XIVCongresso PROGRAMA DE ACCAO
XIVCongresso PROGRAMA DE ACCAO
XIVCongresso PROGRAMA DE ACCAO
DE ACÇÃO
MANDATO 2020-2024
INDICE
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 4
CGTP-IN, CONQUISTA HISTÓRICA DOS TRABALHADORES......................................................................4
A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA, OS VALORES E AS CONQUISTAS DE ABRIL..................6
CONTEXTO POLÍTICO, ECONÓMICO E SOCIAL........................................................................................7
A IMPORTÂNCIA DA LUTA DOS TRABALHADORES..................................................................................9
LUTAR, AVANÇAR NOS DIREITOS, VALORIZAR OS TRABALHADORES; POR UM PORTUGAL COM
FUTURO!...............................................................................................................................................11
CAPÍTULO I – A ORGANIZAÇÃO SINDICAL PARA A ACÇÃO TRANSFORMADORA..................................12
1.1. CGTP-IN – MOVIMENTO SINDICAL DE CLASSE...............................................................................12
1.2. A IMPORTÂNCIA DOS SINDICATOS E DA SUA ACÇÃO INSUBSTITUÍVEL E CONSEQUENTE.............12
1.3. O LOCAL DE TRABALHO - REFORÇO DA INTERVENÇÃO SINDICAL E DA ACÇÃO INTEGRADA..........13
1.4. O FORTALECIMENTO E A REVITALIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO NO LOCAL DE TRABALHO..............14
1.5. MAIS SINDICALIZAÇÃO, MAIS FORÇA COLECTIVA..........................................................................15
1.6. A DEFESA E O EXERCÍCIO DOS DIREITOS SINDICAIS.......................................................................15
1.7. UNIDADE NA ACÇÃO – A FORÇA DOS TRABALHADORES...............................................................16
1.8. A VITALIDADE DO SINDICALISMO DE CLASSE E O COMBATE AO DIVISIONISMO...........................17
1.9. A REESTRUTURAÇÃO SINDICAL, ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA PARA FORTALECER OS
SINDICATOS..........................................................................................................................................18
1.10. A DESCENTRALIZAÇÃO DA ESTRUTURA – AS CASAS SINDICAIS....................................................19
1.11. FORMAÇÃO SINDICAL E POLÍTICA DE QUADROS PARA ASSEGURAR O FUTURO DO MOVIMENTO
SINDICAL DE CLASSE E DA CGTP-IN.......................................................................................................20
1.12. MAIS DINÂMICA ÀS ORGANIZAÇÕES ESPECÍFICAS......................................................................21
1.12.1. A Interjovem...........................................................................................................................21
1.12.2. A Comissão para a Igualdade entre Mulheres e Homens......................................................22
1.12.3. A Inter-Reformados................................................................................................................23
1.13. AS COMISSÕES ESPECÍFICAS........................................................................................................24
1.13.1. Comissão Nacional de Quadros Técnicos e Científicos..........................................................24
1.13.2. Comissão Nacional de Trabalhadores Imigrantes.................................................................24
1.14. MAIS E MELHOR INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO E PROPAGANDA SINDICAL.............................25
1.14.7. A informação, a comunicação e a propaganda sindical........................................................26
1.14.8. A comunicação social.............................................................................................................27
1.14.9. As Relações Públicas..............................................................................................................28
CAPÍTULO II – A ACÇÃO E A LUTA REIVINDICATIVA; LUTAR E AVANÇAR NOS DIREITOS.......................28
2.1. O PAPEL DETERMINANTE DA LUTA NA DEFESA, REPOSIÇÃO E CONQUISTA DE DIREITOS.............28
2.2. O DIREITO DE CONTRATAÇÃO COLECTIVA.....................................................................................29
2.2.7. A revogação da caducidade e de outras normas gravosas da legislação laboral...................30
2.2.8. A reposição do princípio do tratamento mais favorável e da renovação automática das
convenções colectivas de trabalho....................................................................................................30
2.3. O AUMENTO GERAL DOS SALÁRIOS E A JUSTIÇA NA REPARTIÇÃO DA RIQUEZA...........................31
2.3.4. Aumentar salários, para valorizar os trabalhadores e combater a exploração e o
empobrecimento................................................................................................................................31
2.4. REDUZIR O PERÍODO NORMAL DE TRABALHO, COMBATER A DESREGULAÇÃO............................32
2.4.5. Redução do período normal de trabalho semanal para as 35 horas para todos e para criar
emprego.............................................................................................................................................32
2.4.6. Rejeitar bancos de horas e adaptabilidades............................................................................32
2.4.7. Combater a generalização do trabalho por turnos e a laboração contínua...........................33
2.5. DEFENDER O EMPREGO SEGURO E COM DIREITOS, COMBATENDO A PRECARIEDADE.................33
2.6. AS DINÂMICAS REIVINDICATIVAS E O REFORÇO DA ORGANIZAÇÃO SINDICAL DE BASE...............34
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2.7. A “CONCERTAÇÃO SOCIAL” E A PARTICIPAÇÃO INSTITUCIONAL...................................................36
CAPÍTULO III – EMPREGO, DIREITOS E CONDIÇÕES DE TRABALHO......................................................36
3.1. POR EMPREGO SEGURO E COM DIREITOS, CONTRA A PRECARIEDADE.........................................36
3.2. O APARELHO PRODUTIVO E O DESENVOLVIMENTO AO SERVIÇO DO PAÍS. DESENVOLVIMENTO
TECNOLÓGICO E SUSTENTÁVEL............................................................................................................38
3.2.1. Desenvolver o país, combater a dependência.........................................................................38
3.2.2. O desenvolvimento tecnológico e os direitos dos trabalhadores............................................39
3.2.3. Defender o ambiente e o equilíbrio ecológico.........................................................................40
3.3. O INVESTIMENTO PÚBLICO E A RECUPERAÇÃO PARA O ESTADO DOS SECTORES ESTRATÉGICOS
PARA O DESENVOLVIMENTO SOBERANO DO PAÍS...............................................................................41
3.4. A EFECTIVAÇÃO DOS DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS DOS TRABALHADORES......................43
3.5. O COMBATE A TODO O TIPO DE DISCRIMINAÇÕES.......................................................................43
3.6. O DIREITO À FORMAÇÃO PROFISSIONAL, A VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS E DA
APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA..................................................................................................45
3.7. GARANTIR A SEGURANÇA E A SAÚDE NO TRABALHO, PREVENIR OS ACIDENTES DE TRABALHO E
AS DOENÇAS PROFISSIONAIS................................................................................................................46
CAPÍTULO IV – OS DIREITOS SOCIAIS, OS SERVIÇOS PÚBLICOS E AS FUNÇÕES SOCIAIS DO ESTADO.....47
4.1. AS OBRIGAÇÕES E GARANTIAS DO ESTADO QUE A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA CONSAGRA...47
4.2. O COMBATE À DEGRADAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS E A DEFESA E REFORÇO DAS FUNÇÕES
SOCIAIS DO ESTADO.............................................................................................................................48
4.3. O SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE, UNIVERSAL E GRATUITO..........................................................49
4.4. A ESCOLA PÚBLICA, DEMOCRÁTICA, GRATUITA, DE QUALIDADE E INCLUSIVA.............................50
4.5. A SEGURANÇA SOCIAL, PÚBLICA, SOLIDÁRIA E UNIVERSAL...........................................................51
4.5.10. O financiamento e o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social......................52
4.5.11. A reparação dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais....................................54
4.6. O DIREITO À HABITAÇÃO...............................................................................................................55
4.7. UMA JUSTIÇA ACESSIVEL E EFICAZ.................................................................................................56
4.8. O ACESSO À FRUIÇÃO E À CRIAÇÃO CULTURAIS............................................................................56
4.9. VALORIZAR A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E OS SEUS TRABALHADORES........................................57
4.10. REFORÇAR O PODER LOCAL DEMOCRÁTICO, COMBATER A TRANSFERÊNCIA DE COMPETÊNCIAS
DA ADMINISTRAÇÃO CENTRAL.............................................................................................................59
4.11. UMA POLÍTICA FISCAL QUE PROMOVA A REPARTIÇÃO DA RIQUEZA, ASSENTE NA
PROGRESSIVIDADE DOS IMPOSTOS......................................................................................................61
CAPÍTULO V – A LUTA POR UM PAÍS SOBERANO NUM MUNDO DE PAZ, PROGRESSO E JUSTIÇA SOCIAL
......................................................................................................................................................... 62
5.1. UMA EUROPA DOS TRABALHADORES E DOS POVOS.....................................................................62
5.2. COMBATER O APROFUNDAMENTO FEDERALISTA, MILITARISTA E NEOLIBERAL DA UNIÃO
EUROPEIA, OS CONSTRANGIMENTOS ORÇAMENTAIS DO EURO E DA DÍVIDA.....................................63
5.3. COMBATER A EXPLORAÇÃO CAPITALISTA, APROFUNDAR A SOLIDARIEDADE INTERNACIONALISTA
.............................................................................................................................................................66
5.4. CONSTRUIR UM MUNDO DE PAZ, DESENVOLVIDO E SOLIDÁRIO..................................................67
5.5. DEFENDER A SOBERANIA E A INDEPENDÊNCIA NACIONAIS............................................................69
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INTRODUÇÃO
A força, a longevidade e o êxito da CGTP-IN assentam nos seus princípios fundadores de unidade,
democracia, independência, solidariedade e sindicalismo de massas e alimentam-se dos objectivos
programáticos que sempre a nortearam e se fundem na defesa e realização constantes da democracia
nas suas múltiplas dimensões, política, económica, social e cultural, no relacionamento solidário e de
cooperação entre os povos e os Estados, na defesa da independência e da soberania nacionais e da paz,
na luta coerente e ininterrupta pela transformação social e política, que garanta uma sociedade mais justa
e desenvolvida, que valorize e dignifique o trabalho e os trabalhadores.
A CGTP – Intersindical Nacional é uma criação da luta dos trabalhadores, nasce da sua organização nos
locais de trabalho, partindo das bases para a construção de uma estrutura nacional, que combateu o
fascismo, intervindo decididamente no processo da Revolução de Abril, ajudou a construir a democracia e
se afirmou como um projecto sindical efectivamente transformador da sociedade.
A CGTP-IN, ao longo de meio século de existência, assume-se com a força de toda a sua história de
resistência e de luta e afirma-se como a grande central sindical dos trabalhadores portugueses,
determinante no movimento sindical português e do sindicalismo em Portugal.
A CGTP-IN é, assim, desde a sua fundação, um instrumento de intervenção e de luta dos trabalhadores,
que lhes permitiu travar e vencer inúmeros combates, no tempo da ditadura fascista, na Revolução de
Abril, na construção do processo democrático e na consagração e defesa dos direitos e liberdades
fundamentais dos assalariados, e na resistência à ofensiva contra-revolucionária de liquidação dos
direitos sociais e laborais e restauração dos monopólios.
Impulsionada pelas muitas lutas dos trabalhadores nos campos, nas fábricas, nas empresas e nos
serviços, na segunda metade do século passado, a Intersindical assumiu-se como um projecto sindical
que combateu o sindicalismo corporativista e, com a eleição de direcções unitárias da confiança dos
trabalhadores, transformou várias dessas organizações em instrumentos que se assumiram de
resistência, combate e luta contra o fascismo.
Uma luta que foi determinante para combater o capital e a repressão, denunciar a prisão de sindicalistas
e a destituição de direcções democraticamente eleitas, responsabilizar novos quadros para a acção
sindical e a dinamização de uma vaga de greves, que contribuíram para abrir caminho à Revolução de
Abril e transformar em lei grande parte das reivindicações dos trabalhadores, do povo e da Intersindical.
Este projecto sindical de classe, que tem como protagonistas os trabalhadores e como objectivos centrais
a acção e a luta reivindicativa nas empresas e locais de trabalho e a valorização da contratação colectiva,
foi decisivo para a afirmação do princípio do direito do trabalho e a conquista de um vasto conjunto de
direitos individuais e colectivos.
Por isso, a ofensiva contra a CGTP-IN, os trabalhadores e as suas lutas, não cessou. O patronato e o
grande capital continuam a sentir-se ameaçados pela unidade, a força, a resistência e a iniciativa,
demonstradas e sempre renovadas por este grande colectivo sindical.
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Sempre ao lado dos trabalhadores, a CGTP-IN resistiu e respondeu, a cada momento, aos sucessivos
ataques desferidos pela política de direita contra o movimento sindical unitário, os direitos laborais e
sociais e o direito do trabalho, às ingerências das várias intervenções do FMI e da Troika, que tiveram
sempre como objectivo a fragilização generalizada dos direitos individuais e colectivos dos assalariados,
o enfraquecimento dos sindicatos e a intromissão na sua vida interna, a limitação da autonomia colectiva,
a destruição da contratação colectiva e a consequente desregulação das relações de trabalho.
Uma vida de cinquenta anos que projectamos para o futuro, com a responsabilidade que nos caracteriza,
as convicções que nos acompanham e a confiança que nos galvaniza para a luta que continua.
Uma reivindicação marcante que, em 1889, levou à declaração do 1º de Maio como o dia de luta do
proletariado em todo o mundo e que, até aos dias de hoje, coloca a organização do tempo de trabalho
como um elemento central da intervenção do Movimento Sindical. A redução do horário de trabalho para
as 35 horas, sem diminuição de salário, constitui, no tempo que vivemos, um objectivo indissociável da
regulação dos horários de trabalho e do combate à exploração patronal, de respeito pela organização da
vida pessoal e familiar, do acesso dos trabalhadores ao pleno emprego e do desenvolvimento da
sociedade.
Uma luta que teve como expoentes máximos a conquista das 8 horas de trabalho, em 1962, pelos
trabalhadores agrícolas do Ribatejo e do Alentejo, a semana inglesa dos caixeiros e o 1º de Maio de 1974
que, com a participação massiva do povo português nas ruas, consolidou a liberdade e a democracia
conquistadas com a Revolução de Abril, assegurou direitos fundamentais para os trabalhadores e afirmou
o direito do trabalho, como suporte da harmonização social no progresso das relações de trabalho.
A redução do tempo de trabalho, o emprego seguro e com direitos e o aumento dos salários, não só
mantêm toda a sua actualidade reivindicativa, como adquirem uma nova centralidade nos objectivos de
luta dos trabalhadores e do movimento sindical.
Uma luta que importa intensificar contra a ofensiva do capital no sentido da desregulação e
prolongamento indefinido dos horários de trabalho e da indistinção entre tempos de trabalho e tempos de
não trabalho.
A tecnologia, a digitalização e a robotização não podem ser usadas para acentuar a exploração e as
desigualdades mas, pelo contrário, devem ser potenciadas para assegurar uma outra distribuição da
riqueza produzida e melhores condições de trabalho, por forma a melhorar as condições de vida dos
trabalhadores, dos povos e o desenvolvimento dos países. Passados 130 anos das comemorações do 1º
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de Maio, o controle do tempo de trabalho, a estabilidade e segurança no emprego, o aumento geral dos
salários e a valorização das profissões, continuam a ser eixos estruturantes de uma política de esquerda
e soberana e de um Portugal de progresso e justiça social
Uma política que não pode ficar refém das imposições da UE e da submissão dos governos nacionais às
mesmas mas que, ao invés, deve assumir em toda a sua plenitude a promoção dos direitos sociais,
económicos e culturais, como o direito à segurança social, à saúde, à educação, à justiça, à cultura, à
habitação, ao ambiente e qualidade de vida, que a todos compete manter, preservar e desenvolver.
Em conformidade com a visão progressista da Constituição, o conceito do direito de trabalho tem, no seu
cerne, o trabalhador e os seus direitos e as liberdades individuais e colectivas salvaguardados, pelo que
não devem ser sacrificados, aos interesses do capital, direitos fundamentais como a liberdade sindical, o
direito de manifestação, o direito de negociação colectiva, o direito de greve e o direito à segurança no
trabalho, e ainda o direito à organização do trabalho em condições socialmente dignificantes, de modo a
permitir a conciliação da vida profissional com a vida familiar e pessoal, o direito ao limite máximo da
jornada de trabalho e à fixação de limites à duração do trabalho, o direito ao descanso semanal e a férias
pagas, o direito à segurança e saúde no trabalho, o direito à assistência no desemprego e à justa
reparação em caso de acidente de trabalho e o direito ao salário, que foram conquistados por gerações
de trabalhadores, que a Constituição integrou, consolidou e fortaleceu.
Estes são direitos fundamentais dos trabalhadores que, com a grande maioria das alterações à legislação
laboral efectuadas nos últimos anos pelos sucessivos governos do PSD, CDS e PS, têm assumido
sentido contrário quer à letra quer ao espírito da Constituição, favorecendo os poderes patronais e
sobrepondo os interesses e exigências económicas aos direitos fundamentais dos trabalhadores. O que
constitui só por si um atropelo à Constituição.
Afirmar e defender a CRP e os direitos, liberdades e garantias nela consagrados continua a ser a melhor
e mais eficaz arma contra a política de direita e as forças retrógradas que querem limitar os direitos dos
trabalhadores, destruir as funções sociais do Estado e fazer retroceder o Pais.
A política identificada com a Constituição da República Portuguesa e com os valores e conquistas de Abril
nela inscritos é elemento central para preservar a soberania e os direitos, liberdades e garantias dos
trabalhadores e reforçar as responsabilidades do Estado na prestação de serviços públicos e na melhoria
das suas funções sociais, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.
Só uma participação social forte e um Estado que cumpra as responsabilidades que a Constituição lhe
atribui podem dar resposta aos desafios que o país enfrenta, efectivar a democracia política, social,
económica e cultural e garantir os direitos e liberdades fundamentais dos trabalhadores.
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Esta é a nossa luta, indelevelmente impressa na história da CGTP-IN, sempre pela defesa da
Constituição e da aplicação dos direitos que consagra, com os trabalhadores, na construção da
democracia e na afirmação dos seus direitos e liberdades fundamentais.
A acção do imperialismo, dos EUA e dos seus aliados, assume-se como elemento de instabilidade,
afronta à paz e factor de constrangimento ao desenvolvimento, estendendo a sua influência através da
sabotagem e do estrangulamento económico, da ingerência, da agressão e da guerra, um pouco por todo
o mundo, mas em particular na América Latina, no Médio Oriente, ou mesmo na Europa, recorrendo
frequentemente à NATO. A resistência demonstrada pelos povos, a rejeição em voltar a um passado de
dominação e a vontade de avançar na afirmação da soberania, são aspectos a valorizar e dos quais
dependerá, em última instância, a evolução de uma complexa, perigosa, mas também desafiante,
situação.
A postura mais agressiva do imperialismo não pode ser desligada do agravamento da crise estrutural do
sistema capitalista, com expressão na última crise cíclica que se está a prolongar, adiando um novo ciclo
de acumulação. Elemento intrínseco ao desenvolvimento da produção no capitalismo e manifestação da
grande contradição que persiste e se agrava entre o carácter social da produção e a apropriação privada
dos lucros, a crise desencadeada em 2008 atingiu proporções que não se verificavam desde 1929, teve
fortes impactos na capacidade produtiva e conduziu a uma violenta redução de salários e direitos, numa
escala que há muito não se verificava.
Não obstante a destruição de riqueza, que pela primeira vez desde a II Guerra Mundial levou a uma
quebra do produto mundial, a estagnação prolonga-se, tardando o regresso a ritmos de crescimento que
marcaram a saída em anteriores crises.
É neste contexto, aproveitando as condições abertas pela recessão, que ocorre uma brutal ofensiva
contra os trabalhadores. Por todo o mundo, o patronato promove o ataque à liberdade sindical, ao direito
à greve; à contratação colectiva e a direitos fundamentais dos trabalhadores, recorrendo para o efeito a
uma poderosa investida no plano ideológico, visando o aumento da exploração. O capital procura, a
pretexto da introdução massiva de novas tecnologias, encontrar as bases materiais para dar o salto rumo
a uma nova fase de crescimento económico, acumulação e concentração da riqueza.
Assim se explica que numa altura de avanços na ciência e na técnica sem paralelo, de desenvolvimento
da capacidade da força de trabalho ímpar, os trabalhadores sejam chamados a intensificar a luta contra o
retrocesso social e civilizacional que lhes querem impor.
A chamada “quarta revolução industrial”, ao invés de trazer confiança e esperança, está envolta na
chantagem e ameaça. Os que controlam os grandes grupos económicos vêem as conquistas nos
diferentes planos do conhecimento, em si fruto do trabalho, como um instrumento para acelerar a
concentração da riqueza, a acumulação de capital e apresentam como inevitável o aumento das já
gritantes desigualdades que marcam os tempos que vivemos.
A discussão sobre o futuro do trabalho, que a OIT lançou no quadro do seu centenário, foi marcada de
forma indelével por esta contradição, pelo carácter antagónico que caracteriza as relações de produção
no capitalismo e opõe o capital ao trabalho; os detentores dos meios de produção, aos que vivem da
venda da sua força de trabalho; os exploradores, aos explorados.
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Para a CGTP-IN, o desenvolvimento das relações de produção tem de conduzir à ruptura com as
condições que permitem que 1% da população mundial tenha a mesma riqueza que os restantes 99%,
que condena à pobreza mil milhões de seres humanos cujo rendimento não ultrapassa 1,90USD diários e
nega a 70% da população mundial qualquer tipo de protecção social.
A luta pelo estabelecimento de uma nova ordem económica e social, a nível mundial, assume-se como
um elemento determinante para superar as contradições do sistema dominante, garantir a paz, o direito à
soberania nacional, ao trabalho com direitos, ao desenvolvimento sustentável que corresponda às
exigências ambientais, à utilização controlada dos recursos naturais, à prosperidade dos povos de todo o
mundo.
Por uma Europa que respeite a soberania dos países e a melhoria das condições de vida dos povos
A União Europeia (UE), longe de se constituir como um projecto de solidariedade e salvaguarda dos
direitos dos mais desprotegidos, longe de representar uma garantia de paz e igualdade entre países e
povos, longe de se edificar nos pilares dos direitos sociais e da valorização do trabalho, está mergulhada
numa profunda crise, resultado directo da sua matriz, da política que preconiza e impõe, dos interesses
que defende e representa.
Ao lado do capital, o denominado “Projecto Europeu” assume-se cada vez mais como elemento
cerceador do desenvolvimento soberano, em prol do federalismo; como instrumento para a negação dos
direitos da maioria, para salvaguardar os de uma minoria, aprofundando o seu carácter neoliberal; como
bloco imperialista, cada vez mais militarizado e afastado dos sentimentos, aspirações e necessidades
populares.
A falta de resposta aos muitos milhares de refugiados que fogem da guerra, provocada directa e
indirectamente por Estados-membros da UE e a forma como esta reage perante os governos que, no seu
seio, põem em causa direitos fundamentais do ser humano, confirmam o retrocesso social e civilizacional
da sua política.
Uma política assente no Euro, instrumento de dominação e condicionamento, usado pelas grandes
potências para subjugar os países de menor dimensão, alicerçada na União Económica e Monetária, no
Semestre Europeu, na Governação Económica e, entre outros, no Tratado Orçamental, que serve para
impor um caminho único de defesa do grande capital e promover a perda de soberania nacional em áreas
crescentes, juntando à política monetária a orçamental, num esvaziamento dos meios a que cada Estado
pode recorrer para responder aos problemas concretos, em grande parte causados pela UE, com que se
deparam os trabalhadores e os povos.
Depois de mais de 40 anos da adesão à então CEE, de 20 anos de moeda única, o lastro de destruição
de importantes áreas da produção nacional, de perda do controlo de sectores essenciais ao
desenvolvimento - do financeiro ao energético, da indústria aos transportes - a divergência inter e intra
países é o resultado das opções, da natureza e dos interesses de classe que norteiam a UE.
Cada vez mais afastada dos povos, dos seus anseios e aspirações, descredibilizada de forma
fundamentada, os ensaios para dar à UE uma aparência humana à desumanidade que a caracteriza ou
um carácter social a uma construção que é do capital e para o capital, podem ser encontrados em
iniciativas como o denominado pilar europeu dos direitos sociais (PEDS), que pretende transferir para a
UE competências nacionais, como a negociação colectiva, os salários, a legislação laboral e as Funções
Sociais do Estado, nivelando por baixo direitos laborais e sociais consagrados na CRP.
Neste contexto, a construção do Orçamento da UE reforça as opções e o rumo que o eixo franco-alemão
e o grande capital pretendem para a UE, ou seja: menos coesão social e menos convergência
económica, ao mesmo tempo que é aumentada a verba para a indústria bélica e a criação de um exército
europeu.
