A Educomunicação Como Ativadora Da Participação Infantil Proposta Pelo Marco Legal Da Primeira Infância
A Educomunicação Como Ativadora Da Participação Infantil Proposta Pelo Marco Legal Da Primeira Infância
A Educomunicação Como Ativadora Da Participação Infantil Proposta Pelo Marco Legal Da Primeira Infância
O Brasil sempre foi considerado um país jovem, não só pelo seu pouco tempo
de história, mas também pela característica da sua população. Dentro deste
universo, é preciso, no entanto, um olhar ainda mais direcionado, tendo em
vista as mais de 20 milhões de crianças de zero a seis anos que fazem parte da
sua população.
O olhar atento ao que é considerada a primeira infância tem se disseminado
cada vez mais na sociedade, tendo em vista a sua importância para o desenvol-
vimento do ser humano, desde os mais evidentes, como o crescimento físico e
a aquisição da linguagem, até a criação das bases sociais e culturais que funda-
mentarão sua vida adulta.
Esse movimento foi acompanhado de alguns avanços na legislação nas últi-
mas décadas, a fim de se estabelecer um consenso da criança como cidadã
de pleno direito. Em 1988, a Constituição Federal já estabeleceu no seu artigo
227, que: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
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O PROTAGONISMO INFANTOJUVENIL NOS PROCESSOS EDUCOMUNICATIVOS
A educomunicação como ativadora da participação infantil proposta pelo Marco Legal da Primeira Infância
Oportunidades de ação
Apesar dos avanços das legislações, como o próprio Marco Legal da Primeira
Infância, na avaliação do CONANDA, o Brasil ainda precisa refletir sobre a par-
ticipação infantil no processo decisório, buscando construir metodologias ino-
vadoras que tenham capilaridade nos mais diversos espaços, sejam capazes de
abarcar a diversidade que esse público nos apresenta e possam contribuir, de
fato, para a transformação social e a mudança na cultura política.
Isso porque, como destaca CECCON (2018, p.79), a “participação” é uma pala-
vra tabu no país, que causa verdadeira ojeriza aos tecnocratas que a conside-
ram supérflua e, falar em participação de crianças, então, parece o cúmulo da
mais desvairada utopia. Porém, como o próprio especialista aponta, diversas
experiências exitosas, realizadas têm dado voz às crianças e têm comprovado
que elas são perfeitamente capazes de perceber, criticar e propor soluções ino-
vadoras para o ambiente em que vivem.
A educomunicação é um caminho que tem se mostrado oportuno para garantir
essa participação, principalmente por proporcionar e incentivar a liberdade de
expressão das crianças. A prática de produzir comunicação, por exemplo, pode
ser uma proposta eficaz para que as crianças reflitam sobre questões que lhes
interessa e possam falar, divulgar e disseminar o que pensam a respeito. Além
disso, favorecem a interação e interlocução com outros pares, contribuindo,
assim para o seu empoderamento enquanto sujeitos de direitos, tornando re-
conhecido seu direito de participar e de opinar.
E, mais do que isso, pode ser um trajeto interessante também para dissemi-
nar propostas e públicas que garantem direitos, como o próprio Marco Legal
da Primeira Infância. As crianças podem ser porta-vozes dos direitos trazidos
pelo Marco e também “fiscalizadores” da lei, ajudando a divulgar, por meio de
produções educomunicativas, se o Marco está sendo cumprido ou não e cola-
borando na disseminação de informações a respeito, a fim de que ele possa ser
implementado de forma eficaz e eficiente no país.
A educomunicação se apresenta como oportunidade para ajudar a responder,
inclusive, as perguntas geradoras que têm norteado os debates do eixo de “Par-
ticipação” da XI Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente,
que são: 1. O que fazer para garantir participação e protagonismo de crianças
e adolescentes nos espaços de discussão e deliberação de políticas públicas,
considerando as esferas municipais, estaduais, distrital e nacional? 2. O que
fazer para garantir a liberdade de expressão de crianças e adolescentes, asse-
gurando a proteção integral? 3. O que fazer para potencializar a utilização das
novas tecnologias de informação e comunicação como estratégia de ampliação
da participação de crianças e adolescentes? 4. O que fazer para garantir que as
especificidades culturais e identitárias dos diferentes segmentos sejam consi-
deradas nos diversos espaços?
São aspectos e princípios que fazem parte da prática educomunicativa e, por-
tanto, já construídos, testados e vivenciados por escolas, organizações da so-
ciedade civil e governos, que estão à disposição dos gestores públicos que quei-
ram garantir às crianças o seu direito à participação em políticas públicas que
lhes dizem respeito, favorecendo sua autonomia, organização, mobilização e
formação política.
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O PROTAGONISMO INFANTOJUVENIL NOS PROCESSOS EDUCOMUNICATIVOS
A educomunicação como ativadora da participação infantil proposta pelo Marco Legal da Primeira Infância
Referências
CECCON, Claudius. As crianças são o Brasil de hoje: elas não podem esperar. In: Primeira Infân-
cia – Avanços do Marco Legal da Primeira Infância - Série “Cadernos de Trabalhos e Debates”.
Brasília: Centro de Estudos e Debates Estratégicos da Câmara dos Deputados, 2016. Disponível
em: <http://primeirainfancia.org.br/wp-content/uploads/2016/07/Avancos-do-Marco-Legal-
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CONANDA. Documento Base - XI Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescen-
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DIDONET, Vital. Trajetória dos direitos da criança no Brasil – de menor e desvalido a criança
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- Série “Cadernos de Trabalhos e Debates”. Brasília: Centro de Estudos e Debates Estratégicos
da Câmara dos Deputados, 2016. Disponível em: <http://primeirainfancia.org.br/wp-content/
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OUTHWAITE, William. BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento do século XX. Rio de Ja-
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PERUZZO, Cicília. Comunicação comunitária e educação para a cidadania. In: Revista PCLA -
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PROSPERO, Daniele. Educomunicação e políticas públicas: os desafios e as contribuições para
o Programa Mais Educação. Dissertação (Mestrado). São Paulo: Universidade de São Paulo,
2013. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27154/tde-30012014-
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SOARES, Ismar de Oliveira. Educomunicação: o conceito, o profissional, a aplicação – contribui-
ções para a reforma do Ensino Médio. São Paulo: Paulinas, 2011.
Sobre a autora
Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em
Jornalismo Social e em Educação Comunitária, atua há 16 anos em iniciativas voltadas ao inte-
resse público, tanto na produção de conteúdo sobre a área, como na gestão e planejamento
de projetos, principalmente em temas como educação, juventude, comunicação comunitária
e mobilização social para diversas organizações sociais, institutos empresariais e governos. No
campo educacional, atua na formação de professores, além de desenvolver cursos e materiais
pedagógicos. É sócia-diretora da consultoria Estúdio Cais e sócia-fundadora da ABPEducom (As-
sociação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação), membro do Núcleo
de Comunicação e Educação (NCE) da USP e autora do livro: “Galera em Movimento - Uma
turma que agita a transformação social do Brasil (2007)”. E-mail: [email protected]
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