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RELATÓRIO DE PESQUISA

Adriana Aparecida Pinto

Pós-Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História UNESP Assis/SP


(2017-2018)
Prof. Dra. Tania Regina de Luca, supervisor

Setembro/2018
2

Sumário

Atividades desenvolvidas.......................................................................................03

Relatório da Pesquisa.............................................................................................15

Parte I - A IMPRENSA EM MATO GROSSO: ITINERÁRIO DE PESQUISA E UMA


HISTÓRIA A SER ESCRITA .....................................................................................13

Parte II - OS INTELECTUAIS MATO-GROSSENSES A PARTIR DA IMPRENSA:


ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE E CIRCULAÇÃO DE IDEIAS...............................38

2.1 Os espaços de sociabilidade e a circulação de ideias: a efervenscência dos


lugares........................................................................................................................49

2.2 A imprensa e as sociabilidades femininas.............................................................71

Parte III – DIÁLOGOS INTERNACIONAIS: OS INTELECTUAIS MATO-


GROSSENSES E SUAS REDES DE SOCIABILIDADES ALÉM FRONTEIRAS .....65

Parte IV - OS INTELECTUAIS MATO-GROSSENSES E SEU LUGAR NA HISTÓRIA


REGIONAL ..............................................................................................................103

4.1 A História Regional em jornais semanais........................................................114

CONCLUSÃO ..........................................................................................................120

FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................123


3

1. Resumo do Projeto de Pesquisa


A presente proposta de estudo tem como objetivo dar continuidade e refinamento aos
interesses de pesquisa acerca da imprensa periódica de circulação geral em Mato
Grosso, em nível de Pós-Doutorado, no tocante à investigação de aspectos que,
embora possam ser isolados como objetos de análise historiográfica, inter-relacionam-
se na convergência de um cenário comum – a configuração cultural do território mato-
grossense, entre os anos de 1880 a 1920. Ao tomar a imprensa como fonte principal
para a compreensão dos embates educacionais (PINTO, 2001; 2013; 2017),
silenciados em fontes de outra natureza, busca-se apreender em que medida esses
dispositivos foram utilizados para a promoção e difusão do ideário que reforçava a
busca da modernidade e alçar as localidades em que circulavam à condição de país
civilizado. Partimos do pressuposto que, em Mato Grosso, a imprensa deve ser
colocada ao lado dos progressos materiais que gradativamente chegaram ao território
na segunda metade do século XIX, constituindo-se ela mesma num agente
transformador. Os jornais difundiam os ideais das instâncias políticas e do poder,
representados pelas famílias tradicionais, que se alternavam na direção do estado e
se ramificavam pelas municipalidades. Os jornalistas, categoria, à época, ainda fluída
em termos profissionais, desfrutavam de legitimidade social, pois se vinculavam à
produção, circulação e divulgação de valores (MICELI, 2001). Interessa, nesta
comunicação, apresentar a ação de proprietários de jornais, editores, colaboradores,
articulistas, entendidos como intelectuais, “no sentido do escritor ou erudito que se
posiciona sobre questões públicas” (BURKE, 2016, p. 51). Partindo de uma
conceituação ampla de intelectuais, tal como proposta por Jean-François Sirinelli
(1998, 2003), incluem-se professores e educadores profissionais nessa investigação.
Nesse constructo, ampliam-se ainda o feixe para a compreensão das relações que
esta imprensa estabelecia com países estrangeiros, a partir da observância de
publicação de notícias estrangeiras nos impressos periódicos mato-grossenses, com
destaque para a imprensa francesa, posto que jornais mato-grossenses da década de
1880 traziam notas sobre a França (VIDAL;LUCA, 2012), em coluna publicada com
periodicidade regular, alimentada a partir da manutenção de um correspondente local
em França. Nesse sentido, esta apresenta o levantamento preliminar acerca e análise
dos sujeitos intelectuais “por trás” das notícias publicadas nas páginas de jornais
mato-grossenses, entre os anos de 1880 a 1920. Buscam-se repostas para os
seguintes questionamentos, dentre outros: De que localidade eram oriundos; Eram
todos mato-grossenses; Havia mulheres; Havia emigrantes, “pau-rodados” na
expressão regional; Que formação possuíam e em quais campo do saber atuavam,
para além do ofício de jornalista; Em que medida constituíram um grupo de
intelectuais, identificados e/ou reconhecidos pela sociedade mato-grossense,
consolidando o que Roger Chartier (1990, 1991, 1995, 2003, 2014) qualifica como um
conjunto de práticas e representações culturais, por intermédio da circulação dos
impressos periódicos. Interessa, sobremaneira para este estudo, compreender se a
vinculação destes jornalistas às lides da instrução – pública ou particular - o lhes
confere algum tipo de grau diferenciado e posição social no cenário local e regional.

2. Atividades desenvolvidas ao longo do período do pós doc:


O ingresso no Pós-Doutorado em História possibilitou a inserção da pesquisadora em
espaços de atuação profissional que ainda não havia sido feitas. Houve convites para
participação em bancas de Mestrado e Doutorado

2.1 Proposição de Simpósios Temáticos


2.1.1 Imprensa, Impressos e História das Mulheres: diálogos transdisciplinares
Evento: VI Congresso Internacional de História – História e os desafios do século XXI
Período: 31 de julho à 03 de agosto de 2018 – Universidade Federal de Goiás –
Campus de Jatai
Resumo: A presente proposta de Simpósio Temático(ST) se inscreve na intenção de
promover diálogos entre três abordagens da pesquisa histórica, a saber: estudos
com/sobre impressos, em especial àqueles que tem na imprensa de circulação geral
ou especializada (LUCA, 2005, 2010, 2012; PINTO, 2013, 2016) sua principal
característica comunicativa - jornais e revistas -, alinhavados pelos estudos históricos
sobre história das mulheres a partir da categoria analítica gênero para pensar
mulheres, corpos, poderes representações (PERROT, 1988; SCOTT,1992;
RAGO,2013; BIDASECA, 2014; COLLING et TEDESCHI, 2015). Partimos do
pressuposto de que a imprensa e os impressos são fundamentais na constituição dos
sistemas de significação coletiva e individual e de representações sobre os espaços
que se inserem, congregando em si forte carga disseminação de valores, normas e
modos de proceder que integram os contextos sociais em que circulam e são dados
a ler (CHARTIER, 1998, 2001, 2003) e, por muitas vezes, apropriadas como valores
e padrões do seu tempo. Pretendemos reunir estudos de graduação e pós-graduação,
para dialogar em torno de uma vertente de diálogos transdisciplinar, ampliando o
conhecimento sobre trabalhos que congregam estudos sobre história das mulheres e
questões relativas ao gênero a partir do exame da tipologia documental atinente aos
impressos.
2.1.2 Ensino de História e Formação de Professores: práticas, vivências e
desafios para o século XXI (com doutoranda Larissa Klosowski de Paula)
Evento: Encontro Regional da Anpuh Seção Mato Grosso do Sul
Período: 08 a 10 de outubro 2018 – Universidade Federal da Grande Dourados -
UFGD
Resumo: O presente simpósio tem por objetivo, a propósito do tema central que
direciona as discussões gerais do evento, apresentar possibilidades de discutir uma
das faces de formação do/a profissional do campo da História – a de professor/a de
história. Para tanto, busca congregar pesquisadores interessados/as em compartilhar
vivências e possibilidades relacionadas às práticas do ensino de história em níveis e
modalidades de ensino distintos (ensino fundamental, médio superior, cursos
presenciais, à distância, educação de jovens e adultos, educação especial, dentre
outros), projetos de pesquisa, ensino e extensão, ao lado de programas direcionados
à instrumentalização do ensino, a exemplo do Pibid, ampliando o conhecimento sobre
esses saberes e fazeres do cotidiano docente, bem como promovendo estudos
acerca do ensino de história e suas perspectivas para o século XXI. Dada a atual
conjuntura sociopolítica, que se reflete sobremaneira no cenário educacional, vimos
observando constantes ataques aos projetos voltados à formação de professores,
operados pelo desmonte das políticas públicas que antes as colocavam em certa
condição de preocupação social. A implantação da Base Comum Curricular Nacional
(2018), expansão da oferta do ensino à distância, em nível médio e em larga escala,
em nível superior, a precarização do trabalho docente, dada pelas diretrizes do
Programa Residência Pedagógica (2018) conclamam os pesquisadores em formação
e experientes a organizar e fomentar discussões acerca dessa temática, as quais são
de suma importância e que dialogam com premissas constitutivas da educação
histórica e seus meandros para o desenvolvimento de consciências históricas não
autoritárias, voltadas à formação dos sujeitos. A proposta assenta-se, no campo
teórico, nos estudos recentes que vem sendo desenvolvidos por grupos consolidados
no campo teórico-metodológico, com destaque para o grupo de pesquisa Oficinas de
História (UERJ/RJ) e o Grupo de Trabalho Ensino de História e História da Educação
(GTEH), da Anpuh, cuja sessão regional em Mato Grosso do Sul participamos ao lado
de outros pesquisadores de Universidades sediadas no Estado. Por fim, amplia-se,
em boa medida, no diálogo com a história e historiografia da educação brasileira,
concepções de história dos documentos norteadores da educação, formação de
consciência histórica, materiais didáticos e paradidáticos para o ensino de história,
entre outros eixos, colaboram para enriquecer o diálogo que alinha práticas do
passado, possibilidades do presente e expectativas para o futuro do ensino de história.

2.2 Participação em Bancas


CASTRO, Elton. Exame de Qualificação Doutorado. Programa de Pós-Graduação em
Educação. UNESP/Rio Claro.
Setembro, 2017.
Orientadora: Vera Teresa Valdemarin.

MAIA, Willianice Soares. As margens do silencia: a ação evangelizadora e de


escolarização das Servas de Maria Reparadora na educação acreana (1920-1970).
Exame de Qualificação. Programa de Pós-Graduação em Educação, UEMS,
Paranaíba.
Dezembro, 2017.
Orientador: Ademilson Batista Paes

CASTRO, Elton. Inovação e Hibridez: a disseminação da Escola Primária em Mato


Grosso (1945-1965): Grupos Escolares, Escolas Reunidas, Escolas Isoladas. Tese de
Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação. UNESP/Rio Claro.
Abril, 2018.
Orientadora: Vera Teresa Valdemarin.

LOPES, Gabriella Assumpção da Silva Santos. Modos, formas e costumes para a


educação feminina nas páginas da Revista Popular – Rio de Janeiro (1859-1862).
Exame de Qualificação. Programa de Pós-Graduação em História, UFGD, Dourados.
Agosto, 2018.
Orientadora: Adriana Aparecida Pinto.
SOUSA, Ana Gonçalves. Por uma (ou várias) histórias das mulheres a partir da
imprensa: papeis sociais e representações no jornal A Tribuna – Rondonópolis/MT.
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História, UFGD,
Dourados.
Abril, 2018.
Orientadora: Adriana Aparecida Pinto.

ROCHA, Paola Rolon. Criação e Expansão das instituições escolares de ensino


primário em Três Lagoas (1920-1970). Exame de Qualificação. Programa de Pós-
Graduação em Educação, UFMS, Dourados.
Agosto, 2018.
Orientadora: Margarita Victoria Rodriguez

2.3 Participação em Eventos como conferencista/palestrante

2.3.1 Mesa Redonda: Ensino de História: Gêneros e Feminismos


Evento: MULHERES, GENEROS E FEMINISMOS – UFGD - Dourados
Coordenação: Prof. Dr. Losandro Antonio Tedeschi
06 a 08 de novembro de 2017

2.3.2 Palestra por vídeo conferência: Abordagens metodológicas para a pesquisa em


história da educação a partir do uso dos impressos” Universidade de Pernambuco –
Campus de Petrolina
Coordenação: Prof. Dra. Virginia Pereira da Silva de Ávila
20 de fevereiro de 2018

2.3.3 Palestra “Perspectivas de análise da circulação de ideias pedagógicas” no


evento Seminário de Pesquisas do Grupo GEPCIE – Unesp Araraquara
Coordenação: Prof. Dra. Vera Teresa Valdemarin
22 de fevereiro de 2018

2.4 Participação em Eventos com comunicação oral (textos publicados)


2.4.1 LOPES, Gabriella Assumpção da Silva Santos., PINTO, Adriana Aparecida.
“Mulheres em Revistas no Rio de Janeiro”: A Educação Feminina nas Páginas da
Revista Popular (1859-1862) In: MOTTA, Marcia Maria Menendes; PEREIRA, Raquel
Alvitos; REIS, Thiago de Souza dos. (orgs.) Encontro Internacional e XVIII Encontro
de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias. Editora: Anpuh-Rio,
Período: 27 a 30 de Julho de 2018.

2.4.2 PINTO, Adriana Aparecida. DEBONA, Jackson. CULTURA ESCOLAR E


FRONTEIRAS SIMBÓLICAS: descendentes paraguaios e a escola pública em
Dourados, MS: o caso da Escola Municipal Januário Pereira de Araújo. (submetido)
IV Encontro Leitura de Fronteiras – UFGD/ULA - Assumpcion -Paraguay
Período: Novembro de 2018
2.4.3 PINTO, Adriana Aparecida. GOMES, Michel. ENTRE IMPRESSOS,
EDUCAÇÃO E INFÂNCIAS: notas da imprensa acerca da movimentação de crianças
na Guerra do Paraguai (1850-1860). 2018
(submetido)
IV Encontro Leitura de Fronteiras – UFGD/ULA - Assumpcion -Paraguay
Período: Novembro de 2018

2.4.4 PINTO, Adriana Aparecida. A INSTRUÇÃO/EDUCAÇÃO E A IMPRENSA


PERIÓDICA EM MATO GROSSO: DIÁLOGOS E CONTENDAS.
EHECO – UEMS – Campo Grande, MS
Período: Novembro de 2017

2.4.5 PINTO, Adriana Aparecida. Imprensa, Intelectuais e História em Mato Grosso:


Rede de Sociabilidades e Circulação de Ideias (1880-1920).
(submetido) ST 07. História da Imprensa e a Imprensa na História
Encontro da Anpuh Regional – sessão Mato Grosso do Sul
Período: 08 a 10 de outubro de 2018 – UFGD - Dourados
A presente comunicação busca apresentar, por meio do diálogo com a imprensa
periódica de circulação geral em Mato Grosso, aspectos que, embora possam ser
isolados como objetos de análise historiográfica, inter-relacionam-se na convergência
de um cenário comum – o desenho das redes de sociabilidade, lidas por meio da
imprensa e a configuração cultural do território mato-grossense, entre os anos de 1880
a 1920. Ao tomar a imprensa como fonte principal para a compreensão dos embates
educacionais (PINTO, 2001; 2013; 2017), silenciados em fontes de outra natureza,
busca-se apreender em que medida esses dispositivos foram utilizados para a
promoção e difusão do ideário que reforçava a busca da modernidade e alçar as
localidades em que circulavam à condição de país civilizado. Partimos do pressuposto
que, em Mato Grosso, a imprensa deve ser colocada ao lado dos progressos materiais
que gradativamente chegaram ao território na segunda metade do século XIX,
constituindo-se ela mesma num agente transformador. Os jornais difundiam os ideais
das instâncias políticas e do poder, representados pelas famílias tradicionais, que se
alternavam na direção do estado e se ramificavam pelas municipalidades. Os
jornalistas, categoria, à época, ainda fluída em termos profissionais, desfrutavam de
legitimidade social, pois se vinculavam à produção, circulação e divulgação de valores
(MICELI, 2001). Interessa, nesta comunicação, apresentar a ação de proprietários de
jornais, editores, colaboradores, articulistas, entendidos como intelectuais, “no sentido
do escritor ou erudito que se posiciona sobre questões públicas” (BURKE, 2016, p.
51). Partindo de uma conceituação ampla de intelectuais, tal como proposta por Jean-
François Sirinelli (1998, 2003), incluem-se professores e educadores profissionais
nessa investigação, os quais, por meio de seus lugares de atução profissional,
estabelecem redes de sociabilidade que se espraiam pelo território.

2.5 Participação em Eventos (ouvinte)

2.5.1 Evento: VI Colóquio de Pós-Graduação em Letras Imprensa Feminina


Organização: Programa de Pós-Graduação em Letras – UNESP/Assis
Coordenação: Prof. Dra. Tania Regina de Luca
28 de setembro de 2017.

2.5.2 Evento: Imprensa, Imagem e Acervos de Revistas: desafios e possibilidades


interpretativas
Organização: Programa de Pós-Graduação em História/ Centro de Documentação e
Apoio à Pesquisa – CEDAP – Unesp Assis
Coordenação: Prof. Dra. Tania Regina de Luca
25 de abril de 2018.

2.5.3 Evento: III Seminário de História da Educação e Workshop de pesquisa em


Ensino Secundário
Organização: Programa de Pós-Graduação em Educação FAED/UFGD/GEPHEMES
Coordenação: Eurize Pessanha/Alessandra Cristina Furtado/Kenia Hilda Moreira
Período: 06 a 08 Agosto de 2018.

3. Atividades de pesquisa: onde fez pesquisa e o que pesquisou (acervos)

 Acervos
 Arquivo Público de Mato Grosso – Cuiabá
 Casa Barão de Melgaço – Cuiabá
 Palácio da Instrução – Cuiabá

4. Plano de leituras

O plano de leituras será evidenciado no corpo do texto (Parte II) que apresenta os
resultados da pesquisa, tendo em vista a necessidade em leituras do campo teórico e
metodológico da História, face à dimensão de análise e investigação do objeto
proposto, houve investimento significativo em leituras no campo conceitual sobre
história dos intelectuais, atualização da produção bibliográfica acerca dos estudos
sobre impressos, de natureza periódica ou não.

5) Trabalhos publicados, aceitos para publicação ou submetidos

5.1 PINTO, Adriana Aparecida. POR UMA CARTOGRAFIA DA INSTRUÇÃO


PÚBLICA: As Mensagens de Presidentes de Estado anunciando a organização da
educação em Mato Grosso (1890-1910) In: ALVES, Miriam Fabia. PINTO, Rubia-Mar
Nunes. (orgs) HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E ESCOLA PÚBLICA: TRAJETÓRIAS
EM CONSTRUÇÃO
Tipologia da publicação: capítulo de livro
Submetido em maio de 2018, aguardando aprovação da Editora da UFG, previsão
de publicação 2019.
Resumo: Este trabalho apresentar algumas análises das referências ao campo
educacional, identificadas a partir das Mensagens dos Presidentes de Estado a
Assembléia Legislativa de Mato Grosso, demonstrando como tais textos podem se
configurar em fonte e objeto de estudo produtivos para o pesquisador em História da
Educação regional. Orientando o recorte temporal nos anos iniciais da República
(1890) findando no período que antecede ao governo de Pedro Celestino (1910),
considerado o mais promissor no campo da instrução em Mato Grosso, tornou-se
possível demonstrar que os alicerces para as ações deste governante naquela matéria
já estavam assentados, não se iniciando a partir de seu governo. As Mensagens de
Presidente representaram importante dispositivo de descrição das atividades
desenvolvidas pelos governantes no poder; guardam em si, a própria definição do
lugar oficial da produção do discurso, marcado por temas que integram a agenda de
interesses no campo político educacional do período. A cartografia das Mensagens
nos permite mapear uma massa documental de natureza dos impressos e, com o
auxílio do referencial teórico metodológico, vislumbrar um conjunto de saberes e
práticas culturais no que tange à instrução, expressos direta e indiretamente nos
cenários político em que se inscrevem. Permite, por fim, potencializar a escrita da
história da educação no cotejamento desta fonte com a de outras naturezas como
impressos periódicos.
Palavras-chave: história da educação em Mato Grosso; Mensagem de Presidente de
Estado.

5.2 PINTO, Adriana Aparecida. ILUSTRES ANÔNIMOS: IMPRENSA,


INTELECTUAIS E A CIRCULAÇÃO DE IDEIAS EM MATO GROSSO (1880-1920).
Submetido ao Dossiê Temático organizado por Jaqueline Zarbato, para Revista
Opsis, GO
Tipologia da publicação: artigo de periódico
Aprovado

Resumo: Por meio da investigação histórica, o presente artigo indica possibilidades


de análise da imprensa periódica de circulação geral, no que diz respeito à
compreensão do papel dos intelectuais em um cenário comum – a configuração
cultural do território mato-grossense entre os anos de 1880 a 1920. Parte-se da
premissa que a imprensa deve ser colocada ao lado dos progressos materiais
indicativos da modernidade, que gradativamente chegaram ao território a partir da
segunda metade do século XIX. Os jornais mato-grossenses difundiram os ideais das
instâncias políticas e do poder, representados pelas famílias tradicionais, que se
alternavam no poder e se ramificavam pelas municipalidades. No entanto, os
jornalistas, categoria fluída em termos profissionais, desfrutavam de legitimidade
social, pois se vinculavam à produção, circulação e divulgação de valores (MICELI,
2001), sendo também formadores de opinião e, na concepção que orienta este texto,
intelectuais-mediadores/medidores culturais. Interessa discutir como profissionais de
áreas distintas constituíram-se como editores, colaboradores, articulistas, integrando
a categoria de intelectuais, partindo de uma conceituação proposta por Jean-François
Sirinelli (1998, 2003).
Palavras-chave: Imprensa Periódica; intelectuais mediadores; jornais; Mato Grosso.
5.3 PINTO, Adriana Aparecida. FAUSTINO, Paula. SOUSA, Ana. (orgs)
Desdobrando impressos: mulheres, educação e história. Submetido para
avaliação em maio de 2018, resultado previsto para agosto de 2018, previsão de
publicação 2019.
Tipologia da publicação: Livro e capítulo de Livro
Obs: disputando Edital 04/2018 para publicação com ônus da Editora da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul.
(submetido)

5.4 FALCO, Sthefany. PINTO, Adriana Aparecida. Itinerários de pesquisa e a revista


Matto-Grosso (1904-1915): a educação feminina e um projeto educacional em Mato
Grosso. In: PINTO, Adriana Aparecida. FAUSTINO, Paula. SOUSA, Ana. (orgs)
Desdobrando impressos: mulheres, educação e história.
(submetido)

5.5 LOPES, Gabriella Assumpção da Silva Santos, PINTO, Adriana Aparecida.


“Mulheres em Revistas no Rio de Janeiro”: A Educação Feminina nas Páginas da
Revista Popular (1859-1862) In: MOTTA, Marcia Maria Menendes; PEREIRA, Raquel
Alvitos; REIS, Thiago de Souza dos. (orgs.) Anais do Encontro Internacional e XVIII
Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias. Editora: Anpuh-Rio, 2018.
ISBN: 978-85-65957-10-6

5.6 LOPES, Gabriella Assumpção. PINTO, Adriana Aparecida. “Mulheres em Revistas


no Rio de Janeiro”: A Educação Feminina nas Páginas da Revista Popular (1859-
1862) In: MOTTA, Marcia Maria Menendes; PEREIRA, Raquel Alvitos; REIS, Thiago
de Souza dos. (orgs.) Caderno de Resumos do Encontro Internacional e XVIII
Encontro de História da Anpuh-Rio: História e Parcerias. Editora: Anpuh-Rio. 2018.
ISBN: 978-85-65957-09-0

5.7 PINTO, Adriana Aparecida. DEBONA, Jackson. CULTURA ESCOLAR E


FRONTEIRAS SIMBÓLICAS: descendentes paraguaios e a escola pública em
Dourados, MS: o caso da Escola Municipal Januário Pereira de Araújo. 2018
Aprovado

5.8 PINTO, Adriana Aparecida. GOMES, Michel. ENTRE IMPRESSOS, EDUCAÇÃO


E INFÂNCIAS: notas da imprensa acerca da movimentação de crianças na Guerra do
Paraguai (1850-1860). 2018
Aprovado

5.9 SOUSA, Ana Gonçalves. PINTO, Adriana Aparecida. As mulheres nas páginas
da imprensa de Rondonópolis/MT: um estudo sobre representações e papeis
sociais na década de 1980*
ISBN: 1981-2434
5) Resultados da Pesquisa (Ver Parte II)
Objetivos
Geral:

Discutir e analisar o papel desempenhado pela imprensa mato-grossense no final do


século XIX e início do XX, a partir dos percursos editoriais e itinerários de circulação
de seus autores, revelados por meio da análise dos jornais da época, com o intuito de
compreender quem escrevia nos periódicos, o que escreviam e a que interesses
respondiam, ou seja, trata-se de delimitar a ação e os papéis sociais desses
indivíduos, grupo predominantemente constituído por homens, o que explicita o lugar
secundário das mulheres e a dominação de gênero que então imperava no campo
intelectual em processo de formação. Essa problemática pode ser desdobrada num
conjunto de objetivos específicos, a saber:

 Identificar os principais colaboradores dos seguintes jornais mato-grossenses


(Ver Tabela nº 1), entre os anos de 1880-1920;
 Constituir a trajetória de formação dos editores desses jornais, buscando
perceber suas referências literárias e a posição política ocupada no cenário
mato-grossense do período;
 Compreender os diversos campos de atuação profissional desses sujeitos, já
que muitos dos colaboradores dos jornais não tinham na imprensa sua
atividade principal;
 Identificar as diferentes redes de sociabilidade desses autores, editores e
articulistas, no sentido de conhecer os meios profissionais e culturais pelos
quais circulavam, bem como suas referências em termos nacionais e
internacionais, ou seja, qual o repertório que mobilizavam para analisar o país
e Mato Grosso em particular;
 Investigar os impressos periódicos, com atenção especial ao jornal O
Corumbaense, no sentido de investigar que tipo de notícias, valores difundia
sobre a França, visto que publicava com regularidade e em coluna especial,
notícias daquele país;
 Identificar e mapear entre esses intelectuais os que também eram professores
e precisar qual o campo de saber no qual atuavam;

6) Fontes apresentadas no projeto original, alteradas conforme expresso no


Relatorio de Pesquisa

A Provincia de Matto Grosso. Edições de 1880 a 1890. Arquivo Público do Estado


de Mato Grosso. Cuiabá: APMT, 2010.
O Brazil. Edições de 1900 a 1910. Corumbá. Arquivo Público do Estado de Mato
Grosso (Cuiabá), 2010.
O Corumbaense. Edições de 1880 a 1890. Corumbá. Arquivo Público do Estado de
Mato Grosso. Cuiabá: APMT, 2010.
O Matto Grosso. Edições de 1890 a 1920. Cuiabá. Arquivo Público do Estado de
Mato Grosso. Cuiabá: APMT, 2010.
Republicano. Edições de 1890 a 1920. Cuiabá. 2010. Arquivo Público do Estado de
Mato Grosso. Cuiabá: APMT, 2010; Arquivo Público do Estado de Mato Grosso do
Sul. Campo Grande: APE-MS, 2011.
O Expectador. Edições de 1880 a 1890. Cuiabá. 2010. Arquivo Público do Estado
de Mato Grosso. Cuiabá: APMT, 2010; Arquivo Público do Estado de Mato Grosso do
Sul. Campo Grande: APE-MS, 2011.
Oasis. Edições de 1880 a 1900. Corumbá. Arquivo Público do Estado de Mato Grosso.
Cuiabá: APMT, 2010.
O Iniciador. Edições de 1880 a 1900. Corumbá. Arquivo Público do Estado de Mato
Grosso. Cuiabá: APMT, 2010.
Tribuna. Edições de 1910 a 1920. Corumbá. Arquivo Público do Estado de Mato
Grosso. Cuiabá: APMT, 2010.
Autonomista. Edições de 1900 a 1910. Corumbá. Arquivo Público do Estado de Mato
Grosso. Cuiabá: APMT, 2010.
RELATÓRIO DE PESQUISA

Parte I - A IMPRENSA EM MATO GROSSO: ITINERÁRIO DE PESQUISA E UMA


HISTÓRIA A SER ESCRITA

Ao sinalizar que “o dever de um jornal não é exclusivamente procurar dar o que


agradar, é também e principalmente procurar dar o que é util, o que pode produzir
proveitosos fructos, ou que ao menos sirva para despertar o gosto e o amor pelas
letras”1 a imprensa mato-grossense dos anos finais do século XIX, colocava-se como
importante veículo de educação, comunicação e circulação de ideias no cotidiano
citadino.
Os estudos realizados em pesquisas anteriores2 forneceram indicativos de que
a imprensa entre os séculos XIX e XX, em Mato Grosso, foi terreno fértil para a
produção de saberes e circulação de ideias, disseminando valores, leituras de mundo,
práticas culturais e posturas políticas. Entendendo que essa tipologia documental –
impressos de natureza periódica – auxilia na compreensão de fatores opacionados
em outro tipo de documentação, o presente relatório evidencia a continuidade e
refinamento aos interesses de pesquisa acerca da imprensa periódica de circulação
geral em Mato Grosso, no tocante à investigação de aspectos que, embora possam
ser isolados como objetos de análise historiográfica, inter-relacionam-se na
convergência de um cenário comum – a configuração cultural do território mato-
grossense, entre os anos de 1880 a 1920, pautando-se nas possibilidades de
pesquisa com e sobre a imprensa (jornais), com recorte temático centrado no papel
daqueles que a movimentavam, analisados neste estudo, a partir da categoria de
“intelectuais mediadores”3.

1 O Corumbaense, n. 60, 16/02/1881, p. 01.


2 PINTO, Adriana Aparecida. Nas páginas da imprensa: instrução/educação nos jornais em Mato
Grosso: 1880-1910. Tese (Doutorado em Educação Escolar) – Universidade Estadual Paulista,
Faculdade de Ciências e Letras, UNESP, 2013 Araraquara, SP e ______. Imprensa e Ensino: catálogo
de fontes para o estudo da história da educação mato-grossense. Dourados, MS: EdUFGD, FUNDECT,
2017.
3 GOMES, Angela de Castro. História & Historiadores. 1ª. reimpr. Rio de Janeiro: Editora Fundação

Getúlio Vargas. 2013. GOMES, Angela de Castro; HANSEN, Patrícia. (orgs.) Intelectuais Mediadores:
práticas culturais e ação política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.
A circulação de ideias e pessoas pode ser amplamente capturada no exame de
jornais de períodos recuados, ainda que pesem a dificuldade de identificação de
autoria, a irregularidade na sequência das publicações e o próprio acesso à
documentação, por vezes encontrada em condições de leitura limitadas e acervos
distintos. Estudos realizados forneceram indicativos de que a imprensa entre os
séculos XIX e XX, em Mato Grosso, foi terreno fértil para a produção de saberes e
circulação de ideias, disseminando valores, leituras de mundo, posicionamentos
políticos e práticas culturais4.
Mesmo com produção modesta quando comparada aos Estados de São Paulo,
Rio de Janeiro e Minas Gerais, Mato Grosso, figura nos Anuários Estatísticos
Brasileiros (1908-1912), entre os Estados que contam com atividades editoriais desde
a primeira metade do século XIX. Os primeiros jornais mato-grossenses datam de
1839/40, com circulação iniciada em Cuiabá, com frequência e regularidade limitadas
e edições nem sempre contínuas. Moraes destaca que, entre os anos de 1839 a 1878,
circularam em Mato Grosso aproximadamente 13 jornais, nas décadas seguintes
(1878-1920) o número de títulos aumenta vertiginosamente, passando à 73 em
circulação5. Essa profusão de títulos pode ser, em boa medida, atribuída ao
desenvolvimento de novos centros urbanos, mesmo nas cidades portuárias que
sediam boa parte dos jornais em circulação no período, e ao surgimento de Partidos
Políticos, Ligas, Associações Literárias, Dramáticas e Científicas que alimentavam as
notícias do cotidiano mato-grossense, bem como protagonizaram embates com
setores estabelecidos na sociedade, como a Igreja e grupos políticos antagônicos.
Não se pretende, neste estudo, fazer a história da imprensa ou do jornalismo
de Mato Grosso: muito embora considera-se que o campo histórico ainda deve realizar
essa tarefa, visto que a produção acessível se encontra alicerçada em trabalhos
produzidos até a década de 1970, culminando com “A Imprensa de Mato Grosso” de
Pedro Rocha Jucá, originalmente publicado em 1986 e reeditado como edição

4 Sobre o tema vale ainda consultar o texto “A legislação de imprensa desde o Brasil Colônia até a
época de Vargas” parte integrante do Anuário da Imprensa Brasileira, disponível no CPDOC/FGV,
consultado em janeiro/2011. Consta do documento a relação de nomes de cidadãos mato-grossenses
cadastrados e registrados como jornalistas. Ver: Anuário da Imprensa Brasileira, 1939, p. 65 (FGV,
2011).
5 MORAES, Sibele. O Episcopado de D. Carlos Luiz d’AMOUR (1878-1921). Dissertação (Mestrado

em História) Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2003. p. 31.


comemorativa do centenário da Imprensa em Mato Grosso6. Outrossim, parte do
princípio que os sujeitos históricos envolvidos com a imprensa durante o período de
40 anos, compreendidos neste trabalho, qualificados como intelectuais por suas
ideias, trajetórias individuais e coletivas, ações em grupos diversos do seu campo de
formação/atuação profissional, mobilidade social que desfrutaram durante as décadas
de 1880 à 1920, reforçam o uso do conceito em seu entendimento mais
contemporâneo - intelectuais mediadores -, como sugerem Gomes & Hansen7,
Schueler8, amparadas em Jean-François Sirinelli9.
A proposta abre caminhos para estudos futuros sobre história e educação em
Mato Grosso, conforme delineado por Ângela Castro Gomes, quando sinaliza, a
propósito de sua pesquisa para o concurso de professora titular na UFF, o interesse
em “integrar os “pensadores da história”10 sujeitos afastados do campo intelectual,
mas qualificados como “intelectuais de seu tempo”11, por sua posição no campo
cultural, político e social, e, por sua participação ativa, como pretendemos demonstrar,
na imprensa regional. Corroboramos, assim, com o encaminhamento de Gomes, ao
sinalizar que “o oficio de historiador era executado por uma categoria mais abrangente
de intelectuais: dos ‘homens de letras’”12.
A imprensa figura como um espaço de alocação, formulação e divulgação da
dimensão político-social, em primeira instância, mas também cultural. Carlos Vieira
afirma que os congressos e publicações dos últimos 20 anos já tem sinalizado a
importância e continuidade dos debates sobre o tema dos intelectuais “retirando das
sombras personagens e cenários antes desconhecidos. ”13

6 JUCÁ, Pedro Rocha. Imprensa oficial de Mato Grosso: 170 anos de história. (com ilustrações).
Cuiabá: Aroe, 2009. Disponível em: <http://www.iomat.mt.gov.br>. Acessado em: 10 de maio de 2010.
7 GOMES & HANSEN, op. cit., 2016.
8 SCHUELER, Alessandra Martinez de. Práticas de escrita e sociabilidades intelectuais: professores-

autores na corte imperial (1860-1890). Anais V Congresso Brasileiro de História da Educação.


Aracaju. 2008.
9 SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, René. (org.) Por uma história política.

Tradução Dora Rocha. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003.


10 GOMES, op.cit., 2013, p. 10.
11 GOMES, op.cit., 2013, p. 38.
12 Ibid., p. 38.
13 VIEIRA, Carlos Eduardo (org.). Intelectuais, educação e modernidade no Paraná (1886-1964).

Curitiba: Ed. UFPR, 2007. p. 08.


