Costa - Historicidade Do Conceito de Gênero

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transmitida ou arquivada desde que levados em conta os direitos das autoras e dos
autores.

Michelle Gomes Alonso Dominguez; Naira de Almeida Velozo; Thaís de


Araujo da Costa [Orgs.]

Políticas de língua, políticas na língua: reflexões sobre diversidade de


gênero e inclusão. São Carlos: Pedro & João Editores, 2024. 272p. 16 x 23 cm.

ISBN: 978-65-265-1165-7 [Impresso]


978-65-265-1166-4 [Digital]

1. Políticas linguísticas. 2. Ensino de línguas. 3. Diversidade, gênero e inclusão.


4. Linguística. I. Título.

CDD – 410

Capa: Luidi Belga Ignacio


Ficha Catalográfica: Hélio Márcio Pajeú – CRB - 8-8828
Diagramação: Diany Akiko Lee
Editores: Pedro Amaro de Moura Brito & João Rodrigo de Moura Brito

Conselho Editorial da Pedro & João Editores:


Augusto Ponzio (Bari/Itália); João Wanderley Geraldi (Unicamp/Brasil); Hélio
Márcio Pajeú (UFPE/Brasil); Maria Isabel de Moura (UFSCar/Brasil); Maria da
Piedade Resende da Costa (UFSCar/Brasil); Valdemir Miotello (UFSCar/Brasil);
Ana Cláudia Bortolozzi (UNESP/Bauru/Brasil); Mariangela Lima de Almeida
(UFES/Brasil); José Kuiava (UNIOESTE/Brasil); Marisol Barenco de Mello
(UFF/Brasil); Camila Caracelli Scherma (UFFS/Brasil); Luís Fernando Soares
Zuin (USP/Brasil); Ana Patrícia da Silva (UERJ/Brasil).

Pedro & João Editores


www.pedroejoaoeditores.com.br
13568-878 – São Carlos – SP
2024

4
CAPÍTULO 9

HISTORICIDADE DO CONCEITO DE GÊNERO NO


DISCURSO LINGUÍSTICO-GRAMATICAL NO/DO BRASIL
A PARTIR DE DIZERES MATTOSIANOS1

Thaís de Araujo da Costa

Havia ainda muita coisa a ver no bairro dos


Substantivos, e por essa razão todos protestaram
quando Emília falou em visitar as Interjeições.
– Espere, bonequinha aflita! Disse Quindim. Inda há
muito pano para mangas aqui. Vocês ainda não
observaram que estes senhores Nomes estão
divididos em dois gêneros, o Masculino e o
Feminino, conforme o sexo das coisas ou seres que
eles batizam. Paulo é masculino porque todos os
Paulos pertencem ao sexo masculino.
– Mas, Panela? Advertiu Emília. Por que razão Panela
é feminino e Garfo, por exemplo, é masculino? Panela
ou Garfo têm sexo?2

Para começar... o percurso de formulação de uma questão de


pesquisa

Inicio esta reflexão acerca da historicidade do conceito de


gênero no discurso linguístico-gramatical no/do Brasil com uma
epígrafe recortada de Emília no país da gramática, de Monteiro
Lobato, livro de 1934 a que retornei recentemente e que tenho
usado em minhas aulas de língua portuguesa na Universidade do

1 Uma versão preliminar deste texto foi apresentada no V Colóquio Internacional


Museus, Memoriais e Arquivos (Unicentro, 2023).
2 Lobato, 1947 [1934], p. 32.

201
Estado do Rio de Janeiro (UERJ) para problematizar, dentre outros
aspectos gramaticais, o conceito de gênero.
Na obra, Emília, Pedrinho, Narizinho e Visconde de Sabugosa
partem, acompanhados de Quindim, o rinoceronte gramático,
numa viagem para o País da Gramática. A cena da qual recortei o
excerto se passa na cidade de Portugalia, mais especificamente no
bairro dos Substantivos, de onde a boneca Emília, inquieta, sugere
que partam para visitar as interjeições. Na narrativa, a personagem
Emília configura-se como aquela que diz o que não pode ser dito
do lugar do gramático, representado, como assinalado acima, pelo
rinoceronte Quindim. É ela que instaura a dúvida quanto à
evidência dos sentidos e que, tal como o analista de discurso,
aponta a contradição, colocando em cena um dos equívocos
constitutivos do discurso linguístico-gramatical no/do Brasil, qual
seja, aquele que diz respeito à relação entre gênero e sexo, equívoco
este que se faz significar também na ilustração da edição em
questão reproduzida abaixo na qual a panela aparece caracterizada
de saia, salto alto e pulseira e o garfo, de bigode, calça e bengala –
características que, fazendo significar um certo imaginário de ser
homem e mulher, reiteram o efeito de sinonímia entre gênero e sexo
que é justamente questionado pela boneca.

Figura 1 – Ilustração do livro Emília no país da gramática

Fonte: Lobato, 1947 [1934], p. 32.

202
Parto do incômodo de Emília por ser hoje este um incômodo
meu também. Foi em 2019, quando eu ainda atuava na educação
básica, mais especificamente na rede privada em uma escola de
classe média ou média-alta na cidade do Rio de Janeiro, que fui
convocada pela primeira vez, numa aula de língua portuguesa para
o 9º ano, a tomar posição frente à questão da chamada linguagem
neutra. Na época, embora já trabalhasse com a perspectiva
discursiva da História das Ideias Linguísticas, notadamente com o
discurso gramatical brasileiro, eu não conseguia/podia olhar
discursivamente para a minha prática em sala de aula, tomando-a
também como objeto discursivo.
Esse “não conseguir/poder dizer sobre” foi inclusive
tematizado por mim no II Seminário do Núcleo de Estudos em
Língua e Discurso – Nelid realizado na Faculdade de Formação de
Professores da UERJ em 2022 e constitui parte de uma reflexão
sobre manuais didáticos de português que foi publicada como
capítulo do livro Educação linguística e(m) (dis)curso: arquivos de
saberes linguísticos e pedagógicos, organizado por mim, Joyce Palha
Colaça e Michel Marques de Faria3. Introduzo, neste capítulo, a
minha reflexão com a seguinte epígrafe recortada do livro O conto
da ilha desconhecida, de José Saramago: “é necessário sair da ilha
para ver a ilha”. Isso porque considero que, em 2021, quando
assumi o cargo de professora efetiva de Língua Portuguesa do
Instituto de Letras da UERJ e saí da ilha da escola básica, várias
questões relacionadas a práxis pedagógica nesse segmento – que
até então, diga-se, não eram para mim ainda questões –
começaram, nessas condições de produção outras, a se impor. A
partir daí, fui impelida a abrir mais uma frente de pesquisa,
buscando refletir sobre o funcionamento do discurso gramatical na
sua relação com o discurso pedagógico e com isso que, a partir de
Pfeiffer, Silva e Petri4, tenho proposto chamar de português escolar5.

3 Cf. Costa, 2023a.


4 2019.
5 Cf. Costa, 2023a.

