PTR04 Aula-09

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AULA 09 - SANTIFICAÇÃO: AS ALTURAS DA FÉ

Leandro Lima

Desde que Adão fez sua escolha, a humanidade mergulhou no abismo do pecado.
O pecado, como transgressão da vontade de Deus, é a coisa mais comum na raça humana
inteira. A Escritura diz: “Todos pecaram” (Rm 3.23). O pecado é um imenso rolo
compressor que nivela todos os seres humanos, quer sejam pobres, ricos, pretos, brancos,
famosos ou desconhecidos. É a realidade mais presente e mais forte deste mundo.
O pecado é o grande agente destruidor da vida, do bem e da existência. Deus criou
o homem sem pecado, isso significa que a realização do ser humano depende de uma
extinção do pecado. Enquanto o pecado habitar a nossa carne, nunca conseguiremos
desenvolver plenamente a nossa humanidade. Desde que esse vírus maligno entrou em
nosso sistema, nunca mais pudemos ser aquilo para que fomos feitos.
Quando falamos em santificação, estamos nos referindo à obra divina, da qual
participamos, pela qual somos libertados da influência do pecado e possibilitados a viver
uma vida para Deus. É a maneira pela qual, dia após dia, Deus vai retirando o apego do
pecado em nossa vida até aquele dia, quando na glorificação, seremos definitivamente
livres dele. Viver em santidade é viver na contramão do mundo.
O Catecismo Maior de Westminster define a santificação como sendo:
Uma obra da graça de Deus, pela qual os que Deus escolheu antes da fundação do
mundo, para serem santos, são, nesta vida, pela poderosa operação de seu Espírito e pela
aplicação da morte e ressurreição de Cristo, plenamente renovados, segundo a imagem
de Deus, tendo as sementes do arrependimento que conduz à vida, e de todas as outras
graças salvíficas implantadas em seus corações, e tendo essas graças de tal forma
dinamizadas, aumentadas e fortalecidas, assim eles morrem cada vez mais para o pecado
e ressuscitam para a novidade de vida. 1
Essa definição é completa e aborda todos os aspectos do ensino bíblico sobre
santificação. O destaque especial foi dado ao poder do Espírito Santo na obra da
santificação, e de fato, é preciso muito poder, para que criaturas acostumadas a ceder ao
pecado consigam vencê-lo. A santidade é o propósito principal de Deus para os seres
humanos nesta vida. Como diz Packer, “é um processo educacional, planejado e
programado por Deus com o propósito de nos refinar, purificar, animar, firmar e
amadurecer. Por meio dele, Deus nos leva, progressivamente, à forma moral e espiritual
que ele quer que alcancemos”. 2
A vida de santidade reflete a conformidade ao alto padrão divino estabelecido para
o regenerado. É viver nas alturas da fé. O profeta Isaías falou sobre o Deus que renova as
forças: “Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os
jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem, mas os que esperam no
senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam,
caminham e não se fatigam” (Is 40.2931). As águias preferem os lugares altos, e somente
esse poder divino de atuação nas nossas vidas pode nos fazer viver nas alturas, acima dos
tropeços da vida terrena.
A santificação precisa ser entendida à luz do ensino sobre a nossa união com
Cristo. A Bíblia diz: “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as

1
Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 75.
2
J. I. Packer. A Redescoberta da Santidade, p. 14.
coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do
alto, não as que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente
com Cristo, em Deus” (Cl 3.1-3). A vida “do alto” é a única aceitável para aqueles que
morreram, ressuscitaram e subiram com Cristo para os lugares celestiais.

Santificação definitiva e progressiva


Antes de vermos o ensino bíblico sobre o desenvolvimento de nossa santificação,
precisamos fazer uma distinção importante. Num sentido, o crente quando é regenerado
e convertido torna-se definitivamente santo. Nesse ponto, devemos entender “santo”
como separado, uma vez que, em Cristo, o crente é separado do mundo e passa a pertencer
a Deus. Nesse sentido a santificação é um ato instantâneo de Deus, simultâneo à
regeneração, à conversão e sinônimo da justificação. Em 1Coríntios 1.2 Paulo fala dos
crentes como estando “santificados em Cristo Jesus”. Quando somos regenerados e
respondemos com arrependimento e fé, Deus nos declara justos, isso é justificação. Se
somos justos, somos também santos, então, no momento de nossa conversão, diante dos
olhos de Deus e por causa da justiça e da santidade de Cristo, passamos a ser
completamente santos, pelo menos da ótica do julgamento divino.

