em Preservação de Acervos
de Ciência & Tecnologia (PPACT), do Museu de Astronomia e
Ciências Afins; em Memória e Acervos (PPGMA), da Fundação
6 ∫ Apresentação
Casa de Rui Barbosa; em Gestão de Documentos e Arquivos
(PPGARQ), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janei-
ro e em Patrimônio, Cultura e Sociedade (PPGPACS) da Uni-
versidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Esse encontro se deu
em torno da realização da 2.ª Jornada Fluminense de pós-gradua-
ção em acervos, preservação e memória, em outubro de 2022, com
a finalidade de promover o intercâmbio entre as pesquisas em
desenvolvimento ou que foram recentemente defendidas pelos
alunos dos mestrados ou doutorados dos programas de pós-gra-
duação profissionais e acadêmicos com temáticas sobre acervos,
preservação e memória, no estado do Rio de Janeiro. O encontro
foi um momento oportuno para a troca de informações e expe-
riências sobre pesquisas e produtos.
Assim, a Jornada Fluminense de pós-graduação em acervos,
preservação e memória se consolida como um importante evento
de periodicidade bianual, cuja finalidade é atualizar e trazer para
a arena de debates os temas de pesquisa no campo do patrimônio
desenvolvidos pelas instituições fluminenses.
O objetivo é que esta publicação proporcione abordagens
multidisciplinares no campo do patrimônio cultural, de maneira
que o leitor possa percorrer por distintas abrangências e tipos de
acervos. Nossa proposta, ao selecionar os artigos que compõem
esta coletânea, foi traçar um panorama atual do debate temáti-
co do campo do Patrimônio Cultural e da Memória Social que
avança, tendo como enfoques o estudo de arquivos e coleções
distintos que versam sobre as identidades, as disputas, os enfren-
tamentos e a gestão da preservação.
Os quatro capítulos que abrem esta coletânea articulam-se
a partir da temática referente à cidade e aos territórios.
O capítulo “Identidade e desigualdades em territórios invi-
sibilizados: Igreja de São Daniel Profeta em Manguinhos (RJ)”
de autoria de Éric Alves Gallo e Inês El-Jaick Andrade analisa
a significação cultural do templo religioso modernista atribuída
Apresentação ∫ 7
pelos agentes públicos e, sobretudo, pela comunidade de fiéis
sob a perspectiva do patrimônio cultural, considerando a análise
de documentos oficiais, reportagens de jornais, fotografias, no
período compreendido entre 1960-2021. Enfatiza as metodolo-
gias e estratégias para promoção da participação social em terri-
tórios de conflitos urbanos e desigualdade social.
Na sequência a autora Carla dos Santos Feltmann em “Pla-
nos de conservação preventiva, um estudo de caso sobre a Igreja
da Penha no Rio de Janeiro” aborda a significação cultural e o
estado de conservação de outro templo religioso marcante na
paisagem da zona norte da cidade do Rio de Janeiro, sob a pers-
pectiva da conservação preventiva.
Em seguida, no texto “A participação social na gestão sus-
tentável do patrimônio cultural: um estudo sobre o Plano de
Requalificação do Núcleo Arquitetônico Histórico de Mangui-
nhos (NAHM)”, a autora Roberta dos Santos de Almeida deba-
te sobre a importância da participação social para a promoção
da gestão sustentável do patrimônio cultural, buscando refletir
sobre a relação que os grupos do território demonstraram esta-
belecer com os espaços histórico-culturais do NAHM. Utiliza
como referência metodológica o manual do Rehabimed, uma
rede interdisciplinar do Mediterrâneo que opera por conceitos
da sustentabilidade, e incluiu, além de etapas de levantamento
bibliográfico, a elaboração de um diagnóstico social com o ob-
jetivo de compreender o cenário de colaboração e a participação
no contexto desse plano.
O artigo de Bianca Sivolella denominado “Patrimônio In-
dustrial da Saúde: o Pavilhão Henrique Aragão” destaca a im-
portância da conservação e requalificação de edifícios históricos
industriais para a preservação do patrimônio cultural e científico
e memória das instituições.
Na categoria de coleções foram selecionados quatro tra-
balhos que desenvolvem técnicas de preservação e buscam a
8 ∫ Apresentação
a mpliação do acesso a acervos em sua apresentação física ou na
forma digital.
Em “O acervo fotográfico do Instituto Oswaldo Cruz em
dois tempos” Lucas Cuba Martins busca restabelecer os vínculos
de produção e circulação do material fotográfico, apresentando
conclusões preliminares sobre as funções desempenhadas por
esses documentos na pesquisa científica desde a época de sua
gestação até o momento em que adquirem o status de acervo
histórico, sofrendo intervenções institucionais que visavam à sua
recuperação, ao seu tratamento e à disponibilização ao público.