203
Apesar de a princípio ter seguido caminhos distintos, algumas
questões sempre acabam retornando. Assim é que, em
praticamente todas as disciplinas que ministro na UERJ, a despeito
da ementa, a questão da linguagem neutra retorna, faz-se presente
por meio da demanda dos alunos que me convocam a me
posicionar ou, como dizem, a dar “a minha opinião” a respeito. Por
algum tempo, dei respostas evasivas. Dizia: “Eu sou linguista, não
sou achista e, como linguista, não tenho opinião. Ao linguista cabe
descrever os fenômenos linguísticos e, desse ponto de vista, a
chamada linguagem neutra não é nem boa nem ruim, ela
simplesmente é”. A analista de discurso que toma a história das
ideias linguísticas como objeto, todavia, continuava inquieta,
incomodada com esse retorno que ainda não sabia significar.
Na escola básica, identificada a certos discursos
(meta)linguísticos sobre a chamada língua portuguesa que são
comumente atribuídos ao nome de autor Mattoso Câmara Jr., a
quem – como se sabe – historicamente é atribuído o lugar de
primeiro linguista brasileiro, eu lia o sintagma gênero neutro como
paráfrase de forma geral, não marcada. Tal forma, necessariamente
masculina, quando relacionada a seres animados, possibilitaria a
inclusão tanto do feminino quanto do masculino, como em “todos
os alunos fizeram o dever de casa”, em que “todos os alunos” se
referiria a alunos do sexo masculino e a alunas do sexo feminino.
Então, imaginando dizer de um ponto de vista estritamente
linguístico, eu repetia que a dita forma masculina já cumpria o
papel de forma neutra e, embora admitisse a relevância do debate
para pautas identitárias, concluía que não era necessária a criação
de uma nova marca de gênero. Antes de continuar, é importante
notar como, mesmo no debate pretensamente linguístico, a relação
entre o que seria da ordem do estritamente gramatical – a categoria
gênero – e o que estaria ou o que se imagina que (não) estaria no
mundo se coloca de forma inquestionável: é somente a partir de
uma certa relação que se diz ser estabelecida entre o gênero
enquanto realidade linguística e os sexos enquanto realidades no

204
mundo que é possível, desse lugar, advogar em prol da
neutralidade do gênero masculino em situações específicas.
Fato, porém, é que eu repetia isso sustentada pela ilusória
legitimidade e pelo conforto de um suposto discurso científico,
como se esse discurso também não fosse afetado pela interpretação
e, portanto, determinado ideologicamente, como nos ensina
Orlandi6. Repetia isso porque era o que era possível dizer na
instituição escolar – espaço em que, como também nos lembra
Orlandi7, “a aprendizagem se esgota” em função do apagamento
do caráter mediador dos instrumentos escolares (como o material e
o livro didático), “o que resulta na sua cristalização como fim, como
objeto-em-si”, e também das demandas impostas pelos
documentos norteadores do ensino, pelos pais e pela própria
escola. Mas, nesse caso – diga-se –, não se tratava de qualquer
escola. A instituição em que eu trabalhava pertencia à rede privada,
durante um governo que defendia o projeto “escola sem partido” e
que incentivava que alunos gravassem os professores em sala de
aula para denunciá-los por doutrinação. Repetia isso, enfim,
porque, nessas condições de produção, era impossível dizer
diferentemente.
Na universidade, contudo, alguns acontecimentos foram
determinantes para que outros modos de significação passassem a
constituir as possibilidades e necessidades do meu dizer. Além dos
constantes questionamentos dos alunos, cito um simpósio intitulado
“A beleza da língua portuguesa e as ruínas da linguagem ‘neutra’”
que foi promovido por um deputado do PL na Assembleia
Legislativa do Estado do Rio de Janeiro em março de 2023.
Considero esse simpósio como um acontecimento porque
desencadeou uma série de gestos de interpretação, na instituição
onde trabalho, por parte dos sujeitos alunos e docentes: as
indagações de meus alunos em sala de aula aumentaram
exponencialmente, uma nota de repúdio assinada por um coletivo

6 2007.
7 1983, p. 140-141.

205
estudantil chegou a ser publicada nas redes sociais8 e um grupo de
docentes do qual faço parte decidiu trazer o debate para a
universidade a fim de, com isso, possibilitar que outras
discursividades sobre línguas e sujeitos circulassem nesse espaço9.
Foi, pois, a partir desse acontecimento que a pesquisadora foi
convocada à pesquisa ou ainda que a analista foi interpelada pelo
objeto discurso. Nesse momento, a necessidade de refletir acerca do
funcionamento das discursividades em jogo no debate dito
linguístico sobre a chamada linguagem neutra, inclusiva, não binária
ou neolinguagem, o que já vinha fazendo de forma pontual em
minhas aulas, se impôs a mim de maneira decisiva. Neste capítulo,
então, a partir da perspectiva discursiva da História das Ideias
Linguísticas, além de dar a saber sobre esse percurso de formulação
de uma questão de pesquisa, pretendo também acenar para
algumas questões que tenho pensado ainda de forma bastante
incipiente. Não tomarei como objeto diretamente os discursos
contrários à chamada linguagem neutra em si, mas buscarei refletir
sobre o que do discurso (meta)linguístico é comumente mobilizado
nesse debate e como, visando produzir um gesto inicial de
historicização do conceito de gênero no discurso linguístico-
gramatical no/do Brasil.
Com esse objetivo, um dos meus primeiros movimentos foi
revisitar Mattoso Câmara Jr., aquele cujos dizeres – ou pelo menos
uma certa leitura de tais dizeres –, um dia mobilizados por mim,
são também frequentemente mobilizados por quem se identifica
como opositor à adoção da chamada linguagem neutra. Recortei
para análise primeiramente Estrutura da língua portuguesa, obra

8 A nota de repúdio pode ser lida em: <https://www.instagram.


com/p/Cpu4Wc7OeiZ/>. Acesso em: 16 fev. 2024.
9 Assim surgiu a ideia da I Jornada de estudos sobre língua, gênero e inclusão,

que, organizada por mim e pelas professoras e pesquisadoras Michelle Alonso e


Naira Velozo, ocorreu no Instituto de Letras da UERJ em maio de 2023. Os vídeos
das duas mesas se encontram disponíveis no canal do Arquivos de Saberes
Linguísticos no Youtube, em: <https://youtube.com/playlist?list=PLIh
YsFaiIdKdRkBmRg-Qjk05XNxWeV_Gp&si=MdfkEzAUxT7DDTpF>.

206
publicada postumamente na década de 1970, e depois, buscando
compreender os movimentos dos sentidos, também História e
Estrutura da língua portuguesa, livro redigido na década de 1960 e
publicado em 1972 nos EUA e em 1975 no Brasil. Na próxima seção,
exponho o gesto analítico empreendido a partir dessas
textualidades.

Revisitando Mattoso Câmara Jr.

Do lugar de que falo, parto, com Orlandi10, do princípio de que


há tanto a “historicidade do texto” quanto “da própria ação de
leitura, da sua produção”. Nesse sentido, tal como propõe a autora,
entendo que

(...) toda leitura tem sua história.