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A CGTP-IN continuará a pautar a sua intervenção pela rejeição das políticas anti laborais e anti-sociais da
UE e das forças políticas que as apoiam, exigindo uma outra política que promova o desenvolvimento e a
convergência económica, a solidariedade, a paz e o respeito pela vontade soberana dos povos.
Foi a luta reivindicativa dos trabalhadores que contribuiu decisivamente para conquistar os avanços dos
últimos quatro anos, a recuperação dos feriados roubados, a reposição das 35 horas e o seu alargamento
a outros milhares de trabalhadores na Administração Pública, o fim das sobretaxas que incidiam sobre os
rendimentos do trabalho, os manuais escolares gratuitos, o aumento das pensões, a redução do valor do
passe social para os transportes públicos e outras medidas com alcance positivo.
Os avanços conseguidos ganham ainda maior significado se analisados à escala da ofensiva do capital
que, no plano ideológico, procurou incutir nos trabalhadores a resignação como caminho único, a
exploração como aspecto incontornável, a greve como instrumento do passado e a impossibilidade da
luta se assumir como motor da transformação económica e social. Uma ofensiva que, com a troika e o
Governo do PSD/CDS, tinha como objectivo prosseguir e intensificar o ataque aos direitos dos
trabalhadores e dos reformados e reconfigurar o Estado com vista à privatização de um conjunto de
serviços públicos.
Uma ofensiva que a luta dos trabalhadores e do povo travou, mas que a política de submissão do
Governo do PS às imposições da União Europeia, ao Tratado Orçamental, à Governação Económica e ao
Euro, continua a condicionar gravemente o desenvolvimento do país no que se refere ao investimento
público, ao respeito pelos direitos dos trabalhadores da Administração Pública e a necessária melhoria
dos serviços públicos.
Na área laboral, a aliança do Governo do PS com o grande patronato, o PSD, o CDS e a UGT, reflecte-se
ainda num ataque que tem no trabalho e nos direitos dos trabalhadores um alvo preferencial e na
ofensiva ideológica o instrumento de manipulação e mentira, para tentar apresentar como inevitável a
caducidade das convenções colectivas, a desregulação da legislação laboral, dos horários de trabalho e
do descanso semanal aos sábados e domingos, a precariedade e os baixos salários e a redução dos
rendimentos, num quadro em que foi precisamente esta política de retrocesso social e civilizacional que
acentuou as desigualdades sociais.
As alterações à legislação laboral da responsabilidade do Governo do PS, que contaram com o apoio
entusiástico do PSD, do CDS, das confederações patronais e da UGT, e que foram promulgadas pelo
Presidente da República, constituem uma fraude à prometida valorização do trabalho, um atentado aos
direitos dos trabalhadores, um ataque aos sindicatos de classe, uma submissão aos interesses do capital
e uma violação da Constituição da República Portuguesa.
São normas que não só mantêm como agravam a política laboral da direita e se combinam com o
condicionamento do exercício do direito à greve e tentativas de limitação à acção sindical para promover
a repressão e o assédio, fragilizar e dificultar a efectivação dos direitos dos trabalhadores e fomentar a
exploração.
Um processo contestado pela luta dos trabalhadores, que foi determinante para impedir a maioria
absoluta do PS e acentuar a derrota do PSD e do CDS. Portugal precisa de uma política que valorize o
trabalho e os trabalhadores, que assegure um rumo de valorização dos direitos laborais e sociais e para
um Portugal de progresso e justiça social.
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Por uma política de esquerda e soberana
Foi a melhoria das condições de vida que impulsionou o consumo e permitiu a satisfação de
necessidades, algumas básicas, aos trabalhadores e ao povo, dinamizou o sector produtivo, implicou
mais crescimento económico. A procura interna continua a ser um dos motores para a criação de mais
riqueza e, se há algo que os últimos anos demonstraram, foi o carácter limitado das medidas adoptadas e
as potencialidades que existem.
Partindo desta realidade, dando expressão às exigências e anseios dos trabalhadores e das suas
famílias, a CGTP-IN, propõe uma política de esquerda e soberana que rompa com a política de direita e
liberte o país dos actuais constrangimentos, rompa com as amarras que cerceiam o seu potencial de
crescimento económico e promova a renegociação da dívida, garrote usado em alternância ou
consonância com o défice, para drenar grande parte da riqueza que o país produz para o estrangeiro.
Uma política de esquerda e soberana que assuma o aumento geral dos salários de todos os
trabalhadores e a valorização das profissões e das carreiras como elementos centrais para promover uma
outra distribuição da riqueza, melhorar o poder de compra, criar mais e melhor emprego, afirmar o
crescimento da economia e reforçar a sustentabilidade da Segurança Social para garantir o aumento das
pensões de reforma, da protecção e dos apoios sociais. Uma política que tenha como objectivo a fixação
do SMN nos 850€ no curto prazo, considerando a importância desta medida no combate à pobreza
laboral e à melhoria das condições de vida das muitas centenas de milhar de trabalhadores que auferem
esta remuneração em Portugal.
Uma política de esquerda e soberana que reintroduza o princípio do tratamento mais favorável e revogue
as normas gravosas da legislação laboral de PSD-CDS-PS, nomeadamente, a caducidade da contratação
colectiva e as medidas que facilitam os despedimentos e reduzem as indemnizações, generalizam a
precariedade e os baixos salários, instituem as adaptabilidades e os bancos de horas, reduzem os
rendimentos dos trabalhadores e aprofundam os desequilíbrios das relações de trabalho.
Uma política de esquerda e soberana que assegure o cumprimento dos princípios constitucionais do
direito ao trabalho e ao trabalho com direitos e da segurança no emprego, combata a precariedade e
garanta que a um posto de trabalho permanente tem de corresponder um vínculo de trabalho efectivo.
Uma política que afirme os direitos, liberdades e garantias constitucionais, a liberdade sindical nos locais
de trabalho e o exercício do direito de greve.
Uma política de esquerda e soberana que estabeleça as 35 horas como período normal de trabalho
semanal, sem perda de remuneração, como prioridade nacional, num quadro em que se exige que a
evolução científica e técnica, assegure o emprego para todos e a colocação das mais-valias produzidas
ao serviço do bem-estar dos trabalhadores e das suas famílias, dos povos e do desenvolvimento
económico e social dos países.
Uma política de esquerda e soberana que promova o investimento nos serviços públicos e nas funções
sociais do Estado, defenda e potencie a intervenção do Poder Local democrático, assuma a
regionalização como uma prioridade para a coesão económica, social e territorial do país.
Estes são os eixos centrais para a nossa intervenção que se integram e dão suporte à política de
esquerda e soberana pela qual lutamos e que tem de se desenvolver a partir da edificação de um sistema
fiscal que garanta mais recursos financeiros para o Estado, com o aumento dos impostos sobre os
rendimentos do capital e a redução daqueles que, directa e indirectamente, recaem sobre quem trabalha
e trabalhou.
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LUTAR, AVANÇAR NOS DIREITOS, VALORIZAR OS TRABALHADORES; POR UM
PORTUGAL COM FUTURO!
A criação da CGTP-IN constitui um marco de grande significado histórico no longo, difícil e heróico
percurso do Movimento Operário e Sindical para se afirmar como força de progresso social, de
emancipação dos trabalhadores e de transformação da sociedade.
O Lema do XIV Congresso contém os elementos centrais que marcam e projectam a acção da CGTP-IN.
Num tempo pautado pelas contradições e os interesses antagónicos que opõem o trabalho ao capital,
lutar pela ruptura com a política de direita e por uma política de esquerda e soberana que valorize o
exercício da actividade sindical, o direito à greve, da negociação da contratação colectiva e a efectivação
dos direitos individuais e colectivos dos trabalhadores nos locais de trabalho constitui um objectivo central
da nossa intervenção que importa prosseguir e intensificar. Neste quadro, o desenvolvimento da acção
sindical integrada, a dinâmica reivindicativa e a acção organizada dos trabalhadores nas empresas e
serviços, são determinantes para o desenvolvimento da luta, a afirmação dos direitos, liberdades e
garantias, a obtenção de resultados e o reforço da sindicalização e da capacidade de intervenção da
organização sindical.
Avançar nos direitos: a história confirma que há uma ligação directa entre o avanço nos direitos laborais,
sociais, económicos e culturais e o crescimento económico. É a melhoria dos rendimentos e dos direitos
que está na origem do aumento da procura interna, que, por sua vez, é a base dos resultados
alcançados. É a conquista de mais direitos que assegura a estabilidade e o bem-estar dos trabalhadores
e promove o desenvolvimento económico e social do país. Avançar nos direitos é possível e necessário
para promover o emprego com direitos e acabar com o flagelo da precariedade, assegurar a justiça social
onde ainda persiste a pobreza laboral, garantir o progresso social em contraponto ao retrocesso
civilizacional.
Os princípios da CGTP-IN, o seu carácter de classe, o objectivo milenar que persegue do fim da
exploração do homem pelo homem, dão à sua proposta uma profundidade que, partindo da resolução
dos problemas concretos no contexto exacto em que estes se colocam, transporta todo o potencial de
transformação, emancipação e libertação, rumo a um Portugal com futuro.
Neste processo que há muito tomámos nas nossas mãos para esta construção de um Portugal com
futuro, urge valorizar os trabalhadores e avançar nos direitos. Urge mobilizar, esclarecer, unir e organizar
para lutar.
Porque a história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes, façamo-la!
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1.1. CGTP-IN – MOVIMENTO SINDICAL DE CLASSE
1.1.1. “O movimento sindical é um contributo dos trabalhadores não apenas para a defesa dos seus
direitos e interesses, mas também para o desenvolvimento e libertação das sociedades de que fazem
parte.”.
1.1.2. É essa visão transformadora e de classe, vertida nos Estatutos da CGTP-IN, que enforma e dá
expressão prática ao movimento sindical que somos – força unida, poderosa e insubstituível de progresso
e emancipação dos trabalhadores; força combativa, solidária e consequente, contra a exploração e a
opressão, comprometida com os valores de Abril, portadora de confiança no futuro, num Portugal
desenvolvido, democrático e soberano, de progresso e justiça social e num mundo de paz, em que a luta
organizada dos trabalhadores e agregadora das massas desempenha papel determinante.
1.1.3. Fiel à sua natureza de classe e aos seus princípios identitários (Unidade, Democracia,
Independência, Solidariedade, Sindicalismo de Massas) na definição dos seus objectivos programáticos,
nas suas opções e reivindicações e na sua acção prática, a CGTP-IN – criação histórica dos
trabalhadores - continua, 50 anos depois, a contar com o seu apoio e confiança e a alargar influência,
expressa, nomeadamente, na participação, agregação e convergência de novos sectores profissionais,
confirmando-a como a verdadeira Central Sindical dos trabalhadores portugueses e a maior organização
social de massas do País.
1.1.4. É em total consonância com os seus princípios – que desde o processo de fundação até à
actualidade, lhe deram uma característica única de abrangência e representatividade que é inigualável -
que a CGTP-IN expressa os verdadeiros interesses e aspirações dos trabalhadores.
1.2.1.A força da CGTP-IN é a força dos seus sindicatos e do enraizamento destes nos locais de trabalho.
1.2.4. Os sindicatos e o sindicalismo são hoje objecto de uma forte ofensiva ideológica e política visando
dividir e enfraquecer a capacidade de organização, defesa e luta dos trabalhadores e desequilibrar ainda
mais, em favor do capital, as relações de trabalho. Por um lado, procurando domesticar e descaracterizar
a natureza de classe dos sindicatos, para os fazer perder a sua autonomia e independência e compro-
metê-los na aceitação das lógicas de dominação e exploração do capitalismo e da ficção da superação do
conflito entre capital e trabalho. Por outro lado, desvalorizando e atacando os sindicatos como instituições
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ultrapassadas e inúteis face a um mundo do trabalho mais fragmentado, precarizado e individualizado, e
classificando-os como representantes de interesses ditos “corporativos” que seriam opostos aos interes-
ses mais gerais. A CGTP-IN, pela centralidade do seu papel na representação e defesa dos trabalhado-
res, é alvo privilegiado desse ataque ideológico e político, que visa assim desqualificar a sua insubstituível
acção de representação organizada dos interesses do mundo do trabalho, não oposta, mas parte funda-
mental dos interesses mais gerais, em ordem ao desenvolvimento económico e social do País.
1.2.5. O papel da CGTP-IN na sociedade portuguesa e o contributo continuado e determinante que tem
dado às causas do trabalho, dos direitos sociais e da democracia, a presença constante nas empresas e
serviços e o papel dos sindicatos no apoio quotidiano aos trabalhadores e no combate aos seus proble-
mas laborais, na mobilização social contra a exploração e por mudanças políticas, são o melhor testemu-
nho de que o sindicalismo é uma força indispensável e estruturante da democracia para a representação
organizada dos interesses do trabalho e incontornável o seu contributo para a determinação do nosso fu-
turo colectivo.
1.3.2. É, assim, em função do local de trabalho, que os sindicatos têm que se estruturar, organizar e
desenvolver a actividade, no quadro da acção sindical integrada, dando prioridade às maiores
concentrações de trabalhadores e às empresas e serviços estratégicos, onde se incluem novas
empresas, assegurando a articulação, a organização e a direcção da acção sindical nas empresas de
dimensão nacional e pluridistrital e no quadro da cooperação e convergência de acção entre os
sindicatos do Movimento Sindical Unitário (MSU).
1.3.3. A acção sindical integrada, a iniciativa e as dinâmicas reivindicativa e de luta são, como a
experiência comprova, as vias para a obtenção de melhores resultados, seja na resposta aos problemas
emergentes dos locais de trabalho, seja para o reforço da sindicalização, da organização de base e da
estrutura sindical, no seu todo.
1.3.5. A “Ficha de Intervenção Sindical” é, nessa medida, um instrumento indispensável, em cada local de
trabalho, para, a partir de um melhor conhecimento da realidade e da identificação dos problemas mais
sentidos pelos trabalhadores, reforçar a acção da organização sindical de base, aferir resultados e
assegurar a continuidade do trabalho.
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1.4. O FORTALECIMENTO E A REVITALIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO NO LOCAL DE
TRABALHO
1.4.1. O reforço da intervenção dos sindicatos nos locais de trabalho é indissociável do papel e da acção
da organização sindical de base, do seu conhecimento da realidade, da ligação aos trabalhadores. E
nela, os delegados sindicais, elos de ligação entre o sindicato e os trabalhadores - e as comissões
sindicais por si constituídas -, desempenham um papel estratégico na vida e na eficácia da actividade e
da luta sindical a partir do local de trabalho. A sua função está, assim, muito para além da distribuição e
afixação da informação e propaganda do seu sindicato ou da convocação do plenário de trabalhadores.
Sempre na linha da frente, na divulgação dos direitos, no esclarecimento e na acção, perante o
comportamento abusivo e ilegal do patronato, em situações de conflito, na iniciativa e na luta
reivindicativa, na tarefa permanente de sindicalização, no combate ao divisionismo, na mobilização para a
participação nas acções de luta próprias ou mais gerais e de convergência, convocadas pela CGTP-IN,
cabe-lhes um papel determinante em defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores, a partir do local
de trabalho. É, assim, necessário dar a maior atenção ao reforço e alargamento da rede de delegados
sindicais, abrangendo novas empresas e serviços, recrutando os activistas que tomam a iniciativa em
defesa dos trabalhadores e são portadores da sua confiança, garantindo-lhes acompanhamento,
formação e informação regular, meios e apoio na sua intervenção.
1.4.2. Coexistindo vários sindicatos do MSU num mesmo local de trabalho, as respectivas comissões
sindicais devem articular a actividade sindical entre si, de acordo com as deliberações dos órgãos
competentes dos respectivos sindicatos, evoluindo, sempre que possível, para a constituição de
Comissões Intersindicais.
1.4.3. Os representantes dos trabalhadores para a Segurança e Saúde no Trabalho constituem outra
forma de organização no local de trabalho, cuja eleição os sindicatos devem dinamizar, na perspectiva da
sua ligação à organização e à acção sindical, potenciando a iniciativa reivindicativa para a resolução dos
problemas dos trabalhadores neste domínio.
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1.5.2. Os trabalhadores sindicalizam-se e participam porque encontram nos sindicatos respostas para os
seus problemas e aspirações, porque vêem neles organizações combativas e solidárias que os
defendem, apoiam e protegem. É, assim, essencial tomar a iniciativa de contactar os trabalhadores –
tenham eles vínculo efectivo ou precário – e não excluir nenhum trabalhador do acesso à informação
sindical e da participação nos processos reivindicativos, dando particular atenção à sindicalização de
jovens, mulheres, quadros técnicos e científicos e imigrantes.
1.6.2. Por seu lado, a divulgação e o exercício dos direitos sindicais no local de trabalho são, também,
expressões práticas da independência sindical, afirmando a autonomia e a capacidade de as
organizações sindicais decidirem, nos seus órgãos e com os trabalhadores, o seu funcionamento, as suas
reivindicações e as formas e acções de luta adequadas, em cada momento.
1.6.3. Num quadro em que a luta organizada dos trabalhadores e das massas confirma o seu papel
central para fazer avançar direitos e salários mas em que se mantém o ataque ao direito de contratação
colectiva e se reforçam linhas de exploração e insegurança no emprego, o patronato explora, persegue,
reprime e despede, ao mesmo tempo que procura condicionar a liberdade de organização e
funcionamento das organizações sindicais de classe e obstaculizar o exercício dos direitos. A democracia
é posta em causa sempre que a liberdade sindical fica à porta de uma empresa ou serviço. Mas o grande
capital e os sectores mais reaccionários da sociedade portuguesa não desistem e projectam e alimentam
linhas de intensa manipulação ideológica para imporem o retrocesso e, de novo, atacam o direito à greve,
direito fundamental dos trabalhadores alcançado com a Revolução de Abril e consagrado na Constituição
da República, procurando abrir caminho a novas e mais vastas alterações legislativas.
1.6.4. Para a CGTP-IN, a par da ampla divulgação dos direitos sindicais junto dos trabalhadores, há que
dar mais força à denúncia e ao combate a todas as tentativas de violação ou limitação dos direitos e do
seu exercício e exigir do governo e das entidades competentes a intervenção necessária, no respeito pela
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liberdade sindical no interior das empresas e serviços, no direito de auto-organização dos sindicatos e no
cumprimento da legalidade democrática. E, tal como no passado e a história comprova, profundamente
vinculados aos trabalhadores, interpretando as suas aspirações e conduzindo a luta reivindicativa com
horizonte na concretização do seu projecto de transformação da sociedade, a CGTP-IN e os sindicatos do
MSU saberão encontrar as respostas necessárias para resistir e fazer fracassar os objectivos do seu
inimigo de classe.
1.7.2. Unidade na acção – a força dos trabalhadores. Unidade construída a partir dos locais de trabalho e
da identificação de problemas e interesses comuns dos trabalhadores, independentemente das suas
opções políticas, religiosas ou outras ou da natureza do seu vínculo contratual e com a sua mais ampla
participação activa, nas diversas fases dos processos reivindicativos e de luta e na vida das suas
organizações de classe.
1.7.3. Com a apropriação capitalista dos resultados da Revolução Científica e Tecnológica em curso e a
ampla campanha de manipulação ideológica que a acompanha, os centros de comando do grande capital
e as forças que o sustentam mediatizam a ideia da destruição massiva e inevitável de postos de trabalho,
apostando na instalação do medo e no estímulo à concorrência entre os trabalhadores, no seu isolamento
e atomização, na diferenciação de vínculos e condições de trabalho, para minar a unidade de classe,
enfraquecer a acção colectiva e abrir caminho à intensificação da exploração e ao retrocesso social.
1.7.4. Para a CGTP-IN, a unidade dos trabalhadores e do movimento sindical não se defende nem se
reforça com práticas, cedências ou compromissos que não respeitem os princípios e objectivos
intrínsecos à sua natureza de classe.
1.7.6. É nessa base que a CGTP-IN promove o estreitamento de relações e a cooperação com sindicatos
não filiados que se identificam com os seus princípios e prática de acção, opção estratégica para a
unidade, a coesão e o alargamento do MSU e da sua influência e para o êxito da luta dos trabalhadores.
1.7.7. A unidade na acção é, pois, um processo cuja construção social se desenvolve em todas as dimen-
sões e a todos os níveis, característica fundamental da CGTP-IN e dos sindicatos filiados ou que conver-
gem com os seus princípios e prática de acção. Exige diálogo e debate participado para a determinação
dos problemas, das reivindicações e das propostas comuns que servem os interesses dos trabalhadores
e a caminhada para a sua emancipação, e para a escolha das formas de acção colectiva mais apropria-
das. Exerce-se na empresa ou serviço, entre trabalhadores e os seus representantes, buscando na unida-
de a alavanca da protecção dos interesses comuns. Exerce-se no diálogo entre organizações sindicais, fi-
liadas na CGTP-IN e não filiadas mas que com ela cooperam, com respeito pelas respectivas identidades
e autonomia, sempre que sejam realizáveis objectivos e reivindicações comuns e encontradas formas co-
muns ou convergentes de acção.
1.7.8. O empenhamento da CGTP-IN e dos seus sindicatos no fortalecimento da unidade de acção dos
trabalhadores para a defesa dos seus direitos e interesses não significa abdicação da sua autonomia, da
afirmação própria das suas análises, posições e propostas e dos valores do sindicalismo de classe que
protagoniza, da diferenciação crítica em relação às posições de outras organizações sociais. Exprime a
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consciência firme de que, perante o profundo desequilíbrio actual das relações entre trabalho e capital,
mais do que nunca a construção da unidade de acção dos trabalhadores é um imperativo para juntar for-
ças e vencer a ofensiva do grande capital.
1.8.2. Num tempo que confirma o papel estratégico e determinante da luta dos trabalhadores e das
massas nos avanços registados em defesa e pela recuperação e conquista de direitos e salários e a
validade e actualidade do sindicalismo de classe; quando, na Administração Pública e no sector privado,
cresce a iniciativa reivindicativa e a luta organizada de resistência e conquista, recrudescem as manobras
divisionistas e oportunistas de diversos matizes e com diferentes expressões e novas tentativas de
ingerência e condicionamento da autonomia e da independência do MSU.
1.8.4. Trata-se, afinal, de uma nova operação, inserida no objectivo estratégico de sempre do grande
capital - “partir a espinha à Intersindical”. Tendo no horizonte a retoma dos seus projectos
antidemocráticos e de agravamento da exploração, de ataque a direitos sociais e de alienação da
soberania do País, a favor dos seus interesses de classe, o que o capital mais teme é a organização e o
aumento da consciência social e política dos trabalhadores.
1.8.5. Mas, tal como no passado, a CGTP-IN e o MSU, prosseguindo uma prática de acção vinculada aos
seus princípios, objectivos e características essenciais, continuarão a afirmar-se e a dar expressão ao
projecto sindical de classe ímpar e insubstituível de que são portadores, reforçando a sua intervenção
permanente a partir dos locais de trabalho, ouvindo e esclarecendo, intervindo, sindicalizando,
organizando, reivindicando, conduzindo e intensificando a luta na defesa intransigente dos direitos e
interesses dos trabalhadores e por um Portugal soberano, de progresso e justiça social.
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com naturais implicações na organização e acção sindical e no equilíbrio financeiro dos sindicatos e
repercussões nos diferentes níveis da estrutura.
1.9.5. No plano administrativo e financeiro, a redução de gastos, a rentabilização e o uso racional dos
recursos disponíveis continuam a ser prioridades centrais, com vista a uma gestão financeira cada vez
mais criteriosa, com rigor e controlo da despesa e da receita de quotização (agindo, no imediato, sobre
situações de retenção patronal), de forma a aumentar a capacidade de intervenção, influência,
mobilização e luta sindical e garantir os meios para suportar o funcionamento da estrutura de forma
autónoma e independente.
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funcionamento de toda a estrutura, da base ao topo, e reforçando o sentido de pertença e a coesão
interna das organizações;
Garantir formação profissional e sindical aos trabalhadores sindicais, qualificando-os para uma
resposta mais eficaz dos serviços técnico-administrativos às solicitações.
1.10.2. A descentralização sindical, permitindo desconcentrar meios e descentralizar a acção, é vital para
garantir a presença, a organização e a intervenção nos locais de trabalho. Deve continuar a evoluir para a
constituição de Casas Sindicais com serviços comuns, dimensionados de acordo com as necessidades e
possibilidades e como base de delegações dos Sindicatos, assegurando quadros e meios para a acção,
tendo em atenção as suas necessidades de implantação nos respectivos âmbitos, em articulação com as
Uniões.
