A Importância Do Ensino Da Arte No Desenvolvimento Crítico e Reflexivo Dos Alunos

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PAIDEIA – Revista de Sociologia e Filosofia do Colégio Estadual do Paraná

Nº 16 – Out/Nov 2019 – ISSN 2595-265X

A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ARTE


NO DESENVOLVIMENTO CRÍTICO E
REFLEXIVO DOS ALUNOS
Margareth Carli

RESUMO

Com esta pesquisa pretende-se demonstrar que a partir do ensino da Arte, o aluno
poderá despertar seus saberes críticos e reflexivos. Para tanto, delimitou-se como
objetivo, apresentar a Abordagem Triangular proposta por Ana Mae Barbosa, pois
através desta, o aluno da abertura à imaginação criadora. É necessário entretanto,
que o professor faça acontecer através de seu conhecimento o ensino efetivo da
Arte, visto que tal abordagem não utiliza norma específica, mas sim, estimula o
fazer, ler e contextualizar para só então se concretizar os resultados almejados.
Como metodologia, utilizou-se a pesquisa bibliográfica, embasando-se em livros e
artigos pertinentes ao tema. Verificou-se no decorrer desta pesquisa que o professor
ao aplicar a proposta de Ana Mae nas aulas de Arte, contribui para que os alunos
assimilem a Arte como instrumento educacional, auxiliando assim, no seu
desenvolvimento crítico, emocional e reflexivo.

Palavras-chave: Ensino da Arte. Criatividade. Reflexão. Abordagem Triangular.

ABSTRACT

This research aims to demonstrate that from the teaching of art, students can awaken their
critical and reflective knowledge. Therefore, it was delimited as objective, to present the
Triangular Approach proposed by Ana Mae Barbosa, because through this, the student of
the opening to the creative imagination. However, it is necessary for the teacher to make
effective teaching of art happen through his knowledge, since this approach does not use a
specific norm, but rather stimulates the making, reading and contextualization, only then to
achieve the desired results. As methodology, we used the bibliographical research, based on
books and articles relevant to the theme. It was verified during this research that the
teacher, when applying Ana Mae's proposal in the art classes, contributes to the students to
assimilate the art as an educational instrument, thus helping in its critical, emotional and
reflexive development.

Keywords: Art Teaching. Creativity Reflection. Triangular Approach.


1 INTRODUÇÃO

Refletir sobre o ensino da Arte não é tarefa fácil, visto que esta disciplina lutou
muito para conquistar seu espaço no contexto escolar. Seguindo esse raciocínio e,
por entender que o papel da Arte é preparar para os novos modos de percepção e à
construção de conhecimentos, é de suma relevância compreender como a
Abordagem Triangular proposta por Ana Mae pode influenciar no ensino-
aprendizagem.
A Abordagem Triangular apresenta-se na contemporaneidade como sendo a
principal referência do ensino da Arte no Brasil e, Ana Mae Barbosa é a responsável
por tal conquista. Embora seja uma temática demasiadamente discutida no ensino
da Arte, o desejo avaliar as contribuições dessa proposta fala mais alto.
Dessa maneira, a partir do tema “A Arte construindo saberes críticos e
reflexivos conforme proposta de Ana Mae” desenvolveu-se uma investigação para
analisar: A partir do ensino da Arte utilizando a Abordagem Triangular, o aluno
conseguirá assimilar a Arte como sendo um instrumento educacional para
desenvolver seus saberes críticos e reflexivos?
Para responder a tal questionamento, delimitou-se como objetivo geral
apresentar a Abordagem Triangular proposta por Ana Mae, buscando demonstrar
sua efetividade no ensino da Arte; e como objetivos específicos: Discorrer sobre o
ensino da Arte, descrevendo os eixos que compõem a Abordagem Triangular; e,
Analisar a contribuição da Abordagem Triangular na prática docente.
Como metodologia, utilizou-se a pesquisa bibliográfica, embasando-se em
livros e artigos de teóricos envolvendo o ensino da Arte voltado à Abordagem
Triangular proposta por Ana Mae, tendo como referência, obras de Ana Mae
Barbosa e de Paulo Freire, dentre outros autores pertinentes ao tema. Nesse
sentido, tais bibliografias possibilitaram uma reflexão mais crítica em relação às
concepções que envolvem à aplicação desta proposta nas aulas de Arte como
sendo um aditivo no desenvolvimento crítico e reflexivo dos envolvidos, ou seja, dos
alunos.

