Comentário Bíblico Adventista - Apocalipse 10

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APOCALIPSE 10:1

tomadas em referência a uma circunstância com consequências vitais para seu império. Ele
foi informado de que “provisões haviam sido feitas", mas não podia saber do que se tratava.
Litch interpretou tais eventos como um reconhecimento, por parte do governo turco, de que
seu poder independente havia acabado.
Como esses acontecimentos tiveram lugar no momento especificado pela predição de
Litch, eles exerceram forte influência sobre o pensamento daqueles envolvidos no movimento

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millerita nos Estados Unidos. Na verdade, essa predição de Litch chegou a conferir credi-«
bilidade a outras profecias de tempo que ainda não haviam se cumprido, sobretudo a dos
2.300 anos. Portanto, o episódio de 1840 foi um fator-chave para o aumento das expectativas
quanto ao segundo advento, que supostamente ocorreria três anos depois (ver GC, 334, 335).
Contudo, comentaristas e teólogos em geral divergem bastante quanto ao significado
da quinta e da sexta trombetas. Isso se deve principalmente a problemas em três áreas:
(1) o significado do simbolismo em si, (2) o sentido do texto grego e (3) os acontecimentos
históricos e as datas envolvidas. No entanto, abordar esses problemas de maneira ampla
está além do escopo deste Comentário.
De modo geral, a interpretação adventista da quinta e da sexta trombetas, sobretudo no
que se refere ao período envolvido, tem sido alinhada à de Josiah Litch.

COMENTÁRIOS DE ELLEN G. WHITE

5, 14, 15-GC, 334

Capítulo 10
1 Um anjo poderoso aparece 2 com um livro aberto na mão. 6 Ele jura que
não haverá demora. 9 João recebe a ordem de comer o livro.

I Vi outro anjo forte descendo do céu, 6 e jurou por Aquele que vive pelos séculos
envolto em nuvem, com o arco-íris por cima de dos séculos, o mesmo que criou o céu, a terra,
sua cabeça; o rosto era como o sol, e as pernas, o mar e tudo quanto neles existe: Já não haverá
como colunas de fogo; demora,
2 e tinha na mão um livrinho aberto. Pôs 7 mas, nos dias da voz do sétimo anjo, quando
o pé direito sobre o mar e o esquerdo, sobre ele estiver para tocar a trombeta, cumprir-se-á,
a terra, então, o mistério de Deus, segundo Ele anunciou
3 e bradou em grande voz, como ruge um aos Seus servos, os profetas.
leão, e, quando bradou, desferiram os sete trovões 8 A voz que ouvi, vinda do céu, estava de novo
as suas próprias vozes. falando comigo e dizendo: Vai e toma o livro que
4 Logo que falaram os sete trovões, eu ia se acha aberto na mão do anjo em pé sobre o mar
escrever, mas ouvi uma voz do céu, dizendo: e sobre a terra.
Guarda em segredo as coisas que os sete trovões 9 Fui, pois, ao anjo, dizendo-lhe que me
falaram e não as escrevas. desse o livrinho. Ele, então, me falou: Toma-o
5 Então, o anjo que vi em pé sobre o mar e e devora-o; certamente, ele será amargo ao teu
sobre a terra levantou a mão direita para o céu estômago, mas, na tua boca, doce como mel.

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10:1 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

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Tomei o livrinho da mão do anjo e o devo­ Então, me disseram: É necessário que
ainda
rei, e, na minha boca, era doce como mel; quando, profetizes a respeito de muitos povos,
porém, o comi, o meu estômago ficou amargo. nações, línguas e reis.