Sobre a importância da imprensa e sua representatividade como força
dominante nos processos de produção e circulação do conhecimento, Sergio Miceli
assevera:
Não havendo, na República Velha, posições intelectuais autônomas
em relação ao poder político, o recrutamento, as trajetórias possíveis,
os mecanismos de consagração, bem como as demais condições
necessárias à produção intelectual sob suas diferentes modalidades,
vão depender quase que por completo das instituições e dos grupos
que exercem o trabalho de dominação. Em termos concretos, toda
vida intelectual era dominada pela grande imprensa, que constituía a
principal instancia de produção intelectual da época e que fornecia a
maioria das gratificações e posições intelectuais. Os escritores
profissionais viam-se forçados a ajustar-se aos gêneros havia pouco
importados da imprensa francesa: a reportagem, a entrevista, o
inquérito literário e, em especial, a crônica.14

Importa destacar que os marcos cronológicos-periodizadores, em boa medida,


se diluem no tratamento do tema, visto que alguns dos intelectuais mapeados durante
a pesquisa, conforme evidenciado nas tabelas e gráficos ao longo do texto,
movimentam-se intensamente pela imprensa, mas mantem ocupações diversas ao
longo do período.
No sentido de fornecer mais informações acerca do cotidiano de circulação dos
jornais, apresenta-se o quadro abaixo:

Quadro 1 – Circulação e especificidades dos jornais mato-grossenses entre os anos de


1880 a 1920
Período de Período Valor das assinaturas
Jornal/ circulação em Valor Circulação
Localidade estudo avulso Dia da semana Mensal Trimes. Semes. Anual
A Provincia de Ano I – 1879 1880-1890 $400 Semanal * * 8$000 15$000
Matto Grosso Ano XI - 1889 Domingo
(Cuiabá)
O Ano I - 1895 1890-1920 $200 Semanal * * 8$000 15$000
Republicano Ano IV - 1899 Quinta e
(Cuiabá) Interrupção Domingo
Ano I - 1916
Ano VIII -
1950
Oasis Ano I - 1888 1880-1900 * * * * * *
(Corumbá) Ano IX - 1896
A Reacção Ano I - 1902 1900-1920 * periódica * 6$000 * *
(Cuiabá) Ano 1913 Domingo
O Autonomista Ano I - 1904 1900-1910 Semanal * 5$000 9$000 17$000
(Corumbá) Ano V - 1909 sábado
O Ano I - 1880 1880-1890 $160 Uma vez por 1$000 * 8$000 14$000
Corumbaense Ano IX - 1889 semana
(Corumbá) Domingos

14MICELI, Sergio. Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 17. (grifos
nossos).
O Brazil Ano I - 1902 1900-1910 Semanal
(Corumbá) Ano VIII -
1910

Fonte: PINTO, 2018.


*a informação não consta nas edições examinadas

Na tabela é possível observar o registro dos títulos examinados, com enfoque


no período de circulação entre os anos de 1880 a 1920; dias da semana em que
vinham à público, valores comerciais praticados para venda avulsa e/ou modalidades
de assinatura. Todos esses aspectos foram analisados à luz do período em que
circulam os jornais, classificados metodologicamente por décadas de estudo, o que
favoreceu compreender, na medida do possível, as continuidades e rupturas do
projeto editorial em exame. A proposta de estudo inicial contemplava 10 títulos, mas
em virtude do volume de dias de publicação de três títulos dos jornais examinados,
alguns deles chegando à 350 edições no período mencionado, considerou-se
oportuno restringir o escopo documental para aqueles que apresentassem maior
regularidade na publicação, resultando nos 7 títulos acima sinalizados.
O investimento de produção e circulação desses impressos demandavam alto
custo e sua impressão, até certo período, não era feita em Mato Grosso. Ainda no que
concerne à circulação dos periódicos selecionados, esta não se cingiu à capital
Cuiabá, sede de boa parte dos títulos, mas também à Corumbá, por seu papel
preponderante na organização social, política, econômica e cultural de Mato Grosso.
As cidades de Cuiabá e Corumbá ocuparam postos de destaque na
configuração política e econômica do Estado, em virtude de serem importantes
entrepostos comerciais. João Carlos Souza estabelece um panorama para o cenário
daquela localidade, revelando seus pontos fortes e suas fragilidades:

É significativo que a navegação internacional, que tinha seu ponto


terminal em Corumbá e era realizada por navios de maior calado, já
na primeira década após a Guerra com o Paraguai, contribuiu para
que a cidade se tornasse polo de distribuição das mercadorias para a
capital Cuiabá, bem como para outras regiões da Província. 15

E em outra passagem destaca,

15 SOUZA, João Carlos de. O Sertão Cosmopolita: tensões da modernidade de Corumbá (1872-1918).
São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2008. p. 36.
Assim como o telégrafo, a ferrovia gerou expectativas de grande
progresso para a região sul do estado e a imprensa identificava essas
novas tecnologias de comunicação e transporte como o ingresso, o
passaporte que colocaria Mato Grosso no nível da civilização. Cada
um desses acontecimentos provocou análises que partiram de
pressupostos comuns sobre o significado desses símbolos da
modernidade, mas com percepções diferentes quanto aos seus
resultados com relação ao futuro das duas principais cidades de Mato
Grosso, a capital Cuiabá e a portuária Corumbá.16

Os sujeitos dessa história que se busca ensaiar estiveram ligados direta e


indiretamente a lugares sociais que lhes possibilitaram, em boa medida, difundir seus
interesses pessoais, ou dos grupos aos quais pertenciam, militavam ou eram
vinculados em âmbito profissional ou religioso. Dar visibilidade à essas redes de
atuação, espaços de sociabilidade e conformação de ideias e interesses
socioculturais, com fundo por vezes moral-educacional, é parte das pelas
preocupações intencionadas neste estudo.
A documentação que dá sustentação ao estudo bem como as edições
examinadas segue apresentada no Gráfico 1.

Gráfico 1: Síntese das edições dos jornais mato-grossenses examinadas

400

350

300

250

200

150

100

50

0
A
O O
Provincia Republica
Corumba O Brasil Oasis A Reacção Autonomi
de Matto no
ense sta
Grosso
Edições examinadas 43 173 193 15 10 350 76

Edições examinadas

Fonte: PINTO, 2018.

16 SOUZA, op. cit., 2008, p. 49.


Como evidencia o Gráfico 1, foram examinados 860 dias de jornais,
classificados nos títulos e períodos de estudo que seguem: O Corumbaense (1880-
1890), O Brasil (1900-1910), A Província de Matto Grosso (1880-1900), Oasis (1890-
1900), A Reacção (1910-1920), Republicano (1890-1920) e O Autonomista (1900-
1920). O quadro 1 auxilia na identificação dos locais de circulação de cada uma destas
folhas.
Os jornais inscrevem-se nesse movimento de povoamento, organização e
expansão do território nos aspectos já mencionados, organizando-se em ciclo de
décadas, haja visto que essa foi a estratégia metodológica que de modo mais
adequado atendeu aos pressupostos de investigação, cuja seleção do temário foi
adequada, como já dito, aos interesses de pesquisa.
A profusão de títulos, observada por Moraes17 e reconhecida neste trabalho,
insere-se em uma ambiência nacional, descrita por Eliana Dutra como República das
Letras, movimento que estava em curso desde os anos de 1840 18. A prática do
jornalismo torna-se, para esses sujeitos históricos, o lugar mais adequado de obter
rendimentos, gratificações e posições intelectuais, funcionando paralelamente às
atividades políticas desenvolvidas por muitos daqueles que escreviam nos jornais da
época, sendo um “expressivo canal de divulgação de seus textos e ensaios”19.
Moveram o estudo algumas indagações relativas à autoria e ao modo de
circulação das ideias dadas a ler por meio desses jornais: Quem foram os "Homens
de Letras", já que raras eram as mulheres letradas, e que se pronunciavam
declaradamente em Mato Grosso? Em quais espaços sociais circulavam? Que
formação, atividades ou profissões desempenhavam os aclamados intelectuais mato-
grossenses? De que localidade eram oriundos; Eram todos mato-grossenses?; Havia
mulheres?; Havia emigrantes, “pau-rodados” na expressão regional?; Que formação
possuíam e em quais campo do saber atuavam, para além do ofício de jornalista?; Em
que medida constituíram um grupo de intelectuais, identificados e/ou reconhecidos

17 MORAES, Sibele. O Episcopado de D. Carlos Luiz d’AMOUR (1878-1921). Dissertação (Mestrado


em História) Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2003.
18 DUTRA, Eliana de Freitas. Rebeldes Literários da República: história e identidade nacional no

Almanaque Brasileiro Garnier (1903-1914). Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2005.


19 Ibid., p. 22.
pela sociedade mato-grossense, consolidando o que Roger Chartier20 qualifica como
um conjunto de práticas e representações culturais, por intermédio da circulação dos
impressos periódicos?
Sabe-se que vários, além de escrever na imprensa, também eram professores,
isso ampliava suas possibilidades de intervenção no espaço público? Qual o papel
desempenhado pela imprensa que, como se sabe, era um elemento essencial da
constituição do campo letrado no Brasil? Antes ainda, vale questionar: seria o jornal
um meio de comunicação “nobre” e significativo para circulação de ideias desses
intelectuais?
Os jornais, em conformidade com José Murilo de Carvalho, foram formas de
traduzir em ações concretas os princípios de uma época.

Após 1821, vários jornais apareceram representando grupo, facções,


ou mesmo indivíduos isolados. Muitos dos principais políticos da
época, e alguns dos principais intelectuais (frequentemente eram as
mesmas pessoas), tinham seu jornal. Em geral de curta duração,
essas folhas eram o principal veículo de debate político e cumpriram
papel importante no aprendizado democrático. 21

O interesse em dar a conhecer esses “sujeitos ordinários”22 da escrita mato-


grossense, Homens de Letras23, Homens de Saber ou Ancestrais da Intelectualidade24,
Escritores-cidadãos25, intelectuais-historiadores26 ou grupo de notáveis, como aponta

20 Para auxiliar à compreensão teórico-metodologica no estudo sobre imprensa e impressos


dialogamos com os seguintes títulos: CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e
representações. Rio de Janeiro: Difel; Bertrand Brasil, 1990. (Coleção Memória e Sociedade).
CHARTIER, Roger. A mão do autor e a mente do editor. tradução George Schlesinger. 1ª ed. São
Paulo: Editora Unesp. 2014. CHARTIER, Roger. Formas e sentidos. Cultura escrita: entre distinção e
apropriação. Campinas, SP: Mercado de Letras; Associação de Leitura do Brasil (ALB), 2003.
CHARTIER, Roger. Textos, impressão, leituras. In: HUNT, Lynn. A nova história cultural. reimpr. São
Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 211- 238. CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos
Avançados. USP. n. 11 (5), p. 173-191, São Paulo, 1991.
21 CARVALHO, Jose Murilo de. História intelectual no Brasil: a retórica como chave de leitura. Topoi.

Rio de Janeiro, 2000, n° 1, p. 139.


22 CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. 22 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
23 DUTRA, op. cit., 2005; SCHUELER, op. cit., 2008.
24 BOTO, Carlota. Instrução Pública e Projeto Civilizador: o século XVIII como intérprete da ciência,

da infância e da escola. São Paulo: Editora da Unesp, 2017.


25 SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira

República. São Paulo: Brasiliense, 1983.


26 GOMES, Angela de Castro. História & Historiadores. 1ª. reimpr. Rio de Janeiro: Editora Fundação

Getúlio Vargas. 2013.


o historiador sul mato-grossense Oswaldo Zorzato27, sustenta a hipótese que os
qualifica como intelectuais mediadores. Quem foram, onde estiveram, que recursos
de escrita mobilizaram para expor suas ideias, de seus grupos de pertencimento social
e cultural e como a imprensa, em caráter decisório, torna-se ferramenta essencial para
o alcance de seus objetivos.
Algumas das várias possibilidades de compreensão do conceito de intelectual
com o qual os autores acima citados trabalham valem ser pontualmente recuperadas:
em uma via distinta a apontada, Adauto Novaes problematiza a noção de intelectuais
associada às categorias apresentadas:

Antes, é preciso definir quem é o intelectual.


Sabe-se que ele não é, necessariamente, o homem de letras, o artista,
o político, o historiador, o filósofo, o sábio, etc., ou seja, sabe-se que
nem todo homem de letras, nem todo artista, nem todo político etc. é
intelectual, o que não significa que um deles não possa vir a ser (...)
Não existe, portanto, essa figura do intelectual em tempo integral ou
inteiramente intelectual. Para transformar-se em intelectual o ser deve
desdobrar-se, acumular momentaneamente nele mesmo outras
funções, deixar de lado os saberes particulares para se dedicar ao
trabalho de crítica e à luta pelos ideais universalizantes: razão, justiça,
liberdade e verdade. (...) Ele não é o teórico, muito menos o homem
da vida prática e do saber objetivo: pode-se dizer, mais precisamente,
que ele encarna o espírito crítico, capaz ao mesmo tempo de
reconstruir o passado e construir idealmente o futuro.28

Em outra discussão igualmente problematizadora, Francis Wolff aponta


Sócrates como “o primeiro intelectual de nossa história, por ser o primeiro pensador
perseguido não por suas idéias (como Anaxágoras), mas simplesmente por exercer
sua função intelectual, a do pensamento, isto é, a do pensamento livre.”29 Em outro
momento, complementa que “o intelectual está em posição de recuo: não está nem
na vida política, como um político, nem fora da vida política, como um pesquisador
científico. Está dentro, mas à margem.” 30

27 ZORZATO, Osvaldo. Conciliação e Identidade: construções sobre a historiografia de Mato Grosso


(1904-1983). Tese (Doutorado em História) Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, USP.
1998.
28 NOVAES, Adauto (org.) O Silêncio dos Intelectuais. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p.

12-3.
29 WOLFF, Francis. Dilema dos Intelectuais. In: NOVAES, Adauto (org.) O Silêncio dos Intelectuais.

São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 49.


30 Ibid., p. 53.
Para Wolff, os verdadeiros intelectuais foram os sofistas, tendo em vista, que
contemplavam a condição de ser sustentado por seus pares, “ele se torna possível
por um movimento de idéias e, de maneira mais geral, por condições sociais e
históricas, nem que seja apenas uma certa abertura do espaço público.”31 Ao
recuperar Bourdieu para dar sustentação ao seu argumento, é possível compreender
de modo mais abrangente a posição de Wolff:

Os intelectuais têm, por função, uma postura de dominação simbólica


(porque falam em nome das idéias, dos ideais e dos valores e não dos
interesses particulares); eles dispõem, portanto, de uma capacidade
de impor normas de julgamento, e, por isso, não importa o que digam
e façam, há necessariamente neles uma duplicidade fundamental ante
o poder, que eles criticam tanto mais quanto porque são fascinados
por ele e exercem, eles próprios à sua maneira, um equivalente desse
poder, ao se erigirem em instância critica absoluta. É esse poder
intelectual que Bourdieu sempre denunciou, assumindo o fato de que,
ao fazer isso, também ele combatia como intelectual no mesmo
terreno do poder intelectual.32

Na mesma pauta, Renato Janine Ribeiro qualifica esse sujeito como aquele
que lida com a transferência de conhecimento para um grande público, antes
conservado ao acesso de poucos, ou seja, um cientista das humanidades, que trata
das ciências sociais e humanas, nos seus desdobramentos nas letras, na filosofia e
na história.33 Define melhor esse papel ao afirmar que “nem todo o estudioso das
ciências humanas e sociais é intelectual, nem todo cientista das exatas e biológicas
se coloca fora do mundo da intelectualidade. O que caracteriza o intelectual é fazer
uso público do conhecimento.”34 Ao papel exercido por esse sujeito, Janine não
desvincula à condição essencial de mediador do conhecimento que adquire ou
produz, e as formas de socialização, divulgação e apropriação, sendo adjetivado como
“político do conhecimento”: “(...) o reino do intelectual é o das mediações. Ele é quem
vincula o conhecimento ao seu valor, uma vez que, ao atribuir ou debater o valor das
idéias, pensa sob forma da mediação. A mediação é condição para a ação.”35

31 Ibid., p. 54.
32 Ibid., p. 64.
33 RIBEIRO, Renato Janine. O cientista e o intelectual. In: NOVAES, Adauto (org.) O Silêncio dos

Intelectuais. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 137.


34 Ibid., p. 141.
35 Ibid., p. 146-47.
Em relação a Mato Grosso, Sibele de Moraes ensaia uma análise sobre os
papéis atribuídos aos intelectuais do Estado. Na visão dessa autora, Mato Grosso
destoava da construção de uma imagem progressista e moderna que se pretendia do
Brasil entre a segunda metade do século XIX e início do XX, visto que “Mato Grosso,
a partir do olhar do viajante estrangeiro, era visto como uma região de “atraso”, de
“vazio”, e a população local como “incivilizada”36. Nesse sentido, Moraes destaca o
esforço dos intelectuais mato-grossenses na busca por um novo conceito, contrário
àquele que dominava o território: “Assim, as manifestações culturais mato-grossenses
constituíam-se na busca da construção da identidade regional, com o resgate da
origem bandeirante do povo de Mato Grosso. Paradoxalmente, esse passado permitia
pensar, aos olhos desses intelectuais, em um Mato Grosso promissor de riquezas
inesgotáveis.”37
Perpassa a essa noção de intelectual a legitimidade na produção de discursos
veiculados de modo a formar opiniões sobre os aspectos aos quais se relaciona. Há
que se contar, ainda, com a validação e reconhecimento dos pares em seu espaço de
inserção. Esses intelectuais assumiram a função de historiadores de Mato Grosso,
com a incumbência de forjar a memória e história da localidade visando à conformação
de uma identidade regional. No entanto, pretende-se ampliar esse grupo buscando na
imprensa sujeitos afastados do campo intelectual, mas qualificados como “intelectuais
de seu tempo”38, por sua posição no campo cultural, político e social, e por sua
participação ativa na imprensa regional. Corrobora-se, assim, com o entendimento
de Gomes quando sinaliza que “o oficio de historiador era executado por uma
categoria mais abrangente de intelectuais: dos ‘homens de letras’”39.
A importância desses sujeitos históricos, no lugar que estiveram e ocuparam
dentro de uma certa tradição historiográfica regional, ampliada pelas lides com a
imprensa, produzida por outros sujeitos ordinários, que a seus modos, em seus
espaços de produção e circulação de ideias, também desempenharam papeis
semelhantes, possivelmente, com menos projeção, mas não com menos importância

36 MORAES, Sibele. O Episcopado de D. Carlos Luiz d’AMOUR (1878-1921). Dissertação (Mestrado


em História) Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2003. p. 14.
37 Ibid., 2003, p. 14-5.
38 GOMES, Angela de Castro. História & Historiadores. 1ª. reimpr. Rio de Janeiro: Editora Fundação

Getúlio Vargas. 2013. p. 38.


39 Ibid., p. 38.
simbólica. Ao se posicionarem sobre política, modos de educação, religiosidades,
elementos da tradição histórica e cultural ou amenidades, os “nossos homens de
letras” teceram uma rede de conhecimento, ora paralela aos intelectuais constituídos
e consolidados no cenário local, ora antagônica, pois enfrentaram temas considerados
menos nobres, do ponto de vista das formulações de pensamento, mas que
interferiram significativamente na compreensão de aspectos socioculturais da vida
citadina, seguidos de preceitos morais, curiosidades, ditados populares, charadas,
poemas, anedotas.
A circulação em duas a três vezes por semana, como demonstra o quadro 1,
foi considerada um dado significativo para compreender as representações forjadas
por grupos de editores bem como os interesses em voga. Por meio das notas da
imprensa era possível vislumbrar aspectos da sociedade mato-grossense, tendo em
vista que o regime republicano se encontrava em vias de implementação, e em
momento seguinte mais sedimentado, ainda que guardando significativas marcas do
regime consolidado nas tradições familiares herdadas do império.
Dos anos de 1880 em diante, de acordo com o ideário político que orientava o
desenvolvimento do país, Mato Grosso estaria na agenda de localidades a receber
atenção, em virtude de sua condição geográfica favorável para a produção
agropastoril e do seu amplo território, ainda a ser explorado. Ao retomar o contexto
em que se inserem e circulam esses jornais, Fanaia destaca a presença intensa da
circulação das notícias no período:

Considerando o número aproximado de analfabetos, a distância dos


centros mais populosos, as carências na área educacional, a
dificuldade na obtenção de equipamentos e material de impressão,
não deixa de surpreender a diversificação dos jornais à disposição do
público. Pode-se afirmar que partido político, sem o seu respectivo
órgão de divulgação, era em Mato Grosso, um meio partido, ou apenas
o seu arremedo. A circulação, apesar dos problemas de comunicação,
demonstra uma intensa troca de informações com outros centros e a
reprodução frequente de textos úteis à causa defendida no Estado.
Mesmo considerando a motivação primária para a impressão dos
periódicos com o exclusivo objetivo de manter veiculado
cotidianamente o nome dos atores políticos mais proeminentes, a
iniciativa embutia também a expressa de externar o interesse do
“longínquo” Estado pelo universo das letras.40

40 FANAIA,João Edson de Arruda. Elites e Prática Políticas em Mato Grosso na Primeira República
(1889-1930). Cuiabá: EdUFMT, Fapemat, 2010, p. 100.
Em relação ao processo de povoamento/ocupação, à época da transição dos
regimes políticos Mato Grosso contava em 1890, 12 municípios; em 1900, 14
municípios; em 1910, 17 municípios e encerra em 1920 sinalizando 21 municípios
distribuídos no território mato-grossense. O quadro abaixo sinaliza a organização
territorial de Mato Grosso.

Quadro 2- Relação dos Municípios de Mato Grosso (1890 a 1920)


1890 1900 1910 1920
Corumbá (S) Campo Grande Aquidauana Aquidauana
Cuiabá Coxim Bela Vista Bela Vista
Diamantino Corumbá Campo Grande Campo Grande
Levergeria Cuiabá Corumbá Corumbá
Livramento Diamantino Coxim Coxim
Mato Grosso Livramento Cuiabá Cuiabá
Miranda (S) Mato Grosso Diamantino Diamantino
Nossa Senhora do
Miranda(S) Livramento Livramento
Rosário Acima
Nioac (ex-
Poconé Mato Grosso Mato Grosso
Levergeria)
Santana do Nossa Senhora do
Miranda (S) Miranda (S)
Paranaíba (S) Rosário Acima
Santo Antonio do
Poconé Nioac Nioac
Rio Abaixo
São Luiz de Santana do Nossa Senhora do
Poconé
Cáceres Paranaíba (S) Rosário Acima
Santo Antonio do
Poconé Ponta Porã
Rio Abaixo
São Luiz de Santana do
Porto Murtinho
Cáceres Paranaíba (S)
Santo Antonio do Rio Registro do
Abaixo Araguaia
Rosário do Oeste
Santo Antonio do Rio
(ex- Nossa Senhora
Madeira
do Rosário Acima)
Santana do
São Luiz de Cáceres
Paranaíba
Santo Antonio do
Rio Abaixo
Santo Antonio do
Rio Madeira
São Luiz de
Cáceres
Três Lagoas
Total: 12 Total: 14 Total: 17 Total: 21
Fonte: FANAIA, 2010, p. 75.
Adapt.: PINTO, A. A. 2018.

No mesmo período, contrapondo-se ao estado de “despovoamento” tem-se o


volume de publicações periódicas identificadas à época, registram-se em circulação
mais de 30 títulos de jornais, com periodicidade semanal, alguns sendo publicados
até três vezes por semana. Destacando a importância destes dispositivos locais para
o cenário político, Fanaia acrescenta:

Os jornais eram, portanto, imprescindíveis nos momentos de maior


importância, desde a constituição da chapa “oficial”, em regra
vencedora e durante a manutenção da base de apoio pós período
eleitoral. [...] O espaço ocupado nos periódicos locais com descrições
detalhadas do percurso feito pelo governador, senador, deputado
federal era descrito em detalhes. Do apito do barco ao anunciar a
aproximação, passando pelos foguetes, bandas de música, jantares,
banquetes, bailes, paradas em residências de correligionários de
destaque permeado por uma enormidade de discursos, nada
escapava aos redatores. O lúdico aqui não cumpria apenas o papel
festivo da recepção. Ao contrário, emitia sinais claros, evidentes de
prestígio.41

Muitos dos embates políticos e religiosos assumem postura de enfrentamento


explícito nos jornais, apresentando rivalidades entre os grupos católicos e
anticlericais, em nome da divulgação e consolidação de um conjunto de ideias que
levaria, supostamente, Mato Grosso à superação do estado de latência em que se
encontrava. Em um contexto mais ampliado, o embate entre católicos e anticlericais,
sobre a genérica denominação de “livre-pensadores” se torna uma mola propulsora
da imprensa em Cuiabá e Corumbá, bem como em outras localidades, como evidencia
Maria Lucia de Andrade, quando discute a temática no contexto paranaense:

De um lado (...) formando um grande grupo com pontos programáticos


comuns, sob a genérica denominação de livre-pensadores. De outro
lado, a igreja católica e os intelectuais a ela vinculados, identificados
pelos livre-pensadores como o lócus de defesa da monarquia e de
práticas obscurantistas. (...) O anticlericalismo foi um movimento
intelectual que debateu as doutrinas religiosas, questionou as

41 FANAIA, op. cit., 2010, p. 100-101.


instituições, envolvendo a juventude, (...) e que dominou a imprensa.
A tendência anticlerical utilizou-se do campo educacional, do campo
literário e da imprensa para o desenvolvimento das idéias de cunho
positivista, pitagórico, anticlerical, simbolista, cientificista, entre outros.
De um lado, o grupo do simbolismo literário e, de outro, o clero, que
se organizava por meio da ampliação do sistema de ensino, dos
colégios dirigidos por congregações estrangerias e de seus jornais.42

Em Mato Grosso, em meados de 1910, a Liga dos Livre-Pensadores valeu-se


da imprensa periódica para demarcar seu espaço de atuação, divulgar ideais e
publicizar antagonismos em relação aos grupos religiosos estabelecidos, sobretudo
àqueles vinculados à Igreja Católica. O jornal A Reacção foi porta-voz deste grupo,
congregando número significativo de membros que ocupavam lugares socialmente
destacados nas sociedades cuiabana e corumbaense. A pertinência e
representatividade observada nas páginas deste jornal justificou sua inclusão no
corpus documental deste estudo, em substituição a outros inicialmente relacionados
no projeto.
Fundado em 21 de abril de 1909 em Cuiabá, A Reacção, cuja epigrafe
informava tratar-se de um “orgam da Liga Matto-grossense de Livre Pensadores”, ou
seja, em oposição frontal aos interesses dos grupos católicos, os quais acusavam de
cercear e impedir o livre pensamento e circulação de ideias. Este jornal apresenta
uma peculiaridade em relação aos demais: inicialmente, nos primeiros anos de
circulação, identificava-se como órgão representativo do Partido Republicano de Mato
Grosso, sendo impresso em Assumpção, Paraguai: “publica-se no Paraguay por falta
de garantias no Estado”43. Em 21 de abril de 1909, registra-se a fundação do jornal
homônimo, em Cuiabá, mas relacionado ao “orgam da Liga Matto-grossense de Livre
Pensadores”. Para o momento, não é possível afirmar que o jornal fosse editado por
simpatizantes do Partido Republicano.
Em uma das correspondências eurpeias, publicadas no jornal O Corumbaense,
encontramos noticias da organização e funcionamento da Liga de Livre Pensadores
na Europa, nas décadas finais do século XIX, abordando publicações literárias feitas
por membros de órgãos livre-pensadores, em especial os textos publicados na Revista

42 ANDRADE, Maria Lucia de. Dario Vellozo e a escola moderna: a renovação do pensamento
educacional no Paraná (1906-1918). In: VIEIRA, Carlos Eduardo (org.) Intelectuais, educação e
modernidade no Paraná (1886-1964). Curitiba: Ed. UFPR, 2007. p. 194.
43 A Reacção, n. 2, 1903, p. 01.
de Westminster periódico desse grupo, “julguei, pois oportuno dar alguns traços
d’essa physionomia original, inconstante, cheia de contradições, porém
absolutamente encantadora, e verdadeiramente extraordinária.44
Os católicos, por sua vez, constituíram, segundo Moraes “um grupo intelectual
ligado Igreja Católica”45, valendo-se igualmente da imprensa para promulgar suas
ideias e realizar tanto suas defesas quanto acusações ao grupo opositor. O jornal A
Cruz, considerado por Canavarros “o mais representativo da cidade [de Cuiabá] do
ponto de vista cultural (...) tinha enfoque cultural e preocupação catequética,
doutrinária, procurando travar embates de ideias, valores, evitando as configurações
personalísticas e partidárias”46 figurou como importante elemento para compor o
cenário de disputas à época.
Nessa arena, conforme sinalizavam os editoriais, as publicações do A Reacção
também não poderiam assumir cunho político partidário, mas assumiam os
enfrentamentos do aspecto moral-religioso. Moraes destaca que “também abertura de
um grande número de periódicos, durante a gestão administrativa de D. Carlos,
possibilitou a divulgação de novas idéias, muitas delas contrarias aos ensinamentos
defendidos pela Igreja Católica.”47 Os textos em ambos os jornais personalizavam,
sem dúvida os comportamentos considerados inadequados e ideias fora do lugar.
Moraes destaca que a “também abertura de um grande número de periódicos,
durante a gestão administrativa de D. Carlos, possibilitou a divulgação de novas
idéias, muitas delas contrarias aos ensinamentos defendidos pela Igreja Católica.”48
Ao registrar a significativa participação de religiosos nos debates socioculturais,
estes alçam também à condição de intelectuais mediadores: atuaram como
professores em escolas das congregações e públicas; foram diretores de instituições
escolares destinadas à formação da elite mato-grossense; partilharam de equipes
editoriais de jornais diversos; produziram manuais de ensino; editaram e colaboram

44 Pariz, 31/12/1880, publicada em O Corumbaense, n. 69, 19/03/1881, p. 02.


45 MORAES, Sibele. O Episcopado de D. Carlos Luiz d’AMOUR (1878-1921). Dissertação (Mestrado
em História) Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2003. p. 28.
46 Sobre os embates na imprensa católica consultar, dentre outras: CANAVARROS, Otávio. Embates

ideológicos na imprensa de Cuiabá. In: PERARO, Maria Adenir (Org.). Igreja Católica e os cem anos
da Arquidiocese de Cuiabá (1910-2010). Cuiabá: EdUFMT/FAPEMAT, 2009. p. 359
Ver também sobre o tema: AMÂNCIO, Lázara Nanci de Barros. Ensino de Leitura e Grupos
Escolares: Mato Grosso 1910-1930. Cuiabá-MT: EdUFMT, 2008.
47 MORAES, op. cit. 2003, p. 31.
48 Ibid., p. 31.
em Revistas, a exemplo da Revista Matto Grosso49, promovendo a difusão de
conhecimento sobre seus valores e outros de maior envergadura, como seu projeto
educacional para a sociedade mato-grossense.
Nessa análise, embora não seja objeto de estudo desta pesquisa, A Revista
Matto Grosso, ao lado dos jornais, configura-se como outro espaço editorial de
produção, difusão e circulação de ideias, permitindo aos grupos que pactuavam ideias
semelhantes aos editores forjar modos de ver e perceber a sociedade mato-
grossense, defendendo certa moral, bons costumes e valores permeados pelo
cristianismo católico, na perspectiva dos salesianos, grupo de religiosos responsáveis
pela edição e produção desta Revista, que circulou por Mato Grosso entre os anos de
1903 a 1915.
Em Franco localizou-se outra abordagem sobre o papel e importância atribuída
aos intelectuais em Mato Grosso. A autora destaca que “um dos exemplos esse
esforço, e dos objetivos que uniam a intelectualidade mato-grossense, pode ser
observado através da representação dos símbolos do estado como, no caso, a
composição do brasão de armas, elaborado em 1918. (...) A simbologia da imagem
do brasão e os temores que rondavam a intelectualidade mato-grossense
demonstram o poder que a memória coletiva possui.”50
Ao que nos parece os estudos sobre os intelectuais mato-grossenses buscam
versar e identificar o papel destes profissionais, que assumiram o papel de
historiadores de Mato Grosso, a incumbência de forjar a memória e história da
localidade com vistas à conformação do perfil indenitário regional. Nesse sentido,
ampliamos a análise, partindo da importância desses sujeitos históricos, no lugar que
estiveram e ocuparam dentro de uma certa tradição historiográfica regional, contudo,
oportunizamos, por meio da imprensa, conhecer outros sujeitos ordinários, que a seus
modos, nos seus espaços de produção e circulação de ideias, também
desempenharam papel semelhantes, possivelmente, com menos expressão

49 PINTO, Adriana Aparecida. A Revista Matto Grosso em um itinerário de pesquisa: Mapeamento


da Revista Matto-Grosso em Arquivos de Cuiabá. Mimeo. Cuiabá, 2010; FALCO, Sthefany Ribeiro &
PINTO, Adriana Aparecida. Revistas como fonte para o estudo da História das Mulheres – REVISTA
MATTO-GROSSO (1904-1915). Anais Eletrônicos do VIII Congresso Internacional de História.
UEM: Maringá. 2017.
50 FRANCO, Gilmara Yoshihara. O binóculo e a pena: a construção da identidade mato-grossense sob

a ótica virgiliana (1920-1940). Dourados, MS: Editora da UFGD, 2009, p. 43.


divulgada, mas não com menos importância simbólica, como já sinalizado
anteriormente.
E muito embora, de um lado, o cenário nacional não fosse o mais promissor em
relação à apropriação pela leitura de dispositivos da natureza dos impressos, como
bem destaca Eliana Dutra ao sinalizar, em relação ao Rio de Janeiro que, “(...) esse
quadro, quase dramático, de falta de leitores para livros e jornais não impedia novas
iniciativas editoriais e tampouco arrefecia a expectativa de ‘caça’ de novos leitores.”51,
por outro lado os intelectuais ao se posicionarem nos dispositivos de circulação de
informação como autores, como a imprensa, imprimem certo modo de pensar e
condicionar a realidade social a partir de suas crenças, projetos ideológicos vinculados
aos grupos a que pertencem.
As obras que dão conta dos momentos iniciais da imprensa em Mato Grosso
tendem a apresentar caráter laudatório, mas são importantes por conterem
informações que permitem redesenhar o caminho da imprensa no estado. Pedro
Rocha Jucá divide o desenvolvimento da imprensa mato-grossense em três fases:

A primeira corresponde à da Typographia Provincial, que vai de agosto


de 1839 a 31 de agosto de 1848, quando a primeira tipografia oficial
mato-grossense foi posta em hasta pública [...]. A segunda fase é a
dos jornais particulares publicando os atos oficiais, compreendendo o
período que vai de 2 de setembro de 1848, quando circulou o primeiro
número do jornal ECHO CUIABANO, editado pela gráfica montada
com a aquisição do equipamento da Typographia Provincial, indo até
o dia 2 de maio de 1890, quando o general Antonio Maria Coelho,
primeiro governador do Estado de Mato Grosso, rescindiu, pelo seu
Acto n. 181, o contrato celebrado com o Sr. Victal Baptista de Araujo,
proprietário do jornal “A GAZETA”, para publicar os atos oficiais. A
terceira fase, a atual, começou dia 8 de maio de 1890, com a
implantação da Typographia do Estado, e com a circulação do primeiro
número do jornal “GAZETA OFFICIAL”.52

A imprensa deve ser colocada ao lado dos progressos materiais que


gradativamente chegavam a Mato Grosso nas décadas finais do XIX e primeiras do
século XX, constituindo-se ela mesma num agente transformador. Os jornais
difundiam os ideais das instâncias políticas e do poder, representados pelas famílias

51DUTRA, op. cit. 2005, p. 22.