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2 O ENSINO DA ARTE VOLTADO À ABORDAGEM TRIANGULAR

O ensino da Arte no Brasil tem uma longa trajetória. No início do século XX,
as escolas primárias e secundárias eram contempladas em seus currículos as
disciplinas de Desenho, Trabalhos Manuais, Música e Canto Orfeônico. Desde a
criação das Diretrizes e Bases da Educação, o Ensino da Arte passou a ser
obrigatória nas escolas.
Em 1973 foi criado nas universidades cursos de arte-educação para preparar
os professores. O curso de Licenciatura em Educação Artística na universidade,
tinha o objetivo de preparar os professores de Arte em dois anos, dando habilitação
para lecionar música, teatro, artes visuais, desenho, dança e desenho geométrico,
todas especificidades ao mesmo tempo, desde a 1ª série até o 2º grau (BARBOSA,
2012).
Esses cursos indicavam o desenvolvimento da criatividade como principal
foco no ensino. As artes visuais eram representadas pela espontaneidade,
autoliberação e originalidade, porém, não eram postos em prática em sala de aula.
Vale destacar que mesmo na atualidade, em alguns estados, as escolas exigem
somente Licenciatura Curta para os professores de Arte, por isso, muitas vezes o
docente não tem entendimento da metodologia adequada para trabalhar essa
disciplina.
Ana Mae para tentar melhorar tais pensamentos retrógrados, em 1987
começa um programa de arte-educação no Museu de Arte Contemporânea (MAC)
da USP, abordando a história da Arte e leitura de obras de Arte, juntamente com o
trabalho prático, utilizando uma metodologia própria, também chamada “Metodologia
Triangular”, que posteriormente, passa a ser designada por Ana Mae como
“Abordagem Triangular”, a qual tem como base, o conhecimento anterior do
professor, podendo ser estética, semiológica, iconológica, entre outras. A partir de
então, o ensino da Arte passa a ser visto com outros olhos. O foco dessa
abordagem desde o princípio é o fazer artístico, analisar as obras artísticas e a
história da Arte, sempre com destaque na Arte como conhecimento a ser
desenvolvido na escola, não apenas aos alunos, mas também aos professores
(BARBOSA, 2012).

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Refletir o ensino da Arte como disciplina é tarefa árdua, porém, mesmo com
tantos percalços no decorrer dos séculos, a Arte nos dias atuais vem ganhando
espaço, seja através da música, da dança, dos filmes e, também, no contexto
escolar. Cabe ao professor, buscar saber metodológico para transmitir nas aulas de
Arte, um diferencial de atitudes e valores. As práticas cotidianas em sala de aula
nesse contexto, torna-se o ponto onde o saber reflete conhecimento, por isso, a
fundamentação torna-se de suma relevância nas transformações do cotidiano de
cada aluno.
De acordo com Freire (2018, p. 35), “o saber se faz através de uma
superação constante”, assim sendo, todo indivíduo tem em si o saber, logo, tem a
oportunidade de despertar a própria superação a cada novo conhecimento.
A educação nesse sentido é uma resposta à busca do saber, onde “o homem
deve ser o sujeito de sua própria educação. Não pode ser objeto dela. Por isso,
ninguém educa ninguém” (FREIRE, 2018, p. 34).
Ao reportar-se a educação voltada ao ensino da Arte, Ana Mae é clara ao
retratar que o papel do professor vai além do saber, pois:

A falta de um aprofundamento dos professores de Ensino Fundamental e


Médio pode retardar a Nova Arte-Educação em sua missão de favorecer o
conhecimento nas e sobre Artes Visuais, organizando de forma a relacionar
produção artística com análise, informação histórica e contextualização. Nas
Artes Visuais, estar apto a produzir uma imagem e ser capaz de ler uma
imagem e seu contexto são duas habilidades inter-relacionadas, o
desenvolvimento de uma ajudando no desenvolvimento da outra
(BARBOSA, 2012, p. 16).

