A Possibilidade de Aplicação Do Princípio Da Insignificância À Lesão Corporal Leve e Culposa
A Possibilidade de Aplicação Do Princípio Da Insignificância À Lesão Corporal Leve e Culposa
A Possibilidade de Aplicação Do Princípio Da Insignificância À Lesão Corporal Leve e Culposa
aplicação do princípio da
insignificância à lesão
corporal leve e culposa
La posibilidad de aplicar el
principio de insignificancia a los
daños corporales leves y culposos
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Camila Corrêa Linardi: Pós-graduanda em Política Criminal, Segurança Pública e Direito Penal
– pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC MG. Pós-graduanda em Ciências
Criminais pela Faculdade CERS. Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais - 2022. Graduada em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais – 2018. E-mail: [email protected]. https://orcid.org/0000-
0001-6347-2775.
Rodrigo Murad do Prado: Doutorando em Direito Penal pela Universidad de Buenos Aires
sob a orientação de Eugenio Raúl Zaffaroni e Matias Bailone. Professor de Direito Penal e
Processual Penal em diversas instituições de ensino. Defensor Público do Estado de Minas
Gerais. E-mail: [email protected]
Waldir Severiano de Medeiros Júnior: Doutor em Filosofia do Direito pela FDUFMG.
Professor de Direito no Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), da Universidade Federal
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Revista Pensamiento Penal (ISSN 1853-4554), Noviembre de 2023, No. 492
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Camila Corrêa Linardi, Rodrigo Murad do Prado e Waldir Severiano de Medeiros Júnior
SUMARIO: I.- Introdução; II.- Lesão Corporal; III.- Princípio da insignificância; IV.-
Aplicação do Princípio da Insignificância à lesão corporal leve e culposa na
jurisprudência; V.- Considerações finais; VI. - Referências
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A possibilidade de aplicação do princípio da insignificância à lesão corporal leve e culposa
causes light bodily harm. It was verified that there are jurisprudential precedents to
apply the principle of insignificance to such conducts and there are no doctrinal
obstacles, but the term “light bodily injuries” indicates a large array of harmful results
to an individual’s physical integrity. Moreso, it is necessary to consider the context
in which the conduct happened. The final considerations extracted from this brief
research was that the application of the principle of insignificance to unintentional
bodily harm is possible, but it depends on the context of the conduct and the factual
harm caused by it.
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I.- Introdução
Primeiramente, insta salientar que um dos maiores expoentes do princípio da
insignificância, o autor Claus Roxin, afirma que “de uma forma geral, o problema da
‘criminalidade insignificante’ (Bagatellkriminalität) é uma das questões menos
esclarecidas do Direito Penal” (SOUZA, 2009, p. 26). A própria origem do princípio
é tema de controvérsias, uma vez que alguns autores defendem que ele já vigorava
no Direito Romano, enquanto outros apontam o Iluminismo ou esposam a ideia de
que o princípio teria sido erigido por Claus Roxin (DE-LORENZI, 2015).
2
Segundo Alexander de Castro (2019), a complexidade técnico-dogmático do problema dos crimes
de bagatela levou “a uma diversidade de orientações teóricas, frequentemente perfiladas segundo
as fronteiras nacionais e linguísticas [...]” (DE CASTRO, 2019, p. 58).
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A possibilidade de aplicação do princípio da insignificância à lesão corporal leve e culposa
Isto porque o Direito Penal só deve incidir quando não for possível resolver a
questão por outras vias do Direito, afinal, “ninguém pode negar que a pena é um
mal que se impõe como consequência de um delito. A pena é, sem dúvida, um
castigo. Aqui, não valem eufemismos [...]”3 (MIR PUIG apud CARVALHO e
JORIO, 2014, p. 195) (tradução nossa).
3
“Nadie puede negar que la pena es un mal que se impone comoconsecuencia de un delito. La
pena es, sin duda, un castigo. Aquí no valeneufemismos [...]” (MIR PUIG apud CARVALHO e
JORIO, 2014, p. 195).
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o Direito Penal a ultima ratio de um sistema normativo, ou seja, devendo ser acionado
somente quando os outros ramos do Direito se mostrarem insuficientes para
prevenir a lesão ao bem jurídico (BITENCOURT, 2018).