1. Vi. Ver com. de Ap 1:1; 4:1. O trecho neste capítulo. Em contraste com o rolo
de Apocalipse 10:1 a 11:14 é um parêntese (biblion) nas mãos de Deus (Ap 5:1), este
entre a sexta e a sétima trombetas. Este rolinho é bem menor.
parêntese é semelhante ao de Apocalipse 7, Aberto. O verbo grego indica que o livro
que ocorre entre o sexto e o sétimo selos. fora aberto e continuava assim. Em contra­
Outro anjo forte. Isto é, além dos anjos partida, o rolo anterior fora lacrado com sete
que haviam aparecido antes. Ao que tudo selos (Ap 5:1). No passado, Daniel recebeu
indica, ele é diferente dos anjos que seguravam a seguinte instrução: “encerra as palavras e
os quatro ventos (Ap 7:1), daqueles que tinham sela o livro, até ao tempo do fim" (Dn 12:4).
sete trombetas (Ap 8:2), do anjo no altar Essa admoestação se aplica, sobretudo, à
(Ap 8:3) e daqueles no rio Eufrates (Ap 9:14). parte das profecias de Daniel que trata dos
Este anjo pode ser identificado com Cristo últimos dias (ver com. de Dn 12:4), especial­
(ver Ellen G. White, Material Suplementar mente às 2.300 tardes e manhãs (Dn 8:14),
sobre Ap 10:1-11). Aqui, no papel de Senhor dauma vez que essa profecia está ligada à pre­
história, Ele faz a proclamação do v. 6. gação da primeira, segunda e terceira men­
Descendo do céu. Embora o foco da sagens angélicas (Ap 14:6-12). Sendo que
visão esteja em um ser celestial, o cenário é a mensagem deste anjo aborda o tempo e,
a Terra. presumivelmente, acontecimentos do tempo
Envolto. Do gr. periballõ, “colocar em do fim, quando o livro de Daniel deveria
volta”, “envolver”, “vestir”. O anjo é visto perder o selo (Dn 12:4), é razoável concluir
envolto em uma nuvem. As Escrituras costu­ que o livrinho aberto na mão do anjo corres­
mam associar nuvens a aparições de Cristo ponda ao livro de Daniel. Quando o livrinho
aberto é mostrado a João, as partes seladas
(ver Dn 7:13; At 1:9; Ap 1:7; 14:14; cf. SI 104:3;
lTs 4:17). da profecia de Daniel são reveladas. O ele­
Arco-íris. Comparar com Ap 4:3; mento temporal, que aponta para o fim do
Ez 1:26-28. Pode -se pensar que o motivo período profético dos 2.300 anos, fica claro.
para o arco-íris seja o rosto do anjo, “como o Assim, a profecia de Apocalipse 10 se con­
sol”, que brilha através da nuvem (comparar centra no momento em que é feita a procla­
com Gn 1:12, 13). mação dos v. 6 e 7, a saber, de 1840 a 1844
Como o sol. Comparar com a descrição (ver com. do v. 6; Ellen G. White, Material
de Cristo, em Ap 1:16. Suplementar sobre Ap 10:1-11).
Pernas. A palavra podes é usada no sen­ Sobre o mar [...], sobre a terra. O mar
tido de extremidades inferiores, as pernas e e a terra são usados várias vezes para desig­
os pés, que são comparados a colunas de fogo nar o mundo como um todo (ver Ex 20:4, 11;
(cf. Ct 5:15; ver com. de Ez 1:7). SI 69:34). O anjo está de pé tanto sobre o mar
Colunas de fogo. Comparar com a des­ quanto sobre a terra, indicando a proclama­
crição dos pés de Cristo (Ap 1:15). ção mundial de sua mensagem e também seu
2. Na mão. Comparar com Ez 2:9. poder e autoridade sobre o planeta.
Um livrinho. Do gr. biblaridion, “rolo 3. Grande voz. Comparar com Ap 1:10;
pequeno”. No NT, biblaridion ocorre somente 5:2; 6:10; 7:2.
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APOCALIPSE 10:7