Por consequência, a educação observada como um processo transformativo


no âmbito social, volta-se ao desenvolvimento do processo onde o docente assume
a meta de ensinar e, ensinar Arte é superar-se a si próprio, ou seja, ensinar e
aprender desperta a consciência na formação humana, onde o aluno encontra
condições para desenvolver sua expressão construída a partir do conhecimento em
Arte.
O ensino da Arte conduzido por essa concepção busca desenvolver um
entendimento preciso para análise do processo formativo do aluno, onde são
avaliadas as causas sociais, econômicas, políticas e espirituais.
Nessa perspectiva, entender e administrar conflitos gerados por emoções,
torna-se instrumento fundamental para o professor em sala de aula. O
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comprometimento com a tarefa de ensinar é a solução para seu bom
desenvolvimento, visto que, o aluno estabelece suas relações a partir dos
ensinamentos repassados. Assim sendo, a metodologia a ser aplicada faz a
diferença no contexto geral do ensino-aprendizagem.
Ana Mae em entrevista concedida ao Centro de Referências em Educação
Integral ressalta que,

[...] aprender por meio da arte faz parte de uma educação integral, inclusive
porque ajuda a desenvolver outras áreas do conhecimento, uma vez que os
estudantes precisam mobilizar diversas habilidades, como a capacidade de
interpretação, criatividade, imaginação, e os aspectos afetivos e
emocionais, além da própria inteligência racional e das habilidades motoras
(BARBOSA, 2018).

Logo, o professor utilizando uma metodologia apropriada nas aulas de Arte


contribuirá no desenvolvimento do aluno como pessoa, visto que, a Arte é a
revelação do homem e de sua capacidade de criar, sendo assimilada através da
emoção, reflexão e do pensamento (BARBOSA, 2012). Seguindo tais premissas, a
Abordagem Triangular ganha espaço no contexto escolar por influenciar diretamente
as ações do professor e, também, no comportamento dos alunos.
A Abordagem Triangular proposta por Ana Mae propõe as ações de criação,
emoção/afetividade e reflexão, com a concepção de desenvolver os sentidos no
contexto da sensibilidade. O intuito é despertar nos alunos o partilhar, o interagir, o
experimentar, o interpretar, o amar. Só assim, as aulas de Arte terão a verdadeira
efetividade do “aprender Arte”.
E, por entender que o papel da Arte é preparar para os novos modos de
percepção e à construção de conhecimentos, os três eixos necessários para se
construir conhecimentos em Arte são: o fazer artístico, a apreciação artística, e, a
contextualização histórica. Através da Abordagem Triangular, Ana Mae propõe que o
professor de Arte utilize esses eixos, pois a partir deles, o aluno se tornará mais
criativo, emotivo e reflexivo.
Nesse contexto, Vigotski (1999), explica que a criatividade, a emoção e a
imaginação são processos psicológicos com estreita relação quanto a Arte,
corroborando assim, com a abordagem proposta por Ana Mae.

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No entendimento de Lampert (2010, p. 447), tal abordagem colabora
essencialmente no ensino da Arte, visto ser um trabalho com base “pedagógico
integrador onde o fazer artístico, a análise ou leitura de obras de arte e
contextualização interagem ao desenvolvimento crítico, reflexivo e dialógico do
estudante em uma dinâmica contextual sociocultural”.
Assim sendo, a Arte tem papel de grande relevância na evolução do aluno,
pois através desta temática, tais indivíduos têm a possibilidade de trabalhar o
psicológico, os sentimentos e emoções, desenvolvendo suas capacidades no âmbito
escolar, levando para vida social, ou seja, torna-os sujeitos cultos e centrados.
Desta forma, compreendendo as transformações inerentes à construção das
formas, sentidos e caminhos a serem percorridos, alunos e conhecimento
automaticamente se estabelecem. Todo esse processo é observado na explicação
do tripé fazer, aprender e contextualizar, proposto por Ana Mae.