[...] a pena criminal é uma solução imperfeita – não repara a situação jurídica
ou fática anterior, não iguala o valor dos bens jurídicos postos em confronto e impõe
um novo sacrifício social – assim, deve ser guardada como instrumento de ultima
ratio (LOPES, 2000, p. 79).
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A possibilidade de aplicação do princípio da insignificância à lesão corporal leve e culposa
Lesão corporal consiste em todo e qualquer dano produzido por alguém, sem
animus necandi, à integridade física ou à saúde de outrem. Ela abrange qualquer ofensa
à normalidade funcional do organismo humano, tanto do ponto de vista anatômico
quanto fisiológico ou psíquico (BITENCOURT, 2015, p. 195)
Em outras palavras,
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Camila Corrêa Linardi, Rodrigo Murad do Prado e Waldir Severiano de Medeiros Júnior
É importante destacar que o tipo penal traz uma subdivisão das lesões corporais
dolosas conforme sua gravidade, o que não ocorre com as lesões corporais culposas:
quando o agente não quer o resultado, mas o produz por agir com imperícia,
negligência ou imprudência, ele consequentemente responderá na forma do art. 129,
§6º do CPB de 19404, sendo a gravidade da lesão levada em conta na dosimetria da
pena (BUSATO, 2017).
No que diz respeito aos tipos penais dolosos, destaca Salles Junior que (1998,
p.07): “são os chamados ‘tipos fechados’, dispositivos que descrevem de modo
completo o modelo de conduta proibida (matar alguém, ofender a integridade
física...)”
Destaca-se ainda que o art. 129 do CPB de 1940 não é o único dispositivo legal
a resguardar a integridade corporal e a saúde da pessoa humana, pois tal tutela é feita
também pelo art. 303 da Lei 9.503/97 – Código de Trânsito Brasileiro – que trata da
lesão corporal no trânsito (BRASIL, 2022b).
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Assim, na lesão corporal culposa, tem-se, conforme art. 129 do CPB de 1940: “Ofender a
integridade corporal ou a saúde de outrem: § 6º Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de dois
meses a um ano” (BRASIL, 2022a).
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Se houve dolo na ação do agente, a pena irá variar: Lesão corporal de natureza grave, § 1º Se
resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de
vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena
- reclusão, de um a cinco anos. Lesão corporal gravíssima: § 2° Se resulta: I - Incapacidade
permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III perda ou inutilização do membro,
sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de dois a oito
anos. Lesão corporal seguida de morte. Lesão corporal seguida de morte: § 3° Se resulta morte e
as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-
lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos (BRASIL, 2022a).
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A possibilidade de aplicação do princípio da insignificância à lesão corporal leve e culposa
sem risco pessoal ou dar causa à lesão corporal no exercício de sua profissão ou a
atividade quando estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros.
Assim, as lesões corporais leves são aquelas que, apesar de não gerarem
consequências como debilidade permanente de um membro (art. 129, §1º, inciso III
do CPB) ou perda de membro, sentido ou função (art. 129, §2º, inciso III do CPB),
deixam vestígios que podem ser aferidos por laudo pericial (BUSATO, 2017).
Destarte, torna-se relevante referir-se à tipificação dada pelo art. 129, §§1º e 2º
do CPB/1940 para saber quando se estará diante de lesão corporal leve.
Como citado acima, diz o tipo penal que a lesão corporal será grave se dela
resultar: a) incapacidade para as ocupações habituais6 por mais de trinta dias; b)
perigo de vida; c) debilidade permanente de membro, sentido ou função ou d)
aceleração de parto. Ainda, a lesão corporal será gravíssima se dela resultar: a)
incapacidade permanente para o trabalho; b) enfermidade incurável; c) perda ou
inutilização de membro, sentido ou função; d) deformidade permanente ou e)
aborto.
