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2021
AVISO
A tradução foi efetuada pelo grupo Luxury Traduções (LT),
de modo a proporcionar ao leitor o acesso à obra, incentivando à posterior aquisição. O objetivo do grupo é selecionar livros sem previsão de publicação no Brasil, traduzindo-os e disponibilizando-os ao leitor, sem qualquer forma de obter lucro, seja ele direto ou indireto. Levamos como objetivo sério, o incentivo para o leitor adquirir as obras, dando a conhecer os autores que, de outro modo, não poderiam, a não ser no idioma original, impossibilitando o conhecimento de muitos autores desconhecidos no Brasil. A fim de preservar os direitos autorais e contratuais de autores e editoras, o grupo LT poderá, sem aviso prévio e quando entender necessário, suspender o acesso aos livros e retirar o link de disponibilização dos mesmos, daqueles que forem lançados por editoras brasileiras. Todo aquele que tiver acesso à presente tradução fica ciente de que o download se destina exclusivamente ao uso pessoal e privado, abstendo-se de o divulgar nas redes sociais bem como tornar público o trabalho de tradução do grupo, sem que exista uma prévia autorização expressa do mesmo. O leitor e usuário, ao acessar o livro disponibilizado responderá pelo uso incorreto e ilícito do mesmo, eximindo o grupo LT de qualquer parceria, coautoria ou coparticipação em eventual delito cometido por aquele que, por ato ou omissão, tentar ou concretamente utilizar a presente obra literária para obtenção de lucro direto ou indireto, nos termos do art. 184 do código penal e lei 9.610/1998. SINOPSE
Eu nunca vi isso chegando...
Os ossos... A magia... A traição. Não é mais uma questão de em quem posso confiar - a resposta é ninguém. Agora, é sobre sobrevivência. Estou no coração da Ordem, tentando resolver uma série de desaparecimentos misteriosos, enquanto faço tudo que posso para não virar isca. Os inimigos estão circulando, e eles parecem não conseguir decidir se me veem como um peão ou uma ameaça. Oh, e há aquele pequeno problema de estar amarrada a Rogan, que agora quero matar. É hora de descobrir do que sou capaz. Porque me engane uma vez... Que vergonha pra você. Mas me engane duas vezes... e irei quebrar seus ossos. Meu nome é Lennox Osseous, e estou prestes a desencadear a ira da Bruxa de Ossos. Para todos os amantes de Untidy Joseph1. 01
Lábios quentes pressionam contra minha bochecha, e me
inclino para o toque terno. É uma sensação quente e familiar, e não sei por que, mas preciso muito disso agora. “Estou aqui,” garante-me uma voz forte e profunda, e procuro a fonte como um girassol procura o sol. “Estou aqui,” ele me diz novamente, e então aqueles lábios quentes estão nos meus, uma pressão suave me persuadindo amorosamente da escuridão. Eu o bebo, separando meus lábios para ele e aprofundando a conexão provisória que parece perigosamente frágil entre nós. Há algo de errado nesse sentimento. O que está entre nós deve ser forte, impenetrável, mas em vez disso, está à beira de se quebrar e estou com medo. O desespero se apodera do meu peito, e alcanço e enfio meus dedos no cabelo grosso e sedoso. Sua língua provoca a minha, e devoro o desejo e o calor que estão sendo alimentados para mim, tremendo enquanto o frio em meus ossos é afugentado. Mãos grandes e fortes seguram minhas bochechas enquanto o beijo se torna frenético, necessitado. Eu gemo, o som implorando por mais, e uma risada em resposta me faz chupar seu lábio inferior e, em seguida, dar uma mordida provocante. A satisfação se move através de mim com seu gemido de agradecimento em resposta, a fome escorrendo dele tão espessa quanto mel fresco. Sim. É assim que deveria ser, exclamo internamente quando a conexão que sinto em meu peito começa a se curar. Isso está certo, afirmo à medida que a corda fica mais brilhante e fica mais espessa, mais segura. “Rogan,” ofego, quebrando o beijo para que possa exigir mais, mas assim que seu nome deixa meus lábios, é a chave para desbloquear a verdade, para desbloquear tudo o que aconteceu. Imagens me assaltam. Prek soprando um pó na minha cara. Rogan segurando meu corpo mole enquanto negociava seu lugar na mesa. A sensação de uma agulha no meu pescoço, o que quer que estivesse na seringa roubando minha luta e minha consciência. Tudo bate em mim com uma força brutal e implacável, e sou lançada na realidade como se fosse um lago coberto de gelo congelante. Eu rompo a superfície da minha fantasia alimentada por Rogan com um suspiro, sentando enquanto o alarme bombeia em minhas veias. Meu coração está em um rápido staccato de pânico, e meus olhos não se ajustam rápido o suficiente a tudo ao meu redor. Rogan se senta na beira da cama em que estou, surpreso, seus olhos verdes me observando, incerteza e preocupação acesas em seu exame. Meus arredores estão fora de foco, mas eu o vejo. Tudo o que vejo é ele. Seu cabelo castanho café, a cicatriz beijando um lado do rosto, da sobrancelha à maçã do rosto. A culpa em seu olhar verde-musgo. A raiva surge em meu sangue, substituindo os traços de alarme que estavam lá. Queimo de fúria, e a preocupação no rosto de Rogan muda para cautela. “Fique longe de mim, porra,” rosno enquanto tento piscar para focar no mundo além o rosto indesejável de Rogan. Me afasto dele, lençóis emaranhados em volta dos meus membros até que sou parada por uma parede, prendendo-me entre ela e esse bruxo duvidoso. “Lennox, por favor,” ele rebate, suas feições suplicantes, com direito, como se ele tivesse qualquer direito de olhar para mim dessa maneira, qualquer direito de ser ouvido ou defender seu caso. Eu não estou interessada. Limpo meus lábios, como se pudesse limpar sua presença marcante, nojo e confusão guerreando dentro de mim. “Onde estou?” Exijo, esfregando meus olhos como se isso finalmente fosse trazer o foco ao meu redor. O que eles me deram? “Lennox, você precisa entender o porquê,” Rogan insiste, e eu zombo, balançando a cabeça em descrença. “Afaste-se de mim agora, ou eu vou fazer você se afastar,” rosno para ele em advertência, tentando e falhando em me mover ainda mais quando ele pega minha mão. Ele está falando sério? Ele realmente acha que, depois de tudo que fez, vou apenas ficar sentada quieta enquanto ele se defende? O que ele acha que pode dizer para apagar o que ele fez, apagar a traição e o egoísmo? “Por favor,” ele implora, a palavra tranquila e cheia de emoção. Eu não peneiro tudo o que ouço em sua petição de uma palavra, porque não consigo superar a sugestão de esperança que ouço em seu apelo. Isso me faz querer arrancar essa esperança do ar entre nós e esmagá-la em minhas mãos. Quero que ele veja o que penso sobre sua súplica, sobre sua necessidade de compreensão. Como ele pode pensar por um segundo que algo pode rolar depois do que aconteceu? Ele destruiu tudo o que poderia ter havido entre nós com uma palavrinha. Seno. O encantamento simples que ele usou muitas vezes para me nocautear gira em minha mente, atado com a voz de comando de Rogan e coroado com traição. A dor me atinge, mas a afogo em raiva. Esse bruxo não recebe mais nada de mim. Nem a minha dor. Nem o meu luto. E certamente nem a minha simpatia. Eu olho para ele, sentado a poucos metros de mim, imóvel e sem vontade de dar ouvidos ao meu aviso. Ele ainda não está me levando a sério. O pensamento que tive - pouco antes de ser nocauteada por tudo o que ele e a Ordem me deram - era que o faria desejar nunca ter posto os olhos em mim. Me concentro nessa promessa enquanto a magia enche meus membros e a retribuição enche meu coração. Um encantamento penetra em minha mente e, sem nenhum pensamento, agarro a magia com força e a deixo jorrar de meus lábios: ikur woor essenna ih beshee vot dhono sava ru. O terror ultrapassa o olhar de Rogan, e ele abre a boca para dizer algo, mas tudo o que sai é um gemido de dor. Ele agarra seu torso com as duas mãos, e todos os músculos de seu corpo se contraem enquanto ele solta um berro agonizante. O som cru de sua dor ataca, e tento arremessá-lo para longe de mim. Me endureci contra sua agonia. Ele me machucou, e agora é hora de machucá-lo de volta. Rogan ergue os olhos suplicantemente, seu rosto manchado de roxo como se ele tivesse prendido a respiração por muito tempo. O sangue começa a pingar de seu nariz e, em seguida, há rastros vermelhos saindo de seus olhos também. Posso ver as perguntas e a traição em seu olhar acusador antes que o verde de seu olhar se perca para o sangue escorrendo deles. Uma explosão de satisfação faísca por mim, mas quando Rogan cai no chão e começa a vomitar sangue, sou derrubada de meu poleiro de vingança por uma onda de incerteza. A magia jorra de mim e tento ignorar a inquietação de meus pensamentos. Lembro a mim mesma que ele merece isso, envolvendo-me em um cobertor grosso de justificativa. Ele me traiu. Violou minha confiança. Ele merece isso. Poças de sangue embaixo da cama em que ainda estou sentada. Pelo menos acho que é uma cama; Ainda não consigo entender nada além de Rogan. Ele convulsiona no chão, e é tão difícil e brutal que me preparo para ouvir o som de ossos quebrando a qualquer minuto. Ele engasga, suspiros molhados quebrando o som de ânsia de vômito. É tão violento e gráfico que meu estômago se revira em rejeição ao que está acontecendo diante dos meus olhos. O sal inunda minha boca, e coloco a mão sobre ela para acalmar o grito que tenta escapar. Eu tento puxar a magia de volta, para parar o que está acontecendo, enquanto contorções mortais enchem os membros de Rogan e o sangue jorra dele. Isso é o suficiente, digo a mim mesma enquanto luto para ganhar o controle. Mas é como se a magia que está saindo de mim fosse escorregadia e não pudesse segurá-la. “É o bastante!” Grito, rachaduras soando ao meu redor enquanto os ossos de Rogan desistem e se quebram. “Pare!” Eu imploro, mas o ácido rasteja pelo meu esôfago, e a próxima coisa que sei, a retribuição vem derramando da minha boca. O gosto acobreado do sangue preenche meus sentidos e, antes que minha visão pisque em vermelho, vejo meu próprio sangue começar a se acumular ao meu redor. Nunca senti nada parecido com a dor que me persegue neste momento, e estou perdida nas lufadas de sangue que jorram de mim. O chão sobe impiedosamente para me encontrar enquanto caio. Tudo que posso ouvir além de minha própria morte é a voz de Rogan quando ele me disse, o que acontece com minha alma acontece com a sua. O que acontece com meus ossos, acontece com os seus. Estamos vinculados agora e, a menos que eu remova, não há nada que você possa fazer para mudar isso. Meu corpo começa a ter convulsões e sei que isso vai acabar logo. Meus pensamentos disparam, e o gosto de sangue em minha boca é substituído pelo gosto amargo do arrependimento. O que minha vovó vai pensar? O que será da linhagem? Tad e Hillen vão me perdoar? Eles saberão o que aconteceu? A agonia aperta como um punho em volta do meu coração, e todas as minhas perguntas, todos os meus pensamentos distorcidos de retribuição e justiça são substituídos por um medo paralisante. O que eu fiz? A magia está perdida para mim, eu não poderia controlá- la mesmo que tentasse. O dano é grande demais para ser recuperado. Tento tirar o sangue da minha visão, e meu olhar apavorado e turvo pousa em olhos verdes vazios. Olhos que me olharam de tantas maneiras diferentes. Com traição. Com atração. Com esperança. E agora com a morte. Eu olho fixamente nos olhos agora sem vida de Rogan, e quero perguntar por que, mas em minha cabeça, eu ouço a resposta alta e clara... Nós fizemos isso um ao outro. A sensação de queda toma conta e, estranhamente, caio em algo duro. Com um suspiro, sou arrancada da minha própria morte e me encontro em um chão de madeira escura, piscando e ofegando enquanto me sento. O pânico agarra minha garganta, e tusso com força para limpar minhas vias respiratórias de... nada. Não há nada na minha garganta. Nenhum sangue. Sem morte. Nada. E, no entanto, o gosto amargo do arrependimento ainda permanece na minha língua seca como o deserto. Eu olho ao redor freneticamente, observando o que parece ser um apartamento pequeno e chique, mas Rogan não está aqui. Ele não está deitado ao meu lado, morto no chão em uma poça de sangue. Seus olhos sem vida podem assombrar meus sonhos futuros, mas eles não estão olhando para mim do chão. Aperto meu peito, meu coração disparado com o pesadelo do qual acabei de acordar. O pobre órgão bate furiosamente, claramente descrente de que o que acabou de acontecer não foi real. Foi uma profecia? Uma espécie de prenúncio? Ou apenas minha mente fragmentada tentando consertar tudo o que aconteceu? Um copo d'água está na mesa lateral preta ao lado da cama king-size da qual acabei de cair. Bolhas cobrem as paredes internas do vidro, me levando a acreditar que está lá há algum tempo. Pego e engulo com avidez. Preciso lavar o gosto da perda da minha boca, me livrar da culpa em que estou nadando, embora o que acabou de acontecer não seja real. Eu não matei Rogan. “Apenas um sonho,” murmuro para mim mesma enquanto limpo minha boca com o antebraço e me levanto. Estou usando a mesma camiseta cinza e jeans de antes. Eles não parecem piores pelo uso, o que - apesar do que a água morna e parada possa indicar - me faz pensar que não apaguei por muito tempo. Minhas pernas parecem instáveis e fracas quando coloco meu peso sobre elas, e me sinto toda agitada e frágil como se estivesse me recuperando de uma cólica estomacal ou algo assim. Esse pensamento evoca imagens de Rogan vomitando sangue, e me encolho do flash imaginário de sua dor. “Só um sonho,” repito, mas sinto que pode ser mais um aviso. Examino a madeira escura do apartamento ao meu redor. Marrom escuro e preto compensam os tecidos cinza claro na cama, sofá e cadeiras. É uma configuração estilo flat. Posso ver uma sala de estar, uma cozinha e uma porta que dá para um banheiro, espero, com outra porta que parece ser a entrada e a saída desse espaço. Não tenho certeza do que fazer ao meu redor. Quando Prek e Rogan me drogaram, esperava acordar em algum tipo de cela. Barras e concreto polido não me surpreenderiam, mas isso... Não sei o que isso significa. Rogan mudou de ideia e me roubou para onde quer que seja esse lugar? Alguém mais me resgatou? Olho para a porta, sem saber o que fazer. Devo fugir? Quero dizer, mesmo se puder escapar, quão longe posso chegar? Com a Ordem procurando por mim, um possível sequestrador ainda a ser confirmado caçando Osteomantes, e a questão não resolvida de Rogan e eu ainda estarmos amarrados, as chances não eram boas. Devo esperar Rogan aparecer e então forçá-lo a voltar para a casa de sua tia para remover nossa amarração? Isso é possível se uma metade da conexão quiser usar a outra metade? E se Rogan não for quem me trouxe aqui, então quem? Minha cabeça dói com o peso das questões que estão pesando sobre mim. Dúvida, confusão e perguntas aplicam mais e mais pressão à minha mente já exausta conforme os segundos passam. Então, coloco tudo de lado e me concentro na questão mais urgente com a qual estou lidando agora. Tenho que fazer xixi como um cavalo de corrida. Tropeço com as pernas instáveis até o banheiro, alguma aparência de um plano se formando quando me jogo no trono de porcelana, suspirando de alívio quando as comportas são abertas. Primeira fase do plano: esvaziar o tanque. Segundo: reabasteça rastreando um pouco de comida. E por último: rasgar este lugar em busca de pistas de quem o possui e partir daí. Dou a descarga e me lavo, surpresa com o que encontro no espelho olhando para mim. Mais uma vez, minhas expectativas em relação ao meu reflexo estão longe da realidade. Eu me sinto fraca e trêmula e espero encontrar um reflexo que pareça tão abatido quanto me sinto, mas não é isso que está olhando para mim no espelho. Pareço bem. Tipo, muito bom. Há um brilho saudável em minha pele marrom- amarelada. Pareço cheia de vida e, estranhamente, estou praticamente com um efeito suave de photoshop. Eu recebi uma dose de refrescante e bonita quando amarrei os ossos pela primeira vez, mas isso... isso é outro nível. Não apenas pareço uma Osteomante bonita, pareço, bem, a Rainha de Todos os Ossos. Giro meu rosto no espelho e cutuco meus lábios carnudos e minha pele lisa. Luto contra a vontade de levantar minhas mãos acima da minha cabeça e gritar eu tenho a força, estilo He-man. Me inclino mais perto do espelho e afofo minhas madeixas. Droga, até meu cabelo tipicamente rebelde parece domesticado por profissionais. Inclino minha cabeça para um lado e para o outro, as mechas em tons de canela quebram minha massa marrom escura de cachos, adicionando dimensão. E, surpreendentemente, cada fio na minha cabeça parece luminoso e sem frizz. Fico olhando para mim mesma estupefata, minha íris castanho-douradas me encarando curiosas e parecendo um pouco assustadas demais. Desvio o olhar antes que esse olhar possa me sugar e me lembrar de como a minha realidade é dolorosa. É hora de ficar séria. Chega de se maravilhar com Extreme Makeover2: Edição Mágica, é hora de se concentrar no que diabos fazer agora. Com um giro de pescoço, tento sacudir a exaustão de meus membros. Encontro um pão francês, uma Coca-Cola e um pouco de manteiga e concluo minha busca por comida. Coloco mordidas na boca como se tivesse assumido a profissão de comer rápido, deixando cair migalhas por toda parte enquanto procuro no pequeno, mas luxuoso flat. Fico ainda mais perplexa quando não encontro nenhuma roupa nas gavetas e nada pendurado no armário do quarto. Não existem fotos ou objetos pessoais em todo o local. Não tem nada além de móveis, decoração de casa, alguns produtos de higiene pessoal e comida. Olhando mais de perto, o que pensei ser uma parede branca e nua acabou por ser uma enorme veneziana de blackout. Tento abri-la, mas parece que preciso de algum tipo de magia remota ou elementar ou algo assim. Dou uma enorme mordida no pão quando começo a procurar na sala por algum dispositivo que abra as coisas quando ouço dois bipes fracos, e então a porta deste lugar se abre. Giro ao redor, meu coração disparado como se fosse Shelly-Ann Fraser-Pryce correndo para um novo recorde mundial, com preocupação e alarme em suas costas. Não é o rosto irritantemente bonito de Rogan que me localiza da porta, é o surpreso olhar castanho-avermelhado de Prek que encontra o meu. O membro da Ordem que atacou Rogan e eu, hesita na porta como se ele não esperasse me ver. Registro a reação, com a intenção de examiná-la mais tarde, mas não há hesitação em meus ossos enquanto avanço para ele. Tarde demais, ele sopra em minha direção, mas estou perto o suficiente para balançar e esbofeteá-lo com meio pão francês antes que um ciclone tente me puxar para longe. Instintivamente, infundo meus ossos com magia, tornando-os pesados, imóveis e me prendendo no lugar. Ele empurra mais magia para mim, mas cerro contra o ataque e dou um passo à frente, fechando a distância entre nós um passo forçado de cada vez. A magia está me chamando para esmagá-lo, tentando-me com o pensamento de que um simples encantamento poderia fazê-lo virar poeira debaixo dos meus tênis. Rejeito a ideia imediatamente, ecos do pesadelo que tive pouco antes de acordar aqui ainda pairando sobre mim ameaçadoramente e indecifrável. Isso e, goste ou não, Prek é um membro da Ordem. Eles podem não estar jogando com o mesmo conjunto de regras de honra e moralidade que eu, mas não posso começar uma guerra com a Ordem. Não se quiser viver. Ou tentar sair de qualquer situação fodida em que Rogan me forçou. Chuto seus pés debaixo dele e aponto outro chute em suas costelas assim que suas costas batem no chão. Ele não imaginou que eu tentaria lutar fisicamente com ele, o que parece idiota, dado o tapa de pão que dei segundos atrás. Isso me faz questionar o tipo de idiotas despreparados que a Ordem contrata, mas então ele rola para longe do meu chute e levanta novamente, com um olhar irritado em seus olhos. Retribuo seu olhar zangado com um que grita foda-se você e a vassoura em que você montou, e nós dois preparamos nossa postura. “Dimmers3 inúteis, eu vou matar quem quer que tenha feito este aqui muito forte,” Prek rosna, mas tudo o que ele está falando não é para mim, é mais como se ele estivesse fazendo uma lista