Para um mesmo texto, leituras possíveis em certas épocas não o
foram em outras, e leituras que não são possíveis hoje serão no
futuro. Isto pode ser observado em nós mesmos: lemos
diferentemente um mesmo texto em épocas (condições) diferentes.11

Lemos diferentemente um mesmo texto em condições de produção


diferentes, nos diz Orlandi. Na seção anterior, falei de uma certa
leitura de textos filiados ao nome de autor Mattoso Câmara Jr. que
comparece frequentemente em discursos contrários à chamada
linguagem neutra e com a qual, inclusive, em condições de
produção outras, eu me identificava. Tal leitura prevista
historicamente para essas textualidades, por meio do processo de
repetição em espaços de poder, como escolas e universidades, por
sujeitos que ocupam lugares de autoridade, como o professor e o
cientista, passou por um processo de legitimação, petrificando-se,
tornando-se para alguns “a verdade”, a única forma possível de ler
a questão do gênero em Mattoso Câmara Jr., e silenciando, com
isso, outras leituras igualmente (im)possíveis. No entanto, Orlandi

10 2012, p. 11.
11 ibid., p. 54-55.

207
também nos ensina que “ler (...) é saber que o sentido pode ser
outro”. Que outros sentidos podem ser lidos em Câmara Jr.?, é o que nos
perguntamos nesta seção. Passemos à primeira sequência recortada
de Estrutura da Língua Portuguesa.

SD1: A flexão de gênero é exposta de uma maneira incoerente e


confusa nas gramáticas tradicionais do português. Em primeiro
lugar, em virtude de uma incompreensão semântica da sua natureza.
Costuma ser associada intimamente ao sexo dos seres. Ora, contra
essa interpretação falam duas considerações fundamentais. Uma é
que o gênero abrange todos os nomes substantivos portugueses,
quer se refiram a seres animais, providos de sexo, quer designem
apenas «coisas», como casa, ponte, andaiá, femininos, ou palácio, pente,
sofá, masculinos. Explicar todas essas ocorrências pela metáfora, à
maneira de um pansexualismo freudiano como até certo ponto
tentou Leo Spitzer, embora numa focalização diacrônica (Spitzer
1941, 339s), não nos levaria muito longe. Depois, mesmo em
substantivos referentes a animais ou pessoas há discrepância entre
gênero e sexo, não poucas vezes. Assim, testemunha é sempre
feminino, quer se trate de homem ou mulher, e cônjuge, sempre
masculino, aplica-se ao esposo e à esposa. Para os animais, temos os
chamados substantivos epicenos, como cobra, sempre feminino, e
tigre, sempre masculino.
Na realidade, o gênero é uma distribuição em classes mórficas, para
os nomes, da mesma sorte que o são as conjugações para os verbos.
A única diferença é que a oposição masculino—feminino serve
frequentemente para em oposição entre si distinguir os seres por
certas qualidades semânticas, como para as coisas as distinções como
jarro - jarra, barco - barca, etc., e para os animais e as pessoas a
distinção do sexo, como em urso - ursa, menino - menina. [...]
O mais que podemos dizer, porém, em referência ao gênero, do
ponto de vista semântico, é que o masculino é uma forma geral, não-
marcada, e o feminino indica uma especialização qualquer (jarra é
uma espécie de «jarro», barca um tipo especial de «barco», como ursa
é a fêmea do animal chamado urso, e menina uma mulher em

208
crescimento na idade dos seres humanos denominados como a de
«menino»).12

Na SD1, afirma-se que “a flexão de gênero é exposta de uma


maneira incoerente e confusa nas gramáticas tradicionais do
português” por dois motivos. Aqui refletirei apenas sobre o
primeiro. Desse recorte, gostaria de destacar três pontos que são,
em verdade, inquietações que esse retorno a Câmara Jr.
desencadeou em mim. De imediato, irei me ater aos dois primeiros.

Primeiro ponto: gênero não é sexo

Dessa perspectiva, afirma-se que gênero não é sexo, já que


abrange tanto os nomes que designam animais “providos de sexo”
como aqueles que “designam ‘coisas’”. Afirma-se também, no
entanto, que, quando referente a animais e a pessoas, estabelece,
por meio de uma oposição dicotômica, distinção entre os sexos
feminino e masculino, o que nos permite afirmar que o gênero
gramatical é o que distingue, na língua, o sexo biológico. Ou seja,
mesmo que do lugar da Linguística, numa crítica à chamada
Gramática Tradicional, se negue a sinonímia – a associação íntima,
como se diz – estabelecida entre gênero e sexo, ao se recorrer ao
critério semântico, estabelece-se uma relação indissociável entre o
que se diz ser próprio da língua (o gênero) e aquilo que ele
apontaria no mundo quando relacionado a seres animados (o sexo),
como lemos em: “a oposição masculino-feminino serve
frequentemente para em oposição entre si distinguir os seres por
certas qualidades semânticas, como [...] para os animais e as
pessoas a distinção do sexo, como em urso - ursa, menino - menina”.
Com isso, admite-se, nessa teorização, no que compete ao sexo,
apenas dois modos de ser sujeito nessa/dessa língua: ou há
identificação ao sexo feminino, ou há identificação ao sexo
masculino. Esse modo de dizer sobre língua e sujeito, contudo –

12 Câmara Jr., 2002 [1970], p. 88.

209
não podemos esquecer –, foi produzido em condições de produção
tais que a distinção entre sexo biológico e identidade de gênero
ainda não havia se colocado em nossa formação social e que a
expectativa projetada socialmente pelo órgão sexual se impunha
como a única possibilidade de se identificar e, portanto, de ser
sujeito no/do mundo. Lembremos aqui o que lemos na epígrafe de
Lobato: “Paulo é masculino porque todos os Paulos pertencem ao sexo
masculino”, o que me deixa tentada a questionar, ao menos em um
primeiro momento, até que ponto o dizer mattosiano rompe de fato
com o discurso da gramática tradicional ou, ainda, desejando deter
poderes de mediunidade, a elucubrar se esses dizeres ainda hoje
seriam repetidos se Lobato e Mattoso vivessem no mesmo tempo
da Pablo Vittar13.

Segundo ponto: o masculino como forma geral e não marcada

O adjetivo “neutro” não é mencionado quando se fala sobre


nomes, apesar de comumente atribuir-se essa afirmação da
neutralidade do gênero masculino a Câmara Jr. – e isso é, como
dito, o que se discursiviza como um dos principais argumentos
linguísticos contrários à dita linguagem neutra e em prol de uma
imaginária pureza da língua. Diferentemente, como vimos, o que se
diz é que o gênero masculino é uma forma geral e que o feminino
indica uma especialização qualquer, dentre elas a de sexo.
Diante desse quadro, impõe-se fazer aqui dois não tão breves
parênteses quanto à categoria de gênero no dizer mattosiano:
i. O adjetivo neutro articulado ao substantivo gênero só
comparece, em Estrutura da Língua Portuguesa, em relação a
pronomes que exercem função substantiva e que se referem a coisas
inanimadas, como isto, isso, aquilo, ou a seres humanos, como

13Aproveito para agradecer ao amigo e sempre primeiro leitor Bruno Turra pelo
comentário deste texto e, sobretudo, pela fineza do olhar ao lembrar o
estranhamento causado hoje a alguns de nós quando ouvimos dizer o Pablo, e não
a Pablo Vittar, já que também as construções linguísticas são possíveis/impossíveis
em condições de produção determinadas.

