Primeira Avaliação - Tales Felipe Ferreira Isabel

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Universidade Federal de Minas Gerais

História do Brasil III


Primeira Avaliação
Aluno: Tales Felipe Ferreira Isabel

Questão 2
Analise a formação da classe trabalhadora nas cidades
industriais brasileiras nos anos iniciais do século XX e argumente sobre os
impactos políticos de tal processo.
Ao contrário do esperado pela maioria da população, a República instaurada no
Brasil em 15 de novembro de 1989, não trazia consigo os ideais igualitários de sua
“irmã” francesa. A república brasileira não se mostrava favorável à todas as camadas da
população, o que causou insatisfação em vários setores da sociedade, estando dentre
eles o da classe operária. Segundo Cláudio Batalha, a República não conseguiu atender
aos anseios da população operária e neste ínterim o autor diz que à insatisfação dessa
parcela da sociedade seria dada três tipos de resposta ao governo:

“ (...) A primeira foi a da busca de obtenção de direitos sociais, sem


questionamento do sistema político, sustentada pelo positivismo,
cooperativistas e toda uma série de manifestações do sindicalismo reformista.
(...) A segunda resposta foi aquela que propunha a conquista de direitos
sociais aliada a direitos políticos, visando à mudança do sistema pela
participação no processo político-eleitoral, posição dos socialistas e dos
setores mais politizados do sindicalismo reformista (...).Finalmente, a posição
de negação da política institucional, depositando na ação direta a forma de
pressão necessária para a obtenção de conquistas, defendida por sindicalistas
revolucionários e anarquistas” (BATALHA, p.178-179).

Antes de se considerar os operários como uma força movente da sociedade,


devemos nos debruçar em como ocorreu o processo de criação e consolidação destes
indivíduos como classe. Para Batalha ao se pensar na formação da classe operária não se
deve “estabelecer uma relação automática entre a forma assumida pelo trabalho e a
existência da classe operária, que, mais que uma decorrência da forma de trabalho, é o
modo como esses trabalhadores se percebem” (BATALHA, p.166).
Inicialmente ao pensarmos na composição desta classe, erroneamente atribuímos
a ela características como fabril, branca e masculina. Tal assertiva não considerou todos
os trabalhadores brasileiros, se atendo apenas aqueles que laboravam nas indústrias
situadas em grandes cidades como São Paulo, desconsiderando a existência de pequenas
oficinas de manufatura, a presença de negros, bem como o expressivo número de
mulheres que trabalhavam principalmente nos ramos têxtil e de vestuário.
Uma tese que por muito tempo vigorou foi a vinculação direta entre a imigração
e o surgimento da classe operária, entretanto, tal tese deve ser vista com certo
descrédito, pois, apesar da presença maciça dos imigrantes nos movimentos operários, a
grande maioria destes indivíduos provinha do campo, não tendo qualquer tipo de
experiência sindical ou política. Batalha (2018) defende que a presença dos imigrantes
causava conflitos étnicos, o que muitas vezes dificultava a organização operária.
Outro fator a ser analisado para o entendimento dos trabalhadores como uma
classe, são as ideologias políticas que os guiaram neste caminho. O socialismo e o
anarquismo estiveram presentes nos movimentos, todavia, o segundo, acaba por
suplantar o primeiro, e se torna a força organizadora dos movimentos operários durante
a Primeira República, em razão do cenário político da época.
Dessa forma entende Batalha:

“(...) O que levou o anarquismo a suplantar o socialismo na preferência de


muitos militantes operários deve-se menos às características do tipo de
trabalhador que militava nesse movimento e muito mais às condições
políticas do Brasil da Primeira República. Pois é difícil supor que um
socialismo em grande parte voltado para a mudança através do processo
eleitoral, que distingue o socialismo da Segunda Internacional, pudesse
florescer em um quadro político em que o espaço para a participação eleitoral
dos trabalhadores fosse tão limitado quanto o caso brasileiro(...)”
(BATALHA, p.175)