de tarefas para depois que bater na minha bunda. Fecho meus punhos e trago minhas mãos para cima, pronta para ir de igual para igual. O queixo de Prek se contrai, acentuando sua mandíbula quadrada. Ele está barbeado agora, sem barba preta para cobrir a pele escura e lisa de suas bochechas ou para esconder seus lábios carnudos. “Eu não quero lutar com você, Osteomante, mas lutarei se você me forçar,” ele avisa, tenso e esperando que eu ataque. Dou um bufo indignado em resposta. “Poderia ter me enganado com a maneira como você me atacou... duas vezes,” aponto, adicionando uma pitada extra de irritação na última palavra. “Onde estou?” Exijo, olhando além dele para o que parece ser um corredor de apartamento simples. Por que diabos Prek me traria para sua casa? Está na ponta da minha língua perguntar onde Rogan está, mas engulo a pergunta, determinada a me engasgar se isso impedir que as palavras escapem de meus lábios. “Você está em Chicago, na sede da Ordem. Você está segura, não estou aqui para te machucar,” declara ele, seu corpo relaxando levemente. Otário. Eu finjo um chute, e ele gira seu corpo para longe do meu para me impedir de acertar qualquer coisa. Aproveito sua torção e dou um soco em suas costas, bem no rim. Prek grunhe de dor, mas se recupera mais rápido do que eu esperava. Seu punho acerta minha bochecha e minha cabeça vira para a direita. As vértebras do meu pescoço estalam em objeção e sinto meu lábio rachar com a força do golpe. Rosno, ameaçadoramente, de repente repensando todo o esquema de transformar em pó que minha magia estava querendo antes, mas minha raiva é abafada por um grito indignado, e de repente Rogan está lá agarrando Prek pelo pescoço. Rogan o levanta do chão como se o membro da Ordem não pesasse nada. “Nunca mais toque nela,” ele rosna em seu rosto, e Prek agarra a mão em torno de sua garganta, chutando e procurando por apoio em vão. “Eu deixei você ter seu acesso de raiva por tempo suficiente,” Rogan grita com ele. “Você quer uma chance contra mim, aqui estou. Mas você nunca mais virá atrás dela, ou então que a deusa me ajude, eu mato você. Sua ignorância ou inocência não serão mais um fator, você me entendeu?” Rogan avisa, sacudindo Prek uma vez para garantir. “O que está acontecendo aqui?” Uma mulher autoritária exige, marchando para a sala e avaliando a cena. Ela parece estar na casa dos cinquenta anos, com mechas grisalhas salpicando seu cabelo castanho claro. Ela está vestida da cabeça aos pés com um uniforme preto de estilo militar com símbolos amarelos bordados na gola e nos punhos da camisa imaculada que está cuidadosamente enfiada em suas calças, que são cuidadosamente enfiadas em botas de merda. “Uma lição atrasada,” Rogan rosna, seus olhos nunca deixando os de Prek. Eles se encaram por mais um segundo, e então Rogan deixa o membro da Ordem ir. Prek fica de pé, mas não desaba no chão como eu esperava. Ele tosse e cuspe enquanto esfrega a garganta e respira fundo em seus pulmões famintos. Ele atira um olhar furioso para Rogan, mas há algo mais em seu olhar, suspeita, confusão, não tenho certeza do que é, mas não consigo examiná-lo mais de perto enquanto a mulher grita uma ordem para Prek falar. “Desculpas, Major. Entrei nos aposentos da Osteomante Osseous para guardar roupas. Ela estava acordada antes do horário que o curandeiro previu e me atacou. Eu tentei diminuir a situação, que foi quando Kendrick me atacou por trás,” Prek recita, endireitando-se para prestar atenção na presença dominante da mulher. Olho para o chão e encontro uma bolsa preta com roupas caindo dela. Olho para cima, meus olhos pousando em Rogan, e rapidamente tiro meu olhar longe como se eu tivesse acabado de tocar acidentalmente uma superfície quente e estivesse tentando evitar me queimar. “Disseram-me que você manteria seus animais de estimação em uma coleira,” Rogan ataca a mulher venenosamente. “E me disseram que você manteria seus modos selvagens para si mesmo,” ela retruca. Seus olhos castanhos encontram os meus e nós nos estudamos. “Eu sou a major Griego,” ela oferece e faz uma pausa, esperando que eu conclua o ritual de apresentação. Não digo nada. A diversão cintila em seu olhar. “Você está na sede da Ordem de Chicago e foi trazida aqui para sua própria proteção.” “Engraçado,” retruco com uma risada vazia. “Trazida aqui para minha proteção parece muito com agressão e sequestro,” digo a ela, incisivamente olhando dela para Prek e vice-versa. Recuso-me a olhar para Rogan. Quero gritar e reclamar com ele e, em seguida, bani-lo da minha presença para sempre, mas agora, estou tentando descobrir se é melhor ou pior para mim colocar uma frente unida. “Ninguém pensou em apenas me perguntar, avisar que eu precisava de guarda-costas? Não? Em vez disso, recebo uma agulha no pescoço? Quero dizer, vocês dão uma primeira impressão horrível para uma organização que está tão preocupada com minha segurança e proteção,” aponto. Ela acena com a cabeça uma vez como se ela entendesse minha raiva e não se ofendesse nem um pouco. “Lamento pelas circunstâncias em torno de sua chegada aqui. Não sabíamos o que esperar de alguém que se aliou a um bruxo renunciado. Tomamos precauções extras para proteger a nós e a você, mas posso ver como seria recebido como, como você colocou isso... certo, uma primeira impressão fodida,” ela me diz, seu olhar cheio de compreensão e um sorriso atrevido puxando um lado de seus lábios. “Garanto-lhe que não é uma prisioneira aqui e não a trataremos como tal. Estamos aqui para mantê-la fora do alcance de quem quer que tenha levado todos os outros Osteomantes, nada mais, nada menos. Você não está confinada aos seus aposentos. Você tem permissão para sair do prédio, mas esteja ciente de que uma equipe de segurança foi atribuída a você e eles a acompanharão aonde quer que você queira ir para a—” “Minha proteção,” interrompo, balançando minha cabeça em irritação. “Sim, entendi,” bufo indignada, querendo esfregar minhas têmporas e a dor de cabeça crescendo atrás delas. Paro, me recusando a mostrar qualquer fraqueza na frente desta bruxa. “Então, suponho que o seu pessoal seja minha equipe de segurança?” Pergunto, meu olhar irritado fixando-se em Prek. Ele acena com a cabeça uma vez. “Certo, porque isso faz sentido. Me coloque com o bando de bruxos que tentou me matar, mas ei, é para minha proteção, certo?” Rosno para a major Griego, lançando a ela um olhar que diz vamos lá, porra, você realmente acha que estou acreditando nisso? “Não estávamos tentando matar você,” Prek defende, mas um olhar da Major e ele fica ereto e silencioso. Levanto uma sobrancelha impressionada, apesar da minha irritação. Inscreva-me para esse super poder. “O capitão Prek e sua equipe foram designados para sua proteção. Cada um deles perderá a vida se isso significar mantê-la seguro. Entendo que as coisas entre vocês começaram de forma agressiva, mas não se engane, nenhum mal vai acontecer com você nas mãos deles,” ela me garante. “Isso não parece nenhum dano,” Rogan interrompe, apontando para o meu lábio dividido e a linha quente que posso sentir pingando lentamente dele. “Ela estava me atacando; não devo defender meu...” Prek imediatamente se cala novamente quando um pequeno ruído impaciente, escapa da major. “Você está equipado para lidar com isso, Prek?” ela questiona, sua sobrancelha levantada em julgamento, e ele endurece ainda mais. “Sim, senhora,” ele late em resposta, e um silêncio pesado rasteja ao meu redor enquanto algum tipo de troca silenciosa acontece entre eles. A Major Griego agita sua mão em minha direção, e sinto o gotejar lento de sangue escorrendo pelo meu queixo parar e meus lábios se franzem. Minha bochecha para de latejar e minha cabeça fica clara de dor. O choque me percorre enquanto a Bruxa de Almas faz o que as Bruxas de Almas fazem de melhor: ela me cura. Um obrigada quase sai espontaneamente da minha boca, mas aperto entre os dentes cerrados, me recusando a ser educada e ter boas maneiras depois de tudo o que aconteceu. Acho que minha tia Hillen entenderia se ela estivesse aqui. “Isso não muda o que aconteceu,” declara Rogan, a cura claramente menos impressionante para ele. “Por que você se importa?” Estalo para ele com punhais em meus olhos quando finalmente fixam nos dele. Bem, isso que chamo de uma frente unida. “Você é a razão de eu estar aqui. Se eu não estivesse, coisas como esta” gesticulo para a mancha de sangue na minha camisa “não estariam acontecendo.” Eu me afasto dele com desdém e me concentro na Major Griego. “Se estou livre para ir aonde quiser, então posso ir para casa?” Ela hesita por um instante e então acena com a cabeça. “Temos algumas perguntas que precisamos que você nos ajude, mas uma vez feito isso, sim, você pode ir a qualquer lugar que quiser, contanto que mantenha sua equipe de proteção com você.” Eu a avalio, estudando suas feições e procurando por qualquer sinal de mentira, qualquer coisa que possa denunciá-la. Duvido que seja tudo tão fácil, responder algumas perguntas e pegar meu caminho, mas uma pequena centelha de esperança pisca em mim de qualquer maneira. Olho para Rogan, debatendo minhas opções. Ele está furioso. A raiva irradia dele em ondas e isso me irrita. Se alguém nesta sala tem o direito de se sentir furioso, com certeza não é ele. Meu pesadelo vem à tona em minha mente. Posso ver o olhar suplicante de Rogan, sua necessidade de tentar fazer as coisas darem certo. Bem, aquele com certeza não é o olhar que ele usa na vida real. Não há desculpas gravadas em suas feições, nenhum tom de súplica me implorando para ouvi-lo. Parece que fui injusta com ele e isso faz meu sangue ferver. “Tudo bem,” concordo, rasgando meu olhar do olhar fixo sem remorso de Rogan. “Vou ajudar no que puder, com uma condição.” “E qual seria?” Pergunta a Major Griego. Posso ver em seus olhos que ela já sabe, mas a formalidade de expressar isso é importante. Retorno meu olhar fervente para Rogan. “Mantenha-o longe de mim,” declaro categoricamente. Os olhos de Rogan brilham com algo que não quero interpretar antes que uma rajada de vento o empurre impiedosamente para fora do apartamento, e a porta se feche atrás dele. “O prazer é meu,” declara Prek, uma pontuação para o que acabou de acontecer. Mas, em vez de me fazer sentir melhor, a mesma sensação de mau presságio que senti depois que acordei do pesadelo se instala em meu estômago. Fico olhando para a porta agora fechada, e tudo que posso ouvir é um eco reverberando em minha mente do meu último pensamento enquanto estava morrendo em meu sonho. O que eu fiz? 02
“Você gostaria de um passeio, Osteomante Osseous?” A
Major me pergunta, puxando-me de meus pensamentos conflitantes. Minha cabeça e meu coração estão em guerra e, assim como em todas as batalhas, sei que não haverá um verdadeiro vencedor. Não sei por que me sinto assim. Tenho todo o direito de ficar com raiva, de ficar lívida pelo resto da vida, mas, mesmo que isso seja verdade, algo está gritando comigo que escolher ficar puta para sempre é mortal. E Rogan não será o único sofrendo. Talvez seja a amarração. Talvez esteja distorcendo minhas emoções e tentando nos unir, mas mesmo quando penso assim, soa vazio de algo errado. “Leni,” corrijo a Major. “Me chame de Leni.” Ela acena com a cabeça uma vez e dá um passo adiante no apartamento estilo estúdio. Ela cruza as mãos atrás das costas, observando a bagunça que criei quando estava procurando por pistas de quem morava aqui. As almofadas do sofá estão voltadas para cima, o tapete puxado e dobrado ao meio. As bugigangas e livros que decoram as prateleiras de uma parede estão no chão e espalhados. Há uma explosão de torrões de pão e migalhas na porta da frente, e eu rebobino minhas memórias e tiro uma foto da expressão que estava no rosto de Prek quando dei um tapa nele com o pão francês - você sabe, para rir depois. “Estes serão seus aposentos enquanto você ficar aqui,” declara a major, e gemo por dentro. Talvez eles tenham alguém que possa fazer um abracadabra e voltar toda essa merda para o jeito que era antes de eu destruir tudo. A major tira um pequeno controle remoto branco de uma gaveta da caixa de TV que eu não percebi antes e, com um clique, a parede de venezianas brancas começa a se levantar. A noite me cumprimenta do outro lado das janelas, assim como as luzes da cidade ao nosso redor. Sei que o centro da Ordem é um dos muitos arranha-céus pontuando o horizonte de Chicago. E sabia que a Alta Sacerdotisa residia aqui, mas não sabia que a Ordem também. Suponho que faça sentido, no entanto. Estamos mais ou menos escondidos à vista de todos em uma cidade grande como esta, e é claro o por que o governante das bruxas gostaria de apoio próximo e acessível. Odeio que minha mente vaguei para Rogan com esse pensamento. Não quero me preocupar com como ele se sente estando tão perto de sua mãe, ou por que ele teria escolhido voltar para cá depois de tudo que aconteceu com ele neste lugar. Deixo de lado todas as minhas perguntas e preocupações não merecidas, voltando a sintonizar o que o Major Griego está dizendo. “A Ordem reside na totalidade do edifício. Você tem acesso a qualquer coisa, exceto os vinte andares superiores e qualquer coisa abaixo do porão.” Isso aumenta minha curiosidade, mas não me preocupo em perguntar o que há nesses andares ou por que não posso chegar perto deles. Não é como se ela fosse realmente me dizer. “Temos alojamento, treinamento, alimentação e entretenimento no local. Existem mapas nos elevadores que irão ajudá-la a encontrar o seu caminho, mas seus guardas irão garantir que você esteja onde deseja estar,” ela aponta, e tenho dificuldade em não entender o que isso pode significar. Seus olhos castanhos me estudam por um momento. “Tenho certeza que agora você sentiu o esgotamento de sua magia. Pode ser alarmante no início, mas você vai se acostumar com isso. O prédio tem proteções para seus habitantes, não é nada pessoal. Todos nós temos que suportar o enfraquecimento de nossas habilidades aqui, e isso deve se tornar uma reflexão tardia em breve.” Trabalho duro para melhorar minhas características. Não quero demonstrar o menor choque ou perplexidade. Um, porque não sinto nenhum tipo de drenagem na minha magia. Na verdade, sinto exatamente o oposto, como se eu fosse uma bateria mágica reforçada. A outra razão pela qual não quero revelar nada é que suspeito que os membros da Ordem recebem algo que os torna imunes a qualquer drenagem ou enfraquecimento a que ela se refere. Prek amaldiçoou os dimmers quando estávamos fazendo isso, como se eles o afetassem mais do que deveriam e é por isso que levei a melhor sobre ele. Mas não acho que foi isso que aconteceu. Parece para mim, que ele está mais focado em sua incapacidade de me entregar à magia em vez de perceber que esses dimmers não afetaram a mim e minha capacidade de lutar contra ele magicamente. A única razão pela qual ele não é pó de osso na madeira é porque eu queria saber contra o que estava lutando, o que estava acontecendo aqui. Mas essa imagem está ficando cada vez mais clara, e estou ficando muito grata por ainda ter acesso à minha magia do jeito que sempre tive. Olho para Prek. Ele ainda está em posição de sentido, seus olhos focados em nada enquanto a major continua a falar sobre minha nova prisão. Não me importo com o que ela diga sobre este lugar e todas as amenidades que abriga dentro de suas paredes, nós duas sabemos que é apenas uma cela de contenção de grandes dimensões. Ela pode falar docemente o quanto quiser sobre como estou livre depois de responder a algumas perguntas, mas com base no que me disseram, a Ordem tem contingências para suas contingências, e em algum lugar nessa confusão está o plano que eles poderiam me negociar pelas outras bruxas desaparecidas, assim como a nota de resgate afirmava. “Há oito suítes neste andar. Você ocupa uma. O renunciado ocupa outro, e sua equipe de proteção está alojado nas suítes restantes,” ela me diz, se movendo em direção à porta. “Podemos visitar as instalações e, então, se você estiver pronta, nos sentar e discutir por que foi trazida aqui,” a Major me diz, virando-se para ver se a estou seguindo. Faço uma pausa, não muito interessada em descobrir se a Ordem tem um bar de sucos naturais. Também não estou ansiosa para o início do interrogatório, embora espere poder colher algumas informações de tudo o que eles vão me perguntar. Mas primeiro, preciso ligar para casa. “Meu telefone se perdeu no acidente que Prek e sua equipe causaram,” começo, esperando aproveitar o aborrecimento anterior da Major com Prek e seu comportamento desordenado. “Preciso conseguir um novo, e preciso checar minha família. Eles vão ficar preocupados, eu não falo com eles há...” faço uma pausa, tentando calcular quantos dias se passaram. “Quanto tempo eu estive apagada?” Pergunto, odiando que eu não saiba a resposta. Sério, o que aconteceu com a minha vida para que isso se torne uma pergunta normal? “São oito horas da noite de quarta-feira,” Prek oferece, finalmente quebrando seu silêncio, e o alívio flui através de mim por não ter perdido mais um dia, apenas um punhado de horas. “Preciso ligar para minha família,” repito simplesmente, sem saber se isso vai ser permitido ou não. Me sinto como se estivesse cobrando o blefe da Major. Isso poderia resultar de várias maneiras. Ela poderia desviar e tentar me distrair do que estou pedindo. Recusar-se categoricamente a me deixar. Ou ela poderia me dar um telefone. Não tenho certeza de que direção ela vai tomar. Nós duas sabemos que há mais nisso do que minha proteção, mas não sei se ela vai mostrar sua mão logo de cara. Não quando eles querem algo de mim, ou pelo menos estou supondo que é por isso que estou realmente aqui. Nós nos observamos por um momento, e então ela acena com a cabeça uma vez. “Vou providenciar para que um seja enviado imediatamente. Prek, comigo.” E com isso, Major Griego e Prek vão embora, a porta se fechando silenciosamente atrás deles. Quase esperava que Rogan estivesse lá fora, esperando para invadir de volta para ameaçar Prek um pouco mais e me atualizar no que quer que esteja acontecendo, mas o corredor está vazio. Irritantemente, há uma parte de mim que está aliviada com isso e uma parte que não está. Solto um suspiro cansado e olho em volta de meus novos aposentos. Começo a pegar tudo o que joguei ao acaso quando pensei que esta era a casa de outra pessoa. As luzes da cidade agitada ao meu redor penetram no apartamento, e está muito longe das árvores e do ar fresco do Tennessee. O tráfego se move como formigas coreografadas bem abaixo de mim, e eu fico olhando enquanto o nó de sentimentos em meu peito tenta se desfazer. O pesadelo, ou aviso ou o que quer que tenha sido, ainda está na minha mente, mas o mesmo acontece com a dor e a traição que sinto. É como se estivesse presa no meio de um oceano sem um bote salva-vidas ou uma pessoa de confiança à vista. Ainda posso sentir o cheiro Rogan, sentir sua camisa pressionada contra minha bochecha, minhas lágrimas manchando-a uma por uma enquanto ele me carregava contra minha vontade para longe da casa de sua tia. Posso sentir seus braços em volta de mim enquanto suas ações destruíram o que tínhamos, o que éramos. Como posso estar amarrada a alguém que faria isso comigo? Sua tia disse que tudo acontece por um motivo, que talvez a conexão estivesse escrita nas estrelas, mas como poderia ser isso que o destino reserva? Olho ao meu redor, para o lar estrangeiro em uma cidade estrangeira. Estou mais perdida do que jamais estive em minha vida. Se meu sonho é um aviso, não posso matar Rogan, e o pior é que nem sei se quero. Quero que ele se machuque, e o quero longe de mim... para sempre. Infelizmente, não acho que posso fugir dele ou da Ordem. Duvido que tenha permissão para fugir, mas também não sei como devo estar na mesma sala que ele. Não acho que posso interagir ou superar o que ele fez. Uma batida na porta me assusta. Eu pulo, sacudida da minha imaginação melancólica e me movo para abri-la. Convenientemente, não há olho mágico. Espero que seja apenas um mensageiro com um telefone na mão para mim, e mais ninguém. Mas quando abro a porta hesitantemente, sou forçada a soltar um suspiro irritado. O mensageiro com um telefone em sua posição de provocação é