A morte do velho homem


A santificação definitiva também pode ser vista no sentido de que, na conversão,
rompemos definitivamente com o mundo e passamos a pertencer integralmente a Deus.
Em nossa união com Cristo, experimentamos uma santificação que significa morte para
o pecado e vida para Deus. As palavras de Paulo nesse sentido em Romanos 6 são: “Assim
também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus.
(Rm 6.11). A conversão, portanto, é um rompimento instantâneo e definitivo em relação
ao pecado, é um ato de santificação definitiva.
Hoekema define santificação definitiva como: “Não só um rompimento com o
pecado, mas uma definitiva e irreversível união com Cristo na sua ressurreição – uma
ressurreição por meio da qual o crente é habilitado a viver em novidade de vida (Rm 6.4)
e por causa da qual ele se tornou uma nova criatura (2Co 5.17)”.3 Uma nova criatura, de
acordo com Paulo, é alguém que “está em Cristo”, e que, portanto, “as coisas antigas já
passaram; eis que se fizeram novas” (2Co 5.17). A partir do momento em que alguém se
encontra nessa união com Cristo, deixou de ser uma “velha criatura”. O “velho homem”
morreu dentro dele, pois as coisas antigas ficaram para trás. Há uma novidade que
permeia toda a vida da pessoa, pois durante toda a vida, o convertido será, diante de Deus,
uma nova criatura. Não haverá um momento em que ele voltará a ser uma “velha
criatura”, pois, ele foi santificado e continuará santo diante de Deus durante toda a sua
vida. Isso é santificação definitiva. 4

A renovação do novo homem


Porém, a santificação também é progressiva. O aspecto progressivo deve ser visto
como uma demonstração visível da realidade invisível. Já somos santos em Cristo Jesus,
agora precisamos evidenciar no dia-a-dia essa realidade de santidade.
Hoekema define santificação progressiva como: “A graciosa operação do Espírito

3
Anthony Hoekema. Salvos Pela Graça, p. 211.
4
Por essa razão a Bíblia chama os crentes de santos (Sl 16.3; At 9.32; Rm 16.2; 2Co 8.4;
Ef 1.1; Cl 1.2; 1Tm 5.10; Hb 6.10; Jd 3; Ap 11.18).
Santo, envolvendo nossa participação responsável, pela qual ele nos livra da poluição do
pecado, renova toda nossa natureza inteira segundo a imagem de Deus, e habilita-nos a
viver de forma a agradá-lo”.5 E Hodge diz: “Portanto, a santificação consiste em duas
coisas: primeira, a eliminação progressiva dos princípios do mal que ainda infectam nossa
natureza, e a destruição de seu poder; e, segunda, o crescimento do princípio espiritual
até controlar os pensamentos, sentimentos e atos, e conformar a alma segundo a imagem
de Cristo”.6 Fomos santificados em Cristo Jesus, mas o pecado ainda habita em nosso
corpo, e por isso, precisamos vencê-lo. Isso quer dizer que somos santos e pecadores ao
mesmo tempo? Sim, do mesmo modo como já dissemos que somos justos e pecadores ao
mesmo tempo. Um modo de entender isso é pensar no que Bavinck fala a respeito da
diferença entre status e condição. 7 Uma vez justificados, dispomos do status de
santificados, mas como o pecado ainda habita em nós, nossa condição ainda é de
pecadores. O ponto é que “quem comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34), mas o
verdadeiro crente já não é mais escravo do pecado, pois foi liberto pela verdade de Jesus
(Jo 8.32; Rm 6.14). Mas, o pecado ainda está em nossos membros, pois de fato, “todos
tropeçamos em muitas coisas” (Tg 3.2). João diz: “Se dissermos que não temos pecado
nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” (1Jo 1.8). Isso
pode levar a uma dúvida: Se somos unidos com Cristo, se Cristo é Santo, mas nós
continuamos pecadores, a vida de Cristo dentro de nós não se corrompe? A resposta é
não. Strong está certo ao afirmar que “a vida de Cristo não se corrompe pela corrupção
dos seus membros como o raio de luz não se contamina na imundície com a qual ele entra
em contato”.8
Geralmente a Bíblia, nas passagens em que ensina a santificação definitiva, nos
conclama à santificação progressiva, por isso dissemos que santificação é tornar visível
uma graça invisível. Em Romanos 6 Paulo manda os crentes se considerarem “mortos
para o pecado” (Rm 6.11), e em seguida ele diz: “Não reine, portanto, o pecado em vosso
corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os
membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a
Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como
instrumentos de justiça” (Rm 6.12-13). A realidade da santificação definitiva precisa se
manifestar progressivamente através da vitória sobre o pecado. Como já vimos, em
Colossenses 3.1-3 Paulo demonstrou claramente a realidade do crente como morto e
ressuscitado em Cristo, porém, em seguida ele insiste: “Fazei, pois, morrer a vossa
natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que
é idolatria” (Cl 3.5). Logo adiante ele volta a misturar os assuntos: “Agora, porém,
despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência,
linguagem obscena do vosso falar. Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes
do velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se refaz para o
pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Cl 3.8-10). Os crentes não
devem viver em pecado porque se despiram do velho homem. A realidade do velho
homem já não existe mais, o que existe é o novo homem, porém, esse novo homem precisa
se desenvolver. Santificação definitiva é o ato de se despojar do velho homem,
santificação progressiva é essa renovação contínua do novo homem, que se desenvolve
5
Anthony Hoekema. Salvos Pela Graça, p. 199.
6
Charles Hodge. Teologia Sistemática, p. 1188.
7
Hermann Bavinck. Teologia Sistemática, p. 521.
8
Augustus H. Strong. Teologia Sistemática, vol. 2, p. 506.
para alcançar a semelhança de Deus.
Podemos falar da santificação definitiva como o aspecto legal pelo qual somos
declarados santos, e da santificação progressiva como o efeito visível, pelo qual o crente
se torna santo. Nossa salvação depende do aspecto legal, porém, o aspecto legal não
acontece sem que se desenvolva o aspecto visível. Nesse ponto é válida a discussão sobre
as “boas obras”. Evidentemente não somos salvos por elas, mas também não somos salvos
sem elas. A salvação é pela graça mediante a fé e não por obras, como Paulo deixa bem
claro em Efésios 2.8-9. Porém, o verso 10 diz que fomos criados para boas obras. Deus
nos criou, ou melhor, nos recriou para andarmos em boas obras que ele mesmo preparou.
Somos salvos pela fé, porém, essa fé muda a vida das pessoas. Se uma pessoa diz que
crê, mas não muda de vida é porque não crê, afinal, a fé sem obras é morta (Tg 2.26). Ou
como disse Jesus: “Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos
espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a
árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore
má produzir frutos bons” (Mt 7.16-18). Jesus sempre demonstrou que a realidade interna
se manifesta externamente.