2.1 ABORDAGEM TRIANGULAR PROPOSTA POR ANA MAE

No Brasil, o ensino de Arte tem no seu histórico, a importação de modelos


educacionais que nem sempre vem acompanhados de reflexão sobre como adaptá-
los no contexto escolar. Por isso, a Abordagem Triangular proposta por Ana Mae,
desde a década de 80 vem quebrando paradigmas, propondo três eixos a serem
trabalhados nas escolas, quais sejam: a criação (fazer artístico - produção), a leitura
da obra de arte (ler obras de arte) e, a contextualização (contextualizar). Esta
proposta é fundamental, pois contribui positivamente no ensino da Arte em todo país
até a contemporaneidade.
Referida metodologia aborda a construção de conhecimento em Arte, através
da experimentação, da codificação e da informação. Conforme Rizzi (2018, p. 73),

Considera-se como sendo objeto de conhecimento dessa concepção, a


pesquisa e a compreensão das questões que envolvem o modo de inter-
relacionamento entre a Arte e o Público, propondo-se que a composição do
programa do ensino de Arte seja elaborado a partir das três ações básicas
que executamos quando nos relacionamos com a Arte: ler obras de arte,
fazer arte e contextualizar.

Cabe porém, o entendimento de que a Abordagem Triangular não estabelece


o que fazer e também, não aponta como fazer, ela “desenha um cenário de campos

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de conhecimento inter-relacionados, um terreno no qual o ensino e a aprendizagem
podem ocorrer” (MACHADO, 2010, p. 68). Assim, esta proposta transforma-se em
um leque de possibilidades para o ensino e aprendizagem da Arte.
Ana Mae expressa em seu livro “A Imagem no Ensino da Arte” que o
professor precisa escolher a metodologia de análise, pois “o importante é que obras
de arte sejam analisadas para que se aprenda a ler a imagem e avaliá-la; esta
leitura é enriquecida pela informação acerca do contexto histórico, social,
antropológica etc.” (BARBOSA, 2014, p. 39).
Visto dessa maneira, a Abordagem Triangular “orienta muito mais a busca da
significação de ensinar e aprender arte, para que cada educador artista possa
formular suas próprias perguntas, que por sua vez, poderá traduzir em conteúdos e
procedimentos” (MACHADO, 2010, p. 69). Isto posto, o planejamento enquanto
concepção, torna-se um aditivo das relações entre o “aprender fazendo” e o “lendo e
contextualizando” Arte.
Pimentel (2010, p. 212-213), defende que a Abordagem Triangular é um
referencial, ou seja,

[...] uma possibilidade concreta de trabalho complexo em arte/educação;


cabe ao arte/educador levar em consideração as diversas possibilidades de
expressão abordadas pela abrangência e as especificidades educacionais
de formação que pontue como relevantes.

Desta forma, a Abordagem Triangular é vista como sendo o ponto partida


para o professor de Arte, pois, se utilizada de forma correta, contribui e muito nas
aulas, seja ao professor, seja para os alunos. Entretanto, o professor deverá ter o
conhecimento e compreender esta abordagem para obter êxito. Um requisito básico,
é que o professor esteja em constante transformação e em busca de novos
conhecimentos para tornar suas aulas efetivamente interativas.
Ana Mae é enfática ao reportar-se à atuação do docente, visto que, somente
a ação inteligente deste, “pode tornar a aula de Arte ingrediente essencial para
favorecer o crescimento individual e o comportamento do cidadão como fruidor de
cultura e conhecedor da construção de sua própria nação” (BARBOSA, 2018, p. 15).
Referida abordagem não estabelece o que fazer e, também não aponta como
fazer, pois “desenha um cenário de campos de conhecimento inter-relacionados, um
terreno no qual o ensino e a aprendizagem podem ocorrer” (MACHADO, 2010, p.

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68). Assim sendo, transforma-se em um leque de possibilidades para o ensino-
aprendizagem da Arte.
Ana Mae é uma defensora da Arte e, seguindo os ensinamentos Paulo Freire,
sugere esta abordagem com o intuito de melhorar o ensino da Arte, “tendo por base
um trabalho pedagógico integrador, em que o fazer artístico, a análise ou leitura de
imagens e a contextualização interagem ao desenvolvimento crítico, reflexivo e
dialógico do estudante” (SILVA; LAMPERT, 2017, p. 90).
Após tal entendimento, cita-se os três eixos que compõem a Abordagem
Triangular, ressalvando que a partir destes, é possível construir os conhecimentos
da Arte, quais sejam: o fazer artístico; a apreciação artística; e, a contextualização
histórica. Verifica-se que esses elementos são complementares, porém não é
necessário que ocorram em momentos separados e também, não precisa seguir
uma ordem específica, pois saber ler uma obra de arte torna o aluno criativo,
emotivo e reflexivo.