Prek. Abro mais a porta e tento estender a mão e arrancar o dispositivo de sua mão, mas ele usa essa oportunidade para abrir caminho até meus aposentos. “Ei! Eu não convidei você para entrar,” estalo enquanto ele passa por mim e estaciona sua bunda indesejada em um banquinho baixo que ele puxa do recanto de comer na cozinha. “Eu sou seu destacamento protetor, não preciso de permissão,” ele anuncia uniformemente, deslizando o telefone sobre o balcão em minha direção. Me movo para pegá-lo, sua atitude correta e blasé me irritando. Olho para ele, observando seu semblante arrogante. Ele não é muito mais velho do que eu, vestido com um uniforme todo preto de estilo militar com bordado amarelo que acho que indica sua posição na Ordem, mas não tenho certeza. O ônix do uniforme contra sua pele escura, cabeça calva e barba curta e bem cuidada o faz parecer uma sombra e letal. Ele claramente pensa muito sobre si mesmo, e de repente eu sinto que é meu dever corrigir isso. “Bem, vá ficar lá fora e polir sua cabeça ou algo assim. Você com certeza não é bem-vindo aqui.” Sim, terei que trabalhar em um material melhor do que esse. “Não posso fazer isso, Leni,” ele brinca. “A Major me deu ordens estritas para recuperá-lo quando você terminar com ele e não deixá-lo sozinho enquanto você o tiver,” ele me informa, seu queixo inclinado para indicar o telefone na minha mão. Ele se parece com um puxa saco que foi colocado no comando, e você sabe que ele está apenas amando o poder que o foi concedido. O calor queima minhas bochechas e a raiva ferve no meu estômago. “Para quem ela pensa que vou ligar? Por que diabos minha conversa precisaria ser monitorada?” Exijo, o poder brotando em meu peito, pronto e esperando para ser chamado. Trabalho para me acalmar internamente, não adianta mostrar que não sou tão afetada como deveria ser por suas medidas de segurança. Preciso guardar essa surpresa para quando puder tirar vantagem disso. Prek dá de ombros arrogantemente em resposta, e nós nos encaramos por um momento. Tenho a nítida impressão de que ele quer que eu argumente, tente lutar contra isso ou talvez ele de alguma forma. Não tenho certeza do que ele tem na manga para nivelar o campo de jogo nesta rodada, mas não estou interessada em descobrir. Doninha do caralho. Respiro fundo em um esforço para não fazer algo de que possa me arrepender. Meus olhos nunca deixam o olhar arrogante de Prek, e silenciosamente repasso em minha cabeça como ele parecia na noite em que quase o matei na beira da estrada. Ele pode sorrir para mim o quanto quiser, pensando que tem a vantagem, mas nós dois sabemos quem ganhou quando ficamos cara a cara. Provavelmente deveria me preocupar que tal pensamento mórbido me oferece conforto e segurança, mas não questiono isso. Já fiz muitas perguntas na minha vida e veja onde acabei de qualquer maneira. Não. Agora é hora de se tornar o que sempre foi escrito nas estrelas. Agora é hora de abraçar tudo o que está acontecendo comigo. “Tudo bem,” admito, olhando para o telefone e abrindo-o. Eu digito o número de Tad, grata pela noite em que ele me forçou a memorizá-lo apenas no caso. “Leni, é você?” ele me cumprimenta, e uma calma toma conta de mim ao som da voz de meu primo. “Sou eu,” confirmo, meus ombros cedendo como se meu corpo quisesse se dobrar sobre si mesmo com tristeza. “Lynyrd Skynyrd, em que bolas de cabra você esteve?” Tad exige freneticamente. Eu solto uma risada cansada. “Bolas de cabra?” Eu provoco, melancolia e alívio dançando juntos em meu peito. “Hillen está aí?” “Não, ela está na casa do tio Glen, ajudando Jill. Não tenha ciúme de minhas habilidades criativas de xingar e não mude de assunto. Onde você esteve? Só tentei falar com você um kabilhão de vezes nos últimos dias,” ele me informa, e meu alívio é rapidamente substituído por preocupação. “Por que, o que aconteceu?” Pergunto enquanto minha mente começa a criar cenários de pior caso, enquanto Julia Child bate clara de ovo. “O que? Nada,” Tad me tranquiliza. “Quero dizer, exceto meu gaydar ainda está intacto e ativo, oh, e alguém invadiu a loja da Vovó Ruby, bem, sua loja agora...” “O que? Eles sabem quem? Eles levaram alguma coisa?” “Não que possamos dizer. Você tem o grimório e os ossos, certo?” Olho ao meu redor como se esperasse que eles estivessem ali, mas então me lembro que deixei tudo na casa de Rogan. Uma coceira para convocar meus ossos apenas para ter certeza de que posso, começa logo abaixo da minha pele, mas não tenho certeza se isso é algo que eu deveria ser capaz de fazer com as proteções que instalaram ao redor deste lugar. Debato se devo ir ao banheiro e tentar, mas acho que isso só vai deixar Prek ainda mais desconfiado. Merda. “Sim, eu os tenho. Eles entraram no apartamento?” Pergunto, andando. Preciso do movimento para me ajudar a me aterrar, para me impedir de perder minha cabeça e deixar este lugar, quer eles queiram ou não. “Não, só a loja. Estava muito destruída, garrafas quebradas e prateleiras derrubadas, mas não parece que eles roubaram o lugar.” Flashes de Rogan e eu lutando ao redor da loja quando ele me fez seu familiar pela primeira vez em minha mente, e me encolho. Deixamos a loja destruída. Pensei que teria tempo para voltar e limpar, mas não fui capaz antes que Rogan e eu pulássemos uma linha ley para o Tennessee. “Oh merda, Hoot!” Como eu esqueci da panela fedorenta até agora? Quem está cuidando dele e do gambá de Rogan enquanto estamos aqui? Eu o adiciono à pilha de perguntas que preciso fazer a Rogan na próxima vez que o vir. Droga, isso com certeza vai prejudicar meu plano de ele está morto para mim. Como posso nunca mais falar com ele quando ele é o único que pode responder a essas perguntas? “Espera aí, Tad, o que o faz pensar que a loja foi invadida?” Questiono, prendendo a respiração por sua resposta. “Porque foi destruída.” “Mas as portas da frente estavam trancadas ou abertas? Alguma janela quebrada?” Pressiono enquanto me lembro de mim tirando poções das prateleiras e jogando-as na cabeça de Rogan. “Não, as portas estavam trancadas e as janelas boas, apenas os danos internos. Mamãe ligou para o amigo necro da vovó, e ele veio e borrou. Ele disse que havia duas assinaturas mágicas distintas lá por último, e depois uma sobre a qual ele não tinha certeza. Ele disse que estava errado, como leite que acabou de azedar,” explica Tad, e a confusão desce pela minha espinha. As duas assinaturas mágicas poderiam facilmente ter sido Rogan e eu, mas a terceira, não tenho certeza do que poderia ter sido. A corda, talvez? Nossa magia deveria ser separada, então talvez amarrá-la a faça ressoar como errada? Eu busco outras explicações. Poderia ter sido Vovó Ruby, como se sua assinatura mágica estivesse começando a mudar conforme seu corpo falhava? Descarto essa opção quase assim que penso. O necro sabe como é a morte e seu rastro. Não. Isso deve ser algo que ele nunca experimentou antes. Bufo frustrada e acrescento esta pergunta à pilha de Rogan também. Talvez ele tenha ouvido falar de magia amarrada que parece diferente de necros. No mínimo, ele pode perguntar a sua tia sobre isso, se não souber. “Ok, obrigada, Tad. Eu não sei sobre aquela parte mágica podre, mas a bagunça lá é de Rogan e eu. Lembre-se de como eu te contei sobre o fa...” Me interrompo e lanço um olhar para Prek. Ele está limpando a sujeira sob as unhas e fingindo não prestar atenção a cada palavra que estou falando. “Lembra como Rogan e eu nos conhecemos?” Em vez disso, corrijo. “Bem, nós deixamos essa bagunça para trás,” explico, cruzando meus dedos mentalmente e esperando que Tad não diga nada sobre familiares ou amarração ou qualquer coisa que Prek possa ouvir que criaria ainda mais problemas para mim. “Você já montou naquele pau?” Em vez disso, Tad pergunta, e Prek sufoca uma tosse, deixando claro que ele pode ouvir os dois lados da conversa em alto e bom som. “É por isso que você estava desaparecida? Muito ocupada gritando o nome dele para atender o telefone?” ele provoca. “Não!” Grito um pouco enfaticamente demais e praticamente posso ouvir a sobrancelha levantada que sei que Tad está me dando do outro lado da linha. “Não haverá nada disso... nunca,” acrescento, sentindo meu rosto esquentar de vergonha e raiva. “Leni, os deuses idiotas te abençoaram, como você pode ser tão ingrata?” ele começa, fazendo uma pausa para respirar, o que vai alimentar uma palestra que tenho certeza que vai me deixar com uma cicatriz de alguma forma. “Ele me fodeu,” deixo escapar antes que Tad possa falar. “E não, não quero dizer que ele me comeu; ele mentiu para mim e me ferrou,” esclareço, humilhação, traição e dor pintando meu tom. “O que você quer dizer? O que aconteceu?” Tad exige, sua voz agora mortalmente séria, nenhum sinal de provocação ou leviandade à vista. “Ele não é quem eu pensava. Ele foi renunciado, banido. Ele me enganou e depois me vendeu para salvar sua própria bunda,” explico, nivelando um olhar sobre Prek, que não está mais fingindo não ouvir. Posso vê-lo arquivando essas informações, olhando para mim agora como se eu fosse mais vítima do que criminosa. “Vendeu você? Espera. Onde você está?” “Estou em Chicago com a Ordem. Eles me forçaram aqui contra minha vontade para minha própria proteção.” O telefone é arrancado de minhas mãos, e sou girada pelo ombro até que estou peito a peito com Prek, olhando em seus olhos castanhos irritados. “O que você está fazendo?” Ele questiona, segurando o telefone longe de nós dois. Eu mal posso ouvir a voz preocupada e gritando de Tad do outro lado da linha. “Você está causando problemas para sua família Menor. Não existem autoridades Menores a quem você ou eles possam recorrer. Você está preparando-os para revelar segredos que os matarão ou para passar a vida inteira procurando por um lugar que nunca serão capazes de ver com os próprios olhos,” ele praticamente rosna para mim. “Uma vida inteira?” Desafio, atacando essa afirmação. “Achei que estava livre para ir depois de responder a algumas perguntas? Por que eles passariam a vida inteira sem me ver se isso é verdade?” Seus olhos saltam para frente e para trás entre os meus, como se ele estivesse rapidamente tentando calibrar o que estou fazendo e como me responder. Ele solta um suspiro que faz cócegas no meu rosto, seu semblante arrogante desaparecendo do nada. “Diga a ele que você está bem e que vai ligar para ele amanhã,” ele comanda, e levanto uma sobrancelha e ofereço a ele um olhar que diz nenhuma porra de chance. “Vou explicar o que está acontecendo, e você vai ligar para ele amanhã. Proteja sua família e diga a eles para ficarem onde estão.” Agora é minha vez de estudar o rosto de Prek, tentar ler o que ele não está dizendo e avaliar o que devo fazer. Pego o telefone e Prek o coloca de volta na palma da minha mão. “Ei,” saúdo enquanto Tad libera uma enxurrada de olá preocupados. “O que aconteceu? O que está acontecendo, Lennox?” Ele exige, e seu uso do meu nome, e não um apelido, me mostra o quão assustado ele realmente está. “Minha babá não gostou do que eu estava te contando,” declaro uniformemente, e Prek pega o telefone novamente. Eu pulo para trás dele e levanto a mão para ele me dar um minuto. Eu o vejo debater o que fazer, mas ele não tenta pegar o telefone de novo ou diminui a distância que acabei de colocar entre nós. “Você está segura?” Tad exige. “Sim,” respondo, sem hesitar, embora não tenha certeza se isso é verdade. Goste ou não, envolver minha família em tudo isso não é sábio. O que eles podem fazer quando estão contra a polícia bruxa? “Quem foi o primeiro menino que beijei?” Tad questiona com desconfiança. “Brennan Skeen,” respondo, passando em seu teste. “Ok, e como fomos para o Halloween quando você tinha onze anos?” Eu sorrio com a memória. “Poodles de saia.” “Quem foi o primeiro cara a partir seu coração?” Tad desafia, e fecho meus olhos e engulo a emoção que sua pergunta evoca. “Meu pai,” respondo com um sussurro dolorido. Ouço o suspiro de alívio de Tad antes que ele pergunte novamente: “Você está segura, Leni?” A preocupação e ternura em seu tom fazem meus olhos arderem. De repente, desejo estar em casa no sofá da minha tia Hillen com um litro de sorvete e uma maratona de Jogos Vorazes na fila da TV. Eu contaria a Tad tudo sobre como Rogan machucou meu coração, envolto em uma manta macia, com seus conselhos e piadas para amortecer minha queda. “Estou segura,” o tranquilizo, enchendo as fendas surradas em meu coração com resolução e determinação. “Ok, agora me coloque no viva-voz, por favor?” Ele pergunta, e paro, não esperando seu pedido. “O que?” “Viva-voz, por favor?” ele fala, e depois de olhar para o telefone por um segundo, eu faço o que ele pediu. “Você está no viva-voz,” anuncio curiosamente. “Eu não sei exatamente o que vocês fazem aí na Ordem, mas eu quero que você ouça com atenção,” Tad praticamente rosna, e olho para Prek. “Você pode pensar que sou apenas um Menor, algum humano simples que nunca poderia representar uma ameaça para você, mas quero te dizer que você está errado. Você fode com Lennox, fode com todo o clã Osseous, e você deve saber que somos habilidosos e implacáveis. Você pode ser alcançado. Sua família pode ser alcançada. Fui claro?” Ele pergunta, e um sorriso aparece no canto da minha boca. Claro que Tad ficaria todo, nossa família vai te dar uma surra, faria o mesmo por ele. Fico surpresa quando, em vez de revirar os olhos e não dizer nada, Prek responde. “Muito claro.” “O nome dele é Prek,” insiro, apenas no caso. Prek balança a cabeça ao ouvir isso, mas volta a se sentar no banquinho perto da cozinha. “Ligo para você amanhã” asseguro a Tad, pronta para interrogar minha nova babá da Ordem por algumas respostas. “Ok, Lens, mas se eu não ouvir de você, a merda vai ficar séria,” ele afirma mais alto do que precisa. “Oh, e diga a Rogan que se eu o ver novamente, eu vou foder com ele.” Eu rio, imaginando Tad de tamanho médio tentando lutar contra o arranha-céu musculoso que é Rogan. “Não ria de mim, Lennard. É sempre uma luta justa quando o garotinho tem um taser,” Tad gorjeia alegremente, e rio de rir. “Eu te amo,” digo a ele, meu coração doendo com o quanto eu gostaria de estar lá com ele. “Amo você, Leni, mantenha a cabeça erguida e falo com você amanhã.” Desligo e pisco para conter as lágrimas de desejo e desamparo que tentam romper minhas pálpebras. Sempre há algo sobre falar com a família que faz você se sentir vulnerável pra caralho. Eu sinto isso muito neste momento, como se tivesse sido ralada e agora estou exposta. Prek limpa a garganta como se eu pudesse já ter esquecido de sua presença intrusiva de alguma forma. Sem olhar para ele, estendo a mão com o telefone e ele o pega. “Pronto para as perguntas?” Prek pergunta casualmente enquanto se levanta. “Como sempre estarei,” rosno, esfregando minhas mãos cansadamente sobre o meu rosto e suspirando. Ele vai até a porta e me preparo. É hora de obter algumas respostas, de uma forma ou de outra. 03
“Ok, Prek, diga-me no meio de que diabos eu caí,”
pergunto enquanto o sigo por um corredor, longe de meus aposentos para um elevador. O carpete e as paredes são quase da mesma cor de cinza, e parece um pouco claustrofóbico para o meu gosto. Passamos por portas de madeira escura, e me pergunto em qual Rogan está hospedado. Digo a mim mesma que é para saber qual evitar e não porque estou procurando por ele, mas não tenho certeza se é totalmente verdade. “Eu não sei o que Rogan disse a você, mas nós não somos os caras maus que você pensa que somos,” Prek responde enquanto pressiona o botão para chamar o elevador um pouco forte. Zombo e balanço minha cabeça, irritada. “Rogan é irrelevante. Não acho que vocês sejam os bandidos por causa dele, acho que vocês são os bandidos porque explodiram um carro em que eu estava e poderiam ter me matado,” informo- o. “Rogan não é irrelevante,” ele rebate. “Ele é um pária, e você estava com ele. Por associação, você pode ser considerada o mesmo padrão que ele, e ele é perigoso.” Jogo minhas mãos em frustração. “Eu nem sabia quem ele era até...” Tento me lembrar que dia é de novo, e lembro que ainda é quarta-feira. Foi realmente apenas esta manhã quando Rogan e eu ficamos em sua cozinha, enfeitiçando e revelando segredos? Olho para minha mão e vejo que meu anel se foi. Droga, acabei de enfeitiçar isso antes. Eu perdi de alguma forma ou foi tirado de mim? “Esta manhã, na verdade, não sabia quem ele era até esta manhã,” repito defensivamente. “Eu não tinha ideia quando ele apareceu na minha loja que ele era um bruxo renunciado.” As portas do elevador se abrem para um vagão vazio, e Prek não diz nada quando nós dois entramos. Ele aperta o botão do decimo primeiro andar. Olho para cima e vejo que estamos atualmente no andar trinta e sete antes de as portas se fecharem e começarmos a descer. Me inclino contra a parede e esfrego minha nuca. Estou cansada e esgotada tanto fisicamente quanto emocionalmente. O lado do meu pescoço arde um pouco, e percebo que é onde eles me espetaram com o que quer que tenha me nocauteado. Eu quero perguntar se foi Rogan ou Prek quem fez isso, mas no final, realmente não importa. “Apenas me diga o que está acontecendo,” finalmente pergunto, quebrando o silêncio enquanto descemos. “Deixe a merda Rogan fora disso. Não sei qual é o problema entre vocês dois, mas não tem nada a ver comigo.” Prek vira a cabeça para me estudar por um momento e depois se vira para a frente novamente sem dizer uma palavra quando o elevador para. “Rogan está praticamente morto para mim,” declaro enfaticamente enquanto as portas se abrem, revelando ninguém menos que o próprio idiota, Rogan Kendrick. Ele se eleva sobre nós dois, e imediatamente fico rígida ao vê-lo. Ele fixa um olhar severo em mim, o tipo de olhar que me diz que ele ouviu minha última declaração e não gostou. Bom. Ele pode arder o quanto quiser. Pegar fogo, se depender de mim. Cansei de cair nas besteiras, sombrias e taciturnas. Não passa despercebido que, ao contrário de mim, ele está sem escolta. Então, novamente, o que eu esperava? É claro que a Major não é uma fã, mas sei que Rogan fez algum tipo de acordo para estar aqui, e parece que esse acordo incluí rédea solta do lugar e modos travados e pedantes enquanto ele estiver aqui. Prek dá uma cotovelada quando passa por ele sem dizer uma palavra, e faço o mesmo, jogando meu cotovelo com mais força do que o necessário. Rogan recebe isso estoico e confuso como sempre. Prek me leva ainda mais dentro do décimo primeiro andar, que tem uma sensação de área movimentada. Vejo as vestes amarelas dos membros da Ordem indo e vindo. Bruxas em escritórios trabalhando ou conversando com outros grupos de bruxas. Nós passamos a colmeia de atividade, a presença imponente de Rogan em meus calcanhares todo o caminho. Sinto que estou prendendo a respiração. Ele vai dizer alguma coisa? Quero que ele faça isso? Tenho tantas perguntas e, ao mesmo tempo, gostaria de nunca mais poder vê-lo. Quero dar um chute na parte de mim que espera silenciosamente que ele conserte isso, como se houvesse algo que ele pudesse fazer ou dizer que faria tudo o que ele fez justificável, mas sei que isso é besteira. Nada pode apagar o que aconteceu. Também estou supondo que ele tem algo a dizer, que ele percebeu que o que fez foi errado, mas não estou recebendo essa impressão, e isso também me impede. A agitação fica mais calma quanto mais andamos, e observo um pequeno labirinto de portas fechadas que têm um padrão estranho em sua disposição. Só quando Prek abre um e sou pastoreada para dentro é que percebo o porquê. Sou levada a uma sala de conferências de bom tamanho, com cadeiras confortáveis e modernas ao redor de uma mesa oval totalmente branca. Observo os enormes espelhos retangulares que formam duas das quatro paredes e sei exatamente para que esse tipo de quarto é usado. Sem dúvida, estou aqui para ser interrogada. Paro no meio do caminho enquanto a apreensão inunda meu sistema. É como ser chamado ao escritório de seu chefe sem avisar. Sei que não fiz nada de errado, mas diga isso ao meu coração acelerado e à adrenalina que disparou em meu sistema. “Sente-se,” Prek instrui, e isso provoca ainda mais pânico. Qual cadeira eu escolho? Eles lerão minha seleção? Oh, ela sentou no final, ela é culpada! Faço o meu