Como ruge um leão. Somente o tom “demora” significa o tempo que passará antes
grave e retumbante da voz do anjo é enfati­ dos eventos finais da história, como na tra­
zado. Não se registra aquilo que diz. dução feita pela ARA.
Sete trovões. Mais uma das muitas De modo geral, os adventistas do sétimo
séries de sete que caracterizam o Apocalipse dia interpretam que estas palavras se refe­
(ver com. de Ap 1:11). rem à mensagem proclamada entre os anos
4. Eu ia escrever. João compreende as 1840 e 1844 por Guilherme Miller e outros,
vozes dos sete trovões e se prepara para regis­ sobre o término da profecia dos 2.300 anos.
trar a mensagem. Este texto revela que João Entendem que “demora” seja um tempo pro­
escreveu as visões do Apocalipse à medida quefético e seu fim significa o encerramento da
elas lhe eram mostradas, não posteriormente. mais longa profecia de tempo, a dos 2.300
Guarda em segredo. Assim como (Dn 8:14). Depois de 1844, não haveria mais
Daniel, muito tempo antes, João é então profecia de tempo.
ordenado a selar, ou guardar em segredo, a 7. Dias. Alguns comentaristas inter­
revelação que recebera (ver Dn 12:4). Paulo pretam “dias” como dias-anos proféticos.
também, em visão, ouvira “palavras inefá­ Faz pouca diferença se este período deve
veis, as quais não é lícito ao homem referir” ser entendido como dias ou anos, pois a
(2Co 12:4). As mensagens dos sete trovões expressão é genérica. Além disso, como vem
certamente não eram uma revelação para o depois da declaração do v. 6, o termo não
povo dos dias de João. Possivelmente estavam pode especificar um período mensurável
ligadas às mensagens a serem proclamadas (ver com. do v. 6). O sentido da passagem é
no "tempo do fim” (Dn 12:4; ver com. de que, na época da sétima trombeta, o mistério
► Ap 10:2). Logo, podem ser entendidas como de Deus terminaria. No plano divino, esse
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uma representação dos eventos que ocor­ evento aconteceria logo após a proclamação
reriam em conexão com a proclamação da de que “já não haverá demora” (v. 6; compa­
primeira e segunda mensagens angélicas rar com a declaração da sétima praga: “Feito
(Ap 14:6-8; ver Ellen G. White, Material está!” (Ap 16:17).
Suplementar sobre Ap 10:1-11). Sétimo anjo. Ver Ap 11:15-19.
5. Levantou a mão. Gesto caracterís­ Quando ele estiver para tocar. Ou,
tico de quem faz um juramento, tanto nos “quando ele soar". A sétima trombeta marca
tempos antigos quanto hoje (ver Gn 14:22, o clímax do grande conflito entre Cristo e
23; Dt 32:40; Ez 20:15; Dn 12:7). Satanás, conforme revelam as vozes no Céu
6. Vive. Comparar com Ap 1:18; 4:9; nessa ocasião (Ap 11:15).
15:7. Cumprir-se-á. Ver com. de Ap 11:15.
Que criou. Comparar com Ex 20:11; O mistério de Deus. Sobre a palavra
Sl 146:6. Não poderia ser feito nenhum jura­ "mistério”, ver com. de Ap 1:20; cf. com. de
mento mais solene (ver 11b 6:13). Ao jurar Rm 11:25. Jesus usou uma expressão seme­
pelo Criador, o anjo, que é Cristo, jura por lhante, "o mistério do reino de Deus” (Mc 4:11).
Si mesmo (ver com. do v. 1). Paulo se refere ao "mistério de Deus" (Cl 2:2)
Já não haverá demora. Do gr. chronos e ao “mistério de Cristo” (Cl 4:3). O mistério
onketi estai, “o tempo não mais será". Esta de Deus, aquilo que Ele revela a Seus filhos,
declaração enigmática já recebeu diversas é Seu propósito para eles: o plano da redenção
interpretações. Muitos eruditos consideram (comparar com lTm 3:16; T6, 19).
que ela marca o fim dos tempos, ou o prin­ Seus servos, os profetas. A exposição do
cípio da eternidade. Outros consideram que mistério de Deus sempre é responsabilidade