Obra de Deus e do homem


Deus é o autor da santificação. A Escritura é muito clara ao afirmar isso: “O
mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam
conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5.23).
Como diz Bavinck, “a santificação, portanto, é uma obra de Deus, uma obra tanto de
sua Justiça, quando de sua Graça. Ele atribui Cristo e todos os Seus benefícios a nós, e
depois ele compartilha conosco toda a plenitude que está em Cristo”. 9 Portanto, Deus é o
responsável pela santificação do homem, por isso Jesus orou ao Pai: “Santifica-os na
verdade, a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).
Ao mesmo tempo, porém, a santificação é nossa responsabilidade. Primariamente
é um dom divino, secundariamente é nossa obrigação. A Bíblia nos manda aperfeiçoar a
santidade: “Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza,
tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (2Co
7.1). O autor aos Hebreus coloca as coisas nesses termos: “Segui a paz com todos e a
santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). É nossa responsabilidade
buscar a santificação, pois como já demonstramos anteriormente, ela é necessária porque
demonstra que realmente houve conversão. Se alguém não foi santificado, não foi
convertido, e portanto, não pode ser salvo.
Em Filipenses 2.12-13, encontramos os dois aspectos da santificação (obra divina
e obra humana): “Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha
presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com
temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar,
segundo a sua boa vontade”. Os crentes são chamados à continuar obedecendo e
desenvolvendo a salvação com temor e tremor. A expressão “desenvolver a salvação” só
pode se referir ao aspecto da santificação. Eles devem desenvolver algo que já receberam.
Já foram santificados, mas agora precisam evidenciar a santidade. O aspecto de temor e
tremor aponta para a diligência com que essa tarefa deve ser encarada. Um crente deve
fazer todos os esforços necessários para viver em santidade. Ao mesmo tempo em que
aponta para isso, Paulo também explica a origem divina da santificação, dizendo que
Deus opera tanto o querer quanto o realizar. O “querer” é a vontade, e o “realizar” é a

9
Hermann Bavinck. Teologia Sistemática, p. 523.
materialização da vontade. Esses dois aspectos somente acontecem porque Deus os
possibilitou através de sua operação, portanto, santificação é obra de Deus e obra do
homem.