O capítulo seguinte de autoria Jefferson Mendonça e Aline
Lopes de Lacerda intitulado “A utilização de metadados embu-
tidos no objeto digital: estratégia para organização e recuperação
de documentos fotográficos nato digitais” discute a gestão de
documentos fotográficos digitais produzidos pelo Laboratório
Fotográfico J. Pinto da COC durante o período de custódia por
seus produtores.
No artigo de Suzana Camillo Marques denominado “Nar-
rativas e autoridades: subsídios para uma curadoria comparti-
lhada no Museu Afrodigital do Rio de Janeiro”, a autora discute
a relação entre museus e poder, seus atores e instrumentos de
construção na narrativa museográfica. Aborda, ainda, as trans-
formações na museologia e nos museus em consequência do uso
da internet e propõe subsídios para uma curadoria participativa,
com o instituto de promover a participação e o diálogo com a
população afro-brasileira.
Amanda Heloisa Souza Custódio reflete no capítulo “Me-
mórias de espectadores dos cinejornais da Agência Nacional”
sobre o processo de ressignificação de memórias a partir dos re-
gistros produzidos pela Agência Nacional no período de 1969 a
1979.
Apresentação ∫ 9
Os três capítulos que encerram a publicação tratam de acer-
vos referentes a personagens que ocuparam níveis distintos de
visibilidade no panorama político e cultural brasileiro.
O capítulo de Claudio Oliveira Muniz, intitulado de “O
acervo do Banco de Imagens Darcy Ribeiro” contextualiza o ar-
quivo audiovisual cuja temática principal são as políticas edu-
cacionais propostas por Darcy Ribeiro e implantadas no estado
do Rio de Janeiro durante os dois mandatos de Leonel Brizola
como governador (1983 a 1987 e 1991 a 1994). O Banco de
Imagens Darcy Ribeiro encontra-se sob a guarda da Escola Téc-
nica Estadual Adolpho Bloch (ETEAB). O objetivo do trabalho
é elencar as ações de difusão planejadas e executadas durante o
centenário de Darcy Ribeiro em 2022, com o intuito de pro-
mover, divulgar, engajar e informar à comunidade de usuários e
potenciais usuários.
Dando continuidade Thalles Yvson Alves de Souza em
“Proposta de educação patrimonial para a Coleção Dadinho”
trata de ações formuladas para o conjunto de esculturas de au-
toria de Geraldo Marçal dos Reis, conhecido como Dadinho,
que se encontram sob a guarda da Casa de Cultura Ney Alber-
to, na cidade de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Embora pouco
conhecido, Dadinho teve sua importância no cenário da Arte
Popular Brasileira e sua obra tem qualidades técnicas únicas so-
bre o suporte da madeira, motivos para estabelecer uma série
de propostas no campo preservação para uma longevidade da
coleção e com as ações de educação patrimonial, propiciar aos
visitantes conhecimento sobre sua produção, seu modo de fazer
e seus saberes.
Por fim, Clarice Maria Silva Campos, no capítulo inti-
tulado “Carolina Maria de Jesus: a preservação da memória e
o impacto na contemporaneidade da literatura produzida pela
mulher negra brasileira” aborda a vida e obra literária da escrito-
ra negra Carolina Maria de Jesus, em um momento de discussões
10 ∫ Apresentação
sobre interseccionalidade em que mulheres reivindicam seu es-
paço e sua voz na sociedade.
A realização da 2.ª Jornada Fluminense de pós-graduação em
acervos, preservação e memória e a publicação desta coletânea con-
tou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
do Rio de Janeiro (FAPERJ). Agradecemos às comissões científi-
ca e organizadora dos programas de pós-graduação em patrimô-
nio cultural e memória social do Rio de Janeiro, parceiros que
estão unidos no propósito de contribuir para melhor compreen-
são e consolidação dessa modalidade de pós-graduação no Brasil.
Apresentação ∫ 11
1.