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10:8 COMENTÁRIO BÍBLICO ADVENTISTA

de Seus servos, os profetas, em suas mensa­ Doce como mel. Comparar com Ez 3.3.
gens à humanidade (ver com. de Rm 3:21). Assim como na experiência de Ezequiel,
8. A voz. Sem dúvida, a voz que proibiu muitas vezes, as mensagens de Deus a Seus
João de escrever foi declarada pelos sete tro­ servos são uma mistura de doce e amargo,
vões (v. 4), conforme demonstra a repetição pois podem revelar tanto Seu amor quanto
da expressão "do céu” e da locução adverbial Seus juízos. Os profetas de Deus sentem
“de novo”. tanto a alegria de receber uma visão divina
Vai e toma. João é chamado a participar quanto a amargura de proferir mensagens de
da visão. repreensão aos seres humanos.
O livro [...] aberto na mão. Ver com. A experiência de João aqui pode ser
do v. 2. vista como um tipo daquilo que sentiram
Mar [...] terra. Ver com. do v. 2. os que criam no advento durante os anos
9. Que me desse. João deve expres­ 1840 a 1844. Quando esses fiéis ouviram
sar seu desejo pelo livro. Ele desempe­ pela primeira vez a mensagem da imi­
nha o papel daqueles que proclamaram a nente segunda vinda, ela lhes foi “doce
mensagem do advento, de 1840 a 1844. como mel”. Mas, quando Cristo não veio
Embora estivessem enganados ao esperar conforme esperavam, sua experiência foi
que Cristo retornasse em 1844, eles foram, verdadeiramente amarga.
ainda assim, conduzidos por Deus, e a men­ 11. Ele (ARC). Cristo, o "anjo” dos v. 1,9.
sagem do advento iminente lhes foi muito E necessário que ainda profetizes.
preciosa. O cálculo do elemento temporal Comparar com Ez 3:1, 4. Embora João tenha
na profecia de Daniel 8:14 estava correto comido o rolo e experimentado ao final um
(ver com. de Dn 8:14), mas eles se equivo­ gosto amargo, Cristo lhe fala as palavras
caram quanto ao evento que ocorreria ao confortantes de que ele voltaria a profeti­
fim dos 2.300 anos. zar. O termo traduzido por “necessário”
Devora-o. Comparar com o simbolismo se encontra em posição enfática no grego.
em Ez 3:1; cf. Jr 15:16. Devorar o livro pode João, no papel de representante dos que
ser interpretado como uma figura de lin­ creem no advento após o desapontamento
guagem para se compreender plenamente de 1844, recebe a comissão de anunciar a
o significado da mensagem contida nele. mensagem. Uma grande obra ainda precisa
A experiência de João (Ap 10:10) caracte- ser feita. Os adventistas deveriam prosseguir
► riza bem o que foi vivenciado pelos adven-
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e proclamar a mensagem do terceiro anjo


tistas mileritas no processo de compreender (Ap 14:9-12).
o sentido das três mensagens angélicas A respeito de. Ou, “diante de”, “a” (ver
(Ap 14:6-12) e sua relação com o cumpri­ ARC). Os dois significados se ajustam ao
mento da profecia dos 2.300 anos. contexto. As mensagens seriam tanto “a
Será amargo ao teu estômago. A or­ respeito de” muitos povos, quanto “diante”
dem dos elementos nos v. 9 e 10 é uma forma deles.
comum de paralelismo hebraico (ver com. de Muitos povos. Depois que o sentido
Ap 1:2; 9:17). completo da terceira mensagem angélica
“Ele será amargo ao teu estômago...” clareou a mente dos primeiros adventistas,
“Na tua boca, doce como mel." eles passaram a perceber, cada vez mais, que
“Na minha boca, era doce como mel...” se tratava de uma mensagem para o mundo,
“O meu estômago ficou amargo.” a qual deveria ser proclamada “a muitos
10. Tomei. Ver com. do v. 9. povos, e nações, e línguas, e reis” (ARC).
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