melhor para engolir meu desconforto, dizendo a mim mesma que é irracional. Eles me disseram que tinham perguntas e aqui estou para respondê-las. Não tinha ideia de que seria nesse tipo de ambiente, mas não muda nada. Eu não fiz nada de errado. Escolho a cadeira mais distante da porta - que não é no final - e me sento, abrindo e fechando os punhos no colo em um esforço para liberar a tensão latejante por mim. Continuo imaginando detetives vestindo camisa de botão do outro lado do vidro reflexivo, bebendo café velho e procurando um cigarro. É um visual estúpido. Conheço esta sala e o que está acontecendo do outro lado dos espelhos falsos não será como nada que eu já vi, ou mesmo ouvi, em um programa de TV. Esta é a Ordem. Eles têm magia para observar e lidar com todos os tipos de coisas. Bruxas que rastreiam sinais vitais e sentimentos, que podem ouvir mentiras. Eles poderiam ter um leitor de mentes atrás de uma dessas paredes de vidro, pelo que sei. E para o que as bruxas não podem fazer, existem amuletos e poções que podem. Não há como saber o que está embutido nas paredes deste lugar ou o que poderia estar do outro lado do espelho. Tenho certeza que eles me surpreenderam com essa configuração de propósito para que alguma bruxa pudesse ter uma base sobre minhas emoções ou cavar em minha cabeça ou algo assim. “Se você está lendo minha mente agora, aqui está um slideshow marcante de como são as DSTs. Você pode agradecer ao meu professor de saúde do ensino médio pelo trauma. Além disso, vá se foder,” estalo em minha mente, olhando para o espelho à minha frente. O movimento puxa minha atenção de meus esforços de sabotagem mental, e vejo Prek e Rogan voltando-se para sair. A perplexidade acalma minha apreensão e pulo da cadeira. “Espera. Você não vai ser questionado também?” Exijo enquanto Rogan se move para sair da porta ainda aberta. Ele se vira para mim, um olhar entediado no rosto. “Eu já fui questionado,” ele responde, seu tom muito desdenhoso para eu ignorar em meu atual estado de surto. Quando ele se vira para ir embora de novo, como se essa fosse a única explicação que mereço, e perco a porra da minha paciência. Deixo cair todas as barreiras que venho usando para esconder minha magia dele, e alcanço a corda que nos conecta. Posso não ser capaz de me flexionar magicamente fora de mim neste lugar - ainda não de qualquer maneira - mas com certeza estou prestes a deixar Rogan saber que estou indo para ele. Envolvo minha essência em torno de nossa conexão e puxo com tudo o que tenho. Eu bato em sua magia com tanta brutalidade e eficiência que seus joelhos se dobram e ele cai. Eu o ouço suspirar de dor quando chamo nosso link familiar e tomo cada grama de habilidade armazenada em seu corpo gigantesco. Se nossa conexão fosse uma verdadeira conexão entre bruxa e familiar, poderia matá-lo fazendo isso. Eu poderia puxar toda a sua essência para dentro de mim, extinguir a luz em sua própria alma se eu fosse cruel o suficiente, mas não posso. A corda entre nós permite que ele recue imediatamente. Mas se drená-lo o suficiente, vai levar tempo para ele se recuperar e construir a força mágica necessária para reabastecer ou sugar de volta o que foi levado. O que estou fazendo é doloroso e violento. Estou deixando-o vulnerável, fraco e agora não poderia me importar menos. Tudo acontece em questão de segundos. Prek mal tem tempo de se virar para ver por que Rogan está no chão antes que o dano esteja feito. “Simples assim, você vai me deixar aqui para me defender sozinha?” Agarro Rogan enquanto ele trêmulo tenta empurrar para cima do chão. Seus olhos sobem para encontrar os meus, e a fúria nadando em seu olhar faz meu coração apertar dolorosamente no meu peito. “Nem mesmo um lampejo de desculpas em seu rosto pelo que você fez comigo?” Exijo, odiando a oscilação frágil em meu tom que rompe minha raiva. “Você me colocou no centro de toda essa merda, e não consigo nem mesmo um alerta de você?” Gesticulo ao meu redor, furiosa por estar aqui, lívida por não ter uma palavra a dizer. “Bem, você gostou disso, Rogan? Como é se sentir vulnerável e fodido?” Rosno, caindo de volta na minha cadeira, a ira percorrendo meu peito e implorando por mais. Meu sangue canta com habilidade, minha magia clama por vingança, mas também dispara um eco do que senti no meu pesadelo. Respiro através da raiva e da dor agitando meu núcleo, me lembrando do aviso naquele sonho. Reproduzo a sensação e a sensação de matá-lo, e então me lembro de como foi a sensação de morrer bem ao lado dele. Eu agi com emoção crua em meu sonho, retaliando sem pensar duas vezes, mas acabei me afogando em minha própria raiva, sufocando em meu próprio sangue, desejando não saber como era o gosto do arrependimento na minha língua. Contenho minha fúria e luto para controlar a dor que está sangrando de mim. “O que diabos há de errado com você?” Prek pergunta, olhando de Rogan para mim e de volta, obviamente perplexo e irritado. “Eu caí,” Rogan resmunga, e com grande esforço, ele se põe de pé. Ele tira o pó da calça jeans escura e da camisa verde esmeralda que está vestindo, mas quando seus olhos encontram os meus, descubro que não é vingança ou fúria o que vejo em seu olhar. Não. Seu olhar verde-musgo está cheio de agonia, de perda. O tormento que ele fixa em mim quando seu olhar se conecta com o meu é tão visceral que posso sentir a dor disso até minha medula. Isso me choca. Me pega completamente desprevenida. Antes que eu possa responder de qualquer forma, Rogan pisca, fechando seu olhar, e então ele se vira e sai da sala, a pesada porta de madeira sólida fechando atrás dele. Sofro com o que acabei de testemunhar e odeio estar tão confusa como sempre estou quando se trata dele. Eu nunca posso encontrar meu equilíbrio com Rogan Kendrick, seria estúpido pensar que algum dia encontrarei. Toco o lado do meu pescoço onde uma agulha foi enfiada nele e deixo a pontada de dor me aterrar. Não importa o que Rogan me mostre agora, ou o que ele tente me convencer de ser verdade sobre ele. Vi o suficiente para saber onde me importar com ele me leva. Olho ao redor da sala e balanço minha cabeça em desgosto. Isso me deixa aqui, em uma sala de interrogatório, sozinha. Não tenho certeza de quanto tempo fico sentada, esperando, fervendo de raiva. Me sinto cheia de magia. É como se eu tivesse exagerado em um bufê de energia e agora estivesse presa em público e não pudesse desabotoar as calças para abrir espaço para meu estômago cada vez maior. Estou desconfortável como o inferno, mas a única maneira de me aliviar dessa sensação é dar um pouco da intensa quantidade de magia que estou segurando para Rogan, e não vou fazer isso. Então, em vez disso, sento-me nesta cadeira, mudando meu peso a cada dois minutos, como uma criança que precisa fazer xixi, ficando cada vez mais irritada e preocupada a cada momento, e me perguntando por que ninguém veio falar comigo. Minha magia disparou algum tipo de alarme? Meu temperamento levou a melhor e me denunciou? Eles estão consertando as proteções nesta sala enquanto falamos para que possam me deixar tão impotente e fraca quanto Rogan está agora? Minha mente dispara em uma dúzia de direções diferentes, cada cenário imaginado pior do que o anterior. Coloco minha cabeça na mesa e suspiro. É uma coisa boa eu não ser culpada de nada. Sou claramente o tipo de pessoa que quebraria como um ovo, confessando uma merda pela qual nem estava em apuros até que contasse todos os segredos obscuros para as autoridades em um ataque de lágrimas e pânico. Ugh, eu sou patética. Como se essa fosse a palavra mágica para fazer a porta da sala se abrir, ela destrava e se abre, permitindo que quatro bruxas entrem na sala. Pisco algumas vezes como se tivesse ficado presa em um deserto e estou tentando ter certeza de que não são uma miragem. Nota para mim mesma, muita magia em seu sistema a torna um pouco estúpida. Limpo minha garganta e me sento, tentando me controlar. Uma das bruxas está balançando um rabo de cavalo severamente apertado e feições faciais angulosas duras. Ela se senta em uma cadeira longe de nós e pega um tablet, como se ela fosse a anotadora desta reunião. Duas bruxas estão sentadas à minha frente, um homem com longos cabelos loiros ondulados e olhos cinzentos, e uma mulher com aparência de Judi Dench - se Judi Dench tingisse seu lindo corte pixie de preto e usasse muito delineador. O assento ao meu lado é puxado para fora, e uma linda mulher com olhos negros, cabelos com coquinhos4 e pele um tom mais escuro que a minha se senta. Ela está um pouco perto demais, e de repente me sinto como um gato acuado que está sendo ameaçado com um banho. Minha magia pulsa em meu peito, inquieta e respondendo ao meu desconforto. Sinto que começa a subir pela minha garganta, implorando para dizer aonde ir e o que fazer, mas engulo de volta e mantenho minha boca fechada. “Olá, Srta. Osseous. Meu nome é Eleanor,” a bruxa com aparência de Judi Dench apresenta. “Este é Orion,” ela continua, gesticulando para o homem à minha frente. “E esta é a Fiona.” Eu olho ao meu lado e aceno para Fiona em saudação antes de olhar para Eleanor. Espero que ela apresente a bruxa sentada contra a parede, digitando em um tablet, mas ela não o faz. “Estaremos fazendo algumas perguntas hoje e tomando notas para o nosso caso. Não deve demorar muito e, contanto que você seja honesta e acessível com as respostas, tudo será fácil e fácil,” declara ela, franzindo o nariz e sorrindo largamente em uma expressão exagerada de simpatia. Isso imediatamente me coloca em guarda, e observo o trio com cautela. “O que o nome Nikki Smelser significa para você?” Eleanor me pergunta casualmente, seu olhar enigmático e vigilante. Bem, ok então, acho que as gentilezas acabaram. Encolho os ombros, sem saber para onde ela está me levando. Marx nos disse que foi questionado sobre seu envolvimento com a busca e o sonho de minha avó, mas não sei se a Ordem está ciente de que ele disse isso a Rogan e a mim. Talvez seja algum tipo de teste? “Eu sei que os ossos me deram o nome de Nik Smelser quando estava na casa de Elon Kendrick,” digo a ela, trabalhando em como posso responder com sinceridade, mas não fornecer contexto e detalhes que revelarão que posso saber mais do que eles percebem. “Presumi que fosse o nome de um homem, mas seu uso de Nikki é algum tipo estranho de familiaridade ou Nik é uma mulher,” acrescento, esperando que minha suspeita esteja certa e que não fui pega em qualquer tipo de armadilha. “Sim, Nikki Smelser é uma mulher. Uma Animamancer inclusive,” ela oferece, o olhar em seu rosto conspiratório, como se fôssemos apenas duas garotas fofocando enquanto fazemos as unhas. “Ela é uma Bruxa de Alma?” Repito, confusa, e ela acena com entusiasmo em resposta. Paro por um momento, tentando descobrir o que isso pode significar. “Mas... não a Bruxa de Alma que foi relatada como desaparecida com os outros Osteomantes?” Questiono, colocando esta nova pepita de informação com os outros kernels que já possuo. Por que alguém pegaria três Osteomantes e dois Animamancers? Qual é a conexão entre as bruxas de ossos e as bruxas de alma? A visão que tive no dia que estava na casa de Elon, ele indo embora com uma mochila nas costas e seu familiar, Tilda, a reboque me lembra que o status de levada para todas essas pessoas ainda não está confirmado, mas não disse nada, em vez disso, querendo ver quanto posso conseguir da Ordem antes que eles percebam que estou pescando. “Ok, e vocês acham que foi ela quem levou os outros?” Pergunto, olhando para as bruxas ao meu redor como se as peças que faltavam neste quebra-cabeça estivessem escritas em seus rostos. Eu não pego nada. “Bem, é muito cedo para dizer isso, mas ela definitivamente é a pessoa que escreveu a nota pedindo para trocá-los por você,” afirma Eleanor, inclinando a cabeça para o lado e franzindo a sobrancelha em uma demonstração cômica de má atuação. “Agora, por que ela faria isso?” ela pergunta, olhando além de mim como se o espaço vazio atrás de mim fosse sussurrar a resposta para ela. “Fazer o quê, escrever a carta?” Pergunto, lutando contra a vontade de olhar para trás e ver exatamente o que a velha bruxa está olhando. Eleanor estala a língua. “Não, isso não, minha querida. Por que ela os trocaria por você?” Seus olhos azuis voltam a focar em mim e ela espera pacientemente, como se esperasse que eu respondesse. “Como eu iria saber?” Defendo, começando a ficar irritada. Isso é uma perda de tempo. Se Nik Smelser é quem pegou as outras bruxas, por que elas estão falando e agindo como se eu pudesse ter algo a ver com isso? Orion conjura uma imagem do nada e desliza-a sobre a mesa para mim. A mulher que olha para mim tem cabelos castanhos cacheados, óculos e um sorriso gentil. Ela é bonita e tem uma pequena covinha em uma das bochechas. Seus olhos são quase do mesmo castanho moca de seu cabelo, e há uma felicidade nítida e perceptível em seu olhar. “Essa é Nik Smelser?” Pergunto, me sentindo ainda mais confusa. Esse não parece o tipo de pessoa que sequestra outras pessoas. Quer dizer, o que eu realmente sei, as aparências podem enganar, mas esta mulher... sim, simplesmente não vejo diabólico ou insensível escrito em qualquer lugar em suas feições. “A própria,” Eleanor responde, e começo a me perguntar por que as outras duas bruxas estão aqui quando Eleanor é a única que fala. “E você tem certeza que ela escreveu o bilhete?” Pressiono, não muito convencida de que não há algo que estamos perdendo aqui. “Não há dúvida,” confirma Eleanor. “Posso ver a nota?” Pergunto enquanto deslizo a foto de Nikki de volta para Orion. “Vou mandar trazer para você,” Eleanor gorjeia alegremente, mas quando nenhum deles se levanta como se fosse pegá-la, presumo que alguém do outro lado do vidro está indo pegar ou a nota acontecerá em outra hora. “Sua avó teve um sonho estranho que sentiu a necessidade de relatar. Ela temeu que pudesse ser algum tipo de aviso, talvez uma profecia. Ela discutiu o que viu com você?” Tento ao máximo não revirar os olhos com sua pergunta. Por que preciso passar por isso com eles, eles já não falaram com Marx? Ele não disse a eles que ele e Rogan me contaram sobre o sonho. Que eu nem sabia que era a próxima na fila, muito menos ter conversas profundas sobre visões potencialmente proféticas com minha avó. “Podemos nos poupar algum tempo aqui, e direi apenas que não tenho nada a ver com essas bruxas desaparecidas. Eu não sabia que seria escolhida quando minha avó faleceu. Nunca conversamos sobre seu trabalho ou sua magia. Não fazia ideia de que minha avó teve um sonho que a incomodou. Não conheço Nikki Smelser. Nunca conheci os Osteomantes desaparecidos. Não tenho nada a ver com isso, a não ser que me pediram ajuda, um estranho, e concordei,” declaro uniformemente, esperando que possamos pular a parte em que suspeitam de mim e mergulhar direto na tentativa de encontrar quem realmente está por trás tudo isso. “E por que você concordou em ajudar... um estranho?” Fiona pergunta, sua voz suave e inebriante. Quase pulo de surpresa quando alguém além de Eleanor finalmente fala, mas felizmente mantenho minha bunda firmemente plantada no assento. Alerta de bruxa vox5, meus sentidos gritam, e eu trabalho para não me perder na cremosidade de sua voz. “Porque é assim que funciona,” respondo simplesmente, olhando para cada um deles com uma perplexidade tingida de julgamento. Todos eles sabem como os Osteos dão e recebem quando se trata de nossa magia. “Eu leio para as pessoas que os ossos escolhem, ajudo aqueles que minha magia me encoraja a fazer,” acrescento como se esses membros da Ordem precisassem do lembrete. “E sua magia escolheu Rogan Kendrick?” Fiona pressiona. “Sim,” declaro com confiança. O olhar de Eleanor desliza rapidamente para o espelho na parede à minha esquerda antes de voltar para mim, mas não deixo de notar. Para quem ela está olhando? Rogan? Alguém? “Quantos anos tinha sua avó quando ela faleceu?” Eleanor pergunta, e fico surpresa com a mudança abrupta de assunto. “Ela tinha oitenta e três anos.” Os olhos de Eleanor ficam mais intensos conforme a próxima pergunta sai de sua boca. “E quem encontrou o corpo dela?” Abro a boca para responder, mas sou forçada a fazer uma pausa. Quase disse minha tia Hillen, mas isso não está certo. Tad me disse que alguém havia ligado para eles com a notícia. Foi Magda? Não, não pode ser o caso porque Hillen os chamou para esfregar que eles não tinham os ossos. Elas também não tinham o Grimório tempo suficiente para lê-lo e destruí-lo. Se ela e Gwen tivessem encontrado Vovó Ruby no dia anterior, o Grimório estaria torrado quando apareci procurando por ele. A inquietação se instala em minha alma enquanto eu respondo da única maneira que posso. “Não sei.” As sobrancelhas finas de Eleanor saltam em choque, mas é óbvio que é fingido. Não haverá nenhum Oscar no futuro dessa bruxa, com certeza. “Como é que você não sabe? Os necros não foram chamados?” ela perguntou, completamente chocada. “Claro que foram, eram causas naturais, isso era indiscutível.” “E como você sabe disso? Se você não viu o corpo da sua avó, nem sabe quem viu, como pode ter certeza?” ela pergunta inocentemente, mas há um brilho conivente em seus olhos azuis. Eu quero dizer porque me disseram, mas o argumento soa fraco até mesmo para os meus ouvidos. “Você era próxima da sua avó?” Orion surge do nada para perguntar. “Sim.” “Mas não próxima o suficiente para discutir magia com ela, saber sobre seus sonhos perturbadores, ou sua posição em nossa comunidade?” ele continua, o julgamento claro em sua voz. Perturbada, quero dizer a ele para se foder, mas tudo que posso dizer é: “Não falávamos sobre magia, era assim que eu queria, e minha avó respeitava isso.” “Não queria falar sobre magia?” Eleanor exclama em voz alta como se nunca tivesse ouvido uma declaração mais absurda. “Por que não? Seu dever como membro de sua linha foi tratado com tanta arrogância?” Recuo ligeiramente com o golpe. “Não, mas ao contrário da crença popular, nem todo mundo quer ser como você. Magia não é o começo e o fim de tudo para algumas pessoas.” As três bruxas ao meu redor riem como se eu tivesse acabado de fazer a melhor apresentação de stand-up que elas já ouviram. As risadas quicam ofensivamente pela sala e caem como merda de pássaro no chão aos meus pés. “Qual foi o verdadeiro motivo, Lennox? E não pense que as mentiras que você tem contado a si mesma por muito tempo vão ter qualquer influência aqui,” Eleanor rebate, toda a pretensão da velha senhora jovial que ela tem fingido até agora, se foi. Olho para ela impressionada. “O que? O personagem da avó gentil não está funcionando para você do jeito que você pensava, então você simplesmente desiste?” Acuso. “Você realmente achou que me aqueceria para o trabalho inadequado que você acabou de fazer ao tentar imitar minha avó? Que eu ficaria muito triste para ver através dessa merda?” Eleanor ri, mas não há um pingo de humor genuíno nisso. “Lennox, você pode falar com quem quiser, o amigo atraente,” declara ela, apontando para Fiona ao meu lado. “A figura calmante do pai,” ela continua, inclinando a cabeça na direção de Orion antes de apontar para si mesma, “a representação de um ente querido perdido. Você poderia até mesmo contar todos os seus segredos para uma garota de quem você sente pena, aquela que você quer ajudar,” ela acrescenta, apontando atrás dela para a bruxa com o tablet, sentada separada do resto de nós. “Esta é a coleção que nossa análise mostrou que seria mais eficaz, mas se não for do seu agrado, posso chamar a opção de melhor amigo gay, a figura de autoridade severa ou minha favorita: bonito e taciturno. Verdadeiramente, Lennox, você pode escolher o seu veneno, mas no final você vai responder às nossas perguntas. Você vai nos contar tudo o que precisamos saber,” afirma ela com naturalidade. O calor sobe para minhas bochechas e a raiva ferve no meu estômago. Eu sou uma idiota. Aqui estava eu pensando que tinha algo contra eles. Que estava um passo à frente, ordenhando-lhes informações e navegando em sua estupidez, mas eles estavam brincando comigo o tempo todo. Provavelmente antes mesmo de colocar os pés nesta sala. Eleanor acabou de tirar o excesso de confiança de mim, e agora estou sem saber o