2.1.1 Fazer Artístico

O primeiro eixo trata do “fazer Arte”, despertando a capacidade criadora, a


flexibilidade, a fluência e a elaboração. Esses processos envolvidos na criatividade
são mobilizados a partir do reconhecimento da obra de arte. Conforme Ana Mae, o
desenvolvimento da criatividade se dá no ato do “deixar fazer”, a partir do
“entendimento, da compreensão, da decodificação das múltiplas significações de
uma obra de arte” (BARBOSA, 2014, p. 43).
Em outros termos, destaca-se que o desenvolvimento da criatividade envolve
ações de configuração, ou seja, refere-se à realização de uma escultura, dança,
música, filme, ou outras formas de produção artística; à produção de pensamentos
sobre a arte; e, experiências de leitura. Assim sendo, este eixo “nomeia não apenas
ações que caracterizam a aprendizagem do fazer artístico em contato com os
materiais e com os princípios de formatividade das linguagens artísticas”
(MACHADO, 2010, p. 65), pois refere-se a capacidade de cada indivíduo produzir
leituras e relações conceituais, tão importantes à experiência da Arte.
A Arte está ligada diretamente à criatividade. Por isso, torna-se um produto
artístico de criação e de inovação. Por isso, é necessário compreender as imagens

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para fazer a interpretação correta, sem distorções. O professor é o responsável pelo
processo ensino-aprendizagem e, por isso, deve ter o conhecimento para
administrar aulas de Arte com êxito.
Seguindo tal proposição, a leitura da obra de arte é o próximo ponto a ser
abordado, visto que não adianta “fazer” arte sem conseguir “ler a obra”
posteriormente. Tal investigação discutirá a importância de educar o olhar para a
leitura da obra e, entender um pouco do processo “ler” com o despertar do
desenvolvimento emocional/afetivo do indivíduo.

2.1.2 Apreciação Artística

O segundo eixo trabalha o desenvolvimento emocional, ou seja, a


“apreciação artística”. Para Vigotski (1999, p. 24), “as emoções fora de nós realiza-
se por força de um sentimento social que foi objetivado, materializado e fixado nos
objetos externos da arte, que se tornaram instrumento da sociedade”. Na sala de
aula, liberar as emoções é muito importante, porém, para ser efetivo, cabe a cada
um refletir sobre elas. Neste caso, ao ler uma obra de Arte, o aluno passa a buscar
novos conhecimentos, descobertas e questionamentos, despertando assim, sua
capacidade crítica.
Através do ensino da Arte, o conhecimento artístico construirá uma educação
voltada à apropriação do conhecimento e aprendizagem dos sentidos, fazendo com
que o aluno desenvolva o campo emocional e afetivo.
O desenvolvimento emocional faz parte da segunda etapa da Abordagem
Triangular, onde o fazer/ler obras de arte, é o eixo principal. Esta fase refere-se aos
encontros com obras de arte e outras construções simbólicas das culturas. Envolve
ainda, a aprendizagem da experiência com as formas da natureza, ou seja,
desenvolve-se exercícios de percepção.
Assim sendo, emoções como um fenômeno psicológico cultural articula as
demais funções psicológicas superiores, ou seja, a própria criatividade, utilizando-se
dos recursos da imaginação.
Seguindo tais preceitos, Vigotski (1999, p. 315), leciona que “a arte é o social
em nós, e o seu efeito se processa em um indivíduo isolado, isto não significa, de