IDENTIDADE E DESIGUALDADES
EM TERRITÓRIOS INVISIBILIZADOS:
IGREJA DE SÃO DANIEL PROFETA
EM MANGUINHOS (RJ)
A
dissertação intitulada Patrimônio em território in-
visibilizado: Igreja de São Daniel Profeta na fave-
la de Manguinhos (RJ), defendida no Programa de
Considerações finais
Referências
Artigos e Títulos
V
isível de diversos pontos da cidade do Rio de Janeiro
por situar-se no alto de uma rocha de mais de cem
metros e, famosa por ter seu acesso por meio da esca-
daria de 382 degraus, dos quais 365 são talhados na própria
rocha, a Igreja da Penha configura-se como marco na pai-
sagem da zona norte. Abriga a festa religiosa mais antiga da
Principais intervenções
Proteção e títulos
A escadaria da Penha
A espanhola está aí
A espanhola está aí
A coisa não está brincadeira
Quem tiver medo de morrer
Não venha mais à Penha
Prioridade alta
Prioridade média
Prioridade baixa
Considerações finais
Referências
Algumas reflexões
Referências
Bianca Sivolella 1
A
vocação institucional da Fundação Oswaldo Cruz
(FIOCRUZ) em prol da saúde pública pode ser evi-
denciada, para gerações mais novas, pela história re-
cente, em sua atuação na pandemia. Também é mostrada em
sua história, registrada pela própria instituição e por estudio-
sos, em publicações e ações de preservação e valorização de
96 ∫ Bianca Sivolella
sua memória. Essa instituição, criada há mais de um século,
pode ser compreendida pela sociedade de forma empírica, no
nosso dia a dia, e de forma materializada no seu edifício-sede
e principal símbolo, o Pavilhão Mourisco. Na área de arquite-
tura e urbanismo, outras edificações e outros campi, suscitam
interesse de pesquisadores, para além do Pavilhão Mourisco.
A expansão da instituição desde a metade do século XX até os
dias atuais, associada ao aumento do número de edificações
no campus Manguinhos e a criação de novos campi em todo o
Brasil, mostra sua vivacidade em meio a governos, crises eco-
nômicas e políticas. Podem ser destacados nessa expansão ins-
titucional, os esforços para ampliação de pesquisa e produção
cientifica para a saúde, com foco na prevenção de doenças, por
meio de instalações criadas, especialmente para a produção de
vacinas, para as quais dedicamos parte deste capítulo.
A intenção deste artigo é apresentar um recorte temático
da minha dissertação para o mestrado profissional. Uma das
questões estudadas foi a pesquisa em torno do termo arquitetu-
ra de “laboratório” e sua inserção na temática sobre patrimônio
industrial, que se identifica em possíveis formas de utilização,
como, por exemplo: para medicina, biomedicina, química, bio-
logia, farmácia, medicina veterinária, história, engenharia e ar-
quitetura, tanto quanto para ensino, pesquisa, qualidade, análise
clínica e produção. A utilização como laboratório de produção
é a perspectiva mais interessante para esta pesquisa que preten-
de correlacioná-la ao patrimônio industrial. Outro recorte den-
tro de laboratório de produção pode ser utilizado no âmbito da
ciência e da saúde, referente à produção de vacinas. Esse tipo de
indústria carrega em si o viés tecnológico de ponta, diferente da
revolução industrial que utilizou carvão ou na fabricação têxtil
ou alimentícia. A indústria para produção de vacinas precisa de
uma rede de fornecedores, inclusive indústria química de base.
Por isso é fundamental correlacionar o volume de produção e a
98 ∫ Bianca Sivolella
Os núcleos de produção industriais
na FIOCRUZ
Fonte: DAD/COC/FIOCRUZ.
Considerações finais
Referências
A
atual Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) surgiu
em 1900 por iniciativa do Barão de Pedro Afonso,
seu primeiro diretor, em conjunto com a prefeitu-
ra do Distrito Federal. Inspirado nos trabalhos em curso no
Por mais natural que possa parecer, essa memória é projeção que
se atualiza no presente e projeta-se para o futuro. Para atualizar-
-se e projetar-se de um tempo em outro, a memória lança mão
de várias fontes (p. 138).
Considerações finais
Referências
Jeferson Mendonça1
Aline Lopes de Lacerda2
Fonte: Base Arch. Código da ima- Fonte: Base Arch. Código da ima-
gem: IOC_V_II_2472. Acervo da gem: IOC_V_II_0330. Acervo da
Casa de Oswaldo Cruz/FIOCRUZ. Casa de Oswaldo Cruz/FIOCRUZ.
Objeto digital
Metadados
Recuperando a informação
Considerações finais
Referências
E
ste capítulo é resultado do mestrado Narrativas e Au-
toridades: subsídios para uma curadoria compartilhada
no Museu Afrodigital do Rio de Janeiro, defendido em
2020, pelo Programa de Pós-Graduação da Casa de Oswaldo
Cruz (COC/FIOCRUZ), em Preservação e Gestão do Patri-
mônio Cultural das Ciências e da Saúde (PPGPAT).
Método
Considerações finais
Referências
E
ste capítulo reconhece o registro de memórias de es-
pectadores dos cinejornais da Agência Nacional como
um patrimônio que deve ser preservado, pois apenas
a sobrevivência ao tempo não atribui este valor aos objetos.
Conforme Guimarães (2012), são as relações de poder e a
produção de saberes históricos, ao elaborar narrativas sobre o
passado, que alteram o sentido original e fazem essa atribuição,
transformando-os em uma tentativa de reconstrução de expe-
riências pretéritas que estão vinculadas às gerações presentes.