que fazer. Aperto minha mandíbula e respiro através do constrangimento e frustração que sinto. Achei que era mais esperta, que estava lidando com um bando de amadores, mas era o contrário. Sou a novata aqui e é óbvio que não tenho ideia do que estou enfrentando. Sento-me na cadeira e cruzo os braços sobre o peito de forma protetora. Os olhos de Eleanor se iluminam com o movimento, como se ela entendesse como eu acenando uma bandeira branca de rendição. “Bom,” ela murmura cruelmente. “Agora, onde estávamos, sim, isso mesmo... qual foi o verdadeiro motivo pelo qual você e sua avó não conversaram sobre negócios? Por que ela estava tão disposta a deixar uma descendente em sua linha, alguém que ela sabia que poderia potencialmente herdar, tão ignorante?” A dor bate em mim como uma onda enorme e inesperada na praia. Em um minuto, estou apreciando a sensação da areia quente e da água fria do oceano, então, no próximo, estou sendo puxada para baixo e me afogando nela. Flashes do rosto de meu pai, sua nota e a devastação deixada em seu rastro me deixam oca, e gostaria de poder me enrolar dentro de mim em vez de ter que responder a essas perguntas dolorosas e inúteis. Balanço minha cabeça, chateada por estar aqui, que eles estão forçando esta dor a ressurgir, e tudo para quê? É realmente sobre eles tentando me entender, minha avó, a profecia que ela pensava que tinha? Há mais nisso do que imagino? Luto para encontrar meu equilíbrio para ver onde isso vai dar, mas não consigo. Digo a mim mesma para apenas tirar isso do peito, responder suas perguntas estúpidas, independentemente de quão invasivo ou inútil possa ser. Bruxas desapareceram e, se isso os levar a se concentrar em encontrá-las, no final valerá a pena. Fixo um olhar resignado na bruxa vadia sentada na diagonal em minha frente, o foda- se claro em meu olhar feroz, e com uma respiração profunda e fortificante, eu respondo a sua pergunta. “Quando ouvi condrossarcoma6 pela primeira vez, foi a palavra mais assustadora que já ouvi. Eu tinha dezesseis anos e não sabia o que isso significava. Quando meu pai explicou que era câncer e que estava muito avançado, pensei que meu mundo havia acabado. E então eu ouvi as palavras câncer ósseo, e foi como se toda a minha preocupação se transformasse em pardais e simplesmente voasse para longe,” digo a eles, balançando suavemente minha cabeça com as memórias, de como eu era jovem e burra naquela época. “A maioria das pessoas não ficaria empolgada com as palavras câncer ósseo, mas a maioria das pessoas não conhecia uma Bruxa de Ossos. Eu sabia que minha vovó Ruby salvaria o dia. Afinal, o que é câncer em comparação com a magia?” A pergunta retórica flutua na tensão na sala ao meu redor, e olho para o teto, piscando para conter a emoção e a fúria nos meus olhos. “Mergulhei de cabeça nos feitiços, poções e remédios que deveriam tê-lo curado. Atacamos o condrossarcoma com tudo que podíamos, tratamento humano ou feitiço, não importava, a gente ia nessa. Por dois anos, melhorar meu pai era tudo em que conseguia me concentrar. Mas não importava o que minha vovó Ruby fizesse ou enfeitiçasse, ele se deteriorou bem na frente de nossos olhos. Não conseguia entender isso, e em vez de aceitar que nem mesmo a magia pode salvar todo mundo, me esforcei mais para encontrar algum feitiço, algum extrato que manteria meu pai comigo. E então ele morreu.” Minha garganta fica apertada enquanto muitos sentimentos tentam derramar para fora de mim ao mesmo tempo. Fico em silêncio por um momento enquanto luto para controlar tudo. Fiona considera meu silêncio como o fim da minha história. “Você deu as costas para a magia porque ela não fez o que você queria?” Ela rosna, seu tom me pintando como uma criança petulante que está tendo um acesso de raiva há muito tempo. Solto uma risada vazia e balanço minha cabeça. Essas pessoas podem pensar que sabem quem eu sou, o que faço, mas não sabem nada. “Não,” respondo simplesmente, um sorriso triste tomando conta do meu rosto. “Meu pai nunca deu uma chance à magia.” A confusão se espalha pelo rosto de Fiona e luto contra o desejo de tirar isso de seu rosto. “Veja, encontrei este bilhete nas coisas do meu pai quando fui forçada a empacotá-las depois que ele morreu. Encontrei caixas de poções intocadas, cuidadosamente embaladas e embrulhadas de forma protetora em seu armário. Parece que ele não as tomava, mas também não as desperdiçaria, então as guardou. Cada um dos remédios em que vovó e eu trabalhamos por anos estava intocado. Sua nota dizia que ele me amava e ele esperava que um dia eu entendesse, mas que ele está com minha mãe agora e está feliz.” O cheiro de carpete velho e magia se espalha ao meu redor, e é como se estivesse sentada naquele armário de novo. Posso sentir o papel do caderno em minhas mãos, sentir o leve toque de papelão. Lembro-me de olhar para os garranchos inclinados de meu pai, suas palavras simples e diretas, como sempre eram quando ele estava vivo. Ele disse que me amava, mas foi embora. Ele estava feliz, mas ele se importava que isso destruísse minha felicidade? Uma lágrima rola pela minha bochecha e pisco, mentalmente me puxando do pequeno espaço no trailer em que cresci. Olho para Fiona, nivelando-a com minha angústia. “Eu não virei as costas para a magia, porque não consegui o que queria, saí porque queria demais dela. Colocar toda a sua fé em alguém, em alguma coisa, é perigoso. Certifiquei-me de que nunca mais acontecesse. Minha avó entendeu como me sentia. Ela sabia que não havia como me pressionar nisso. Além disso, pensamos que minha prima seria a escolhida.” Digo a última parte por hábito. Agora sei que não era o caso, mas no final, não mudou nada. Minha avó sabia que eu precisava de tempo, que precisava de espaço para encontrar a beleza da magia novamente, o poder dela. Essas pessoas podem não entender isso, mas ela entendeu, e sou eternamente grata por ela ter me amado o suficiente para me deixar encontrar o meu caminho. “E se eu te dissesse que sua avó não te pressionou para aprender magia como deveria, não porque ela tenha empatia com sua situação, mas porque ela nunca teve a intenção de passá-la para você?” Eleanor cuspiu, seu rosto presunçoso e seus olhos predatórios. A declaração é tão aleatória, tão ridícula, que dou uma gargalhada incrédula. “Eu diria que você não conheceu minha avó,” respondo simplesmente, sem fazer as perguntas do dia. Preciso sair deste buraco do inferno fechado e respirar um pouco de ar fresco. Preciso sentar com as emoções que acabei de desenterrar e deixá-las se acalmar mais uma vez. “Não, Osteomante, eu diria que você não conheceu sua avó muito bem,” a bruxa idosa rebate, e com seu ódio vai minha última gota de paciência. Abro minha boca para dizer a ela para ir sentar em uma varinha, mas ela me interrompe. “Você pode não ter conhecido Nikki Smelser, mas quer saber quem conheceu?” Orion evoca outra imagem e desliza na minha direção. A foto bate no meu braço, ricocheteando alguns centímetros antes de ficar imóvel na mesa. Um rosto de querubim familiar olha para mim. Um que vi em uma moldura na casa da minha avó desde que me lembro. Demoro um segundo, mas à medida que o estudo, começo a ver. Grandes olhos castanhos se erguem de um adorável rostinho oval. Cachos castanhos curtos se destacam em todas as direções, um sorriso feliz se espalhava pelo rosto da garota, expondo uma única covinha. Ela não tinha óculos na época, e seu rosto ainda não tinha começado a se transformar das bochechas macias e nariz de botão de uma criança na bela mulher que ela se tornou. Mas não há dúvida ... Estou olhando para Nikki Smelser. A perplexidade clama por mim quando vejo a foto da garotinha que vi e descartei milhares de vezes. “Sua avó era amiga íntima da avó dela até morrer, e Nikki se tornou sua sucessora. Ruby cuidava da Bruxa de Almas de vez em quando. Então imagine nossa surpresa quando esta bruxa aparentemente inocente parece estar bem no meio de um ataque a Osteomantes,” Eleanor zomba, parecendo muito satisfeita, e perco a paciência. “Oh, ela é boa, sua avó. Ela nos fez olhar para o peão, pensando que era a rainha. Estávamos todos perseguindo nossas caudas até que procuramos seu apartamento e encontramos uma ponta solta que ela esqueceu de amarrar.” Eleanor bate na foto como se fosse toda a evidência contundente de que ela precisava. “Não conseguimos descobrir onde você está envolvida em tudo isso, por que trocá-las por você, mas agora é óbvio...” Ela faz uma pausa dramática, e posso ver em seus olhos que ela quer que eu pergunte o quê. Bem, ela pode continuar esperando, não sou uma marionete, e ela com certeza não é minha mestre de marionetes. Os olhos de Eleanor brilham de excitação e a tensão na sala aumenta. “Sua avó está viva, Lennox. Ela é quem está por trás disso. Mas não se preocupe, vamos encontrá-la e, quando o fizermos, vamos garantir que ela esteja morta de verdade desta vez.” 04
Raiva explode através de mim, e minha magia se espalha
em resposta. “Você está tentando levar uma surra?” Fico furiosa enquanto me empurro da cadeira e me inclino na direção da bruxa, que não tem ideia de com quem está fodendo. Todos os outros membros da Ordem na sala se levantaram, olhos cautelosos e olhando para os espelhos como se esperassem que a ajuda viesse a qualquer momento, todos exceto Eleanor. Ela parece encantada, como se fosse seu único propósito na vida me fazer perder o controle. A ansiedade que vejo em seu olhar demente me dá uma pausa e penso por que ela pode estar me pressionando tanto. Sua revelação gira em minha mente. A declaração. A ameaça. Ela realmente acredita que Vovó Ruby está viva? Isso é algum tipo de truque? Quero rejeitar completamente a noção de que de alguma forma minha avó fingiu sua própria morte, mas depois de tudo que vi e aprendi desde que os ossos me escolheram, não sei se consigo. Rogan estava me dizendo que a magia em uma linhagem não tem que passar apenas pela morte. Pode ser abandonada e então... eles vão embora, eles vivem o resto de suas vidas como Menores. Mas, mesmo que seja verdade, lembro-me de quando descobri os ossos em meu apartamento pela primeira vez. Eu sei que senti minha avó cuidando de mim quando abri a bolsa e selei os ossos para mim. Houve outras ocasiões em que senti distintamente a presença dela, e não havia como isso acontecer se ela ainda estivesse viva. Certo? Como se Eleanor pudesse me ver falando baixo, ela lança mais de suas teorias distorcidas para mim. “Pense nisso, Lennox, por que esse sequestrador teria todo esse trabalho para chegar até você? É porque sua avó quer seu poder de volta, porque ela não percebe que estamos atrás dela, mas estamos agora!” Um estrondo bate do outro lado do espelho na minha frente. A superfície dele vibra com a força de tudo o que o atingiu. Espero que alguém ou algo passe por ele, mas nada acontece além do som alto chamando nossa atenção. Só então, a porta da sala se abre. Um jovem entra com as mãos enluvadas segurando o que presumo ser o bilhete de resgate. Ele olha ao redor da sala como se não tivesse certeza do que deveria fazer com isso. Eleanor olha do papel para mim. “Não acredita em mim, Lennox? Veja por si mesma. Chame seus ossos. Nós sabemos que você pode. Derrame-os sobre a mesa, veja se eles lhe dão uma pista sobre o que mais sua avó planejou.” Ela arranca o bilhete das mãos do homem, mas antes que ela possa se virar para jogá-lo em mim, ela joga a cabeça para trás e solta um grito de gelar o sangue. Um alarme soa ao meu redor, mas tudo que posso ver e ouvir são os gritos de Eleanor enquanto seu corpo explode em bolhas como se ela estivesse queimando de dentro para fora. O papel em sua mão começa a soltar fumaça, e estou apavorada que essa bruxa vá entrar em combustão espontânea bem diante dos meus olhos. Estou congelada no lugar enquanto sua pele começa a queimar e rachar. Outro grito exige minha atenção, e olho para encontrar Fiona lutando para longe de seu colega membro da Ordem. Ela está gritando algo sobre magia demoníaca e para sair da sala, mas estou tão confusa com o choque que não me mexo. Luzes piscam ao meu redor, mas tudo que posso ver é Eleanor quando partes de suas mãos começam a descascar como papel queimado pela brisa. Braços me envolvem em uma faixa apertada, e a próxima coisa que sei, estou sendo puxada para fora da sala, o eco dos gritos de Eleanor e o cheiro de enxofre e cinzas me perseguindo enquanto sou puxada para um lugar seguro. Tudo ao meu redor fica mais lento, estou super ciente do que está acontecendo e, ainda assim, é como se alguém ativasse o modo preguiça de bêbado em minhas configurações. Não consigo responder a nada em tempo real. Gritos para coloque-a em segurança no corredor que estou sendo carregada. Alguém abre uma porta com um chute e, de repente, estamos entrando em uma escada. Os pés com as botas batem forte em cada degrau conforme começamos a subir. Tudo parece desorientador com alarmes tocando e luzes piscando ao nosso redor. Quero dizer a quem quer que esteja comigo que eles estão indo para o lado errado. Você deveria descer quando acontece um incêndio, não subir, mas não consigo fazer minha boca funcionar. Sinto como se estivéssemos correndo para um apartamento que se parece com o que eu estava antes, mas posso dizer que não é meu. Tudo está no mesmo lugar, mas as cores são diferentes, as bugigangas nas prateleiras não são as que eu me lembro de ter jogado por aí quando estava procurando pistas em meu quarto. Estou de pé e um homem alto se inclina até que seu rosto fique alinhado com o meu. Olhos verdes selvagens olham para mim, a cicatriz correndo em um lado de seu rosto fazendo-o parecer muito mais formidável do que sei que ele é. Eu paro com essa linha de pensamento imediatamente. Não sei nada sobre ele, lembro a mim mesma. Bem, nada além do fato de que não posso confiar nele de qualquer maneira. Como se Rogan pudesse ver aquela forma de conclusão em meu olhar fixo cheio de choque, vejo como seus olhos endurecem. Posso praticamente senti-lo colocando sua armadura para se proteger do que ele vê no meu olhar. Me quebra um pouco saber que é assim que estamos. Não faz muito tempo que estava olhando em seus olhos e vendo possibilidades ali. Agora tudo que posso ver é minha fraqueza. “Ela está bem? Ela foi atingida por alguma maldição residual?” Uma voz pergunta, mas os olhos de Rogan nunca deixam os meus. “Não, ela só está em choque. O resto do prédio é seguro? Nós sabemos se haviam outros?” Rogan exige. Outros? “Não, eles estão fazendo uma varredura agora,” a outra voz responde, e percebo que é Marx. “Eu preciso de você para limpar a sala,” Rogan calmamente diz a seu amigo, e pisco, fechando o rosto de Rogan fora da minha mente por um milissegundo antes de estar mais uma vez olhando para ele. Internamente, tento me recompor, me dar um tapa mental e gritar para sair dessa. Mas meus pés permanecem plantados, e meus olhos permanecem fixos como se eu fosse a mariposa e Rogan a chama. Ou talvez eu seja a chama, e é por isso que não posso fazer nada além de ficar aqui e me sentir queimando de confusão e fúria. “Equipe, vamos fazer uma varredura, certifique-se de que não haja surpresas. Rish, Bridger, observem a porta, se alguém além de nós tentar se aproximar, coloque-os no chão.” Sim, senhor soa ao meu redor, e embora eu não desvie o olhar do rosto de Rogan, ouço bruxos correndo para fora da sala sob o comando de Marx. O som da porta fechando e uma fechadura sendo colocada registra em meus ouvidos, e ainda assim eu fico parada, olhando para o homem que me traiu a cada chance que ele teve. O silêncio envolve-se ao nosso redor até que eventualmente Rogan o quebra. “Você está bem?” ele me pergunta, seus olhos procurando as minhas respostas. “Não,” surpreendentemente respondo, minha voz plana e distante. “Você está machucada?” Faço um balanço. Estou ferida? O grito de Eleanor reverbera em minha mente e me encolho ao ouvir o som em minha cabeça. “Não fisicamente,” digo baixinho. Nossa, Rogan é parte Vox e ele se esqueceu de me contar sobre isso, ou meu modo de bêbado-preguiçoso vem com uma configuração de resposta automática? “O que é que foi aquilo?” Pergunto trêmula, aliviada por poder formular a pergunta e não apenas ficar aqui e cuspir respostas como se ainda estivesse naquela sala de interrogatório. “Eles farão testes para confirmar, mas tenho certeza que foi uma maldição de demônio,” Rogan me diz. Há admiração e preocupação em seu tom, e isso me faz sentir como se ele estivesse surpreso com o que está dizendo. Não sei muito sobre demônios, exceto que eles são poderosos e parasitas. Eles se alimentam da essência de outros seres vivos, mas não tenho ideia de por que um demônio estaria envolvido nisso. As perguntas disparam em minha mente, passando rápido demais para eu agarrar qualquer uma e forçá-la para fora da minha boca. Não tenho ideia do que isso significa, mas a julgar pelo que acabei de ver, não estou mais segura aqui no coração da Ordem do que fora deste lugar. “Se eu tivesse tocado aquela nota antes dela…” Começo, mas a sacudida inflexível da cabeça de Rogan me faz parar. “Ela sabia melhor que isso, ela sabia que não deveria ter lidado com nenhuma evidência sem as devidas precauções no lugar. Ela colocou todos nós em risco com seu flagrante desrespeito ao protocolo. Eles não teriam deixado você lidar com aquela carta sem proteção,” ele me tranquiliza, mas estou muito ocupada me colocando no lugar de Eleanor para realmente ouvi-lo. Afasto esses pensamentos e esfrego meus olhos como se isso fosse apagar a imagem do que aconteceu com aquela bruxa da minha mente. “Por que um demônio faria isso? Não entendo como isso se encaixa com tudo o que aconteceu?” Rogan coloca sua cabeça para trás, estresse e exaustão irradiando dele. “Não sei. Demônios são raros e geralmente não se envolvem no negócio de bruxas. Eles não têm aspirações políticas, nenhum desejo de fazer parte da hierarquia, pelo que eu sempre soube. Eles têm seu submundo e prosperam nessa atmosfera.” Ele faz uma pausa, seus olhos perdidos em pensamentos enquanto ele trabalha com as possibilidades, mais bem equipado do que eu para desvendá-las com sua vasta experiência do mundo mágico. Enquanto isso, não posso deixar de olhar para todas as sombras na sala com desconfiança. Estou sendo caçada por demônios? Pior ainda é que não sei se essa possibilidade é melhor ou pior do que a ideia de minha avó fingindo sua morte e potencialmente sequestrando bruxas. “A Ordem tem especialistas em magia demoníaca. Eles vão estudar o que aconteceu, quebrar o propósito da maldição e descobrir por que isso aconteceu. Até então, Lennox, precisamos ter cuidado. Quem quer que esteja por trás disso violou a Ordem uma vez, eles poderiam fazer isso de novo,” ele me avisa, e juro que a sala parece que fica mais fria aos poucos. Estou de volta a olhar de lado as sombras quando Rogan solta um suspiro profundo e pressiona sua testa na minha. “Lennox, eu sei que você está brava comigo,” ele começa, e desprezo que sentir seu cheiro seja reconfortante para mim. Pessoas que são idiotas não deveriam ter permissão para cheirar bem ou se sentir seguras. Meus instintos deveriam estar me alertando para longe dele agora, não me enchendo de calor e mais confusão. Traidores. “Eu preciso que você me dê minha magia de volta,” ele termina, o sopro de sua pergunta fazendo cócegas em meus lábios e, finalmente, os sinos de alerta que estou procurando dentro da minha cabeça tocam. Algo estala dentro de mim e eu o empurro. Nota para mim mesma: quando o modo bêbado-preguiçoso é acidentalmente ativado, o ódio é a chave para desligar. “Você está falando sério agora?” Exijo incrédula, e Rogan dá um passo para trás em meu espaço, me aglomerando, confundindo meus sentidos. Recuo para mantê-lo afastado e levanto a mão em advertência. “Isso não é sobre nós, Lennox,” ele argumenta. “Estou vulnerável e não posso estar, não aqui, não com a magia demoníaca violando a Ordem,” ele tenta argumentar, mas cai em ouvidos surdos. Cruzo meus braços sobre meu peito e olho para ele. “Você fará isto funcionar, Rogan. Sei que eu fiz quando você forçou minha mão no primeiro dia em que nos conhecemos ou quando você me drogou e me empurrou neste covil de víboras,” estalo, nem um grama de simpatia