210
alguém, ninguém e outrem14. Em História e Estrutura da língua
portuguesa, lemos inclusive que, no que concerne aos nomes, “o
gênero neutro desapareceu das línguas românicas”15. Assim, ao
que parece, em uma determinada leitura dos dizeres mattosianos
que vem sendo atualizada em alguns discursos sobre a chamada
linguagem neutra formulados a partir de uma posição antagônica,
a expressão “forma geral, não-marcada” teria deslizado para
“forma neutra”, produzindo como efeito a deslegitimação, sob a
égide do científico, do debate que, proposto a partir de um outro
lugar, em uma outra temporalidade, se sustenta na afirmação de
uma falta de marcas na língua que deem conta de representar a
diversidade de identidades de gêneros existentes
contemporaneamente.
Dito de outro modo, com a repetição dessa certa leitura dos
dizeres mattosianos, o que se interdita não são as várias
sistematizações linguísticas propostas desse lugar outro, os
discursos (meta)linguísticos ali produzidos. Estes, a bem da
verdade, na maioria dos casos, sequer chegam a ser considerados.
Tomando a língua-objeto do gesto de interpretação do sujeito
linguista como a língua, nega-se a falta na/da língua que se faz
significar nesse outro lugar, de modo que a interdição incide sobre
a possibilidade mesma de se iniciar qualquer discussão e, portanto,
já que os sujeitos se constituem na/pela linguagem, sobre as
subjetividades que não se identificam à língua que lhes é
dada/imposta historicamente como sua.
ii. A ideia linguística16 da forma masculina enquanto não
marcada se sustenta em um imaginário de descrição em que o -o
final, de palavras como menino, por exemplo, não é significado como
uma desinência de gênero (DG), como se diz em outros lugares17,
mas como uma vogal temática (VT). Nesse imaginário, a desinência

14 ibid., p. 85.
15 Câmara Jr., 1975, p. 76.
16 Esse conceito será definido adiante.

17 Cf., por exemplo, Ferrarezi Jr., 2022.

211
de gênero em tal palavra seria Ø, e a essa ausência de marcação se
oporia, gramaticalmente, a desinência -a de menina, uma forma,
portanto, marcada – porque, diferentemente daquela, possui marca
de gênero –, mas atemática – porque não possui vogal temática. No
quadro abaixo, busco ilustrar o imaginário projetado em Câmara Jr.
retomando alguns exemplos mobilizados em sua obra:

Imaginário de descrição
VT X DG18
RAD VT DG Descrição
menin o ø Forma não marcada e temática
menin ø a Forma marcada e atemática
lob o ø Forma não marcada e temática
lob ø a Forma marcada e atemática
mestr e ø Forma não marcada e temática
mestr ø a Forma marcada e atemática
autor ø ø Forma não marcada e atemática
autor ø a Forma marcada e atemática
a ros a ø Forma não marcada e temática
o/a artist a ø Forma não marcada e temática
o poet a ø Forma não marcada e temática
Fonte: Elaboração autoral.

Como podemos observar no quadro, embora se conceba que


“o gênero abrange todos os nomes substantivos portugueses”19,
concebe-se também que alguns desses nomes são marcados quanto
ao gênero (menina, loba, mestra, autora) e outros não (menino, lobo,
mestre, autor, rosa, artista, poeta), assim como alguns nomes possuem
vogal temática (menino, lobo, mestre, rosa, artista, poeta) e outros não
(menina, loba, mestra, autor, autora). Dessa maneira, no âmbito do
que se formula como flexão de gênero, o padrão morfológico dos
substantivos em português é discursivizado da seguinte forma:
quando o masculino apresenta tema em -o ou em -e, estes são
suprimidos (e não substituídos!) para acréscimo da desinência -a ao
radical, como em lobo>loba e mestre>mestra; quando, porém, tem-se

18 Câmara Jr., 2002 [1970], 1975.


19 Câmara Jr., 2002 [1970], p. 88.

212
um nome atemático terminado em consoante, a desinência -a é
acrescida diretamente após ela, como em autor>autora.
Note-se, assim, o estabelecimento de uma hierarquia entre as
formas masculina e feminina quando em relação de oposição:
aquela é significada como o tema (constituído de radical + vogal
temática) de um vocábulo em relação ao qual esta se apresenta
como uma forma flexionada. Poderíamos nos perguntar aqui por
que é o feminino considerado como uma flexão do masculino e não
o contrário. A resposta, segundo Mattoso, está no latim vulgar – ou
melhor, em um certo discurso (meta)linguístico sobre o latim
vulgar, que também aí é tomado como a própria língua. Os termos
populares desse latim determinaram, conforme o autor, a
estruturação morfológica do português, estabelecendo “os padrões
de temas nominais e verbais, das desinências de plural e de
feminino no nome, das desinências número-pessoais e modo
temporais no verbo”20.
É interessante observar por último que, nesse imaginário de
descrição, apesar de se considerar que -a não substitui e, portanto,
não se opõe no eixo paradigmático a -o, afirma-se também que “a
vogal final -a só é desinência de feminino, quando entra num tema
nominal que sem ela é masculino”21. Quando não há essa oposição
entre as formas masculina e feminina, entende-se que o -a final dos
substantivos como rosa, artista e poeta é vogal temática e que o
gênero dessas palavras será marcado por um adjetivo articulado ao
substantivo, incluindo-se aí o artigo, como em a rosa, o/a artista e
“sempre” o poeta22. Ou seja, quando há oposição de gênero entre
duas formas, como em menino e menina, a desinência -a não se opõe
à vogal temática -o, mas o gênero feminino se significa em oposição
ao masculino. Quando não há essa oposição, considera-se que o -a
final de palavras como rosa, artista e poeta, não é o mesmo de menina,

20 Câmara Jr., 1975, p. 192.


21 id., 1975, p. 79.
22 Esse “sempre” é de Câmara Jr. e pode não fazer mais sentido no discurso

(meta)linguístico contemporâneo, no qual hegemonicamente o substantivo poeta é


categorizado como substantivo de dois gêneros.