Meios de santificação

Precisamos agora pensar nos instrumentos que podem nos ajudar a aperfeiçoar a
nossa santificação. Inicialmente falaremos dos falsos meios, aqueles que o homem usa de
forma deturpada.

Falsos meios de santificação


Na teologia reformada se estabelece que a Lei pode ser usada na santificação. Este
é o chamado “Terceiro Uso da Lei”. Ela como a expressão máxima da revelação da
vontade de Deus pode realmente nos ajudar no processo de santificação. Mas, se ela for
usada do modo errado, ao invés de ajudar atrapalhará.
Como os fariseus do tempo de Jesus, também nos dias de hoje as pessoas usam a
lei no sentido de usos e costumes. Na teologia reformada a lei tem seu uso na santificação,
como um meio de revelar a vontade de Deus para a nossa vida. Porém, quando a lei, ou
qualquer outra regulamentação, é usada no sentido de “usos e costumes”, se torna
instrumento que desvia a atenção das pessoas da centralidade do Senhor Jesus; nesse
sentido é algo que não provém de Deus, e por mais que tenha uma aparência de piedade,
religiosidade ou boa intenção, deve ser considerado algo mundano, perverso e
demoníaco.
Nesse sentido o Apóstolo Paulo enfrentou sérios problemas com os cristãos da
cidade de Colossos. Parece que os crentes de Colossos estavam sendo assediados por
algumas pessoas que estavam se esquecendo da centralidade absoluta de Cristo. Paulo
fala dessas pessoas como tendo “raciocínios falazes” (Cl 2.4), e como sendo portadoras
de uma filosofia cheia de vãs sutilezas, que era “segundo a tradição dos homens, conforme
os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Cl 2.8). Da carta aos Colossenses,
entendemos que estas pessoas ensinavam que os crentes deveriam observar certas
práticas, sem as quais, não seriam salvos. Entre as muitas coisas exigidas estava a
abstinência de alimentos, a participação em cerimônias religiosas, a observação do
Sábado (Cl 2.16), e muitas outras práticas que Paulo não relata detalhadamente (Cl 2.21).
O grande problema dessas práticas é que elas não tinham valor algum (Cl 2.23), e
ainda desviavam a atenção das pessoas da centralidade e da suficiência de Cristo para a
salvação. Transformavam-se em obras humanas que queriam complementar a Obra de
Cristo. Por isso o Apóstolo Paulo explicou aos colossenses o valor infinito e suficiente da
Pessoa e da Obra de Cristo. Ele diz que Jesus “é a imagem do Deus invisível” (Cl 1.15),
em quem “reside toda plenitude” (Cl 1.19), e onde “todos os tesouros da sabedoria e do
conhecimento estão ocultos” (Cl 2.3). Assim, o Apóstolo incentiva os cristãos de
Colossos a permanecerem em Cristo (Cl 2.6), e não se deixar enredar pelas mentiras e
invenções dos homens. E principalmente não se deixar desviar da pessoa de Jesus como
“único” e “suficiente” Salvador. Cristo é suficiente para a salvação e para a santificação.
Paulo dá os motivos pelos quais os costumes que os colossenses eram
incentivados a praticar, não tinham qualquer valor. Primeiramente, ele diz que eram
apenas sombras (Cl 2.17). Nesse ponto ele está falando da utilização dos rituais do Antigo
Testamento. Qual é a utilidade da sombra? Ela dá uma vaga ideia de como o objeto que
a reflete é. Por exemplo, quando alguém está se aproximando e não podemos vê-lo, mas
apenas a sua sombra, podemos ter uma ideia de quem é. Neste caso a sombra é útil. Mas,
quando podemos ver a própria pessoa, que importância tem a sombra? Assim eram os
ritos e cerimônias do Antigo Testamento. Eram sombras de Jesus, oferecendo uma noção
para os crentes daquela dispensação, sobre como seria o Messias e qual seria a sua obra.
Mas, agora que Cristo já veio, por que voltaríamos a observar as sombras? Paulo diz:
“Ninguém vos julgue por causa de...”. As pessoas que acham necessária a observação de
certas práticas costumam julgar os outros. Essas pessoas colocam ênfase numa série de
regulamentações nas quais a observância rígida é absolutamente necessária para a
salvação, ou pelo menos para a plenitude da vida cristã. Quando o texto fala em comida,
bebida, dia de festa, lua nova ou sábados, está se reportando principalmente as práticas
do Antigo Testamento, em que havia regulamentações para todas essas coisas. É provável
que, em Colossos, houvesse uma mistura entre práticas do Antigo Testamento e novas
práticas ascéticas, as quais falsos mestres estavam querendo obrigar os colossenses a
obedecer.
Segundo a argumentação de Paulo, as coisas do Antigo Testamento eram apenas
sombras da realidade que já existe e que é Cristo. Assim não havia motivos para
ordenanças com respeito a comida, uma vez que o Pão da Vida já havia vindo (Jo
6.35.48). Não havia necessidade da observância da páscoa como meio para o
aperfeiçoamento espiritual porque “Cristo nosso cordeiro pascal já foi imolado” (1Cor
5.7). Nem mesmo havia motivo para se impor sobre os novos convertidos a observância
do sábado judeu, pois aquele que veio trazer o descanso definitivo já veio (Mt 11.28-29,
Hb 4.8,14). A sombra, ou seja, aquelas práticas do Antigo Testamento queriam apenas
apontar para Cristo, mas agora já se podia ver o próprio “corpo de Cristo” (vs. 17), e por
isso elas já não tinham mais razão de ser. E, como disse Hendriksen “se isto era verdade