em mim por sua situação. “Não tive escolha,” defende. “Elon está em apuros. Essa era nossa melhor aposta para encontrá-lo o mais rápido possível. Precisávamos de mais recursos do que tínhamos acesso. Nossa melhor chance era aproveitar o que a Ordem estava oferecendo.” Fico olhando para ele, boquiaberta. “Você não teve escolha?” Repito como se não houvesse nenhuma maneira de ouvi-lo direito. “Oh, você teve uma escolha de merda, Rogan, você apenas não me escolheu. Não fique assim em sua pequena mente conivente. A Ordem não nos ofereceu nada; você foi até eles para uma porra de uma troca. Eu pelo que você queria. Não pinte sua decisão com baboseiras de martírio e tolices de mão forçada,” lanço para trás venenosamente. “Não, Lennox, não tive escolha. Nunca estive em uma posição em que pudesse escolher você. Sempre se tratava de encontrar Elon. Sempre. Eu devo muito a ele.” “Então deva a ele,” grito, movendo-me para entrar no rosto de Rogan. “Pode dever tudo o que você quiser, mas não me sacrifique para pagar sua dívida! Não me foda porque sua culpa quando se trata de seu irmão anula qualquer decência que você teve ou supera o que diabos estava acontecendo entre nós!” Grito, furiosa. “Não há nós,” ele responde com um grunhido, e recuo como se ele tivesse acabado de me dar um tapa. “Não pode haver quando Elon não está seguro. Você não entende? Eu falhei com meu irmão antes. Você não tem ideia da tortura pela qual ele passou. Não posso me deixar distrair, não posso colocar nada antes dele e de sua segurança!” Balanço minha cabeça e olho ao redor frustrada. “Entendi. De verdade. Mas por que diabos você está me beijando então? Por que você está tentando me conhecer? Você é quem ignora e cruza os limites que diz ter, não eu!” “Eu sei,” ele grita de volta, jogando os braços para cima em um gesto de completa frustração. “Eu não planejei você. Eu não vi você chegando. Era tudo sobre Elon, sobre encontrá-lo e foder quem o levou. Então, de repente, você estava lá e fui puxado para a sua órbita. Eu não poderia ter impedido se tentasse, e tentei,” ele confessa, correndo os dedos frustrado por seu rico cabelo em tons de café. “Isso é para me fazer sentir melhor?” Rosno, suas palavras me irritando ainda mais. Rogan começa a andar com um grunhido de exasperação. “Não, só estou tentando fazer você entender.” “Não sou eu quem precisa entender, seu idiota, é você!” Berrei, entrando em seu caminho. “Nunca se tratou de escolher. Eu nunca teria pedido a você. Era uma questão de confiança. Você poderia ter vindo até mim e me dito o acordo, me dito que essa era a única maneira,” grito, gesticulando ao meu redor. “Eu prometi que iria ajudá-lo e fiz tudo ao meu alcance para fazer exatamente isso.” Me aproximo dele, deixando minha voz cair ameaçadoramente. “Você forçou um vínculo familiar em mim e então enfiou uma agulha no meu pescoço para selar um acordo que você fez,” fervi. “Você sabe que quanto mais tempo nossa magia ficar presa, pior será para nós, e ainda assim você nem tentou consertar quando poderia.” “Não houve tempo,” ele responde, seus olhos implorando. “Fui um idiota pra caralho, Lennox. Eu nem entendi quando você me contou pela primeira vez, estava muito ocupado pensando sobre o que aconteceu na cozinha entre nós e o que Marx jogou em nosso colo. Estava distraído e quase perdi isso, porra,” ele grita, pânico e auto aversão escorrendo de cada palavra, seu rosto enrugado de angústia. “Perdeu o quê?” Grito de volta, completamente furiosa e cansada de toda essa merda enigmática. “Corra,” ele responde, dolorido. “Eu quase perdi o corra” Sua voz falha com a palavra, e juro que posso ouvir seu coração quebrando em seu peito. “Era um código. Isso significava que havia problemas e que precisa ir, rápido. Fazia algum tempo que não usávamos, não sei por que não entendi na hora. Eu estava lá fora depois que Marx saiu, fui mandar uma mensagem de texto para ele, mas as mensagens de texto de Elon estavam logo acima das dele, e foi quando me dei conta.” Ele se aproxima, falando rápida e agitadamente usando as mãos enquanto explica. “Foi uma piada interna estúpida. Nós ficamos carrancudos depois que vencemos uma briga com o último grupo de extratores que nossos pais enviaram em nossa direção.” Meu coração se aperta com suas palavras, com a forma como ele as entrega casualmente, como se seus pais enviando caçadores de recompensas atrás de você fosse uma ocorrência diária e não valesse a pena se concentrar. Expulso minha empatia por ele como alguém pisa um fogo não convidado a seus pés. Não. Eu não mais cari nesse papo dele de o mundo está contra mim, porra. “Nós brincamos sobre a necessidade de um bat-sinal. Eu disse que iria mandar uma mensagem para ele nós cavalgaremos de madrugada e ele saberia que precisava vir até mim. A próxima coisa que se sabe, nós dois estávamos usando sotaques texanos falsos e derrubando chapéus imaginários.” Rogan está perdido na memória, sua cabeça inclinada para trás enquanto ele reconta os detalhes. Trabalho para segurar minha raiva, mas é difícil quando eu continuo imaginando um Rogan bêbado passeando ao redor de sua casa e dizendo coisas como olá e ameaçando duelar com a mobília da sua sala. “Elon disparou do nada, montando um bronco invisível, mas em vez de gritar vertiginosamente agora, ele gritou pronto7 e sua voz falhou como a de um adolescente no processo. Não sei se já rimos tanto quanto naquela noite. Desde então, pronto tornou-se o nosso bat-sinal. Com o tempo, foi encurtado para as iniciais R... U... N.” A compreensão surge em mim e meu estômago embrulha. De repente, sou sugado de volta para a memória da casa de Elon naquele dia. Posso praticamente sentir o pêndulo em minhas mãos enquanto ele se move através da placa vidência primeiro para a letra R, então para U, e por último N. Eu deveria ter dito a Rogan o que disse antes, em vez de segurá- lo como eu fiz. Não sei se teria feito alguma diferença, mas o que poderia ter sido vai me comer viva. “Me odeie, Lennox,” declara Rogan, puxando-me da memória. “Eu sei que mereço, mas o que você quer que eu faça? Se você pudesse ter salvado seu pai, não teria feito nada?” “Não,” advirto, a agonia me queimando e queimando toda e qualquer preocupação gotejando através de mim. “Não se atreva a trazê-lo à tona e tentar me manipular com isso,” rosno. “Eu não estou tentando manipular você-” “Sim você está!” Eu grito com ele, irada. “Não fale comigo como se fossemos ligados por causa de histórias de guerra, como se tivéssemos passado noites juntos mostrando um ao outro nossas cicatrizes de batalha. Essa história não era sua para ouvir!” Olhamos um para o outro, ambos respirando pesadamente, sangrando de dor e implorando para sermos ouvidos, para sermos compreendidos. Mas ele quer algo que eu não posso dar, eu não poderia oferecer a meu pai, e com certeza não sei como encontrar em meu coração para oferecer a ele. Rogan está procurando por perdão, mas tudo que ele encontrará aqui é um nunca mais em brasa fervente. Seus olhos se enchem de compreensão e sinto minha própria fragilidade refletida em seu olhar. “Eu sei que te machuquei,” ele começa, lentamente se aproximando como se ele estivesse com medo de se mover muito rápido, e isso me assustar e me fazer correr. “Eu gostaria de ter conhecido você de forma diferente,” ele confessa, quase um sussurro. “Eu teria achado desculpas para parar em sua loja. Eu teria te conhecido melhor. Te feito rir. Convidaria você para sair. Amaria você. Eu teria mostrado quem eu era antes da tragédia e das cicatrizes.” Seus olhos se enchem de lágrimas enquanto ele estuda meu rosto. “Mas eu não tenho esse luxo, Lennox. Isso foi tirado de mim há muito tempo, quando tudo se tornou uma questão de sobrevivência, de proteger meu irmão. Não importa o quanto eu te quero, o quanto isso me consome. Enquanto Elon estiver lá fora, tenho que fazer tudo o que puder para encontrá-lo. Eu tenho que salvá-lo a todo custo.” As lágrimas escorrem pelas bochechas de Rogan, sua confissão me quebrando de novas maneiras, não apenas a mim, mas ele também. Pelo que foi feito com ele. Pelo que foi feito a seu irmão. Eu entendo o que ele está dizendo. Entendo de onde ele vem. Mas isso não muda nada. Sou um sacrifício que ele está disposto a fazer. Eu entendo, até apoio, os motivos, mas não faz nada doer menos. Eu sei onde estou. Se os papéis fossem invertidos, talvez eu fizesse o mesmo. Mas, de qualquer forma, as coisas entre nós terminam antes de realmente terem a chance de começar, e estou surpresa com a perda que sinto sabendo disso. Com uma respiração resignada, empurro o excesso de magia que tenho segurado na conexão entre Rogan e eu. O observo enquanto eu retribuo o que recebi, esperando ver alívio em seu olhar. Em vez disso, rastreio lágrimas conforme elas saem de seus olhos sem controle. Uma profunda e penetrante tristeza enche meu peito com a finalidade deste momento. Podemos ainda estar amarrados, mas tudo o mais entre nós está fragmentado agora, e nós dois sabemos que não há como voltar disso. Meus olhos picam com sua emoção nua. Nós nos conhecemos há dias, mas tudo parece muito mais profundo. Quando toda a sua magia é devolvida, libero a corda como se fosse quente e perigosa, e Rogan recua em resposta. Acabou. Ficamos quietos e fragmentados na presença um do outro por mais um momento. Ele estende a mão e torce um dos meus cachos em torno de seu dedo, e então, simplesmente assim, ele sai. Não há desculpas em seus passos, nenhuma promessa esperando para ser quebrada ou esperança para se agarrar. Como ele disse, é sobre Elon e nada mais. Envolvo meus braços em volta de mim mesma e trabalho para não desmoronar. Quando meu pai morreu, quando encontrei seu bilhete e todas as evidências de sua traição, algo mudou em mim e me desliguei. Perdi um pedaço de mim naquele dia. Espero que aconteça a mesma coisa agora, mas tudo que sinto é uma tristeza profunda e penetrante. Não importa o quanto eu tente, não consigo me impedir. Não consigo descobrir como desligar. Ela ondula através de mim, recusando-se a diminuir ou ser ignorada. Então eu faço a única coisa que posso fazer... Me rendo, e isso destrói o coração que trabalhei tanto para manter a salvo. 05
“O que você quer dizer com ‘eu não posso ir ver os
apartamentos dos Osteomantes desaparecidos’?” Pergunto a Marx, seu olhar chocolate escuro cheio de desculpas e seu cabelo loiro penteado para o lado em uma onda perfeita. “Como vou lê-los se não estou no espaço deles?” Acrescento, frustrada com a prisão domiciliar, em que parece que fui colocada. Irritadamente corro meus dedos pelo meu cabelo, o que provavelmente vai deixar a porcaria dos meus cachos com frizz, mas não dou a mínima neste momento. Eu me sinto presa e odeio isso. Toda a conversa sobre poder voltar para casa foi pela janela assim que o uso da magia demoníaca foi confirmado - não que eu realmente acreditasse que eles me deixariam ir antes. Não, eles ainda acham que minha falecida Vovó Ruby está por trás de tudo isso de alguma forma. Não importa o quanto eu assegure a eles que não poderia ser o caso, sou apenas uma bruxa tendenciosa que ninguém quer ouvir. Sinto o peso de olhos sobre mim, e sei sem olhar ao redor que o olhar fixo pertence a Rogan. Eu mal o vi desde nossa conversa alguns dias atrás, mas isso não me impede de estar dolorosamente ciente de sua presença. É como se dizer a mim mesma que isso nunca vai acontecer só me deixou hiper consciente de cada respiração que ele puxa para dentro de seus pulmões e expira, ou cada vez que ele entra em um quarto que eu já esteja. Podia senti-lo até atrás do vidro espelhado, observando, nas duas outras vezes em que fui interrogada, as mesmas perguntas lançadas para mim repetidamente. Sinto que vou enlouquecer neste lugar e começo a me perguntar se esse é o objetivo da Ordem. Minha avó estava certa em manter distância. Sinto como se tivesse sido apanhada por algum tipo de teia, e nunca vou conseguir me libertar ou me livrar do resíduo pegajoso ou da sensação de estar sendo caçada por aranhas. Minha associação com Rogan me pintou como suspeita. Ninguém na Ordem pode entender por que uma boa bruxa estaria associada a um renunciado. Acrescente isso a sua teoria absurda sobre minha avó, e não há ninguém ao meu redor oferecendo sorrisos amigáveis ou apoio. “Sinto muito, Lennox, tentei convencê-los, mas a Ordem considerou muito arriscado. Uma equipe irá buscar qualquer coisa que eles acham que você possa ler e trará aqui para você. Isso é o melhor que pude fazer,” ele me tranquiliza, e solto um suspiro irritado. “Não se trata apenas das coisas deles, mas de estar no espaço deles,” defendo. “É sobre a energia deles afetando uma leitura e possivelmente nos ajudando a encontrar pistas que não conseguiríamos em nenhum outro lugar.” Já posso ver que não vou chegar a lugar nenhum com isso, e rosno irritada. Membros da equipe de Prek ficam casualmente em torno de meus aposentos, todos ouvindo e assistindo, mas fingindo que não. Gostaria de poder dizer que eles ficavam em segundo plano com sua presença constante e necessidade de me seguir aonde quer que eu vá, mas não é esse o caso. Tenho tentado lentamente aprender seus nomes, não que eles ajudem nisso. Aparentemente, Prek é o único com permissão para falar diretamente comigo, a menos que eu esteja recebendo uma ordem para esperar enquanto eles varrem uma sala e então dizem tudo limpo antes de voltarem para o tratamento silencioso. E porque tudo isso não é tortura o suficiente, fui transferida para um andar diferente, onde Prek, sua equipe, Rogan e a pequena e sortuda eu, agora coabitam... por segurança, é claro. “Eu sei meu bem. Argumentei por você,” Marx me assegura. “Mas eles não estão aceitando. Até eles pegarem quem eles acham que está por trás de tudo isso, eles não vão desistir,” ele acrescenta, e jogo minhas mãos para cima, exasperada enquanto me sento em uma cadeira, colocando minha bolsa de ossos no meu joelho. “Isso é estúpido, a pessoa que eles procuram está morta. Ela nunca me machucaria nesta vida ou em qualquer outra, mas ninguém quer ouvir isso. Eu poderia estar fazendo mais do que apenas sentar e responder às mesmas perguntas inúteis. Não podemos simplesmente fugir ou algo assim?” Pressiono, me sentindo como uma adolescente petulante que foi punida injustamente. Marx ri e afasta do rosto algumas mechas soltas de seu cabelo loiro. “Claaaaaroooooo, mas se sobrevivermos à merda que inevitavelmente atingirá o ventilador enquanto estivermos no mundo desprotegidos, você estará de volta aqui sem nenhuma das liberdades que tem agora. Não pense que você não obteve aprovação especial para passear no parque quando quer. Eles afastaram a merda daquele lugar antes de dar a você a permissão para passar qualquer período de tempo lá. E aquele café que você gosta de sentar depois de suas caminhadas?” Eu rolo meus olhos. “O parque fica bem próximo a este prédio e está imprensado entre quatro postos avançados da Ordem em um quarteirão que pertence a uma bruxa. Ah, e a cafeteria também. A Ordem está realmente me fazendo algum favor especial? Ou eles estão apenas fazendo parecer assim, para que eu não exija mais liberdade ou acesso a este lugar do que já tenho,” desafio, agarrando a bolsa de veludo roxa que eu tinha colocado no meu joelho e sentindo os pedaços de ossos dentro. Tocar nos ossos, mesmo através do material da bolsa, tem um efeito calmante, mando um pedido silencioso de desculpas por eles não serem usados hoje para ler as residências das bruxas desaparecidas como pensei que fossem. Eu estava realmente ansiosa para sair deste lugar um pouco. Uma imagem passa pela minha mente, interrompendo meus pensamentos. É um relógio analógico, como aquele que eu costumava ver pendurado em todas as salas de aula em que já me sentei. A hora marca cinco da tarde. Um homem abre a porta localizada logo abaixo do relógio e, de repente, ele desaparece. A imagem do relógio e do homem são substituídas por uma mulher abraçando o mesmo homem, uma sensação de paz e emoção permeando a visão. Eu pisco e o casal que se abraça vai embora. Mais uma vez, o cenário familiar de meus aposentos aparece diante de meus olhos. Sinto uma coceira sutil logo abaixo da pele, dizendo que o que acabou de acontecer é uma mensagem destinada a outra pessoa, e olho ao redor da sala, tentando deduzir quem deve recebê-la. Fico olhando para cada indivíduo aqui, tentando localizar o que acabou de acontecer com quem precisa receber essa mensagem, mas nada ressoa. Solto o osso que estou segurando através do tecido aveludado da bolsa, e a sensação de coceira desaparece imediatamente. Estendo a mão para agarrar o pedaço de osso novamente para ver se a sensação vai voltar, mas nada acontece. Esquisito. Sento-me assim por um momento, perdida em pensamentos, agarrando e liberando o pedaço de osso na minha bolsa com expectativa, mas a visão e a vontade de descobrir a quem ele pertence se foram. Eu olho para cima, e meus olhos se conectam com Rogan. Ele me observa constantemente, mas nunca olho o suficiente para tentar decifrar o que está em seu olhar. Digo a mim mesma que não importa. O que está escondido nessas profundezas cor de musgo não é para mim, mas a corda mágica que nos conecta canta em meu peito como uma corda de harpa dedilhada, com a intenção de provar que estou errada. Ignoro a chamada mágica, puxando minha mão da minha bolsa de ossos, fazendo o meu melhor para me desconectar da minha magia toda de uma vez. Não quero fazer nada que fortaleça esta conexão ou confunda ainda mais nossas habilidades, mais do que já estão. Sei que quando encontrarmos as bruxas desaparecidas, estaremos de volta à casa de sua tia, cortaremos este laço, e farei tudo ao meu alcance para estabelecer essa separação para o sucesso. “Vou dar um passeio,” anuncio, pulando da cadeira, perseguindo ansiosamente a necessidade de fugir. Tenho que me afastar desses olhos e de meus pensamentos irregulares. Talvez eu ligue Tad ou Alpha Riggs novamente e checarei Hoot, cair nessa distração por um tempo. Com sorte, vai durar até que a equipe volte dos apartamentos das bruxas desaparecidas com algo para eu ler, fazer ou examinar. Meus guardas circulam ao meu redor com fluidez, todos se movendo juntos como se fossem mais um rebanho do que indivíduos. Percebo que ainda tenho meus ossos em minha mão, mas virar para colocá-los no chão significa ter que olhar para Rogan novamente, então eu os amarro ao cinto em minha calça jeans em vez disso e me apresso para a porta. Prek silenciosamente dá um passo ao meu lado, e assim que a porta do apartamento se fecha atrás de mim, sinto que posso respirar melhor. Entramos no elevador, minha mente fazendo o que tem feito desde que acordei neste lugar, analisando tudo demais. Não consigo desligar. Eu apenas continuo conversando com o Major, Prek, Rogan, os membros da Ordem que eles enviaram para me interrogar. “Alguma notícia sobre Eleanor?” Pergunto quando as portas do elevador fecham e começamos a descer. Sinto uma tensão palpável nos guardas ao meu redor e viro minha cabeça em direção a Prek, meus olhos exigindo respostas. “O que aconteceu? Eu pensei que eles tivessem parado a maldição e ela estava estável?” Prek limpa a garganta e um pressentimento rasteja por mim. Posso sentir as más notícias em suas palavras antes mesmo de ele expressá-las. “Ela morreu cedo esta manhã,” ele anuncia, virando-se para longe de mim para assistir os números decrescentes iluminarem nossa descida para o saguão do edifício. Olho para cima e vejo a mesma contagem regressiva, sem saber o que pensar ou sentir sobre essa notícia. Eu não gostava da bruxa, mas também não teria desejado o que aconteceu com ela nem ao meu pior inimigo. “Alguma notícia sobre a maldição?” Questiono, tentando mudar de assunto para algo menos impotente e deprimente. “Eles concluíram que o que aconteceu foi definitivamente algum tipo de salvaguarda, e a magia tinha outro propósito por trás da maldição que atacou Eleanor. Infelizmente, eles ainda estão tentando isolar exatamente qual era esse propósito. Eles também estão trabalhando no que o mecanismo de acionamento deveria ser. A hipótese é que você teria desencadeado uma reação apenas por estar perto dele, mas teremos que esperar para confirmar esses detalhes,” Prek me