Metodologia
Engenheiro de
Marco 24.03.2022 72 Telecomunica- Niterói
ções aposentado
Engenheiro
Arquivista e profes-
Rosale 08.04.2021 62 Paulo de Frontin
sora universitária
e zona sul
Jornalista e profes-
Rose 28.02.2022 68 zona sul
sora universitária
Professor de História
na Rede Federal de
Wolney 12.01.2021 62 zona norte
Ensino e pesquisa-
dor audiovisual
Fonte: Autora, 2022.
Acho que o Canal 100 ele era mais popular, digamos assim, ele
atraía a atenção com temas mais, assim, de fácil digestão pelo
público que assistia. Ele botava futebol, ele botava concursos de
miss. [...] O Pelé e o jogo do Santos que ganhou a taça Liberta-
dores da América. Então, ele tinha temas mais, não chamaria de
mundanos, mas eram no sentido de mais populares, mais acessí-
veis ao povo comum, ao público médio [ . . . ] . E já o da Agência
Nacional era uma coisa mais quadradinha, devia ter regras, só
pode mostrar isso, só pode mostrar aquilo, não pode mulher de
maiô [...] (Marco, 2022, informação oral videoconferência).
Canal 100 era uma coisa que atraía, era atraente, pra mim era
atraente ver futebol. E o Canal 100 tinha já uns clichês dele que
era mostrar pessoas, personagens na arquibancada geral, perso-
nagens pobres, desdentados, negros, coisas que fazia um cartoon,
ele explorava isso. Isso me incomodava um pouco. Na passagem
de uma jogada pra outra, ele sempre colocava um personagem
no fundo grotesco, era pitoresco, mas grotesco. Isso me inco-
modava pela forma desrespeitosa [...], mas era a descrição da
partida de futebol, o lance, a jogada, o jogador, a bola, isso tudo
ele explorava de forma criativa (Entrevistado, 2022, informação
oral videoconferência).
Referências
O
Banco de Imagens Darcy Ribeiro é o objeto de pes-
quisa deste capítulo. Trata-se de um arquivo audio-
visual que integra o acervo da Escola Técnica Esta-
dual Adolpho Bloch (ETEAB), em São Cristóvão, no Rio de
Janeiro. Ele contém parte da documentação do Complexo
de Produção Tele Educativa, quando no prédio funcionava
15 Irene Ferraz foi casada com Darcy Ribeiro e é a atual diretora do Instituto
Brasileiro de Audiovisual – Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Disponível em:
<https://www.escoladarcyribeiro.org.br>. Acesso em: 5 mar. 2023.
Difusão de arquivos
Plano de Ações
Considerações finais
Referências
A
s ações educativas no campo do patrimônio cultural
ganham relevância uma vez que propõem um traba-
lho sistemático e permanente com intuito da apro-
priação dos bens culturais pelos sujeitos envolvidos fortalecen-
do, até mesmo, suas identidades individuais e coletivas.
O artista Dadinho
Trabalhei com meu velho pai até os 15 anos. Aprendi com ele a
marcenaria, a levantar casa, fazia cama, guarda-roupa. O pai fazia
barcos, buscava gameleiras lá na mata. Tinha gameleiras de três
metros de largura, botava carro de boi, levava três, quatro meses
para furar (Zaluar, 1997, p. 7).2
3 Lélia Coelho Frota (Rio de Janeiro, 1938 - Rio de Janeiro, 2010). Antropó-
loga, escritora e museóloga. Uma das maiores especialistas em cultura popular
no Brasil.
4 No catálogo da Exposição “Brasil: Arte Popular Hoje”, está registrado com
o número 288 a peça “Cidade Grande” como coleção MinC (Frota, 1987b,
p. 62).
Considerações finais
Referências
E
ste capítulo busca evidenciar a importância do resgate
da vida e da obra literária da escritora negra Carolina
Maria de Jesus em um momento de discussões sobre
interseccionalidade em que mulheres reivindicam seu espa-
ço e sua voz na sociedade. Ao observar a história brasileira,
6 Tais Espírito Santo. Entrevista. [29 dez. 2021]. Entrevistadora: Clarice Ma-
ria. Rio de Janeiro, 2021, arquivo WhatsApp Áudio (11 min).
Eu sabia que era negra por causa dos meninos brancos. Quando
brigavam comigo. Diziam;
— Negrinha! Negrinha fedida!
A avó da minha mãe dizia:
— Eles são como os espinhos, nascem com as plantas.
[...] Os cultos tem um lugar ao sol. A raça preta não deve ser
indecisa. Não projetar, mas procurar realizar concretisar, só os
ideaes — Declamei as Noivas de maio. — O prefeito gostou da
7 Simone Ricco. Entrevista. [11 jan. 2021]. Entrevistadora: Clarice Silva. Rio
de Janeiro, 2021, plataforma Zoom (34min).
Referências