em relação às regulamentações do Antigo Testamento, certamente o era muito mais no
que tange às regulamentação humanas, de caráter ascético que estavam sendo
sobrepostas, acrescentadas e em alguns casos até substitutivas da lei de Deus”.10 Tudo
isso era um grande erro porque, ao ser enfatizada a necessidade dessas coisas, a plena
suficiência de Cristo estava sendo negada.
O segundo argumento de Paulo para a inutilidade das práticas legalistas e ascéticas
é que elas não têm base verdadeira (Cl 2.18-19). Não há apoio algum na Escritura para a
prática destas exigências. Mas, então, em que se baseiam os defensores dessas práticas?
O Apóstolo Paulo diz: Em falsa humildade, no culto dos anjos, em visões, no vazio da
sua mente carnal. Novamente Paulo diz, “que ninguém vos julgue”, o sentido é, “que
ninguém vos desqualifique”. Ou seja, Paulo quer que os crentes não se sintam abatidos
quando alguém lhes diz: “Já que vocês não querem obedecer ao que nós estamos
exigindo, então vocês não estão qualificados para o cristianismo, vocês não são crentes
verdadeiros”. O curioso é que eles argumentam que esses costumes são um sinal de
humildade, mas Paulo diz: Essa humildade é apenas um pretexto, ela é falsa, pois ela quer
fazer você inferior a eles. Um outro argumento usado para convencer os colossenses era
o culto dos anjos. Os anjos eram, na crença dos povos que moravam próximos dos
colossenses, os governadores astrais e operadores de milagres. Assim, o nome dos anjos
era usado para tentar convencer os crentes a obedecer àquelas práticas. Um outro
argumento eram as visões. Diziam que haviam recebido aquelas ordens em visões, e
assim todos deveriam obedecer. Se alguém ousasse contradizer, diriam: “Mas tivemos tal
e tal visão”. Isso se parece muito com o sistema de “revelações”, na moda atualmente
10
William Hendriksen. Colossenses e Filemom, p. 158.
entre os evangélicos. Segundo Paulo, na verdade essas pessoas eram “enfatuadas, sem
motivo algum, na sua mente carnal”. Enfatuado quer dizer cheio de si, mas Paulo diz:
“cheio de si sem motivo algum”. Essa pessoa não é espiritual, pois não retém a cabeça
(vs.19), ou seja, não tem nada a ver com Cristo. Seus motivos são carnais, não são os
motivos de Cristo. Em Cristo sim, há crescimento para todo o corpo, somente nele, e
através dele pode existir o verdadeiro crescimento espiritual que procede de Deus.
Paulo ainda argumenta que essas práticas representam um retrocesso (Cl 2.20-22).
Por isso ele insiste: “Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que,
como se vivêsseis no mundo, vos sujeitai a ordenanças: não manuseies isso, não proves
aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens?”. Se Paulo
já havia dito que a própria lei de Deus, como um instrumento de acusação, havia sido
cancelado e encravado na cruz (Cl 2.14), que se dirá então desses preceitos, que eram
verdadeiros “rudimentos do mundo”, coisas pueris, inventadas pelos homens? É como se
Paulo dissesse: “Vocês já morreram para o mundo, mas agora estão querendo voltar para
ele? Estão retrocedendo ao prestar obediência a essas coisas vãs. Quando viviam no
mundo vocês eram preocupados em não fazer isso ou aquilo, querendo agradar aos
deuses, pensando que pelas suas próprias forças conseguiriam benefícios. Mas, agora que
vocês já entenderam que a salvação é pela graça, por causa do sacrifício de Jesus, não
tem sentido ficar correndo atrás dessas coisas sem valor”. Esse tipo de religião baseada
em regras, em costumes, em observâncias, é uma religião mundana, uma religião terrena,
ela não se baseia na Bíblia, mas nos costumes dos homens, às vezes sob pretexto de
humildade, revelações, etc. O Apóstolo Paulo diz: Não retrocedam, não voltem para traz.
Sigam crendo que apenas Cristo é suficiente para a salvação e progresso na fé, pois esta
é a verdadeira religião espiritual.
E por fim, o último argumento de Paulo contra estas práticas ascéticas e legalistas
é que elas não produzem resultado benéfico algum (Cl 2.23). Elas em nada colaboram
para a santificação. O único resultado que produzem é o de deixar as pessoas orgulhosas,
pensando que somente elas estão certas, e que todos os que não seguem os seus costumes
estão errados. Paulo diz: “Estas cousas com o uso se destroem”. Não há valor algum em
seguir mandamentos exigidos pelos homens, pois que não são exigidos pela Palavra de
Deus. Como disse Hendriksen: “O ponto de todo este ensinamento não é apenas mostrar
que tais ordenanças feitas por homens e as doutrinas das quais se derivam são sem valor,
mas também e enfaticamente são piores do que sem valor, isto é, são na realidade
prejudiciais”.11 Tudo o que essas coisas têm é apenas aparência. Elas parecem sabedoria,
mas de fato não são. São apenas “culto de si mesmas”, ou seja, não visam a glória de
Deus, apenas a glória das pessoas. Não passam de um rigor ascético, sem qualquer valor,
e não produzem qualquer efeito contra a sensualidade. Não vão ajudar alguém a ser mais
santo. A única vantagem que algo assim teria, uma vez que não pode contribuir para a
salvação, seria ajudar na santificação, entretanto, a Bíblia diz que elas não ajudam nisso,
então, realmente são completamente sem valor.