Os socialistas tinham como escopo inicial a ampliação dos direitos políticos, por
meio da expansão do direito ao voto e a participação efetiva de representantes da classe
operária no cenário político brasileiro, o que consequentemente faria surgir uma
cidadania operária. O conceito dado à cidadania pelo Partido Socialista Brasileiro
propunha que está garantiria ao trabalhador melhores condições de trabalho e proteção
legal aos trabalhadores, bem como afirmava que tais benesses seriam alcançadas através
de medidas fiscais a serem adotadas pelo Estado. Para os socialistas os direitos sociais e
políticos eram interdependentes e indissociáveis.
O anarquismo, por sua vez, não tinha na via eleitoral/política o caminho para a
mudança da realidade da classe operária brasileira. Os anarquistas rechaçavam os
partidos políticos e suas ações assistenciais, acreditando que a transformação da
realidade da classe operária se daria através da revolução social, que teria sua base na
educação da classe trabalhadora. Em contraponto, os socialistas tinham nos partidos
políticos o único caminho para uma organização da classe operária e de sua efetiva
participação política eleitoral. Apesar de divergências quanto a qual caminho ser
seguido, anarquistas e socialistas coadunavam quanto a importância do trabalho, da
dignidade do trabalhado e a oposição aos exploradores da classe.
Não obstante a presença das referidas ideologias políticas, que buscavam
inicialmente direitos políticos, ou seja, de representatividade política, a maioria dos
grupos do movimento operários lutavam por direitos sociais.
O Círculo dos Operários da União é um exemplo de organização operária
diferente, que acreditavam que os parlamentares e o Estado não poderiam se omitir em
face das reivindicações dos operários. Entendiam que não havia necessidade de uma
luta política ou um conflito direto, utilizando se apenas da pressão moral para alcançar
seu intento.
Outra faceta do movimento operário presente no Brasil é o sindicalismo
revolucionário ou anarcossindicalismo, entretanto, apesar desta nomenclatura não pode
ser considerado uma ramificação do pura anarquismo. O Congresso Operário de 1906 é
o marco inicial para o surgimento dessa espécie de movimento no Brasil. Ângela
Gomes, assim descreve este acontecimento:

“O I Congresso Operário de 1906 constitui um marco importante para a


história do movimento operário no Brasil. Organizado pela Federação
Operária Regional Brasileira que havia sido criada em 1905 no Rio,
sucedendo à Federação das Classes Operárias, que data de 1903, o congresso
foi uma iniciativa que traduziu a disputa existente entre diferentes orientações
ideológicas no movimento sindical. Embora suas resoluções consagrassem
uma proposta de base anarcossindicalista, este fato estava longe de significar
o predomínio ou a vitória dos grupos anarquistas, inegavelmente fortes no
Rio e em São Paulo. Não há dúvida de que a emergência dos anarquistas foi o
grande destaque do período, mas a permanência dos socialistas, bem como o
surgimento ele iniciativas de outro teor devem ser observados. (GOMES.
p.111)

Essa espécie de mobilização operária passa a reivindicar os direitos da classe


através da realização de greves, nesse sentido versa Batalha:

“(...) Ao contrário de outras correntes que buscavam a garantia de direitos


sociais através da legislação, o sindicalismo revolucionário acreditava
unicamente na capacidade de mobilização dos trabalhadores para garantir que
os patrões mantivessem as conquistas obtidas em greves”. (BATALHA,
p.184,185)

Apesar de estar fortemente presente nas greves de 1917 e 1919, o movimento


operário inicia seu declínio a partir de 1919, este que segundo Batalha (2018) se deu em
razão de um “caráter geograficamente desconcentrado” do movimento, onde não havia
uma coordenação nacional, tendo as confederações um papel mais figurativo do que
real. Da mesma forma ocorre com os partidos operários, que com exceção do Partido
Comunista, atuavam somente em escala municipal ou estadual, não tendo uma
abrangência nacional.
Apesar do reconhecimento como classe e do inicio da luta operaria ter se
iniciado na República Velha, foi somente durante o governo Vargas, que uma
verdadeira regulamentação dos direitos dos trabalhadores realmente foi realizada pelo
Estado.
Referências Bibliográficas

Batalha, Cláudio. Formação da classe operária e projetos de identidade coletiva. In


Ferreira, Jorge e Neves, Lucília (org.). O Brasil republicano. Tempo do liberalismo
excludente. RJ, Civilização Brasileira, 2006.

GOMES, Ângela Maria de Castro. A Invenção do Trabalhismo. – 3ª. Ed. – Rio de


janeiro: Editora FGV, 2005.

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