213
passando a ser classificado como vogal temática e, portanto,
passando a compor o tema do vocábulo. Nesses casos, como dito,
entende-se que o gênero da palavra não é marcado morficamente,
mas morfossintaticamente pelo processo de adjunção (a rosa, o/a
artista, o poeta).
Passemos, agora, à SD2 também recortada de Estrutura da
Língua Portuguesa:

SD2: a flexão de gênero é, em princípio, um traço redundante nos


nomes substantivos portugueses. E muitos substantivos não a têm
sequer. O que há são substantivos de tema em -a, em -o, em -e ou
atemáticos, que possuem um gênero determinado implicitamente
pelos adjetivos de tema em -o (estes sempre com a flexão de gênero
pela oposição -a : -o + -a = -a), que, quando presentes, têm de ir para
o gênero do substantivo que determinam. Assim, casa é feminino,
porque se tem de dizer casa larga e poeta é masculino, porque a
expressão correta é poeta maravilhoso.23

Na SD2, temos a materialização de uma ideia linguística


contemporaneamente bastante difundida em estudos
desenvolvidos a partir de diferentes perspectivas teóricas, a saber:
a redundância da marcação de gênero, o que implica ainda
considerar, em casos como a menina bonita e o menino bonito, a
sobreposição de regras sintáticas de concordância e de regras
morfológicas de flexão ou derivação24. Dessa maneira, tendo em
vista essa ideia e a função do artigo em línguas como o português
“de marcar, explícita ou implicitamente, o gênero dos nomes
substantivos”, Câmara Jr. conclui, em forma de sugestão, que “As
gramáticas escolares podem, portanto, ensinar o gênero dos nomes

23id., 2002 [1970], p. 91.


24A esse respeito, ver, por exemplo, Linguística aplicada ao português: Morfologia, de
M. Cecília P. Souza e Silva e Ingedore Villaça Koch (Cortez, 1995), Estruturas
morfológicas do português, de Luiz Carlos de Assis Rocha (Martins Fontes, 2008),
entre outros.

214
substantivos na base da forma masculina ou feminina do artigo,
que eles implicitamente exigem”25.
Como vemos, no dizer mattosiano, estabelece-se também uma
hierarquia entre os critérios: o critério sintático se sobrepõe ao
mórfico devido à sua regularidade, de modo que este chega mesmo
a ser descartado, do lugar de que fala o linguista, como
conhecimento a comparecer nas chamadas gramáticas tradicionais
– retomadas em SD2 como gramáticas escolares – e, portanto, como
objeto de ensino na escola. É importante destacar que também essa
sobreposição do critério sintático é significada como uma “herança
latina”. Diz o autor em História e Estrutura que, “enquanto a
expressão do caso e do número era nítida no substantivo, a do
gênero só se tornava, em princípio, claramente explícita através de
um adjetivo”26.
Tem-se, assim, na gramática dita descritiva do português
também aquilo que Auroux27 chamou de “fundo latino” da maioria
das gramáticas de línguas neolatinas cujo quadro teórico, grosso
modo, advém da gramática latina. Foi tal fundo que permitiu,
segundo o autor, “aos primeiros gramáticos dos vernáculos ver os
fenômenos de sua própria língua”28. Porém, apesar de admitir a
importância dessa transferência tecnológica para a gramatização
das línguas do mundo em um primeiro momento, o autor também
pontua que,

com o tempo e mais ainda no caso da gramatização endógena, cada


língua tende a ser gramaticalizada em bases que lhe são cada vez
mais apropriadas, se mais não fosse por razões de economia e de
simplicidade na formulação das regras e porque o material empírico
sobredetermina as categorias.29

25 ibid., loc. cit.


26 id., 1975, p. 74.
27 2009 [1992].

28 ibid., p. 78.

29 ibid., p. 88.

215
Cada língua tende a ser gramatizada em bases mais
apropriadas, mas nem sempre o é, porque a gramatização, como
temos buscado demonstrar, como qualquer outra prática
discursiva, envolve sujeitos e sentidos determinados sócio,
histórica e ideologicamente. Donde a pergunta: tendo em vista as
demandas linguísticas colocadas pelas agendas identitárias, por
que, em pleno século XXI, o processo de gramatização da língua do
Brasil não pode/deve ser atualizado? Por que continuamos a repetir
discursos metalinguísticos que compareciam na gramática greco-
latina e a ignorar “o material empírico” em prol da manutenção de
categorias? Continuemos.

Terceiro ponto: do lugar do critério semântico

Chego, enfim, ao terceiro e último ponto dessa minha releitura


dos dizeres mattosianos que gostaria de frisar e que diz respeito ao
lugar do critério semântico na descrição linguístico-gramatical. Da
posição de que fala o linguista, concebe-se, como vimos na SD1, que
a associação entre gênero e sexo decorre da “incompreensão
semântica da natureza” do gênero que implica, a partir de uma
certa perspectiva filológica metonimicamente mobilizada a partir
da menção ao nome do austríaco Leo Spitzer, uma tentativa de
explicação metafórica do gênero em nomes que designam coisas “à
maneira de um pansexualismo freudiano”.
O termo pansexualismo, de acordo com Roudinesco e Plon30,
foi atribuído pejorativamente à doutrina freudiana após a
publicação, em 1905, de Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Tal
teoria, segundo os autores, seria, ao ver de seus críticos, “concebida
sob a categoria de uma causalidade única, tanto porque ela
recusaria qualquer explicação do psiquismo fora da etiologia
sexual quanto pelo fato de que se pretenderia universal, isto é,
aplicável a todas as culturas e a todos os indivíduos”31. Assim, ao

30 1998, p. 567.
31 ibid., loc. cit.

216
mobilizá-la para dizer do modo como gênero é abordado nos
estudos gramaticais a fim de distanciar-se do efeito de
universalidade implicado, Câmara Jr. faz ressoarem sentidos que já
compareciam na década de 1930 no excerto de Lobato trazido em
epígrafe, no qual, como vimos, afirma-se que os “Nomes estão
divididos em dois gêneros, o Masculino e o Feminino, conforme o
sexo das coisas ou seres que eles batizam”32.
Voltarei a esse ponto mais adiante. Antes, com vistas a melhor
compreender o modo como o critério semântico significa no dizer
mattosiano, retomo dois recortes da SD1 – SD1.1 e SD1.2 – e
mobilizo outras duas sequências – SD3 e SD4. A SD3 foi recortada
do capítulo intitulado “A técnica da descrição lingüística” e a SD4
de “A classificação dos vocábulos formais”, ambos de Estrutura da
Língua Portuguesa.