52 JUCÁ,Pedro Rocha. Imprensa oficial de Mato Grosso. Cuiabá: Imprensa Oficial do Estado de Mato
Grosso, 1986, p. 04.
tradicionais, que se alternavam na direção do estado e se ramificavam pelas
municipalidades. Os jornalistas, categoria ainda fluída em termos profissionais,
desfrutavam de legitimidade social, pois se vinculavam à produção, circulação e
divulgação de valores.
O estudo pautou-se no interesse em verificar também a ação de proprietários
de jornais, editores, colaboradores, articulistas, entendidos como intelectuais, “no
sentido do escritor ou erudito que se posiciona sobre questões públicas” 53. Lylia Galetti
fornece argumento para atestar a relevância do estudo sobre os impressos, ao
sinalizar a importância da cultura escrita para a conformação do ideário de nação
mato-grossense:

Um povo que desejasse ser uma nação teria que preencher ao menos
três critérios: ter uma história, um passado que demonstrasse sua
associação a um Estado estruturado, de passado recente ou
“razoavelmente durável”; ter uma elite cultural “[...] longamente
estabelecida, que possuísse um vernáculo administrativo literário
escrito; provada capacidade para a conquista, sinal do sucesso
evolucionista enquanto espécies sociais.”54

Partindo de uma conceituação ampla de intelectuais, tal como proposta por


Jean-François Sirinelli55, incluem-se professores e educadores profissionais nessa
investigação. Não raro, os jornalistas atuavam junto à Escola Normal de Cuiabá, no
Liceu Cuiabano e em outras instituições escolares, permitindo efetivar a ampliação do
conceito de intelectual, compreendido para além dos membros de Associações
Científicas ou Literárias, dos Institutos Históricos do Rio de Janeiro e, posteriormente,
de Mato Grosso ou conceituados memorialistas, referenciados por uma parte da
historiografia mato-grossense. Nessa direção, as observações de Maria Teresa dos
Santos Cunha, ao analisar o papel de professores na produção de manuais de normas
de civilidade, corroboram com esta proposta:

53 BURKE, Peter. O que é história do conhecimento? Tradução Claudia Freire. 1. Ed. São Paulo:
Editora Unesp, 2016, p. 51.
54 HOBSBAWN, 1990, apud GALLETTI, Lylia da S. Guedes. Sertão, Fronteira, Brasil: imagens de

Mato Grosso no mapa da civilização. Cuiabá, MT: Entrelinhas: EdUFMT, 2012, p. 25 (grifos nossos).
55 SIRINELLI, Jean-François. As elites culturais. In: RIOUX, Jean-Pierre; SIRINELLI, Jean-François.

(dir.) Para uma história cultural. Lisboa: Editorial Estampa, 1998. Coleção Nova História. SIRINELLI,
Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, René. (org.) Por uma história política. tradução Dora
Rocha. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003.
professores são considerados gente de letras, são intelectuais:
aqueles que escrevem e produzem ligados ás demandas do seu
tempo. Gentes de letras lêem e escrevem; pelas artes da escrita
salvam os seres humanos do esquecimento, transmitem as suas
interioridades, mesmo aos distantes ou ausentes, eternizam em folhas
idéias e saberes, elevam a significados diversos a ordem do
existente.56

Em uma abordagem mais clássica no campo, Jose Murilo de Carvalho


assevera que muitos dos intelectuais que publicavam nos jornais de época, assumiam
publicamente o papel de “educadores da opinião, de pedagogos da cidadania, ou, na
linguagem da época, de divulgadores das luzes. O próprio nome do jornal às vezes
reflete tal propósito.”57
Historiadores como Ângela de Castro Gomes, Luciano Faria Filho, Eliana Dutra
ao destacar em seus estudos, a tarefa ou vocação pedagógica do Almanaque
Garnier58 dentre outros, igualmente qualificam dispositivos da imprensa
desempenhando essa função social, formativa, ainda que não se proponha
textualmente a sê-lo. São formativos também quando ampliam a dimensão cultural de
seus leitores, oferecendo indicação de leituras e livrarias onde se adquirem os títulos
sugeridos, anúncios de publicações autorais, que podem auxiliar no aprendizado
escolar, ainda que não tenha sido oficialmente adotada como manual de ensino,
sendo esta também, a nossa ver, uma estratégia de publicar os escritos na época.
Orientam os protocolos de leitura de outros dispositivos impressos59.
A mediação cultural é, por definição educativa, a nosso ver, pois parte de um
princípio que os sujeitos históricos pretendem deixar um legado de conhecimentos
aos pósteros.

56 CUNHA, Maria Teresa Santos. Ser de cerimônia: Manuais de civilidade e a construção de sujeitos
históricos (1920-1960). In: NEPOMUCENO, Maria de Araujo, TIBALLI, Eliana Figueiredo Arantes
(Orgs.) A Educação e seus sujeitos na História. Belo Horizonte, MG, ARGVMENTVM, 2007, p. 97.
(grifos no original).
57 CARVALHO, Jose Murilo de. História intelectual no Brasil: a retórica como chave de leitura. Topoi.

Rio de Janeiro, 2000, n° 1, p. 139.


58 Para mais detalhes sobre o estudo do Almanack Garnier consultar: DUTRA, Eliana de Freitas.

Rebeldes Literários da República: história e identidade nacional no Almanaque Brasileiro Garnier


(1903-1914). Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2005.
59 Ainda que em contextos distintos, a discussão pode ser ampliar, posteriormente, com base nas

leituras de Roger Chartier, em relação ao entendimento sobre os professores como Gentes de Letras,
cuja definição contempla o entendimento de que professores também atuam como intelectuais.
Importante conferir: VOVELLE, Michel. L”Homme de Lumières. Paris: Édition, du Seuil, 1996.
A figura do intelectual, como sujeito pensante e agente, ganha
centralidade e concretude. Os intelectuais têm um processo de
formação e aprendizado, sempre atuando em conexão com outros
atores sociais e organizações, intelectuais ou não, e tendo intenções
e projetos no entrelaçamento entre o cultural e o político. Nessa
acepção, o conceito de intelectual é, como todos os conceitos políticos
e sociais, fluido e polissêmico.60

Assim, como evidencia Angela Castro Gomes, atuar em jornais em revistas “era
fundamental, não só porque fazia parte de qualquer estratégia de ascensão intelectual
o que não ocorria sem suportes políticos-sociais), mas também porque os periódicos
eram a base da circulação de ideias da época.”61 recorrendo aos jornais como espaço
de manifestação, ampliação e adesão.
Conforme assinala Marco Morel, “esses novos agentes culturais e políticos, os
redatores, tinham nome e rosto na sociedade que buscava se efetivar como nação
brasileira. Eram, com frequência, construtores do Estado nacional.”62 Nesse
constructo, ampliam-se ainda o feixe para a compreensão das relações que esta
imprensa estabelecia com países estrangeiros, a partir da observância de publicação
de notícias estrangeiras nos impressos periódicos mato-grossenses, com destaque
para o diálogo com a França, posto que jornais mato-grossenses da década de 1880
traziam notas frequentes e regulares sobre aquele pais, conforme evidenciado no
quadro que relata a produção do correspondente d’ O Corumbaense e do jornal A
Provincia de Matto Grosso, ambos registrando eventos e episódios ocorridos na
Franca, em formas de cartas, enviadas de Paris, em coluna publicada com
periodicidade regular, alimentada a partir da manutenção de um correspondente local
em França, alimentado pelo regime de permutas com jornais franceses produzidos no
Brasil e fornecendo notícias do mundo moderno aos mato-grossenses.
Residiu nessa premissa, o interesse em retomar as leituras dos jornais,
buscando, especificamente, vestígios da presença francesa (física ou cultural) em
Mato Grosso, que foram localizadas no entrecruzamento com outra documentação de
ordem oficial, como os recenseamentos da população do Brasil entre os anos de 1890
a 1920, conforme se apresenta no decorrer deste relatório.

60 GOMES & HANSEN, op. cit. 2016, p. 12.


61 GOMES, op. cit. 2013, p. 46.
62 MOREL, Marco. Os Primeiros passos da palavra imprensa. LUCA, Tânia Regina de, MARTINS, Ana

Maria. História da imprensa no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008, p. 39.


Cabe questionar como uma Província/Estado de “um mundo onde populações
indígenas e tribais eram tidas como bárbaras e atrasadas”63, recebia e acompanhava,
pela via da imprensa, os debates promovidos em vários lugares do Brasil e do mundo
moderno? Editores, articulistas, redatores, se tornaram, a nosso ver, personagens
importantes, pois traduziram, por meio da sua escrita, determinados modos de ver e
entender a sociedade, a partir de seus lugares sociais.
Os estudos inaugurais de Oswaldo Zorzato64 e Lylia Galetti65 abordam, em
momentos distintos, a configuração e representação de aspectos ligados à
instauração de uma cultura intelectual em Mato Grosso para contrapor um conjunto
de representações forjadas sobre o território, a partir da leitura de memorialistas,
viajantes e outros “forasteiros” que escreveram sobre Mato Grosso, sem, contudo,
abordar essa problemática pela via dos impressos periódicos.
Zorzato destaca três obras emblemáticas para a historiografia de Mato Grosso,
produto de historiadores regionais – Quadro Corográfico de Mato Grosso (1906),
Datas Mato-Grossenses (1919), ambas de Estevão de Mendonça e a produção
encomendada Álbum Gráfico de Mato Grosso (1914). Desse cenário emergem os
nomes e trajetórias de: “(...) Antônio Fernandes de Souza, Firmo Rodrigues, Filogônio
de Paula Corrêa, João Barbosa de Faria, Estevão de Mendonça, José Barnabé de
Mesquita e Virgílio Corrêa Filho. De todos eles, os três últimos são, sem dúvida, os de
maior expressão para a memória historiográfica mato-grossense. ”66. Atuando como
historiadores, com participação ativa na imprensa mato-grossense, não passaram, na
análise de Zorzato de “escribas dos governos os quais estão ligados e que, em geral,
viabilizam as publicações de suas obras.”67
Embora essa movimentação compreenda os anos de 1890 a 1930, o autor
relativiza a contribuição da imprensa periódica. Com base em Sirinelli, deduz-se que
o grupo ao qual Zorzato qualifica como elite intelectual mato-grossense constituem-se

63 GALETTI, op. cit. 2012, p. 24.


64 ZORZATO, Osvaldo. Conciliação e Identidade: construções sobre a historiografia de Mato Grosso
(1904-1983). Tese (Doutorado em História) Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, USP.
1998.
65 GALLETTI, Lylia da S. Guedes. Nos Confins da civilização: sertão, fronteira e identidade nas

representações sobre Mato Grosso. Tese (Doutorado em História) FFLCH/USP, 2000. A tese foi
publicada no formato Livro, cuja referência segue: GALLETTI, Lylia da S. Guedes. Sertão, Fronteira,
Brasil: imagens de Mato Grosso no mapa da civilização. Cuiabá, MT: Entrelinhas: EdUFMT, 2012.
66 ZORZATO, op. cit., 1998, p. 28.
67 Ibid., p. 163.
também, ao lado de outros, intelectuais mediadores. Dentre estes identificamos
professores, como Filogônio de Paula Correa, Gustavo Kuhlmann e Firmo Rodrigues,
que atuaram no Liceu Cuiabano e foram ainda redatores, editores e/ou colaboradores
nos jornais em circulação. Sirinelli pontua que em determinados momentos da história
os estudos sobre as elites culturais situam-se numa espinhosa encruzilhada, visto que
por vezes os mesmos sujeitos do campo cultural situam-se e movimentam-se
fortemente no campo político.

Foi, aliás, em virtude dessa situação de encruzilhada que o interesse


se fixou, primeiramente, partir dos anos de 1970, entre alguns
historiadores no limiar de suas investigações, sobre a posição dos
intelectuais, que permitia ligar a história política, a caminho de
descobrir o seu segundo folego, e a história cultural, que, para o
estudo do século XX, se encontrava ainda em larga medida nos
limbos. 68

Os intelectuais qualificados por Zorzato foram aqueles, também memorialistas,


que consolidaram por meio de obras extensas e vultuosas, algumas com
características de compêndios, uma historiografia mato-grossense. São sujeitos
históricos que estiveram envolvidos em várias esferas da vida social, pública e política,
mas não foram os únicos. Sob esse aspecto, valem as indicações de Sirinelli para
pautar as analises que seguem:

O meio intelectual não é um simples camaleão que toma


espontaneamente as cores ideológicas de seu tempo. Concorre, pelo
contrário, para colorir o seu ambiente. Os letrados raciocinam de
maneira endógena, mas o ruído dos seus pensamentos ressoa no
exterior. É afinal o que dá sua especificidade à “alta intelligentsia”: dela
participam os que possuem, a um ou outro título, poder de
ressonância.69

Lylia Galetti associa o progresso cultural ao progresso material em Mato


Grosso, pontuando que:

Identificados com manifestações letradas e outras vinculadas ao


patrimônio da cultural ocidental, os aspectos culturais foram bastante
valorizados pelos mato-grossenses nas comparações com os demais

68 SIRINELLI, Jean-François. As elites culturais. In: RIOUX, Jean-Pierre; SIRINELLI, Jean-François.


(dir.) Para uma história cultural. Lisboa: Editorial Estampa, 1998. Coleção Nova História. p. 259.
69 Ibid., p. 265.
estados da federação, sendo vistos como índices fundamentais de
civilização. Assim, aquelas que levavam em conta os aspectos
econômicos não raro faziam referência aos ganhos culturais, vistos
como um resultado do progresso material (...).70

Os jornalistas, categoria ainda fluída em termos profissionais, desfrutavam de


legitimidade social, pois se vinculavam à produção, circulação e divulgação de
valores.
Há que se considerar, para o exame das mediações culturais e circulação de
ideias, os diálogos estabelecidos para além das fronteiras mato-grossenses, via
permutas/trocas entre os jornais, o que colocava Mato Grosso em uma rota
significativa de lugares pelos quais a informação precisava chegar. Registram-se o
recebimento de notícias de Campinas (SP), Pelotas (RS), Rio de Janeiro. Em 1881
lia-se n’ O Corumbaense:

Jornaes: Recebemos pelo último paquete os seguintes jornaes, cuja


remessa agradecemos: O Cruzeiro, Gazeta de Campinas, Diario de
Santos, O Cearense, O Regenerador, Tribuna do Commercio, Baixo
Amazonas, Gazeta de Uberaba, A Provincia de Minas, Monitor
Campista, O Commercio, O Espirito Santense, Diario de Noticias, O
Leopoldinese, O Tribuno e Le Messager du Brésil..71

Os recursos de transcrição das notas da imprensa nacional e estrangeira,


frequentemente utilizados pelos redatores no período, são entendidos como
estratégias discursivas as quais fomentam os princípios de circulação de ideias:
formas de evidenciar o conjunto de referências tidas como modelares para a
implementação de práticas culturais e sociais. Revelam o conhecimento de situação
de outras localidades, internas e externas ao país, fomentam e estimulam o
desenvolvimento, em conformidade com os padrões que se almejava para o período.
Ao eleger sistemas de referência, pautados pelo sucesso obtido a imprensa mato-
grossense se revela atenta à movimentação sociocultural do mundo moderno,
direcionando seus esforços para que essas conquistas chegassem até o Brasil

70GALETTI, op. cit. 2012, p. 300.


71Noticiario, O Corumbaense, n. 60, 16/02/1881, p. 02, grifos nossos. Sobre o periódico Le Messager
du Brésil, tratava-se de um jornal francês, produzido no Brasil, por imigrantes franceses sediados no
Rio de Janeiro. Para aprofundamento de estudos ver: VIDAL, Laurent; LUCA, Tânia Regina de. (Orgs.).
Franceses no Brasil: séculos XIX-XX. São Paulo: Editora UNESP, 2009.
Central. Acusados de fazer uma história imediata, esses ilustres anônimos deixaram
sua marca, mesmo que sob pseudônimos variados de uma mesma pessoa, na
construção de modos de ler a realidade social do período em que se inseriram.
PARTE II - OS INTELECTUAIS MATO-GROSSENSES E A IMPRENSA: ESPAÇOS
DE SOCIABILIDADE E CIRCULAÇÃO DE IDEIAS

No alvorecer da República o discurso modernizador e seus signos - o telégrafo,


a luz elétrica, a água potável, a urbanização, os bondes e ferrovias - já se insinuavam
no cotidiano nacional. A imprensa mato-grossense também se fascinava pelos
mesmos, não poupando esforços e recursos visando sua entrada nos tempos
modernos. Em sintonia com outras localidades do país, também na província e depois
estado de Mato Grosso a imprensa desempenhou papel de relevo, sendo agente e,
ao mesmo tempo, indício de transformações vinculadas à modernidade material.
Esses impressos mobilizavam relações internas e externas ao território mato-
grossense consolidando alianças políticas e, conforme interessa a esse estudo,
atando laços, colocando informações em circulação a respeito de que temas
silenciados, trazendo, ao menos no plano do discurso impresso os tão aclamados
louros do progresso e civilização ao sertão72 .
A imprensa privilegiava-se por ser um espaço de debate, luta política, disputas,
movimentação e circulação de ideias! Esse mesmo lugar, a propósito do que enuncia
Sirinelli, consolidou intensa fermentação intelectual, promovida pelo esforço de escrita
semanal, pela busca de informações a serem divulgadas, pelo posicionamento
político, ideológico, moral e social cujos textos refletem73. O exercício de autoria, ainda
que mediado pelos constantes pseudônimos ocultaram nomes, mas não ideias!
Os impressos atuaram como força difusora, corroborando com os interesses
político-socio-culturais na divulgação e consolidação de uma história/memória que se
pretendia constituir. Folhetos, boletins, revistas e a imprensa periódica, a nosso ver,
exerceram papel sistemático nesse intento, ainda que pesem seus aspectos de
parcialidade, circulação restrita e organização a partir de determinados centros de
interesses, arregimentou força significativa ao ideário da divulgação do progresso e
civilização pelo qual passava o Estado. Mas todo esse esforço foi realizado por
homens (e em poucos casos por mulheres) por tras dos impressos, afinal, “as ideias

72 SOUZA, João Carlos de. O Sertão Cosmopolita: tensões da modernidade de Corumbá. (1872-
1918). São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2008.
73 SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, René. (org.) Por uma história política.

tradução Dora Rocha. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. p. 248.
não passeiam nuas pela rua; elas são levadas por homens que pertencem eles
próprios a conjuntos sociais.”74
A leitura de Ângela de Castro Gomes e Martha Abreu acrescenta a essa
perspectiva de análise que,

[...] é possível argumentar, com sólidas evidências históricas, que a


Primeira República tinha tantos problemas de governabilidade e de
incorporação de atores, como várias outras liberais-democracias
europeias, consideradas clássicas. Nelas também os partidos políticos
se apresentavam como ‘clube de elites’; também os critérios de
inclusão ao corpo político passavam pelo saber ler e escrever e por
critérios de idade e sexo, admitindo-se apenas o masculino; e também
havia fraudes, clientelismo etc.75

Entretanto, pela via da imprensa percebe-se uma intensa fermentação


intelectual, a qual só foi possível mediada pelas estruturas de sociabilidade,
qualificadas como redes por Sirinelli (2003), que constituíram grupos afins em torno
de interesses comuns.

Todo grupo de intelectuais organiza-se também em torno de uma


sensibilidade ideológica ou cultural comum e de afinidades mais
difusas, mas igualmente determinantes, que fundam uma contade e
umgosto de conviver. São estruturas de socialibilidades difíceis de
apreender, mas que o historiador não pode ignorar ou subestimar. 76

Em relação aos estudos que apontam e analisam a presença dos intelectuais


envolvidos diretamente com o campo educacional em Mato Grosso, identificamos
certa opção por compreender a participação/movimentação desses sujeitos alinhada
ao século XX, sobretudo a partir da década de 1910, trazendo a cena pública a noção

74 Jacques JULLIARD apud SIRINELLI, op. cit., 2003, p. 258.


75 GOMES, Ângela de Castro; ABREU, Martha. A nova “Velha” República: um pouco de história e
historiografia. Revista Scielo Brasil, UFF, Niterói, RJ, vol. 13, n. 26, Apresentação, p. 01-14, 2008.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tem/v13n26/a01v1326.pdf>. Acessado em: 15 de agosto de
2012, p. 08. (grifos nossos).
76 SIRINELLI, op. cit., 2003, p. 248.
de intelectuais como donos de jornais de longa duração77 ou balizadas pelas trajetórias
de vida78.
Os estudos dialogam com as linhas teóricas que orientam este trabalho,
contudo empreendem mais vigor na periodização delimitada a partir da década de
1960, entendendo que, por meio do “estudo da sociabilidade de um grupo de
professoras primárias mato-grossenses”79 é possível considerar esse sujeitos como
“pertencentes ao grupo de intelectuais voltados para ações do Estado”. Os autores
atribuem importância à década de 1960, visto que “foi neste contexto que se constituiu
um grupo de intelectuais da educação em Mato Grosso, os quais atuaram no exercício
de atividades de reorganização do magistério primário e na difusão de novos
conhecimentos pedagógicos no Estado.”80
Recuando nessa periodização, tem-se na figura do Barão de Melgaço,
enaltecida por Paulo Pitaluga, o principal intelectual de Mato Grosso: “O Barão de
Melgaço, francês em Mato-Grosso (...)” e complementa a importante contribuição, a
seu ver, desse Militar81:

Com relação ao Barão de Melgaço deve-se mencionar que foi ele o


grande intelectual de Mato Grosso na segunda metade do século XIX.
Oficial da Marinha Imperial brasileira, francês por toda a sua vida
praticamente residiu em Cuiabá. Dedicou-se aos estudos da historia
mato-grossense bem como as pesquisas cartográficas e hidrográficas
do estado. Mais geógrafo do que historiador. Foi realmente o grande
intelectual de Mato Grosso em sua época, e paradigma de toda uma
geração subseqüente de historiadores (...).82

77 SILVA, Marijane Silveira da. SÁ, Nicanor Palhares. Intelectuais e discursos educacionais veiculados
pelo jornal O Matto-Grosso (1910-1930). Anais do VII Congresso Brasileiro de História da
Educação: Circuitos e Fronteiras da História da Educação no Brasil. Cuiabá, MT, 2015.
78 AMORIN, Romulo Pinheiro de. FERREIRA, Márcia dos Santos. Intelectuais e Educação em Mato

Grosso nos anos 1960. Educação e Fronteiras On-Line. Dourados, Mato Grosso do Sul: Editora da
UFGD, v.5, n.15, p. 61-74, set./dez. 2015.
79 Ibid., p. 62.
80 Ibid., p. 62.
81 A propósito dos estudos sobre Augusto Leverger, Ernesto Cerveira de Sena destaca que, em por

ocasião das poucas pesquisas acerca da vida e atuação deste “bretão cuiabanizado” tem havido uma
construção e acentuação de um homem com personalidade extraordinária. No entanto, aponta que
uma parcela dos estudos acentua sua importância. Cf.: SENA, Ernesto Cerveira de. Entre
anarquizadores e pessoas de costumes: a dinâmica de política nas fronteiras do Império – Mato
Grosso (1834-1870). Cuiabá, MT: EdUFMT: Carlini&Caniato, 2009. p. 21.
82 PITALUGA, 2017. Disponível em: https://www.almanaquecuiaba.com.br/artigo/o-instituto-historico-

de-mato-grosso. Acessado em 14 de junho de 2017.


No entanto, Pitaluga considera publicações relacionadas ao desenvolvimento
intelectual, com vistas à projeção, apenas de obras fechadas, registros de viajantes,
publicações em revistas de circulação e representatividade nacional, como as
editadas pelo Instituto Histórico Geográfico, Associações representativas e o
Almanaque Garnier, silenciando sobre a participação desses que nomina como
intelectuais nos jornais da época, ou fazendo referência a outras funções que
ocupavam, como por exemplo, a de professores. Seus escritos corroboram para uma
representação de que intelectual era somente aquele que residia em Cuiabá, o que
sugere literalmente, ao relacionar os veículos de publicação dos estudos dos
intelectuais mato-grossenses em sua terra.
À parte ao cenário desenhado por Paulo Pitaluga, compõem outro conjunto de
referências os estudos no campo da história. Nessa linha, o trabalho de Adriana
Correa sobre os membros da Liga Mato-Grossense de Livres Pensadores83, corrobora
para estabelecer pontos de intersecção entre membros da Liga, jornais publicados no
período e atuação em diversos campos do saber, com destaque para o educacional,
como se demonstrará mais adiante.
Em perspectiva mais ampliada os estudos inaugurais de Oswaldo Zorzato, com
a tese de doutorado Conciliação e Identidade: considerações sobre a historiografia de
Mato Grosso (1904-1983), defendido na FFLCH/USP (1998) e Lylia Galetti, com a
tese igualmente defendida na FFLCH/USP (2000) Nos confins da civilização: sertão,
fronteira e identidade nas representações sobre Mato Grosso, já mencionados
anteriormente, abordam em momentos distintos, a configuração e representação de
aspectos ligados à instauração de uma cultura intelectual em Mato Grosso,
contrapondo-se ar um conjunto de representações forjadas sobre o território, a partir
da leitura de memorialistas, viajantes e outros “forasteiros” que escreveram sobre
Mato Grosso, sem, contudo, abordar essa problemática pela via dos impressos
periódicos, ainda que valorizem a existência da cultura letrada como mecanismo de
transmissão dos conehcimentos produzidos até o período.
Sobre esse aspecto, Lylia Galetti assevera que,

83CORREA, Adriana Cateli. Obreiros do Progresso: a liga matogrossense de livres pensadores (1909
– 1914). Cuiabá, Monografia (Especialização em História) – Departamento de Historia, Instituto de
Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso. 2002.
Identificados com manifestações letradas e outras vinculadas ao
patrimônio da cultural ocidental, os aspectos culturais foram bastante
valorizados pelos mato-grossenses nas comparações com os demais
estados da federação, sendo vistos como índices fundamentais de
civilização. Assim, aquelas que levavam em conta os aspectos
econômicos não raro faziam referência aos ganhos culturais, vistos
como um resultado do progresso material (...).84

Osvaldo Zorzato destaca que a divulgação de dois impressos, um de natureza


periódica outro de natureza Album, alavancaram o processo de constituição identitária
de Mato Grosso, dada pelas condições econômicas favoráveis em que o Estado se
encontrava nos primeiros anos do século XX. Aponta ainda, a vinda de imigrantes
como forte impulsionadora de uma renovação cultural e, por sua vez, intelectual, do
pensamento mato grossense. Para este historiador “os mato-grossenses preparam-
se para receber os forasteiros e, com eles, o “progresso”, decorrente da modernização
supostamente desejada. Contudo, cuidam-se para garantir a primazia do mando.”85
O registro do primeiro grupo de imigrantes cearenses para o estado, pode ser
observado em O Republicano, que publica em edições continuas as chamadas para
àqueles que se interessassem em iniciar vida nova nas terras do Brasil Central,
registrando a chegada de 53 pessoas, entre a sua maioria mulheres e crianças: “Após
esta são esperadas outras levas mais numerosas e em que entrarão de certo os
homens em maior numero, os quaes vêm aqui exercer a sua atividade concorrendo
para o seu bem estar e a nossa prosperidade.”86
Em edições posteriores ao registro da primeira chamada, o jornal cearense
apoiando a iniciativa, endossava que: “A cada emigrante ou família de emigrante
composta de quatro pessoas, que queira cuidar da agricultura, o governo concede
gratuitamente cincoenta hectares de terras.”87
Destacam-se ainda a transcrição das noticias publicadas em outros estados,
sobre o tema, favorecendo a divulgação de Mato Grosso em suas folhas locais, como
constam nas edições dos jornais na edição de O Estado88, de Fortaleza/Ceara, o qual

84 GALLETTI, Lylia da S. Guedes. Sertão, Fronteira, Brasil: imagens de Mato Grosso no mapa da
civilização. Cuiabá, MT: Entrelinhas: EdUFMT, 2012. p. 300)
85 ZORZATO, Osvaldo. Conciliação e Identidade: construções sobre a historiografia de Mato Grosso

(1904-1983). Tese (Doutorado em História) Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, USP.
1998. p. 6.
86 IMMIGRANTES, O Republicano, n. 314, 13/11/1898, p. 01.
87 Publicado em O Republicano, n. 318, 27/11/1898, p. 1.
88 O Estado, n.318, 27/11/1898, p. 1, publicada n’O Republicano, n. 323, 15/12/1898, p. 01.
emitiu nota orientando a imigração dos cearenses para Mato Grosso, endossando a
iniciativa, igualmente em edições sequenciais, em geral ocupando espaços nas
primeiras páginas.
No Diario de Pernambuco também registram-se publicações referentes ao
estimulo da “immigração” para Mato Grosso O principal argumento, para além das
belezas naturais do Estado, e os recursos elétricos e hidráulicos disponíveis, forjava-
se na concessão gratuita de terras, aqueles que se interessassem.89
Essa movimentação compreende os anos de 1890 a 1930, no entanto, o
historiador relativiza a existência dos jornais, volumosos em títulos no período, nesses
embates por uma hegemonia intelectual, no plano das ideias, lutas politicas e
ideológicas entre famílias, grupos hegemônicos e religiosos, tipificando os jornalistas
do período apenas como aqueles que, por vezes, conseguem “furar o bloqueio das
oligarquias estabelecidas.”90 Das discussões propostas por este eminente historiador
de Mato Grosso, interessa-nos aquelas relativas ao que considerou como primeiro
momento, visto que sua análise se estende até 1984.
Na análise em tela os historiadores de Mato Grosso são entendidos, em
primeira instância, como memorialistas, tributários da escrita da história que confere
identidade ao território:

os sertões descritos pelos memorialistas locais como um lugar onde


há ausência de tudo que a seu ver indica civilização, também é uma
das temáticas em torno da qual boa parte dos textos são elaborados.
Caracterizado como um lugar carente de gente culta, há um grande
destaque para advogados, religiosos, engenheiros, militares e todos
os que detém alguma formação técnico cientifica, É sobretudo dentre
essa gente que são arrebanhadas pessoas para trabalhar como
jornalistas, professores, burocratas, além das funções para as quais
se especializam. Não admira, portanto, que sejam cooptadas para o
poder político, compondo, juntamente, com os membros ilustrados das
famílias locais, a auto denominada elite cultural mato-grossense.
Compreende-se, assim, porque boa parte dos escritos dos membros
do IHGMT sejam dedicados a uma memória cultural ‘civilizatória’, onde
se destacam tópicos como a história da imprensa, da instrução,
principalmente religiosa, da catequese indigena, do ensino de
profissões, etc.91

89 Transcrição de notícias em O Republicano, n. 332, 15/01/1899, p. 1.


90 ZORZATO, op. cit., 1998, p. 07.
91 Id., p. 33.
Antônio Fernandes de Souza, Firmo Rodrigues, Filogônio de Paula Corrêa,
João Barbosa de Faria, Estevão de Mendonça, José Barnabé de Mesquita e Virgílio
Corrêa Filho são nomes que figuram no panteon destacado por Zorzato. “De todos
eles, os três últimos são, sem dúvida, os de maior expressão para a memória
historiográfica mato-grossense.”92 Esses e outros historiadores, que atuaram
ativamente na imprensa mato-grossense, não passaram, na análise de Zorzato de
“escribas dos governos os quais estão ligados e que, em geral, viabilizam as
publicações de suas obras.”93
Entendemos, a partir de Jean-François Sirinelli, que esse grupo nomeado por
Zorzato, constitui-se em uma elite intelectual mato-grossense, representando os
nossos “Homens de Letras”94. Dentre estes destacamos inicialmente alguns
professores, como Filogônio de Paula Correa, Gustavo Kuhlmann e Firmo Rodrigues,
e o próprio Estevão de Mendonça, que em um dado momento de sua trajetória fundou
um curso primário particular, cuja divulgação ocupa seguidas publicações dos jornais
locais, no período. Esses e outros colaboradores marcaram atuação no campo
educacional com destaque sobretudo quando se trata das instituições de ensino
secundário em Cuiabá e Corumbá, destinadas à formação de para o trabalho, dada
pelos Liceus de Artes e Ofícios em uma instância, mas também da elite política local,
de modo mais intensivo, conforme evidencia o quadro abaixo:

Quadro 3 – Intelectuais-Professores na Imprensa mato-grossense


NOME ATUAÇÃO DOCENTE PERÍODO
Gustavo Fernando Kuhlmann Professor da Escola Normal de Cuiabá 1910-1920
Leowigildo Martins de Melo Professor da Escola Normal de Cuiabá 1910-1920
Virgílio Alves Corrêa Filho Professor da Escola Normal de Cuiabá 1910-1920
Professor do Liceu Cuiabano
Estevão de Mendonça Professor do Liceu Cuiabano 1900-1910
Professor na escola particular de sua
propriedade
D. Francisco de Aquino Correa Professor do Liceu Cuiabano 1910-1920
Philogonio de Paula Corrêa Professor do Liceu Salesiano 1900-1910
Conego Antonio Henrique de Professor do Seminário Episcopal da 1890-1900
Carvalho Ferro Conceição
Ernesto Camillo Barreto Professor no Seminário Episcopal da 1890-1900
Conceição

92ZORZATO, op. cit., 1998, p. 28.


93 Id., 1998, p. 163.
94 MICELI, Sergio. Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 56.
Fonte: Banco de Dados da autora, 2018

Sirinelli pontua que, em determinados momentos da história, os estudos sobre


as elites culturais situam-se numa espinhosa encruzilhada, visto que por vezes os
mesmos sujeitos do campo cultural situam-se e movimentam-se fortemente no campo
político.