1.10.3. A intervenção conjugada, com a utilização comum de instalações, meios e serviços, é uma
direcção de trabalho a desenvolver nas Casas Sindicais que, a par de constituírem importantes pontos de
apoio à acção sindical de cada Sindicato, podem e devem, ainda, ser espaços de dinamização da
cooperação, articulação e solidariedade intersectorial.
1.11.2. Passado quase meio século da Revolução de Abril, e num contexto marcado por uma intensa
ofensiva ideológica desenvolvida pelo capital, em que se insere a difusão de ideias e valores contrários
aos princípios fundamentais da CGTP-IN, como o individualismo, a resignação e submissão, e perante o
condicionamento ou mesmo violação dos direitos e da liberdade sindical nos locais de trabalho e a
intensificação da exploração, coloca-se a necessidade de dar ainda maior atenção à formação dos
quadros da generalidade dos sectores e, desde logo, dos mais jovens, transmitindo conhecimentos e
partilhando experiências, com vista ao desenvolvimento de uma acção sindical mais forte, coesa e
reivindicativa. Uma formação que tenha em conta e responda à heterogeneidade que caracteriza a nossa
sociedade e que tem, inevitavelmente, reflexo na nossa estrutura.
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1.11.3. Impõe-se a responsabilidade e necessidade de recrutar e formar novos quadros sindicais,
homens, mulheres e jovens, tendo presente as características decorrentes das transformações sociais
que temos vivenciado, mantendo a nossa identidade de organização sindical de classe, unitária,
democrática, independente, solidária e de massas.
1.11.5. É neste contexto que o recrutamento de quadros sindicais assume especial relevo, não podendo
ser dissociado da respectiva formação sindical. O destaque que os futuros quadros sindicais assumem na
acção e luta sindical, bem como o reconhecimento por parte dos seus camaradas de trabalho, embora
justificativo e basilar do recrutamento é, por si só, insuficiente para o desempenho da actividade.
1.11.6. O sucesso da actividade sindical passa, necessariamente, pela consciência de classe, militância,
motivação, disponibilidade e preparação dos seus quadros, pelo que é indispensável a aposta na
formação sindical, não apenas inicial, mas de forma continuada. Formação que, com as devidas
adaptações e sem carácter substitutivo da formação profissional devida, deve ser proporcionada,
também, aos trabalhadores sindicais.
1.11.7. A formação sindical não constitui um fim em si mesmo, nem é ideologicamente neutra. É, isso sim,
um instrumento inseparável da intervenção e ideologicamente marcada pela natureza de classe da
CGTP-IN, pelos seus princípios e objectivos e, nessa medida, garante a afirmação da sua identidade, na
elaboração teórica, na definição da orientação e na acção prática.
1.11.8. Não basta identificar a formação sindical como tarefa fundamental. É necessário assumi-la
enquanto tal, desde logo, com a responsabilização de camaradas para esta frente de trabalho. A sua
realização deve ser precedida de um diagnóstico de necessidades; da identificação de problemas aos
quais pretendemos dar resposta e não de um mero cumprimento de calendário, que se revele inócuo para
a nossa acção.
1.11.9. A planificação, bem como a avaliação da formação, são condições essenciais para o seu sucesso.
Assim, há que planificar as acções a desenvolver, inscrevendo-as nos planos anuais de actividades de
cada estrutura e garantir a sua execução. A avaliação tem de assumir um papel mais relevante no
processo formativo, não bastando avaliações realizadas no momento da acção formativa, de modo a
perspectivar a continuação do processo formativo e evolutivo dos quadros sindicais.
1.11.10. As transformações económicas e sociais, e a celeridade com que ocorrem, impõem uma
exigência acrescida à formação sindical. A memória colectiva e a experiência terão de ser articuladas
com novos contextos, de forma a melhor preparar os quadros sindicais para responderem a novos
problemas e solicitações que surgem diariamente nos locais de trabalho.
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1.11.11. É, pois, fundamental que o sistema de formação sindical se ajuste aos novos desafios e
necessidades sindicais, devendo assumir-se como prioridade a revisão e actualização dos módulos, da
estrutura de organização e temáticas, onde tal se justifique.
1.11.13. A formação sindical será desenvolvida, também, em articulação com o Inovinter. Justifica-se um
reforço efectivo desta ligação, que é fundamento da existência do próprio centro de formação.
1.11.14. A Comissão Específica de Formação Sindical deverá assumir um papel activo na dinamização
da formação sindical e na reflexão crítica com vista à sua melhoria.
1.11.16. A CGTP-IN deve, ainda, continuar a participar em projectos e instâncias que contribuam para o
alargamento do conhecimento, troca de experiências e para o reforço de relações solidárias, na base da
identidade de objectivos comuns e convergentes.
1.12.1. A Interjovem
1.12.1.1. A Juventude Trabalhadora tem, pelas suas características próprias, um enorme potencial para a
luta, trazendo rejuvenescimento e criatividade que, se devidamente aproveitados e rentabilizados,
incorporam novas ideias e formas de intervenção, enquadradas nos princípios, objectivos e práticas de
acção do MSU, com uma grande importância para o desenvolvimento e dinamismo da intervenção.
1.12.1.2. Os jovens trabalhadores são os mais afectados pelos baixos salários, pelo desemprego e pela
precariedade. Uma realidade que, como a prática comprova, eleva o seu potencial reivindicativo e de luta
e, nessa medida, comporta grandes potencialidades para o reforço da intervenção e organização sindical,
para a sindicalização, o desenvolvimento da luta e o rejuvenescimento natural do MSU.
1.12.1.3. A Interjovem, enquanto organização específica da CGTP-IN, assume uma importância acrescida
para a dinamização da intervenção junto dos jovens trabalhadores, incentivando à criação de comissões
de jovens nos sindicatos, federações e uniões, como espaço de debate, participação, formação e
intervenção em torno dos problemas específicos dos jovens trabalhadores.
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se destaquem na acção e na luta sejam eleitos delegados e dirigentes sindicais ou representantes dos
trabalhadores para a segurança e saúde no trabalho, responsabilizando-os por tarefas e trabalho
específico.
1.12.1.5. Deve-se, assim, ter como objectivo que, durante o próximo mandato, a generalidade dos
sindicatos, federações e uniões tenha uma intervenção específica junto da juventude trabalhadora, com o
envolvimento de todos os jovens trabalhadores sindicalizados e a constituição de estruturas de jovens.
1.12.1.6. Num momento em que a ofensiva ideológica procura afastar os trabalhadores, e em particular
os jovens trabalhadores, da intervenção e acção, a Interjovem e a CGTP-IN mantêm-se como as
estruturas mais consequentes de luta e conquista dos jovens trabalhadores. As potencialidades de
intervenção junto dos jovens trabalhadores, e o subsequente reforço das comissões de jovens e da
própria Interjovem, devem ser assumidos como tarefa de todo o MSU. Este é um meio essencial para o
rejuvenescimento, em todos os níveis da estrutura e para a elevação da consciência de classe dos
trabalhadores, e em particular dos jovens trabalhadores, para que mantenham vivo e reforcem o projecto
sindical que temos e somos e a luta mais geral dos trabalhadores.
1.12.2.2. A CIMH – Comissão para a Igualdade entre Mulheres e Homens é a organização específica da
CGTP-IN direccionada para a promoção da igualdade de oportunidades entre mulheres e homens,
constituída por dirigentes sindicais em representação de associações sindicais de sector e de região e por
membros do Conselho Nacional, que integram a sua Direcção Nacional, com um funcionamento e
dinâmica regulares e permanentes de discussão dos problemas específicos das trabalhadoras e dos
caminhos para os ultrapassar.
1.12.2.3. As mulheres representam a maioria das novas sindicalizações e são também o maior número
dos delegados sindicais eleitos nos locais de trabalho para integrarem as organizações de base.
Valorizando os avanços positivos alcançados, importa que os Sindicatos sindicalizem e elejam mais
mulheres para delegadas, dirigentes sindicais e representantes para a Segurança e Saúde no Trabalho,
que dinamizem a criação de mais Comissões para a Igualdade e enquadrem as respectivas linhas de
trabalho de forma articulada com a acção sindical geral, com o objectivo de, continuamente, conhecer e
aprofundar os problemas mais sentidos pelas trabalhadoras, formular propostas e reivindicações
concretas, encetar formas de resistência, protesto e luta, para alcançar soluções e resultados positivos.
1.12.2.4. A acção sindical nesta área específica reclama novas iniciativas ao nível do estudo, da
sensibilização, da formação, da divulgação de direitos, da edição de documentos e guias de apoio, do
conhecimento e valorização de resultados, da integração de avanços nos direitos da igualdade através da
negociação e da contratação colectiva, visando prosseguir, alargar e consolidar uma dinâmica regular e
evolutiva do trabalho sindical, a partir dos locais de trabalho, junto das instituições (CITE, CIG, ACT, etc.),
com divulgação e projecção pública dos objectivos e da sua concretização, tendo em conta,
designadamente, a importância do Dia Internacional da Mulher (8 de Março) e que a luta pela igualdade é
uma luta de todos os dias.
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Referência na Contratação Colectiva, designadamente em torno das seguintes áreas temáticas que
afectam, maioritariamente, as mulheres trabalhadoras:
1.12.3. A Inter-Reformados
1.12.3.1. Ao longo da História, a luta organizada dos trabalhadores desempenhou sempre um papel
central e motor da evolução e do progresso económico e social. Foi e é assim na batalha pelos direitos,
pelo emprego, por melhores condições de vida, de trabalho, salários e também pelo direito a uma reforma
digna.
1.12.3.2. O número de aposentados e reformados existentes no nosso País, provenientes dos vários
sectores de actividade, e a dimensão dos problemas que os atingem, determinam que o MSU tenha uma
visão e uma intervenção ainda mais atentas à organização sindical desta camada social, em todos os
sindicatos representativos dos trabalhadores dos sectores público e privado.
1.12.3.3. Os trabalhadores que deixarem a sua vida activa devem continuar ligados aos seus sindicatos.
1.12.3.5. Daí, ser dever dos Sindicatos, dinamizar o reforço da organização e da intervenção sindical
específica junto dos reformados dos respectivos âmbitos, adoptando medidas para a constituição de
comissões de reformados e aposentados, orientação que deve, igualmente, ser considerada nas Uniões e
Federações, estimulando a que estas comissões, assumindo o papel de coordenação nas respectivas
regiões e sectores, se insiram no trabalho nacional da Inter-Reformados.
1.12.3.7. Será já no quadro das decisões e orientações aprovadas no XIV Congresso da CGTP-IN que se
realizará a 9ª Conferência Nacional da Inter-Reformados/CGTP-IN. Espaço onde serão traçadas ou
reafirmadas orientações de trabalho específico para a Inter-Reformados, para que, no quadro da luta
mais geral, a sua intervenção seja no sentido de se conquistar uma melhor protecção social, na defesa do
Sistema Público da Segurança Social e Caixa Geral de Aposentações, pelos seus princípios
fundamentais de Universalidade e de Solidariedade entre gerações de trabalhadores, pela defesa e
melhoria do Serviço Nacional de Saúde, pelo aumento das pensões de reforma, pela idade legal da
reforma aos 65 anos de idade e pela opção da reforma voluntária aos 40 anos de carreira contributiva,
independentemente da idade e sem penalizações.
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1.12.3.8. A finalidade da existência humana não é trabalhar até morrer, mas ter o direito a passar à
condição de aposentado/reformado, com condições para viver com autonomia económica e social, pelo
que se impõe continuar a lutar pela defesa destes princípios.
1.13.1.3. É, assim, necessário que os sindicatos do MSU aprofundem e dêem concretização a linhas de
trabalho específicas que conduzam ao reforço da sindicalização e organização deste conjunto de
trabalhadores, enquadrando o seu potencial reivindicativo na resposta aos problemas concretos e tendo
em vista a sua integração no combate mais geral por uma alternativa de progresso, justiça social e
soberania. A instituição, na CGTP-IN, da Comissão Nacional de Quadros Técnicos e Científicos, fundada
em objectivos e com funcionamento regular, permitirá criar melhores condições para avanços no plano da
acção sindical neste domínio.
1.13.2.2. Também nos últimos anos, a imigração em Portugal tem aumentado, particularmente, na
agricultura e restauração, tendo-se alargado o âmbito das nacionalidades que trabalham no nosso País. A
pressão por parte do patronato para aumentar a imigração é uma realidade, como se constata com a
recente iniciativa do Governo em, de novo e ao fim de vários anos sem a sua existência, permitir a
abertura de um novo processo de contingentação de imigrantes, a que a CGTP-IN se opôs.
1.13.2.3. Em Portugal, vivem e trabalham centenas de milhares de imigrantes, muitos deles em condições
de acrescida exploração. A larga maioria são trabalhadores assalariados, frequentemente vítimas de
discriminação no acesso ao emprego e desigualdade nas condições de trabalho, o que coloca a
necessidade de se continuar a desenvolver o trabalho sindical junto desta camada de trabalhadores.
1.13.2.4. A regularização, ou seja, a atribuição de documentação legal, para os imigrantes que trabalham
e contribuem para a sociedade, continua a ser uma necessidade de primeira ordem para os próprios e
mantém-se actual enquanto reivindicação solidária da CGTP-IN.
1.13.2.5. Tal como a efectivação dos direitos (laborais, remuneratórios e sociais), em condições de
igualdade com os dos trabalhadores do país de acolhimento, o combate às desigualdades, ao dumping
social e a todas as formas de discriminação dos trabalhadores migrantes, ou seja, quer dos portugueses
emigrados quer dos imigrantes em Portugal.
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1.13.2.6. A dinamização da intervenção junto de trabalhadores imigrantes, a sua sindicalização e
envolvimento nos sindicatos, com a possível eleição como representantes dos trabalhadores, constituem
um caminho que deve ser assumido e promovido no seio dos sindicatos do MSU.
1.13.2.7. A acção solidária anti-racista e anti-xenófoba da CGTP-IN aumenta de importância nos tempos
actuais e deve prosseguir com maior acutilância, pois os movimentos de extrema-direita utilizam cada vez
mais os temas relacionados com as migrações para transmitirem as suas mensagens de ódio e de
estereótipos de imigrantes para a sociedade e tentarem influenciar politicamente a população, em
particular, aquela que, socialmente, está mais carenciada e vulnerável.
1.13.2.8. É neste contexto que deve ser dada concretização à constituição da Comissão Nacional de
Trabalhadores Imigrantes, prevista no Artigo 54º dos Estatutos da CGTP-IN, enquanto estrutura
específica de interligação da actividade dos sindicatos e da CGTP-IN com os imigrantes.
1.14.2. Nos últimos anos, a concentração de poder tratou a informação como uma mercadoria, cuja
aposta incide na cultura da imagem, na venda rápida, superficial, lucrativa, submetendo-a aos interesses
ideológicos do grande capital, sobrepondo os valores comerciais aos valores jornalísticos. Em causa, fica
a ética que preside à liberdade de informação e ao jornalismo de investigação e os direitos dos
profissionais.
1.14.4. Para a CGTP-IN, é fundamental a afirmação e divulgação dos direitos dos trabalhadores e da
actividade sindical. As questões laborais e sociais são intrínsecas ao desenvolvimento da sociedade, pelo
que devem merecer o tratamento adequado, no quadro do dever de informar e do direito a ser informado.
1.14.5. A evolução social e a tecnologia vivem lado a lado, impulsionando-se mutuamente. Hoje, o
combate à desinformação, às notícias falsas (fake news), rmuitas vezes divulgadas e disseminadas pelos
próprios órgãos de comunicação social, representa um dos grandes desafios para a democracia. A
intoxicação da opinião pública à escala global está em desenvolvimento na internet, nas redes sociais. A
exponencial evolução tecnológica revolucionou os limites da distância e do conhecimento, abrindo a
sociedade para uma nova realidade, com os órgãos de comunicação social a investir fortemente no
negócio do digital, cada vez maior e mais rentável, cada vez mais imediato, localizado e até mesmo mais
25
segmentado. Colocam-se, assim, algumas interrogações sobre os métodos e as estratégias de
comunicação digital que, actualmente, as estruturas sindicais adoptam, quer do ponto de vista dos meios
utilizados, dos conteúdos produzidos, da linguagem aplicada, dos suportes seleccionados, quer do
público a que se dirige. Estarmos apenas próximo das novas tendências e dos novos códigos de
comunicação poderá revelar-se insuficiente. Por isso, reflectir sobre formas de potenciar novas
oportunidades, procurando aproximar a CGTP-IN/MSU dos trabalhadores e da sociedade, será
fundamental para se valorizar ainda mais a nossa acção colectiva.
1.14.6. A CGTP-IN, no Conselho de Opinião da Rádio e Televisão de Portugal SA e nos demais fóruns
em que participa, continuará a opor-se a tentativas de privatização e desmantelamento dos serviços
públicos de rádio e televisão, e, designadamente, a cortes das indemnizações compensatórias (as quais
devem financiar, também, as antenas internacionais, os arquivos, a publicidade institucional e as demais
obrigações de serviço público). A CGTP-IN continuará a pugnar por um serviço público de rádio e
televisão e da agência noticiosa Lusa, defendendo a articulação com o serviço público da língua e cultura
portuguesas, a ligação à diáspora, nomeadamente com reabertura das emissões em onda curta, e bater-
se-á por um serviço público de rádio e televisão assegurado por empresas públicas que garantam
informação rigorosa, isenta, plural e objectiva; um serviço público que contribua para o aprofundamento e
consolidação da democracia nas suas múltiplas vertentes, que estimule a participação cívica e que, nos
conteúdos que difunde, assegure uma informação que reflicta a realidade laboral, social, económica,
política e cultural de Portugal e do mundo, considerando ainda que a TDT (Televisão Digital Terrestre)
pode e deve alargar o serviço público com a introdução de todos os canais do universo RTP e dos canais
de informação.
1.14.7.2. Impõe-se, ainda: continuar a análise da realidade comunicacional nos grupos de trabalho
criados para a Informação e Propaganda e para a Comunicação Social, para melhor munir os
trabalhadores de instrumentos que estimulem a sindicalização, mobilizem e motivem a participação
democrática na vida sindical e promovam a solidariedade de classe; aprofundar e partilhar conhecimentos
com as novas gerações – futuros trabalhadores - através de uma estratégia de proximidade aos alunos
do ensino profissional e superior - um factor que cresce de importância, no quadro da acentuação e
aprofundamento da ofensiva em curso, também ideológica, e que, neste campo, procura adormecer
consciências, condicionar o pensamento livre, silenciar os protestos e reivindicações dos trabalhadores,
bem como a luta consequente e organizada de outras camadas da população.
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No plano central, continuar a melhorar a plataforma integrada da CGTP-IN nas suas diversas
especializações e intervir activamente nas redes sociais, assim como apoiar o uso de uma estrutura
gráfica modelo para instalar páginas e fornecer conteúdos e/ou informação de interesse comuns;
Nos locais de trabalho, os colectivos sindicais devem dar mais atenção a uma boa utilização dos
placares sindicais, o que exige a responsabilização de dirigentes, delegados ou activistas sindicais
pela sua actualização permanente. Devem, por outro lado, prevenir e combater quaisquer
ingerências patronais que visem impedir ou dificultar a afixação, distribuição e circulação da
informação entre os trabalhadores, assim como reclamar o direito de utilizar as redes internas
(intranet) das empresas e serviços, para difundir a informação sindical;
O desenvolvimento de bases de estrutura gráfica para a propaganda sindical, dotando sindicatos que
não tenham capacidade própria de elementos gráficos apelativos para a sua propaganda;
Continuar a cuidar dos conteúdos e da qualidade dos tempos de antena na RTP – Rádio Televisão
de Portugal;
Melhorar a recolha de fotografias e imagens vídeo das iniciativas e lutas, das várias regiões, para uso
comum da CGTP-IN, Federações, Uniões e Sindicatos, dotando a CGTP-IN de capacidade de
tratamento e divulgação (fugindo à dependência dos OCS) e permitindo a divulgação da informação
sindical, da valorização de acções, iniciativas e lutas e alargando a mensagem da Central;
Nos Sindicatos, Federações e Uniões, promover a existência de páginas que reflictam a actividade e
os resultados da luta dos trabalhadores que representam e a intervenção qualificada nas redes
sociais;
Reforçar a formação na área da elaboração dos documentos, tanto graficamente como de escrita, a
gestão das páginas e redes sociais.
1.14.8.3. Importa exigir uma presença correspondente à importância do trabalho e dos trabalhadores e a
igualdade de tratamento que deve haver numa abordagem plural e não somente na referência do capital,
quer seja na imprensa especializada, quer nos programas de economia das televisões e rádios. A CGTP-
IN continuará a defender a necessidade de os temas do trabalho, dos trabalhadores, dos seus direitos,
reivindicações e lutas serem tratados com a grande importância que têm.
1.14.8.4. Estas questões não estão desligadas da ofensiva contra direitos dos próprios jornalistas, o que
tem levado à mobilização de muitos deles.
1.14.8.5. O serviço público de televisão e rádio tem sido particularmente afectado pela ofensiva da política
de direita, aspecto que está bem visível no processo do PREVPAP, onde é notório que a RTP, sem o
recurso aos vínculos precários, hoje não teria sequer capacidade de transmitir.
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1.14.8.6. Por outro lado, a fragilização da Agência Lusa, assente na redução dos seus profissionais, tem,
como consequência, menos informação e menor diversidade. Por isso, a aposta tem de ser no reforço e
não na redução destes profissionais.
1.14.8.7. Aspectos que não ilibam aqueles que mantêm - apesar de também serem vítimas dessas
políticas - uma reiterada posição de defesa dos interesses dos grandes grupos económicos que, em
grande medida, influenciam e definem as linhas editoriais.
2.1.2. É dos locais de trabalho de menor ou maior dimensão, onde se evidencia a justiça das
reivindicações e os trabalhadores decidem lutar, que se transmite confiança e empolgamento para outras
lutas, que se contagiam outros trabalhadores a exigirem a melhoria das suas vidas.
2.1.3. Este estímulo reivindicativo, associado a reivindicações político-sindicais mais gerais, quando
converge, no tempo e no modo, com a disponibilidade para a luta dos trabalhadores de outros locais de
trabalho, empresas e sectores, facilita convergências sectoriais, regionais e nacionais que se,
transformam em grandes acções de massas, que influenciam, de forma crescente, a participação de
outros trabalhadores, de outras camadas desfavorecidas do nosso povo e aumentam a pressão sobre o
capital e o poder político.
2.1.4. A luta dos trabalhadores, nos últimos anos, teve um papel determinante nos avanços laborais,
sociais e políticos. Foi com a força e a luta dos trabalhadores e do povo que derrotámos e afastámos o
governo PSD/CDS e impedimos que concretizasse outras medidas gravosas contra os direitos, liberdades
e garantias constitucionais, à Segurança Social Pública, ao Serviço Nacional de Saúde, à Escola Pública,
aos Serviços Públicos e ao Poder Local Democrático.
2.1.5. A luta foi decisiva para alterar a correlação de forças na Assembleia da República e, numa nova
fase da vida política nacional, para defender, repor e conquistar direitos, designadamente, a recuperação
dos quatro feriados, a reposição dos salários e das 35 horas semanais e o alargamento a muitos milhares
de trabalhadores da Administração Pública, o aumento do Salário Mínimo Nacional – ainda que aquém do
necessário e possível -, a reposição dos complementos de reforma aos trabalhadores dos transportes, a
redução dos impostos sobre os rendimentos do trabalho, a extinção da sobretaxa do IRS, o aumento do
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abono de família, a distribuição gratuita dos manuais escolares, a diminuição do valor das taxas
moderadoras na saúde, a eliminação do corte de 10% no subsídio de desemprego, a redução do valor
dos passes sociais, entre outras medidas positivas.
2.1.6. Com a luta foi possível aumentar salários, reduzir horários de trabalho, rejeitar adaptabilidades e
bancos de horas, combater a precariedade e passar ao quadro efectivo milhares de trabalhadores que
tinham vínculos precários, fazer respeitar e aplicar direitos da contratação colectiva, designadamente, o
pagamento do trabalho extraordinário, nocturno e por turnos e aumentar o número de dias de ferias.
2.1.7. A divulgação e valorização dos resultados obtidos pela luta é decisiva para demonstrar que é
possível avançar, porque outros lutaram e conseguiram, pelo que vale a pena fazer esforços e responder
às exigências da luta.
2.1.8. O patronato e os partidos da política de direita, os responsáveis pelos atrasos e carências do país,
sabem da força e do efeito da luta dos trabalhadores, na sua mobilização e na sociedade, quando
organizados nos seus sindicatos de classe, nos da CGTP-IN.