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maneira nenhuma, que suas raízes e essências sejam individuais. [...] o social existe
até onde há apenas um homem e as suas emoções”.
Desta forma, no âmbito escolar, aprender a liberar as emoções é muito
importante, porém, para tal processo ser efetivo, cabe a cada um refletir sobre elas.
Ana Mae afirma que “o subjetivo, a vida interior e a vida emocional devem progredir,
mas não ao acaso” (BARBOSA, 2012, p. 23). Por isso, se a Arte não for abordada
como um conhecimento, a educação que será repassada aos alunos não transmitirá
o aspecto emocional e cognitivo desejado.
Para Vigotski (1999) a emoção é uma qualidade humana da qual se dá no
pensamento e se concretiza nas ações. Nesse sentido, é necessário respeitar a
Arte, vinculando-a a percepção e ao sentimento para ter efetividade nas salas de
aula.
Ao ler uma obra de arte, o aluno passa se envolver, na busca do
conhecimento, da descoberta, dos questionamentos, despertando a capacidade
crítica dos mesmos. Rizzi (2018, p. 73) nesse contexto explica que “as
interpretações oriundas desse processo de leitura, relacionando
sujeito/obra/contexto, não são passíveis de redução certo/errado. Podem ser
julgadas por critérios tais como: pertinência, coerência, possibilidade,
esclarecimento, abrangência e inclusividade”. Por isso, o ensino da Arte faz parte da
inclusão escolar.
Contudo, esse processo de aprendizagem envolve professores, alunos,
familiares e demais envolvidos, pois o trabalho com o sensível vai além dos
ensinamentos do professor. Por isso, esta prática somente será efetiva se a
socialização do saber à Arte seja possibilidade para todos, do contrário, o processo
de transformação será inútil. Assim, estabelece-se relações que permitam o ensino-
aprendizagem através da diversificação, motivação e da contextualização.

2.1.3 Contextualização

No terceiro eixo, a “contextualização”, trabalha-se o saber reflexivo,


envolvendo ações que evidenciam através da reflexão, “os diferentes contextos da
Arte: a história, a cultura, circunstâncias, história de vida, estilos e movimentos

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artísticos” (MACHADO, 2010, p. 66). Neste momento, o aluno conseguirá entender
como a obra foi produzida e as relações contidas nessa produção.
Ao estudar a Arte sob a perspectiva de acesso ao saber reflexivo, o aluno
passa a compreender a atitude do artista como sendo aquele que representa a visão
por meio de significados. A partir de então, o aluno poderá trabalhar sua própria
história, questionando as formas de exploração que a sociedade vem apresentando.
De acordo com Rizzi (2018, p. 76), “ao contextualizar estamos operando no
domínio da História da Arte e outras áreas de conhecimento necessárias para
determinado programa de ensino”. Por isso, ao ensinar os elementos da forma
visual, o professor leva os alunos a observar as formas, linhas, cores, texturas que
compõem a obra, propondo uma reflexão/contextualização dos elementos
compositivos da obra, ou seja, analisar a pesquisa teórica, a leitura das formas e, da
pesquisa, durante o processo de ensino-aprendizagem.
A partir da reflexão é possível pensar uma atuação significativa para o ensino
da Arte, pois, “contextualizar é estabelecer relações. Nesse sentido, a
contextualização no processo ensino-aprendizagem é porta aberta para
interdisciplinaridade” (BARBOSA, 1989, p. 38).
Continua Ana Mae reforçando que

[...] em arte, o tempo, como a mente, não é objeto do conhecimento em si


mesmo. Somente conhecemos o tempo pelo que acontece nele e pela
observação das mudanças e permanências. Os intervalos entre ações são
tão significantes quanto as próprias ações (BARBOSA, 2014, p. 106).

Logo, a Abordagem Triangular refere-se às ações aplicadas em sala de aula


pelo professor de Arte, ou seja, as aulas práticas contribuem no ensino-
aprendizagem, visto que oferecem maior interação entre alunos e professor.
Entretanto, devido as mudanças serem constantes, o professor deve sempre inovar
as atividades para despertar o interesse e motivação dos alunos pelas aulas.
Partindo dessa análise, a apreciação da Arte voltada à Abordagem Triangular
proposta por Ana Mae torna-se de suma relevância, pois, atua “positivamente no
desenvolvimento cultural dos estudantes por meio do conhecimento de arte que
inclui a potencialização da recepção crítica e a produção” (BARBOSA, 2005, p. 98).
Assim sendo, entender o processo de produção de Arte é o princípio básico para um

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professor de Arte, pois na falta deste, as aulas de Arte ficam sem criatividade, não
transmitindo ao aluno o incentivo à reflexão.
Logo, o processo de contextualizar uma obra de arte não precisa limitar-se às
informações biográficas e históricas, pois, o importante é aliar essa base teórica com
o fazer artístico, com a experiência, com a prática, a vivência. É nesse momento em
que pode interagir com a obra, aplicando na prática os conceitos estéticos e poéticos
abordados durante a leitura e contextualização.