diz, seu tom analítico e vazio. Tento não pensar em todas as possibilidades do que poderia estar esperando por mim. Nos últimos dias, descobri que tenho uma imaginação muito ativa e isso definitivamente não é uma coisa boa quando se trata de fornecer uma lista interminável e criativa de todas as maneiras pelas quais eu poderia ter sido ferida ou morta. Só Stephen King está nesse nível de merda mórbida. Estou inclinada em direção a uma das inúmeras saídas do prédio. Até agora, nunca saímos do mesmo e fui avisada de que não poderei caminhar na mesma hora todos os dias. Parece que se minha necessidade de ar fresco for esporádica e imprevisível, tudo bem. Um céu azul sem nuvens me dá as boas-vindas antes que o vento quebradiço pelo qual Chicago é famosa execute seu ataque. Não estou nem brava com isso enquanto envolvo meus braços em volta de mim mesma em defesa contra a corrente de ar frio. Eu empurro os cachos do rosto e sigo meus guardas até a entrada do espaço verde entre prédios altos que mal é grande o suficiente para chamar de parque. Inclino minha cabeça para trás para o céu e paro por um momento para que os raios do sol possam tentar me aquecer um pouco. Os pássaros cantam animadamente entre o som pesado do tráfego e as buzinas, e me encontro sentindo falta do silêncio do Tennessee. Mentalmente, bato nesse pensamento em sua cara irritante e me forço a substituir o Tennessee por Marblehead, Massachusetts. Casa. Uma sensação de vazio está no centro de minhas entranhas, e expiro profundamente em um esforço para desalojá-la. Eu quero gritar, mas engulo. Conheço Rogan há menos de uma semana, e ainda de alguma forma, ele afundou suas garras tão profundamente em mim que não posso fugir dele. Estou sentindo falta de um lugar onde passei apenas alguns dias e estou tentando não lamentar a perda de um idiota que estragou minha vida de forma tão épica que não sei como vou voltar disso. Ocorre-me que oficialmente sou uma Osteomante há uma semana, mas juro que parece que já se passaram anos. Tanta coisa aconteceu nos últimos sete dias, e não tenho a menor ideia de como processar tudo. Puxo o ar da cidade profundamente em meus pulmões e começo a seguir o caminho pavimentado que está cercado por grama verde e bancos. Há uma árvore ocasional aqui e ali, e pessoas espalhadas em trajes de escritório, que parecem que estão fora para aproveitar o clima decente e seu almoço. Tento acalmar o zumbido de pensamentos frenéticos que se agitam em minha mente e me concentro no mundo ao meu redor. Como se fosse algo que fiz durante toda a minha vida, procuro os ossos perto de mim. Sinto meus guardas e as estruturas esqueléticas de tudo no parque. Sinto o osso com que um cachorro está brincando no espaço verde e as coxinhas de frango que alguém tem na lancheira. Sinto os animais acima e abaixo do solo, e percebo a osteomatéria em algumas das alas ao redor das fortalezas da Ordem. Minha bolsa de ossos salta contra minha perna enquanto caminho, uma forte sensação de consolo movendo-se por mim como se meus ancestrais estivessem tentando me dizer que tudo vai ficar bem. Faço um plano para sentar na grama e ver se consigo me comunicar com eles, ver se aqueles que vieram antes de mim podem oferecer alguma orientação sobre o que diabos devo fazer com o que recebi. Escolho um ponto no sol em que ninguém está sentado, mas assim que me movo em sua direção, aquela coceira reveladora começa logo abaixo da minha pele. Uma pontada de necessidade faz cócegas na minha consciência e começo a procurar quem os ossos querem que eu ajude. Meu olhar penetrante pousa em uma mulher caminhando em minha direção. Seu cabelo ruivo brilhante sopra com a brisa, e seus olhos prateados estão preocupados e distantes. Eu a observo enquanto ela se aproxima inconscientemente, reconhecendo-a pela estranha visão que eu tive do relógio e do homem. Eu me abro para a magia, acolhendo-a em minhas veias, e ela se funde perfeitamente com meus instintos. A paz me atinge e fecho meus olhos e me divirto com isso por um momento. Tudo o mais ao meu redor pode ser caos e desastre, mas isso está certo. Eu senti falta isso. O alívio entra e sai de meus pulmões enquanto respiro esse sentimento, e então abro meus olhos e me concentro de volta na bruxa que está prestes a passar por mim e minha barreira protetora de guardas da Ordem. Ela está tão enterrada em preocupação que a exibição incomum de superproteção nem mesmo a perturba. Procuro meus ossos, mas eles não esquentam ou emitem aquela estranha sensação de empolgação como fizeram com a outra leitura que fiz, e então me ocorre o que querem que eu faça. “Você deveria dizer a ele,” grito aleatoriamente atrás da mulher angustiada. Senti antes que a visão incomum era uma mensagem e parece que a mensagem é para ela. “O que?” A mulher pergunta, seus olhos tempestuosos olhando por cima do ombro e pousando nos meus antes de olhar em volta como se ela esperasse que eu estivesse falando com outra pessoa. Estou um pouco surpresa por ela ter me ouvido, mas coloco um sorriso gentil no rosto e me repito. “Você deveria dizer a ele,” ofereço novamente, um brilho de conhecimento em meus olhos. Observo enquanto ela analisa o que diabos estou falando, e uma faísca de surpresa passa por ela quando ela faz uma conexão. “O-por que você diz isso?” ela gagueja, claramente surpresa com a troca do nada. Meu sorriso fica mais largo e me aproximo dela. Minhas babás entram no meu caminho e se recusam a permitir que eu diminua a distância entre mim e essa estranha. Eu dou uma pequena bufada de aborrecimento, e a sobrancelha da mulher mergulha em preocupação quando ela finalmente percebe o contingente protetor que me cerca. Eu lanço a ela um olhar que diz apenas ignore eles, eu faço. “Meus ossos me disseram,” explico, dando um tapinha na bolsa roxa em meu quadril. Seus olhos se arregalam com choque, e me lembro de algo que descobri outro dia. Quando se trata de magia, os Osteomantes são poucos e distantes entre si. Ainda não descobri se há um motivo para isso, mas deixei esse pensamento de lado e me concentrei na mensagem que me pediram para transmitir. “Ele estará em casa às cinco,” digo a ela. “E ele ficará feliz quando você contar a ele,” acrescento, sorrindo ainda mais quando vejo a emoção em seus olhos com a minha declaração. Ela pisca e engole o alívio que sinto saindo dela em ondas agora. “Obrigada,” ela sussurra para mim, um lindo sorriso ultrapassando seu rosto enquanto ela embala seu abdômen protetoramente com as mãos. “Ele vai ficar tão animado,” eu a tranquilizo, e ela ri docemente e enxuga uma lágrima que cai de sua bochecha vermelha. “Estamos namorando há apenas alguns meses,” ela me diz, com tristeza em seus olhos, mas alegria em seu rosto. Eu aceno em compreensão, a visão do homem e da mulher se abraçando flutuando diante dos meus olhos. “Eu sei, mas tudo funcionará exatamente como deveria.” “Obrigada…” “Lennox,” digo em resposta à sua pausa. “Obrigada, Lennox,” ela oferece, e com isso, ela se vira para continuar sua caminhada, uma sensação de urgência excitada agora em seus passos. Eu sorrio e volto minha atenção para o meu próprio passeio. Escolho o local perfeito de grama novamente e vou em direção a ele quando uma voz atrás de mim me pega de surpresa, e eu paro. “É assim que funciona? Você simplesmente diz aleatoriamente a alguém o que ela precisa ouvir?” O grande guarda brutamontes atrás de mim pergunta. Acho que o chamam de Preach, mas não tenho certeza se é um apelido ou um nome verdadeiro - primeiro ou último - dele. Ele parece um pouco perturbado, lançando um olhar de mim para Prek e de volta para mim, como se o que ele estivesse fazendo pudesse colocá-lo em apuros. Prek não diz nada, e considero isso um sinal de que essa troca está liberada. “Hum, honestamente não tenho certeza,” admito com um encolher de ombros. “Só estou fazendo isso há pouco tempo. A sensação de que eu precisava ajudá-la era a mesma que senti antes,” explico, pensando no que senti quando soube que precisava ajudar Rogan ou quando fui atraída para ler para Paul. Os lábios de Preach se achatam em pensamento, e ele acena em compreensão. “Eu tive um vislumbre da mensagem hoje cedo. Não sabia para quem era até que a vi agora, no entanto,” continuo, não querendo que a interação acabe tão rapidamente. “Você quer que eu faça uma leitura para você?” Pergunto curiosamente, um toque de excitação passando por mim. Os olhos de Preach se arregalam e ele gagueja um sonoro: “Não! Quer dizer, não, obrigado. Espere. Você simplesmente faria isso? Me leria assim?” Ele pergunta, estalando os dedos e parecendo atordoado. Você pensaria que eu apenas me ofereci para cair de joelhos e lambê-lo como um pirulito com a forma como ele ficou nervoso de repente, e me lembro de Rogan ficar surpreso quando casualmente me ofereci para ler para ele também. “Estou perdendo alguma coisa?” Questiono, virando-me para Prek com expectativa, como se ele fosse o estranho-cara- sussurrador ou algo assim. Prek também parece um pouco surpreso com a minha oferta, mas rapidamente se controla. “Leituras, ou qualquer tipo de profetização, são consideradas muito sagradas e geralmente não são oferecidas tão... hum... gratuitamente,” ele fornece, e minhas bochechas aquecem de vergonha e confusão. Eu sinto que acabei de cometer algum tipo de gafe de bruxa, que não faz sentido para mim. Minha avó Ruby falou sobre os ossos e o que eles podiam fazer como se fosse um presente que o mundo precisava e merecia. Foi constantemente martelado em mim que era nossa responsabilidade como Osteomantes servir a qualquer pessoa que os ossos escolhessem. “Eu vi minha avó ler estranhos e amigos sem reservas ou necessidade de qualquer coisa mais do que um abraço e um sorriso caloroso,” digo a ele, não tenho certeza se estou me defendendo ou oferecendo segurança. “Eu ouvi isso sobre ela, mas foi a exceção e não a regra quando se trata dessa ramificação da magia,” responde Prek, e estou perplexa com essa revelação. Eu olho de Prek para Preach e vice-versa. “Então como os outros trabalham? Eles não seguem onde os ossos levam?” Prek encolhe os ombros. “Não sei. Eu sei o que os Osteomantes fazem em teoria, mas nunca vi um em ação,” ele confessa, seus olhos deixando os meus para examinar diligentemente nossos arredores. A voz de Rogan enche minha mente, e estou perdida em suas profundezas por um momento. Existem quatro Osteomantes no continente norte - sabe quantos deles estão desaparecidos? Todos eles, exceto você. Eu repasso suas palavras mais algumas vezes antes de voltar à realidade. Eu já sabia dessa parte. Que quando se trata de magia de ossos, não há muitos detentores, mas nunca entendi o que isso significava em comparação com o resto da raça das bruxas até agora. Olho ao meu redor, para as torres dos edifícios da Ordem alcançando o céu como mãos levantadas prontas para adorar. Existem milhares de bruxas zumbindo apenas nesses edifícios, a maioria delas Circummancers que controlam um ou mais dos elementos. A disparidade entre as linhas da magia é impressionante, e não tinha compreensão de quanto até chegar aqui. Coço meu braço em um esforço para aliviar a coceira, e então percebo o que a presença dessa coceira significa. Eu olho para cada um dos meus guardas, mas mais uma vez o sentimento não seleciona nenhum deles. “Bem, vocês podem não querer que eu leia para nenhum de vocês, mas tenho certeza que estão prestes a testemunhar uma leitura,” anuncio enquanto procuro as pessoas ao meu redor. Meu olhar penetrante pousa em uma mulher com uma expressão melancólica no rosto enquanto ela se levanta e observa um cachorro trazer um osso de volta para seu dono. Eu respiro fundo e a estudo, confirmando com os ossos que ela é a única. Sinto o calor da bolsa contra minha perna e me preparo. “Eu sei que vocês não têm permissão para ir muito longe de mim, mas as leituras podem ser incrivelmente íntimas, então, por favor, honrem isso tanto quanto puderem,” aconselho os guardas ao redor. “Isto é, se ela quiser uma de qualquer maneira. Pergunte a Rogan sobre a pobre mãe que acidentalmente empurrei para a borda, se você quiser uma boa risada algum dia,” acrescento, e então faço meu caminho até a mulher que agora está sorrindo enquanto observa o cachorro buscar o osso e abanar seu caminho de volta para sua pessoa. Eu faço o meu melhor para descartar a pontada de ansiedade que sinto ao diminuir a distância para esta mulher que os ossos escolheram. Até agora, o consenso aqui parece ser que eu me oferecendo aleatoriamente para fazer o que faço é recebido com choque e suspeita. Espero essa reação mais no mundo dos humanos, com suas crenças e entendimentos variados de como o mundo funciona, mas entre as bruxas, não esperava ser rejeitada tanto quanto fui até agora, primeiro com Rogan e agora com Preach. Recebo sua hesitação imediata, já que não é algo que normalmente é oferecido de forma tão gratuita e sem amarras, mas você pensaria que, uma vez que eles superassem o choque inicial da oferta, eles estariam ainda mais a bordo pelos mesmos motivos. Conforme minha horda ao redor - vestida da cabeça aos pés de preto - se aproxima, a mulher imediatamente percebe e se enrijece. Ela se move para ficar em posição de sentido, oferecendo a Prek uma saudação rígida enquanto ele se aproxima. Ela está vestida com uma versão menos intensa do uniforme que meus guardas estão vestindo, e se tivesse que adivinhar, eu diria que ela é uma sentinela em algum lugar por aqui. “Capitão,” ela late em saudação quando paramos na frente dela. “À vontade,” Prek comanda, e ela relaxa um pouco, deixando de lado sua saudação e espalhando sua postura, mas posso vê-la tentando descobrir por que a abordamos. “Essa é a Osteomante Osseous,” Prek apresenta, e ela acena para mim em saudação. “Ela a escolheu para uma leitura. Você gostaria de começar com isso aqui ou em algum lugar mais privado?” ele ataca-a diretamente, e ela recua, claramente estupefata pelo comando estranho. Eu fico na frente dele, ignorando o grunhido de advertência que ele me dá enquanto faço. Atiro em Prek com aquele olhar e coloco um sorriso doce sem necessidade de correr no meu rosto para a mulher. “O que o capitão quis dizer é que, se você quiser uma leitura, ficarei feliz em lhe oferecer uma. Você não precisa, sem pressão. Meus ossos escolheram você, mas você não tem absolutamente nenhuma obrigação de dizer sim. Eu não ficarei ofendido de qualquer maneira,” digo a ela, esperando que isso suavize o que acabou de acontecer. Eu atiro a Prek outro olhar por cima do ombro para uma boa medida. A sentinela me encara por um instante, o choque nadando em seus olhos castanhos, que estão saltando de mim para a dúzia de guardas ao meu redor e vice-versa. “Você... você quer jogar seus ossos para mim?” ela se esquiva, olhando em volta como se esperasse que isso fosse algum tipo de armação. “Só se você quiser,” ofereço, tentando afogar a incerteza em minha voz com calor e gentileza. “Uh, ok,” ela concorda com um pequeno encolher de ombros, ainda olhando em volta como se esperasse que alguém pule dos arbustos e grite peguei você! “Mesmo?” Grito, meio em estado de choque e meio em excitação. Limpo minha garganta, batendo em meu peito com o punho fechado. “Quero dizer, excelente. Onde você se sentiria confortável para fazer uma leitura?” Nós duas olhamos em volta para a minha pergunta e, como se o destino estivesse olhando para nós com um sorriso caloroso, um grupo de bruxas se levanta, abandonando uma mesa de piquenique encharcada pela sombra. “Que tal lá?” a bruxa escolhe sabiamente, e aceno e gesticulo para que ela mostre o caminho. Prek dá um passo para trás na minha frente com um olhar, e admito ser conduzida atrás da mulher, como uma criança que não pode ser confiável para seus próprios dispositivos. Suspiro baixinho e lanço um apelo silencioso para que toda essa necessidade de proteção acabe logo. Então endireito meus ombros e coloco minha cabeça no jogo. Estou prestes a fazer minha segunda leitura ao vivo e só posso esperar ser capaz de canalizar tudo o que ela precisa saber. Pronto ou não, aqui vou eu. 06
“Eu sou Colby,” a bruxa se apresenta, estendendo sua
mão para mim enquanto nos movemos para lados opostos do banco de piquenique e nos sentamos. “Leni,” ofereço em troca, estendendo a mão e segurando seu antebraço em um aperto de mão de bruxa. Ela olha ao meu redor e depois para os guardas, que se movem para cercar a mesa, alguns deles de frente para nós enquanto outros ficam de costas, a tensão e a expectativa crescendo no ar ao redor. Ela não diz nada ou pergunta o que diabos está acontecendo quando se senta, mas ela tem um olhar cauteloso em seu rosto. Sento-me em frente a ela e coloco minha bolsa de ossos no tampo da mesa de concreto. Debato oferecer a ela algum tipo de explicação de por que estou sendo escoltada por doze guardas da Ordem, mas não sei se as bruxas desaparecidas são de conhecimento comum, então, em vez disso, não digo nada, optando por ignorar minha contingência de babás e me concentrar em Colby. Instintivamente, quero dizer algo que irá amenizar seu óbvio desconforto por esta situação embaraçosa, mas quando abro minha boca para dizer a ela que sinto muito por este encontro aleatório, me contenho. Na verdade, não lamento que isso esteja acontecendo. Ainda não sei o porquê de tudo isso - e talvez nunca saberei, talvez seja apenas para Colby saber - mas sei que os ossos têm seus motivos e acredito neles, independentemente de esses motivos serem ou não claros para mim. Eu me afasto das sutilezas enraizadas em mim pela cultura e me lembro de que as palavras têm poder. Eu não deveria falar bobagem por educação, não importa o quanto eu queira amenizar uma situação desconfortável. Eu endireito minhas costas um pouco mais e dou a Colby um sorriso confiante. “Obrigado por sua fé em mim e neles,” acrescento, dando tapinhas na bolsa de veludo na minha frente. “Vou fazer o meu melhor para não a prender por muito tempo, mas você nunca sabe o que os ossos vão dizer,” advirto enquanto desamarro as cordas no topo da bolsa. Colby balança a cabeça e se acomoda em seu assento um pouco mais. Eu sinto uma curiosidade excitada misturada com as ondas de ansiedade saindo dela. “Me ajuda se eu puder conseguir três itens de você, coisas que têm algum tipo de significado. Você tem algo com você que possa funcionar?” Pergunto, olhando para ela para ver o que pode servir para isso. Sua sobrancelha mergulha em pensamentos, e ela dá um tapinha em si mesma por um momento antes de abrir o zíper de sua jaqueta leve e tirar um alfinete de sua camisa preta por baixo. Reconheço o pentagrama dourado no topo do que poderia ser confundido com um círculo, mas sei que na verdade é um O que representa a Ordem. Já vi outros membros da Ordem com o mesmo símbolo bordado em suas golas ou em remendos presos a várias partes de seus uniformes. Uma vez perguntei a Prek como eles impediam os humanos de invadir o prédio com forcados, gritando culto, ao ver esses pentagramas exibidos com tanto orgulho em seus uniformes. Mas tudo o que o filho da puta atrevido me disse foi, “Mágica.” Colby coloca o alfinete na mesa entre nós, e então ela hesitantemente estende a mão e remove um de seus brincos, colocando-o próximo ao alfinete. Ela faz uma pausa por um minuto, e então seus olhos castanhos preocupados encontram os meus. “Eu não tenho mais nada,” ela me diz com um claro pedido de desculpas em sua voz. “Tudo bem,” a tranquilizo. “Eu posso atribuir a você um totem, isso não é nada demais.” Volto minha atenção para minha bolsa e trabalho para conjurar algo que Colby possa usar para esta leitura. Quando sinto que um novo item está na minha bolsa, eu alcanço para arrancá-lo. Envolvo meus dedos em torno do que parece ser uma pulseira. A puxo para fora da bolsa e, om certeza, estou segurando uma pulseira de ossos com entalhes intrincados enrolada em toda a circunferência da peça requintada. Os entalhes são delicados redemoinhos e linhas. Eles não possuem um padrão reconhecível para mim, mas é lindo do mesmo jeito. Entrego a pulseira a Colby. “Segure isso por um momento,” instruo. “Empurre um pouco de sua magia para isso, sua essência. Pense em quaisquer perguntas que você gostaria de saber pelos ossos hoje,” digo a ela, e ela balança