2.1.9. Os trabalhadores, quando esclarecidos e mobilizados, adquirida a consciência social e política, são
uma força imparável, dinamizadores da luta de massas que acaba por forçar a cedência às suas
reivindicações e, por isso, a luta é decisiva no combate às desigualdades e injustiças e é o motor da
transformação social.
2.2.3. Sendo determinante para avançar nas condições de trabalho, nunca o patronato se conformou com
esse avanço social que teve acolhimento constitucional, movendo-lhe ataques e boicotes, apoiado pelos
governos da política de direita, do PS, do PSD e do CDS, visando o seu desmantelamento e apostando
na individualização e precarização das relações de trabalho.
2.2.4. O bloqueio existente na contratação colectiva, o desequilíbrio nas relações laborais, aprofundado
pelo Código do Trabalho e pela Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, a pressão e chantagem
patronais para cortar direitos e rendimentos, o desrespeito que os sucessivos governos têm demonstrado
para com os trabalhadores da Administração Pública, não são inelutáveis.
2.2.5. Na negociação colectiva, exige-se firmeza das direcções sindicais e dos dirigentes responsáveis
por tais tarefas, resistindo à pressão e chantagem, exigindo-se total disponibilidade para defender e
conquistar direitos, irredutibilidade na cedência ou troca de direitos, considerando que os que vendem a
sua força de trabalho e produzem a riqueza, os trabalhadores, é que têm de ser valorizados.
2.2.6. A negociação só tem sentido se resultar na garantia e conquista de direitos, no aumento dos
salários e rendimentos dos trabalhadores, na redução do horário de trabalho e na sua regulação, no
emprego seguro e com direitos e na redução da precariedade, no pagamento adequado do trabalho
extraordinário, na melhoria das condições em que o trabalho é prestado, designadamente, com medidas
preventivas de acidentes de trabalho e doenças profissionais, isto é, só tem sentido se atacar a
exploração e valorizar o trabalho e os trabalhadores.
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2.2.7. A revogação da caducidade e de outras normas gravosas da legislação laboral
2.2.7.1. Com o Código do Trabalho, em 2003, e as posteriores alterações a que foi sujeito, sempre para
pior, mas sob o pretexto falso de dinamização da contratação colectiva, desequilibram-se ainda mais as
relações laborais, com a introdução da norma da caducidade das convenções colectivas.
2.2.7.2. A caducidade é o mecanismo de que o patronato dispõe e a que recorre para, chantageando os
trabalhadores e as suas organizações de classe, cortar nos rendimentos e direitos e, ao mesmo tempo,
tentar impor matérias que acentuam a exploração, como o alargamento dos horários de trabalho diário,
semanal e a sua desregulação, a redução e ou o não pagamento do trabalho extraordinário e do valor do
trabalho nocturno e por turnos, em dias de folga, feriados e dias de descanso semanal.
2.2.8. A reposição do princípio do tratamento mais favorável e da renovação automática das convenções
colectivas de trabalho
2.2.8.1. A CGTP-IN não aceita que se possa negociar acordos abaixo dos mínimos previstos nas leis
laborais, pelo que exige a reposição do princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador. Ao mesmo
tempo, exige a reposição da renovação automática das convenções colectivas de trabalho.
2.2.8.2. Foi a gravosidade destas normas laborais e da caducidade que conduziu à redução significativa
do número de contratos acordados e de trabalhadores abrangidos, com consequências na redução de
direitos e rendimentos dos trabalhadores e no aumento da sua exploração.
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2.3.2. O país continua marcado por uma injusta distribuição da riqueza, pela precarização dos vínculos
laborais, pelo alongamento e a desregulação dos horários de trabalho, pelo desrespeito pelas profissões,
carreiras e estatutos profissionais, pelo bloqueio na negociação e contratação colectivas e pela falta de
profissionais em serviços públicos essenciais, como o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública, a
Justiça e os Transportes Públicos.
2.3.3. Importa, no presente e no futuro, continuar o combate às injustiças e desigualdades, exigir justiça
na distribuição da riqueza e valorizar o impacto do aumento dos rendimentos e do crescimento do
emprego na vida dos trabalhadores.
2.3.4.2. O aumento geral dos salários, para todos os trabalhadores dos sectores público e privado, é, não
só, uma exigência legítima para aqueles que produzem a riqueza, mas, também, uma condição
necessária ao desenvolvimento harmonioso do País, à coesão social e territorial, ao combate à profunda
injustiça na distribuição do rendimento nacional, em que a parte relativa aos salários é de apenas 34%,
enquanto os 66% restantes vão para o capital, em lucros e dividendos para os grandes accionistas.
2.3.4.3. O salário mínimo nacional é importante para combater os baixos salários e afastar os
trabalhadores das situações de pobreza e exclusão social. Apesar do seu insuficiente aumento, nos
últimos anos, o efeito positivo verificado na vida de muitos milhares de trabalhadores, na economia e no
país, demonstra, por um lado, as reais possibilidades de poder ter crescido mais e, por outro lado, a
justeza da actual proposta da CGTP-IN de promover a negociação para, a curto prazo, o fixar em 850€.
2.3.4.4. Nesta luta pelo aumento geral dos salários, o aumento do salário mínimo nacional tem de ser
impulsionador do aumento de todos os outros salários e valorizador do trabalho e dos trabalhadores.
2.4. REDUZIR O PERÍODO NORMAL DE TRABALHO, COMBATER A DESREGULAÇÃO
2.4.1. A redução do período normal de trabalho é uma prioridade de todo o MSU, pelo que importa
dinamizar a luta pela sua concretização. Os avanços científicos e técnicos, a revolução tecnológica de
que tanto se fala, a robotização, a digitalização e a automação dos processos produtivos e o seu efeito na
economia e na sociedade têm de beneficiar, os trabalhadores, os povos e o desenvolvimento dos países.
2.4.2. Assim, é preciso denunciar e combater as teses do grande capital e a ofensiva ideológica que visa
a desmobilização e a aceitação do inaceitável, nomeadamente que os avanços tecnológicos irão provocar
o desaparecimento de milhares de empregos, sem nunca referirem a oportunidade que o
desenvolvimento científico e tecnológico pode trazer à qualidade de vida dos trabalhadores em especial,
através da redução dos horários de trabalho e na compatibilização da vida profissional com a vida
pessoal e familiar dos trabalhadores.
2.4.3. Os que falam da falta de mão-de-obra, da baixa natalidade, dos problemas demográficos, dos
impactos da emigração de jovens e do despovoamento do País - PS, PSD, CDS e patronato - são os
mesmos que não abdicam da política de salários baixos, de horários longos e desregulados, do emprego
sem direitos e com vínculos precários.
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2.4.4. A luta pela redução dos horários de trabalho, sem redução do salário, tem de ser acompanhada
pelo combate à sua desregulação. As adaptabilidades, os bancos de horas e os horários concentrados,
são formas expeditas para aumentar a exploração dos trabalhadores, reduzindo os seus rendimentos
através do não pagamento de trabalho extraordinário.
2.4.5. Redução do período normal de trabalho semanal para as 35 horas para todos e para criar emprego
2.4.5.1. O progresso do país passa, também, pela redução do horário de trabalho, mas o patronato, na
contratação colectiva, insiste na apresentação de propostas que, em vez de acompanharem o
desenvolvimento técnico e científico, visam o alargamento dos horários.
2.4.5.2. As 35 horas de período normal de trabalho semanal, aliadas à exigência da admissão de pessoal
efectivo, são factor de crescimento do emprego e de redução do desperdício da riqueza passível de ser
criada pela mão-de-obra disponível que ajudará ao crescimento económico.
2.4.5.3. Neste quadro, tem todo o sentido exigir-se a redução dos horários de trabalho para as 35 horas
semanais de período normal de trabalho, para todos os trabalhadores, sem redução de salários,
considerando, até, que na Administração Pública já foi recuperado esse direito retirado pelo governo
PSD/CDS.
2.4.6.2. A desregulação dos horários é também inaceitável sob o ponto de vista humano. As alterações
de horários de trabalho, não se sabendo muitas vezes, na véspera, o horário do dia seguinte,
transformam num caos a vida dos trabalhadores e das suas famílias, pondo em causa a necessária
conciliação do trabalho com a vida pessoal e familiar.
2.4.6.3. Estas tentativas de desregular horários são acompanhadas por medidas que intensificam os
ritmos e a penosidade do trabalho, provocando o aumento de acidentes de trabalho e de doenças
profissionais. Para o grande capital, a busca do aumento da produção, da produtividade e da
competitividade das empresas estão sempre em primeiro lugar, desprezando as condições de trabalho, a
segurança e a saúde dos seus mais preciosos activos, os trabalhadores, que apenas explora e maltrata.
2.4.7.2. Não podemos aceitar que o patronato, na sua ânsia de explorar ainda mais os trabalhadores,
seja autorizado, pelo Ministério do Trabalho e as instituições dele dependentes, como a Autoridade para
as Condições de Trabalho (ACT) e a Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT),
a implementar tais regimes de prestação de trabalho, sem qualquer tipo de restrições, abrindo essa
possibilidade a todas as actividades económicas.
2.4.7.3. A CGTP-IN rejeita, liminarmente, essa possibilidade, exigindo que, nos casos em que tal se
justifique, designadamente, sempre que for necessário garantir a prestação de serviços sociais
impreteríveis, haja contrapartidas para os trabalhadores obrigados a cumprir horários de trabalho que,
32
comprovadamente, alteram o ciclo circadiano dos trabalhadores, com consequências graves na sua
saúde e incompatíveis com a conciliação entre a vida profissional e a vida pessoal e familiar.
2.4.7.4. Para os trabalhadores, considerando a penosidade deste tipo de prestação de trabalho, temos de
continuar a bater-nos por uma maior valorização do seu pagamento, pela contabilização do tempo de
trabalho nestes regimes para efeitos de antecipação da reforma e redução da idade normal de acesso á
pensão por velhice.
2.4.7.5. Por outro lado, temos de garantir que cada trabalhador terá direito, em cada mês, no mínimo, a
um sábado e um domingo, consecutivos, de descanso semanal. Temos de exigir, também, que seja
considerado um tempo limite a partir do qual o trabalhador passe a ter o direito a trabalhar no regime
normal de trabalho diurno, sem perda de rendimentos.
2.4.7.6. Devemos continuar a bater-nos por ambientes de trabalho seguros e saudáveis, onde prevaleça
a prevenção contra acidentes de trabalho e as doenças profissionais e lutar pela valorização e o aumento
do valor pago pelo trabalho prestado em dia feriado, do pagamento do trabalho suplementar em dia
normal de trabalho, em dias de descanso semanal e dias feriado, pelo devido descanso compensatório e,
também, do trabalho nocturno compreendido entre as 20h00 e as 07h00 do dia seguinte.
2.4.7.7. Precisamos de exigir o respeito pelas profissões, carreiras e estatutos profissionais, de garantir a
evolução em função da experiência e conhecimentos acumulados e, dessa forma, estimular o
desempenho profissional e a motivação, que acabarão por assegurar o aumento da produção, da
produtividade e da competitividade das empresas e da economia nacional.
2.4.7.8. Com os avanços tecnológicos em acelerada implementação, o aumento do tempo disponível para
o descanso, a família, o lazer e a cultura tem de ser reivindicação a ter sempre presente, designadamente
o aumento para, pelos menos, 25 dias úteis de férias.
2.5.2. É na precariedade que mais se evidencia a exploração dos trabalhadores. O trabalho é pior
remunerado – em média, os trabalhadores ganham menos cerca de 30% do que os trabalhadores que
têm vínculos efectivos –, com menos direitos e mais dificuldade em exercê-los. Com esta forma de
exploração, o patronato tenta criar um clima de vulnerabilidade, de repressão e intimidação sobre os
trabalhadores, com a ameaça que a qualquer momento podem ser despedidos, dificultando a capacidade
de organização, designadamente, na sindicalização, resistência e luta.
2.5.3. O trabalho precário é um sério obstáculo à realização de sonhos e anseios dos trabalhadores,
comprometendo o seu futuro profissional e familiar pela instabilidade diária do seu vínculo laboral.
2.5.5. A luta dos trabalhadores nos últimos anos abriu portas à efectivação de milhares de trabalhadores:
No sector público e na administração local, a luta obrigou o governo a iniciar um programa de
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regularização dos vínculos precários (PREVPAP) que, apesar de insuficiente, permitiu efectivar dezenas
de milhares de trabalhadores. Uma luta que é necessário prosseguir e intensificar.
2.5.6. Portugal não pode desenvolver-se com este flagelo laboral e social. A erradicação da precariedade
é uma emergência nacional e tem de ser vista como uma prioridade da acção e da luta reivindicativa,
exigindo-se que se cumpra a regra que todo o posto de trabalho permanente seja ocupado por
trabalhador com vínculo de trabalho efectivo.
2.6.2. Os locais de trabalho têm uma importância estratégica na acção e na luta reivindicativa dos
trabalhadores. É onde os trabalhadores se confrontam directamente com os patrões, com interesses
contrários aos seus, que se apercebem das dificuldades no exercício das suas tarefas, do grau de
penosidade exigido, das condições de segurança, do nível de estabilidade do seu emprego, do valor dos
salários face ao custo de vida, do tipo de horários praticado e da sua regulação do trabalho efectuado e
não pago, da repressão, das discriminações e das arbitrariedades patronais cometidas.
2.6.3. A intervenção sindical, o contacto directo com os trabalhadores, a auscultação dos seus problemas
e anseios, a consulta, o esclarecimento, a informação e a discussão, ajudam à compreensão dos
mecanismos de exploração, ao conhecimento dos dois elementos que, com mais rigor, medem o grau de
exploração a que estão sujeitos: o salário e o horário.
2.6.4. Os locais de trabalho são tão importantes para a acção sindical que a generalidade dos patrões
tudo fazem para impedir o acesso dos sindicatos às empresas, o esclarecimento e a mobilização dos
trabalhadores para lutarem pelos seus direitos, ao mesmo tempo que vão apelando ao diálogo social para
tentarem travar a luta por melhores condições de trabalho e de vida.
2.6.6. Os plenários são espaço para ultrapassar os obstáculos na contratação colectiva, na generalidade
bloqueada pela acção do patronato e a mão dos governos do PS, PSD e CDS, com o Código de Trabalho
e as alterações a que foi sujeito. A discussão, a informação, o esclarecimento, a mobilização e a luta, com
o envolvimento dos trabalhadores, decidida e concretizada colectivamente, pressiona o patrão que,
querendo evitar o confronto, cederá aos trabalhadores e forçará a associação patronal do sector a
responder às suas exigências para evitar a luta generalizada.
2.6.7. É nos locais de trabalho e no reforço da luta que sempre se decidirá melhor da defesa da
contratação colectiva, do combate à precariedade, da redução do horário de trabalho, do aumento de
salários e do combate à repressão. É lá e no reforço da luta, da mobilização e das estruturas
representativas dos trabalhadores que reside o factor decisivo para a elevação da sua consciência social
e política e para a conquista de avanços nos seus direitos laborais e sociais e, também, no plano político.
34
2.6.8. Num quadro de sérios obstáculos que se colocam à participação dos trabalhadores, alheios à sua
vontade, há muitos exemplos que mostram que, mesmo no quadro de uma violenta ofensiva contra os
trabalhadores e os sindicatos, como aconteceu durante o governo PSD/CDS, é possível mobilizar os
trabalhadores, tanto nos processos reivindicativos como na luta mais geral e convergente, com uma
evolução positiva da participação de jovens trabalhadores. No caso do governo PSD/CDS, foi a luta, mais
de resistência e defesa de direitos do que de conquista, que derrotou e afastou do poder aquele governo,
que pretendia aprofundar a exploração e empobrecimento dos trabalhadores.
2.6.9. Mas o País continua marcado por décadas de política de direita, imposta por PS, PSD e CDS, e por
medidas que provocaram o afundamento económico, a acentuação das desigualdades e das injustiças
através de cortes nos salários, pensões, rendimentos e o agravamento da precariedade.
2.6.10. Apesar dos avanços obtidos em vários domínios, em resultado da luta dos trabalhadores e da
alteração da relação de forças na Assembleia da República, com a reposição de salários, rendimentos e
direitos, o governo minoritário do PS, em convergência com o PSD e o CDS, continua a subordinar a sua
política aos interesses do grande capital, às imposições e chantagens da União Europeia, aos
constrangimentos do Euro, resistindo à renegociação da dívida, que é insustentável, e insistindo na
redução cega do défice, com consequências no condicionamento do investimento público, na falta de
resposta às necessidades dos serviços públicos e às justas reivindicações dos trabalhadores, congelando
salários e mantendo uma política laboral ao serviço do capital.
2.6.12. Neste quadro difícil e complexo, marcado pela ofensiva neoliberal contra os direitos sociais e
laborais dos trabalhadores, exige-se mais acção e luta reivindicativa, mais unidade e luta dos
trabalhadores a partir dos locais de trabalho, partindo da identificação dos problemas que lhes são
comuns, dos seus interesses de classe e do conteúdo das suas reivindicações e anseios.
2.6.13. Exige-se, por outro lado, a melhoria do trabalho de direcção dos quadros sindicais, a sua
militância, designadamente, na coordenação da acção sindical e da sua articulação com os diferentes
níveis de intervenção, o aperfeiçoamento e melhoria do trabalho colectivo, do trabalho de equipa e na
delegação de responsabilidades, a valorização dos resultados e de todas as formas de intervenção
sindical, a melhoria dos conteúdos, da circulação e rapidez da informação e o permanente controlo de
execução e avaliação do cumprimento dos objectivos.
2.7.2. Na “Concertação Social”, a CGTP-IN continua a pautar a sua intervenção para condicionar e
denunciar conluios prejudiciais aos interesses dos trabalhadores, porque a “concertação” é um
instrumento ao serviço do grande capital, para caucionar e legitimar acordos entre governos, patrões e
UGT que prejudicam seriamente os trabalhadores, como tem sido possível confirmar com quase todos os
acordos ali autenticados, sendo que aqueles que a CGTP-IN subscreveu, que continham aspectos
35
positivos, como o relativo à Formação Profissional, acabaram por não ser cumpridos pelos governos em
funções.
2.7.3. Para a CGTP-IN, é preciso continuar a combater a ideologia da conciliação de classes, uma vez
que tratando-se de interesses antagónicos são, portanto, inconciliáveis, e a desmontar a falácia com que
se pretende fazer crer que, com a “concertação” se institucionaliza uma igual relação de forças, que
estamos em pé de igualdade e é possível resolver os problemas dos trabalhadores. A Concertação Social
apenas serve para abrir as portas a alterações para pior da legislação laboral, para facilitar
despedimentos, impor a contenção salarial, cortar direitos, limitar a luta e a livre negociação colectiva e
fragilizar as organizações de classe dos trabalhadores, os sindicatos da CGTP-IN e travar a sua luta
emancipadora.
2.7.4. A participação da CGTP-IN tem como primeira condição a reposição do direito de contratação
colectiva, instrumento de progresso social, pelo que, também aqui, a luta é um elemento determinante
para que haja negociação e para aumentar a nossa capacidade negocial. A luta não se opõe à
negociação, mas reforça as possibilidades para viabilizar soluções, seja nos locais de trabalho, seja em
todos os níveis em que intervimos, incluindo na negociação com o governo e na intervenção junto da
Assembleia da República e outras instituições.
2.7.5. A criação do Centro de Relações Laborais (CRL) é mais uma criação da política de direita, mais um
mecanismo para tentar condicionar e limitar a acção e intervenção dos trabalhadores, dos sindicatos e da
sua central sindical. Tendo por objectivos declarados a promoção e a dinamização da contratação
colectiva, realizando estudos sobre a evolução da contratação colectiva e do emprego e formação, a
verdade é que o CRL funciona como antecâmara da Concertação Social.
2.7.6. No plano Europeu, a CGTP-IN também participa no Conselho Económico e Social Europeu, num
quadro ainda mais complexo do que no nacional, havendo necessidade de melhorar a ligação e
articulação dos nossos representantes com as posições político-sindicais dos órgãos de direcção da
CGTP-IN.
3.1.1. A alteração da correlação de forças na Assembleia da República (AR), nos finais de 2015, permitiu
recuperar direitos e provocou impactos positivos, designadamente o crescimento do emprego e a
diminuição do desemprego.
3.1.2. O aumento do emprego não pode ser desligado da situação económica, bem como do aumento
dos rendimentos - ainda que limitado e aquém do possível e necessário - de trabalhadores e
pensionistas.
3.1.3. Ainda assim, a evolução favorável do emprego e a consequente baixa do desemprego não é
suficiente para iludir que, além dos desempregados contabilizados nas estatísticas oficiais, continuam a
existir milhares de trabalhadores subempregados e desencorajados na procura de emprego, resultando
numa taxa de subutilização do trabalho de cerca de 14%. O desemprego de longa duração é ainda
superior a 50%, mas as prestações de desemprego não abrangem sequer um terço do número real de
desempregados e o seu valor é pouco superior ao limiar de pobreza.
3.1.4. Mais de 1 milhão e 200 mil trabalhadores por conta de outrém trabalham com contratos não
permanentes, ou seja, cerca de 31% dos assalariados. No sector privado, a precariedade atinge os 35% e
nalguns sectores ultrapassa os 60%. Os jovens são os principais atingidos.
36
3.1.5. Esta situação é injusta e intolerável, dado que a maioria dos postos de trabalho assim ocupados
são permanentes, pelo que devem corresponder a vínculos efectivos. Esta é uma política que visa manter
o modelo de baixos salários e trabalho precário para promover o aumento da exploração e dos lucros das
empresas e acentuar as desigualdades. Só assim se explica que, nos últimos cinco anos, 63% dos postos
de trabalho criados, e que se mantêm em vigor, têm vínculos precários ou a tempo parcial.
3.1.6. Além de constituir a primeira causa de desemprego, motivando mais de 40% das inscrições nos
centros de emprego ao longo do ano, a precariedade é um dos instrumentos que o patronato usa para
pagar salários mais baixos e pôr em causa o princípio constitucional de que para trabalho igual, salário
igual. Os trabalhadores com vínculos precários recebem, em média, salários cerca de 30% inferiores aos
trabalhadores com contratos sem termo.
3.1.7. Em Março de 2019, mais de 700 mil trabalhadores recebiam menos de 600 euros líquidos, o
correspondente a 17,3% do total de assalariados. A proporção de postos de trabalho remunerados
apenas com o salário mínimo nacional era de 40% em 2018, situação que não pode ser desligada do
bloqueio existente na contratação colectiva.
3.1.8. Os trabalhadores com vínculos precários estão mais sujeitos à desregulação da sua vida laboral,
vivem na permanente chantagem e medo de perder o seu posto de trabalho e estão condicionados no
planeamento da organização da sua vida familiar. Por esta via, têm mais dificuldade em exigir e fazer
valer os seus direitos. Combatendo a precariedade, demos e damos um contributo extraordinário à luta
dos trabalhadores pela melhoria das suas condições de vida e de trabalho.
3.1.9. Entre outros, os trabalhadores do sector cooperativo e social, incluindo os das IPSS, são atingidos
pela precariedade, os longos tempos de trabalho e os baixos salários. Este sector tem vindo a crescer e
tem potencial para manter esta tendência. A acção da CGTP-IN é determinante para garantir a
estabilidade e a valorização destes trabalhadores, aumentar a qualidade do serviço prestado à população
e garantir direitos constitucionalmente garantidos.
3.1.10. Apesar das dificuldades, a intervenção dos sindicatos da CGTP-IN e a luta dos trabalhadores
foram determinantes para que milhares de trabalhadores com vínculos precários passassem ao quadro
de efectivos.
3.1.11. Uma luta que importa prosseguir e intensificar, num quadro em que o Governo do PS optou por
medidas políticas que dão continuidade à política laboral da direita e à estratégia da precarização das
relações laborais para fragilizar os trabalhadores e embaratecer os custos do trabalho. Uma luta que
justifica e exige a revogação das normas que facilitam e promovem a precariedade. Uma luta que é
indissociável da afirmação do princípio que a um posto de trabalho permanente tem de corresponder um
vínculo de trabalho efectivo.
3.1.12. A CGTP-IN lutará pela efectivação do direito ao trabalho e à segurança no emprego, tal como está
consagrado na Constituição da República Portuguesa. Continuaremos a luta pela criação de empregos
seguros e com direitos, através dos quais os trabalhadores possam concretizar as suas justas aspirações,
com salários dignos e horários regulados, compreendendo a efectiva realização dos direitos, incluindo o
direito de contratação colectiva e da intervenção sindical no local de trabalho.