Desse modo, é possível inferir-se a lesão corporal leve como aquela que não
gera perigo de vida, prejuízo a gravidez ou enfermidade incurável, ainda que gere
debilidade temporária de membro, sentido ou função, enfermidade curável ou
incapacidade para ocupações habituais (que incluem o trabalho) por menos de trinta
dias. É qualquer lesão que seja intensa o bastante para deixar rastros passíveis de
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“Entende-se por ocupação habitual qualquer atividade corporal costumeira, tradicional, não
necessariamente ligada a trabalho ou ocupação lucrativa, devendo ser lícita, não importando se
moral ou imoral, podendo ser intelectual, econômica, esportiva etc.” (CUNHA, 2018, p. 121).
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aferição por laudo pericial, mas não acentuada o suficiente para caracterizar o que a
legislação define como lesão corporal grave ou gravíssima.
[...] o delito, tipificado no artigo 129, §9°, do Código Penal, nada mais é do que
uma qualificação da lesão corporal leve em razão da especificidade dos sujeitos
passivos: ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, com quem o
agressor conviva ou tenha convivido, independentemente de sexo; ou do modo
como é praticado pelo agente: prevalecendo-se das relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade (Medeiros e Melo, 2014, p.52, grifo nosso).
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Sancionada em 7 de agosto de 2006, a Lei 11.340 cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe
sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código
de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal (BRASIL, 2022c).
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A possibilidade de aplicação do princípio da insignificância à lesão corporal leve e culposa
Versa o Código Penal Brasileiro que o crime será culposo quando o agente
lhe der causa por negligência, imperícia ou imprudência. Tem-se que o agente age
com imperícia quando pratica conduta arriscada ou perigosa, deixando de observar
a cautela devida exigida pelas circunstâncias fáticas, ao passo que, na negligência o
agente não pensa na possibilidade do resultado – se abstém de uma cautela que
deveria ser adotada antes do agir, diferentemente da imprudência, que é quando o
agente deixa de adotar uma cautela que deveria ser tomada durante o agir, ao passo
que a imperícia é a ausência de aptidão ou conhecimentos técnicos suficientes para
o exercício de arte, profissão ou ofício (BITENCOURT, 2018).
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Criminais, que conforme determinava o Código Penal, eram de ação penal pública
incondicionada.
Não obstante, após o advento da Lei 9099/95, os crimes de lesão corporal leve
e lesão corporal culposa passaram a ser de ação penal pública condicionada à
representação (Medeiros e Melo, 2014).
Ressalva se faz aos crimes de violência doméstica que, por força da Lei Maria
da Penha, se mantiveram como ação penal pública incondicionada – diz o art. 41 da
Lei 11.340/06 que, aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra
a mulher, não se aplica a Lei 9.099/95. Assim, conforme determina a Súmula 542
STJ, “a ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência
doméstica contra a mulher é pública incondicionada”.
[...] o tratamento dispensado ao crime de lesão corporal culposa, passou a exigir a via
despenalizadora indireta da representação para se instaurar a ação penal, nos crimes de lesão
corporal leve e culposa; introduzindo no sistema processual-penal brasileiro, a composição cível,
transação penal e a suspensão condicional do processo, de modo a debelar a morosidade na resolução
de conflitos da sociedade brasileira (CAMPOS e DESTRO, 2016, p. 437).
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Criados em 2001, os Juizados Especiais servem para julgar causas de menor complexidade que
envolvam o cidadão e os órgãos da Administração Pública Federal, tornando o acesso a justiça
mais ágil e mais democrático.
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A possibilidade de aplicação do princípio da insignificância à lesão corporal leve e culposa
E “se por um lado não se pode duvidar que é muito controvertida a origem histórica da
teoria da insignificância, por outro, impõe-se sublinhar que o pensamento penal vem (há tempos)
insistindo em sua recuperação, (pelo menos desde o século XIX)” (GOMES, 2010, p. 54).
Assim, apesar de sua relação íntima com os crimes patrimoniais, tem-se que,
no ordenamento jurídico brasileiro, uma das primeiras aparições do princípio da
insignificância foi no julgamento de um acidente de trânsito do qual resultou lesão
corporal leve – narra Alexander de Castro que, no Brasil, o princípio adquiriu ares
de generalidade, podendo ser aplicado a diversos tipos penais, referindo-se à
intensidade da lesão ao bem jurídico e, por isso, divergindo da versão formulada por
Roxin, que dizia respeito especificamente à intensidade do meio de execução usado
no crime de Nötigung, §240 StGB9 – ofensa similar ao constrangimento ilegal usado
no Código Penal do Brasil (CASTRO, 2019).
