Texto Argumentativo

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

CURSO PREPARATÓRIO PARA TESTE DE APTIDÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA


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PRODUÇÃO DE TEXTOS NARRATIVOS E ARGUMENTATIVOS

TEXTO ARGUMENTATIVO
I. Conceito

O texto argumentativo, enquanto «arte de falar de movo a convencer» (Aristóteles), visa


«desenvolver um raciocínio com o fim de defender ou persuadir uma tese ou ponto de vista
para convencer um oponente, um inerlocutor circunstancial ou a nós próprios» (Carlos Ceia).
Tem uma parte expositiva como base da argumentação e da contra-argumentação, elementos
essenciais para a construção da tese.
Um texto arguumentativo tem a função de explicar uma verdade, numa visão racional, para
influenciar o interlocutor: convencêlo (se argumentação demonstrativa) ou persuadi-lo (se
argumentação retórica).
Exemplos de textos argumentativos: dissertações, teses, os discursos políticos, textos
publicitários, comentários, artigos científicos e de opinião, debates, sermões e cartas de
reclamação.

II. Composição e estratégia argumentativa


Num texto argumentativo, distinguem-se três componentes: a tese, os argumentos e as
estratégias argumentativas:
 A tese, ou ponto de vista, é a ideia que defendemos, normalmente polémica, pois a
argumentação implica divergência de opinião. A tese é ilustrada através de
argumentos, exemplos e contra-argumentos de forma a provar a sua veracidade.
 Os argumentos vão apoiar a defesa da tese e convencer o leitor. Os argumentos
utilizados neste tipo de texto podem ser variados: factos que podem ser comprovados
pela História, pela ciência, pela estatística, por pesquisas, declarações de pessoas
conceituadas, comparações, relações de causa e consequência.
 A estratégia argumentativa é um recurso que se utiliza para desenvolver o
argumento. Pode ser um exemplo, uma citação, um dado estatístico, uma pesquisa ou
um levantamento de dados. Neste sentido, as estratégias do sujeito são todos os
recursos utilizados para impressionar o leitor/ouvinte, para persuadi-lo mais facilmente,
para criar credibilidade, etc.
A clareza do texto, o emprego da linguagem culta formal, o título ou o início do texto são
exemplos que constituem estratégias argumentativas. A utilização de vários argumentos,
baseados na verdade, e a sua disposição lógica ao longo do texto (adição, alternativa,
oposição, negação, causa/efeito, consequência) são também estratégias fundamentais para
persuadir o ouvinte/o leitor, levando-o a pensar/agir em conformidade com os nossos
objetivos.
O Tempo presente, como o tempo de valor universal, é o mais frequente e comum neste
tipo de texto e determinados tipos de frases, como a interrogativa, a imperativa e a
exclamativa ganham relevância.

Iii. Construção do texto argumentativo


Argumentar é procurar convencer, persuadir, pelo que a estrutura argumentativa do texto é
três componentes: a tese, os argumentos e asestratégias argumentativas. Para se construir um
texto argumentativo, dever-se-á ter em atenção os seguintes aspectos:

1- Estrtura / progressão temática


Parte Características
Introdução Parágrafo inicial no qual se apresenta o tema e a tese (o ponto de vista) a defender.
Deve ser apresentada de modo afirmativo, claro e bem definido, sem referir ainda
quaisquer razões ou provas.
Desenvolvimento Explicitação da ideia defendida mediante a organização, clareza e exposição dos
argumentos que provam a veracidade da tese: factos, exemplos, citações, testemunhos,
dados estatísticos, etc. Pode conter mais do que um parágrafo.
Conclusão Parágrafo final onde se conclui com uma síntese da demonstração feita no
desenvolvimento, reforçando a tese. Não deve conter novos argumentos nem
exemplos.