SD1.1: Na realidade, o gênero é uma distribuição em classes


mórficas, para os nomes, da mesma sorte que o são as conjugações
para os verbos. A única diferença é que a oposição masculino —
feminino serve freqüentemente para, em oposição entre si, distinguir
os seres por certas qualidades semânticas, como para as coisas as
distinções como jarro - jarra, barco - barca, etc., e para os animais e
as pessoas a distinção do sexo, como em urso - ursa, menino –
menina.33
SD1.2: O mais que podemos dizer, porém, em referência ao gênero,
do ponto de vista semântico, é que o masculino é uma forma geral,
não-marcada, e o feminino indica uma especialização qualquer (jarra
é uma espécie de «jarro», barca um tipo especial de «barco», como
ursa é a fêmea do animal chamado urso, e menina uma mulher em
crescimento na idade dos seres humanos denominados como a de
«menino»).34
SD3: Não há dúvida que o vocábulo é em regra, nas línguas do
mundo, uma realidade lingüística, quer do ponto de vista do efeito

32 Lobato, 1947 [1934], p. 32, sublinhado meu.


33 Câmara Jr., 2002 [1970], p. 88, sublinhado meu.
34 ibid., loc. cit., sublinhado meu.

217
vocal (fonológico), quer das características de forma (morfológicas),
quer da significação que transmite (semântica).35
SD4: Semanticamente, os nomes representam «coisas», ou seres [...].36

A leitura desses recortes em relação me permitiu depreender


dois efeitos contraditórios no dizer mattosiano para o que se toma
por semântica – também parafraseada como significação, na SD3. A
depreensão de tais efeitos nos ajuda a compreender a equivocidade
engendrada pela relação estabelecida entre gênero e sexo. Por um
lado, entende-se que as línguas significam por si só, são origem do
sentido, fonte de significação do mundo: elas, retomadas na SD3
metonimicamente por “o vocábulo”, transmitem significação. Por
outro lado, na SD4, entende-se igualmente que refletem o que
estaria no mundo biopsicossocial ou empírico, visto que se
considera que “os nomes”, em mais uma retomada metonímica,
representam (ou indicam, Cf. SD1.2) “coisas” ou “seres”.
Essa divisão/tensão, própria do discurso linguístico-
gramatical, entre o que seria da ordem da língua e o que seria da
ordem de uma relação especular entre língua e mundo é o que
sustenta, no dizer mattosiano, a afirmação de que a natureza
semântica do gênero gramatical é incompreendida ao mesmo
tempo em que se reafirma, como vimos no Primeiro Ponto, a sua
relação indissociável – já que imprescindível para a consideração
do gênero no tocante a seres animados – com o sexo biológico.
Enquanto realidade linguística, diz-se, na SD1.2, que o gênero
promove a distribuição dos nomes em duas classes mórficas: o
masculino, que “é uma forma geral, não-marcada”, e o feminino,
que “indica uma especialização [semântica] qualquer”. Note-se
aqui que a comparação estabelecida em SD1.1 entre a categorização
promovida pelo gênero nos nomes e pelas conjugações nos verbos
(“Na realidade, o gênero é uma distribuição em classes mórficas, para os
nomes, da mesma sorte que o são as conjugações para os verbos") faz

35 ibid., p. 22, sublinhado meu.


36 ibid., p. 78, sublinhado meu.

218
ressoar sentidos de confusão entre aquilo que no discurso
linguístico-gramatical hegemonicamente se significa como
desinência de gênero e vogal temática. Afinal, comumente, diz-se
que, nos verbos, são as vogais temáticas (e não as desinências!) que
os categorizam em três conjugações distintas37. Tal con-fusão
poderia nos levar a questionar a relevância da distinção nos nomes
entre vogal temática e desinência de gênero. Afinal, se a desinência
de gênero exerce o mesmo papel nos nomes que a vogal temática
nos verbos, o que restaria à vogal temática nominal fazer? Ou, ao
contrário, se considerarmos que não se trata de desinência, mas de
vogal temática nominal, o que restaria à desinência fazer? Tudo
isso se torna ainda mais complicado se lembramos de dois efeitos
comumente atribuídos à marcação morfológica do gênero, a saber:
como vimos, a sua redundância e a sua não regularidade, visto que
tanto há nomes que não admitem forma masculina e feminina
quanto, mesmo aqueles que admitem, não formam o feminino
exclusivamente pelo acréscimo da chamada desinência de gênero
(Cf., por exemplo, galo, galinha; visconde, viscondessa; cabra macho,
cabra fêmea etc.).
Devo esclarecer que minha provocação aqui não tem por
objetivo estabelecer a verdade sobre a língua, mas mostrar (1) que
não há um colamento entre o termo empregado e “a realidade
linguística” que se diz ser por ele designada e (2) que a distinção
que se discursiviza entre essas duas categorias é fruto de gestos de
interpretação sócio, histórica e ideologicamente determinados, o
que implica considerar que há, inclusive, outros modos de tomá-la
sem que se recaia sobre a dicotomia simplista e simplificadora entre
certo e errado38. Noutras palavras, não há certo ou errado quando
se trata de conhecimento (meta)linguístico. Há discursos.

37 Pertencem à primeira conjugação, os verbos com tema em -a; à segunda, os


verbos com tema em -e; e à terceira, os verbos com tema em -i.
38 Ferrarezi Jr. (2022, p. 41), por exemplo, classifica o -o de menino, assim como o -a

de menina, como desinência de gênero. Para ele, considerando que gênero é algo
diferente de sexo biológico, “todo nome em português é, obrigatoriamente,
masculino ou feminino” (ibid., p. 39). Em casos como o do par menino/menina em

219
Ao mesmo tempo, porém, em que se advoga, a partir de um
critério mórfico, em prol do gênero enquanto realidade linguística
e, portanto, diferente do sexo que seria uma realidade do/no
mundo, afirma-se, mobilizando-se o critério semântico, que “a
oposição masculino-feminino serve frequentemente para em
oposição entre si distinguir (...) para os animais e as pessoas a
distinção de sexo” (SD1.1), estabelecendo, assim, como temos
buscado demonstrar, uma relação indissociável entre ambos, ou
seja, gênero não é sexo, mas serve para distinguir o sexo de animais
e pessoas, representando-os na/pela língua(gem).
Por fim, para finalizar esta seção, gostaria de acrescentar que,
a meu ver, é também essa divisão/tensão entre o que seria da ordem
da língua e o que seria da ordem de uma relação especular entre
língua e mundo que sustenta a afirmação – muito comum ainda em
discursos metalinguísticos contemporâneos, e em especial nos
discursos antagônicos à chamada linguagem neutra – de que, ao se
dizer sobre língua, é possível estabelecer um debate estritamente
linguístico, apagando a sua relação constitutiva com os sujeitos e
com a história.

Horizonte de retrospecção e de projeção a partir de dizeres


mattosianos

O funcionamento observado até aqui tem me levado a


diferentes caminhos. Um deles, mais amplo, diz respeito à reflexão
sobre a relação entre as línguas, os discursos metalinguísticos
historicamente produzidos e reproduzidos sobre as línguas e os

que há oposição de gênero, a marcação é “explícita por uma forma desinencial”


(ibid., p. 41), de modo que a palavra apresenta duas formas: uma no masculino e
outra no feminino. Já quando não há essa oposição, a palavra apresentará apenas
uma forma, que pode ser no feminino ou no masculino, ocorrendo a marcação de
gênero de forma implícita, já que não há a necessidade de “desinência de gênero
para indicar isso”. Assim, somente quando palavras que se enquadram nesse caso
terminam em -a, -e ou -o, como em mesa, tapete ou asfalto, haveria as chamadas
vogais temáticas.