Meios indispensáveis de santificação


No processo de nos santificar, Deus faz uso de alguns meios. Os principais são: A
Palavra, a Fé, a Oração e a Disciplina.
O principal meio divino para a nossa santificação é a verdade. Jesus orou:
“Santifica-os na verdade” (Jo 17.17). A verdade, segundo Jesus, é a própria Palavra de

11
William Hendriksen. Colossenses e Filemom, p. 167-168.
Deus. É através da sua Palavra que Deus nos santifica. Daí a importância crucial da
pregação para o crescimento, edificação e santificação do povo de Deus. Por isso, na
teologia reformada, a pregação da Palavra é considerada um meio de graça, ou seja, uma
maneira pela qual Deus concede sua graça ao seu povo. O salmista já tinha plena
consciência da função da Palavra na área da santificação, pois ele diz: “De que maneira
poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando o segundo a tua palavra” (Sl
119.9). E disse ainda: “Firma os meus passos na tua palavra, e não me domine iniquidade
alguma” (Sl 119.133). O conhecimento e a firmeza na Palavra de Deus conduzem
naturalmente à santidade. Paulo também entendia a plena importância da Palavra para a
santificação: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus
seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16-17). Tudo o que
precisamos a fim de que sejamos repreendidos, corrigidos, educados e habilitados está na
Palavra de Deus. Tudo o que um crente precisa para ser o mais aperfeiçoado possível, ele
encontra na Bíblia. Ela é o grande instrumento de santificação que Deus nos deu.
Outro meio apropriado para nossa santificação é a fé. Muitos podem pensar que a
fé apenas nos conduz à justificação, mas, a verdade é que ela é necessária para nossa
santificação também. De fato, “o Evangelho nada exige de nós além de fé, a confiança de
coração na Graça de Deus em Cristo. A fé não apenas nos justifica, mas também nos
santifica e nos salva”.12 Isso equivale a dizer que santificação não é necessariamente
questão de esforço pessoal, mas de fé. Quanto mais fé, mais santos, pois quanto mais fé,
mais desfrutamos dos benefícios de Cristo. O texto de Atos 26.18 fala dos crentes como
sendo “santificados pela fé” em Jesus. Embora nesse aspecto, o texto se refira à
santificação definitiva que acontece juntamente com nossa justificação, também é
verdade que pela fé somos santificados diariamente. O motivo não é difícil de entender.
Todo pecado que o cristão possa cometer, em última instância, é por falta de fé. Jesus
costumava advertir as pessoas com respeito a essa questão de ter fé pequena. Ele disse
que se preocupar primordialmente com questões de comida, bebida e vestuário era
evidência de fé pequena (Mt 6.25-30). Também em momentos quando eles estavam
desesperados por alguma situação, como quando enfrentavam a tempestade no mar da
Galileia, Jesus disse que só estavam amendrontados porque eram homens de pequena fé
(Mt 8.26; 14.31). É difícil pecarmos quando nossa fé e confiança no Senhor estão no nível
máximo. Nossa fé no Senhor é o instrumento pelo qual o Senhor evidencia sua vida em
nós. Quando Paulo disse que já não era ele quem vivia, mas que Cristo vivia nele,
complementou: “E esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus,
que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20). É pela fé que experimentamos
a mais íntima união com Cristo que nos habilita a confiar nele, de forma que ele manifeste
sua vida em nós, e consequentemente, nossa santificação aparecerá, pois ele é santo.
Precisamos sempre nos lembrar de nossa união com Cristo, pois “a morte de Cristo tem
poder não apenas para justificar, mas também para santificar”. 13 Uma pessoa pode se
esforçar sobremaneira, mas nunca vencerá o pecado se não tiver suficiente fé em Jesus.
Um outro aspecto fundamental na santificação é a oração. A oração é o momento
mais íntimo de comunicação com Deus que o homem pode ter. É o momento quando o
homem tem uma audiência com Deus, e o Todo-Poderoso condescende em lhe ouvir as
súplicas. Ela é a chave para o crescimento espiritual e para a santificação. Mas,
infelizmente, o modo como as pessoas normalmente oram prejudica bastante esse