2. Escolha e ordenação dos argumentos:


Devem-se encontrar os argumentos adequados; recorrer à exemplificação, à citação, às
relações causa-efeito; organizar os argumentos por ordem crescente de importância.
3. Adequação do texto ao objectivo e ao destinatário:
Deve-se usar um registo de língua adequado à situação e ao destinatário, isto é, referir os
contextos ou situações que sejam do conhecimento do destinatário.
4. Articulação e progressão do discurso:
Devem-se estabelecer relações lógicas entre as palavras, as frases e os parágrafos; construir
um raciocínio, que se vai desenvolvendo através de:
 Correcta estruturação e ordenação das frases;
 Uso de formas verbais do presente do indicativo e verbos declarativos (p.e., considerar,
julgar, crer... ou expressões como na minha opinião, no meu ponto de vista, segundo
o meu ponto de vista, etc.);
 Respeito pelas regras de concordância frásica;
 Uso correcto de conectores/articuladores discursivos (ver mais abaixo);
 Uso adequado de pronomes que evitam a repetição do nome (pronominalização, por
exemplo);
 Utilização de um vocabulário variado, com recurso a sinónimos, antónimos,
hiperónimos/hipónimos e holónimos/merónimos.

IV. Conectores e articuladores discursivos

 Consequência ou conclusão: portanto, pois, por isso, por conseguinte, segue-se que, enfim...;
 Contraste: mas, porém, todavia, contudo, entretanto, não obstante, no entanto, embora,
conquanto, mesmo que, ainda que, se bem que, apesar de, por outro lado...;
 Reafirmação: por outras palavras, resumidamente, em suma, sintetizando...;
 Confirmação ou concordância: com efeito, efectivamente, realmente...;
 De tempo: quando, enquanto, logo que, assim que, naquela altura, desde que, até que, antes que,
depois que, sempre que, ao passo que...;
 De causa ou justificação: porque, como, pois, já que, visto que, devido a, pelo facto de, uma vez
que...;
 De fim; para, para que, afim de que, com vista a, na perspectiva de ...;
 De continuidade ou adjunção: e, nem, também, além disso, ademais...;
 De alternância ou disjunção: ou, ora...ora, quer...quer, já...já, seja...seja...;
 De exemplificação ou explicação: por exemplo, isto é, ou seja, quer dizer...;
 De semelhança ou comparação: do mesmo modo, como, segundo, conforme, consoante,
igualmente...;
 De condicionamento: se, a não ser que, salvo se, contanto que, sem que, desde que, a menos
que...;
 De restrição ou exclusão: pelo menos, só se, exclusivamente...;
 De relação/relacionamento: que, o/a qual, cujo/a, cujos/as...;
 De localização espacial (locatividade): onde, aonde, donde....
V. Exemplos
TEXTO 1: ECOLOGIA ESTRUTURA

A palavra ecologia significa, de acordo com a sua origem, a parte da


biologia que estuda a relação dos seres vivos com o meio ambiente, ou
melhor, a relação entre os seres vivos e o seu meio. Todavia, é uma ideia
comum que ecologia significa o percurso normal da Natureza ou os
atentados contra esta, isto é, a destruição do meio ambiente, neste caso
explicada pela grandeza que essa destruição atingiu.
Em virtude dessa grandiosidade atingida pela destruição da Natureza,
poderemos neste caso considerar que o que de mal fazemos à Natureza,
além de nos causar malefícios agora, irá com efeito prejudicar-nos o
futuro.
Apesar de não querermos ser pessimistas, temos de admitir que as futuras
gerações estarão condenadas a viver as consequências dos erros que hoje
cometemos. Efectivamente, temos vindo a assistir a um aumento
assustador de desastres que poderão ser, em parte, explicados pela
evolução tecnológica. Esta pode ser vantajosa, por um lado, mas bastante
negativa, por outro.
Porém, o futuro poderá não ser tão negativo, se ganharmos consciência
deste mal. Importa salientar o empenho das organizações sociais que se
engajam neste campo.
Apesar disso, a actividade desses grupos continua a não ser suficiente para
impedir a poluição e a destruição de grandes florestas em grande escala.
Tomemos como exemplo os bastante conhecidos casos de derramamento
de “crude” no mar alto (como o do Alasca, com consequências muito
graves para a fauna e a flora locais, ou mesmo o que afectou a costa da
Galiza, provocando vários meses de marés negras, sem dúvida com
resultados desastrosos). Temos ainda os incêndios nos poços de petróleo
resultantes da guerra no Médio Oriente.
Observe-se o caso da floresta amazónica, considerada como o “pulmão do
Mundo”, cuja destruição afecta todo o planeta e pode consequentemente
originar grandes perturbações no clima.
Em síntese, todos estes atentados à Natureza conduzem aos buracos na
camada do ozono que envolve o planeta, originando assim o chamado
“efeito de estufa” – que é consequência do descuido que o Homem tem
tido com o seu meio ambiente.
Por todas estas razões, o nosso planeta encontra-se cada vez mais
ecologicamente à beira do abismo. E todos nós estamos a contribuir para
o colocarmos em risco de vida. É necessário, pois, mostrar à Humanidade
ambiciosa e egoísta que o seu comportamento pode levar à sua extinção.
cf. Sebenta de Língua Portuguesa 2007,UNIPIAGET – Viana
TEXTO 2: DISCURSO POLÍTICO