3.1.13. O combate à precariedade manter-se-á como uma das prioridades da intervenção sindical e
continuar a construir uma ampla frente de batalha com todos os trabalhadores, independentemente do
seu vínculo, é um compromisso que honraremos.
37
3.2.1. Desenvolver o país, combater a dependência
3.2.1.1. A dependência de Portugal é uma das consequências mais marcantes da política de direita e da
adesão e participação de Portugal na UE, quer pela perda de alavancas fundamentais ao
desenvolvimento do país - privatização e desmantelamento de empresas de sectores estratégicos e da
capacidade de planeamento económico, segundo os interesses dos trabalhadores e do País - quer por
via da usurpação da soberania no plano da política monetária, de crescentes limitações ao nível da
política orçamental e da perda do poder regulador dos sectores estratégicos.
3.2.1.2. Um caso exemplar é o da soberania alimentar em que vivemos uma situação inaceitável. Portugal
tem a maior zona económica exclusiva da UE, mas o saldo da balança comercial de pescado é negativo
em mais de mil milhões de euros. Com uma Política Agrícola Comum (PAC) que apenas beneficia os
grandes proprietários de explorações e os grandes latifundiários, importamos trigo, milho, arroz (mais de
100 mil toneladas ao ano) e carnes (mais de 180M€ ao ano), sendo esta a base da nossa alimentação. É
urgente inverter este caminho e garantir a nossa soberania alimentar, o que é possível, potenciando as
nossas capacidades produtivas, aumentando a produção nacional de bens alimentares e substituindo
importações por produção nacional.
3.2.1.4 O Programa dirigido à revitalização do aparelho produtivo incorpora diferentes dimensões. Exige
uma política industrial assente num programa de industrialização alargando os sectores de actividade e a
implantação em todo o território nacional, o aproveitamento e modernização dos sectores já existentes e
a aposta decidida em novos sectores a partir da incorporação da ciência e tecnologia e do
aproveitamento das potencialidades nacionais. Implica uma política agrícola, pecuária e florestal assente
nas características e potencialidades do território com o objectivo principal de abastecer a população com
produtos de qualidade. Coloca a necessidade de uma política do mar e das pescas que assegure a
soberania e um desenvolvimento que articule o aproveitamento dos enormes recursos existentes ao
serviço do povo e do progresso do País com a defesa e preservação do ambiente.
3.2.1.5. Exige-se, ainda, que seja posto fim à exploração dos trabalhadores, designadamente, da
pesca, garantindo-lhes direitos e melhores salários bem como condições de segurança e de
trabalho.
3.2.1.6. Para a concretização destes objectivos, é necessário defender e reforçar a Banca Pública ao
serviço do País e do povo. O sistema financeiro, em especial o sector bancário, é um instrumento
fundamental no apoio e dinamização da economia, garante das poupanças da população e salvaguarda
da política financeira do Estado. A privatização da Banca, iniciada há mais de 30 anos, no quadro do
processo de recuperação capitalista, constitui a negação de todos aqueles princípios, desenvolvendo uma
actividade orientada para a especulação financeira, a aplicação de pesadas comissões às contas dos
clientes e a implementação de práticas publicitárias, enganosas, que têm conduzido a um crescente
endividamento das famílias e das empresas e às graves tragédias sociais que os colapsos de alguns
bancos já provocaram.
3.2.1.7. A CGTP-IN defende que a CGD tem de ser mantida como banco de capital totalmente público,
tendo como único accionista o Estado, de forma a garantir o domínio e o controlo públicos da moeda, do
crédito e de outras actividades financeiras essenciais, assim como assegurar uma gestão eficiente que
corresponda aos interesses do país, assente em critérios de competência e missão de serviço público. Só
assim, a CGD pode continuar a desempenhar o seu papel de banco do Estado e de referência do sistema
38
bancário e ser um instrumento determinante no incentivo à economia nacional, tanto no apoio às
Pequenas e Médias Empresas, como garante das poupanças da população.
3.2.1.8. Para o progresso e o desenvolvimento do País, é necessária uma política alternativa que
assegure a independência e a soberania nacionais, o que passa, obrigatoriamente, por um plano de
aumento da produção nacional. No plano económico, é preciso inverter a política de privatizações,
recuperando para a esfera pública as empresas e sectores estratégicos, relançar e dinamizar o sector
produtivo e produzir mais para reduzir a dívida, pública e privada. Uma reorientação das políticas
económicas deve passar pela reindustrialização e pela diminuição dos défices energético e alimentar.
Passa também pela diversificação das relações económicas externas, que estão demasiado centradas na
UE e num reduzido grupo de países.
3.2.1.9. A produção nacional permanece, assim, como a questão central para o desenvolvimento do País,
nomeadamente para o emprego e o reequilíbrio da localização da actividade produtiva no território e uma
questão central para a soberania e a independência nacionais.
3.2.2.2. A CGTP-IN considera que o objectivo da economia (da produção) é, em primeiro lugar, satisfazer
as necessidades das pessoas e não o inverso. A substituição de funções e competências humanas por
máquinas inteligentes, a interligação de funções e a maior integração de toda a actividade produtiva, ou
da actividade humana em geral, não são em si uma evolução negativa. A questão decisiva é a da
emergência de novos processos de acentuação da exploração do trabalho pelo capital, da desvalorização
do trabalho e dos trabalhadores, do retrocesso nos seus direitos, que lhes é imposto para que as
transnacionais mantenham e aumentem os superlucros.
3.2.2.3. Paulatinamente, através de diferentes modelos de gestão, o grande capital procura impor uma
organização das relações de trabalho subordinado em que a entidade que dá ordens ou as organiza
aparece difusa, não se assume nem é muitas vezes reconhecida pela lei enquanto tal, camuflando ou
ocultando a posição de subordinação e dependência económica do trabalhador na relação de trabalho e
criando uma falsa ideia de relação de auto-emprego ou de trabalho independente, impondo, por essa via,
uma relação de exploração mais intensa.
3.2.2.5. Com uma natureza comum, as plataformas assumem formas muito variadas de organização do
trabalho, traduzindo a tendência para a externalização dos serviços como forma de diminuir custos e
fragilizar as relações de trabalho. Trata-se de uma relação de dependência económica da empresa mãe,
através da qual, sempre que os trabalhadores se organizam, a empresa mãe estrangula-as para impedir
que os trabalhadores lutem pelos seus direitos individuais e colectivos.
3.2.2.6. São cada vez mais os casos de trabalho à chamada, os contratos de zero horas, o auto-emprego,
o falso trabalho independente, o trabalho de voluntariado, o trabalho dito colaborativo/cooperativo, o
trabalho socialmente conveniente, o trabalho gig (na base de projectos, sem contrato, sem vínculo
efectivo, sem remuneração fixa), etc.
39
sua desregulamentação imposta pelas empresas para não pagar trabalho extraordinário. Ao invés,
justifica e exige melhores salários, a redução do período normal de trabalho para as 35 horas semanais,
sem diminuição de remuneração, e a valorização das profissões e respectivas carreiras.
3.2.2.8. As profundas transformações por que passa o mundo do trabalho são um enorme desafio para o
movimento sindical e para a organização dos trabalhadores. O caminho da individualização das relações
laborais, o ataque aos direitos fundamentais, nomeadamente a debilitação ou manietação da contratação
colectiva, do direito de greve, da autonomia e da liberdade sindicais, são instrumentos usados pelo capital
para fragilizar e pôr em causa direitos fundamentais. Mas não significam o desaparecimento dos
fundamentos e da necessidade da organização dos trabalhadores para a defesa dos seus direitos e
aspirações. Antes pelo contrário. Estes são fundamentos e necessidades que não só se mantêm como se
acentuam e exigem ainda maior capacidade de intervenção, acção e luta, partindo da realidade concreta,
ajudando à compreensão dos interesses comuns dos trabalhadores.
3.2.3.2. Na lógica capitalista, o crescimento económico não responde aos problemas de salvaguarda de
recursos naturais e de protecção ambiental, nem do acesso universal das populações aos bens e
serviços básicos, dado que o seu objectivo é o lucro, a qualquer custo. Os sucessivos governos têm vindo
a avançar com processos de desresponsabilização do Estado na área do ambiente, com incentivo à
privatização de importantes áreas com vista à mercantilização da Natureza e dos recursos energéticos,
naturais, culturais e paisagísticos nacionais.
3.2.3.4. Esta luta passa pela exigência de reforço dos meios do Estado para desenvolver uma verdadeira
política de defesa do equilíbrio da natureza. Reforço de medidas que aumentem a eficiência energética,
desenvolvam alternativas de domínio público nesta área e o reforço no investimento no transporte
público.
3.2.3.5. Garantir a propriedade pública da água passa por combater a pressão para a sua
mercantilização, combatendo a entrega da sua captação e distribuição, bem como o saneamento de
águas residuais a empresas privadas, valorizando o papel das autarquias, respeitando as competências
municipais, em particular, no que se refere aos Serviços Urbanos da Água, ao invés do actual processo
de chantagem, no sentido de agregação de sistemas, enquanto etapa para a sua privatização.
3.2.3.6. Constitui, também, uma prioridade do MSU combater a pressão para a mercantilização da gestão
de resíduos, particularmente depois do processo de privatização da EGF, em que os grandes grupos
pretendem implementar sistemas próprios para desenvolver o mercado dos resíduos à custa das
autarquias e populações.
3.2.3.7. São justas as preocupações em torno das alterações climáticas. Porém, não deixamos de
denunciar campanhas que, a pretexto da urgência na preservação do ambiente e da natureza, procuram
branquear o capitalismo, criar fracturas entre gerações, promover a mercantilização do ambiente,
aprofundando a sua subordinação à lógica do lucro e eliminar a soberania e os direitos dos povos,
promovendo a União Europeia e a globalização capitalista.
40
3.2.3.8. As problemáticas ligadas ao ambiente e ao clima colocam a necessidade de os trabalhadores
estarem mais informados sobre as suas consequências, ao nível das condições laborais e da garantia de
emprego com direitos.
3.2.3.9. As mudanças climáticas que estão a ocorrer em todo o mundo, e também em Portugal, exigem
dos trabalhadores e das suas organizações de classe uma atenção redobrada, defendendo o trabalho
com direitos, o ambiente e a natureza.
3.2.3.10. O caminho para a defesa do meio ambiente passa pelo ordenamento do território e pela
promoção de um efectivo desenvolvimento regional, com o aproveitamento racional dos recursos, a
melhoria dos processos produtivos, criteriosas políticas de investimento público, de conservação da
natureza e de combate ao despovoamento e à desertificação.
3.3.2. Na nova fase da vida política nacional, com a correlação de forças na Assembleia da República, na
decorrência das eleições de Outubro de 2015, e com a luta dos trabalhadores, foi possível reverter
alguns dos processos de privatização encetados pelo anterior governo PSD/CDS. No entanto, o Sector
Empresarial do Estado continua sob forte pressão e algumas das empresas que dele fazem parte, no
quadro da descentralização/municipalização, mantêm-se na mira da privatização. Estas empresas
prestam um papel fundamental no desenvolvimento económico e social do País, não só por
representarem um sector estratégico nacional, mas também por prestarem serviços públicos à população,
como é o caso dos transportes públicos, das águas, da cultura.
3.3.3. Esta incapacidade e perda de soberania do Estado português devem-se ao facto de sucessivos
governos terem optado pela defesa dos interesses do capital, em prejuízo dos trabalhadores e do País, e
abdicado dos principais e mais importantes instrumentos de intervenção na economia através do controlo
público das empresas estratégicas. Um Estado que entregou aos grandes grupos económicos e
financeiros o controlo das empresas estratégicas, instrumentos chave para promover o crescimento
económico e o desenvolvimento, é, inevitavelmente, um Estado frágil e refém do poder económico.
3.3.4. Reverter a realidade actual, e passar para o controlo público as principais empresas e serviços
estratégicos, é fundamental para a democracia e é um imperativo nacional para que o País e os
portugueses controlem os instrumentos chave do crescimento económico sustentado, com vista a um
desenvolvimento que combata eficazmente as desigualdades e a pobreza, promovendo o bem-estar
social e a melhoria das condições de vida dos trabalhadores e das populações.
3.3.5. Como parte integrante desse sector público, a CGTP-IN considera essencial:
41
vasta, a necessidade de travar a especulação financeira e de recentrar o investimento na produção
nacional;
Um forte sector de transportes e comunicação, que garanta a mobilidade de toda a população a residir
em território nacional, quer no interior, quer nas grandes metrópoles, população imigrada e das
comunidades de língua portuguesa – nomeadamente através da empresa de aviação com a bandeira
nacional e da recuperação da gestão dos aeroportos -, com serviço público de qualidade e a baixo
custo: com a ligação marítima com as ilhas, assente numa empresa pública; com o desenvolvimento
do transporte ferroviário com a recuperação das linhas encerradas e abertura de novas linhas, tendo
em conta o desenvolvimento do País e combate à desertificação, dando corpo a um Plano Nacional
de Transportes que defina o que compete a cada meio, num quadro de complementaridade e assente
em fortes empresas públicas; a implementação de um plano de modernização das frotas (comboios,
navios e autocarros) numa perspectiva de desenvolvimento da indústria e da produção nacional;
A recuperação do sector energético, de forma a desenvolver uma política energética que reduza os
custos com o gás, a electricidade e os combustíveis para as famílias e para as Micro, Pequenas e
Médias Empresas (MPME), reduza a dependência ao exterior e que garanta os necessários
investimentos públicos com vista à melhoria dos serviços, gerindo as tarifas e as receitas de acordo
com os interesses do povo e do País;
O reforço e recuperação das indústrias de defesa, como parte fundamental da soberania e defesa
nacionais;
A reversão do sector da água, saneamento e tratamento de resíduos para a esfera pública, revertendo
as concessões existentes e garantindo o acesso universal à água, a qualidade dos serviços de
saneamento e tratamento e valorização dos resíduos, e o investimento necessário ao alcance das
soluções que promovam o desenvolvimento sustentável e amigo do meio-ambiente;
O retorno à esfera pública das indústrias siderúrgica, de química de base, cimenteira, reparação
naval, de construção de material circulante, entre outras, com vista ao crescimento do sector
produtivo, à substituição de importações e aumento das exportações, ao aumento do emprego
qualificado e com direitos e como suporte a todos os outros sectores.
3.4.2. O combate à precariedade, pelo emprego seguro e com direitos, é fundamental para que o
exercício dos direitos e a sua efectivação não fiquem à porta das empresas e locais de trabalho, nem
sejam esmagados pelo medo e pela chantagem de perder o posto de trabalho.
42
3.4.3. O direito de greve, nos termos em que se encontra previsto na Constituição Portuguesa, tem vindo
a ser atacado através da fixação abusiva e ilegal de serviços ditos mínimos, com o objectivo de limitar o
efeito das lutas dos trabalhadores contra as políticas de empobrecimento. Não nos vergamos às pressões
e às campanhas que procuram denegrir o direito à greve e lutaremos com todas as nossas forças contra
a sua descaracterização e pela defesa do pleno exercício de greve, enquanto direito fundamental
indissociável da actividade reivindicativa e sindical pela melhoria das condições de trabalho e de vida dos
trabalhadores.
3.4.4. A CGTP-IN, enquanto central sindical de classe, e elemento determinante para a conquista destes
direitos, não poupará esforços para os ver realizados em todos os locais de trabalho no nosso país, como
condição e expressão da luta pelo futuro e pelo desenvolvimento.
3.5.2. Esta discriminação em função da idade é notória nas políticas etárias das empresas - que optam
por despedir e excluir os trabalhadores em idades cada vez mais precoces, contribuindo para os números
anteriormente assinalados -, mas também nas práticas do próprio Estado. Foi assim em 2015, no aviso
de abertura do concurso externo de ingresso para admissão de candidatos ao curso de formação de
inspectores estagiários da Polícia Judiciária; em 2017, no aviso do concurso externo de ingresso para
admissão de estagiários para o provimento de 100 postos de trabalho na categoria de inspector de nível 3
da carreira de investigação e fiscalização (CIF), do mapa de pessoal do SEF para 2018; em 2019 no
aviso de abertura de procedimento concursal para o ingresso na carreira e categoria de guarda-florestal
da Guarda Nacional Republicana (GNR).
3.5.5. O direito ao trabalho e ao trabalho com direitos, base essencial para a independência económica
das mulheres, constitui uma condição essencial para a efectivação da igualdade de direitos entre
mulheres e homens, que por sua vez é indissociável da luta mais geral pelos direitos, liberdades e
garantias de todos os trabalhadores.
43
3.5.7. A consagração da igualdade na lei não significa, como a realidade comprova, que essa mesma
igualdade esteja alcançada no trabalho e na vida: as mulheres trabalhadoras continuam a ser
particularmente afectadas pela precariedade, em especial as mais jovens, pelo desemprego, pelo salário
mínimo nacional, pelas discriminações salariais, por horários de trabalho longos e desregulamentados
que contrariam a conciliação entre o trabalho e a vida pessoal e familiar, pelo assédio, pelas doenças
profissionais (lesões músculo-esqueléticas) e são ainda penalizadas pela maternidade.
3.5.8. A subvalorização do trabalho e das competências das mulheres e o seu reflexo na retribuição, que
é geralmente mais baixa ao longo da vida, também se continua a reflectir no baixo valor das prestações
de protecção social e nas pensões de reforma, com situações, em muitos casos, de grave risco de
pobreza.
3.5.9. A importância da alteração das mentalidades para contrariar as campanhas ideológicas que
procuram instrumentalizar avanços registados na consciência das mulheres, e das trabalhadoras em
particular, sobre o seu papel na sociedade, bem como as campanhas que visam a divisão e o confronto
entre trabalhadores, homens e mulheres, continua a ser uma tarefa de todo o MSU, de todos os
dirigentes, delegados e activistas sindicais, alicerçada nos valores, projectos e ideais progressistas que
caracterizam e identificam a CGTP-IN.
3.5.10. A igualdade entre mulheres e homens é, pois, inseparável do projecto de sociedade inscrito na
Constituição da República Portuguesa pelo qual lutamos: onde os sindicatos não estejam impedidos de
entrar nos locais de trabalho; onde a contratação colectiva constitui uma fonte especial de direito e de
progresso social com um papel fundamental na distribuição da riqueza, na actualização anual dos salários
e de outras prestações pecuniárias, na salvaguarda de direitos e garantias dos trabalhadores; onde as
funções sociais do Estado constituem parte integrante da consolidação da igualdade de oportunidades e
de tratamento entre mulheres e homens e onde se combatam todas as formas de exploração, opressão e
violência contra as mulheres.
3.5.11. É fundamental uma actuação efectiva da ACT, especialmente no que concerne à fiscalização e
sanção de comportamentos discriminatórios, corrigir orientações e práticas de quase permanente
convergência com as empresas em detrimento dos direitos dos trabalhadores, assim como é
indispensável uma acção sindical que não encare estas frentes de trabalho como acessórias.
3.5.12. O combate a todo o tipo de discriminações assumido pela CGTP-IN implica, também, um trabalho
interno. Este deverá ser realizado, designadamente, através de sensibilização e formação que permita
aos quadros sindicais a aquisição de competências potenciadoras de uma intervenção mais qualificada
nestas áreas. A discussão, e posterior integração nas convenções colectivas, de medidas específicas
relativas a trabalhadores com deficiência, bem como as alterações necessárias em matérias relacionadas
com a parentalidade e conciliação, decorrentes de “novas” realidades familiares, constituirão um
instrumento fundamental de combate a estas discriminações.
44
3.6.2. A chamada “revolução tecnológica” traz consigo a criação de novos postos de trabalho e ameaças à
manutenção de outros, de trabalhadores que, vítimas da falta de investimento patronal na formação
contínua e de décadas de política de direita – contrárias à protecção do emprego e a verdadeiras políticas
de qualificação profissional -, vêem-se agora na eminência de serem considerados obsoletos por uma
economia capitalista que se aproveita da digitalização para descartar trabalhadores, trocando-os por
trabalhadores mais qualificados, mas com vínculos precários e com salários ainda mais baixos. Assim, a
par da qualificação dos mais jovens, é necessário considerar aqueles que já trabalham, apostando em
políticas de formação contínua e qualificação que respondam às necessidades de toda a população
activa.
3.6.3. A melhoria das qualificações é necessária para desenvolver o País, aumentar a produtividade, o
nível de vida e os salários; para responder aos desafios da evolução científica e técnica e avançar em
direcção ao pleno emprego; para atrair jovens com habilitações elevadas para sectores estratégicos para
o desenvolvimento nacional; para enfrentar o risco de escassez de qualificações em resultado da
diminuição da população em idade activa, provocada pela redução da natalidade e pela emigração; para
criar condições para elevar a taxa de actividade e a participação feminina, bem como para a eliminação da
segregação do emprego.
3.6.4. Apostar numa estratégia de qualificação dos trabalhadores é fundamental para: enfrentar os
desafios impostos pela modernização do tecido produtivo, bem como um vector fundamental de uma
política produtiva que aposte na inovação, no conhecimento e no valor acrescentado da produção;
promover a valorização do trabalho e dos trabalhadores, bem como das profissões em geral, combatendo
a desvalorização promovida por políticas de baixos salários, empregos sem qualidade e baixas
qualificações; impedir a perda de trabalhadores qualificados, nos quais se investiram recursos públicos
que, vítimas da desvalorização de que são alvo, vêem, na emigração, uma saída para a sua situação;
garantir que a mais qualificação e formação corresponda a respectiva progressão na carreira e a
valorização dos salários, valorizando o acréscimo de competências e os efeitos produtivos que daí
resultem.
3.6.5. O trabalho mais qualificado implica: o respeito pelo direito de cada trabalhador à progressão,
aperfeiçoamento e requalificação profissional, incluindo a criação de condições para que, nos locais de
trabalho, seja possível exercer direitos como o estatuto do trabalhador estudante e o direito à formação
profissional contínua; a capacidade para conciliar horários e condições de trabalho que permitam aos
trabalhadores a frequência de estabelecimentos de ensino e formação profissional, sem a qual não é
possível o aumento das qualificações; a redução de horários de trabalho, a conciliação entre a vida
pessoal e o trabalho, a valorização da contratação colectiva e dos direitos dos trabalhadores, todas
condições fundamentais para que os trabalhadores possam organizar a sua vida pessoal e profissional em
torno de estratégias de aumento de qualificações.
3.6.6. A CGTP-IN lutará por um trabalho mais qualificado, mais digno e com melhores condições, para que
cada trabalhador tenha oportunidade de se valorizar, aperfeiçoar e requalificar, exigindo uma política que
responda às necessidades.
3.7.2. O capital procura introduzir novos elementos de fragilização dos direitos dos trabalhadores:
vínculos laborais mais precários; aumento dos tempos de trabalho com mais irregularidade e diluição da
45
distinção entre tempos de trabalho e tempos de não trabalho, utilização cada vez mais intensa das
tecnologias, com a digitalização e a robotização a modificarem a forma como se trabalha, a determinarem
quando e onde se trabalha e a ameaçarem, mais do que os postos de trabalho, os modelos de relação de
trabalho.
3.7.3. Todos estes factores têm reflexos profundos no agravamento dos riscos associados às diferentes
actividades laborais nos vários sectores e no surgimento de novos riscos, nomeadamente os riscos
psicossociais, que derivam sobretudo da sensação de permanente insegurança e instabilidade e das
diversas pressões exercidas sobre os trabalhadores nos locais de trabalho, quer a nível físico, quer
psicológico.
3.7.4. Acresce que muitas das novas práticas de trabalho são, não apenas stressantes, mas também
sedentárias, dando origem a um fenómeno crescente nas sociedades mais desenvolvidas, que são as
chamadas “doenças do progresso”, entre as quais avultam o stress profissional, as doenças
cardiovasculares e os cancros.
3.7.5. De salientar que o número de doenças profissionais e de mortes por doença profissional está a
aumentar, ultrapassando em alguns casos o número de acidentes de trabalho e de mortes por acidente
de trabalho.
3.7.6. Neste quadro, é fundamental que a CGTP-IN, para além de reivindicar a implementação de
políticas efectivas de segurança e saúde nas empresas e nos locais de trabalho, reforçando a sua acção
nesta área junto do MSU, promova também uma reflexão profunda sobre os efeitos que a introdução
crescente de novas tecnologias, a digitalização, a robotização e demais fenómenos que lhes andam
associados provocam na saúde e segurança dos trabalhadores, sobre as novas soluções em matéria de
prevenção para fazer face a tais fenómenos e a necessidade de garantir, em todas as circunstâncias,
ambientes de trabalho saudáveis e seguros para todos.