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Abreviação de Strafgesetzbuch, ou “código penal”. Código Penal Alemão.
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Não obstante, em que pese a proteção penal plena que o legislador busca
conferir à integridade física e mental do indivíduo, ou a importância de tal bem
jurídico, tem-se que
[...] até um certo ponto as lesões corporais podem ser suportadas sem compor o sentido material
de sua tipicidade. A questão está no quantum da limitação do direito à integridade corporal ou à
saúde pode quedar comprometido com essa tese. Evidente que o socorro ao princípio da razoabilidade
pode oferecer um caminho seguro para indicação dessa tolerância, mas o recurso a esse princípio exige
uma prefixação de regras. A primeira destas é a observância, quando não de um princípio, ao menos
de um critério de proporcionalidade – marca preponderante dos processos de integração no sentido
material do tipo penal – buscando uma correspondência entre a gravidade da sanção penal
efetivamente prevista para a conduta e o conteúdo oscilante entre os parâmetros formal-material do
tipo em questão (LOPES, 2000, p. 159.)
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A possibilidade de aplicação do princípio da insignificância à lesão corporal leve e culposa
A ofensa ao bem jurídico gerada pela conduta do agente, portanto, deve ser
mínima, a lesão deve ser inexpressiva, sendo necessário também que a ação praticada
não seja dotada de periculosidade social – uma das razões pelas quais se entende,
neste trabalho, que é inviável a aplicação do princípio quando, ainda que culposa, a
lesão resulte de conduta relacionada a crime de ódio.
Isto porque o crime de ódio se distingue do crime comum por violar direitos
humanos de membro da sociedade, intensificando o dano físico experimentado pela
vítima individualmente e reforçando o sentimento de medo e intimidação à
comunidade da vítima (HARDY e CHAKRABORTI, 2017). A motivação da
conduta nestes casos afastaria também o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do
comportamento.
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“É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados
contra a mulher no âmbito das relações domésticas” (BRASIL, S.589 do STJ, 2017).
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Oras, se o princípio pode ser aplicado a lesão corporal leve e dolosa, não há
óbice para que se aplique também quando a conduta do agente for menos gravosa
por ausência de dolo. Todavia, destaca-se a impossibilidade de aplicação do princípio
da insignificância quando a lesão se dá no contexto de violência doméstica, não
apenas conforme o RHC 133043, mas também conforme entendimento sumulado
do STJ (vide S. 589 do STJ/2017, já mencionado anteriormente neste trabalho).
Lado outro, devido ao fato de que a lesão corporal leve é definida por exclusão
(as lesões que não forem severas o bastante para serem classificadas como graves ou
gravíssimas serão lesões corporais leves), há um amplo leque de resultados que
podem ser categorizados como “lesão corporal leve” – que abarca,
exemplificativamente, tanto pequenos arranhões quanto debilidade temporária de
sentido ou função.
Por sua vez, os vetores elencados pelo STF para a aferição da incidência do
princípio afastam a possibilidade de sua aplicação no caso de crimes de ódio, pois
devido à motivação do agente, não há de se falar em reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento.
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VI.- Referências
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1: arts. 1º ao 120. ed. rev. e ampl. São Paulo, SP: Saraiva, 2015.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: volume 2:
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BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Código de Trânsito
Brasileiro. Brasília, DF: Presidência da República, [2022b]. Disponível
em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9503Compilado.htm.
Acesso em: 23 set. 2022.
BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos
para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos
do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e
da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de
Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2022c]. Disponível
em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
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Acesso em: 23 set. 2022.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (2. Turma). Habeas Corpus 43.
605/SP. Habeas corpus. Ementa: Vias de fato – reconhecendo a
sentença que o acusado não desferiu qualquer golpe, contra a vítima,
mas apenas lhe segurou a roupa, do que teriam resultado arranhões
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