Foi, aliás, em virtude dessa situação de encruzilhada que o interesse


se fixou, primeiramente, partir dos anos de 1970, entre alguns
historiadores no limiar de suas investigações, sobre a posição dos
intelectuais, que permitia ligar a história política, a caminho de
descobrir o seu segundo folego, e a história cultural, que, para o
estudo do século XX, se encontrava ainda em larga medida nos
limbos.95

Os intelectuais qualificados por Zorzato foram aqueles que consolidaram uma


historiografia mato-grossense, por meio de obras extensas e vultuosas, algumas com
características de compêndios.
Na leitura de Zorzato, a historiografia de Mato Grosso é composta por um
conjunto de textos produzidos por pessoas ligadas ao estado, “publicadas em livros
e revistas, por iniciativas particular ou institucional, e que formulam explicações
pretensamente históricas.”96 Ao comentar sobre esse cenário, complementa:

acrescente-se, ainda, que o conjunto aqui denominado historiografia


de Mato Grosso não inclui a não ser excepcionalmente a produção
universitária. As obras a que me refiro estão ligadas às iniciativa
individuais, ao Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso ou a
outras instituições cuja preocupação central parece ser a elaboração,
difusão ou perpetuação de uma memória histórica, cujas
características busco desvendar.97

Estevão de Mendonça e Rubens de Mendonça são dois exemplos dessa


movimentação intelectual que passa pela genealogia famílias. O segundo com obras
publicadas e republicadas ao longo dos anos 1960 à 1980, “seus livros têm em comum
a intenção de reforçar a lembrança de pessoas, lugares e acontecimentos

95 SIRINELLI, Jean-François. As elites culturais. In: RIOUX, Jean-Pierre; SIRINELLI, Jean-François.


(dir.) Para uma história cultural. Lisboa: Editorial Estampa, 1998. Coleção Nova História. p. 259.
96 ZORZATO, op. cit., 1998, p. 134.
97 Id., 1998, p. 135.
considerados importantes para a memória local. (...) preocupados em constituir uma
história consensual.”98 O que reforça a característica de uma historiografia pautada
em escrita memorialística, fomentando estoque de lembranças e quadros de
referências consideradas importantes para o repertorio local. Favorecendo, então, as
condições de mando, na qual os sujeitos devem conhecer o seu lugar na história,
reverenciando as memórias consolidadas por aquela forma de registro histórico.
Essa percepção se aplica, ao menos na análise da bibliografia pertinente ao
temário consultado, a Mato Grosso, excetuando, por ora, a produção posta em
circulação nos jornais.
O estudo realizado fornece elementos para ampliar esse quadro, visto que
identificou outros espaços de atuação e produção intelectual, ainda que vinculados à
outro tipo de escrita. As Associações e entidades representativas de interesses de
classe auxiliam na visualização desses “sujeitos”, visto que reuniram grupo
interessante e diversificado de pessoas ligadas a ela. Foram sujeitos históricos que
estiveram envolvidos em várias esferas da vida social, pública e política, como
evidencia o mapeamento dos intelectuais realizado durante esse estudo. Nesse
sentido, merece destaque a Sociedade Internacional de Estudos Científicos, fundada
entre os anos de1890 e 1900, supostamente, em 1899, conforme indicam as
publicações nos jornais examinados.
Na edição de O Republicano foram localizadas informações acerca deste grupo
de intelectuais, que contava com membros de origem diversificada e ramos de
atuação distintos, como comércio, política e educação. Com base na relação de
membros desta Sociedade, publicada em O Republicano, tem-se: Gustavo Brendel;
Antonio Alves Ribeiro; John W. Price; João Pedro Gardés; Ramão Jackowisky; Pedro
Antunes de Souza Ponce; Carlos Addor; Felix Ripeau; Henrique Levy; Jorge Bodstein;
Alphonse Roche; Victorino da Silva Miranda.
No entanto, não são os únicos que podem ser enquadrados nessa categoria, e
embora nem todos tivessem partilhado de uma escrita reconhecida e publicizada,
contribuíram escrita ordinária sobre os modos de viver e constituir-se sujeito histórico
em Mato Grosso.

98ZORZATO, Osvaldo. Conciliação e Identidade: construções sobre a historiografia de Mato Grosso


(1904-1983). Tese (Doutorado em História) Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, USP.
1998. p. 9.
O meio intelectual não é um simples camaleão que toma
espontaneamente as cores ideológicas de seu tempo. Concorre, pelo
contrário, para colorir o seu ambiente. Os letrados raciocinam de
maneira endógena, mas o ruído dos seus pensamentos ressoa no
exterior. É afinal o que dá sua especificidade à “alta intelligentsia”: dela
participam os que possuem, a um ou outro título, poder de
ressonância.”99

A despeito do caráter de endogenia presente na composição das elites culturais


francesas, conforme apontam os estudos mencionados por Sirinelli, este autor sinaliza
para a presença de professores pertencentes à categoria das elites intelectuais, muito
embora, na perspectiva crítica de alguns estudos, fossem muito mais “cães de guarda
da burguesia e mesmo profanadores das culturas regionais.”100 No estudo que se
pretende, não corroboramos com essa análise, tendo em vista que não estamos
tratando de um exame relacionado às atividades didáticas e pedagógicas do
professorado, desenvolvida diretamente nas instituições de ensino. Não obstante, ao
que tudo indica a condição de atuar como professor, atribuíu algum tipo de diferencial
nas lides com a imprensa.
Ao tradicional grupo de “ilustrados mato-grossenses”101, os quais por estarem
diretamente vinculados aos lugares de poder, produziram uma historia “à sua maneira”
perpetuando uma estrutura de referencias por eles legitimada, julgamos oportuno
acrescer outros sujeitos históricos, os quais, ainda que não tenham tido tamanha
projeção politica, e por sua vez, cultural, alcançaram/ocuparam postos de poder em
distinta esferas, desempenhando papel significativo na produção e circulação de
ideias no território, valendo-se sobejamente, da imprensa para tal fim.
Zorzato destaca a preocupação dos historiadores mato-grossenses em inserir
Mato Grosso em uma historia nacional, em certa medida naturalizando certos
personagens que atuaram de determinados momentos históricos, de destaque,
conforme os primeiros, qualificados e celebrados como heróis, por essa mesma
historiografia, contudo estabelecendo por sua vez, uma “cadeia de apoio”, o que
possibilitaria construir certo consenso em torno desses heróis.

99 SIRINELLI, Jean-François. As elites culturais. In: RIOUX, Jean-Pierre; SIRINELLI, Jean-François.


(dir.) Para uma história cultural. Lisboa: Editorial Estampa, 1998. Coleção Nova História. p. 265.
100 Id., p. 268-9.
101 ZORZATO, Osvaldo. Conciliação e Identidade: construções sobre a historiografia de Mato Grosso

(1904-1983). Tese (Doutorado em História) Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, USP.
1998. p. 34.
Por associação a essa ideia, entendemos que fenômeno semelhante ocorre em
relação ao registro do papel e importância dos intelectuais regionais. São celebrados
e lembrados, bem como mencionados e referenciados, aqueles que, ao lado dos
políticos e religiosos, contribuíram coma escrita, em boa medida memorialística, de
grandes feitos e grandes obras sobre o território, apontando os níveis de progresso e
civilização alcançados durante o período. Desse modo é possível avançar em relação
as análises de Zorzato, quando estabelece o grupo de notáveis intelectuais de Mato
Grosso, visualizando a triangulação que esse grupo estabeleceu como espaços e
estruturas de sociabilidade.
Por meio de impressos de natureza periódica como a Revista Matto Grosso
(1903-1915), a Revista O Arquivo (1904-1906), e o Album Grafico de Matto Grosso
(1914), o grupo se apresenta publicamente, espraiando suas influências evidenciando
sua rede de relações, elegendo esses impressos como espaços legítimos de
efetivação de suas redes de sociabilidades, assim como o lugar social que ocupavam
e a quem, pretensamente, integrariam ao grupo. A imprensa periódica e os impressos
representam nessa percepção os elementos de instauração da autonomia intelectual
e legitimidade dos discursos proferidos por esse grupo, bem como aqueles
autorizados a retratar a história de Mato Grosso.
As obras produzidas por alguns desses intelectuais foram utilizadas, como
sinalizam as pesquisas já mencionadas de Osvaldo Zorzato e Gilmara Franco, como
manuais didáticos em escolas de formação da elite mato-grossense, forjando a
memória regional em vistas de uma identidade, partidária à nacional, que buscava
elevar Mato Grosso à condição de Estado civilizado, cujo progresso, ainda que em
medida distinta aos grandes centros econômicos que despontaram no período,
também se fazia ver e acompanhar.
A imprensa diária demonstra a atenção dos jornalistas aos eventos históricos
que ocorriam tanto em outros Estados da federação quanto nos países vizinhos, na
America do Norte e além-mar. Por meio das notícias enviadas por correspondentes,
dos telegramas reproduzidos das Agências Centrais de Comunicação instaladas à
época, pela transcrição de noticias publicadas em outros jornais de maior prestígio e
alcance nacional que chegavam ás redações mato-grossenses, a exemplo daqueles
que circulavam no Rio de Janeiro, a imprensa trazia à luz noticias do mundo, por
seguidas vezes posicionando-se a respeito. Ainda no campo das estratégias
editoriais, divulgar noticias de outros países funcionaria também como estratégia para
consolidar um público leitor, aproximando-o culturalmente das referências que não se
poderiam acessar facilmente no país, pela via da leitura de obras clássicas, nem todas
com tradução para a língua materna, passando-se pelo processo de apropriação
cultural, como indicam os estudos de Chartier102.
Reside nesse aspecto, uma outra possibilidade de escrita da história, como
defendemos nesse estudo, a partir do cotejamento da documentação de ordem e
tipologias diversas, com àquelas da imprensa periódica.

2.1 Os espaços de sociabilidade e a circulação de ideias: a efervescência dos


lugares

A julgar pelas características e dimensões regionais de Mato Grosso e as


limitações relativas às formas de locomoção, entre os anos que compreende esse
estudo, a organização de espaços sociais e de reuniões de grupo esteve, por vezes,
condicionada aos espaços de atuação profissional, convivência religiosa ou educativa.
Ao considerar esse cenário, os Cafés, Barbearias, espetáculos teatrais, e seções de
cinema, ampliam aqueles espaços e nos possibilitam inserir os espaços de tipografia
e redações de jornal como lugares de encontro, organização sócio-cultural e política.

Durante a Primeira República, as redes de sociabilidades intelectual


se estabeleciam em diversos lugares, que iam dos espaços formais
das associações literárias, clubes científicos, e mesmo da política, até
as confeitarias e redção de jornais, onde os intelectuais mais atuantes
reuniam-se para discutir e elaborr criticamente desde questões
estéticas e artísticas (...). Esses lugares de sociabilidade erm
importantes pra esses intelectuais constituírem e divulgarem seus
projetos, e abriram caminho para a constituição de um campo
intelectual.103

102 CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos Avançados. USP. n. 11 (5), p. 173-
191, São Paulo, 1991.
103 GONÇALVES, Roberta Ferreira. A escola em brincadeiras: intelectuais e nção n criação da revista

O Tico-Tico. In: CARULA, Karoline. ENGEL, Magali Gouveia. CORRÊA, Maria Letícia. Os intelectuais
e nação: educação, saúde e a construção de um Brasil moderno. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2013.
p.120.
Assim, como a Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, foi um espaço intensa
movimentação e convivência social na segunda metade do século XIX, conforme
apontado da Revista Popular (1852-1862)104 esses espaços ganham formas e
contornos privilegiados na ação dos sujeitos históricos do seu tempo e as conversas
e reuniões ali realizadas funcionaram como fermento para a vida cultural de alguns
setores da sociedade mato-grossense, por utias vezes entrecruzando-se com os
espaços políticos e educacionais frequentados/ocupados por esses sujeitos que
desejamos dar visibilidade, destacando-os como intelectuais mediadores.

Desde o século XIX, sobretudo a partir da Independencia, setores


expressivos da intelectualidade brasileira sempre estiverm
convencidos da import^ncia da democratização da escol como um
índice da democratização da sociedade e como condição do
aprendizado de uma cultur politica.105

Com o olhar atento a essa movimentação os jornais examinados permitiram


identificar, mapear e sinalizar aspectos significativos da constituição de um campo
cultural em Mato Grosso, com base na criação de mais de uma dezena de espaços
não convencionais à produção de conhecimento, mas que em nossa análise,
configuram-se como circuitos de mediação intelectual106 de organizações preliminares
com vistas a intenções intelectuais. Ao contrário dessa construção negativa sobre a
região, pesam os inúmeros jornais que circulam pelo território desde de 1840,
encontramos associações científicas, literárias e dramáticas criadas em localidades
chave para o desenvolvimento da região.
A criação de Ligas e Associações e outros espaços que congregam grupos com
perfis definidos por interesses comuns, revela uma intenção de criar espaços de
interlocução, ainda que com grupo restrito e selecionado, diálogos, proposição de
ideias, alcançando ao que Charle qualifica como

104 LOPES, Gabriella Assumpção da Silva Santos. Modos, formas e costumes para a educação
feminina nas páginas da Revista Popular – Rio de Janeiro (1859-1862). Relatório do Exame de
Qualificação. Programa de Pós-Graduação em História, UFGD, Dourados. Agosto, 2018. (Orientadora:
Adriana Aparecida Pinto).
105 VAGO, Tarcício Mauro. INACIO, Marcilaine Soares. HAMDAM, Juliana Cesário. SANTOS, Hercules

Pimenta dos. (orgs.) Intelectuais e Escola Publica no Brasil: séculos XIX e XX. Belo Horizonte:
Mazza Edições, 2009.VAGO et. al. 2009, p. 8.
106 DUTRA, Eliana. Circuitos da mediação intelectual no Brasil e na Argentina: literaturas nacionais e

trocas culturais transnacionais. In: GOMES, Angela de Castro; HANSEN, Patrícia. (orgs.) Intelectuais
Mediadores: práticas culturais e ação política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.
recuperar um papel ativo e uma nova função política e ideológica que
a profissionalização da vida parlamentar e partidária torna mais
problemática que antigamente. A criação de ligas (...) tem também seu
sentido oculto. Não somente defender os diretos do homem à
esquerda e a pátria, mas promover os direitos dos intelectuais como
grupo no debate político e levar a pátria com eles.107

Inevitáveis foram a ordem de questionamentos que se seguiram à constatação


daqueles espaços nas notas dos jornais: Onde as reuniões ocorriam? Haviam
registros? Havia publico? Quem era convidado a participar? Eram ordens fechadas?
Como se caracterizava? Como os jornais apresentam esse tipo de espaço?
Encaminhamentos iniciais para as análises foram lapidados a partir de Angela
Gomes, quando pontua que:

Os lugares de sociabilidade de uma geração – escolas associações


intelectuais, revistas, salões etc. – podem ser indicadores valiosos
para a análise de movimentos de produção e circulação de ideias.
Quais são esses lugares? Como se formam e com base em que
elementos e projetos se estruturam? Todas essas questões, quando
esclarecidas, podem elucidar aspectos de uma formulação intelectual,
de sua vitalidade e continuidade através do tempo.108

Pela via dos jornais foram localizadas diversas iniciativas de criação de


associações desta natureza: Club Carnavalescos, Clubes de Leituras, Sociedades
Dramáticas, pemearam as notas dos jornais, em geral ocupando um espaço reduzido,
nas páginas finais das edições, ao passo que, em situações especiais, vinham a
publico com a inserção fracionada de seus estatutos, atas de reuniões e encontros,
notificação de posses de diretoria, resultados das atividades propostas, projetos de
atuação, agradecimentos aos apoiadores financeiros, cobrança das mensalidades de
seus associados, assim como notas sobre a destituição de um ou outro membro, ou
mesmo do encerramento das atividades daquele grupo. Sociedades e agrupamentos
comerciais forma observados com igual frequência, mas não foram objeto deste
estudo.

107 CHARLE, Christophe. Nascimento dos intelectuais contemporâneos (1860-1898). História da


Educação. Tradução Maria Helena Câmara Bastos. ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas, n. 14, set.2003, p.
153.
108 GOMES, Angela de Castro. História & Historiadores. 1ª. reimpr. Rio de Janeiro: Editora Fundação

Getúlio Vargas. 2013. p. 43.


Em Mato Grosso a criação de instituições cientificas, em boa medida neste
estudo, compreendidas como espaços de sociabilidade são, antes de tudo, lugares
de formulação cultural e intelectual de um determinado grupo social, em primeira
instância, sobejamente político, com vistas a promover uma clivagem de geração,
visto que os intelectuais de primeira linha, como qualificaremos neste estudo, são
herdeiros da tradição e do poder local, os quais puderam ter estudos custeados em
São Paulo e, em boa maioria, no Rio de Janeiro, e que deram continuidade a uma
história escrita a partir dos relatos de viajantes, que apontavam, na sua grande
maioria, para um “estado atrasado, incivilizado, selvagem, dotado de uma gente
sanguinária, vingativa, preguiçosa e ignorante”, consolidando os conceitos de barbárie
e sertão, amplamente analisados por Lylia Galetti, em sua tese de doutoramento.
A imprensa mato-grossense difundiu o ideário do progresso, próprio do seu
tempo, muito presente em diferentes atores sociais, fossem presidentes de Estado,
editores e colaboradores dos jornais, que se empenharam em propor a erradicação
de problemas que impediam a região de adentrar na senda da modernidade, ainda
que o significado do termo não fosse o mesmo para os diferentes grupos oligárquicos
do norte e sul do estado, cujas desavenças culminaram, no final da década de 1970,
com a sua divisão geográfica e política.
Ao apresentar aspectos relativos à situação da imprensa, conforme os Estados
do Brasil, entre os anos de 1908-1911, os Anuários Estatísticos Brasileiros fornecem
dados sobre a existência de Sociedades Literárias, que chamara a atenção e
fortaleceram a ideia de estudar a constituição de uma rede de “Homens de Letras”,
intelectuais ou não, em Mato Grosso.

Quadro 4 – Associações científicas com divulgação em jornais mato-grossenses


séculos XIX e XX
Localidade Intituições Data de Natureza
Fundação
Corumbá Gremio Olavo Bilac Outubro de 1911 Literária
Cuiaba Sociedade Beneficiencia Outubro de 1884 Literária
Portugueza
Cuiaba Gremio Alvares de 1911 Literária
Azevedo
Cuiaba Liga dos livres pensadores 1908 Cientifica
Poconé Sociedade dramática Setembro de 1900 Dramatica
Rosário do Rio Acima Grupo de Livres Junho de 1911 Cientifica
Pensadores
Fonte: Anuário Estatistico Brasileiro, vol III – 1908-1911.
Organizado: Pinto, 2013.

A criação de associações científicas e grêmios literários impulsionou a


publicação de periódicos especializados, representativos dos interesses desses
espaços de divulgação do conhecimento regional, organizados para dar publicidade
aos projetos culturais, que não deixam de contemplar a dimensão política de seus
membros. Note-se, ainda, que tais agremiações instalaram bibliotecas especializadas,
promoveram atividades culturais, o que colabora para matizar a visão de uma Cuiabá
isolada seja em fins do século XIX ou no começo do XX.

Organizados no aparelho do Estado ou em ordens/grupos religiosos,


homens e mulheres lutaram para definir o Brasil por eles imaginado.
Se houve os que privilegiaram sua atuação dentro do aparelho do
Estado e/ou da aparelhagem religiosa, também houve aqueles que
optaram por criar organizações sociais próprias que funcionaram
como uma espécie de tribuna para as causas que abraçaram. Foram
sociedades, grêmios, jornais, revistas, academias, lojas maçônicas,
tipografias, institutos, irmandades, livrarias e colégios, entre outros.
São múltiplos espaços e redes de sociabilidade, formais e informais,
que longe de se constituírem como lugares estanques e isolados uns
dos outros, estabeleceram entre si uma séries de relações, embates,
confrontos associados às causas que pretenderam representar.109

Entendendo a importância e representatividade desses espaços, os jornais


examinados permitiram ampliar siginiificativamente os dados coletados dos Anuários.
Esses espaços de sociabilidade dos mato-grossenses, de natureza diversa e variada,
representam em primeria analise, preocupações em congregar interesses que
transcendessem a fronteira do político e econômico, muito embora, seus membros,
como se poderá observar mas adiante, estivessem presentes em várias esferas da
sociedade. Cuiabá e Corumbá demonstram,ao menos pela via dos impressos, intensa
movimentação cultural, considerando as possibilidades para o período. Supreende, a
presença, inicialmente tímida e reduzida de mulheres, como membros desses grupos,
e a partir de 1915 como co-fundadoras, ou mesmo fundadoras de grupos afins.

109GONDRA, José Gonçalves. Instrução, Intelectualidade, Império: apontamentos a partir do caso


brasileiro. In: VAGO, Tarcício Mauro. INACIO, Marcilaine Soares. HAMDAM, Juliana Cesário. SANTOS,
Hercules Pimenta dos. (orgs.) Intelectuais e Escola Publica no Brasil: séculos XIX e XX. Belo
Horizonte: Mazza Edições, 2009. p. 56.
Quadro 5 – Espaços de sociabilidade divulgação em jornais mato-grossenses (1880-
1920)
Espaços Jornal Localidade Divulgação no Natureza
divulgado jornal
Club Carnavalesco O Brazil, Corumbá Janeiro de 1902 Recreattiva
Corumbaense Autonomista,
Theatro Recreio O Brazil Corumbá Recreativa
Dramatico
Commendador
Sociedade O Brazil Corumbá 1903-1904 Interesses de
Beneficiente União Autonomista, classes
Operaria Beneficiente
Corumbaense
Sociedade Autonomista, Corumbá 1908 Interesses de
Portugueza de classes
Beneficiencia 1 de Beneficiente
dezembro
Sociedade Recreio O Brazil Corumbá 1904 Entretenimento
Corumbaense
Club União Oasis Corumbá 1894 Entretenimento
Dramatico e
Recreativo
Sociedade Recreio Oasis Corumbá 1894 Entretenimento
Dramatico
Club Carlos Gomes O Brazil Corumbá 1907-1908 Literária
Autonomista
Liga Matto - Abril de 1909 Política,
Grossense de Livre literária e
Pensadores de cientifica
Corumbá
Sociedade Theatral A Provincia de Cuiabá 1882 Entretenimetno
Progresso Cuyabno Matto Grosso
Associação Litteraria A Provincia de Cuiabá 1887 Literaria
Cuyabana Matto Grosso
O Republicano 1896
Club Litterario A Provincia de Cuiabá 1882 Literaria
Matto Grosso
Club Democratico A Provincia de Cuiaba 1888 Político
Matto Grosso
Sociedade Recreio A Provincia de Cuiaba 1888 Recreativa
Familiar Matto Grosso

Sociedade Cuiaba Outubro de 1884 Literária


Beneficiencia
Portugueza
Recreio Particular O Republicano Cuiaba Abril de 1896 Entretenimento
Escola Dramatica
Sociedade O Republicano Cuiaba Abril de 1896 Entretenimento
Dramatica Particular
mor á Arte
Sociedade Litteraria O Republicano Cuiaba Abril de 1898 Literaria
Juvenil
Club Cuyabano O Republicano Cuiaba Outubro de 1898 Não
identificada -
Presença de uma
mulher
Carmem
Albuquerque
Club Scientifico – O Republicano Cuiaba Novembro de Não
Pingo de Amor 1898 identificada -
Composto por
mulheres
Club Açucena O Republicano Cuiaba Outubro de 1898 Recreativa
Club Esperança O Republicano Cuiaba Outubro de 1898 Recreativa
Club Violeta O Republicano Cuiaba Outubro de 1898 Literária
Gremio Litterario O Republicano Cuiaba Agosto de 1920 Literária
Julia Lopes
Sociedade O Republicano Cuiaba Janeiro de 1899 Cientifica
Internacional de
Estudos Scientificos
Fonte: Banco de dados da Autora, 2018.

No curso da análise da documentação chamou a atenção a menção ao


impresso Tributo às Lettras, por ser menciondo nos jornais mato-grosssenses, e por
trazer referências às localidades regionais, embora não fosse produzido, nem
circulasse no Estado. O impresso, com características de folhetim, foi localizado no
acervo Hemeroteca, da Biblioteca Nacional. Sinalizando distribuição gratuita, mas
sem indicação de tiragem, sinalizava em sua primeira coluna de apresentação a
“(...)gratidão experimentada por aquelles que como nós aportando em terra estranha,
longe da família recebe um acolhimento superior aos seus merecimentos.”[referindo-
se a acolhida em Mato Grosso] 110
E continua, “A imprensa e a tribuna são os dous polos da vida intelectual e o
diâmetro de uma é o próprio diâmetro da outra.”111 Esta folha apresenta textos que se
assemelham à resenha em que o autor destaca aspectos da vida citadina e os
espaços de circulação de pessoas em Cuiabá, contemplando desde os comerciais
aos culturais, sinalizando ausências e fragilidades para o período, em comparação a
outras localidades conhecidas pelo autor do texto.

Esta cidade conta actualmente casas de fazendas e modas


estabelecimentos esses de primeira ordem, oitenta lojas, centro e
setenta e duas tavernas, incluindo alguns bons armazéns de molhados

110 Tributo ás Lettras, 16 de outubro de 1891, p. 01.


111 Oscar Leal, Tributo ás Lettras, 16 de outubro de 1891, p. 01.
ou mercearias. Tem mais uma livraria, uma boa pharmacia, dous
salões com bilhares, um hotel bem colocado, quatro padarias, uma
fabrica de sabão, uma relojoaria, um atelier de pintura e dous salões
de barbeiro. 112

Oscar Leal apresenta-se com o cirurgião dentista, anunciando seus préstimos


ao final da edição desta folha. Registra o agradecimento a dois colaboradores para a
publicação do impresso, cuja tipografia sinaliza como particular. Ao tratar da parte que
se dedica à cultura, Oscar Leal assim resume Cuiabá:

Há em Cuyabá, um theatro denominado Minerva, com duas series de


camarotes e espaçosa plateia onde se dão as representações da
sociedade do mesmo nome. Existe ainda uma biblioteca pequena mas
bem organizada, seis templos religiosos, um hospital publico, três
cemitérios, um lyceu de instrucção secundaria, seis escolas publicas,
para o sexo masculino e feminino e duas particulares. (...) Nota-se em
Cuyabá a falta de um Club Litterario tão útil a mocidade e
igualmente de um outro recreativo se é que um só não pode
preencher os dous fins.113

Os dados revelados neste estudo permitem afirmar dizer que Oscar Leal ou
não teve acesso a todas as informações correntes no período para tecer tais
considerações, estava indiretamente envolvido com a crítica a algum dos grupos
existentes ou ainda, o que de modo mais efetivo parece transparecer não contou com
tempo habil na localidade para realizar um mapeamento das instituições que haviam,
posto que constam dos jornais dados sobre a criação e funcionamentos de Club
recreativos desde a década anterior, mesmo que com ciclo de vida reduzido. O autor
cita a Revista do Club Litterrario

No dia 02 do andante o club Litterario deo á luz da publicidade o


primeiro numero de sua Revista. São os primeiros tirocínios, amantes
das letras. São os primeiros vôos de uma mocidade esperançosa, que
almeja seu ingresso no templo da sciencia (...) expandindo o
pensamento no cultivo das letras.114

112 Oscar Leal, Tributo ás Lettras, 16 de outubro de 1891, p. 02.


113 Oscar Leal, Tributo ás Lettras, 16 de outubro de 1891, p. 02, (grifos nossos)
114 A Provincia ..., n. 172, 16/04/1882, p. 2.
Não foram localizadas, em tempo, maiores detalhes sobre a publicação, no
entanto, em estudos futuros podem ser identificadas as relações que se firmaram
entre o autor e Mato Grosso.
A criação de Clubs de naturezas diversas foi constante tanto em Corumbá,
quanto Cuiabá. Nessa mesma linha, a existência de um club recreativo em Corumbá
entre os anos de 1890 a 1900 é noticia no Oasis de 15 de abril de 1894, cujos objetivos
“...visarão um único fim cujo éra de dar diversões aos seus associados.115

Club união dramático e recreativo


No domingo 8 do corrente pelas 12 horas do dia, uma plêiade de
jovens reunidos em casa do nosso sympathico amigo Bento Jose de
Carvalho, resolveu de comum acordo fundar nesta cidade, um club
particular, com a denominação Club união dramática e recreativo.
Depois de ser por umanimidade aceita a idéa, deliberarão eleger uma
directoria, que ficou organizada de forma seguinte:
Para presidente, José Joaquim Rabello
Para Vice-presidente, Bento Jose de Carvalho,
1º. Secretario Alfredo A. Pereira
2º. Secretario, Ricardo Mendes Gonçalves
Thesoureiro, Pedro Paulo de Medeiros. 116

O jornal congratula os “autores da idea” ao final da noticia, apresenta ainda a


organizazação que os proponentes do Club firmaram para elaborar os estatutos e
planos de ação para dar andamento as atividades do Club. Nessa comissão foram
designados Deoclecio Moreira, Ricardo d’Elia e Francisco Rabello para organizarem
o estatuto. Na edição número 268, de 26 de abril de 1894, à primeira página na Coluna
Chronica Semanal, Oasis traz notícias sobre duas outras associações que surgiam
em Corumbá, sobre as quais o cronista, não identificado, posiciona-se favoravelmente
à existência e êxito:

Uma nova associação acaba de ser fundada. O progresso da


“Sociedade Recreio Dramatico” A concurrencia nas esmolas e leilões
do Divino Espirito Santo. – espera-se grandes festejos em honra do
mesmo Santo.
Uma nova associação acaba de ser fundada sob o auspicioso
concurso da mocidade Corumbaense. Tem ella a denominação de
Club União Dramatica, e dirige os seus destinos o eminente cidadão
José Joaquim Rabello, um dos homens mais conceituados da nossa

115 Oasis, n. 267, 15/04/1894, p. 3.


116 Oasis, n. 267, 15/04/1894, p. 3.
sociedade. A União Dramatica tem já aprovados os seus estatutos,
na confecção dos quaes os srs Membros da comissão, patentearam
atividade e proficiencia insuperáveis. O chronista augura um ridente
futuro a essa agremiação, que com quinze dias de vida, apresenta um
grande accrescimo no numero de socios a ponto de contar mais do
triplo do da sua fundação. O “Recreio Dramatico” tem progredido
consideravelmente n’ estes últimos tempos devido ao seu digno
presidente que não poupa esforços para o engrandecimento dele; já
angariando sócios, pelas muitas sympathias que gosa, já empregado
so seus valiosos auxílios, para que os espectaculos surpa sem do
necessário ao contente dos associados.117

Os leilões beneficentes ocupavam espaço de divulgação na página dos jornais


e encontram-se ao que pudemos perceber, ligados a esses grupos que estavam
surgindo na cidade. Orquestrados por mulheres, que faziam os pedidos de esmolas e
colaboração para as festas religiosas. Outro expediente comum nas páginas dos
jornais mato-grossenses examinados tratava da publicação de estatutos e normas de
convivência das associações criadas. Após a aprovação do estatuto, o jornal registra
que o Club alugou espaço para congregar suas atividades e reuniões, “Aviso –
Começamos hoje a publicação dos estatutos do Club Uniao dramática, e para isso
chamamos a attenção dos nossos leitores.”118 No caso do Club, iniciando pela sessão
“Do Club e seus Fins”, os quais prega nos seus artigos iniciais o perfil a que se
destinava:

Art.º 2.º O seu fim principal é proporcional a seus sócios distracções,


não só por meios de espetáculos, como também outro qualquer
divertimento que esteja nas condicções de oferecer.
Art.º 3.º Poderá o Club dar espetáculos extraordinários quer em dia de
festa nacional, ou não, em beneficio de instituições caridosa, pia,
pessoa indigente ou em beneficio próprio, se assim resolver a
diretoria.(...)
Art.º 4.º O Club não poderá deixar de dar aos seus associados nunca
menos de um espetaculo por mez, salvo força maior, podendo
entretanto dar dois ou mais, se assim entender a diretoria.119

O papel da imprensa matogrossense continua a ser reiterado:

117 Oasis, n. 268, 26/04/1894, p. 01.


118 Oasis, n. 268, 26/04/1894, p. 03.
119 Oasis, n. 268, 26/04/1894, p. 04.
[...] Nessa terra, repito, onde tudo, tudo, até a própria civilisação, está
ainda em embryão; onde tudo carece de ser encaminhado, animado e
impulsionado pela imprensa, esse bello invento de Guttenberg, sem o
qual a instrucção seria apanágio de poucos e o povo jazeria na
ignorância; parece incrível, e causa mesmo pasmo, haver quem
busque a falta de assumpto como pretexto para excursar-se de prestar
o valioso concurso de seu saber á causa da civilisação e progresso,
que a mesma imprensa representa. Sim, porque já se tem dito, enão
me cançarei de repetir, que é pella imprensa que se avalia o gráo de
adiantamento, civilisação e progresso de um povo. Falta de assumpto.
Que irrisão! [...]120

A ausência de uma imprensa de circulação diária, como afirma o autor do artigo


publicado em O Republicano de 26 de janeiro de 1896, traduz uma importante
contradição e ao mesmo tempo uma dicotomia: os jornais em circulação eram
veiculados em dias distintos da semana, sendo possível afirmar que diariamente
chegavam títulos às mãos dos matogrossenses, com diferentes formatos, preços e
interesses, sobretudo em Cuiabá, onde funcionava a maior parte das tipografias. A
quem se destinavam aquelas “folhas”? Qual o pretenso público que se esperava
atingir, tendo em vista que a situação tanto dos níveis de alfabetização quanto do
poder aquisitivo da população eram objeto constante de críticas. Ao desejar que os
periódicos chegassem às mãos dos leitores “quentes”, como o “prato do dia”, o que
se almejava para consolidar essa prática? Ou ainda, para quem?
Por outro lado, crítica contundente era feita sobre os modos de apropriação e
leitura dos jornais da época, como evidencia o excerto que segue:

...Quer saber o leitor porque não podemos ter ainda um diário? É por
que aqui, como em Lisbôa, quase todos somos distinctos escriptores,
mas muito pouco ledores. Sabem porque eu isto digo? Pela negação
que quase todos, ou pelos menos uma grande maioria dos nossos
conterrâneos, tem de assignar jornaes! [...] Pois a cultura, civilisação,
progresso e desenvolvimento de um povo se avalia essencialmente
pelo que diz a sua imprensa. [...] não se diga, portanto, que em Cuyabá
não há elementos para manter uma imprensa diária! Desenvolva-se
na população o gosto pela leitura dos jornaes, e procure-se convencer
tanto ao rico e opulento capitalista, como ao pobre operário, que a
imprensa é realmente a machina propulsora do progresso, que sem
ella, sem o seu impulso, todo e qualquer commetimento será, senão
de todo impossível, pelo menos bastante moroso e de improfícuos
resultados; abandone-se de uma vez para sempre o mau vezo, o
indecente costume de se pedir o jornal do visinho, muitas vezes

120 Aluizio, Conversemos..., O Republicano, n. 38, 22/03/1896, p. 02.


imprudentemente, antes de o ser lido; economise cada um o
necessário para comprar diariamente o seu jornal; faça-se também
pelo menos uma tiragem de 1000 exemplares, alias muito pequena
para uma população de quase dezoito mil almas, que [ilegível]
prometto dar ao publico uma folha diário pelo módico preço de 100 réis
cada exemplar, quase exclusivamente o preço do papel. [...] Já vê o
leitor que por este lado não é que o barco havia de fazer água: por
falta de assumpto não é que o nosso diário deixaria de sahir a lume:
por falta de azeite sim, consumir-se-hia a torcida e, apagando-se a
lamparina, ficariamos ás escuras. Ora, sendo a luz inimiga das trevas,
está claro que, sem aquella estas não poderiam nunca ser
espantadas.121

Todo o arrazoado argumentativo apresentado em uma seção denominada


“Conversemos”, denota a intenção de que o alcance das palavras ganhe um cunho
pedagógico: a imprensa seria um dos livros por meio do qual se aprenderia a ler, como
já pontuado em outros periódicos na década passada. A preocupação aparente é a
venda e comercialização dos periódicos, contudo, não bastaria apenas que, como
bem disse o articulista, os leitores deixem de tomar de empréstimo os jornais dos
vizinhos para ler, ou pratiquem a oralização da leitura.
Seria necessário, nas entrelinhas desta reivindicação, fomentar investimentos
na formação do público leitor, ainda que não passassem pela questão da
escolarização da população diretamente; o argumento comparativo referente ao
número da população – dezoito mil almas – para um jornal com uma tiragem de 1000
exemplares, que era o que se desejava, ainda sim seria insuficiente para instaurar
uma modalidade de progresso e desenvolvimento associada à leitura, sobretudo, a
julgar pelos valores praticados na venda dos jornais122; as assinaturas eram
dispendiosas, assim como o valor dos exemplares avulsos, algumas equivaliam a
percentual significativo do salário pago aos professores no período.
Naquela mesma edição o Republicano traz notas a respeito dos investimentos
financeiros já anunciados pelo governo parisiense, para a realização da Exposição
Universal a ser realizada na virada do século – anos 1900. O que significa dar uma
notícia como essa, a um público que, segundo o autor da matéria, inexistia?123

121Aluizio, Conversemos... O Republicano, n. 22, 26/01/1896, p. 02.