Portanto, embora a Abordagem Triangular seja exposta de forma clara, ainda


há percalços na aplicação desta proposta. Cabe ao professor de Arte estar atento e
buscar atualizar-se para trabalhar de forma assertiva esta ferramenta tão expressiva
no desempenho do ensino da Arte.
2.2 ABORDAGEM TRIANGULAR E SUA CONTRIBUIÇÃO NA PRÁTICA DOCENTE

Embora passado por muitos obstáculos, a Arte nos dias atuais vem ganhando
espaço no contexto escolar. A Abordagem Triangular oferece suporte para tal
incentivo, pois influencia diretamente nas ações do professor, bem como, no
comportamento dos alunos, propondo ações de criação, emoção e reflexão
(BARBOSA, 2014). O objetivo é despertar nos alunos o partilhar, o interagir, o
experimentar, o interpretar e o amar. Só assim, as aulas de Arte terão a verdadeira
efetividade do “aprender Arte”.
Desta forma, entender e administrar os conflitos gerados por emoções, torna-
se instrumento fundamental para o docente em sala de aula, onde o
comprometimento com o “ensinar” é a solução para o bom desenvolvimento, visto
que, o aluno estabelece suas relações a partir dos ensinamentos repassados.
Ana Mae ao relatar a prática docente, explica que o docente tem a missão de
favorecer o conhecimento dos alunos, por isso, precisa estar apto para produzir uma
imagem, sendo capaz de ler uma imagem e seu contexto, uma vez que o
desenvolvimento de uma ajudará no processo da outra (BARBOSA, 2012).
Assim sendo, a Abordagem Triangular tem-se apresentado como um ponto de
partida ao professor de Arte, pois sendo utilizada corretamente, poderá beneficiar e
muito, tanto o professor quanto os alunos no dia a dia escolar.
Logo, a apreciação da Arte voltada à Abordagem Triangular atua
“positivamente no desenvolvimento cultural dos estudantes por meio do
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conhecimento de arte que inclui a potencialização da recepção crítica e a produção”
(BARBOSA, 2005, p. 98). Compreender esta abordagem é requisito básico para um
professor de Arte, pois na falta deste, as aulas de Arte ficam sem criatividade, não
transmitindo ao aluno o incentivo à reflexão.
Para efetivar tais ensinamentos, o professor precisa mobilizar esses saberes
para conseguir estabelecer um contato mais sensível com os alunos, podendo
ocorrer através de leituras, aprimorando o olhar, o ouvir e o corpo.
Observando sob este ângulo, a Abordagem Triangular contribui muito nas
aulas de Arte, visto que dá liberdade ao professor formular suas próprias perguntas,
que por sua vez, poderá traduzir em conteúdos e procedimentos. Logo, o
planejamento enquanto concepção torna-se um aditivo das relações entre o
“aprender fazendo” e o “lendo e contextualizando” a Arte (SILVA; LAMPERT, 2017).
Por fim, Ana Mae contribuiu e continua contribuindo no trabalho dos
professores, conduzindo posicionamentos mais claros sobre a história do ensino da
Arte, objetivando de que todos envolvidos no processo ensino-aprendizagem
percebam as realidades pessoais e sociais, conseguindo lidar com elas de forma
mais crítica e reflexiva.

3 CONCLUSÃO

Verificou-se que o ensino da Arte utilizando a Abordagem Triangular pode


colaborar no desempenho dos alunos, visto que, se trabalhada de forma assertiva,
contribui no desenvolvimento crítico, reflexivo e emocional dos alunos.
A partir dos ensinamentos de Ana Mae, verificou-se que trabalhando os três
eixos da Abordagem Triangular é possível pensar no ensino da Arte como sendo um
recurso de extrema relevância, uma vez que a formulação desta, é trabalhar Arte de
forma contextual, pautada na criatividade, na emoção e na reflexão.
O professor ao aplicar seus conhecimentos, principalmente através de aulas
expositivas, terá a oportunidade de demonstrar aos alunos que a Arte, pode sim, ser
um instrumento educacional. A comparação entre as obras e a identificação desta,
auxiliará os alunos a despertar seu lado crítico, emocional e reflexivo, demonstrando
com isso, a efetividade na aplicação da Abordagem Triangular nas aulas de Arte.

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