46
preventivas, tendo em conta as categorias de riscos, dando especial atenção às questões
relacionadas com a rotulagem e os símbolos de perigo constantes nos rótulos, à necessidade de
utilização de equipamentos de protecção colectiva e/ou de protecção individual, consoante os casos,
e à necessidade de uma constante vigilância médica;
Reforçar a participação sindical nos processos de normalização como forma de intervir na concepção
das normas;
Incrementar a produção de informação, o desenvolvimento de acções de formação e sensibilização,
de forma a dotar o MSU dos conhecimentos e instrumentos para a acção continuada e decisiva para
a melhoria das condições de trabalho, em geral;
Continuar a apoiar as organizações sindicais do MSU, quer no acesso, quer na produção de
informação, quer ainda na emissão de pareceres e consultas que contribuam para a melhoria
qualitativa da intervenção sindical nesta frente de trabalho.
3.7.8. A segurança e a saúde no trabalho não podem ser separadas das condições de prestação de
trabalho nem da dignificação do trabalho e dos trabalhadores. Por isso, esta deve ser igualmente uma
dimensão a valorizar e integrar na contratação colectiva, numa visão integrada das condições de trabalho
e das necessidades dos trabalhadores.
4.1.3. Toda esta construção lógica, que pretende garantir a universalidade de direitos e a igualdade real
entre todos os cidadãos, tem estado a ser progressivamente posta em causa pela natureza do
capitalismo e pela política de direita, autojustificadas na escassez de recursos, nas alterações sociais e
demográficas e, mais recentemente, na transformação da dívida privada em dívida pública, ao serviço do
capital financeiro, que acentuou a política de exploração e empobrecimento, que designam de
“austeridade”, visando a reconfiguração do Estado. Uma reconfiguração que preconizam e se sintetiza
no retrocesso, conseguido nomeadamente através do enfraquecimento e da privatização das Funções
Sociais do Estado, em que o princípio do assistencialismo, que é exercido junto das pessoas e famílias
mais vulneráveis, visa substituir o princípio da universalidade de direitos.
47
4.1.4. A CGTP-IN defende a materialização dos preceitos constitucionais, expressos nos princípios da
democracia política, económica, social e cultural e na garantia da universalidade dos direitos,
considerando quaisquer planos ou programas subordinados às imposições da União Europeia, ao Tratado
Orçamental e ao Pacto de Estabilidade, como um ataque aos direitos e interesses dos trabalhadores, do
povo e do país e aos princípios mais elementares da democracia, da soberania política e da
independência nacional.
4.2.2. A pressão dos centros do capital para mercantilizar as Funções Sociais do Estado e transformar em
negócio o que a Constituição consagra como direitos dos cidadãos e deveres do Estado, não
enfraqueceu no período da última legislatura. A saúde e a segurança social constituem dois dos sectores-
chave em que tal aconteceu. Na segurança social, acentuou-se a pressão do sector financeiro para a sua
privatização, mesmo que parcial, difundindo a falsa ideia de insustentabilidade da segurança social
pública, devido ao envelhecimento da população. Na área da saúde, o SNS regrediu no período da tróica,
registando uma recuperação muito insuficiente nos anos seguintes.
4.2.3. A CGTP-IN valoriza a intervenção das associações e instituições particulares de âmbito social e
reconhece que algumas desenvolvem a sua acção num quadro de grandes dificuldades, mas rejeita que
possam ser consideradas como uma alternativa à Segurança Social, não aceitando substituir direitos que
só o Estado garante, por assistencialismo. Políticas assistencialistas podem minimizar algumas situações,
mas não conduzem à inclusão social dos cidadãos, para além de que perpetuam as desigualdades e as
situações de pobreza. Tendo como base esta premissa, conjugada com o estado actual da Rede de
Serviços e Equipamentos Sociais (RSES), urge desenvolver, incrementar e intensificar a presença do
Estado nos diferentes domínios e regiões do País, na garantia do Apoio Social.
4.2.4. Para a CGTP-IN, uma articulação entre o Estado e as Instituições Particulares de Solidariedade
Social (IPSS) na dinamização da Rede de Serviços e Equipamentos Sociais não pode significar a diluição
e o desaparecimento de qualquer das entidades. Actualmente, o Estado assume parte do financiamento,
mas desapareceu quase por completo (com excepção do pré-escolar) da rede implementada, com custos
para as próprias associações e instituições particulares de âmbito social, para os seus trabalhadores,
para as famílias e para a qualidade dos serviços prestados aos utentes. Só com estabilidade e a
valorização dos trabalhadores, poderá aumentar a qualidade do serviço prestado que, em última
instância, é a qualidade do direito social constitucionalmente garantido.
48
4.3.2. Investir no SNS é promover o desenvolvimento económico e social do País, o qual não pode
continuar a ser espoliado, como tem sucedido, durante anos, dos meios humanos e materiais de que
necessita, com o objectivo de cortar na despesa. Perante esta situação, exige-se a implementação de
medidas que assegurem uma resposta célere e eficaz dos serviços públicos de saúde, designadamente
no âmbito dos recursos humanos, com a admissão imediata de mais profissionais para as instituições;
passagem a efectivos dos milhares de trabalhadores com vínculos de trabalho precário; afastamento das
empresas de trabalho temporário e a valorização das carreiras, vínculos e remunerações.
4.3.3. É fundamental colocar o foco na saúde e na prevenção da doença, com o investimento necessário
nos Cuidados de Saúde Primários, nomeadamente atribuindo médico e enfermeiro de família a todos os
portugueses; dotar as instituições do SNS com os meios necessários, acabando com o subfinanciamento;
eliminar as taxas moderadoras; impedir o encerramento de serviços do SNS; pôr fim às PPP e à
contratação de serviços privados, rentabilizando e capacitando os serviços do SNS na resposta às
necessidades dos utentes; valorizar os profissionais, potenciando condições de trabalho dignas e
respeitando os seus direitos laborais.
4.3.4. Com efeito, a Lei de Bases de 1990 introduziu o conceito de sistema de saúde, paralelo ao Serviço
Nacional de Saúde, a fim de permitir colocar o SNS como apenas um dos componentes do sistema a par
do sector privado e também do sector social, numa lógica concorrencial e que foram, entretanto,
readquirindo um protagonismo que haviam perdido com a fundação do SNS.
4.3.5. Estas alterações abriram a porta à gestão privada na saúde e, mais tarde, à introdução das
parcerias público-privadas; a uma crescente promiscuidade entre sector público e sector privado na
prestação de cuidados de saúde; ao encerramento de diversas unidades públicas de saúde, incluindo
hospitais e maternidades; ao progressivo e descontrolado crescimento e valorização do sector privado da
saúde em detrimento do SNS; à reentrada do sector social na área da saúde, incluindo a entrega de
alguns hospitais às Misericórdias; ao aumento das desigualdades e dificuldades de acesso por parte da
população mais desfavorecida; ao desvirtuamento e desvalorização das carreiras dos profissionais da
saúde, agravada pela existência de dois vínculos contratuais nos hospitais EPE; ao subfinanciamento e à
degradação do Serviço Nacional de Saúde, resultando em graves deficiências na prestação de cuidados
de saúde de qualidade às populações, que se tem feito sentir com particular acuidade nos anos mais
recentes. Portugal é um dos países da UE onde a despesa corrente em saúde, directamente suportada
pelas famílias é mais elevada (28% em 2016, face a 18%, da média na UE) e dos que têm menor
comparticipação do Estado (66,3% em comparação com 79,3% da média na U.E.).
4.3.6. A CGTP-IN considera que a Lei de Bases da Saúde aprovada na última legislatura, apresenta, na
sua generalidade, um sentido progressista e pode contribuir para assegurar a aplicação do estabelecido
no artigo 64º da CRP, que garante o direito à protecção da saúde como um direito social fundamental que
se concretiza mediante o aprofundamento do Serviço Nacional de Saúde universal, geral e gratuito,
competindo ao Estado garantir o acesso dos cidadãos a todos os cuidados de saúde, independentemente
da sua condição económica e social, em situação de plena igualdade. A regulamentação da Lei de Bases
da Saúde, nomeadamente o estatuto do SNS, a regulação dos sistemas locais de saúde e a lei de gestão
hospitalar, deve concretizar o fortalecimento e melhoria do SNS, em todas as suas vertentes,
designadamente a existência de uma carreira única para cada sector profissional, aplicável a todos os
trabalhadores desse sector.
4.3.7 A transferência de competências para as autarquias na área dos cuidados de saúde primários irá
agravar o desinvestimento crónico e acentuar assimetrias regionais, escancarando portas à privatização,
uma vez que as autarquias não têm os meios nem o conhecimento para a gestão de unidades de saúde.
49
4.3.9. A CGTP-IN defende o Serviço Nacional de Saúde, Público, Universal e Gratuito, conquistado com a
Revolução de Abril. Assente no modelo em que o financiamento está baseado na contribuição fiscal
solidária, porque foi por esta via que a saúde passou a ser um direito de todos e não um privilégio de
quem a podia pagar. O SNS é indispensável para continuar a assegurar cuidados de saúde universais e
integrados, centralizados no utente. A reorganização e modernização do SNS é necessária e
fundamental, pelo que é preciso recrutar, manter e motivar os profissionais e afirmar a gestão pública.
4.4.2. Também na Educação, as anteriores passagens do PS, do PSD e do CDS-PP pelo poder
constituíram períodos muito difíceis, marcados por desinvestimento, agravamento da legislação e das
condições de trabalho e da aposentação, desmantelamento da contratação colectiva no ensino privado,
acentuação da precariedade laboral e grande aumento do desemprego, forte ataque à Escola Pública.
Exemplo do projecto que PSD e CDS-PP pretendiam prosseguir, foi a redução de 3300 milhões de euros
no financiamento da educação e do ensino, muito acima do que exigia o programa da troika que, com as
conivências internas, submeteu Portugal ao que chamou “resgate”, culminando com a tentativa de
reconfiguração do Estado.
4.4.3. Já com um governo minoritário do PS e no quadro de uma nova correlação de forças na AR, em
que PSD e CDS ficaram em minoria, iniciou-se uma legislatura com natural elevação de expectativas dos
trabalhadores, também na Educação e na Ciência. O balanço que hoje é possível fazer não nega
avanços verificados, ainda que insuficientes. Todavia, tendo em conta a segunda metade da legislatura, o
sentimento dos trabalhadores da Educação e da Ciência é de grande frustração e decepção. Constatar a
insuficiência não é o mesmo que desconsiderar medidas positivas que o governo teve que tomar,
condicionado pela correlação de forças na Assembleia da República e pela pressão da luta. Com o
passar do tempo, no entanto, confirmou-se que o PS não só não aproveitou as potencialidades do quadro
parlamentar criado, como, por insistência em posição própria e convergência com o PSD e o CDS (cuja
demagogia não apagou as posições essenciais que sempre os caracterizaram), foi bloqueada a resposta
aos problemas.
4.4.4. Confrontado com a abordagem de problemas que comportavam exigências financeiras e
orçamentais, o governo não resolveu questões candentes das escolas, do sistema e da profissão
docente, bem como do conjunto dos trabalhadores da Escola Pública, tentando lançar algumas medidas
de maior visibilidade, mas com insuficientes recursos. Daí resultaram ainda maiores sobrecargas sobre
docentes e não docentes, desorganização de respostas educativas e direitos dos alunos postos em
causa.
4.4.5. A denominada autonomia e flexibilidade curricular e o chamado regime de educação inclusiva são
dois exemplos destacados da actuação do ministério da educação; a eles poderíamos acrescentar o
processo de transferência de competências na área da educação, uma perigosa mistificação
descentralizadora, promovida em nome de equívocos, como os da proximidade, e de objectivos, como o
da desresponsabilização do Estado central, em matérias em que os problemas são muitos, mas as
opções políticas e as prioridades orçamentais continuaram a impedir soluções. Actuações graves do
ponto de vista democrático, com a chantagem sobre as organizações sindicais, tornaram-se frequentes,
tendo, entre outros aspectos, o governo chegado a tentar dificultar a realização de uma greve com a
imprópria figura de necessidades sociais impreteríveis, até em relação a reuniões convocadas para além
do horário de trabalho semanal, práticas que, tudo indica, o actual governo pretende prosseguir.
4.4.6. Para o futuro, fica um extenso rol de reivindicações que continuarão vivas: a valorização dos
profissionais, a contagem integral de todo o tempo de serviço para efeitos de enquadramento e
50
desenvolvimento nas carreiras profissionais dos professores e a sua colocação em quantidade suficiente;
a necessidade de combater, decididamente, a precariedade nos sectores da Educação e da Ciência; a
urgência de rejuvenescer o corpo docente, bem como de trabalhadores não docentes; o respeito pela lei
em relação aos horários de trabalho; a democratização da gestão das escolas e a reversão do sentido de
desresponsabilização do Estado, empurrando responsabilidades e encargos para os municípios, impostas
sob a capa da descentralização; medidas que garantam uma verdadeira educação inclusiva, o que passa
pelo imprescindível reforço de recursos. No fundo, a criação de condições para que a defesa de uma
Escola Pública de qualidade não se esgote nas palavras e passe a ser realidade.
4.5.2. A consolidação das medidas adoptadas nos últimos quatro anos, designadamente no plano da
Assembleia da República, representam avanços em várias áreas de políticas sociais, na medida em que
permitem alguma recuperação de rendimentos e são susceptíveis de contribuir para minorar algumas
das dificuldades mais sentidas pelas pessoas e famílias. Progressos que variam em extensão e
profundidade e que, nalguns casos, são limitados, mas a CGTP-IN não deixa de valorizar, desde logo
porque correspondem a objectivos pelos quais se tem batido. E se continuará a bater.
4.5.3. Apesar dos avanços, persistem restrições no direito à segurança social. Muitas das medidas
tomadas dirigiram-se ao sistema de solidariedade, em detrimento do reforço do sistema contributivo,
essencial para garantir o futuro do sistema público e assegurar a protecção das novas gerações. A
maioria dos desempregados não acede a prestações do desemprego. O regime legal continua a não ser
inteiramente contributivo uma vez que o valor do subsídio de desemprego é limitado a 2,5 IAS. A
universalidade nas prestações familiares não foi reposta. A idade de acesso à reforma continua a
aumentar e as regras de actualização das pensões são restritivas. A alteração do regime de pensões
antecipadas, sem deixar de constituir uma evolução relativamente ao regime em vigor, não correspondeu
plenamente às reivindicações da CGTP-IN, nem tão pouco às expectativas dos beneficiários. O reforço
do direito à segurança social constituirá, pois, uma prioridade para a CGTP-IN.
4.5.4. O direito à segurança social enfrenta uma forte ofensiva ideológica. A extensão da protecção
social é apresentada como moeda de troca da generalização da precariedade e da erosão do trabalho
por via de um emprego supostamente por conta própria. Porém, o facto de se procurar não distinguir
entre trabalho subordinado e trabalho não subordinado, põe em causa o próprio direito de trabalho e não
apenas o direito à segurança social.
4.5.5. O rendimento do trabalho não assenta somente na retribuição pelo trabalho e na distribuição de
rendimento por via de uma prestação social. Depende antes de um conjunto de factores como as
funções sociais do Estado, os serviços públicos, as políticas redistributivas por via de impostos e os
direitos dos trabalhadores, incluindo a contratação colectiva. A garantia de segurança social para todos,
ainda que com as adaptações próprias às especificidades dos respectivos regimes, não deve ser
confundida nem servir para dar cobertura e legalizar o falso trabalho independente.
4.5.6. Foi neste contexto que ressurgiu a tese do designado, rendimento básico incondicional (RBI), uma
espécie de moeda de troca para a aceitação da destruição de emprego provocada pela economia digital.
Esta tese, na aparência progressista, tem pressupostos inaceitáveis e que têm que ser combatidos,
porque assume como inevitável o eventual resultado da evolução tecnológica. Os mais liberais defendem,
simplesmente, que o indivíduo, ao receber do Estado um rendimento, deve sujeitar-se em tudo o resto às
51
forças do mercado. Outros, argumentam no sentido de que a diminuição da parte dos salários no
rendimento poderá conduzir ao debilitamento da procura. O ponto comum é que o (RBI),
tendencialmente, substituiria todas as prestações da segurança social e os direitos que dela decorrem.
Deixados à sua sorte, os trabalhadores e o povo seriam conduzidos a uma sociedade com desigualdades
sociais ainda mais acentuadas.
4.5.7. Apesar da atenuação nos indicadores de pobreza e privação material para a população em geral, a
pobreza entre os trabalhadores é um dos mais graves problemas da sociedade portuguesa, quando,
cerca de 500 mil trabalhadores empobrecem a trabalhar (10,9%, em 2015; 10,8%, em 2016, 9,7%, em
2017), reduções que, apesar de ligeiras, não são indiferentes ao efeito gerado pelo aumento anual do
Salário Mínimo Nacional.
4.5.8. Para a CGTP-IN, os números da pobreza entre os trabalhadores e os desempregados fazem prova
da fragilidade e ineficácia das políticas laborais e salariais da política de direita e remetem para a justeza
das reivindicações que exigem a valorização do trabalho e dos trabalhadores, a alteração das normas
gravosas da legislação laboral e o aumento geral dos salários e do salário mínimo nacional, a par da
melhoria dos níveis de protecção social, em particular dos desempregados.
4.5.9. Para a CGTP-IN, o rendimento básico incondicional (RBI) é uma forma de chantagem sobre os
trabalhadores para aceitarem a perda do direito ao trabalho, dos direitos que lhes são assegurados pelos
serviços públicos e pelas funções sociais do Estado e não constitui uma resposta ao problema da
pobreza. Não se contesta, porém, a existência de prestações de rendimento mínimo, integradas no
regime não contributivo da segurança social, conjugando a vertente da prestação social com a de
inserção laboral e social.
4.5.10.3. Para a CGTP-IN, uma das condições essenciais para o reforço do financiamento da Segurança
Social, é a criação de emprego com direitos e a melhoria dos salários. Por sua vez, as medidas tomadas
no sentido de reforço do Sistema Previdencial foram insuficientes, tendo-se limitado à consignação de
verbas alocadas ao Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS), provenientes de
um adicional ao IMI e de receitas do IRC.
4.5.10.4. Por sua vez, as transferências para o FEFSS, desde 2016, representam 22% (3,3 mil milhões de
euros) do total das transferências nos últimos 30 anos. No final de Março de 2019, o Fundo de
Estabilização da Segurança Social (FEFSS) alcançou o valor histórico de 18 mil milhões de euros.
52
4.5.10.6. A CGTP-IN não aceita a redução das receitas próprias da Segurança Social Contributiva na
medida em que se trata de uma receita dos trabalhadores consignada a fins próprios do sistema, tão
fundamentais, como a protecção social na velhice, no desemprego e na invalidez, entre outros. O
Sistema Previdencial é financiado pelas contribuições sobre os salários, pelo que qualquer redução
destas contribuições põe em causa o auto-financiamento e, por conseguinte, a sua sustentabilidade
financeira.
4.5.10.7. A CGTP-IN exige medidas que visem a recuperação do elevado nível de dívida de contribuições,
o combate à fraude e evasão contributivas e o fim da política de desvio das contribuições (TSU) para os
mais variados fins que são alheios ao regime contributivo, que se inscrevem, das catástrofes naturais a
crises económicas sectoriais.
4.5.10.9. A CGTP-IN defende a salvaguarda dos regimes públicos de pensões, financiados em regime de
repartição, porque são os mais adequados a garantir o direito de todos à segurança social na base da
solidariedade entre gerações. Rejeita qualquer medida que vise o corte ou a redução nos direitos já
formados ou em formação. Rejeita o regime de capitalização, de contribuição definida e a privatização da
segurança social, em todo ou em parte. Conhece os estudos, alegadamente imparciais, apartidários e
não ideológicos, que optam sempre por ignorar elementos chave e por desvirtuar outros, de modo a
chegarem às conclusões pretendidas. Convergindo no essencial, teimam em anunciar a
insustentabilidade do sistema público para assim pretender vender e defender o regime de capitalização
como o necessário, único e urgente.
4.5.10.11. O problema demográfico existe, mas não radica no aumento da longevidade, mas antes na
baixa natalidade e na emigração de muitos portugueses em idade activa e fértil – não por opção, mas por
necessidades económicas e sociais, particularmente agravadas durante o programa de agressão da
UE/FMI. O País está em perda demográfica desde 2010 e as previsões a longo prazo são de
continuidade desse declínio, se não forem tomadas medidas para inverter a actual tendência. As maiores
saídas ocorreram entre 2011 e 2015, a um ritmo superior a 100 mil por ano, num total de 586 mil
portugueses. Eram na sua maioria activos, jovens ou em idade fértil, mais de metade tinha entre 20 e 34
anos, chegando aos 80%, se incluirmos os do escalão abaixo dos 45 anos.
4.5.10.12. Para a CGTP-IN, o aspecto demográfico não pode nem deve ser desvalorizado na discussão
relativa à sustentabilidade da segurança social. A solução não passa nem pela privatização ainda que
parcial do sistema, nem pela redução ou enfraquecimentos dos direitos dos trabalhadores e dos
pensionistas, mas sim pelo abandono do modelo de baixos salários e trabalho precário, pela promoção de
um crescimento económico sustentado, pela criação de emprego de qualidade, seguro, com direitos e
salários dignos, pelos incentivos à natalidade, incluindo políticas de conciliação trabalho-família dirigidas a
esse objectivo.
53
4.5.10.13. A CGTP-IN não aceita que o Sistema Previdencial seja financiado por impostos. Primeiro,
porque torna o financiamento do regime contributivo da Segurança Social refém das políticas dos
Governos em matéria de transferências orçamentais, como bem demonstram os cortes efectuados nos
anos do governo do PSD/CDS, em relação ao financiamento do Sistema de Protecção Social de
Cidadania. Segundo, porque representa um risco adicional de descaracterização e desmantelamento do
próprio Sistema Previdencial, abrindo portas à transformação de um sistema assente em direitos, num
sistema de assistencialismo.
4.5.11.2. No sistema de reparação de doenças profissionais, é a partir da lista das doenças profissionais
que se concretiza grande parte do processo relativo à reparação. Daí que, quanto mais doenças
constarem dessa lista, maior probabilidade têm os trabalhadores de ver reparados os danos provocados
por riscos laborais que, fruto das formas de exploração do trabalho, têm resultado num crescimento das
doenças profissionais. A lista das doenças profissionais não é actualizada desde 2007, data em que
foram actualizados apenas os grupos 3 (doenças cutâneas e outras) e 4 (doenças provocadas por
agentes físicos). Por outro lado, desde 2001 que a lista passou a codificar as doenças aí integradas,
permitindo, entre outros aspectos, o seu tratamento estatístico, requisito que nunca se concretizou.
4.5.11.3. A CGTP-IN exige a alteração do regime de reparação e da lista das doenças profissionais, de
forma a considerar as doenças do foro psicossocial, comprovadamente resultantes do trabalho, bem
como a aplicação ao processo de reconhecimento da doença profissional do regime previsto no Código
do Processo do Trabalho para a reparação dos acidentes de trabalho – dando assim lugar em sede
judicial, a uma fase conciliatória entre o participante da doença e a Segurança Social.
4.5.11.4. O processo que levou à extinção do Centro Nacional de Protecção Contra Riscos Profissionais
(CNPRP Instituto Público), transferindo as respectivas atribuições para uma unidade orgânica do Instituto
da Segurança Social (ISS), foi iniciado pelo Governo PS/Sócrates a coberto do Programa de
Reestruturação da Administração Central (PRACE). Deste modo, os Sindicatos foram afastados da
intervenção directa na gestão do organismo das Doenças Profissionais e anulada a intervenção que a
Constituição consagra. Por sua vez, o Governo do PSD/CDS consumou a extinção (CNPRP), aprovando
a orgânica do Instituto da Segurança Social (ISS), com as atribuições cometidas a um departamento
operacional – o Departamento de Protecção contra os Riscos Profissionais.
4.5.11.5. As decisões que fragilizaram e levaram à extinção do CNPRP, a quem competia a avaliação,
graduação e reparação das doenças profissionais e a sua integração funcional num departamento do
Instituto de Segurança Social, motivaram grandes e graves perdas para os trabalhadores, na medida em
que o novo organismo perdeu completamente a autonomia e as competências com ela relacionadas,
nomeadamente as competências para gerir o seu próprio pessoal, as instalações e os equipamentos,
planear, programar e avaliar as suas actividades e realizar as despesas necessárias ao seu
funcionamento. Com as mudanças operadas, não houve qualquer ganho para os beneficiários, uma vez
que a situação real denota uma negligência geral, ou seja, um “deixa andar” por parte dos Governos e
das instituições públicas e de outros órgãos quando se trata de reparar os trabalhadores vítimas de
doenças profissionais. Situação que exige medidas urgentes e um Centro de Doenças Profissionais
dotado de autonomia e meios materiais, técnicos e humanos, bem como de capacidade para programar e
avaliar as suas actividades, para que funcione atempadamente e para todos os trabalhadores que
necessitem dos seus serviços.