122Ver Quadro 05 - Circulação e comercialização dos exemplares de jornal.
123 As notas sobre as Exposições Internacionais e Nacionais são constantes nos periódicos

examinados, sendo necessário um estudo mais detalhado sobre a sua inserção na imprensa
matogrossense.
Das demandas que fomentarim a vida cultural e intelectual em Mato Grosso,
pela via da imprensa, registre-se a campanha por abertura de um biblioteca pública
municipal em Corumbá, sinalizada em O Brasil124, coordenada por seu editor Avila
Franca, os interesses destacados pelo grupo vão se sedimentando ao longo das
semanas de publicação.
Em 1903, ao assumir o jornal A Patria, que passa a compor a publicação, O
Brazil apresenta com regularidade os cumprimentos recebidos por jornalistas de
diversas localidades, congratulando ao editor, Themystocles Serra, pela iniciativa de
dar ao público uma publicação como a que é responsável. Ainda que não relacionem
nomes, apenas os títulos dos jornais, é possível mapear a circulação da informação,
e a pretensa rede de sociabilidades que transcende ao regional. A exemplo citam-se
Botucatu, SP, Parahiba, Santo Antonio de Jesus.
Acredito que esse estudo ainda está por ser feito no campo dos impressos
periódicos e sua rede de circulação e recepção.
As apresentações promovidas pelos clubes recreativos ou sociedade
dramáticas traziam, por vezes, “pessoas ilustres” à Mato Grosso, fato que não
passava despercebido aos jornais da época. Reiterados foram os anúncios sobre as
atividades do Club Carnavalesco Corumbaense125 da Companhia Italo Rumena de
Variedades, do diretor Carisi Dobler Herminio, “Theatro Recreio Dramatico
Commendador”.
Ponto de encontro de determinados grupos, esses espetáculos e
apresentações de teatro arrancavam “Corumbá do estado de profunda apatia em que
se achava”126. Quando haviam presenças,consideradas ilustres nas apresentações
teatrais ou nas atividades dos Clubes ou Ligas, uma nota era costumeiramente
publicada e, por vezes, reiterada nas edições posteriores:

Realmente, o illustre comendador Carisi, que tantos elogios merecera


da imprensa do Prata e de outros pontos onde trabalhou, é - podemos
affirmal-o sem receio de contestação – um perfeito e exímio artista,
digno portanto de todo apoio da sociedade Corumbaense. AO
THEATRO, POIS! 127

124 O Brazil, n. 5, 19/10/1902.


125 O Brazil, n. 16, 11/01/1902, , p. 03.
126 O Brazil, n. 1718/01/1903, , p. 02.
127 O Brazil, n. 18, 25/01/1903, p. 02
Assim como o teatro, a instalação do cinema rendeu fartas notícias aos jornais
examinados. A edição de 26 de agosto traz a estreia do Cinematographo
Corumbaense, destacando que “ as grandes capitães, como Rio, Pariz, Londres etc.,
viram com um vago espanto, as casas das suas avenidas tomadas por ...assombrosos
repetidores, dos movimentos humanos”128, aproximando Mato Grosso das grandes e
modernas cidades.
Em O Autonomista, o jornal de maior tiragem e circulação do Estado de Mato
Grosso, segundo expresso na epígrafe da própria folha, foram frequentes notas
publicadas a respeito das atividades e da movimentação desses espaços recreativos
e beneficentes, três em especial ocuparam espaço nas páginas do periódico:
Sociedade Portugueza de Beneficiencia 1º de Dezembro; Club Carlos Gomes;
Sociedade Beneficiente Uniao Operaria Corumbaense129; Club Carnavalesco
Corumbaense130.
No exame dessas e de outras noticias que circularam em Corumbá,
constatamos que a grande incidência dos anúncios de determinados Espaços desta
natureza poderia ser aribuida ao fato de que seus membros eram, por vezes, membros
também da tipografia e redação do Jornal que trazia tais notas: Noticias do Club
Carnavalesco chamada para eleição da nova diretoria, Themystocles Serra, era
membro (secretario) desse clube.

A elevada missão de fazer a “encyclopedia do nosso tempo” além de


larga somma de esforços e tenacidade é também indispensável ao
jornalista, muito bom senso, apurado critério: a sua consciência não
deve jamais ser desobedecida, um momento siquer. Surgindo no
campo vasto onde se chocam os pensamentos e as ideias – a primeira
posição que assumimos foi de imprensa independente. Um dia,
porém, os acontecimentos reclamaram nossos serviços numa outra
esfera, fazendo-nos orgam de um povo oprimido por um governo que
entendera fazer, de seus concidadãos, tristes escravos. Deste posto
de combate, não recuamos uma linha ao menos, com a nobreza que
só em despertar todas as causas santas: e, por isso, galhardamente,
vencemos.131

128 O Brazil, n. 279, 26/08/1908, p. 01.


129 Autonomista n. 128, 01/02/1908 (páginas diversas).
130 Autonomista n. 134, 14/03/1908, p. 2.
131 O Brazil, n. 335, 23/09/1909, p. 01.
Themistocles Serra também dedicou-se ao ofício docente, sendo funddor da
“Escola Publica Complementar de Corumbá”, a qual divulgada por meio de notas mais
condensadas no jornal, orienta aos interessados que o procurem, caso desejem
maiores informações132. Como o primeiro, Lauro Pinheiro, um dos proprietários do
jornal esteve também envolvido com o exercício do magistério, fundando, inicialmente
em sua própria casa, depois transferindo-o para um espaço maior o “Collegio S. João
de Escocia” em regime de internato e externato. A divulgação do colegio, na
modalidade de anúncios passa a figurar na edição de julho de 1909, com regularidade.
Igualmente envolvido com as lides da imprensa e em vários setores da
sociedade mato-grossense, ao lado de Themistocles e Lauro, Amilcar Barbosa
marcou sua atuação com protagonismo no cenário regional. O Brazil registra seu
falecimento, aos 25 anos, na edição de 13 de janeiro de 1910133. Apresenta um
portfólio com elementos da história de vida pessoal e profissional, desde que chegara
em Mato Grosso, vindo do Rio Grande do Sul, em 1904, envolvendo-se com a redação
e gerencia do jornal A Patria. Em 1904 fundou um colégio em Corumba, e em 1907
passa a fazer parte da equipe de redatores d’O Brazil, fundando outra escola -
Gymnasio Estadoal: “Foi também professor publico da escola complementar desta
cidade e era lente de historia no importante collegio São João de Escocia 134. Já em
1909, foi nomeado correspondente, em Corumbá, do jornal A imprensa que circulava
no Rio Janeiro.
Essa mesma edição apresenta toda a primeira pagina em homenagem a
Amilcar, com sua biografia e contribuições para a cidade de Corumba.

(...) Jornalista illustre, desde muito jovem bastante se salientou na


nossa imprensa: era sempre o primeiro a possuir as novidades,
acompanhadas das informações seguras e precisas, dispondo, para
isso, duma atividade inexcedível e dum tino admirável.135

132 O Brazil, n. 329, 19/08/1909, p. 03.


133 O Brazil, n. 351, 13/01/1910.
134 O Brazil, n. 351, 13/01/1910. p. 01.
135 O Brazil, n. 351, 13/01/1910.
Imagem 1: Edição arquivada na redação do Jornal O Brazil, com assinatura do Editor

Fonte: O Brazil, n. 337, 22 de novembro de 1909.

Outra forma de associação identificada nos jornais constituiu-se nas formação


de Ligas. Tanto em Cuiabá quanto em Corumbá, as Ligas parecem ter exercido
significativo papel em várias dimensões sociais, assim, como enunciava “A Liga Matto-
Grossense de Livres Pensadores que vae prestando reaes serviços a sociedade,
festeja amanhã o primeiro anniversario de sua fundação.”136 Na edição de ...de agosto
de 1910 localizamos duas chamadas interessantes:

A Tesoura
Chamamos attenção dos interessados para o aviso que vem na
secção competente com a epigraphe acima. Trata se de uma
convocação feita pela Liga de Livre-Pensadores, para a compra das
apólices da referida Tesoura que passara a ser orgam da Liga, A
reunião será ás 2 horas da tarde de documento, 28, nesta redação. 137

Na mesma página encontramos a referida chamada:

Liga de Livre-Pensadores – Corumbá


CONVITE
De ordem do Sr. Presidente da Liga Matto-Grossense de Livre-
Pensadores, convicto todos os acionistas da TESOURA, para uma
reunião depois de amanhã, domingo, 28 do corrente, ás duas horas
da tarde na redação d’O BRAZIL, afim de tratar se da acquisição das
respectivas apólices. Corumba, 26 de Agosto de 1910.
João Baptista de Oliveira Motta.
Segundo secretario”138

Na edição de 2 de setembro, publicada na Secção Livre, novamente a Liga de


Livre-Pensadores faz-se presente nas páginas do jornal O Brazil:

136 O Brazil, n. 366, 28/04/1910, p. 01.


137 O Brazil, n. 383, 26/08/1910, p. 02.
138 O Brazil, n. 383, 26/08/1910, p. 02.
A TESOURA
O abaixo assignado responsável pelas 139 apolices emittidas para a
compra do prelo onde era impresso o periódico ‘Tesoura’ faz publico
que nesta data entregou aos sr. Jayme Pitaluga e João Baptista de
Oliveira Motta, representantes da Liga Mottogrossense (sic) de Livre-
Pensadores de Corumbá o referido prelo e mais pertences, em vista
do compromisso abaixo firmado. Corumbá, 28 de Agosto de 1910.
Antonio Pedro Brandão de Magalhães. Os abaixo assignados
representantes da Liga Mattogrossense de livre pensadores (sic) de
Corumba, declaram ter recebido do Sr. Antonio Pedro Brandão de
Magalhaes o prelo e mais pertences, onde era impresso o periódico
‘Tesoura’, obrigando-se a dentro do prazo de seis mezes, contados
desta data, entregar ao mesmo Sr. Antonio Pedro Brandão de
Magalhães, as cento e trinta e nove apólices emittidas para a compra
do aludido material. Corumbá, 28 de Agosto de 1910.
Jayme Pitaluga
João B. de Oliveira Motta.139

Em se tratando de Cuiaba, a Liga de Livre-Pensadores valeu-se da imprensa


para firmar as intenções e propósitos da atuação daqueles que a compõem, bem como
apresentar o princípios que constituem essa forma de organização, educativa, como
indicam seus membros, mas que coloca-se frontalmente contra qualquer forma de
imposição do pensamento, sobretudo aqueles professadas pela Igreja. O Jornal A
Reacção, subintitulado “orgam da Liga Matto-Grossense de Livre-Pensadores”, foi na
primeira década do século XX em Cuiabá, o exemplo da imprensa colocada para esta
finalidade, aproximando a Liga dos leitores mato-grossenses. Os redatores registram
cumprimentos de cidadãos de Corumbá, elogiosos e destacados. “O Livre-
Pensamento não é como muitos julgam uma seita nem um partido. Os livre-
pensadores têm apenas, como ligação entre si dois únicos princípios: Liberdade e
Tolerância. O segundo é corolário do primeiro.”140
Circulando aos domingos, o jornal funcionou como a tribuna de propagação de
ideias, ideais e interesses de seus membros, sendo seu instrumento de divulgação
mais valoroso e, guardadas as devidas proporções, de alcance mais ampliado.
Constituiu-se em o espaço de circulação das notas, dos resultados das reuniões, dos
embates com outros jornais sobre os assuntos propostos pelos sócios da Liga,
estabelecendo-se como espaço de lutas e representações em nome de uma preterida

139 O Brazil, n. 384, 02/09/1910, p. 02.


140 A Reacção, n. 24, 22/12/1912, p. 03.
autoridade no campo dos debates sócio culturais do período, sob a égide de
determinados temas. Observamos que, em oposição ao ideário católico, Gustavo
Kuhlmann se coloca textualmente nos jornais, em defesa dos interesses professados
pela Liga, que procurava preencher a “funda lacuna que ainda existia em nosso
meio.”141

A exemplo do que se passa em todos os centros civilisados, mais ou


menos populosos, onde as classes laboriosas possuem associações
importantes que trabalham sempre para melhorar a situação precária
dos seus membros, e que, às vezes, até por sua coesão, harmonia e
unidade de vistas constituem verdadeiras forças vivas que sabem
impor-se ao conceito público e á consideração dos governos, assim,
entre nós, onde a classe operaria é muito grande e acha-se quase ao
desamparo, contando com seus únicos esforços, aliás parcos e
dispersos, torna-se premente e inadiável a necessidade da fundação
de uma liga ou agremiação que venha tirar dessa situação todos os
humildes elementos do Povo, esses abnegados lutadores da vida que
a custa de ingentes esforços e sacrifícios conseguem ganhar o pão,
esses preciosos factores de prosperidade de outrem, esses ingênuos
escravisados do capital e verdadeiros perseguidos da sorte ingrata e
avara, esses finalmente esquecidos da sociedade alta.”142

Ao publicar o “catecismo do Livre-Pensador”143 em formato de artigo publicado


em formato de cartas, contando com 7 edições no qual contestam-se os ideias
propostos pela igreja católica e a formação de um ser humano com habilidades de
pensamento, condições para decidir sobre suas vida e desejos

Com a sinceridade que caracteriza seus atos, visando única,


exclusivamente o bem estar daqueles que, sendo os alicerces da
sociedade alta, vivem sob o peso enorme dessa mesma sociedade,
procurando apenas lançar o germem fecundo da solidariedade na
classe laboriosa, a Liga Matto-Grossense de Livre-Pensadores, em
cumprimento a um de seus elevados ideaes, fez distribuir por toda a
cidade um boletim, assinado pela respectiva Diretoria, convidando o
operariado em geral para uma reunião em que se tratara de fundar
uma associação dessa classe(...). 144

Gustavo Fernando Kulhmann é considerado intelectual representativo dos


interesses dos educacadores mato-grossenses (cuiabanos de modo mais

141 A Reacção, n. 27, 04/01/1913, p. 02.


142 A Reacção, n. 25, 29/12/1912, p. 02.
143 A Reacção, n. 17, 03/11/1912, p. 03.
144 KUHLMANN, Gustavo. A Reacção, n. 27, 04/01/1913, p. 01.
particularizado), em virtude de sua intensiva atuação no campo educacional,
estendendo-se a outro setores d sociedade, como evidencia sua participação da Liga,
na condição de secretario, depois de vice presidente. Ao chegar em Mato Grosso em
1910, juntamente com a segunda Missão de Professores Paulistas145, a pedido do
Presidente de Estado Pedro Celestino, Kulhmann engajou-se na educação e em
outros setores, constituindo família e permanecendo até 1917, quando retorna ao
interior paulista para ssumir funções também no campo educacional. Sua atuação é
destacada em várias frentes, no entanto, não foram localizados até o momento,
estudos do campo educacional, que identificassem sua participação/atuação na Liga.

Declarou o Professor Kuhlmann, em nome da Liga de Livre-


Pensadores, que esta não queria vangloriar-se da idéa que tinha tido,
lançando-a, visou unicamente, o cumprimento de um dos mais belos
pontos do programma.146

As reuniões dos Livre-Pensadores constituíam–se a nosso ver em espaços de


sociabilidade, por meio dos quais para além das redes já estabelecidas por relações
de parceria afetiva, intelectual e em nome da causa pretensamente benemérita, outras
pessoas eram convidadas a participar das assembleias, que tornavam-se publica
pelas paginas do jornal A Reacção, por meio das chamadas que eram feitas em todas
as edições. O jornal circulava aos domingos e, nos exemplares examinados, as
convocações, como são chamadas, aconteciam sempre com uma semana de
antecedência, para as reuniões a serem realizadas no próximo domingo.
O jornal assume, direta e frontalmente, posição crítica aos religiosos católicos
e publiciza por meio de denuncias e críticas, o modo de pensar de seu redatores,
sobretudo em relação à Missão Salesiana, fortemente presente em Cuiabá nesse
período. Os maiores sujeitos desses diálogos estão também presentes em outros
jornais que circularam no período, citados nominalmente encontramos A Cruz e O
Debate.
Em carta de despedida à diretoria da Liga, Lyndolpho Cuyabano destaca seu
apresso pelo trabalho realizado por Gustavo Kuhlmann, ampliando o escopo de

145 Sobre aspectos da atuação de Gustavo Kuhlmnn em Cuiabá, conferir: SÁ, Elizabeth Figueiredo de.
Gustavo Fernando Kuhlmann: um bandeirante na cruzada da instrução (1910-1930). Revista
Educação Pública. Cuiabá: EdUFMT, n. 18, v. 38. 2009.
146 A Reacção, n. 27, 04/01/1913, p. 01.
circulação das ideias da Liga, quando sinaliza que ira levar os exemplares para
Corumba, local em que fixaria residência:

Peço, pois, desculpar-me. Juntamente ofereço a valente “A Reacção”


em Corumbá, para onde brevemente sigo, a minha maior dedicação.
Faço votos que sempre a prosperar e perseguindo sempre os
immoraes possa um dia fazel-os debandar. Si como “A Reacção”, mais
cem jornaes houvesse, poderíamos resar o De Profundis pelos
clericais.147

Querelas políticas e morais, ao lado de disputas políticas mediadas por texto,


replicas e tréplicas eram comuns em jornais do período, sobretudo entre os grupos ou
de interesses antagônicos. Em situação que auxilia na compreensão da dimensão
deste estudo, localizamos, um embate entre “intelectuais e não intelectuais”, que vale
recuperar aqui. Em uma disputa que lembra, guardadas as devidas proporções, a
repercursão jornalística do “Caso Dreyfus”, mencionado nas páginas dos jornais mato
grossenses em 1898, por ocasião de diversas notas publicadas n’ O Matto Grosso,
qualificando a equipe do A Reacção como intellectuaes, designação que os deixou
profundamente ofendidos, conforme demonstra o excerto abaixo:

A audácia dos vencidos


O último número do “O Matto-Grosso trouxe a mesma conversa fiada
de sempre, com o acréscimo daquela adjectivação com que fomos
tratados pela “Gazeta Official” – intellectuaes.
Mas o velho periodico teve a espirituosa lembrança de griphar aquella
palavra, e fe-o varias vezes, com esse menosprezo que somente os
superiores podem ter.
Não somos intellectuaes.
Apenas cumprimos nossa missão sem bulha nem matinada,
modestamente; e quando taxamos de inconstitucional o decreto 21,
argumentamos com a lei, citamos opiniões de juristas, escrevemos
com acerto e sem basófia, o que absolutamente não fez nem fará “O
Matto Grosso”.
Damos-lhe com prazer a palavra para discutir o decreto em questão,
comprometendo-nos de antemão a destruir tudo o que em favor do
mesmo decreto seja dito. E nem por isso nos julgamos “intellectuaes”.
O que é extranhavel é que um articulista que em tom pejorativo nos
brinda com essa expressão, considerando se, conseguintemente,
mais inteligente que nós, escreva estes trechos pyramidaes: ‘ deixa
em paz teus conterraneregistraos e vá chorar...pretendestes...Vá e
não te esqueças...’

147 A Reacção, n. 22, 8/12/1912, p. 02.


Não somos intellectuaes, repetimos: apenas sabemos discutir,
concebemos a lei, que é o que muita falta faz aos nossos adversários.
(...)
A chacota não lhes traz victoria (...). 148

Os intelectuais vem na participação com publicação em jornais pontos


culminantes da carreira. No estudo em desenvolvimento, identificamos que esses
Homens de Letras, em bora nem todos possam ser qualificados como intelectuais,
como pretendemos demonstrar no curso da pesquisa, esses intelectuais atuam em
vários lugares sociais, na sua maioria em espaços que lidam com o interesse público
ou privado, mobilizando o que Luciano Faria Filho qualifica como “sociabilidades
políticas, intelectuais e afetivas.”149
Essas relações se espraiam para postos de comando e cargos de confiança, a
medida em que vão se lapidando com a convivência e partilha de ideias e interesses
comuns. A publicação de textos, opiniões e ideias no jornais assume, ao nosso ver, a
função educativa, já sinalizada em outros estudos, proposta em uma ambivalência de
esferas: primeiro a intenção de transmitir algo, de forma organizada, com
argumentação passível de convencimento, é por definição pedagógica, pois parte do
princípio de instruir/ensinar outrem sobre algo.
Os jornais funcionam como material de ensino, sendo eles mesmos os próprios
mediadores culturais entre o conhecimento de quem publica e a necessidade de
conhecer de quem acessa ao material. Levando-se em consideração que a população
alfabetizada ainda não havia alcançado níveis significativos nas cidades de Cuiabá e
Corumba, outro dado que corrobora para diluir esse argumento trata-se da relevância
de ambas as cidades para várias esferas da vida mato-grossense, econômica,
política, cultural, e por conseguinte, educacional

aquele que desempenha o papel de instigar e desestabilizar a ordem


construída, se esforçando para derrubar os estereótipos e categorias
redutoras que limitam o pensamento crítico e a comunicação
humana150.

148 Republicano, 12/11/1917, p. 1-2, grifos nossos.


149 FARIA FILHO, Luciano Mendes de. Editoração, sociabilidades intelectuais e mediação cultural: a
ação de prefaciadores na publicação das obras copletas de Rui Barbosa – (1939/1949). In: GOMES,
Angela de Castro; HANSEN, Patrícia. (orgs.) Intelectuais Mediadores: práticas culturais e ação
política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. p. 376.
150 Edward SAID, 2005, p. 36 apud XAVIER, Libânia Nacif. Interfaces entre a história da educação e a

história social e política dosintelectuais: conceitos, questões e apropriações. GOMES, Angela de


Outra possibilidade legitimação desses sujeitos, coroando o final da segunda
década do século XIX em Mato Grosso, seria a criação do IHGMT, no qual, ao que se
pode perceber muitos desses intelectuais que tiveram projeção maior ou menor, na
escrita de aspectos ligados àquelas terras, consolidaram seu nome e contribuições
para a historiografia regional.
A partir de 1917 a imprensa periódica mato grossense passa a contar com um
periódico direcionado as mulheres do seu tempo – A violeta – produzido pelo grêmio
literário Julia Lopes. Localizamos nos jornais, em especial no Republicano 151 notas
sobre a movimentação do grupo, ainda no formato de Grêmio, o que será explanando
no item que segue.
O ano de 1919, marca importante iniciativa para o campo intelectual mato
gorssense – a fundação do Instituio Histórico Geografico de Mato Grosso. As
iniciativas referentes á esse espaço não foram localizadam de modo mais amplo.
Contudo é possível identificar notas sobre as assembleias do Instituto Histórico de
Mato Grosso152.
Nesse investimento de pesquisa foi possível ainda, acessar outra
documentação da ordem dos impressos, pouco observada/analisada nos estudos
acadêmicos mato-grossenses. A partir de 1898 começam a circular, nos jornais
examinados, anúncios de comercialização de Almanacks. Inicialmente àqules
produzidos no Rio de janeiro, com representantes nas redações e tipografias em
Cuiabá e Corumbá, e no inicio do século XX, amplia-se a iniciativa de produzir
almanaques no estado.
Entendemos esse movimento como uma forma alternativa de produção e
circulação de ideias, tematizando formatos e interesses diversos, não
necessariamente contemplados na imprensa de circulação periódica, mas poderiam
conquistar adeptos de outra natureza e condição financeira para adquirir aquele tipo
de material. Na edição de 19 de agosto de 1920, lê-se a nota: Almanack “O
pensamento” produzido pelo dono da Livraria São Sebastião – Frederico Teixeira –

Castro; HANSEN, Patrícia. (orgs.) Intelectuais Mediadores: práticas culturais e ação política. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. p. 478. (grifos no original).
151 Republicano, n. 139,12/11/1917.
152 Republicano, n. 295, 05/02/1920.
voltado para o hipnotismo e sciencias ocultas153. Iniciativas congêneres foram
observadas em relação ao Almanack Cuyabano para 1898, organizado por Emilio R
Calhao, “enriquecido por matérias diversas de utilidade publica e parte litteraria
substancial.”154

2.2 A imprensa e as sociabilidades femininas

Observar e analisar a presença ou participação feminina nos jornais, sobretudo,


entendendo-as a partir da categoria de intelectuais mediadores, constituiu desafio
particularmente árduo a este estudo. Muitos dos editores, redatores e colaboradores
dos jornais examinados assinavam sob pseudônimos, por vezes o mesmo autor, a
julgar pelo tema que tratava, assumia uma identidade diferenciada, o que em certa
medida, a nosso ver, conferia certa autonomia de pensamento, fidelizando certos
grupos de leitores a determinados modos de pensar. Essa prática não era vista
sempre com bons olhos pelo próprios colegas de oficio, no meio jornalistico da época.
As trocas de ofensas entre os colaboradores do próprio jornal e de outros em
circulação, foram objeto constante de notas n’O Republicano, a exemplo citam-se o
caso dos pseudônimos utilizados como forma de esconder o plágio realizado. Os
próprios autores que assinavam sob o signo do pseudonomo sofreram represálias no
seu tempo e lugar de publicação, exemplo do que se observa na manifestação de
descontentamento de Macario:

Pondera ele que a denuncia partio de um nosso colega de redação.


Nós não podíamos senão responder a quem publicou e subscreveu a
denuncia, deixando de lado o denunciante. (...) Em seu folhetim de 6
do corrente o nosso critico afirmou que os colaboradores d’O
Republicano guardavam o incognito para poderem plagiar á vontade.
Qual a lei que prohibe investigar a procedência de artigos subscritos
por pseudonymos, ou não assignados? Esta injusta, para não dizer
descortesia, foi feita a todos os colaboradores da nossa folha: eles
agradeçam-lh’a penhorados, especialmente Traumer como o mais
assíduo. Para terminar, só manifestamos o desejo de conhecer o
denunciante do pseudo-plagio; pois queríamos saber qual é, entre
todos os collaboradores d’O Republicano, o felizardo que não é
considerado plagiário.155

153 O Republicano, n. 345, 19/08/1920, p. 3.


154 O Republicano, n. 218, 12/12/1897, p. 4.
155 Macario, O Republicano, n. 115, 17/12/1896, p. 02.
Cabe, nessa abordagem, a referência ao fato de que, neste estudo não foi
possível um exercício de rastreamento mais detalhado acerca da confirmação efetiva
da autoria feminina que vamos explorar no texto que segue. Contudo, há elementos
que indicam que se trata de uma autora.
A historiadora Tânia Regina de Luca156 enfatiza os diferentes momentos nos
quais o assunto mulheres aparece na imprensa, acompanhando as conquistas sociais
e igualdade formal de direitos políticos. Embora sinalize mudanças, a historiadora
ressalta a existência de um notável desequilíbrio entre a presença de figuras públicas
masculinas e femininas nos noticiários, assim como presença de certos estereótipos
em torno de mulheres que adentraram na arena do poder. A percepção de Tania de
Luca se materializa no exame dos jornais mato-grossenses, no entanto, foi possível
estabelecer elementos de análise e problematização para perseguir existência dessa
escrita pretensamente feminina, no âmbito das possibilidades que os jornais permitem
nas linhas e entrelinhas de suas publicações.
O jornal registra a iniciativa de duas mato-grossenses que encontram-se
estudando em escolas norte americanas, intitulado A Mulher. São elas Maria Augusta
Generoso Estrella e Josepha A. F. Mercedes de Oliveira.157

UMA DOUTORA BRASILEIRA’ – Os jornaes norte-americanos dão-


nos a agradável noticia de que a nossa distinta patrícia D. Maria
Generosa Estrella acaba de receber o gra´o de doutora em medicina,
cabendo-lhe proferir o discurso do estylo. A solenidade foi muito
concorrida. Enviamos a nossa distincta patrícia os nossos mais
sinceros tributos de admiração.158

Em 15 de novembro de 1896 identifica-se a primeira assinatura feminina


presente no jornal O Republicano. Zelia é a autora dos cumprimentos pelo aniversário
de primeiro ano do jornal, juntamente com a data histórica da proclamação da
Republica: “Por isso, animada do singular enthusiasmo com que hoje o saudam, allio-

156 LUCA, Tania Regina de. Mulher em revista. In: Carla Bassanezi Pinsky e Joana Maria Pedro. (Orgs.)
Nova História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2012.
157 O Corumbaense, Noticiario, n. 70, 28/03/1881, p. 02.
158 O Corumbaense, n. 89, 28/05/1881, p. 02.
me ás justas felicitações que lhe são dirigidas...”159 (p. 1) Nesta edição, todos os textos
estão assinados pelos seus autores, indicados por siglas ou pseudônimos.
Dessa edição em diante, Zelia participara ativamente das páginas d’O
Republicano, inicialmente com a escrita de pequenos contos e crônicas, que
destacavam as esferas do feminino e da vida em sociedade, possivelmente de sua
própria autoria, e posterioremente com textos de opinião, envolvendo-se com temas
do cotidiano cuiabano, ainda que marcados por uma certa preocupação representativa
dos espaços destinados às mulheres daquele tempo. Exemplo dessa inserção
temática, tem-se no texto em que trata da importância dos exames finais, mas se
compadece do trabalho dos professores que sofrem cobranças de todos os lados:

... Mas consolem-se, minhas pequenas, que não sereis só as mal


recompensadas. Vossos mestres, por sua vez, também sofrem, e mais
ainda, porque para vós sempre há desculpa, para eles não. Tudo lhes
é contrário: o governo ahi esta para censurar; os paes, por outro lados,
também falam, e os jornaes anda mais. Vedes? No entanto não vêm
eles, nem siquer pensam um instante, quanto é espinhosa a missão
do professor. Ponham-se alguma horas apenas nesse logar e isso
comprehenderão melhor. Estou certa que então serão mais justos
para com esses probres e desinteressados benfeitores da
juventude.160

Simultaneamente à participação de Zelia como colaborador no jornal,


observam-se textos que exaltam, destacam o qualificam a mulher para o trabalho e
para uma ampliação da vida social, para além das atividades voltadas à manutenção
do matrimonio e da família. Em um texto de resposta Zelia, destaca o recebimento de
uma “missiva” que ao que tudo indica , foi elogiosa a respeito de sua colaboração no
jornal, para a qual ela registra em sua coluna, uma “breve resposta”:

Vejo-me tão embaraçada com a interessante missiva que me foi


dirigida, que sinto-me mesmo acanhada; pois não me acho n caso de
corresponder dignamente á amabilidade de minha illustre colega.
Como posso eu fornecer-lhe assumptos dignos de sua pena, si, como
ella, não possuo uma intelligencia cultivada e enriquecida por esse
grande gênio litterario. Comtudo, farei algum esforço, talvez inútil, não
importa: por isso que, quando empreendi essa carreira bastante
espinhosa, so tive em vista trabalhar em favor do nosso caro Brazil e,
com particular empenho, por esses infelizes de que fala, como

159 O Republicano, n.106, 15/11/1896, p. 01.


160 ZELIA, Exames Escolares, O Republicano, n. 110, 29/11/1896, p. 02.
também defender o bello sexo, que é actualmente tratado de um modo
pouco decoroso e sem justo motivo. Para isso estudo os meios de
expor-lhes algumas verdades, que espero serão acolhidas com
interesse, porque parte de um coração que se sente verdadeiramente
magoado, ouvindo as satyras que lhe são dirigidas, ainda que
indirectamente. Conto nesta empresa com o seu engenhozo auxilio,
amada colega. 161

A participação de uma colaboradora foi observada pela primeira vez dentro


todos os jornais examinados até o momento. Ao lado de frases citada como “a mulher
é um defeito bonito da natureza” (15 de abril de 1897, n. 149, p.2) Zelia continua a
assinar colunas no jornal em 1897, indica, em alguns momentos que recebe cartas
com sugestões de temas a serem desenvolvidos na sua coluna (n. 122, 124) e
manifesta agradecimento ao jornal O Matto Grosso, por aceitar o seu material bem
como outras instancias de produção impressa,

aproveito-me, portanto, desta ocasião para apresentar áquelles que


tiveram a insigne condescendência e amabilidade de aceitar as
insignificantes producções que tive a ousadia de enviar-lhes, os
protestos de verdadeira gratidão; e a ti, distincta colega, envio um
sincero apeto de mão, assegurando-te que me serão sempre gratas
as tuas missivas.162

Essa inserção de Zelia sugere uma produção escrita que aparentemente


começa a se fazer circular por Cuiabá.

Que a instrucção entre nós esteja atrasada não ha negar; porém não
tanto como a educação, que deve ser o alicerce da instrucção. Muitas
vezes acontece que uma pessoa dotada de uma inteligência rara, um
espirito engenhoso e até um mesmo de um grande talento artístico,
nada aproveita, porque lhe falta o apoio da aplicação, essa alavanca
de toda indústria humana, que so o estudo pode dar, E não faltam
meios, sinão mais cuidado e interesse da arte dos paes ..Então nós,
minha colega, devemos calar também? Não, mil vezes não. Si a nossa
arma é a língua, falemos. Deixa que o mundo inteiro se revolte contra
nós, não importa. Não estamos no tempo da liberdade? Terminando
por hoje o meu cacete, confio a ti, boa colega, a correção das minhas
expressões, aliás grosseiras e toscas.163

161O Republicano, n 116, 20/12/1896, p. 02.