220
sujeitos nessas/dessas línguas. Considerando que os discursos
metalinguísticos não estão fora da história e que falar sobre língua
é sempre falar sobre os sujeitos nessas/dessas línguas, tenho me
perguntado acerca dos efeitos produzidos a partir da naturalização
de determinados discursos em detrimentos de outros. Um outro
caminho, mais específico, mas estreitamente relacionado ao
primeiro, concerne justamente à investigação da historicidade do
conceito de gênero no discurso linguístico-gramatical no/do Brasil.
Christian Puech39, em um artigo traduzido por mim na revista
Porto das Letras em 2020, explica que as ideias linguísticas são
duplamente históricas porque “não são apenas produzidas ‘no
tempo’”, mas também “produzem a sua temporalidade”.
Considerando que o objeto do analista de discurso é o discurso,
tomo as ideias linguísticas, à luz da perspectiva discursiva da
História das Ideias Linguísticas, como discursos sobre língua,
linguagem e metalinguagem40. Nesse sentido, considero que
pensar a dupla relação entre história e discurso no que respeita às
ideias linguísticas – no caso aqui abordado, a ideia linguística de
gênero e correlatas – implica considerar, como propõe Orlandi em
Terra à Vista41, que “o discurso é histórico porque se produz em
condições determinadas e projeta-se no ‘futuro’, mas também é
histórico porque cria tradição, passado, e influencia novos
acontecimentos”.
Para dar um efeito de fecho a este percurso de pesquisa,
gostaria de compartilhar movimentos futuros de análise ensejados
pelas discursividades em torno do conceito de gênero com que
tenho me deparado. Buscando ainda compreender essas
discursividades em jogo e as formas como historicamente
significam, no passado e no futuro, no momento busco construir
um arquivo de dizeres (meta)linguísticos sobre essa ideia
linguística (a ideia de gênero), com vistas a reconstituir horizontes

39 2020 [2006], p. 390.


40 Costa, 2023b.
41 2008, p. 42.

221
de projeção e de retrospecção42 a partir dos dizeres mattosianos
aqui tomados para análise.

O horizonte de projeção

Iniciei, de certa maneira, a investigação do horizonte de


projeção quando observei a sua atualização no discurso antagônico
à chamada linguagem neutra, mas meu objetivo é, sobretudo,
pensar os modos de significação, no passado e no presente, da
categoria gênero em instrumentos linguístico-pedagógicos,
notadamente em gramáticas e manuais utilizados na escola.
Para a reconstituição do horizonte de projeção, iniciei o
mapeamento da forma como a categoria gênero é significada em
manuais didáticos contemporâneos (ou seja, pelo ponto que
delimitei como fim do horizonte projetado a partir dos dizeres
mattosianos), tomando para análise as onze coleções que foram
aprovadas no PNLD 2024.

Figura 2 – Livros aprovados no PNLD 2024

Fonte: Guia Digital - PNLD (ufal.br)

42Segundo Auroux (2009 [1992], p. 12), “[p]orque é limitado, o ato de saber possui,
por definição, uma espessura temporal, um horizonte de retrospecção (Auroux,
1987b), assim como um horizonte de projeção. O saber (as instâncias que o fazem
trabalhar) não destrói seu passado como se crê erroneamente com frequência; ele
o organiza, o escolhe, o esquece, o imagina ou o idealiza, do mesmo modo que
antecipa seu futuro sonhando-o enquanto o constrói. Sem memória e sem projeto,
simplesmente não há saber”.

222
A seguir, apresento a título de exemplo um recorte do livro
Português Linguagens voltado para o 6º ano, de William Cereja e
Carolina Vianna.

Figura 3 – Português Linguagens, 6º ano

Fonte: Cereja; Vianna, 2022, p. 138.

Desse recorte, destaco duas sequências, quais sejam:

SD5: [...] não devemos confundir sexo dos seres com gênero das
palavras.
SD6: [...] a noção de gênero não está relacionada ao sexo, uma vez
que nem todos os substantivos nomeiam seres vivos.

Na SD6, a oração explicativa encabeçada pelo conectivo uma


vez que introduz um argumento que justifica a tese de que a noção
de gênero não está relacionada ao sexo, relacionando-se
parafrasticamente com o dizer mattosiano, mais especificamente
com o recorte apresentado na SD1, na qual lemos:

SD1.3: [...] o gênero abrange todos os nomes substantivos


portugueses, quer se refiram a seres animais, providos de sexo, quer
designem apenas «coisas», como casa, ponte, andaiá, femininos, ou
palácio, pente, sofá, masculinos.

Ou seja, em ambos a impossibilidade de generalização da


relação entre gênero e sexo quando se trata de seres inanimados é
o que se coloca como fator impeditivo de uma relação sinonímica
entre os dois conceitos.

223
Nas SD5 e 6, chama a minha atenção ainda a negação presente,
respetivamente, em não devemos confundir sexo dos seres com gêneros
das palavras e a noção de gênero não está relacionada ao sexo. Esse
sentido de negação da relação sinonímica entre gênero e sexo, que
já se presentificava no dizer mattosiano posto em circulação no
Brasil na década de 1970 a partir do lugar da Linguística, mas que
ainda não era hegemônico, como sugere a epígrafe recortada de
Lobato, no discurso gramatical brasileiro na década de 1930, tem
comparecido, em minhas leituras ainda iniciais das textualidades
que compõem o horizonte de projeção em construção, como uma
regularidade.
Entendemos, em Análise de Discurso, que toda negação
pressupõe uma afirmação (re)produzida em um outro lugar sob
condições de produção específicas, ou seja, há uma afirmação que
constitui significativamente essa negação e funciona como sua
memória, ainda que de forma não marcada. Dada a sua recorrência
em textualidades distintas e postas em circulação no Brasil em
diferentes temporalidades (na década de 70 do século XX por meio
dos dizeres mattosianos e na década de 20 do século XXI por meio
dos discursos inscritos nos LDs aprovados pelo PNLD 2024), tomo-
a, na esteira de Indursky43, como um aspecto fundamental do
funcionamento discursivo que me proponho a descrever. Espero,
com isso, que o exame da negação, enquanto “processo de
internalização de enunciados oriundos de outros discursos”, tal
como propõe a autora, me possibilite “investigar a presença do pré-
construído como vestígio mais ou menos evidente do
interdiscurso”, donde o meu investimento também na
reconstituição do horizonte de retrospecção. Passemos a ele.

O horizonte de retrospecção

As perguntas que me moveram nessa reconstituição são:


quem/onde se afirma que gênero e sexo são sinônimos e quais os

43 1997, p. 213.