54
4.5.11.6. Por sua vez, o Departamento de Protecção contra os Riscos Profissionais (DPRP) apresenta um
desempenho insuficiente e muito longe de dar a resposta necessária, registando atrasos para a
realização de exames médicos de diagnóstico e na “Avaliação do Posto de Trabalho”, atrasos na
certificação de Doenças Profissionais e reembolsos de despesas devido à falta de trabalhadores nos
respectivos serviços. É de todo inadmissível que os processos estejam a demorar, em média, 911 dias, o
de deferimento 981 dias e o do reembolso de despesas cerca de 455 dias. Contudo, registou-se uma
evolução positiva, apesar de muito insuficiente, com a contratação de trabalhadores, em 2019.
4.6.2. O direito à habitação tem sido profundamente atacado nos últimos anos, em particular, nos distritos
de Lisboa e Porto. O preço das rendas aumentou em praticamente todos os distritos e o valor de compra
das casas, só entre 2017 e 2018, subiu 7%. Em consequência, nos últimos tempos, muitos inquilinos, têm
sido vítimas da denominada Lei dos Despejos, de Assunção Cristas, ex-ministra do governo PSD/CDS-
PP, que a aprovou.
4.6.3. A CGTP-IN considera que a aprovação de uma Lei de Bases da Habitação poderá corresponder ao
início de uma nova fase no que respeita à concretização do direito à habitação, enquanto direito
constitucionalmente consagrado e sinal de um novo posicionamento do Estado face à definição de
políticas públicas de habitação. Tudo depende do seu conteúdo e sobretudo do nível de financiamento
público que se venha a inscrever, para dar expressão ao que ao Estado deve competir neste domínio. Na
verdade, não há uma verdadeira política de habitação sem um forte compromisso público, quer seja na
produção directa, quer na reabilitação. Conexamente, e indissociável dos demais factores, o sucesso das
políticas de habitação nos termos constitucionais reclama uma nova lei de solos que consagre o direito à
urbanização como direito público.
4.7.2. A falta de profissionais é uma preocupante realidade actual. Nos últimos anos, saíram muitos
profissionais, outros encontram-se em serviços diversos, fora dos tribunais, e os que foram admitidos, não
compensam as saídas. Mantêm-se problemas de instalações, falta de meios e condições de trabalho.
Não bastam proclamações, é efectivamente necessária uma política que garanta o direito à justiça.
4.7.3. É preciso aproximar a justiça dos cidadãos, preservar um poder judicial soberano e independente e
melhorar o combate ao crime organizado e à corrupção. Impõe-se investir nas instalações e nos
equipamentos, reabrir tribunais encerrados e atribuir-lhes mais competências com os meios
correspondentes. É indispensável assegurar a admissão regular de profissionais de justiça (magistrados
judiciais e do ministério público, oficiais de justiça, guardas prisionais e funcionários de investigação
criminal) e investir na formação contínua permanente, no apoio aos profissionais e na sua valorização.
55
4.7.4.É urgente rever o sistema de custas processuais, particularmente no que concerne às acções do
foro laboral, isentando totalmente os trabalhadores de taxas e custas, quando representados por
sindicatos.
4.7.5. Uma justiça eficaz implica também melhorar a informação e o esclarecimento sobre as decisões
tomadas, promovendo a transparência.
.
4.8. O ACESSO À FRUIÇÃO E À CRIAÇÃO CULTURAIS
4.8.1. O acesso à Cultura, a fruição dos bens culturais, os incentivos e os apoios à produção cultural são
requisitos fundamentais para que tenhamos um País com trabalhadores mais conscientes dos seus
direitos, com cidadãos mais cultos, livres e críticos.
4.8.2. Num país com baixos hábitos de leitura, o desinvestimento na cultura, em bibliotecas e arquivos, no
teatro, no cinema, nas artes, e nos trabalhadores deste sector, favorece a iliteracia, estimula politicas de
extrema direita e é chão fértil para alguns fundamentalismos, como o racismo, xenofobia e todo o tipo de
discriminações e facilita a exploração dos trabalhadores.
4.8.4. Ainda assim, os desafios que se nos apresentam são enormes, porque, apesar de tudo, o
investimento na Cultura continua muito abaixo do exigido (0,27% do Orçamento do Estado), muito longe
do 1%, que o sindicato do sector e a CGTP-IN reclamam, uma das razões pelas quais os trabalhadores
do sector têm realizado das maiores lutas de sempre, conquistando direitos em várias empresas e locais
de trabalho.
4.8.5. Para alcançarmos estes desejáveis resultados, é imperioso salvaguardar a nossa memória
colectiva. Porque, como escreveu José Saramago em Cadernos de Lanzarote, « Queiramo-lo ou não,
somos só a memória que temos. Um povo que vai perdendo a sua memória própria, está morto e ainda
não o sabe [...].» E o percurso do movimento operário e sindical é parte inseparável desta memória.
Seremos mais conscientes dos nossos direitos, mais cultos, livres, críticos e preparados para enfrentar os
desafios que se nos apresentam se conhecermos o caminho trilhado por aqueles que nos antecederam
na prossecução dos objectivos que nos são comuns, as dificuldades que enfrentaram, as lutas que
travaram, o modo como as conduziram.
4.8.6. É por isso que a CGTP-IN tem atribuído especial atenção, através do departamento de Cultura e
Tempos Livres e Centro de Arquivo e Documentação, à organização, preservação e valorização do seu
património documental e museológico.
4.8.7. É por isso que continuaremos nesta senda no presente mandato. Nos últimos anos, a CGTP-IN
acolheu vários fundos documentais oriundos da estrutura sindical filiada. São fundos com uma tipologia
documental diversificada, que incluem documentos de biblioteca, de arquivo e espólios museológicos.
Neste mandato, será necessário agir no sentido de os inventariar, descrever, preservar, conservar,
divulgar. São tarefas que implicam mais recursos humanos especializados, materiais e equipamentos,
também eles específicos.
4.8.8. É por isso que estamos a trabalhar para que, neste mandato, seja possível instalar este valioso
património num espaço condigno, com as condições adequadas à sua preservação a longo prazo e ao
seu tratamento técnico, que permita o seu estudo através da pesquisa e consulta por parte dos
trabalhadores e demais interessados, que promova a sua divulgação e conhecimento através de um
serviço educativo, de exposições, conferências, seminários, acções de formação e iniciativas afins. Este
56
espaço situar-se-á nas antigas oficinas da Fábrica da Mundet, no Seixal, e acolherá o Espaço Memória –
Centro de Arquivo, Documentação e Audiovisual.
4.8.9. É por isso que importa dinamizar a actividade cultural no movimento sindical representado pela
CGTP-IN, envolvendo todas e todos, trabalhadores, dirigentes, activistas e funcionários sindicais, na
demanda de uma maior consciencialização e esclarecimento em torno dos temas e preocupações
centrais dos nossos dias, através das mais diversas actividades culturais (cinema, teatro, exposições,
conferências, debates, concursos, artes plásticas, entre outros), fontes privilegiadas de reflexão e
questionamento que importa reforçar e consolidar.
4.8.10. E é também por isso que importa manter viva a memória de que, corporizado actualmente na
Fundação INATEL, há um património que é propriedade dos trabalhadores e deixar claro que a CGTP-IN
continuará a bater-se, na sua acção e intervindo nos órgãos directivos daquela Fundação, para que
continue a estar ao seu serviço e se impeça a sua privatização, hipótese intermitentemente aventada.
4.9.2. Não existe democracia sem uma Administração Pública de qualidade, ao serviço dos trabalhadores
e das populações, que garanta o exercício dos direitos constitucionais de todos e, ao mesmo tempo, o
direito dos seus trabalhadores a um posto de trabalho e a um trabalho digno e com direitos.
4.9.3. A ofensiva ideológica sobre a população para aceitação das medidas dos sucessivos governos com
vista ao desmantelamento da Administração Pública, privatização de serviços públicos e funções sociais
do Estado, assentou num conjunto muito diversificado de mistificações, desenvolvidas e ampliadas pela
comunicação social dominante.
4.9.5. Persiste:
O não reconhecimento do direito ao aumento dos salários dos trabalhadores da Administração Pública
e de uma parte das pensões de aposentação;
O não reconhecimento do direito constitucional à actualização salarial anual;
A não revisão da Tabela Remuneratória Única no sentido de garantir a proporcionalidade entre as
posições remuneratórias e assegurar rendimentos dignos e uma progressão justa na carreira;
57
A implementação de remuneração base que viola o direito à evolução na carreira porque, ao colocar
os trabalhadores nessa posição remuneratória rouba-lhes o direito à progressão, adquirido ao longo
de tantos anos;
A aposta na divisão entre trabalhadores do sector público e do sector privado;
A não regularização da contagem de tempo de serviço nas carreiras, cargos ou categorias, integrados
em corpos especiais em que esse é um factor relevante;
O congelamento de várias prestações remuneratórias, como o trabalho suplementar, ajudas de custo,
abono para falhas, entre outros;
A acumulação de milhares de horas extraordinárias não pagas;
A manutenção de um sistema de avaliação (SIADAP) burocrático e injusto;
A imposição de legislação limitadora da progressão nas carreiras e valorização dos profissionais;
A falta de investimento nos serviços públicos, abrindo caminho à sua privatização;
As limitações do PREVPAP na erradicação da precariedade, o não reconhecimento real de que a
precariedade deve ser erradicada e a manutenção de situações de falsos recibos verdes e de
outsourcing na Administração Pública, via PREVPAP;
A tentativa de transferência de responsabilidades e encargos para as autarquias de importantes
Funções Sociais do Estado, como a saúde, a educação, a acção social, pondo em causa o acesso
das populações a estes serviços estruturantes, os direitos dos trabalhadores, e desbravando o terreno
para a privatização;
A recusa na negociação com os sindicatos.
4.9.6. Acresce que o governo aumentou o salário mínimo na Administração Pública para 635€, muito
aquém da proposta da CGTP-IN (650€) e das possibilidades que o crescimento económico permite, numa
clara opção de classe contra os direitos dos trabalhadores, violando o princípio da proporcionalidade dos
salários, apagando as progressões que os trabalhadores adquiriram durante a carreira, roubando os
pontos àqueles que beneficiariam do aumento do salário mínimo, confundindo aumentos com
progressões.
4.9.7. Mas os trabalhadores da Administração Pública não desistem e continuarão, também, a sua luta! É
uma luta de todos e que interessa a todos, pela valorização e democratização no acesso às funções
sociais do Estado, com serviços públicos de qualidade e universais, que respondam aos anseios das
populações e aos interesses de progresso do País. Essas funções requerem trabalhadores dignificados,
motivados, valorizados e com direitos.
4.9.8. Os trabalhadores da Administração Pública exigem o aumento dos salários, subsídios e pensões, o
direito à carreira, incluindo o descongelamento das progressões para todos e a contagem de todo o
tempo de serviço anteriormente suprimido; a regulamentação dos suplementos de insalubridade,
penosidade e risco, de isenção de horário e o de disponibilidade e tempo de espera; a reposição do valor
do trabalho suplementar; a redução dos descontos para a ADSE; e a inclusão dos trabalhadores a
Contrato Individual de Trabalho (CIT); a melhoria das condições de trabalho e a defesa e reforço dos
serviços públicos, contra a transferência de responsabilidades e encargos para as autarquias das funções
sociais do Estado; o combate à precariedade e o trabalho com direitos, bem como:
O aumento real dos salários e das pensões;
A revisão da tabela remuneratória única, estabelecendo o SMN reivindicado pela CGTP-IN como
primeira posição, garantindo a proporcionalidade nas demais posições remuneratórias;
A contagem de todo o tempo de serviço aos trabalhadores da Administração Pública para efeitos de
desenvolvimento nas suas carreiras;
58
A substituição do SIADAP por um outro instrumento de avaliação, que seja mais claro, justo e
potenciador da valorização dos trabalhadores;
A necessidade de resposta às reivindicações constantes das Propostas Reivindicativas Comuns.
4.10.3. Em vez da reposição das freguesias anteriormente extintas por acordo entre PS e PSD, o actual
governo do PS admite extinguir ainda mais freguesias no futuro, o que a CGTP-IN considera inaceitável.
4.10.4. A transferência de responsabilidades e encargos operada pela Lei n.º 50/2018, de 16 de Agosto,
que se pretende ter carácter definitivo e universal, e que mereceu a rejeição da maioria dos órgãos
autárquicos democraticamente eleitos, com um grau de incerteza profundo quanto à natureza das
competências a ser transferidas, município a município, pode acentuar as assimetrias regionais, tanto
mais que, a lei determina que “a transferência de competências efectua-se para a autarquia local que, de
acordo com a sua natureza, se mostre mais adequada ao exercício da competência em causa”.
4.10.5. Por outro lado, não estabelece qualquer garantia de transferência de meios técnicos e financeiros
para a prossecução dessas novas competências e que são nas mais variadas áreas: educação; acção
social; saúde; protecção civil; cultura; património; habitação; áreas portuário-marítimas e áreas urbanas
de desenvolvimento turístico e económico não afectas à actividade portuária; praias marítimas, fluviais e
lacustres; informação cadastral, gestão florestal e áreas protegidas; transportes e vias de comunicação;
estruturas de atendimento ao cidadão; policiamento de proximidade; protecção e saúde animal;
segurança dos alimentos; segurança contra incêndios; estacionamento público; modalidades afins de
jogos de fortuna e azar.
4.10.7. Ora, o poder local é um poder político constitucional previsto nos artigos 235º a 254º da CRP. A
autonomia local é uma garantia institucional prevista na Constituição e quanto ao seu núcleo essencial de
protecção há uma proibição geral de não-retrocesso, não se vendo, com esta alteração, que outros
interesses ou direitos estarão a ser protegidos na mesma medida.
4.10.8. A afirmação e valorização da autonomia do Poder Local, em coerência com uma organização de
Estado assente na descentralização, com capacidade de responder com maior eficácia às exigências que
se colocam, de prestar melhor serviço público, contribuindo assim para a melhoria da qualidade e
condições de vida das populações exige um processo de descentralização de competências que deve ter
como objectivo a melhoria da acessibilidade e da qualidade do serviço público prestado às populações, a
elevação da eficácia de resposta e uma melhor e maior capacidade de resolução dos problemas em
59
diversos domínios, obrigando a uma criteriosa avaliação sobre qual o nível de poder mais adequado para
o exercício de cada uma das competências.
4.10.9. A experiência dos processos de municipalização até agora levados a cabo demonstra que as
soluções adoptadas são condicionadas pela ausência de um nível de poder determinante no quadro de
delimitação de competências, quer pelo persistente subfinanciamento que acompanhou as autarquias ou
pelo contínuo arbítrio de incumprimento dos regimes financeiros em vigor e a restrição e ingerência na
autonomia local, muito agravada num passado recente.
4.10.10. É neste quadro, o qual não pode deixar de ser tido em conta quando olhamos para o actual
processo de «descentralização» e o seu desenvolvimento, que consideramos indispensável garantir:
A recuperação das condições das autarquias para o pleno exercício das competências que hoje
integram o acervo das suas responsabilidades;
O aumento efectivo da capacidade de resposta, o reforço e satisfação dos direitos das populações e
a construção de serviços públicos de qualidade, o que exige a correspondente dotação do Poder
Local dos meios humanos, técnicos e financeiros e a sua sustentabilidade e não, como a prática tem
demonstrado, a redução do investimento público e transferência de ónus e insatisfações para o
Poder Local;
Que esta matéria, pela sua importância, seja obrigatoriamente objecto de consulta pública e
garantida, nomeadamente, a participação das estruturas representativas dos trabalhadores nos
termos previstos na Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas (LTFP), considerando ainda que se
trata de matéria obrigatoriamente objecto de negociação colectiva;
A criação das Regiões Administrativas, factor de democracia e instrumento de combate às
assimetrias regionais;
A reposição das freguesias liquidadas contra a vontade das populações e o respeito pelas decisões
dos órgãos locais;
A defesa intransigente da universalidade das funções sociais do Estado como condição da igualdade
dos cidadãos, o que significa que o Estado deve manter para si os poderes que lhe permitam
promover o desenvolvimento estrutural do País, ou seja, os poderes que viabilizam a colocação de
todos os cidadãos em plano de igualdade nos domínios político, económico, social e cultural;
A alteração da Lei das Finanças Locais para que respeite o princípio constitucional da justa
repartição dos recursos do Estado, assegure as condições de estabilidade na sua aplicação e
recupere os níveis de financiamento negados por sucessivos incumprimentos e cortes de montantes.
4.11.2. Relativamente à questão central do confronto entre o trabalho e o capital, constata-se que, depois
de a parte dos ordenados e salários no PIB em Portugal ter atingido o valor mais baixo dos últimos 65
anos em 2015, continuam a verificar-se desigualdades gritantes na repartição da riqueza. A inflexão
encetada no ano de 2016, sendo importante porque travou a política de cortes nos salários e nas
pensões e iniciou um processo de reposição de rendimentos e direitos, está longe de repor os valores
passados.
60
4.11.3. No que respeita ao IRS, verifica-se que mais de 90% dos rendimentos declarados são
rendimentos de trabalho e de pensões. Os rendimentos de capital e de propriedade conseguem escapar
em larga escala ao pagamento de IRS, apesar deste ser um imposto sobre todas as categorias de
rendimento. Contudo, registaram-se mudanças positivas, incluindo, no IRS, a eliminação da sobretaxa, o
alargamento dos escalões, a eliminação do quociente familiar, substituindo-o pelo quociente conjugal, o
aumento do mínimo de existência e melhorias nas deduções, e, no IRC, com o aumento da derrama
estadual.
4.11.4. A política fiscal continua a deixar intocáveis os rendimentos do grande capital. No Orçamento do
Estado para 2019, persistem alguns dos traços mais negativos em matéria de impostos. No IRS, mantém-
se a possibilidade de não englobamento dos rendimentos de capital, os escalões não são actualizados
nem aumentados, como propõe a CGTP-IN e não se vislumbram quaisquer medidas que visem, nesta
sede, um aumento da tributação sobre o capital. No IRC, salienta-se a sua significativa redução
constituída pela eliminação do pagamento especial por conta. O fim do PEC (-100 M€) não deve significar
que as empresas deixem de pagar IRC, mas antes a sua substituição por um regime mais adequado.
4.11.5. O muito elevado nível de dívida e de fraude e evasão fiscal constitui um outro factor de injustiça
fiscal, pois os incumpridores e os que praticam planeamento fiscal são geralmente empresas e
particulares com maior poder económico. Segundo dados do Ministério das Finanças publicados na
imprensa, 30,4 mil contribuintes deviam 3,5 mil milhões de euros (2% do PIB). A evasão fiscal representa
somas muito elevadas. Só num dos impostos (o IVA), a diferença entre o valor teórico e o IVA cobrado foi
estimada pelo INE em 1507 milhões de euros anuais no período de 2010 a 2017, o que representa 0,9%
do PIB médio anual do período. O Estado perde ainda uma elevada receita devido à saída de capitais
para os paraísos fiscais. Em 2017, 10.929 ordenantes (o equivalente a 0,1% da população) tinha
transferido mais de €10,65 mil milhões para territórios onde pagam menos (ou nenhuns) impostos sobre
estes rendimentos.
4.11.6. O sistema fiscal português é progressivo, redistribuindo rendimento, ainda que muito aquém do
que deveria, persistindo, assim, injustiças fiscais. A permanência de factores de injustiça fiscal constitui o
traço essencial do sistema fiscal e não o nível de tributação medido em relação ao PIB, pejorativamente
designando pelo patronato e pela direita de "carga fiscal". Esta noção é mistificadora, desde logo, porque
agrega impostos e contribuições para a segurança social, omitindo a sua natureza distinta.
4.11.7. Em termos comparativos, Portugal tem uma incidência fiscal inferior à média da zona euro e
distante de países do norte da Europa, apesar de dispor de um nível de desenvolvimento mais baixo; do
manifesto desequilíbrio na repartição primária do rendimento entre o capital e o trabalho e das profundas
desigualdades sociais, que se acentuaram entre 2009 e 2016.
4.11.8. A CGTP-IN defende que a correcção das injustiças fiscais não deve significar a diminuição das
receitas do Estado e que maior justiça fiscal exige maior progressividade, tanto nos impostos directos
como nos indirectos. O patronato e a direita clamam contra os impostos, porque são contra os impostos
progressivos, os quais, pela sua natureza, redistribuem rendimentos.
4.11.9. A CGTP-IN defende a adopção de uma política que vise o crescimento económico, ecológica e
socialmente sustentável; o reforço das Funções Sociais do Estado; o investimento público e a melhoria
dos serviços; a coesão territorial e social; o combate às injustiças e às desigualdades sociais. Para o
concretizar, é necessária uma verdadeira política fiscal que promova a repartição da riqueza, assente na
progressividade dos impostos, de modo a que quem mais tem mais paga.
61
5.1. UMA EUROPA DOS TRABALHADORES E DOS POVOS
5.1.1. Os trabalhadores e os povos do Continente europeu vivem sob uma forte ofensiva de retrocesso
social e civilizacional e de ingerência e ataque à soberania dos países. Uma ofensiva com uma profunda
marca de classe, inseparável do processo de integração capitalista, que conduziu à instituição da União
Europeia (UE) e dos seus mecanismos de chantagem e submissão aos interesses do grande capital e
das grandes potências.
5.1.2. A UE afirma cada vez mais a sua natureza federalista, neoliberal e militarista. As políticas seguidas
são marcadas pelo ataque aos direitos dos trabalhadores e dos povos. São políticas armamentistas,
belicistas e de ingerência na soberania dos povos, tendo como objectivo impedir o direito de cada um
decidir do seu futuro, segundo a sua vontade democrática, que têm como executores o Conselho
Europeu, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu, suportadas no Tratado Orçamental, na
Governação Económica, na União Bancária, na União Económica e Monetária (UEM) e Semestres
Europeus e num projecto federalista (que, a nível nacional, têm o apoio do PSD, do CDS-PP e do PS) e,
ainda, do Tribunal de Justiça da UE, quando põe em causa os direitos dos trabalhadores, dando
prevalência às liberdades económicas sobre os direitos sociais.
5.1.3. No plano nacional, os sucessivos governos têm dado seguimento às políticas europeias, atacando
as Funções Sociais do Estado, designadamente, a saúde, a educação e a segurança social pública,
desvalorizam e degradam o direito à segurança no trabalho (com a liberalização do despedimento sem
justa causa), à cultura e à habitação. A precariedade aumenta constantemente; o direito do trabalho deixa
de ter a função de protecção do mais fraco e a legislação de trabalho deixa de ser uma lei de mínimos; o
direito à contratação colectiva e a autonomia das partes são postas em causa; os salários e as pensões
perdem poder real de compra, ao mesmo tempo que os impostos directos continuam, também, a reduzir o
poder de compra dos trabalhadores e dos pensionistas; não há investimento nos serviços públicos porque
Portugal tem que satisfazer o pagamento de uma dívida ilegítima e juros especulativos, que impedem o
País de investir para se desenvolver e, assim, resolver os problemas da pobreza.
5.1.5. Os programas de agressão da UE e FMI foram concebidos a partir das orientações fundamentais
da UE e visaram aproveitar e acentuar as fragilidades de países como Portugal para, entre outras coisas,
os sujeitar ao resgate permanente dos bancos e dos banqueiros, à concentração deste sector e à sua
alienação a favor de grandes bancos estrangeiros, a manter intocável a especulação financeira -
nomeadamente sobre a dívida pública -, abrindo caminho ao aumento brutal da exploração dos
trabalhadores e à privatização de empresas públicas, pelo capital transnacional.
5.1.7. A reboque da coordenação das políticas sociais, com a UEM e o Euro, o PEDS está pensado para
impor o primado do direito da UE sobre o direito nacional, afrontando competências exclusivas dos
Estados-membros nas áreas definidas por este instrumento, nomeadamente na legislação laboral (o
direito ao trabalho passa a uma forma de obrigação de trabalhar sem direitos) e na organização dos
sistemas de segurança social. O PEDS é transformado numa das principais orientações do próximo
Quadro Financeiro Plurianual (QFP 2021-2027), visando transformar os processos educativos e de
formação em preparação para a precariedade e como forma de «gerir com êxito as transições no
62
mercado de trabalho», entendidas as transições, sobretudo, como despedimentos; para alargar a
precariedade e facilitar os despedimentos sem justa causa, através da dita «flexibilidade para os
empregadores»; para a migração encapotada sob a forma de «mobilidade»; para que os salários e
pensões sirvam apenas para «evitar» a pobreza, hipotecando a melhoria dos salários e condições de vida
dos trabalhadores; para que, em vez de se promover a redução do tempo de trabalho e a diminuição da
idade de reforma (justificada pelos avanços técnicos e científicos), seja «prolongada a sua participação no
mercado de trabalho»; o direito universal a serviços públicos é reduzido ao que estiver «disponível» e
tendencialmente mercantilizado.