162ZELIA, REMISSIVA, O Republicano, n. 124, 17/01/1897, p. 03.
163 ZELIA, REMISSIVA, O Republicano, n. 129, 04/02/1897, p. 03.
Na edição de, localizamos uma nota de Raul Plinio (pseudônimo de um dos
redatores do Republicano) endereçada à Zelia : “Zélia, a minha amiga e discípula, não
poude ocultar a sua alegria pelo meu regresso a esta terra, que tanto amamos, Sou-
lhe grato por isso; desta coluna lhe envio um adeus de despedida.”164 Na seara da
defesa pela instrução e pela educação no Estado, Zelia continua ponderando em seus
textos analises sobre o cenário matogrossense, que assumem feições distintas a
medida em que avançam os dias e intensificam-se a sua participação.165
A preocupação que se demonstra em distinguir as ações de instruir e educar,
ou aproximá-las com vistas ao desenvolvimento do Estado, aliando família e governo,
fica evidente no texto que leva em seu título ambas as expressões:

Sem a instrucção e a educação entre {ilegível} mas indispensáveis a


todas as classes, isto e, ao rico como ao pobre devem por isso mesmo
ser consideradas muito importantes; porque, se a falta de instrucção é
causa dos mais desastrosos effeitos, de certo que o meno descuido
na educação produzira mais serias conseqüências.
A ignorância infunde de ordinário esse fluxo desordenado, essas
despezas exageradas no supérfluo; ao passo que a instrucção unida
a uma educação seria, esmerada e bem dirigida, além de fazer realçar
os dotes naturaes, elevam a alma, proporcionando-lhe conhecimentos
uteis não so á família como á sociedade em que vive.
E não se pode attingir a um tal gráo de instrucção sem estudos bem
dirigidos e aproveitados: cumpre, pois, amáveis leitoras, que dilatemos
o circulo de nossos conhecimentos, que estejamos preparadas para
que em qualquer situação que nos achemos, possamos preencher a
nossa missão e exercer a mais efficaz influencia na esphera de nossa
actividade intellectual e moral.
[...]
Mas, como haverá alguém que venha a representar um
importantíssimo papel na grande escala social, é que me atrevo a
excitar-lhe o animo para a conquista de taes prendas, que nos elevam
acima do nível commum e dirigem nossos passos ás aspirações da
pátria amada166

Aos nossos presados colaboradores Zelia e Americano pedimos que


nos relevem não sahirem neste numero os seus artigos. Como
sempre, a affluencia de matéria obrigou-nos a isso.167

164 O Republicano, n. 132, 14/02/1897, p. 02.


165 O Republicano, n. 138, 07/03/1897, p. 03.
166 ZELIA, Instrucção e Educação, Republicano, O Republicano, n. 138, 07/03/1897, p. 03.
167 O Republicano, n. 144, 28/03/1897, p. 02.
Embora não fosse colaboradora do jornal, uma mulher mereceu atenção
especial em virtude de sua produção escrita, que trata da história regional, sobre ela
O Republicano dedica uma nota meritória e divulga o material produzido, o livro
“Lembrancas de Matto-Grosso” de

Maria do Carmo de Mello Rego” escriptora que já conquistou invejável


nomeada no circulo dos literatos brasileiros, acaba de produzir mais
uma joia de grande valor, enfeixando em um pequeno volume alguns
capítulos de impressões pessoaes e de lendas indígenas deste
Estado, tudo escripto com a elegância de estylo e o encanto especial
que reçumam os trabalhos da sua primorosa pena. (...).168

A partir de 1916 observa-se na imprensa examinada, a movimentação de um


grupo de mulheres nas atividades intelectuais daquele momento169, notas sobre
reuniões, chamadas para atividades coletivas passam a configurar as ultimas páginas
do Republicano, e em 1917, efetivamente, vieram à público notas efetivas sobre a
criação do Grêmio Literãrio Julia Lopes. Em 1920, neste mesmo jornal, encontramos
noticias sobre mudança na Diretoria e movimentação do Gremio Litterario “Julia
Lopes”, cuja nova diretoria foi literalmente anunciada nas páginas do periódico:

São as nominadas:
Henriqueta Esteves - presidente
Bernardina Rich – vice presidente
Maria D. Lobo – 1 secretaria
Herminia Torquato – 2 secretaria
Zulmira Canavarros - thesouriera
Vicentina Epaminondas – diretora da Bibliotheca
1 secretaria, que envia a nota – Alzira Valladares170

O Grêmio foi responsável pela publicação da Revista A violeta171. (considerada


um primeiro periódico feminista em Mato Grosso.

168O Republicano, n. 237, 07/02/1898.


169O Republicano, n. 139, 11/03/1897
170 O Republicano, n. 344, 15/08/1920, p. 02.
171 Estudos sobre a Revista A Violeta podem ser conferidos em : NADAF, Yasmin Jamil. Sob o signo

de uma flor. Rio e Janeiro: Sette Letras. 1993. Marques, Ana Maria. 2010.
PARTE III - DIÁLOGOS INTERNACIONAIS172: OS INTELECTUAIS MATO-
GROSSENSES E SUAS REDES DE SOCIABILIDADES ALÉM FRONTEIRAS

Mato Grosso, no período entre os anos de 1880 a 1920, segundo estudos


históricos contemporâneos, é permeado pela ambiência cultural presente no país, em
relação aos ditames do progresso e da civilização em oposição à conservação da
tradição. Sobre essa ambiência Lylia Galetti ponderou:

Fronteira do Brasil com dois países estrangeiros, situado no interior


mais recôndito do território nacional, com grande parte de suas terras
chamadas de sertão e sob domínio de inúmeros indígenas, que lugar
seria reservado a Mato Grosso e suas populações no mundo civilizado
da passagem do século XIX para o XX? Nesse tempo progresso e
civilização eram referências, palavras de ordem, bandeiras e
imperativos que se impunham para vastas áreas do mundo e suas
populações? Um mundo onde populações indígenas, tribais, eram
tidas como bárbaras e atrasadas por exibirem diferenças históricas e
culturais que a grande maioria dos pensadores desse período, fossem
estrangeiros ou brasileiros, mato-grossenses, acreditavam ser um
obstáculo no caminho evolutivo da humanidade?173

Observam-se nos periódicos examinados, marcas textuais frequentes


relacionadas ao ideário de civilização e progresso, cujas matrizes, igualmente
explícitas derivavam da França, Suíça e Alemanha, para mencionar os países mais
citados. As notas com este teor, propugnavam a adoção de medidas que colocassem
o Brasil, e mais particularmente Mato Grosso, em sintonia com os ritmos da
modernidade vislumbrada: Londres (Inglaterra) e Paris (França), a exemplo do que

172 Significativo investimento de organização e exame da presença francesa no Brasil pode ser
verificado em VIDAL, Laurent; LUCA, Tania Regina de. (orgs.) Franceses no Brasil: séculos XIX e
XX, 2009.
Os dados em relação a Mato Grosso são apresentados nesse estudo. Identificamos produção nesse
sentido, no início do século XIX, sobre a Expedição Langsdorf, 1827, conforme os estudos de Maria de
Fátima Costa, ou ainda a influência do pensamento francês na organização intelectual religiosa,
conforme apontada por Candido Moreira Rodrigues em sua tese de doutorado (2006), contudo sobre o
período em exame carece ainda de pesquisa. Sobre Mato Grosso, vale ainda consultar: RODRIGUES,
Candido Moreira. Tradição, autoridade, democracia: A Ordem: uma revista de intelectuais católicos
(1934-1945). Dissertação (Mestrado em História). Universidade Estadual Paulista, UNESP. Assis.
2002. Estudos sistemáticos sobre os franceses que se “nacionalizaram” mato-grossenses, a exemplo
de Augusto de Leverger – Barão de Melgaço são desconhecidos. Sobre a crítica ver: SENA, Ernesto
Cerveira de. Entre anarquizadores e pessoas de costumes: a dinâmica política nas fronteiras do
império - Mato Grosso (1834-1870). 2009.
173 GALLETTI, Lylia da S. Guedes. Sertão, Fronteira, Brasil: imagens de Mato Grosso no mapa da

civilização. Cuiabá, MT: Entrelinhas: EdUFMT, 2012. p. 24.


afirmava José Murilo de Carvalho174, configuraram-se em algumas referências
culturais adotadas pelos editores de jornais mato-grossenses, manifestando sua
adesão cultural ao velho mundo em contraste às transformações em curso.
Divididos entre a influência clássica oriunda da tradição francesa, cujo
pensamento político estava orientado nas premissas de Rousseau e das iniciativas
revolucionárias ocorridas nos Estados Unidos, com base no pensamento de
Montesquieu, José Murilo de Carvalho afirma que o entusiasmo pelo ideário político
francês no Brasil era inegável, embora houvesse grupos políticos fortemente
organizados, os quais advogavam, evidentemente em prol de seus interesses, o
modelo norte-americano como àqueles que colocariam o país nas sendas do
progresso e desenvolvimento econômico que se almejava no final dos novecentos.
Instauram-se lutas por representações que pudessem ser consideradas legitimas
independentemente dos grupos que as advogavam:

Todas as nossas aspirações, todas as preocupações dos republicanos


da propaganda, eram de fato copiadas das tradições francesas.
Falávamos na França bem-amada, na influência da cultura francesa,
nas menores coisas das nossas lutas políticas relembrávamos a
França. A Marselhesa era nosso hino de guerra, e sabíamos de cor os
episódios da grande revolução. Ao nosso brado ‘Viva a República!’
seguia-se quase sempre o de ‘Viva a França” [...] A França era nossa
guiadora, dela falávamos sempre e sob qualquer pretexto.”175

Em uma outra abordagem, direcionada à produção intelectual e suas formas


de apropriação no Brasil, Carvalho aponta que a citação de autores estrangeiros não
pode ser apenas vista como um fator de dependência intelectual, antes sim, como um
recurso de autoridade, de “argumentação retórica”176 .
Nesse sentido o autor alerta que, “em princípio, portanto, a citação de um autor
estrangeiro não significava necessariamente adesão a suas idéias, embora pudesse
significar”177.

174 CARVALHO, Jose Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São
Paulo: Companhia das Letras, 1987.
175 palavras de um oficial da Marinha em 1912, apud CARVALHO, Jose Murilo de. A formação das

Almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 12-3.
176 CARVALHO, Jose Murilo de. História intelectual no Brasil: a retórica como chave de leitura. Topoi.

Rio de Janeiro, 2000, n° 1, p. 143.


177 Ibid., p. 143.
Para o historiador das ideias, ela pode constituir antes um obstáculo,
uma armadilha, do que uma pista sólida de explicação. A estratégia de
leitura deve, então, ultrapassar essa barreira retórica para tentar
chegar ao que poderia estar mais próximo do sentido do leitor, ou do
sentido dos leitores. (...) Produziram engenheiros, médicos, militares,
que sabiam filosofar sobre a ciência e o mundo, sem saber fazer
ciência. E filosofavam no mesmo estilo retórico, em que o brilho da
frase, sua qualidade literária, a variedade dos tropos, eram mais
importantes que sua veracidade. Naturalmente o brilho era o que deles
se esperava, mesmo quando falavam contra o vício da retórica. 178

A imprensa mato grossense não se furtava a esse debate e, dando publicidade


ao âmbito nacional, com maior incidência para as transformações ocorridas nos
cenários urbanos, sendo o Rio de Janeiro referência significativa na década de 1880,
ampliada, após a década de 1890, para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais e Rio Grande do Sul, o fazia também em âmbito internacional,
popularizando notícias da Europa (França, Inglaterra, Alemanha, Itália e Suíça) e
América do Norte (Canadá, Estados Unidos). Exemplo da pertinência desses lugares
em Mato Grosso foram as notas publicadas sobre as missões de governantes
europeus pelo Brasil, e algumas delas em Mato Grosso, conforme noticiado em A
Provincia179, destacando a importância se promover ações na mesma medida e
intensidade no Brasil.
Ao buscarmos elementos que indicassem a “presença” de franceses em Mato
Grosso, encontramos pistas no jornais que circularam em Corumbá, de contatos com
espaços francófonos, com a leitura de Luca, e o exame detalhado dos jornais, ao lado
do exame dos censos que foram produzidos no período que se circunscreve esse
estudo, buscaremos compreender como se dava essa presença em Mato Grosso, se
física ou apenas como referência cultural, materializada na circulação de dispositivos
de leitura e formação intelectual. Nesse sentido, à exemplo que que pontuam Vidal e
Luca, acerca da “invisibilidade” dos franceses em regiões do Brasil, pode se
configurar, outrossim em um vazio historiográfico, demandando estudos históricos que
indiquem, revelem ou sustentem a qualidade dessa presença,180

178 CARVALHO, Jose Murilo de. História intelectual no Brasil: a retórica como chave de leitura. Topoi.
Rio de Janeiro, 2000, n° 1, p. 144-45.
179 A Provincia de Matto Grosso, 28/11/1880.
180 VIDAL, Laurent; LUCA, Tânia Regina de. (Orgs.). Franceses no Brasil: séculos XIX-XX./ São

Paulo: Editora UNESP, 2009. p. 15.


Embora essa prática fosse comum aos jornais da época, chama atenção a
circulação de notícias a partir da comunicação estabelecida por correspondentes
sediados em determinados países, sendo possível constatar que, a propósito das
trocas e permutas de periódicos, estudo que ainda está por ser feito em Mato Grosso,
igualmente comuns aos jornais da época, mantinham-se intensas e, em determinados
anos, frequentes correspondências que evidenciaram, pela escrita das cartas
publicadas, modos de perceber a vida no âmbito internacional, a qual por vezes
poderia servir de base, inspiração ou modelo para a organização cultural da vida em
Mato Grosso, conforme a opinião do(s) correspondente(s), expressa ao final destes
textos. Ao contrário do que se possa crer, a manutenção de correspondentes era
prática em Mato Grosso, tal como o era entre os principais jornais brasileiros, cuja
presença ainda segue pouco explorada pela historiografia regional. Os constantes
anúncios dos almanaques franceses nos jornais mato grossense também conclamam
aos pesquisadores do campo a debruçarem-se sobre o temário.
Em estudo realizado, identificamos as correnspondências publicadas apenas
em um dos jornais à época examinados – O Corumbaense – no entanto, em vistas as
propostas de análise esse material foi coligido em destacado com elemento de uma
pretensa proximação cultural, sem no entanto, se deter a exames mais detalhados.181
Face, então, à possibilidade de retomar os estudos sobre a imprensa, na via do
estudo sobre os intelectuais mediadores, essa aproximação retornou aos interesses
de estudo, sendo constatada e, inclusive, ampliada em relação ao exame anterior,
envolvendo dois periódicos, e um volume significativo de correpondências mapeadas,
conforme sinaliza o Gráfico que segue:

Gráfico 2 – Correpondências Francesas em jornais mato-grossense (Seções)

181
PINTO, Adriana Aparecida. Nas páginas da imprensa: instrução/educação nos jornais em Mato
Grosso: 1880-1910. Tese (Doutorado em Educação Escolar) – Universidade Estadual Paulista,
Faculdade de Ciências e Letras, UNESP, 2013 Araraquara, SP.
Distribuição das Correpondências em Seções
18 17
16 16
14
12
10 8
8 6
6 5
4
4 3
2
2 1 1
0

Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

Entre os anos de 1880 à 1885, constatou-se que, semanalmente, eram


reservados espaços nos jornais para a publicação das “Correspondencias Europeias”,
“Universaes”, “Europeas”, “Franco-Europeas”, “Franco-Brasileiras”, “Universal” e
“Europea”, e ainda as correspondências publicadas de modo avulso nos jornais, em
Suplementos, nas “Noticias Mundanas”182 inferimos que os editores buscavam
contemplar um público de leitores com hábitos diferenciados àqueles que se
costumava observar. O levantamento e análise que ora se apresentam pautaram-se
no interesse para investigar como os jornalistas mato-grossenses constituíram redes
de sociabilidades em diálogo com países estrangeiros, na medida em que, a princípio,
a vinda de imigrantes não havia sido muito impulsionada para a região, dadas sua
topografia, dificuldade de acesso e investimentos limitados nesse sentido. No caso
em estudo, a França parece ter sido o país escolhido para ensaiar essa aproximação
cultural.

Os acontecimentos do outro lado do Atlântico eram seguidos com


atenção pelos jornais da capital do Império, que se apropriavam da
conjuntura em consonância com as crenças e valores do campo
político que representava. O exemplo francês inspirava os que
desejavam mudar a ordem vigente...183

182A Provincia de Matto Grosso, n. 118, 03/04/1881.


183 VIDAL,Laurent; LUCA, Tânia Regina de. (Orgs.). Franceses no Brasil: séculos XIX-XX./ São Paulo:
Editora UNESP, 2009. p. 209-10)
Ao buscar elementos para compreender a presença física e/ou cultural destes
estrangeiros, constatamos que a presença francesa pode ser identificada pela via dos
estudos históricos de Maria de Fátima Costa e Pablo Diener, relativos à Expedição
Langsdorf184, perpassando à tese de doutorado de Odemar Leotti (2013)185 que
discute a configuração do campo intelectual e identidade mato-grossense, a partir da
constituição dos membros do Instituto Histórico, identificando a tradição francesa
como marca formativa naqueles espaços, contudo, o primeiro estudo não dialoga com
impressos periódicos, e o segundo somente com revistas e números isolados de três
jornais mato-grossenses.
Os estudos de Candido Moreira Rodrigues186 indicaram a importância do papel
dos intelectuais franceses na formação do pensamento da elite brasileira, sinalizando,
em estudos posteriores, a presença desse ideário em jornais e revistas que circularam
em Mato Grosso entre os anos de 1930 a 1950. Em Mato Grosso há dados que
atestam a presença física de franceses no período estudado, e, muito embora sejam
poucos, considera-se pertinente afirmar que a França exerceu papel significativo na
conformação dos modos e costumes de uma parcela da população local.
Indicador da “presença” cultural francesa naquelas terras, na perspectiva dos
estudos literários, Yasmin Nadaf187 afirma que o modelo de folhetim publicado nos
jornais mato-grossenses é tributário do modelo implantado na França e Rio de Janeiro
no final do século XIX e início do XX. A julgar pelos estudos acionados, a presença
francesa configurou-se menos por uma presença física e mais cultural em Mato
Grosso, conforme sugerem os estudos de Franceli Aparecida da Silva Mello 188, acerca
das produção literária e práticas de leitura, em Mato Grosso, no século XIX. Contudo,

184 Ver: COSTA, Maria de Fatima.Viajando nos bastidores. Cuiabá: EdUFMT, 1995. COSTA, Maria
de Fatima; DIENER, Pablo. Bastidores da Expedição Langsdorf. Cuiabá, MT: Entrelinhas, 2014.
185 LEOTTI, Odemar. Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso IGHMT: relações de poder,

escrita política, cientificidade e a invenção do mato-grossense moderno (1895-1934). Tese (Doutorado


em História) UNESP, Assis, 2013.
186 RODRIGUES, Candido Moreira. Alceu Amoroso Lima: matrizes e posições: um intelectual católico

militante em perspectiva histórica (1982-1946). Tese (Doutorado em História). Universidade Estadual


Paulista, UNESP. Assis. 2006.
187 NADAF, Yasmin Jamil. Rodapé das miscelâneas: o folhetim nos jornais de Mato Grosso, Rio de

Janeiro: 7Letras, 2002.


188 “Práticas de Leitura e Produção Literária em Mato Grosso: A Presença Francesa no Século XIX”

Projeto de Pesquisa desenvolvido no Programa de Estudos de Linguagem, da UFMT – Cuiabá.


Disponível em: http://www.ufmt.br/ufmt/un/secao/5135/meel. Acessado em 14 de junho de 2017.
as abordagens ainda não respondiam a questão posta: Por quais motivos se manter
uma coluna de correspondência de França em jornais locais?
A publicação de notícias sobre a França, como evidenciaram, notadamente, os
jornais O Corumbaense e A Provincia de Matto Grosso, sugerem as trocas comuns
entre as redações de jornais, indicando a circulação do periódico Le Mensager du
Brésil189 que contava, segundo os redatores, com farto material sobre o Brasil e sobre
Mato Grosso (questão a ser investigada em estudos futuros) O periódico franco-
brasileiro é frequentemente citado nas páginas do jornal O Corumbaense,
alimentando notícias do além-mar, em terras do Brasil Central.
Em conformidade com estudos que investigam a presença da imprensa
estrangeira no Brasil, identificamos que esse jornal resultou da transformação do Le
Gil-Blas, jornal que circulou no Rio de Janeiro entre os anos de 1877-1878, conforme
aponta Tania de Luca190 em estudo realizado sobre a publicação estrangeira, que
continua sua numeração, mantendo a sequência de seu antecessor, a partir da edição
de número 48, de 07 de setembro de 1879, assume o título acima mencionado,
qualificando-se como um jornal adulto191, cujo acervo da Biblioteca Nacional dispõe de
172 exemplares, entre os anos de 1878 à 1884.192
Tem-se, a exemplo do que pontua Nadaf (2002) acerca da publicação novelas
e contos franceses em formato de Folhetins193, outra estratégia editorial para cativar
um público leitor, desejoso por aproximar-se daquelas referências culturais sem, no
entanto, deslocar-se até o país. Culmina com essa percepção o nome do primeiro
espaço destinado a exibição de filmes em Cuiabá - Cine Parisien e o registro do
primeiro filmógrafo que, vindo de Paris, chega à Corumbá em 1903, dando origem à
primeira sala de exibição de filmes de Mato Grosso.

189 O Corumbaense, n. 61, 19/02/1881.


190 LUCA, Tania Regina de. Le Gil-Blas (1877-1878): humor e política em prol do ideal republicano. In:
LUCA, Tania Regina de; GUIMARAES, Valéria. (orgs.) Imprensa Estrangeira Publicada no Brasil:
primeiras incursões. São Paulo: Rafael Copetti Editor, CNPq, 2017.
191 LUCA, op, cit,. 2017, p. 225.
192 Id. Op. cit., 2017, p. 230.
193 Estudo recente assevera a importância dos Folhetins como impressos periódicos em circulação na

segunda metade do século XIX e início do século XX. Ver: TRIZOTTI, Patricia Trindade. Ao pé da
página: o espaço tipográfico do folhetim na imprensa paulistana. 2017. Tese (Doutorado em História).
UNESP. Assis.
Em boa medida, o diálogo com a bibliografia que identifica a presença física ou
cultural dos franceses no Brasil194, pautando a análise para o território mato-
grossense, nos parece possível e exequível pela via dos impressos periódicos, visto
que, como sinalizado, os jornais mato-grossenses, além de reverenciarem certos
modos de ser e viver da Europa, cultuavam a França como lugar de modernidade
referencial. Em relação as publicações francesas impressas e em circulação no Brasil,
durante o século XIX, Tania de Luca assinala que:

Não se pode esquecer da importância da língua francesa ao longo do


século XIX e até, pelo menos, meados da centúria seguinte, quando o
domínio francês era parte obrigatória da formação das pessoas
cultivadas, ao que se somava o fato de o idioma ser largamente
utilizado na diplomacia, circunstâncias que acabavam por transmitir
aos impressos que o utilizavam certo grau de distinção, não desfrutado
por outras publicações em língua estrangeira. Talvez não seja demais
afirmar que a aquisição e preservação desses impressos por
instituições publica possa ser, pelo menos em parte, explicada pela
força da língua de Molière. Além do mais, como porcentagem
significativa de seus acervos foi constituída por doações, é bem
provável que parte desse material tenha primeiro figurado em
refinados gabinetes de trabalhos e bibliotecas de intelectuais ilustres,
que não se furtavam a adquirir periódicos em francês editados entre
nós. 195

Em seu estudo Tania de Luca mapeou na documentação do período o registro


de 6108 imigrantes franceses no Império, em 1872, dos quais 458 na província do Rio
de Janeiro e 2884 no Município Neutro196. Em outra menção à entrada de franceses
no Brasil tem-se, entre os anos de 1882-1891 o registro de 1922 franceses no país.
Ao considerrmos o Recenseamento como um documentação preliminar para
consolidar dados de Mato Grosso no que se refere `indicação da presença de
franceses em Mato Grosso, pautamo-nos na própria relatividade do documento oficial,
que neste caso é tomada como base para o mapeamento dos dados, em vistas à
comprovação da hipótese inicial, não perdendo de vista os limites deste tipo de
registro, à época realizado com extrema precariedade, como o próprio documento

194 VIDAL, Laurent; LUCA, Tânia Regina de. (Orgs.). Franceses no Brasil: séculos XIX-XX./ São Paulo:
Editora UNESP, 2009.
195 LUCA, Tania Regina de. Le Gil-Blas (1877-1878): humor e política em prol do ideal republicano. In:

LUCA, Tania Regina de; GUIMARAES, Valéria. (orgs.) Imprensa Estrangeira Publicada no Brasil:
primeiras incursões. São Paulo: Rafael Copetti Editor, CNPq, 2017. p. 189.
196 Id. Op. cit., 2017. p. 189-90.
sinaliza: “O recenseamento de Matto Grosso é dos mais diffíceis e, por isso, os seus
resultados são sempre deficientes. Há ali algumas nações de índios semi-civilizados
que alguns incluem outros excluem dos cálculos sobre a população.”197
A população de Mato Grosso, nos anos que perfazem a esse estudo, podem
ser assim visualizadas:

Quadro 5 - Populução em Mato Grosso conforme os Recenseamentos entre os anos de


1872 a 1920
Censos População População População População de
Total em Cuiabá em Corumbá estrangeiros
1872 60417 35987 1.669
1890 92827 17815 958
1900 118025 34393 12.205
1920 246612 35678 25.664
Fonte: Fontes:https://censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=4&uf=00 acessado em 31 de
março de 2018.
Elaborado: Pinto, 2018

A população de Mato Grosso, conforme os registros do censo de 1898


acusavam: 47.196 homens, 45.631 mulheres, totalizando 92.827 individuos 198., Já em
1900, registram-se 59.797 homens, 58.228 mulheres, totalizando 118.025 almas199. A
organização adotada pelo censo segue a configuração provincial da região, ou seja
na década de 1870 haviam 9 municipios: Cuyaba, que congregava 7 freguezias, (no
censo qualificadas como parochias) e Miranda, St. Anna do Paranayba, Diamantino,
Rosario do Rio Acima, Poconé, Corumbá, Villa Maria e Matto Grosso.
No exame mais pontual acerca da população estrangeira (francesa) registrada
em cada Parochia tem-se:

Quadro 6 - Populução Francesa em Mato Grosso conforme os Recenseamentos entre


os anos de 1872 a 1920
Parochia Homens Mulheres
Parochia do Senhor Bom 8 homens solteiros, 2 mulheres casadas,
Jesus de Cuyabá católicos católicas

Parochia de São Gonçalo de 1 homens solteiro, católico. Não há registros


Pedro II

197 RECENSEAMENTO ..., p. 448.


198 RECENSEAMENTO..., p. 418.
199 RECENSEAMENTO..., p. 421.
Parochia de Nossa Senhora Não há registros Não há registros
da Guia

Parochia de Nossa Senhora Não há registros Não há registros


do Livramento

Parochia de Santo Antonio Conforme o quadro geral da população dessa parochia, não
do Rio Abaixo há registro de nenhum individuo de nacionalidade
estrangeira, por isso o censo não apresenta esse quadro.

Parochia de Nossa Senhora Não há registros Não há registros


de Sant’Anna do
Sacramento da Chapada

Parochia de Nossa Senhora Não há registros nesse censo. Conforme o quadro geral da
do Carmo de Miranda população dessa parochia, não há registro de nenhum
individuo de nacionalidade estrangeira, por isso o censo não
apresenta esse quadro.

Parochia de Santa Cruz de 12 homens solteiros, 8 não há registro de mulheres


Corumbá solteiros 1 viúvo, todos
católicos200
Parochia de Sant’Anna do
Paranahyba

Parochia de Nossa Senhora 1 homens solteiro católico. Não há registros


da Conceição do Alto
Paraguay Diamantino

Parochia de Nossa Senhora Não há registros Não há registros


do Rosario do Rio Acima

Parochia de Nossa Senhora Não há registros Não há registros


do Rosario de Poconé

Parochia de São Luis da Villa 1 homens solteiro, 1 homem Mas não há registros de
Maria casado, ambos católicos mulheres.

Parochia da Santíssima Não há registros Não há registros


Trindade de Matto Grosso

Fonte: Recenseamento de Populações do Brasil, setor Mato Grosso 1880 a 1920.


Elaborado: Pinto, 2018.

200 Nesse caso, um dado chama atenção no censo: seriam 21 homens franceses nessa residentes
então nessa parochia, contudo, a somatória apresentada no documento registra apenas 16, não
acreditamos que tenha sido apenas um erro tipográfico, visto que os códigos de impressão foram
utilizados em outros itens.
Para Mato Grosso o Recenseamento de População de 1872 registrou a
presença de 1669 estrangeiros201 foi possível localizar a menção à 27 imigrantes
franceses em Mato Grosso. Do total de população estrangeira registrados nesse
censo tem-se: 1005 homens e 304 mulheres. Na consolidação dos dados relativos à
população estrangeira o censo apresenta que haviam 27 franceses na província,
sendo estes: 18 homens solteiros 6 casados e 1 viúvo, todos católicos; 2 mulheres
casadas católicas. Ou seja, quase 10% da população de estrangeiros nesse período
na região era composta por franceses.
Em 1897, constata-se uma diminuição desse número que cai para 958
(RECENSEAMENTO, p. 448). Os dados relativos a 1900, contudo, apontam aumento
significativo da entrada de imigrantes no estado, sinalizando 12.205 almas 202
Em relação ao censo de 1900, o documento aponta que

as informações recebidas do Estado de Matto Grosso são deficientes


par calculo da taxa de crescimento no decennio 1890-1900. Como
falhassem ainda os elementos do Registro Civil, foram s populações
municipais calculadas, admitindo para o decênio ultimo a taxa de
crescimento geométrico médio anual 0,0243 que se obteve
comparando a população recenseada em 1872 (60.417) com a
recenseada em 1890 (92827). 203

Caetano Manoel Faria de Albuquerque (Tenente-Coronel do corpo de


engenheiros responsável pelos dados de população para o ano de 1897, em 90.000
almas. Em relação ao censo de 1920, “o qual ficou definitivamente terminado em
fevereiro de 1922 (...) suppridas convenientemente algumas falhas, impossíveis de
evitar, representam a verdadeira população do Estado de Matto Gosso, cujo número
de habitante, inclusive as tribos indígenas calcula em cerca de 250.000.”204

Tomando apenas para exemplificação o quinquênio que vae de 1908


a 1912, e considerando exclusivamente, entre os imigrantes aqui
entrados por esse tempo, os de origem italiana, franceza, portuguesa,
hespanhola, allemã, austríaca, inglesa, slava e hollandeza, que são os
de maior contingente, teremos o seguinte quadro estatístico (...)205

201 RECENSEAMENTO..., p. 448.


202 RECENSEAMENTO..., p. 450.
203 RIO DE JANEIRO. Synopse do Recenseamento de 31 de dezembro de 1900. Diretoria Geral de

estatística. Ministério da Insustria, Viação e Obras Publicas. 1905. p. VII.


204 RECENSEAMENTO..., p. 528.
205 RECENSEAMENTO Geral do Brasil, 1920, volume Introdução, p. 335-336.
Os franceses ocupam sétimo lugar nessa classificação, com 6.277 indivíduos,
que é liderada pelos portugueses com 223.085 indivíduos. “Como se vê, o número de
extrangeiros que se casam com brasileiras é maior do que o dos que se casam com
as suas respectivas compatriotas.”206

Quadro 6 - População francesa nos municípios de Mato Grosso


Municipio Homens Mulheres Total
Aquidauana 11 1 12
Bella Vista 2 2 4
Campo Grande 10 1 11
Corumbá 7 3 10
Coxim 1 - 1
Cuyabá 11 8 19
Diamantino - - -
Livramento 1 - 1
Matto Grosso - - -
Miranda 6 1 7
Nioac - - -
Poconé 2 - 2
Ponta Porã 4 2 6
Porto Murtinho 1 - 1
Registro de Araguaya - - -
Rosario Oeste 1 - 1
Sant’Anna do Paranayba 1 - 1
Santo Antonio do Rio Abaixo - - -
Santo Antonio do Rio 6 5 11
Madeira
São Luis de Caceres 13 7 20
Três Lagoas 1 1 2
Total 78 31 109
Fonte: Organizado e adaptado a partir do exame do Recenseamento População estrangeira em Mato
Grosso, 1920, volume 4 (parte 1). p. 660-662.

Em relação ao mapeamento de população estrangeira nas capitais brasileiras,


o Censo aponta a existência de 11 homens e 8 mulheres em Cuyabá (p. 328). Em
termos de território, registram-se a presença de 25. 321 estrangeiros, destes sendo
16.099 homens e 9.222 mulheres207.marcando a predominância do sexo masculino
neste grupo. Em relação ao quarto censo realizado em 1920, que veio à público em
1928, não constam informações sobre Matto Grosso.

206 RECENSEAMENTO Geral do Brasil, 1920, volume 4. p. 337.


207 RECENSEAMENTO..., p. 408-409.
Quanto à população de estrangeiros-franceses no censo de 1920, não há
dados de população relativa à esse grupo de imigrantes, dentre a população
identificada por essa categoria. Em síntese, de 1.565.961 habitantes identificados
como estrangeiros, os franceses ocupam a cifra dos 11.894 almas208.

Na região central, o Estado de Matto Grosso é o que apresenta maior


número de emigrantes das populações vizinhas sul-americanas,
achando-se disseminados em todo o território do Brazil os imigrantes
procedentes da Turquia asiática, os quais são entretanto, mais
numerosos em alguns Estados do sul, sobretudo em São Paulo e
Minas, onde também se verifica o mesmo em relação aos Japoneses.
209(p. LXI).

Em face ao cenário estatístico da população estrangeira no Brasil até os de


1920, os franceses marcam presença em Mato Grosso, sinalizando a escala de 9,2
em cada 100 habitantes de cada nacionalidade210 constantando que a População de
estrangeiros “é assaz notável no Estado central de Mato Grosso - conforme indicam
os algarismos dos recenseamentos de 1900 e 1920211”.
Em uma outra frente de estudos, mais diretamente ligada genealogia e
consolidação da memoria familiar, a sistematização da documentação de Jean Serrou
Camy (1850-???), um francês que veio para o Brasil após a Guerra do Paraguai e
fixou residência em várias localidades do Sul do Mato Grosso, falecendo em Campo
Grande, realizada por um membro de sua família, em 2014212, forneceu dados a Ely
Carneiro de Paiva, o qual movido pela pergunta: “O que um francês dos Pirineus vinha
fazer nos sertões do Brasil Central em pleno século XIX, quando o pouco de civilização
que havia nessas terras tupiniquins, naqueles tempos de Pedro II, ficava no nosso
litoral?”213, para aprofundar e avançar em relação aos estudos iniciados iniciados por
Maria Luiza214 recuperando elementos da genealogia, lançando mão de farta
documentação ao longo dos 8 anos de suas pesquisas em Brasil e França, cujos

208 RECENSEAMENTO..., p. LXI.


209 RECENSEAMENTO..., p. LXI.
210 RECENSEAMENTO..., 1920, p. LXII.
211 RECENSEAMENTO..., p. LXIV.
212 CAMY, Maria Luiz Serrou. Início de uma grande família: Serrou-Camy. Campo Grande, 2014.
213 PAIVA, Ely Carneiro de. Jean Serrou Camy: um francês dos Pirineus no coração do Brasil, Campo

Grande, Instituto Histórico Geográfico de Mato Grosso do Sul. 2018. p. 19.


214 CAMY, op. cit. 2014.
resultados apresenta em formato de livro, patrocinado pelo Instituto Histórico
Geográfico de Mato Grosso do Sul, em 2018215.
O autor localiza nos jornais, embora sua documentação privilegiada seja de
origem cartorária, indicativos da movimentação politica, econômica e cultural de
Serrou Camy, evidenciando mais uma vez, a importância desta documentação para
estudos de diversas ordens no campo histórico regional216. E por fim, sinaliza que,
dentre as inúmeras questões sem solução (relativas à proposição inicial da pesquisa)
“o mais importante é que conseguimos entender, enfim, o que é que aquele francês
inquieto e agistado – o mestre dos casarões – o Ligeirinho, veio fazer nos sertões de
Mato Grosso, naquela imensidão sem fim, nos tempos do Império.”217
Pautado nos dados apresentados, o interesse dos mato grossenses pela
cultura e noticias da França consubstancia-se de modo mais efetivo. Os números
absolutos mostraram uma pequena parcela da população composta por franceses, é
fato, no entanto, cabem estudos, e os jornais possibilitam palmilhar esse caminho, de
que esses franceses ocuparam espaços sociais relevantes.