12
Hermann Bavinck. Teologia Sistemática, p. 529.
13
Hermann Bavinck. Teologia Sistemática, p. 522
crescimento.
Os discípulos temiam orar de forma errada, por isso procuraram o mestre e lhe
pediram que os ensinasse a orar. Jesus ensinou: “Portanto, vós orareis assim: Pai nosso,
que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade,
assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas
dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em
tentação; mas livra-nos do mal pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém!”
(Mt 6.9-13). Ao contrário do que às vezes se pensa, essa não era uma oração que deveria
ser decorada e repetida. É um molde, um modelo eficaz de oração, ao qual as orações dos
crentes devem se conformar. Por trás desses princípios está o segredo do poder espiritual.
Classicamente, a oração que Jesus ensinou tem sido dividida em uma introdução,
uma conclusão e sete petições. As três primeiras petições dão toda a prioridade para a
glória de Deus. Isso é no mínimo impressionante, posto que, frequentemente, nossas
orações se ocupam apenas conosco mesmos. Quando Jesus ensina a orar pela santificação
do nome de Deus, pela vinda do Reino e pela consumação da vontade de Deus para o
mundo, está demonstrando que um crente precisa entender que essas coisas são
prioridades sobre todas as demais. É incrível que, praticamente metade da oração se ocupe
somente com essas coisas. Quando temos acesso às listas de orações nas igrejas,
percebemos que os pedidos que monopolizam essas listas são todos de ordem física,
econômica ou familiar. De fato, como os discípulos, precisamos que Jesus nos ensine a
orar. Alguns crentes em suas orações se utilizam de métodos estranhos à Palavra de Deus.
Fazem muito barulho e não dizem nada. Ou pior, tentam dar ordens para Deus. Às vezes
se ouve algo assim: “Senhor, eu determino que essa benção me seja dada”, “Eu não aceito
essa enfermidade”, ou “Eu exijo essa cura”, etc. Enquanto isso, Jesus ensinou a orar: Seja
feita a tua vontade... A quarta petição da oração dominical é a que trata das questões
físicas. Há apenas um pedido: “O pão nosso de cada dia nos dá hoje”. O pão representa
nossas necessidades básicas, aquilo que realmente precisamos. O pedido diário denota
absoluta dependência da provisão divina e um reconhecimento disso. Embora Deus esteja
interessado em nossas necessidades, o fato é que geralmente nossas orações são muito
desequilibradas, pois há muito para nós e pouco para Deus. Por fim, os últimos três
pedidos se voltam para as coisas do Espírito. A primeira preocupação é com o perdão dos
pecados, uma preocupação que, cada vez mais, a igreja tem menos. A segunda
preocupação é com segurança espiritual para evitar quedas em tentação. E a última suplica
livramentos dos ataques diretos do maligno. Esse modelo de oração é vital para uma vida
de santidade, pois se preocupa com a glória de Deus em primeiro lugar, e dá mais ênfase
ao aspecto espiritual da vida, do que ao aspecto físico. O modo como os crentes têm orado
traz pouco benefício espiritual para eles, pois geralmente, as preocupações principais são
físicas. Como disse Calvino, nesta Oração, “o Senhor nos deu uma forma conveniente de
orar, na qual compreendeu brevemente tudo o que convém pedir a Deus, e o dispôs em
poucas petições.”14
Uma das formas que Deus usa para nos santificar é sua disciplina. Hebreus 12.10
diz: “Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da
sua santidade”. A expressão “disciplina” tem a ver com a provisão divina para nosso
crescimento, incluindo as repreensões, a dor e o sofrimento. Deus permite que isso nos
sobrevenha para que sejamos santos como ele é santo (Lv 20.7; 1Pe 1.16). Quando
enfrentamos lutas, sofrimentos ou momentos de repreensão, achamos algo doloroso, e
ansiamos pelo momento quando seremos livres dessas coisas. O autor aos Hebreus
entedia isso: “Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria,
14
Calvino, Catecismo de Genebra, Perguntas 255 e 256
mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela
exercitados, fruto de justiça” (Hb 12.11). Quando na Igreja, a disciplina é exercida sobre
a vida das pessoas que cometeram faltas graves, isso pode parecer ofensivo para muitos
que estão poluídos pelo espíri-to moderno liberal, mas sem a disciplina, a pessoa terá
grandes dificuldades em se re-cuperar espiritualmente. A ausência da dis-ciplina
demonstra falta de amor, pois o pró­prio Deus diz: “Eu repreendo e disciplino a quantos
amo” (Ap 3-19). E o autor aos He­ breus lembra: “Mas, se estais sem correção, de que
todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos” (Hb 12.8). Como
Pai amoroso, Deus disciplina seus fi-lhos para que mudem de atitudes, e sejam
santificados.