5.1.8. A CGTP-IN reafirma o objectivo da edificação de uma “Europa dos Trabalhadores e dos Povos”,
assente no princípio da solidariedade internacionalista e norteada pela defesa e consolidação dos direitos
dos trabalhadores. Um rumo de ruptura democrática com os interesses do grande capital e das grandes
potências, de afirmação de uma alternativa política de esquerda e soberana, para cortar o passo às
políticas das classes dominantes.
5.1.9. A CGTP-IN intervirá, assim, a todos os níveis, para a construção de uma Europa que potencie o
desenvolvimento económico, social e humano dos países, com particular ênfase no aprofundamento dos
direitos laborais, sociais e culturais, como alternativa ao neoliberalismo e à regressão social, o que implica
a existência de políticas norteadas por uma efectiva cooperação entre países soberanos e iguais em
direitos.
5.2.3. A transferência de competências dos Estados para a UE, ligadas aos poderes orçamentais
exercidos através da governação económica, das recomendações no âmbito dos semestres europeus e
do Tratado Orçamental, alicerça a perda de soberania nacional dos estados e dos povos e a perda de
poderes dos Estados-membros no processo de decisão.
5.2.4. A política comum de segurança e defesa aprofunda a dimensão militarista da UE e o seu papel
como bloco político-militar imperialista subordinado à NATO, em que se integram a chamada
“Cooperação Estruturada Permanente” (PESCO) e o denominado “Exército Europeu”.
5.2.5. O Euro e as regras da UEM e do Tratado Orçamental afirmam-se como motores de retrocesso das
condições de vida e de trabalho, impõem decisões economicamente erradas e limitações socialmente
incomportáveis e têm determinado o agravamento das desigualdades entre os diferentes países, servindo
apenas as grandes potências, que reforçam o seu poderio económico e financeiro, ao mesmo tempo que
debilitam e destroem a base económica de países. A UEM e o Euro são, para países como Portugal, a
privação das possibilidades de ter políticas que desenvolvam o País e colocam-nos nas mãos dos
interesses das grandes potências e dos grupos económicos e financeiros.
5.2.6. A dívida pública nacional aumentou desde a adesão de Portugal à CEE, acentuando-se
brutalmente desde a entrada no Euro. A perda de soberania na política monetária, em paralelo com a
destruição da nossa capacidade produtiva, conduziu ao aumento da exploração e do empobrecimento
63
dos trabalhadores como factor de ajustamento à concorrência no quadro da globalização capitalista; à
redução e empobrecimento da qualidade dos direitos assegurados pelos serviços públicos e funções
sociais do Estado; à dependência externa e aos ataques predatórios do capital financeiro.
5.2.7. A “governação económica” da UE faz depender toda a política económica de cada país dos órgãos
comunitários, o que impede a existência de uma verdadeira política de desenvolvimento económico
nacional, amarrando, deste modo, os portugueses aos interesses das multinacionais. No seu âmbito, as
sanções e multas ou a suspensão do acesso a fundos comunitários aos países que não cumprirem um
conjunto de limites e restrições são inaceitáveis, tal como os mecanismos criados de monitorização
permanente, dentro do Semestre Europeu, porque limitam o papel dos parlamentos nacionais e a tomada
de decisão de forma democrática.
5.2.8. A CGTP-IN não aceita as limitações que o Euro introduz no direito do País, aponta a necessidade
de medidas de soberania monetária que assegurem o seu desenvolvimento económico e social e
reivindica a revogação do Tratado Orçamental.
5.2.9. No quadro da natureza do capitalismo e da tentativa de superar a sua crise estrutural, o grande
capital, através dos governos e instituições ao seu serviço, pretende incrementar a desregulação do
comércio mundial. A transferência da soberania de cada país sobre o comércio internacional e o
investimento para a UE reforçam, dentro e fora deste espaço, a liberalização da circulação de capitais e a
concentração da riqueza. A celebração de tratados internacionais, designados de “livre comércio”, tem
como objectivo atacar a soberania nacional para promover o domínio das multinacionais sobre povos e
países, assim como uma maior exploração do trabalho e dos recursos naturais. Ao mesmo tempo, visam
limitar o desenvolvimento de políticas que garantam bens essenciais aos povos e aos trabalhadores.
5.2.10. Os tratados que têm participação da UE, como o TTIP – Tratado Transatlântico (com as
negociações suspensas entre a UE e os EUA), o CETA (já firmado com o Canadá) e o TISA – (Tratado
sobre o Comércio dos Serviços Públicos em fase de negociação) apontam para um brutal retrocesso
social e a violação da soberania dos Estados, pelo que a CGTP-IN manifesta a sua oposição a todos os
tratados que ataquem o direito de cada país a decidir de acordo com a sua vontade soberana e os seus
próprios sistemas jurídicos públicos.
5.2.11. A cooperação entre os países da Europa não pode implicar a sua diluição, dos seus sistemas
políticos, das suas Constituições e conquistas nelas inscritas, em projectos ao serviço do grande capital,
onde a sua hegemonia e as grandes potências se sobrepõem à vontade dos povos.
5.2.12. Para a CGTP-IN, torna-se imperiosa a promoção de uma convergência real com os restantes
países e uma política que promova, de forma efectiva, a harmonização no progresso, o que implica a
adopção de medidas que comportem uma opção de verdadeira justiça e progresso social.
5.2.13. A fixação de mecanismos legais para a definição dos salários mínimos na UE., referidos como
“salário mínimo na UE”, não assegura o direito de contratação colectiva nem defende os interesses dos
trabalhadores, por não ter em conta a realidade de cada país e por não garantir o crescimento geral dos
salários.
5.2.14. O aumento da exploração aprofunda-se e ganha nova dimensão na já longa ofensiva contra
direitos fundamentais e conquistas civilizacionais dos trabalhadores e dos povos, conduzindo ao protesto,
resistência e luta dos trabalhadores e dos povos.
5.2.15. Para branquear as políticas da UE e ir ainda mais longe na usurpação de novas parcelas da
soberania nacional, no empobrecimento da democracia e na regressão dos direitos e diminuição dos
rendimentos, a direita e a social-democracia, rendida ao neoliberalismo, chantageiam os povos com o
ascenso das forças de extrema-direita, fascistas, nacionalistas, xenófobas e racistas, quando elas
mesmas são responsáveis pelas políticas que têm levado ao seu crescimento.
64
5.2.16. Ao mesmo tempo, os círculos dominantes invocam uma falsa preocupação ambiental para
esconder responsabilidades das suas políticas, e do sistema que defendem (capitalismo) na sua
degradação, perpetuando-as através da mercantilização dos recursos naturais e da concentração do
capital neste sector. Promovem produtos, tecnologias e até empregos, que definem como “verdes”,
omitindo os seus impactos ambientais, aumentando a concorrência entre capitais pelo seu domínio, o
que, para os trabalhadores, se traduz num ataque aos seus direitos, promovendo a precariedade,
facilitando e procurando justificar os despedimentos. Atacam a soberania dos países sobre os seus
recursos, amplificam o neocolonialismo e acentuam uma divisão internacional do trabalho em que as
potências imperialistas procuram conter a ascensão de países como os BRICS.
5.2.18. A CES não está à altura da resposta necessária face às políticas neoliberais que têm esmagado
os povos da Europa, nem assume um posicionamento político-sindical alternativo às bases em que
assenta a UE e, portanto, não potencia, como é necessário, a cooperação multilateral do movimento
sindical do Continente para fazer frente à regressão de direitos laborais e outros direitos sociais que a UE
vem impondo. Também não contribui para uma alteração da relação de forças, a favor dos trabalhadores
e dos povos.
5.2.19. Para responder à ofensiva contra os direitos dos trabalhadores e dos povos, a CGTP-IN
procurará, com todo o movimento sindical no plano europeu, articular e trocar experiências e
conhecimentos, de modo a agir em defesa dos interesses dos trabalhadores.
5.2.20. O caminho de luta contra a exploração que se vive na UE implica a alteração da relação de forças,
com o envolvimento de todos os que lutam por uma vida melhor, o progresso social e o desenvolvimento
soberano dos países.
5.3.2. Trata-se de uma opção para aproximar povos, valorizando o trabalho e os trabalhadores,
promovendo a acção convergente no combate internacionalista de ruptura democrática contra a
imposição dos interesses do grande capital e das grandes potências, de afirmação de uma alternativa
política de esquerda e soberana, que garanta a soberania económica e monetária e o controlo pelo
Estado dos principais sectores da economia e das empresas estratégicas para o desenvolvimento do
País, cortando o passo à ofensiva das classes dominantes, que procuram impedir que os povos decidam
de acordo com a sua vontade.
65
5.3.3. Este caminho exige uma acção integrada de esclarecimento sobre a natureza dos problemas
estruturais do País, das responsabilidades (e dos responsáveis) da política de direita e do processo de
integração na UE, afirmando soluções concretas que garantam, aos trabalhadores e ao povo, um
caminho distinto daquele que tem sido seguido.
5.3.4. A CGTP-IN está empenhada na unidade na acção do movimento sindical na defesa dos interesses
de classe dos trabalhadores, opção que, além do reforço da luta dos trabalhadores em cada país, busca
a convergência com outras camadas sociais, nos planos nacional e internacional, para atingir esse
objectivo. Uma afirmação que, tanto na luta como na organização e representação dos trabalhadores
portugueses, para a CGTP-IN, implica:
Pelo início de um processo de renegociação das dívidas pública e externa dos países (nos seus
prazos, montantes e juros) em situação idêntica à de Portugal, adaptando o serviço da dívida às
necessidades de desenvolvimento de cada país;
Pela recuperação da soberanía monetária dos países que o considerem necessário, no quadro da
exigência da dissolução da UEM;
Na rejeição da “Europa fortaleza” e da criminalização dos imigrantes e refugiados;
Contra o racismo, a xenofobia, o fascismo, o chauvinismo e o nacionalismo, bem como todas as
medidas autoritárias e anti-democráticas;
Por um plano para criar emprego e desenvolvimento produtivo dos países prejudicados pelo
funcionamento do Euro, da UEM e da UE;
Pela recuperação da soberania sobre o estabelecimento de acordos comerciais internacionais e a
reversão dos acordos, em vigor, de livre comércio entre a UE e países ou blocos de países;
Pela eliminação dos paraísos fiscais e zonas francas e pela exigência de medidas de limitação da
livre circulação de capitais;
Pela cooperação entre os Estados, tendo em vista a aplicação efectiva de impostos sobre o capital
nos países onde este gera os seus lucros, revertendo para eles essas receitas;
Pela reversão dos tratados e das políticas da UE que coloquem em causa o direito ao
desenvolvimento de países e povos;
Pelo fim da militarização da UE, dentro ou fora do quadro da NATO, respeitando a Carta das Nações
Unidas e o Direito Internacional.
66
na financeirização da economia. As últimas décadas são marcadas por uma aplicação maciça de
recursos financeiros na actividade especulativa, a que acrescem os efeitos de uma crise cíclica de
sobreprodução.
5.4.2. Os factores que conduziram à presente situação, à escala global, acentuam-se com os processos
de concentração e centralização do capital, incrementa-se o papel do capital financeiro, subjugam-se os
interesses dos povos à ditadura dos mercados financeiros e de quem os controla. O capitalismo, na sua
fase imperialista, manobra com o fascismo e a guerra para tentar superar as suas contradições, mas só
consegue aprofundar a sua crise; intensifica a exploração dos trabalhadores, o ataque a direitos sociais e
à soberania, a rapina de recursos naturais dos povos e a mercantilização e destruição ambiental;
intensifica políticas securitárias, cerceando liberdades e direitos fundamentais. Cresce a ingerência e a
ameaça de agressão, os EUA aumentam as despesas e manobras militares, abandonam tratados que
apontavam para a contenção e limitação do armamento nuclear, uma escalada indissociável do
aprofundamento da militarização da UE, subordinada aos EUA e à NATO; cresce a lista de países vítimas
de bloqueios e sanções económicas, financeiras, diplomáticas e outras, medidas que violam o direito
internacional e negam direitos humanos básicos aos trabalhadores e aos povos dos países visados,
nomeadamente os direitos à alimentação e à saúde.
5.4.4. Em África, a luta dos trabalhadores teve, em diversas áreas, expressões significativas; os povos
africanos batem-se contra a ingerência, a guerra e a presença de formações militares nos seus territórios
- como da França e EUA com o AFRICOM (o comando dos EUA para a África) – que procuram controlar
os seus recursos naturais. O SAHARA Ocidental mantém-se sob ocupação de Marrocos que, com a
conivência da UE, atenta contra o direito internacional e impede a sua autodeterminação.
5.4.5. O imperialismo americano e os seus aliados europeus desestabilizam a América Latina com o
objectivo de destruir os processos democráticos e progressistas de afirmação da soberania e anti-
imperialistas. O Brasil tem um presidente de extrema-direita, que mais não é do que o prolongamento do
imperialismo norte-americano, defensor da guerra e da destruição da soberania dos povos. As políticas
anti-laborais e anti-sociais são hoje seguidas, entre outros países, na Colômbia, Equador, El Salvador e
Peru, que afundam e colocam os trabalhadores e os povos na miséria. No Chile os trabalhadores e o
povo lutam contra as políticas neoliberais herdadas do tempo da ditadura de Pinochet e pela aprovação
de nova constituição, e na Bolívia lutam contra o golpe de Estado. A Venezuela é o principal alvo da
intensa ofensiva imperialista americana, que procura travar também os processos bolivianos e
nicaraguenses, para subordinar os países aos interesses das oligarquias. Cuba mantém-se alvo do
bloqueio e ataque dos EUA, com uma resistência heróica do povo cubano na defesa do seu país e
modelo social.
5.4.6. Na Ásia, intensificam-se as pressões sobre a China e a República Democrática Popular da Coreia,
ao mesmo tempo que crescem as tensões entre a Índia e o Paquistão.
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5.4.7. Para a CGTP-IN, a luta dos trabalhadores e dos povos por melhores condições de trabalho e de
vida, pelo direito a decidirem o seu futuro e pela rejeição das imposições e objectivos do imperialismo é
parte integrante da luta pela superação do capitalismo. A crise evidencia a natureza exploradora,
opressora, agressiva, predadora, injusta e desumana do capitalismo, comprova que não é reformável e
torna decisivo o reforço da luta pela superação e eliminação de todas as formas de exploração do homem
pelo homem – objectivo estratégico da CGTP-IN. A afirmação e integração da luta por esses objectivos
exigem o empenho do movimento sindical, de forma a garantir um novo rumo – de paz, de igualdade e de
respeito e cooperação entre países – que potencie o alargamento da unidade e da frente de luta, a
convergência na acção com outros sectores e camadas sociais destes com países que partilhem esses
objectivos, gerando dinâmicas simultaneamente de resistência e transformação social, forma mais segura
de travar a escalada de desestabilização, agressão e rapina do imperialismo.
5.4.11. Para a CGTP-IN, é necessário que as políticas migratórias, tanto de âmbito internacional como
europeu ou nacional, promovam a integração dos migrantes nas sociedades de acolhimento, num quadro
que respeite, em plena igualdade, os direitos de todos os trabalhadores e cidadãos, nacionais, europeus
ou de países terceiros.
5.4.12. A CGTP-IN defende o estabelecimento de uma nova ordem económica internacional, como
condição essencial para um desenvolvimento mais justo e equilibrado à escala planetária. Uma nova
ordem, alicerçada em princípios e valores fundamentais, como: a garantia do direito à soberania de cada
país e de cada povo, designadamente, a alimentar e energética; a prestação e garantia de acesso
universal a serviços públicos essenciais e o controlo e protecção dos direitos humanos sobre bens
comuns e vitais, como a água; o desenvolvimento equitativo, priorizando a dimensão local e as
economias nacionais; o comércio justo; a igualdade de direitos; a sustentabilidade ambiental; a paz e a
cooperação internacional. Uma ordem internacional que priorize e valorize o direito ao trabalho com
direitos e uma justa distribuição da riqueza, que respeite as normas internacionais do trabalho e promova
a harmonização social no progresso, que combata a pobreza nas suas origens e melhore a protecção
social, que erradique os paraísos fiscais, trave a especulação financeira e promova o progresso social.
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5.4.13. Uma nova ordem económica exige a cooperação justa com os países em desenvolvimento, de
forma a garantir a utilização sustentável dos recursos naturais, a água, as energias, os meios e as redes
de transportes de pessoas e de mercadorias, que obrigam a um esforço partilhado entre Estados, que
deve ser aplicado em igualdade e ajustado às capacidades de cada um.
5.5.2. O grau de exploração dos trabalhadores atingiu limites e consequências tais que levam a que
grande parte da riqueza produzida se concentre num número muito pequeno de famílias e de países.
5.5.3. A exploração dos trabalhadores segue a par do controlo dos recursos naturais dos povos pelas
multinacionais. O imperialismo e a guerra por este fomentada são factores de destruição das economias e
da pobreza que alastra no mundo.
5.5.4. A Paz é condição essencial para o desenvolvimento e o progresso económico, social e cultural da
Humanidade e para uma mais justa distribuição da riqueza. As guerras conduzem à morte, à invalidez, à
fome e a condições de vida indignas para milhões de seres humanos, enquanto alimentam os complexos
industriais militares, que constituem poderosos lobbies antidemocráticos.
5.5.5. A Humanidade vive um período de profunda instabilidade. Persistem e surgem novos conflitos,
ingerências, bloqueios, ocupações e agressões militares, provocados por potências imperialistas,
lideradas pelos EUA e por vários aliados europeus, com ou sem cobertura das Nações Unidas, que
atentam contra o direito internacional. São os casos da Palestina, Iraque, Venezuela, Síria, Iémen,
Afeganistão, Líbia, Mali ou do Sahara Ocidental. Em muitos destes países, os brutais ataques armados e
os atentados põem em causa a vida e a segurança das populações, contribuindo para a desestabilização
ao serviço das potências imperialistas, para manterem o domínio neocolonialista e assim controlarem a
exploração dos seus recursos naturais, sobretudo minérios e fontes energéticas como o petróleo e o gás.
5.5.6. A Palestina e o Sahara Ocidental continuam sob o domínio ou ocupação de potências estrangeiras
(respectivamente, Israel e Marrocos) há décadas, mau grado as inúmeras resoluções da ONU
proclamando o direito destes à autodeterminação e independência. A forma célere como as Nações
Unidas e o Tribunal Penal Internacional tomam posição, a pretexto de reais ou pretensas violações de
direitos humanos, contrasta com a aplicação de decisões e sanções relativamente a países com conflitos
onde a NATO foi, ou é, parte activa, e choca com a indiferença e impunidade face a autênticos
genocídios e massacres, como acontece na Palestina, Sahara, Iraque, Síria, Afeganistão, Ucrânia, Iémen
e Mali.
5.5.7. A CGTP-IN inscreve nos seus princípios e objectivos a luta pela Paz e pela solidariedade
internacionalista para com os trabalhadores e os povos vítimas de embargos, bloqueios e agressões
imperialistas – de que Cuba é um exemplo paradigmático, por, há mais de meio século, resistir a um
bloqueio injusto, ilegal e indigno, movido pelos EUA.
5.5.8. A CGTP-IN defende que a ONU, em obediência aos princípios e objectivos definidos na sua Carta
Constituinte e tendo por base o Direito Internacional, deve desempenhar um papel independente e activo
em defesa da paz.
5.5.9. A existência da NATO não tem justificação, pelo que a CGTP-IN defende a dissolução deste bloco
político-militar. A defesa da paz exige o combate ao militarismo e à corrida armamentista, por um mundo
livre de armas nucleares e contra a instalação e permanência de bases militares estrangeiras,
designadamente, na Península Ibérica.
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5.5.10. A CGTP-IN defende formas de cooperação baseadas no respeito pela soberania dos povos, com
relações económicas e comerciais justas, que sejam mutuamente vantajosas, condição essencial para
um clima de paz e confiança recíproca e factor dissuasor de potenciais conflitos. No plano sindical, a
CGTP-IN propõe-se continuar a desenvolver acções diversificadas de cooperação com organizações
sindicais de diversos continentes, nomeadamente de cooperação para o desenvolvimento, com destaque
para os países de língua oficial portuguesa.
5.5.11. O quadro político e geoestratégico continua, hegemonicamente, dominado pelos EUA (ainda que
tenham perdido posições) e seus aliados, particularmente na Europa e no Brasil: O peso na economia
mundial dos chamados países emergentes tem ganho importância acrescida na cena política
internacional.
5.5.13. Neste contexto, muitos sindicatos têm organizado a resistência e luta pela ruptura com o actual
rumo e por políticas alternativas e de futuro. Mas a resposta do movimento dos trabalhadores é, ainda,
insuficiente, face à dimensão da ofensiva. É imperioso o desenvolvimento de dinâmicas de acção e
iniciativa, a nível bilateral e multilateral, para alargar relações, fomentar a unidade na acção, procurar
estimular convergências e alianças sociais, contribuindo para a elevação da consciência e do patamar da
luta dos trabalhadores e dos povos, para inverter esta situação e abrir caminho a reais alternativas que
assegurem o fim da exploração.
5.5.15. A unidade na acção dos trabalhadores e dos sindicatos em todo mundo, respeitando a identidade
e diversidade da composição e objectivos das várias organizações, sem hegemonias ou discriminações,
tendo como princípios basilares a defesa intransigente dos direitos e interesses dos trabalhadores e o
progresso da Humanidade, é um objectivo maior e é afirmando estes princípios que a CGTP-IN promove
e favorece a unidade, a cooperação e a convergência com todas as organizações sindicais
representativas e consequentes, com e sem filiação internacional.
5.5.16. A acção internacional da CGTP-IN desenvolve-se, assim, à luz dos seus princípios norteadores e
de acordo com o seu estatuto de organização sem filiação mundial, com as duas centrais sindicais
mundiais – a FSM e a CSI – e com as diversas organizações sindicais de âmbito continental, regional,
sub-regional e nacional, na base de interesses e objectivos concretos e de propostas de acção comum ou
convergente, avaliadas em cada momento.
5.5.17. A CGTP-IN manterá o seu relacionamento com as centrais sindicais mundiais e com os
movimentos sindicais representativos e com afinidades de princípios e acção no mundo, em defesa dos
interesses dos trabalhadores.
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direitos e aspirações dos trabalhadores, de que é exemplo particularmente grave o ataque ao direito de
greve enquanto forma de garantir a autonomia e liberdade sindical.
5.5.19. Por força da sua filiação na CES, a CGTP-IN participa em órgãos, organismos e grupos de
trabalho da CES, procurando aprofundar os contactos e acções convergentes com outras organizações,
com vista a favorecer estratégias de acção e luta capazes de responder aos problemas que os
trabalhadores e os povos dos países da Europa enfrentam. A CGTP-IN continuará a agir com vista a
favorecer a convergência e a unidade na acção com outras organizações sindicais da Europa, filiadas e
não filiadas na CES, em ordem ao desenvolvimento, com base em princípios de classe, de lutas que
respondam à defesa dos direitos dos trabalhadores.
5.5.20. A CGTP-IN defende a existência de relações bilaterais com centrais sindicais de todos os
continentes e a participação em múltiplos espaços multilaterais. Dá importância à sua intervenção na
Comunidade Sindical dos Países de Língua Portuguesa (CSPLP), organização que agrupa centrais
sindicais de Portugal, Brasil, Galiza, Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e Timor-Leste. A
CGTP-IN dará, ainda, especial atenção, no continente africano, às relações com a COSATU /África do
Sul) e a OUSA; na América Latina, às centrais sindicais do Brasil, Cuba, Venezuela e Uruguai, entre
outras; na Ásia, à central sindical da China e à do Vietname e ao movimento sindical japonês; no Médio
Oriente, à Palestina e Confederação Internacional dos Sindicatos Árabes (CISA).
5.5.21. No plano mundial, a CGTP-IN manterá o seu relacionamento com a FSM e a CSI e, reiterando a
sua postura de classe, reafirma o seu estatuto de não filiação mundial e a sua decisão de que, qualquer
alteração a este estatuto, é da competência exclusiva do Congresso.
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