Os acontecimentos do outro lado do Atlântico eram seguidos com


atenção pelos jornais da capital do Império, que se apropriavam da
conjuntura em consonância com as crenças e valores do campo
político que representava. O exemplo francês inspirava os que
desejavam mudar a ordem vigente.218.

Os jornais mato-grossenses citam, em diferentes exemplares, o recebimento


de jornais estrangeiros como permuta às suas folhas, o que evidencia, ainda que de
modo embrionário, circulação e certa apropriação desses títulos na região. Pesquisa
desta natureza ainda estão por serem feitas no campo da História, corroborando no
sentido das pesquisas que indicam que não houve isolamento mato-grossense e das
diversas dificuldades para alcançar o progresso e a tão sonhada civilização,

215 PAIVA, op. cit, 2018.


216 A propósito do Livro, identificamos equivocos em relação à procedência de um dos jornais utilizados
pelo autor. Trata-se do jornal Oasis, também objeto deste estudo, o autor equivocadamente atribui sua
circulação à Cuiabá, quando o períodido circulou em Corumbá.
217 PAIVA, Ely Carneiro de. Jean Serrou Camy: um francês dos Pirineus no coração do Brasil, Campo

Grande, Instituto Histórico Geográfico de Mato Grosso do Sul. 2018. p. 20. (grifos no original)
218 VIDAL, Laurent; LUCA, Tânia Regina de. (Orgs.). Franceses no Brasil: séculos XIX-XX. São Paulo:

Editora UNESP, 2009. p. 209-10.


distanciando-se da selvageria e barbárie que grassava o Brasil Central, impressão
presente em boa parte das obras produzidas durante o período.
A partir da leitura desse elemento cultural, podemos asseverar que foram
muitos mais questões de interesses políticos e econômicos que mantiveram Mato
Grosso nesse modelo colonial-oligárquico, que impedimentos de outras ordens, ainda
que pesem as limitações de acesso, transposição e exploração da região, face sua
topografia. Ainda sim, não configurou impedimento para entrada de noticias de várias
partes. A circulação de informações não se processa apenas em âmbito local, são
frequentes as notas sobre permutas e recebimentos de jornais de várias localidades
no país e do exterior.
Há exemplares do jornal Les Annales, publicado em Paris, no Arquivo Público
de Mato Grosso, datados entre os anos de 1909 a 1913, o que permite inferir que
haviam permutas de jornais mato-grossenses e franceses, bem como público
interessado e em condições de fazer leitura das notícias daquele país219.
A permuta entre jornais era uma prática comum nos anos finais do século XIX,
contudo as formas de chegada e acesso aos títulos recebidos não são
costumeiramente divulgadas nas páginas dos jornais. A seção Noticiarios é a maior
divulgadora dessas permutas. O protagonismo francês é destacado n’O
Corumbaense, configurando uma espécie de chamado aos leitores que, de alguma
maneira, conclamem seus governantes à impulsionarem o Brasil pelos mesmos
rumos, investindo em instrução pública, como destaca essa edição: “Nos Estados
Unidos, na Suissa, na França e na Allemanha, em todos os paizes onde a civilização
tem atingido um gra’o elevado, dispendem-se annualmente com instrucção publica
(...) sommas consideráveis.”220
Indícios dessa presença francesa, como já sinalizado anteriormente, mais
intensa no plano cultural – das ideias – que dos sujeitos, todos os jornais examinados
trazem notícias sobre o cenário francês, no entanto, três deles de modo regular e
contando, para isso, com uma ou mais seções destinadas à esse fim, como será
evidenciado a seguir.

219 O APMT conta com as edições a partir do ano 27, n. 1332, de janeiro de 1909 à edição 31, n. 1563,
de junho de 1913. Cf. Instrumento de Pesquisa de Periódicos, APMT, consultado em 2018.
220 O Corumbaense , n. 61, 19/02/1881, p. 02.
3.1 O que interessava ao Mato Grosso saber sobre França: as correspondências

Entre negociantes, advogados, guarda-livros, artistas, empregados públicos,


padeiros, lavradores, donos de cafeterias, barbearias, professores, poíticos e
comerciantes em geral, estavam aqueles que compunham o grupo responsável por
trazer a público noticias regionais, nacionais e interncionais em Mato Grosso – o
correspondente!
Sobre a posição do correspondente, não foi possível identificar de quem
exatamente se tratava, visto que as notícias, publicadas sob a forma de carta não
vinham com assinatura ou a ela não se apresentava subscrita, ao final da seção, como
era habitualmente praticado, fossem com nomes dos autores ou seus pseudônimos.
A julgar por correspondências publicadas de outras localidades, sobretudo Cuiabá e
Rio de Janeiro, o conteúdo dessas correspondências assemelha-se ao que
futuramente iremos conhecer sob a alcunha de ‘colunas sociais”, nos periódicos
brasileiros. O jornal possuía também correspondentes na Argentina, conforme
registra uma de suas edições221.
O Corumbaense apresenta, diferentemente de outros títulos examinados e que
circularam no período, em Corumbá, parte dedicada à Correspondência Européia,
cuja seção de publicação assume mesmo título. O correspondente escreve,
supostamente de Pariz, relatando acontecimentos de determinados períodos e
importância. O Corumbaense traz, no corpo de suas páginas, notícias do jornais
franceses, quando este noticia eventos relativos a fatos ocorridos no Brasil. Os
editores fazem uso frequentes do recurso da transcrição, como se percebe no excerto
que segue: “Nunca é ocioso, assim o entendemos, transcrever trechos que rendem
preito e homenagem ao mérito e a sabedoria, máxime quando essa manifestação é
expontanea e insuspeita.”222

Quadro 7 – Publicações na Seção Correspondencia Europea – jornal O Corumbaense


Data da Correspondência Data da Publicação no Jornal Edição
Pariz, 09 de dezembro de 1880 26 de fevereiro de 1881 62
Pariz,17 de dezembro de 1880 02 de março de 1881 64
Pariz, 23 de dezembro de 1880 09 de março de 1881 66

221 O Corumbaense, n. 86, 18/05/1881, p. 04.


222 O Corumbaense, n. 77, 17/04/1881, p. 02.
Pariz, 31 de dezembro de 1880 16 de março de 1881 68
Pariz, 31 de dezembro de 1880 19 de março de 1881 69
Pariz, 19 de janeiro de 1881 30 de março de 1881 72
Pariz, 28 de janeiro de 1881 27 de abril de 1881 80
Pariz, 23 de fevereiro de 1881 30 de abril de 1881 81
Pariz, 25 de fevereiro de 1881 04 de maio de 1881 82
Pariz, 09 de março de 1881 07 de maio de 1881 83
Pariz, 11 de março de 1881 11 de maio de 1881 84
Pariz, 19 de março de 1881 25 de maio de 1881 88
Pariz, 08 de abril de 1881 01 de junho de 1881 90
Pariz, 12 de abril de 1881 26 de junho de 1881 97
Pariz, 22 de abril de 1881 29 de junho de 1881 98
Pariz, 24 de abril de 1881 02 de julho de 1881 99
Pariz, 09 de maio de 1881 06 de julho de 1881 100
Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

Em relação à A Provincia de Matto Grosso, periódico que circulou em Cuiabá,


o volume de correspondências localizado foi significativamente maior que o seu
contemporâneo corumbaense. As correspondências foram distribuídas em seções
distintas e, por vezes, o jornal chegou editar um suplemento especial para acomodar
as cartas que se acumulavam e não podiam ser inseridas no momento em que
chegavam à redação, possivelmente por falta de espaço na edição semanal.

Quadro 8 – Publicações na Seção Universaes - jornal A Província de Matto Grosso


Data da Correspondência Data da Publicação no Jornal Edição
Pariz, 10 de janeiro de 1881 01 de maio de 1881 122
Pariz, 23 de janeiro de 1881 01 de maio de 1881 122
Pariz, 31 de janeiro de 1881 01 de maio de 1881 122
Pariz, 11 de fevereiro de 1881 29 de maio de 1881 126
Pariz, 19 de fevereiro de 1881 29 de maio de 1881 126
Pariz, 08 de março de 1881 02 de julho de 1881 131
Pariz, 23 de março de 1881 24 de julho de 1881 134
Pariz, 09 de abril de 1881 24 de julho de 1881 134
Pariz, 19 de abril de 1881 24 de julho de 1881 134
Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

Para seleção de quais cartas publicação na edição do dia, entendemos que o


papel do redator e do editor devem ser recuperados, conforme as premissas
publicadas nos periódicos da época:
Sobre o redactor de um periódico peza imensa responsabilidade por
que lhe esta incumbida a espinhosa missão de concorrer para a
instrucção e educação do povo, e portanto não ha que trepidar na
opção pelo cumprimento de seus deveres, affrontando a mesquinha
inimizade dos que se esquecem do bem geral, em favor de seus
interesses e, muitas vezes, até de seus caprichos.223

Os quadros que seguem demonstram a distribuição das correspondências,


conforme os jornais publicados, seções, apresentadas anteriormente no Gráfico 2, e
indicativos de suas datas de publicação, suscitando estudos futuros sobre seus
conteúdos e textualidades.

Quadro 9 – Publicações na Seções Avulsas - jornal A Provincia de Matto Grosso


Data da Publicação no
Data da Correspondência Jornal Edição SEÇÃO
Pariz, 16 de julho de 1882 12 de novembro de 1882 202 Europea
Correspondência
Pariz, 30 de outubro de 1880 20 de fevereiro de 1881 112 (Europa)
Correspondência
Pariz, 08 de janeiro de 1880 11 de abril de 1880 67 da Europa
Correspondência
Pariz, 19 de janeiro de 1880 25 de abril de 1880 69 da Europa
Correspondência
Pariz, 19 de janeiro de 1880 15 de fevereiro de 1881 111 da Europa
Pariz, 22 de abril de 1881 31 de julho de 1881 135 Universal
Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

O quadro 10 demonstra a publicação das correspodências em um formato de


suplemento, ou seja, um acréscimo à edição do dia, registrando todas as
correspondências chegadas à redação do Jornal. Essa estratégia foi utilizada com
regularidade por A Provincia de Matto Grosso.

Quadro 10 – Publicações na Seção Franco-Brasileira – jornal A Provincia de Matto


Grosso
Data da Correspondência Data da Publicação no Jornal Edição
Pariz, 14 de dezembro de 1880 03 de abril de 1881 118
Pariz, 07 de dezembro de 1880 03 de abril de 1881 118
Pariz, 09 de de zembro de 1880 03 de abril de 1881 118

223 O Corumbaense, n. 74, 06/04/1881, p. 01.


Pariz, 19 de dezembro de 1880 03 de abril de 1881 118
Pariz, 30 de outubro de 1880 03 de abril de 1881 118
Pariz, 10 de janeiro de 1881 03 de abril de 1881 118
Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

Quadro 11 – Publicações na Seção Franco-Europea – jornal A Provincia de Matto


Grosso
Data da Correspondência Data da Publicação no Jornal Edição
Pariz, 15 de março de 1881 02 de julho de 1881 131
Pariz, 03 de agosto de 1882 19 de novembro de 1882 203
Pariz, 15 de janeiro de 1881 01 de maio de 1881 122
Pariz, 09 de março de 1881 29 de maio de 1881 126
Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

Quadro 12 – Publicações na Seção Universaes – jornal A Provincia de Matto


Data da Correspondência Data da Publicação no Jornal Edição
Pariz, 10 de janeiro de 1881 01 de maio de 1881 122
Pariz, 31 de janeiro de 1881 01 de maio de 1881 122
Pariz, 11 de fevereiro de 1881 29 de maio de 1881 126
Pariz, 19 de fevereiro de 1881 29 de maio de 1881 126
Pariz, 08 de março de 1881 02 de julho de 1881 131
Pariz, 23 de março de 1881 24 de julho de 1881 134
Pariz, 09 de abril de 1881 24 de julho de 1881 134
Pariz, 19 de abril de 1881 24 de julho de 1881 134
Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

Quadro 13 – Publicações na Seção Europeas – jornal A Provincia de Matto Grosso


Número
Data da Correspondência Data da Publicação no Jornal da Edição
Pariz 11 de março de 1881 02 de julho de 1881 131
Pariz, 19 de março de 1881 02 de julho de 1881 131
Pariz, 25 de março de 1881 02 de julho de 1881 131
Pariz, 08 de abril de 1881 02 de julho de 1881 131
Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

Na correpondência de 23 de agosto de 1881224, há uma longa descrição sobre


o processo de eleição para deputados na França, pautada pela narrativa do

224 Pariz, 23 de agosto de 1881, publicada na edição de 13 de novembro de 1881, p. 3.


correspondente que atribui valoração positiva ao exercício de democracia que se
observava naquele momento.
Como já annunciei a 7 de setembro próximo, sahirá á luz o primeiro
numero do periódico quinzenal LE BRESIL courrier de l’Amerique du
Sud. Será uma folha de formato normal, 8 pginas. Desse primeiro
numero deve-se fazer uma tiragem excepcional de milhares de
exemplares, que serão espalhados pela Europa inteira. O periódico
brasileiro contem, conforme me consta, uma extensa secção franceza,
e uma secção em língua vernácula, consta-me que tem recebido
calorosas adhesoes tanto da Europa como do Brasil.225

Ao lado desta constatação, ao partilhar noticias sobre o Brasil, destaca a edição


e circulação de um periódico com notícias sobre o país.

Quadro 14 – Publicações na Seção Europea – jornal A Provincia de Matto Grosso


Data da Correspondência Data da Publicação no Jornal Edição
Pariz, 28 de janeiro de 1881 29 de maio de 1881 126
Pariz, 19 de fevereiro de 1881 29 de maio de 1881 126
Pariz, 23 de fevereiro de 1881 29 de maio de 1881 126
Pariz, 25 de fevereiro de 1881 29 de maio de 1881 126
Pariz, 16 de fevereiro de 1881 02 de julho de 1881 131
Pariz, 23 de agosto de 1881 13 de novembro de 1881 150
Pariz, 12 de setembro de 1881 25 de dezembro de 1881 156
Pariz, 09 de fevereiro de 1882 25 de abril de 1882 173
Pariz, 24 de fevereiro de 1882 14 de maio de 1882 176
Pariz, 23 de março de 1882 30 de julho de 1882 187
Pariz, 03 de junho de 1882 17 de setembro de 1882 194
Pariz, 10 de junho de 1882 01 de outubro de 1882 196
Pariz, 07 de agosto de 1882 29 de outubro de 1882 200
Pariz, 30 de julho de 1882 12 de novembro de 1882 202
Pariz, 09 de maio de 1881 21 de agosto de 1881 138
Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

O conteúdo das correspondências variava quanto aos assuntos que traziam:


muitas foram as notícias de ocasião, relacionadas ao cotidiano parisiense, com
episódios populares, como o incêncio na PRINTEMPS, importante loja de produtos
franceses, com itens que atendem a vários tipos de gostos, até os dias atuais:

225 Pariz, 23 de agosto de 1881, publicada na edição n. 150 de 13/11/1881, p. 3.


Fogo!Fogo! Foi esse o grito que ouvimos na capital inteira na manha
do dia 9. Era a loja do PRINTEMPS que queimava. Essa loja faz parte
da trindade de lojas esplendidas creadas em Pariz de 1860 para cá.
São mais Bazares do que lojas, edifícios vastíssimos, verdadeiras
cidades com milhares e milhares de empregados, centenas de carros
e cavalos para levarem as compras á domicilio, bufetes com refrescos
para os fregueses que tem sede ou fome, salões de leitura para os
maridos enquanto as mulheres percorrem as galerias, lojas onde se
acha todo e qualquer objeto, quadros, sapatos, estatuas, camas,
vestidos, tapetes, luvas, chapéos, relógios etc.226

Algumas guardavam características de folhetos, pois eram desdobradas vairsa


cartas. O caso do incêndio na PRINTEMPS, foi retomado, alertando para a
necessidade de se ampliarem os esforços dos governantes em prol da segurança
publica.
Na sequência, o correspondente analisa a atribuição de títulos e
condecorações que ainda se propagava, apoiando o decreto estabelecido pelo
governo francês, que aplicava penas de reclusão para quem exibisse as fitas de
condecoração obtida em países estrangeiros, à exemplo da ordem dos “Christo de
Portugal (...). Talvez seja esse o único meio de acabar com esses títulos que não tem
mais nenhuma razão de ser hoje em dia, n´uma epoca de democracia.” .
227

Ou o cenário mais abrangente, enfocando a política e os costumes, como é o


caso da carta de 23 de dezembro de 1880228. Essa correspondência, apresenta-se,
diferentemente das anteriores com um conteúdo mais abrangente, expressando
preocupação com o cenário educacional na França, visto o conjunto de reformas que
vinham sendo implementadas por Jules Ferry, desde 1879, em prol de um ensino
desvinculado da influência da igreja. Os embates foram calorosos, segundo a
correspondência, pautando temas direcionados à manutenção do ensino público, em
detrimento das iniciativas de ordem particular, com destaque para aquelas
implantadas por ordens religiosas.
O debate francês, culmina com o cenário mato-grossense, visto que neste
mesmo período, nessas terras, as Missões Religiosas encontravam-se em franca
expansão de interesses e instuições educacionais, instalando progressivamente no
território mato-grossense, com apoio do governo.

226 Pariz, 11 de março de 1881 publicada na edição n. 84 de 11/05/1881, p. 01.


227 Pariz, 25 de março de 1881 publicada na edição n. 89 de 28/05/1881, p. 01.
228 publicada na edição de 09/03/1881, p 01.
Ponto de culminância entre os assuntos tratados nas correspondências, o
Movimento dos Livre-Pensadores, cuja adesão em Mato Grosso se pode observar
pela via dos jornais em Corumbá e Cuiabá, a partir de 1908, consolidando-se entre
período de 1910 a 1916, tem referências expressas nos textos publicados. O
correspondente aborda publicações literárias feitas por membros de órgãos livre-
pensadores, em especial os textos publicados na Revista de Westminster, periódico
desse grupo, “julguei, pois oportuno dar alguns traços d’essa physionomia original,
inconstante, cheia de contradições, porém absolutamente encantadora, e
verdadeiramente extraordinária.”229
O protagonismo feminino à frente de alguns setores da sociedade francesa não
passa despercebido pelos correspondente.230
Não obstante, o correspondente coloca-se como consultor de viagens àqueles
que desejassem conhecer, visitar ou passar longas temporadas naquele país, bem
como em outras localidades da Europa. Apresenta roteiros culturais, históricos sobre
o que ver quando estiver em visita a Europa, sobretudo na França. Contudo, nas
palavras de Marie-Jo, “ir para Paris torna-se uma necessidade para todo intelectual
brasileiro”231, as correpondencias, a nosso ver, estabelecem uma forma de mediar e
estabelecer essa aproximação, ainda que no plano das ideias.
Oportunamente, acreditamos que as correspondências permitem ao leitor uma
“viagem sem sair do lugar”. Diferente das Expediçôes, Missões de Estudos, viagens
diplomáticas, “que permitiram um exercício privilegiado de alteridade e a reiteração da
Superioridade européia”, a viagem suscitada pelo texto do correpondete mobiliza o
aspecto abstrato, da projeção, da imaginação, aguçando a curiosidade e interesse em
instruir-se sobre o pais, elevando, em primeira analise, o arcabouço cultural dos
leitores.

A França com seus escritores e escritos ganhava cada vez mais


espaço e sua cultura ganhava mais prestígio, inundando com força as
mentes de nossos homens preocupados em construir a tão almejada
e necessária identidade nacional brasileira. Ser brasileiro, mas

229 Pariz, 31 de dezembro de 1880, publicada na edição n. 69 de 19/03/1881, p. 02.


230 Pariz, 31 de dezembro de 1880, publicada na edição n. 69 de 19/03/1881, p. 02.
231 FERREIRA, Marie-Jo. Testemunho da presença intelectual brasileira na França: A Revue du Monde

Latin e o Brasil (1883-1893). In: RIDENTI, Marcelo. BASTOS, Elide Rugai. ROLLAND, Dennis (orgs.)
Intelectuais: sociedade, politica, Brasil-França. São Paulo: Cortez, 2003. p. 50-1.
também ser europeu – e em especial francês – se desenhava como
caminho correto a ser perseguido, se o objetivo do Brasil fosse alçar
voos altos e entrar pro rol das grandes nações do globo.232

Circulam, em outras partes do periódico noticias diversas sobre a França, como


conferencias de professores do Museu de História Natural de Paris, medicamentos
franceses comercializados sem o devido selo de autenticidade e validação da
produção francesa (Extrato de Figado de Bacalhau do Dr. Vivien) (n.73), esse alerta
se repete por várias edições do periódico233. Descobertas feitas por profissionais
franceses, sejam médicos, professores pesquisadores ou de qualquer ramo valem
notas meritórias nas páginas do corumbaense, como é o caso da descoberta do
professor de medicina de uma instituição parisiense, que recebe endosso ao descobrir
as particularidades do café, para além de ser uma bebida agradável, “não só no ponto
de vista do prazer que proporciona ao paladar, como ainda sendo um dos melhores e
mais activos desinfectantes que póde haver.”234
Registro da festa comemorativa relativa à “abolição do elemento servil nas
colônias francesas.” aponta a leitura de cartas de representantes que não puderam se
fazer presentes, apontando estratégias para supressão da escravidão em outros
lugares do continente, como Egito. Com destaque para o movimento anti-escravagista
francês, iniciado em 1792 e levado à termo em 1848, recomenda à Espanha e ao
Brasil que sigam essa mesma trilha. “visto como a abolição do Brazil não é seria, e
ainda fará durar ali a escravidão durante dous séculos.”235
Nesse aspecto em particular, Candido Moreira Rodrigues236 aponta a
percepção dos franceses sobre os intelectuais brasileiros, ao dialogar com o artigo
“Testemunho da presença intelectual brasileira na França: a Revue de Monde Latin
(1883-1893)”, Marie-Jo Ferreira, que revela impressões sobre a imagem que o Brasil

232 BARBATO, Luis Fernando Tosta. Com os pés na América e a cabeça naEuropa: escritos franceses
e identidade nacional no Brasil oitocentista. Revista Latino-Americana de História. Unisinos, vol. 3.,
n. 12, dezembro de 2014. p. 180.
233 A exemplo citam-se os exemplares: n. 74, n. 75, n. 76, n. 77, n. 78, n. 85, n. 86.
234 Pariz, 19 de janeiro de 1881 publicada na edição n. 72, de 30/03/1881, p. 01.
235 Pariz, 9 de maio de 1881 publicada na edição n. 100, de 6/07/1881, p. 01.
236 RODRIGUES, Candido Moreira. Alceu Amoroso Lima: matrizes e posições: um intelectual católico

militante em perspectiva histórica (1982-1946). Tese (Doutorado em História). Universidade Estadual


Paulista, UNESP. Assis. 2006.
tinha na França no início do século XX, expresso, em boa medida, pelos periódicos
que circularam no período.
De acordo com seus estudos, o olhar da sociedade francesa sobre o Brasil era
bastante crítico, particularmente em relação a duas questões já longamente debatidas
na historiografia brasileira: “a persistência do sistema escravagista e a manutenção
do regime monárquico”237, o que pudemos constatar na correspondência francesa
publicada em 6 de julho de 1881 no A Provincia de Matto Grosso, quando o próprio
correspondente da missiva destaca que parte do atraso do Brasil, devia-se à
manutenção do sistema escravagista de trabalho.
Ao mesmo tempo, lembra a autora, “o Brasil, desconhecido em grande parte, é
visto como um país latino onde a França pode exercer sua hegemonia cultural, num
momento em que os imperialismos europeus se rivalizam”.238 Essa aproximação
identificada por Marie-Jo Ferreira, materializa-se nas corrrepondências identificadas
nos jornais mato-grossenses. A europeização da notícia, acreditamos, também vendia
jornais. Essa percepção deve-se à observância quase nula de noticias sobre a
America Latina nas páginas dos jornais examinados. De um modo exploratório inicial,
constataram-se noticias de ordem mais geral, relativas à disputas de grande impacto
social e econômico, como guerras, pautas politicas de governos contrários ao
movimento político de Mato Grosso dentre outros. Ainda que outros países tivessem
tido maior peso no processo de constituição econômica e territorial no Brasil, coube à
França, a exportação das ideias, conforme problematiza Carelli,

A partir da primeira metade do século XIX, os brasileiros vão se rebelr


contra as “malediscencias” dos viajantes franceses cujas expedições
tinham fins coloniais ou comerciais, como às vezes indicam os
prefácios de suas narrativas. Mas a colonização francesa iria se dar
pelo transplante da população ou pelo viés da importação das “ideias”
que deveriam modelar a jovem nação brasileira.239

E em outro momento assevera,

237 FERREIRA, Marie-Jo. Testemunho da presença intelectual brasileira na França: A Revue du Monde
Latin e o Brasil (1883-1893). In: RIDENTI, Marcelo. BASTOS, Elide Rugai. ROLLAND, Dennis (orgs.)
Intelectuais: sociedade, politica, Brasil-França. São Paulo: Cortez, 2003.
238 Id., 2003, p. 132.
239 CARELLI, Mário. Culturas Cruzadas: intercâmbios culturais entre França e Brasil. Tradução Nícia

Adan Bonatti. Campinas, SP: Papirus, 1994. p. 117.


Se o século XIX brasileiro foi fortemente influenciado pelos modelos
franceses, deles destacou-se progressivamente para recriar suas
próprias instituições, suas correntes artísticas e filosóficas. Está
emancipação cultural vai se radicalizar com o movimento modernista
que, em 1922, cem anos após a independência política, organiza
manifestações de afirmação da brasilidade.240

Para Rodrigues o intelectual na sociedade brasileira pode ser observado em


sua importância a partir de meados do século XIX como um dos responsáveis no
auxílio ao forjamento de uma noção de identidade nacional “para seus compatriotas e
para o palco das nações civilizadas da Europa”241. Atribui a projeção e status desses
intelectuais ao o poder político nesse período, resultado também do seu domínio da
palavra escrita, fosse ela proveniente do nascimento privilegiado ou mesmo adquirida
penosamente nos “interstícios da malha social excludente”, a qual nesse estudo
centra-se na escrita em impressos periódicos. Corroborando com a análise deste
autor, ainda que muitos deles assinassem com pesudônimos, a escrita na imprensa
retirava o indivíduo da obscuridade e o colocava no seio das elites abastadas.
O domínio da linguagem e da cultura francesas era pré-requisito para o
sucesso dos intelectuais que estivessem empenhados na “missão civilizadora” do país
e que desejassem gozar de reconhecimento social e político. Esse domínio do francês
era sobremodo relevante para aqueles que almejassem como recompensa imperial o
“reconhecimento público, a publicação pela imprensa oficial, a porta de entrada na
carreira política”242.
Assim, o diálogo direta e indiretamente estabelecido com o cenário cultural
francês, pela via da imprensa, favoreceu, senão Mato Grosso como um todo, ao
menos as suas duas cidades principais ao longo dos 40 anos que perfazem a esse
estudo – Cuiabá e Corumbá – seu alinhamento ao ideário do progresso, civilização e
modernidade que em muito figura nas páginas de jornais de outras localidades do
pais.

240 Id., op. cit. 1994, p. 123.


241 RODRIGUES, Candido Moreira. Alceu Amoroso Lima: matrizes e posições: um intelectual católico
militante em perspectiva histórica (1982-1946). Tese (Doutorado em História). Universidade Estadual
Paulista, UNESP. Assis. 2006.
242 RODRIGUES, op. cit., 2006. p. 133.
Não foram somente correpondencias europeas, franco-europeas que
chegaram a Mato Grosso trazendo notícias daquele país. Os jornais efetivavam a
divulgação de livros, almanaques, pesquisas médicas, anúncios de medicamentos
que tinham, no aval francês, sua garantia de sucesso, como os Elixires que figuravam
como anúncios, nas páginas finais de cada edição.
A moda também foi componente efetivo para pautar essa aproximação, e ainda
que pesem as severas distincções climáticas entre Mato Grosso e Paris, os vestidos,
chapéus, echarpes constituíram-se na materialização do desejo de ser europeu, no
Brasil Central. Nesse sentido, o reduzido número de franceses, ao menos registrado
nos Recenseamentos, não pode ser um indicador único para balizar a presença
daquele país nas terras mato-grossenses, diluindo em boa medida a percepção de
que nessas terras só haviam “silvícolas e onças” ou um “oceano de florestas”. A
imprensa valida essa percepção e possibilita a ampliação desse espectro de
investigação em diversos desdobramentos.
PARTE IV - OS INTELECTUAIS MATO-GROSSENSES E SEU LUGAR NA
HISTÓRIA REGIONAL

Em texto inaugural sobre história dos intelectuais, José Murilo de Carvalho 243
assevera que muitos dos intelectuais que publicavam nos jornais de época assumiam
publicamente o papel de “educadores da opinião, de pedagogos da cidadania, ou, na
linguagem da época, de divulgadores das luzes. O próprio nome do jornal às vezes
reflete tal propósito.”244
É possível ainda qualificar os dispositivos da imprensa desempenhando essa
função social, formativa, e em análise mais ampliada educativa, ainda que não se
proponham a sê-lo: são formativos também quando ampliam a dimensão cultural de
seus leitores, oferecendo indicação de leituras e livrarias onde se adquirem os títulos
sugeridos, anúncios de publicações autorais, que podem auxiliar no aprendizado
escolar, ainda que não tenha sido oficialmente adotada como manual de ensino,
sendo esta também uma estratégia de publicar os escritos na época. Orientam os
protocolos de leitura de outros dispositivos impressos. A mediação cultural é, por
definição educativa, pois parte de um princípio que os sujeitos históricos pretendem
deixar um legado de conhecimentos aos pósteros.

A figura do intelectual, como sujeito pensante e agente, ganha


centralidade e concretude. Os intelectuais têm um processo de
formação e aprendizado, sempre atuando em conexão com outros
atores sociais e organizações, intelectuais ou não, e tendo intenções
e projetos no entrelaçamento entre o cultural e o político. Nessa
acepção, o conceito de intelectual é, como todos os conceitos políticos
e sociais, fluido e polissêmico.245

Assim como evidencia Ângela Castro Gomes, atuar em jornais em revistas “era
fundamental, não só porque fazia parte de qualquer estratégia de ascensão intelectual
o que não ocorria sem suportes políticos-sociais), mas também porque os periódicos
eram a base da circulação de ideias da época.”246, recorrendo-se aos jornais como

243 CARVALHO, Jose Murilo de. História intelectual no Brasil: a retórica como chave de leitura. Topoi.
Rio de Janeiro, 2000, n° 1.
244 Ibid., p. 139.
245 GOMES, Angela de Castro; HANSEN, Patrícia. (orgs.) Intelectuais Mediadores: práticas culturais

e ação política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016, p. 12.


246 GOMES, Angela de Castro. História & Historiadores. 1ª. reimpr. Rio de Janeiro: Editora Fundação

Getúlio Vargas. 2013, p. 46.


espaço de manifestação, ampliação e adesão, politica e cultural. Sobre os campos de
atuação, a autora assevera:

Esse intelectual muitas vezes ocupa um cargo estratégico numa


instituição cultural, pública ou privada, numa associação ou
organização política, ou atua desde um lugar privilegiado numa rede
de sociabilidade, de onde protagoniza projetos de mediação cultural
de enormes impactos políticos. 247

Por meio dos jornais examinados constatou-se que os intelectuais mato-


grossenses figuraram em diversos espaços sociais, com atuação profissional
diversificadas, entre os anos de 1880 a 1920: Ocuparam cargos políticos e públicos;
participaram da continuidade da linha sucessória, administrativa dos bens e
patrimônios das famílias tradicionais as quais pertenciam; Atuaram em chefias de
polícia, inspetoria de terras, coletoria de impostos, e em boa medida em instituições
de ensino, criaram escolas, externatos e internatos, aturam em escolas ligadas á
formação da elite jovem de Mato Grosso, como os Liceus Cuiabano e Salesiano.
Transitaram pelo campo educacional, atuando como professores, lentes de cadeiras
consolidadas no ensino secundário, propuseram materiais de ensino, trouxeram suas
referências, o que lhes conferiam potencial ampliação do espaço de circulação de
suas ideias, mesmo sob a chancela de uma instituição educacional, crivada por
regras, muitas vezes religiosas.
Essa movimentação conferia-lhes atributos de autoridade e legitimidade
inclusive na formação dos leitores dos jornais nos quais participavam, como autores,
colaboradores, ou eram proprietários. Ao anunciar, por exemplo, a produção de algum
almanaque, a partir dos anos de 1898, os autores agregavam ao anúncio, por vezes,
a autoridade intelectual conferida por seu lugar profissional, arregimentando,
indiretamente, o público daquele setor à partilhar da publicação.
A presença de membros das estruturas eclesiásticas merece registro, visto que
entre os anos de 1900 a 1920 as contribuições destes religiosos consolidaram-se
como marca significativa na conformação do pensamento histórico em Mato Grosso,
dada a profusão das Missões que se estabeleceram no território, das ações
evangelizadoras e educacionais que empreenderam, utilizando-se da imprensa para

247 GOMES, Angela de Castro; HANSEN, Patrícia. (orgs.), op. cit. 2016, p. 19.
divulgação de obras e investimentos em prol da modernidade, progresso e civilização
naquelas terras.
Os embates com esse grupo acirram-se e tornam-se evidentes em outros
periódicos - A Cruz, A Ordem -, a partir dos anos de 1920, no entanto, tais embates
se perpassam à vários títulos que circulam no período deste estudo e materializam-
se de modo mais intenso no jornal A Reacção, que acusa as instituições religiosas de
cercearem o “Livre-Pensamento”, impondo seus dogmas em detrimento do
conhecimento filosófico. Conforme demonstrado, a adesão às Ligas de Livre-
Pensadores encontra correpondência com o grupo francês, ainda que separadas por
mais de uma década.
Afiançamos, conforme a dimensão teórico-metodológica apresentada por
Gomes & Hansen, que o conjunto de sujeitos que compõem esse item integram a
categoria de intelectuais mediadores, no que concerne ao exame da imprensa mato-
grossense, ampliando as possibilidades de conhecimento histórico regional,
merecendo ser analisado mais detidamente.
Ao instarem o debate, reflexão e conhecimento sobre aspectos da história de
Mato Grosso, transpuseram o campo da produção histórica. Ao associar os nomes às
ideias não se pretende criar formulações apologéticas sobre esses ou aqueles
sujeitos, visto que este estudo não se propõe a isso, tão pouco o espaço deste texto
permitiria. A chave de leitura que perpassa essa proposta de investigação assenta-se
na importância da imprensa jornalística como espaço privilegiado da atuação de todos
esses sujeitos, ainda que uns mais que outros, configurando esse espaço como de
“compartilhamento de sentimentos, sensibilidades e valores, que podem produzir
solidariedades, mas igualmente competição.”248
O exame dos jornais nos possibiliou mapear 134 sujeitos que estiveram
envolvidos em diversos campos de atuação, contudo é possível ampliar
significativamente este número, ao integrar todos os membros que compõem as Ligas,
Clubs e Associações elencadas no corpo do texto, o que não foi feito tendo em vista
o investimento no levantamento de documentação complementar para identificar e
consolidar informações acerca do campo de atuação de cada um desses sujeitos.
Estudos futuros permitirão ampliar esses dados.