224
efeitos dessa afirmação? Na epígrafe de Lobato e também da SD1
recortada de Câmara Jr., encontrei pistas que me orientaram em
busca de possíveis respostas. Assim, iniciei meu empreendimento
pelas gramáticas do século XIX e início do XX em circulação no
Brasil, conjuntura em que ainda não havia Faculdades de Letras e
em que os compêndios gramaticais, não só se constituíam como
lugares de (re)produção de conhecimentos sobre línguas, como
eram necessariamente produzidos para serem utilizados na escola
básica44. Até o momento, o arquivo em construção conta com
quatorze gramáticas sobre as quais ainda preciso me debruçar mais
cuidadosamente. Mesmo assim, nelas, algo que a princípio se
apresenta como uma regularidade salta aos olhos, a saber: a
afirmação da sinonímia entre gênero e sexo.
A título de exemplificação desse funcionamento, reproduzo
abaixo um recorte da Gramática Expositiva, de Eduardo Carlos
Pereira45, sucesso editorial adotado no Colégio Pedro II que teve
102 reedições até a publicação da Nomenclatura Gramatical
Brasileira (NGB) em 195946.

44 As primeiras Faculdades de Letras brasileiras datam da década 1930. Sobre isso,


ver Guimarães, 2004; Orlandi, 2002, Costa, 2019, entre outros.
45 1907.

46 Cf. Orlandi, 2002.

225
Figura 4 – Gramática expositiva, de Eduardo Carlos Pereira

Fonte: Pereira, 1907, p. 51-52.

Em Pereira47, além de se afirmar uma relação sinonímica entre


gênero e sexo ao se postular que “o gênero gramatical corresponde,
em regra, ao sexo natural dos seres vivos”, estabelece-se uma
distinção entre o que se formula como sexo natural ou real dos seres
vivos e sexo suposto dos seres inanimados. Parece-me estar aí o alvo da
crítica mattosiana à prática filológica que, em seu dizer, buscava
explicar o gênero “pela metáfora, à maneira de um pansexualismo
freudiano”; ou, para retomar aqui uma vez mais Indursky48, o
enunciado oriundo do discurso da Gramática no século XIX que foi
internalizado pelo discurso da Linguística na segunda metade do
século XX, passando a constituí-lo enquanto pré-construído49.

47 1907.
48 1997.
49 Pêcheux (1997, p. 99), a partir de P. Henry, define o pré-construído como aquilo

que designa “o que remete a uma construção anterior, exterior, mas sempre

226
Nesse imaginário de descrição, para indicar o que se formula
como sexo suposto dos seres inanimados, ter-se-ia primitivamente
inventado o chamado gênero neutro, o qual teria sido repelido pela
língua. A língua também seria, nessa perspectiva, a responsável
por estender, por analogia, “a noção de gênero gramatical aos
substantivos que designam coisas inanimadas ou assexuadas”.
Chama atenção essa onipotência da língua que repele categorias e
estende outras a seu bel prazer, apagando o trabalho de leitura do
sujeito gramático. Apesar disso, a divisão/tensão entre o que seria
da ordem da língua e o que seria da ordem de uma relação
especular entre língua e mundo aqui também se faz significar, já
que, ao mesmo tempo em que se afirma essa onipotência,
estabelece-se correspondência direta entre o que se formula como
gênero gramatical e sexo.

Para concluir... Hipótese dos dizeres mattosianos sobre gênero


como acontecimento discursivo

Neste capítulo, persegui um incômodo que é meu, mas


também de muitos outros, e que se colocou de forma incontornável
a partir dos inúmeros debates que vieram à tona nos últimos anos
sobre a pertinência ou não da chamada linguagem neutra, qual seja,
a equivocidade entre gênero e sexo presente no discurso
linguístico-gramatical no/do Brasil. Para tanto, em um primeiro
momento, partindo de meu percurso particular como professora e
pesquisadora, retomei dizeres mattosianos sobre o conceito de
gênero com vistas a tecer algumas considerações sobre o que do
discurso (meta)linguístico e como é mobilizado nesses debates para,
então, produzir um gesto inicial de historicização desse conceito, o
qual foi aqui tomado enquanto ideia linguística.

independente, em oposição ao que é ‘construído’ pelo enunciado”. Diz ainda,


considerando “a separação fundamental entre o pensamento e o objeto de
pensamento” (ibid., p. 102), que o “pré-construído corresponde ao ‘sempre-já-aí’ da
interpelação ideológica que fornece-impõe a ‘realidade’ e seu ‘sentido’ sob a forma
da universalidade (o ‘mundo das coisas’)” (ibid., p. 164).

227
A leitura em retrospectiva das duas obras inscritas no nome de
autor Mattoso Câmara Jr. mobilizadas pela análise me permitiu
recortar três pontos constitutivos do dizer mattosiano sobre a ideia
de gênero que assim podem ser sintetizados:
i. a negação da relação sinonímica atribuída à Gramática
Tradicional entre gênero e sexo, apesar da consideração de uma
relação indissociável entre o que se formula como gênero enquanto
realidade linguística e o sexo enquanto realidade no/do mundo;
ii. a não significação do masculino como neutro e o deslize, em
discursos (meta)linguísticos contemporâneos sobre a chamada
linguagem neutra, de “forma geral, não-marcada” para “forma-
neutra”; e
iii. a divisão/tensão, a partir da mobilização do critério
semântico, entre o que seria da ordem da língua (a língua vista como
fonte de significação do mundo) e o que seria da ordem de uma relação
especular entre língua e mundo (a língua vista como forma de
representação do que está no mundo).
A partir disso, dei a saber sobre movimentos futuros de análise
considerando a constituição de um arquivo de dizeres sobre a ideia
linguística gênero. Para a constituição desse arquivo, calcada em
Auroux50, tenho buscado reconstruir dois horizontes: o de
retrospecção e o de projeção, tomando como ponto de partida os
dizeres mattosianos analisados. Já nos primeiros gestos de leitura do
arquivo em construção me deparei com o que parece ser duas
regularidades, a saber: a repetição da negação da relação sinonímica
entre gênero e sexo no futuro projetado a partir de Câmara Jr.
(horizonte de projeção) e a afirmação de tal relação no passado
convocado em Câmara Jr. (horizonte de retrospecção). É, portanto,
diante dessa constatação que levanto a hipótese dos dizeres
mattosianos sobre gênero enquanto acontecimento discursivo.
Em Discurso: estrutura ou acontecimento, Pêcheux51 define
acontecimento discursivo como “ponto de encontro entre uma

50 2009 [1992].
51 2008, p. 17.

228
atualidade e uma memória”. Em seguida, explica que, diante de um
acontecimento, emergem gestos de interpretação que começam a
“‘fazer trabalhar’ o acontecimento (o fato novo [...]) em seu contexto
de atualidade e no espaço de memória que ele convoca e que já
começa a reorganizar”52. Tendo em vista os sentidos sobre gênero
com os quais estou me deparando nas textualidades que
constituem os horizontes de projeção e de retrospecção em
construção a partir de dizeres mattosianos, me parece que tais
dizeres inscrevem-se no discurso linguístico-gramatical no/do
Brasil como um acontecimento discursivo que trabalha na
atualidade da década de 1970 e no espaço de memória do século
XIX, retrospectivamente reorganizando-o, ao mesmo tempo em
que se projeta para o futuro fazendo-se significar de forma não
marcada nos livros didáticos aprovados no PNLD 2024, mas
também de forma marcada e deslocada em discursos contrários à
chamada linguagem neutra. É, pois, o caso de seguir investigando.

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