Majestades, altezas reais, senhoras e senhores


Cumpriram-se hoje exactamente 50 anos sobre a assinatura da Declaração Universal de Direitos
Humanos. Não têm faltado comemorações à efeméride. Sabendo-se, porém, como a atenção se
cansa quando as circunstâncias lhe pedem que se ocupe de assuntos sérios, não é arriscado prever
que o interesse público por esta questão comece a diminuir já a partir de amanhã. Nada tenho
contra esses actos comemorativos, eu próprio contribuí para eles, modestamente, com algumas
palavras. E uma vez que a data o pede e a ocasião não o desaconselha, permita-se-me que diga
aqui umas quantas mais. Neste meio século não parece que os Governos tenham feito pelos direitos
humanos tudo aquilo a que moralmente estavam obrigados. As injustiças multiplicam-se, as
desigualdades agravam-se, a ignorância cresce, a miséria alastra. A mesma esquizofrénica
humanidade capaz de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas
rochas, assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais depressa a
Marte do que ao nosso próximo semelhante.
Neste meio século não parece que os Governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo
a que moralmente estavam obrigados. As injustiças multiplicam-se, as desigualdades agravam-se,
a ignorância cresce, a miséria alastra. A mesma esquizofrénica humanidade capaz de enviar
instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas rochas, assiste indiferente à morte
de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais depressa a Marte do que ao nosso próximo
semelhante.
Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumpri-lo os Governos, porque não sabem,
porque não podem, ou porque não querem. Ou porque não lho permitem aqueles que
efectivamente governam o mundo, as empresas multinacionais e pluricontinentais cujo poder,
absolutamente não democrático, reduziu a quase nada o que ainda restava do ideal da democracia.
Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos. Pensamos que nenhuns
direitos humanos podem subsistir sem a simetria dos deveres que lhe correspondem e que não é
de esperar que os Governos façam nos próximos 50 anos o que não fizeram nestes que
comemoramos. Tomemos então, nós, cidadãos comuns, a palavra. Com a mesma veemência com
que reivindicamos direitos, reivindiquemos também o dever dos nossos deveres. Talvez o mundo
possa tornar-se um pouco melhor.
Não esqueci os agradecimentos. Em Frankfurt, no dia 8 de Outubro, as primeiras palavras que
pronunciei foram para agradecer à Academia Sueca a atribuição do Prémio Nobel de Literatura.
Agradeci igualmente aos meus editores, aos meus tradutores e aos meus leitores. A todos torno a
agradecer. E agora também aos escritores portugueses e de língua portuguesa, aos do passado e
aos de hoje; é por eles que as nossas literaturas existem, eu sou apenas mais um que a eles se vem
juntar. Disse naquele dia que não nasci para isto, mas isto foi-me dado. Bem hajam, portanto.
José Saramago (discurso proferido no Salão Azul da Câmara Municipal de Estocolmo e presidido pelos reis da Suécia); texto
retirado do Manual de Língua Portuguesa da 12.ª Classe.

VI. Actividades
 Identificar as característica do Texto 1 “A Ecologia”: estrutura, tese, argumentos,
contra-argumentos e síntese, tempos verbais e tipos de frases mais pertinentes.
 Identificar todos os articuladores discursivos e agrupá-los com base no se valor
semântico.

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