248 GOMES, Angela de Castro; HANSEN, Patrícia. (orgs.), id. 2016, p. 24.
Desta feita, para efeito de apresentação, análise e indicativos de conclusão
desta fase do estudo, os intelectuais qualificados foram àqueles com identificação
quantitativa mais proeminente, apoiando-se em estatísticas descritivas para mapear
e validar a incidência de sua inserção, relacionar essa incidência com o período de
movimentação desses sujeitos, e sinalizar os espaços de atuação mais comuns.
Importa ressaltar que o critério que norteou toda a coleta de dados pautou-se
exclusivamente na imprensa, nos jornais examinados, e, posteriormente, no
cruzamento das informações obtidas com documentação de natureza e tipologia
diversa.
Os campos de atuação sistematizados foram: Associações, História,
Educação, Imprensa, Política, Religiosa, por apresentarem-se como perfil comum à
quase que a totalidade dos intelectuais qualificados e quantificados no banco de
dados.
A atuação profissional, entendida como área de formação de estudos
circunscreve-se aos seguintes perfis: Advogado, Militares (de diferentes patentes,
sendo mais comuns Tenentes e Coronéis), Professores Normalistas, Padres (variando
entre as diferentes posições que ocupavam dentro da estrutura eclesiástica – padres,
bispos, arcebispos, cardeais), Engenheiros, tendo em vista que no período não
haviam grandes possibilidades de formação profissional em Ensino Superior.
Interessante observar que não identificamos profissionais ligados à área médica ou
da saúde nesse grupo.
O gráfico abaixo apresenta como indicadores os intelectuais que tiveram
incidência mínima de 4 lugares de atuação é máxima de 8. Os dados que seguem
apoiaram-se nesses critérios de elegibilidade, pautando-se em um esforço preliminar
de estatística descritiva aplicada a dados histórico, muito embora acredite-se que nos
investimentos de pesquisa futuros, será possível chegar a mais nomes, com maior
área de incidência.
Gráfico 3 – Incidência da circulação dos Intelectuais, conforme área de atuação em
Mato Grosso (1880-1920)
40
35
35 32
30
30
Associação
25 22 Educação

20 História
Imprensa
15
Política
10
10 Religiosa
5
5

0
Total

Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

Os 134 intelectuais identificados no mapeamento tiveram, em algum momento


de sua trajetória profissional em Mato Grosso, atuação na imprensa, majoritariamente
na produção de textos. Esta constatação já vem sendo feita em diversas localidades
do país, e os próprios autores com os quais esse estudo dialoga reforçam essa
importância, assim como o papel dos jornais e revistas como espaços polissêmicos
de manifestação de ideias.
No entanto, destaca-se que em Mato Grosso essa história da imprensa ainda
está por ser feita.
O gráfico que segue apresenta os intelectuais mais proeminentes com base no
critério estabelecido pela pesquisa.
Gráfico 4 – Incidência da circulação dos Intelectuais, conforme atuação em Mato
Grosso (1880-1920)
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Total
Amilcar Barbosa 5
Conego Antonio Henrique de
6
Carvalho Ferro
D. Francisco de Aquino Correa 8
Emilio do Espírito Santo Rodrigues
7
Calháo
Ernesto Camillo Barreto 4
Estevão de Mendonça 8
José Barnabé de Mesquita 6
Philogonio de Paula Corrêa 7
Virgilio Alves Corrêa Filho 4
Vital Batista de Araujo 4

Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

Satisfatoriamente, ampliamos o escopo encontrado na produção bibliográfica


acessada. José Barnabé de Mesquita, Estevão de Mendonça, Virgilio Correa e D.
Francisco Aquino, já aparecem em estudos de grande envergadura, muito embora em
espaços de atuação reduzidos. São destaque muito mais pela produção que fizeram
circular em Mato Grosso, pelas relações político-intelectuais que desenvolveram que
pelo trabalho na Imprensa ou na Educação. Este estudo permite afirmar que, ao lado
destes, outros intelectuais exerceram papeis muito semelhantes, embora com menos
reconhecimento de seus pares, no período, e dos estudiosos que se dedicam à
história de Mato Grosso.
Em relação ao período em que se inscreve a atuação destes intelectuais,
pautados na mesma faixa de incidência do gráfico anterior tem-se os dados abaixo
consolidados:
Gráfico 5 – Incidência da Intelectuais conforme os períodos de atuação em Mato Grosso
(1880-1920)
7
6
5
4
3
2
1
0
1850- 1880- 1880- 1890- 1890- 1890- 1900- 1910- 1920-
1860 1890 1900 1900 1910 1920 1910 1920 1920
Amilcar Barbosa 5
Conego Antonio Henrique de Carvalho
6
Ferro
D. Francisco de Aquino Correa 2 1 5
Emilio do Espírito Santo Rodrigues
1 1 4 1
Calháo
Ernesto Camillo Barreto 1 2 1
Estevão de Mendonça 1 3 1 2 1
José Barnabé de Mesquita 5 1
Philogonio de Paula Corrêa 2 5
Virgilio Alves Corrêa Filho 1 3
Vital Batista de Araujo 1 3

Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

Há que se registrar ainda a ausência dos intelectuais que assinam com


pseudônimos, não sendo possível identificar sua identidade até omomento de
conclusão deste estudo. Observamos de modo mais frequente em O Republicano,
articulistas que escrevem regularmente no jornal sob pseudônimos: Quinquim (Dr.
Quinquin d’ O Matto Grosso); Raul Plinio; Thome; Zecca; Positivista Matriculado; L.
A.; L. M. ; Pompeo; Lélio; Candinho; Aluizio; Pascacio; Calino; Gil; C.; G. T.;
Para dar mais visibilidade aos dados apresentados nos gráficos, seguem no
formato de quadros, a consolidação de dados do estudo. Nestes quadros estão
indicados os intelectuais de um modo mais ampliado àquele representado pelos
gráficos, equacionando de modo os lugares de atuação qualificados na pesquisa.

Quadro 15 - Intelectuais e suas redes de Intelectuais na área de Atuação – Associações

Nome Entidade Periodo


Membro da Sociedade Internacional de
Alphonse Roche Estudos Cientificos 1890-1900
Alzira Valladares Membo do Gremio Litterario Julia Lopes 1910-1920
Membro da Sociedade Internacional de
Antonio Alves Ribeiro Estudos Cientificos 1890-1900
Membro da Liga Matto-Grossense de
Arthur Portela Moreira
Livre Pensadores 1910-1920
Bernardina Rich Membo do Gremio Litterario Julia Lopes 1910-1920
Membro da Sociedade Internacional de
Carlos Addor Estudos Cientificos 1890-1900
Membro da Academia Mato-Grossense
D. Francisco de Aquino Correa de Letras/ Membro da Academia 1900-1920
Brasileira de Letras
Emilio do Espírito Santo Fundador da Escola de Comércio de
1890-1910
Rodrigues Calháo Mato Grosso
Membro da Loja Maçonica "Estrela do
Ernesto Camillo Barreto 1880-1890
Oriente"
Membro da Sociedade Internacional de
Estevão de Mendonça Estudos Cientificos 1890-1900
Membro da Sociedade Internacional de
Felix Ripeau Estudos Cientificos 1910-1920
Membro da Sociedade Internacional de
Gustavo Brendel Estudos Cientificos 1890-1900
Membro da Liga Matto-Grossense de
Gustavo Kuhlmann
Livre Pensadores 1910-1920
Membro da Sociedade Internacional de
Henrique Levy Estudos Cientificos 1890-1900
Henriqueta Esteves Membo do Gremio Litterario Julia Lopes 1910-1920
Herminia Torquato Membo do Gremio Litterario Julia Lopes 1910-1920
Membro da Liga Matto-Grossense de
Isác Póvoas
Livre Pensadores 1910-1920
Membro da Sociedade Internacional de
João Pedro Gardés Estudos Cientificos 1890-1900
Membro da Liga Matto-Grossense de
Joaquim Frederico de Mattos
Livre Pensadores 1910-1920
Membro da Sociedade Internacional de
John W. Price Estudos Cientificos 1890-1900
Membro da Sociedade Internacional de
Jorge Bodstein Estudos Cientificos 1890-1900
Fundador da Academia Mato-Grossense
José Barnabé de Mesquita de Letras 1920-1920
Membro da Liga Matto-Grossense de
José Palma Junior
Livre Pensadores 1910-1920
Maria D. Lobo Membo do Gremio Litterario Julia Lopes 1910-1920
Membro da Liga Matto-Grossense de
Octavio Pitaluga
Livre Pensadores 1910-1920
Membro da Liga Matto-Grossense de
Ovidio de Paula Corrêa
Livre Pensadores 1910-1920
Membro da Sociedade Internacional de
Pedro Antunes de Souza Ponce Estudos Cientificos 1890-1900
Philogonio de Paula Corrêa Membro da Liga Matto-Grossense de
Livre Pensadores 1910-1920
Membro da Liga Matto-Grossense de
Possydonio Cuyabano
Livre Pensadores 1910-1920
Membro da Sociedade Internacional de
Ramão Jackowisky Estudos Cientificos 1890-1900
Membro da Liga Matto-Grossense de
Theodorico Corrêa
Livre Pensadores 1910-1920
Vicentina Epaminondas Membo do Gremio Litterario Julia Lopes 1910-1920
Membro da Sociedade Internacional de
Victorino da Silva Miranda Estudos Cientificos 1890-1900
Zulmira Canavarros Membo do Gremio Litterario Julia Lopes 1910-1920
Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

Em relação ao campo Educação, as atuações foram organizadas em bloco de


modo a dar à conhecer os lugares de modo mais pontual.

Quadro 16 - Participação de Intelectuais no Campo de Atuação – Educação


Nome Atividade Periodo
Fundador de Escola de Primeiras Letras/
Amilcar Barbosa Fundador do Gymnasio Estadoal/
Professor do Collegio São João de Escocia 1900-1910
Conego Antonio Henrique de Professor do Seminário Episcopal da
1880-1900
Carvalho Ferro Conceição
Professor do Liceu Cuiabano/ Diretor do
D. Francisco de Aquino Correa Seminário Episcopal da Conceição/ Diretor 1890-1920
do Liceu Salesiano de Mato Grosso
Professor no Seminário Episcopal da
Ernesto Camillo Barreto Conceição/ Inspetor Geral de Estudos da 1880-1900
Provincia de Mato Grosso
Professor do Liceu Cuiabano/ Fundador do
Estevão de Mendonça Curso Primario Augusto Leverger 1890-1910
Diretor da Escola Normal de Cuiabá/
Gustavo Kuhlmann
Professor da Escola Normal de Cuiabá 1910-1920
Helvécio Gomes de Oliveira Diretor do Liceu Salesiano em Cuiabá 1900-1910
João de Avila Franca Tenente Coronel do Estado Maior 1910-1920
João Pedro Gardés Diretor Geral da Instrução Publica 1890-1900
Joaquim Jose Rodrigues
1890-1900
Calháo Professor
José Barnabé de Mesquita Poeta 1910-1920
José Estevão Correa Diretor da instrução Publica 1890-1900
Lauro Pinheiro Fundador do Collegio São João de Escocia 1910-1920
Diretor da Escola Normal de Cuiabá/
Leowigildo Martins de Melo Diretor da Escola Modelo/ Professor da
Escola Normal de Cuiabá 1910-1920
Philogonio de Paula Corrêa Diretor Geral da Instrução Publica/ Diretor
do Liceu Cuiabano/ Professor do Liceu
Salesiano/ Membro do Conselho Superior
de Instrução Publica 1900-1920
Fundador da Escola Publica
Themystocles Serra Complementar de Corumbá 1900-1910
Professor do Liceu Cuiabano/ Professor da
Virgilio Alves Corrêa Filho
Escola Normal de Cuiabá 1910-1920
Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

Quanto ao envolvimento direto com a produção do conhecimento histórico, a


predominância do Instituto Histórico, a partir de 1919 é notória, no entanto, outros
intelectuais dedicaram-se a escritas de menor impacto, mas igualmente publicadas na
imprensa, contudo, mais complexas de serem catalogadas de modo objetivo e
quantitativo.
O quadro que segue evidencia a proposta que originou o presente estudo,
confirmando que um grupo de intelectuais que participou ativamente da imprensa em
Mato Grosso, esteve também, exemplo do que ocorreu em outrs localidades do Brasil,
envolvido em múltiplas frentes de atuação.

Quadro 17 - Participação de Intelectuais na Campo de Atuação - Imprensa


Nome Atuação na Imprensa Período
Redactor do Jornal A Patria/ Director e
Amilcar Barbosa redactor do Jornal O Brazil 1900-1910
Andre Troyano de Rocha
1880-1890
Passos Proprietario do Jornal O Corumbanese
Redactor e Editor do Jornal O Matto
Antonio Ernani Pedroso Calháo Grosso 1890-1900
Antonio Fernandes de Sousa Fundador da Revista O Arquivo 1900-1910
Antonio Malheiro Proprietario do Jornal O Corumbanese 1880-1890
Redactor Político do Jornal A Provincia de
Caetano M. F. Albuquerque Matto Grosso 1880-1890
D. Carlos Luis D'Amour Fundador do Jornal A Cruz 1910-1920
Diretor proprietário do Jornal O Matto
Grosso / Diretor da Imprensa Oficial do
Emilio do Espírito Santo Estado/ Fundador da Associação Mato-
1890-1920
Rodrigues Calháo grossense de Jornalistas/Organizador do
Almanack Cuiabano/Proprietario da
Tipografia Calháo
Redator do Jornal O
Republicano/Fundador da Revista O
Estevão de Mendonça Arquivo 1890-1910
Colaborador do Album Grafico de Matto
Feliciano Simon
Grosso 1910-1920
Firmo José Rodrigues Diretor do Jornal O Corumbaense 1880-1890
Helvécio Gomes de Oliveira Fundador da Revista Mato-Grosso 1900-1910
João Antonio Rodrigues Proprietário do Jornal O Autonomista 1900-1910
João de Avila Franca Editor do Jornal O Brazil 1910-1920
Redactor e Editor do Jornal A Provincia de
Joaquim Jose Rodrigues Matto Grosso/Proprietario da Tipografia 1880-1890
Calháo Calháo
José Estevão Correa Colaborador do Jornal O Republicano 1890-1900
Editor do Jornal A Provincia de Matto
José Florencio Dutra Grosso 1880-1890
Lauro Pinheiro Editor do Jornal O Brazil 1900-1910
Manuel R. dos Santos
Tocantins Proprietário do Jornal O Republicano 1890-1920
Themystocles Serra Director do Jornal O Brazil 1900-1920
Redator de Jornais/Fundador do Jornal A
Vital Batista de Araujo Gazeta/ Diretor do Jornal Gazeta Oficial do 1880-1900
Estado
Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

Não menos importante, embora em número reduzido, a presença religiosa se


efetiva em boa medida nesses dados.

Quadro 18 - Participação de Intelectuais na área de Atuação - Religiosa


Nome Atuação Período
Antonio Malan Inspetor dos Salesianos em Mato Grosso 1900-1910
Conego Antonio Henrique de Reitor do Seminario Episcopal da
1880-1900
Carvalho Ferro Conceição
D. Francisco de Aquino Correa Bispo de Cuiabá 1890-1900
D. Francisco de Aquino Correa Arcebispo de Cuiaba 1910-1920
Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

Quadro 19 - Participação de Intelectuais na Campo de Atuação - Política

Nome Atuação Período


Chefe de Gabinete do Governo de Toto
Antonio Fernandes de Sousa Paes 1900-1910
Deputado Provincial/ Membro do Partido
Conego Antonio Henrique de
Conservador/Fundador do Partido 1880-1900
Carvalho Ferro
Republicano de Mato Grosso
D. Francisco de Aquino Correa Presidente de Estado de Mato Grosso 1910-1920
Firmo José Rodrigues Chefe de Polícia 1910-1920
José Barnabé de Mesquita Desembargador/ Jurista 1910-1920
Philogonio de Paula Corrêa Vereador 1910-1920
Vital Batista de Araujo Membro do Partido Conservador 1890-1900
Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.
Com base na sistematização dos dados coletados e organizados no banco de
dados elaborado em programa Excel, possibilita afirmar que os, neste trabalho
qualificados como intelectuais mato-grossenses, figuraram em diversos espaços
sociais, com atuação profissional diversificadas, dentro das possibilidades formativas
possíveis entre os anos de 1880 à 1920, sobretudo aqueles de maior destaque social,
com vistas à ocupação de cargos políticos ou estabelecer a continuidade da linha
sucessória e administrativa dos bens e patrimônios das famílias tradicionais a que
pertenciam.
Observa-se certa predominância em alguns períodos, de uma origem de classe
social, ora derivada do pertencimento às estruturas eclesiásticas, que entre os nãos
de 1900 à 1920 consolidaram-se como marca significativa na conformação do
pensamento histórico em Mato Grosso, dada a profusão das missões religiosas que
se estabeleceram no território, das ações evangelizadoras e educacionais que
empreenderam, utilizando-se também dos recursos da imprensa para a difusão do
ideário que postulavam, bem como par a ampliação do conhecimento sobre suas
obras e investimentos em prol da modernidade, progresso e civilização daquelas
terras.

4.1. A História Regional em jornais semanais

O exame da imprensa permitiu identificar a preocupação dos jornalistas com a


escrita da história de Mato Grosso, mas sobretudo com a escrita a partir de
determinados lugares de produção. Foram localizadas três seções em O Republicano
que atendem à essa necessidade identificada pelos redatores: Subsídios para a
História de Matto Grosso; Documento Histórico e História de Matto Grosso.
A única identificação de autoria é atribuída à Estevão de Mendonça,
convidado para coordenar e assinar todos os textos relativos à seção Subsidio para
história de Mato Grosso. Os textos publicados naquela seção contavam com a
assinatura de Estevão de Mendonça (em letra cursiva). Mendonça, nessa época era
professor de história e geografia do Lyceu Cuiabano, tendo sido aprovado por
concurso de professor efetivo naquelas cadeiras, publicado no jornal em 13 de outubro
de 1898.
A imprensa é um dos maiores elementos do progresso e da civilização
deum povo. É uma vasta tribuna aberta sempre a todo aquelle que
sofre, franca sempre a todo aquelle que julga-se opprimido. É o
thermometro por onde se afere do grau de intensidade culta das
nações. Isto, porem, quando bem encaminhada, quando bem dirigida
sob a inspiração benéfica das idéas sãs.249

A seção Subsídios para a História de Matto-Grosso consiste na apresentação


de textos fasciculares que auxiliam na compreensão dos aspectos históricos do
estado, com certa ênfase no contexto militar e em aspectos da história que envolvem
os indígenas no território.
O gráfico que segue apresenta a distribuição dos textos conforme as seções
publicadas:

Gráfico 5 – Incidências de Seções Históricas em O Republicano (1890-1900)


14 13
12
10
8
8
6
6 Documento Histórico

4
História do Matto Grosso
2
0
Total Subsídios para a história de
Documento Histórico 13 Mato Grosso
História do Matto Grosso 8
Subsídios para a história de Mato
6
Grosso

Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

A edição de 24 de maio de 1896 anuncia a publicação da coluna “Chronica do


estrangeiro” , juntamente com essa coluna, registra-se o aparecimento de outra, de
cunho mais nacional, intitulada “Pelos Estados”. No entanto, a divulgação dos
produtos da Maison Parisienne mantem-se assídua em todos os números da
publicação.

Sob esta epigraphe iniciamos hoje a publicação de noticias do


estrangeiro, referentes ás sciencias, artes, política, literatura, etc. Um
nosso distincto e ilustrado amigo, assignante de algumas revistas

249 O Republicano, n. 47, 23/04/1896, p. 01.


francezas e inglesas, graciosamente se presta a colher nelas o que de
mais interessante encontrar, organizando deste modo a chronica, que
publicaremos todos os domingos.250

Essa coluna não tem a mesma característica das correspondências


identificadas em outros jornais, visto que tratam-se de compilações de notícias de
periódicos estrangeiros, no entanto indicam também o interesse que se tinha em
conhecer noticias do estrangeiro, comumente da Europa.
Em determinados números as noticias estrangeiras ocupam mais espaço que
as referentes ao pais ou ao Estado, que em geral, figuram nas duas primeiras páginas.
Até revistas de colecionadores de selos, chamada Philatelica, tem lugar de divulgação
nas páginas d’ O Republicano.
A circulação de ideias se materializa constantemente nas notas publicadas
sobre o recebimento de impressos de outras localidades do pais. “Paraenses Illustres”
é um exemplo dessa relação de trocas e mediações, conforme a edição de 16 de julho
de 1896. Essas trocas literárias acontecem também com países da Europa, no
entanto, embora se observem notícias relacionadas a Assumpção/Paraguay, não são
frequentes textos relacionados aos vizinhos da América Latina. O quadro que segue
apresenta a sequencia das publicações assinadas por este intelectual.

Quadro 20 –Publicações na seção Subsidios para a história de Mato Grosso


Jornal Data da Publicação Edição
O Republicano 04 de agosto de 1898 285
O Republicano 11 de agosto de 1898 287
O Republicano 14 de agosto de 1898 288
O Republicano 21 de agosto de 1898 290
O Republicano 08 de setembro de 1898 295
O Republicano 13 de novembro de 1898 314
Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

Os anos entre 1880 a 1920 foram emblemáticos na consolidação de grupos de


intelectuais em Mato Grosso, que pautaram a imprensa periódica e a produção dos
impressos como lugar privilegiado de sua projeção. Tal constructo corrobora para o
entendimento de que o estudo dos e sobre os impressos mato-grossenses merece

250 O Republicano, n. 56, 24/05/1896, p. 01.


lugar de desvelo na produção da historiografia regional, visto que alinha os interesses,
aponta as disputas, evidencia direta e indiretamente os debates e embates de grupos
que se alternam no poder, demonstram espaços de sociabilidades e redes de relação
feitas e desfeitas à propósito dos interesses de “plantão”.
Em relação à seção Documento Histórico, sem identificação de autoria,
registrou-se 13 artigos de maneira sequencial sequenciais no jornal O Republicano,
entre os meses de julho a agosto de 1897, iniciando-se no número 171, de 01 de julho
de 1897, excetuando o numero 181, finalizando no 184, de 15 de agosto de 1897. A
seção não trazia exemplos de documentos e sim de fatos históricos relacionados ao
território, contemplando o período colonial, entre guerras (Guerra do Paraguai) e
aspectos relacionados ao Império.

Quadro ?? – Incidência de Publicações na seção História do Matto Grosso


O Republicano 19 de junho de 1898 272 História do Matto Grosso
O Republicano 07 de julho de 1898 277 História do Matto Grosso
O Republicano 10 de julho de 1898 278 História do Matto Grosso
O Republicano 14 de julho de 1898 279 História do Matto Grosso
O Republicano 17 de julho de 1898 280 História do Matto Grosso
O Republicano 24 de julho de 1898 282 História do Matto Grosso
O Republicano 28 de julho de 1898 283 História do Matto Grosso
O Republicano 31 de julho de 1898 284 História do Matto Grosso
Fonte: Banco de Dados da autora, 2018.

Permitem evidenciar outros sujeitos históricos que ampliam a pequena rede de


historiadores reverenciada na produção do e sobre o Estado, assentada no “grupo de
notáveis”251, justificada em boa medida, pelo lugar social (nobiliárquico, como
sinalizaria Jose de Mesquita), dado pelas origens familiares e derivadas das uniões
maritais entre essas famílias, somando-se ao fato de que muito da produção desses
outros “notáveis anônimos”, circularam pelos mesmos espaços reverenciados de
produção do conhecimento que os anteriores, não tendo, contudo, a projeção de seus
consórcios.
Por fim, importa destacar que se abrem outras possibilidades de estudo sobre
a temática, a partir da tipologia documental imprensa periódica, ampliando matrizes

251 ZORZATO, op. cit. 1998.


do pensamento, dando visibilidade a outros sujeitos, outros temas, e outras formas de
interpretação da história dos intelectuais de Mato Grosso.
Não obstante encontramos outros sujeitos históricos que transitaram pelo
campo educacional, atuando como professores, lentes de cadeiras consolidadas e de
destaque no ensino secundário mato-grossense, o que, anos ver, lhe conferia
potencial ampliação do espaço de circulação de suas ideias, ainda que estivessem
sob a chancela de uma instituição educacional, crivada por regras inclusive religiosas,
como será possível demostrar no decorrer desses estudo, esses intelectuais, por
estarem à frente de espaços de ensino, gozavam de atributos de autoridade e
legitimidade inclusive na formação dos leitores do jornais nos quais participavam,
como autores, colaboradores, ou eram proprietários.
As publicações localizadas em O Republicano, posicionam Estevão de
Mendonça e os outros autores das seções relaciondas à produção histórica sobre
Mato Grosso como intelectuais mediadores, pois ao instarem o debate, reflexão e
produção de conhecimento sobre aspectos da história de Mato-Grosso, no campo de
suas habilidades formativas profissionais, trajetórias de leituras e formação intelectual-
filosófica, transpondo o campo da produção histórica qualificada e validade apenas
pela inserção em espaços próprios a esse fim, como vai se constituir a partir de 1919,
o Instituto Histórico Geográfico de Mato Grosso.
Dado que corrobora com a nossa análise de que, antes da criação deste
espaço de guarda e preservação da memória, houve produção histórica sobre o
território, com tônica memorialista, laudatória, contudo sem promover tensionamentos
ou reflexões que envolvessem outros sujeitos históricos que não àqueles
contemplados pela tradição local. O que não significa afirmar que criação do IHGMT
fará esse movimento nos seus primeiros anos de existência.
Os intelectuais mapeados até o momento, apresentam as características mais
diversas possíveis, as quais dizem respeito ao seu campo de atuação, sua relação
ora com o estado, com a igreja, com a política ou com a educação, ora inserindo-se
em todas essas dimensões, como foi o caso de D. Aquino.
O estudo ainda corrobora com as teses de que o isolamento mato- grossense
foi também uma formulação para desqualificar região, tendo em vista que ao observar
as redes de relação estabelecidas pelos “nossos” intelectuais, elas não devem em
relevância à outras localidades do pais, em que pesem os fatores de dificuldade de
acesso terrestre ou fluvial, para sair ou chegar ao território no período em questão. É
fato que a imprensa se instala em MT apenas em 1840, mas considerando que chega
ao Brasil em 1808, em um momento em que todas as localidades sofrem com as
mesmas dificuldades, e apenas aquelas que já tinham certo protagonismo na própria
história do pais, sendo sede de capitanias,
A participação de Mato Grosso na Exposição Internacional em 1896, já
pautados nos relatos de viajantes, mediados pelas Expedições exploratórias que
vieram para o Brasil no século XVIII, a ação propagandista contraposição do sertão
inóspito, em uma inversão para atrair os olhares nacionais e internacionais para o
território. O Album Grafico cumpre, parcialmente essa missão!!
CONCLUSÃO

Ao associar os nomes às ideias não se pretende criar formulações apologéticas


sobre esses ou aqueles sujeitos, visto que este estudo não se propõe a isso, tão pouco
o tempo disponível permitiria. A chave de leitura que perpassa a essa proposta de
investigação assenta-se na importância da imprensa jornalística como espaço
privilegiado da atuação de todos esses sujeitos, ainda que uns mais que outros,
configurando esse espaço como de “compartilhamento de sentimentos, sensibilidades
e valores, que podem produzir solidariedades, mas igualmente competição.”252
Até o momento é possível confirmar que todos os sujeitos nominados no
mapeamento estiveram, em algum momento de sua trajetória em Mato Grosso,
atuação na imprensa, majoritariamente na produção de textos. Esta constatação já
vem sendo feita em diversas localidades do pais, e os próprios autores com os quais
esse estudo dialoga reforçam essa importância e papel dos jornais e revistas como
espaços polissêmicos de manifestação de ideias, no entanto destacamos que, em
Mato Grosso, essa história da imprensa ainda está por ser feita. Buscamos, pois,
contribuir com elementos para o debate e a formulação de ideias nesse campo
histórico.
Sobre a ampliação do entendimento sobre ser intelectual na historiografia
brasielira, Gondra pontua a necessidade de compreender:

a atribuição do estatuto de intelectual a um homem ou mulher deve


buscar reconhecer seus pertencimentos e sua inscrição em
determinada ordem discursiva que, então, autoriza e legitima
determinados sujeitos manejarem palavra e a pena em favor de
problemas bem determinados. Trata-se, portanto, de se considerar um
certo tipo de sujeito social, um certo tipo de objeto e um certo espaço
onde ele se expressa. 253

252 GOMES, Angela de Castro; HANSEN, Patrícia. (orgs.) Intelectuais Mediadores: práticas culturais
e ação política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. p. 24.
253 GONDRA, José Gonçalves. Instrução, Intelectualidade, Império: apontamentos a partir do caso

brasileiro. In: VAGO, Tarcício Mauro. INACIO, Marcilaine Soares. HAMDAM, Juliana Cesário. SANTOS,
Hercules Pimenta dos. (orgs.) Intelectuais e Escola Publica no Brasil: séculos XIX e XX. Belo
Horizonte: Mazza Edições, 2009. p. 63.
A perspectiva de o impresso periódico ser “um dos vetores da modernidade”
como qualifica Valeria Guimaraes254 fortalece o argumento que vem sendo defendido
nos estudos em desenvolvimento que, em Mato Grosso, ao lado de outros adventos
a imprensa periódica foi também um símbolo da modernidade, mesmo que com
características limitadas, face ao desenvolvimento em outras localidades do pais.
Pode-se afirmar, com base no estudo realizado, nos mapeamentos feitos, que
o período entre os anos de 1880 a 1920 foi crucial para a consolidação de grupos de
intelectuais em Mato Grosso, que pautaram a imprensa periódica e a produção dos
impressos como lugar privilegiado de sua projeção.
Tal constructo corrobora para o entendimento de que o estudo dos e sobre os
impressos mato-grossenses merece lugar de desvelo na produção da historiografia
regional, visto que alinha os interesses, aponta as disputas, evidencia direta e
indiretamente os debates e embates de grupos que se alternam no poder,
demonstram espaços de sociabilidades e redes de relação feitas e desfeitas à
propósito dos interesses de “plantão”, outrossim, permitem evidenciar outros sujeitos
históricos que extrapolam em muito a pequena rede de historiadores reverenciada na
produção do e sobre o Estado, assentada no “grupo de notáveis”, qualificados por
Zorzato, justificada em boa medida, pelo lugar social (nobiliárquico, como sinalizaria
Jose de Mesquita), dado pelas origens familiares e derivadas das uniões maritais
entre essas famílias, somando-se ao fato de que muito da produção desses outros
“notáveis anônimos”, alguns dos quais este estudo traz à luz, circularam pelos
mesmos espaços reverenciados de produção do conhecimento que os anteriores, não
tendo, contudo, a projeção de seus consórcios.
Os impressos, ao longo desses 40 anos, integram corpus significativo para
compreender a história do Estado, visto que são produzidos em diversas tipologias, a
saber: Jornais, Revistas, Album Gráfico, Catálogo, Livros assumindo, por associação
a manutenção e preservação da memória que se deseja, com base no conjunto de
ideais que mobiliza seus proponentes e autores. Em linhas gerais, percebe-se com
um exame panorâmico pela produção dos impressos entre os anos que sucedem à
década de 1920, que esse movimento perde força, dada a constante reiteração que

254GUIMARES, Valéria. Imprensa franco-brasileira e mediação: Rio de Janeiro e São Paulo, século
XIX-XX. In: LUCA, Tania Regina de; GUIMARAES, Valéria. (orgs.) Imprensa Estrangeira Publicada
no Brasil: primeiras incursões. São Paulo: Rafael Copetti Editor, CNPq, 2017. p. 88.
pode ser observada na produção histórica aos ilustres historiadores do início do
século, e a constante manutenção da historiografia por eles consolidada no período,
o que sugere a força das representações construídas, a partir dos lugares de poder
simbólico que ocupavam aqueles historiadores. Não se pretende, aqui, proceder à
desconstrução de modelos que seguem operantes na produção e nas forma de
registrar e contar a história de Mato Grosso. Não obstante, importa destacar que
abrem-se outras possibilidades, a partir da documentação examinada neste estudo,
de ampliar as matrizes do pensamento consolidado, dando visibilidade a outros
sujeitos, outros temas, e outras formas de interpretação dos momentos retratados.
A proposta de alocar esses intelectuais na história mato-grossense alcança,
nesse sentido, lugar de interesse comum, pois amplia possibilidades de pesquisas,
por meio da construção de teias de relacionamento e redes de intercâmbios desses
sujeitos com seus lugares de origem, no caso dos professores paulistas que vieram
nas Missões de Estudo de 1910 e 1912 e firmaram-se em terras mato-grossenses,
atuando como professores inicialmente, mas assumindo, na medida da ampliação de
suas redes de convivência sócio-politica-cultural, espaços de influência publica, na
redação e colaboração de jornais, como o fez Gustavo Kuhlmann.
FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FONTES

Periódicos

A Provincia de Matto Grosso. Edições de 1880 a 1890. Arquivo Público do Estado


de Mato Grosso. Cuiabá: APMT, 2010.
O Brazil. Edições de 1900 a 1910. Corumbá. Arquivo Público do Estado de Mato
Grosso (Cuiabá), 2010.
O Corumbaense. Edições de 1880 a 1890. Corumbá. Arquivo Público do Estado de
Mato Grosso. Cuiabá: APMT, 2010.
Republicano. Edições de 1890 a 1920. Cuiabá. 2010. Arquivo Público do Estado de
Mato Grosso. Cuiabá: APMT, 2010; Arquivo Público do Estado de Mato Grosso do
Sul. Campo Grande: APE-MS, 2011.
Oasis. Edições de 1880 a 1900. Corumbá. Arquivo Público do Estado de Mato Grosso.
Cuiabá: APMT, 2010.
Autonomista. Edições de 1900 a 1910. Corumbá. Arquivo Público do Estado de Mato
Grosso. Cuiabá: APMT, 2010.
A Reacção. Edições de 1909 a 1912. Corumbá. Arquivo Público do Estado de Mato
Grosso. Cuiabá: APMT, 2017.

Documentos oficiais

Mensagens dos Presidentes de Estado de Mato Grosso. 1898. Arquivo Público do


Estado de Mato Grosso. Cuiabá: APMT, 2010. (manuscrito).
Mensagens dos Presidentes de Estado de Mato Grosso (1890-1910). Arquivo
Público do Estado de Mato Grosso. Cuiabá: APMT, 2010. Disponível em:
<http://www.crl.edu/brazil/ provincial/mato_grosso>. Acessado em: outubro de
2010.
Anuário Estatístico do Brazil, vol III (1908-1912). Rio de Janeiro. Typographia da
Estatística. 1927. Disponível biblioteca.ibge.gov.br Acessado em 18 de outubro de
2012.
BRASIL. Recenseamento da População Brasileira (1890, 1900, 1920). Volume I ao
IV. Disponível biblioteca.ibge.gov.br. Acessado em 14 de maio de 2018.
BRASIL. Recenseamento do Brazil: 1920. Rio de Janeiro. Typografia da Estatística.
1928.

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1910-1930. Cuiabá-MT: EdUFMT, 2008;
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Mato Grosso nos anos 1960. Educação e Fronteiras On-Line. Dourados, Mato Grosso do
Sul: Editora da UFGD, v.5, n.15, p. 61-74, set./dez. 2015.
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