O propósito divino na santificação


Por que Deus deseja que sejamos santos? A resposta é: Porque ele é santo (1Pe
1.16). Essa resposta simples contém uma verdade imensa. Primeiramente devemos pensar
que é desejo de Deus nos reconduzir à sua imagem e semelhança. Sabemos que o homem
foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26), e que após a queda, essa imagem
se deturpou. Deus deseja, a partir de sua obra redentora, santificar-nos a tal ponto que
essa imagem seja inteiramente restaurada em nós. É verdade que essa tarefa só estará
plenamente realizada na vida do mundo porvir. Porém, ainda nessa vida, pela influência
do Espírito Santo, podemos experimentar uma renovação que gradualmente nos
transforma e nos assemelha a Cristo. Paulo disse que esse, inclusive, era o objetivo pelo
qual Deus concedeu dons aos homens: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros
para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao
aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo
de Cristo, Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho
de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.11-
13). Deus concedeu dons à sua igreja para que os membros do corpo de Cristo cresçam a
ponto de chegarem à semelhança máxima com Jesus.
Tornar os crentes semelhantes a Jesus era algo que já estava incluído na própria
eleição, como podemos ver de Romanos 8.29: “Porquanto aos que de antemão conheceu,
também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele
seja o primogênito entre muitos irmãos”. E em 2Coríntios 3.18, encontramos a declaração
de que “Todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória
do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo
Senhor, o Espírito”. A ideia de imagem é justamente a ideia de reflexo. Podemos dizer
que Adão e Eva antes da queda refletiam perfeitamente o criador. Agora, pelo processo
da santificação, somos transformados de glória em glória, para refletirmos cada vez mais
e melhor a imagem do Senhor.
Deus deseja que sejamos santos porque isso tem a ver com seu supremo propósito
para esse mundo. Deus tem um propósito estabelecido para esse mundo que inclui a
eliminação do pecado, a extinção da morte e a recriação dos céus e da terra. Ou seja, Deus
deseja que uma nova era se instale. A Bíblia a chama de “a era vindoura”, ou “mundo
vindouro” (Lc 20.35; Ef 1.21; Hb 6.5). O que sabemos é que nesse lugar habitará
plenamente a santidade. E nós já estamos experimentando na vida aqui o status
daquele mundo futuro. Já experimentamos a realidade daquele novo mundo ainda dentro
desse velho mundo, assim como já experimentamos a realidade do novo homem dentro
de um corpo velho. Santificar-se é viver a vida da era vindoura, é viver para o que
realmente fomos chamados. Santificação é viver muito acima da mediocridade deste
mundo, é viver nas alturas da fé.

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