a cabeça e envolve as duas mãos ao redor do bracelete protetoramente. Ela fecha os olhos e leva as mãos e a pulseira à boca, sussurrando algo que não consigo ouvir. Eu sei ali mesmo, sem a ajuda dos ossos, que ela é uma bruxa Vox, como Marx, e que ela está compartilhando sua magia com o item da melhor maneira que pode, falando diretamente com a pulseira de ossos. Olhos castanhos encontram os meus mais uma vez, e ela me devolve seu totem emprestado. Com um sorriso caloroso, coloco-o na bolsa, adicionando seu alfinete e seu brinco, antes de amarrar o saco e sacudir os ossos. Eu os sacudo por mais tempo do que na primeira leitura, e sinto mais do que apenas os olhos de Colby em mim. Eu luto contra o forte desejo de gritar Bingo quando finalmente tenho a impressão de que os ossos estão prontos, e os jogo na mesa, ansiosa para ver o que eles têm para dizer. Sinto uma inspiração coletiva enquanto os ossos se espalham, se agrupam e se acomodam. É óbvio que mais pessoas estão assistindo isso - me observando - do que apenas a bruxa para a qual está leitura se destina. Tento não deixar que essa pressão adicional se estabeleça em meus ossos e se torne timidez. Eu inspiro e expiro uniformemente enquanto olho para a propagação e vejo o que os ossos têm a dizer. A primeira coisa que noto é que o bracelete, aquele ao qual ela conferiu seu poder e intenção, está em cima de símbolos que representam família, raízes, educação. Misturados a esses símbolos estão outros que me mostram escuridão, rejeição, julgamento. Eu vejo que esse agrupamento precisa ficar separado dos outros, para indicar que essa exibição tóxica e dolorosa precisa ser cortada como o câncer que é, mas sigo uma corda de pequenos fragmentos de ossos de volta para as outras coleções que representam esta bruxa e a vida dela. A indignação cresce em minha alma com o que estou vendo, mas sei que não posso começar por aí. Eu não posso começar com a escuridão, é melhor relaxar nisso. Preciso que Colby sinta a luz. Porque tudo sobre a propagação dela está gritando estou perdida e ela precisa de alguém para encontrá- la. Não. Não alguém. Ela precisa se encontrar. Eu encontro o olhar curioso de Colby com um calor radiante, aceitação e crença. “Você é forte,” começo, oferecendo a ela um olhar genuíno de admiração e orgulho. “Persistente. Não há nada neste mundo que possa te impedir quando você coloca sua mente em algo,” digo a ela, e um leve rubor rasteja em suas bochechas enquanto seus olhos correm ao redor para ver quem mais pode estar ouvindo minhas declarações. Eu balanço minha cabeça e chamo sua atenção de volta para mim. “Eles não importam,” sussurro conspiratoriamente, dispensando a audiência indesejável de guardas e outros transeuntes aleatórios. “Foda-se,” brinco com um sorriso atrevido e uma piscadela. Um sorriso se espalha lentamente por seu rosto, e ela exala uma respiração profunda, seu corpo relaxando ligeiramente. “Foda-se,” ela repete. Nós duas rimos, e isso ajuda a fortalecer sua determinação. Ela se inclina um pouco mais perto, e aceno com a cabeça em aprovação e continuo. “Você teve que lutar para chegar onde você está na vida. A estrada não tem sido fácil, e por mais que você queira que eu diga que vai melhorar, que as coisas vão ficar mais fáceis, os ossos não querem que eu faça isso,” digo a ela, cortando o seu coração como uma faca quente na manteiga. Quer dizer, quem não quer ouvir, desculpe sua vida tem sido uma merda, mas vejo mais merda em seu futuro. Legal, Lennox, por que você não assusta a bruxa ainda mais do que ela provavelmente já está. Meus olhos vão e voltam entre os de Colby, procurando por qualquer sinal de que essa informação a faça querer fugir, mas tudo que encontro é uma determinação inabalável e estranhamente... esperança. Bem, ok então, talvez eu não tenha estragado tudo tanto quanto pensava. Respiro fundo e examino os ossos novamente. Símbolos saltam para mim, misturando-se para criar significado e propósito. Formas, fragmentos e combinações guiam meu caminho e me acomodo na maravilha dessa magia. Eu estudo os ossos que conectam o alfinete e o brinco e olho para cima. “Você tem debatido sobre algo há um tempo, um trabalho talvez ou algum tipo de tarefa, embora haja mais do que isso,” hesito enquanto leio os símbolos abraçando seu distintivo da Ordem e ramificando a partir dele. “Vejo que você está procurando por algo, mas está procurando nos lugares errados.” Os olhos de Colby disparam para os membros da Ordem ao nosso redor e, em seguida, mais uma vez encontram os meus, seus olhos sondando por orientação. “Diz onde devo olhar?” “Com certeza não em qualquer lugar perto da sua família do caralho, é um milagre você ter sobrevivido àquele bando de psicopatas,” deixo escapar, e então meu rosto aquece imediatamente. Merda. Ótima maneira de facilitar isso. “Quer dizer, tenho certeza de que eles são o que quer que seja,” apresso-me em acrescentar. “E é claro que você não os cortou..., mas talvez você deva considerar isso, porque tudo o que eu vejo ao redor deles, em relação a você, é ruim. Desculpe,” ofereço sem jeito, mas Colby me dá um meio sorriso caloroso. “Não sinta, você não está me dizendo nada que eu já não saiba,” ela explica com um suspiro. “É um bom lembrete. Eu uso o sobrenome Trapet aqui porque não quero problemas, mas é uma abreviação de Trapetti,” ela revela, seus olhos procurando os meus em busca de reconhecimento. Não existe nenhum. Não tenho ideia de por que isso importa. “Legal,” digo casualmente, e ela solta uma risada e balança a cabeça. “Você realmente não conhece?” ela pergunta, seus olhos brilhando com diversão. Um guarda tosse, o levando a um ataque completo. Acho que o nome dele é Timin. Ele bate no peito e se controla depois de um momento, retornando à sua leitura do nosso entorno como se nada tivesse acontecido. Colby e eu desviamos o olhar dele, e ela me dá uma olhada. “Sim, eu sou relativamente nova em toda essa coisa de bruxa, e não sei porra nenhuma sobre a maioria das coisas além desses ossos,” eu admito com uma risada. “O coven Trapetti é como a máfia, acho que é a melhor comparação. A máfia com magia,” ela acrescenta com um bufo irritado e balança a cabeça em desaprovação. “Oh, ok então, bem, acho que faz sentido com o que os ossos estão dizendo,” declaro, apontando para a propagação. Percebo alguns guardas em torno de nós inquietos, mas não chamo a atenção para isso. Colby esfrega sua bochecha distraidamente. “Sim, as coisas têm sido muito difíceis para mim nos últimos meses. Perdi alguém e minha mãe tentou entrar em contato. Duvido que ela saiba que alguma coisa aconteceu, mas pessoas de merda sempre parecem saber quando você está mais vulnerável, não é?” ela pergunta, uma risada sem humor escapando dela enquanto seus olhos caem para os ossos, e seu rosto fica triste. “É como um sexto sentido,” concordo. “Juro que há um alarme que dispara na cabeça do meu ex toda vez que estou sozinha e com tesão,” acrescento, e reviro os olhos internamente para mim mesma. Certo, Lennox, porque é a mesma coisa. Colby ri e acena com a cabeça. “Exatamente, deve ser algo que não notamos, comprimentos de onda ou feromônios ou algo assim. Tudo o que sei é que, se algum dia descobrir o que é, vou quebrá-lo.” “Bem, certifique-se de me dizer, porque uma garota não aguenta muito,” digo a ela, rindo. Me concentro de volta na propagação enquanto ela sorri e acena com a cabeça. “Quando as coisas estão difíceis e tristes, pode ser muito fácil tentar reescrever a história com pessoas tóxicas. Podemos nos convencer de que fomos nós, ou de que eles podem mudar, mas não faça isso,” digo a ela, meu tom empático, mas prático. Olho para baixo, para seu totem emprestado, a pulseira no topo de uma pilha que representa raízes pútridas e conexões familiares deterioradas. “Não recorra a pessoas que nunca foram capazes de lhe dar o que você precisava, o que você merecia em primeiro lugar. Não há como voltar disso.” Ela suspira, mas ela concorda. “Então, para onde devo ir?” ela pergunta, mas a pergunta soa vazia, como se ela já soubesse que não há ninguém. “Vou soar como uma aberração de autoajuda que usa leggings, toma proteína, mas você já pensou em apenas recorrer a si mesma?” Pergunto. “E antes que você revire os olhos e diga: 'Obrigada, mas não obrigada, bruxa, ninguém está comprando sua besteira hoje', ouça-me,” imploro, porque vejo em seu comportamento que uma parede acabou de subir. “Você não confia em si mesma, eu entendo. Mas por que? Quando seus instintos ou voz interior o desviaram? Você confiou em si mesma a maior parte de sua vida, mas não se dá crédito o suficiente por isso. Você deveria,” imploro, esperando que ela me ouça, porque pelo que eu posso sentir que ela estará enfrentando em seu futuro, confiar em si mesma será a diferença entre a vida e a morte. Tento me desligar das imagens e sentimentos que me inundam de Colby e dos ossos. Os anos de abandono e desinteresse que Colby sentiu ao crescer. Todas as perguntas com as quais ela lutou enquanto tentava entender por que seus irmãos e irmã eram amados, mas ela era odiada. Afasto as visões da guerra dentro dela que constantemente diz que ela não é boa o suficiente, não é adorável, não é digna. Sinto- me mal porque essas coisas foram marteladas nela pelas pessoas que deveriam tê-la amado, valorizado e cuidado. Mas a família nem sempre é o que deveria ser. Às vezes, eles são o veneno, não o antídoto. “Você está procurando por um sinal, algo para forçar sua mão, bem, aqui está o seu sinal,” digo a ela, sentindo como se estivesse fazendo uma má imitação de Bill Engvall. Como se os próprios céus entendessem a piada, um raio de luz desce por entre as nuvens e cai no banco ao meu lado. Eu me viro para absorver, só que quando olho, não é mais um raio de sol aparecendo em nossa leitura, é uma mulher. Ela tem a idade de Colby, é escultural, com um cabelo loiro dourado deslumbrante, caindo reto quase na parte inferior das costas. Seus olhos azuis brilhantes sorriem para mim enquanto ela se senta lá como se sua presença simplesmente não fosse grande coisa. Meus olhos se arregalam e congelo enquanto olho para ela... enquanto olho através dela. Ela está lá, mas não totalmente. Não há carne ou sangue nela, e ainda assim sinto sua presença com a mesma certeza que sinto a de Colby. “Você está bem?” Colby pergunta, a preocupação quente derramando fora de seu tom. “Você está indo muito bem,” ela me tranquiliza, e eu poderia apenas abraçá-la por ser tão doce, mas isso significaria que eu teria que parar de olhar para o fantasma que acabou de agachar-se ao meu lado. Limpo minha garganta e viro meu olhar chocado para Colby enquanto um nome soa claro como um sino em minha mente. “Você conhece uma Diem por acaso?” Questiono, minha voz um pouco mais rouca de surpresa do que eu gostaria. Sinto que estou passando por uma falha épica do Osteomante. Por que minha primeira leitura foi tão suave e incrível? Mas com essa, estou tropeçando em mim mesma, borrada, e agora um fantasma entrou para colocar as coisas nos trilhos. Estou totalmente cagando na cama. Colby estremece como se o nome tivesse acabado de estender a mão e dar um tapa nela. “O que você acabou de dizer?” Ela pergunta, cada grama de calor desaparecido de seu tom. Posso dizer que ela pensa que estou fodendo com ela, e realmente gostaria que fosse esse o caso. Estou tão perdida quanto ela agora. Eu quero gritar mayday e rapidamente me afastar de toda essa situação, mas ela não começou a gritar comigo ainda, então isso ainda não é tão ruim quanto a mãe na lanchonete. Endireito meus ombros e tento me recompor. Eu posso sentir que Diem está aqui para Colby, que sua presença é incrivelmente importante, e trabalho para limpar minha mente para que eu possa ouvir o que os ossos e Diem precisam que eu comunique. “Diem é o motivo pelo qual você e eu estamos aqui,” começo, meus olhos disparando para o fantasma à minha esquerda antes de pousar nos de Colby novamente. Colby olha para o espaço vazio ao meu lado com ceticismo, e o som de uma risada enche minha mente. “Ela sabia que você não iria acreditar. O que é bobo, porque você fala com ela o tempo todo. Ela ouve você e tenta responder quando pode, mas você descarta ou ignora, assim como tem feito com seus instintos,” declaro, mas posso ver que Colby ainda não está totalmente a bordo. “Vou precisar de mais do que isso, Diem,” sussurro para a fantasma. “É hora de descobrir os segredos que só você sabe.” Eu sorrio e balanço minha cabeça com a resposta que flutua em minha mente a partir dos ossos para os quais Diem aponta. É como se Diem só pudesse se comunicar com os ossos, e então os ossos me mostram a mensagem. É um pouco estranho e um pouco como ter um tradutor contando uma conversa, mas também é humilhante ao mesmo tempo. Tenho a impressão de que o que está acontecendo é raro e que só está acontecendo agora porque Colby é especial. “Diem disse que ela nunca revelaria segredos nem mesmo para provar que ela está aqui com você, mas ela quer dizer a você que Shadow está com ela e que ela está jogando sua bola favorita para ele.” Os olhos de Colby se fecham em angústia com minhas palavras, e um engate audível impede sua próxima inspiração. Lembro-me de como ela estava observando o homem com seu cachorro quando a notei pela primeira vez, e uma dor começa em meu peito por tudo o que ela perdeu. Primeiro sua melhor amiga e depois seu cachorro. Eu quero dar um soco na garganta do destino pelo que é exigido da bruxa sentada à minha frente. Eu sei que todos na vida têm seus próprios obstáculos e dificuldades, mas por que os caminhos de algumas pessoas nunca estão livres de obstáculos? Justamente quando eles escalam um, há outro exigindo ser conquistado. O rosto de Rogan surge em minha mente espontaneamente, e levo um momento para querer socar o destino em seu nome também. Então levo outro segundo para sonhar acordada sobre socar Rogan no rosto. É uma justaposição estranha sentir muita empatia por alguém, mas também querer magoá-la pelo que ela fez a você. A respiração de Colby acelera, e arrepios rastejam em nossos braços enquanto ela pisca um pouco mais rápido em um esforço para controlar suas emoções e empurrá-las de volta para baixo. Seu olhar avelã pousa bem à minha esquerda e, em um sussurro entrecortado, ela pergunta: “Diem?” Lágrimas enchem meus olhos com a perda esmagadora derramando de Colby, enquanto outra parte de mim quer comemorar que ela acredita. “A primeira e única,” confirmo, minha voz cheia de emoção quando a frase é empurrada em minha mente e sai derramando da minha boca quase involuntariamente. Colby engasga com uma pequena risada e leva as mãos à boca em estado de choque. Seus olhos castanhos estão arregalados e tenho a nítida impressão de que são lentes de contato e não sua cor real. “Ela costumava dizer isso o tempo todo,” ela me diz, com saudade em suas palavras em gotas grossas e enjoativas. “Ela sabe?,” Ela começa, mas tem que parar para controlar sua perda. “Ela sabe quem a assassinou?” ela finalmente pergunta, seus olhos lacrimejantes, mas decididos. Eu olho para o pequeno brinco de pedra da lua e os ossos marcados que ele tem ao redor. Essa é a razão de estarmos aqui. Eu fecho meus olhos e respiro por um momento. O que os ossos querem que ela saiba, que ela faça, não é a mensagem despreocupada que eu esperava que todas as leituras fossem. Não é o mapa da felicidade que Colby merece, ou pelo menos não vai começar assim. E, no entanto, sei que esse tipo de leitura é tão importante quanto as calorosas e confusas. “Ela não sabe quem a assassinou, mas é isso que você deve descobrir,” digo a ela solenemente. A presença de Diem parece estranhamente quente e reconfortante ao meu lado, e está claro que ela é tão parte desta leitura quanto eu. É uma sensação incomum. Com Paul, eu sabia sobre a mulher, sobre o tipo de espírito que ela tinha e o amor e a luz que ela carregava neste mundo, mas eu não a vi, não a senti. Não como eu faço com a fantasma bem presente ao meu lado. “Tenho tentado descobrir quais são as atribuições dela, mas não tenho autorização. Eu não chego a nada além de becos sem saída toda vez que tento encontrar a verdade,” Colby defende, e aceno em compreensão, não querendo que ela sinta que estou dizendo que o que ela está fazendo não é suficiente. “Eu sei... ela sabe, mas há mais nisso tudo do que a Ordem pode ajudá-la a descobrir,” digo a ela, e a testa de Colby franze em confusão. Eu rapidamente olho ao redor para ter certeza de que temos o máximo de privacidade possível, dadas as circunstâncias, e baixo minha voz para um sussurro. “Eu normalmente não toleraria essa mensagem, mas como ela vem dos ossos e confio neles implicitamente, vou dizê-la de qualquer maneira. Talvez, se você não consegue encontrar as coisas da maneira certa, é hora de começar a olhar para elas da maneira errada,” declaro, tentando e falhando em não olhar de lado nem um pouco os meus ossos. “Ookaaay, mas eu pensei que você disse para ficar longe da minha família, então exatamente qual caminho errado eu deveria tomar?” ela pergunta, perplexa. Eu olho para os ossos com uma sobrancelha levantada que diz, digam-me, o quão violadora da lei essa bruxa legal deveria se tornar? Estudo a extensão dos ossos novamente, tentando interpretar a resposta. Observo o layout da pulseira e sua linhagem familiar, o broche em relação ao seu emprego atual e o caminho que os ossos querem que ela siga. E, por último, observo o brinco de pedra da lua, a metade de um par que Colby deu a Diem em seu aniversário de dezoito anos, um presente que Diem tinha como um tesouro em vida e tesouro de Colby agora por causa da morte de Diem. “Você deveria encontrar um novo ângulo, mas não vá tão longe quanto sua família,” digo a ela enigmaticamente, mas vejo que Colby entende o que estou dizendo. Aponto para o brinco e ela segue meu gesto. “Vê como o brinco fica no meio desses ossos?” Pergunto, e ela acena com a cabeça. “Essas marcações lembram uma jornada, que é essencial e urgente. Sua vida e a verdade sobre o que aconteceu com Diem estão entrelaçadas em torno deste totem. Às vezes, com as leituras, vejo vários caminhos e resultados misturados com esses ossos, mas para você, é isso. Só há uma maneira de seguir em frente, e não será fácil. Mas acho que você já sabe disso,” declaro, e Colby estuda o brinco e os diferentes símbolos que o cercam, como se ela também pudesse ver o que eles significam. Ela acena com a cabeça depois de uma batida e parece se preparar. “Diem sentiu alguma dor?” Ela pergunta, seu olhar agora duro e determinado, mas há uma oscilação frágil em seu lábio mostrando o quanto ela está trabalhando para se manter sob controle. Espero que Diem se comunique com os ossos e que a mensagem seja retransmitida para mim. “Não, foi rápido, e ela não esperava,” eu a tranquilizo. “Disseram que foi rápido, que ela não sofreu, mas imaginei que é o que falam para todo mundo. Eu não acreditei...” Colby joga a cabeça para trás, lutando para controlar a onda de emoção aguda que vejo forçar seu caminho para a superfície. Diem estende a mão e coloca a mão no braço de sua melhor amiga, e os olhos de Colby imediatamente caem para examinar os novos arrepios salpicando sua pele. Ela fecha os olhos e coloca sua própria mão em cima da mão fantasma da irmã de sua alma. Sua angústia me atinge bem no peito como o chute de um cavalo, e sinto meus próprios olhos arderem com o impacto. Posso ver a conexão entre essas duas mulheres, sinto que são a família uma da outra de uma forma que nenhuma delas jamais teve na vida. A amizade delas era pura e bela, e o que aconteceu com Diem abalou Colby profundamente. Isso a tirou de seu eixo, e ela não foi capaz de encontrar seu caminho desde então. Ela está se escondendo, e não sabe mais de nada. “Eu sei que você sente como se o mundo e tudo de bom nele tivesse abandonado você, mas você não está sozinha, Colby. Você nunca estará. Diem está aqui, ela é tão teimosa quanto você, e ela não vai a lugar nenhum,” digo a ela, meus olhos sérios, meu coração esperando que ela ouça o que estou dizendo, que isso penetre nela e a segure nos momentos em que a escuridão tentar afogá-la. Porque vai. Eu odeio que seja assim com ela, mas também posso ver que ela é forte o suficiente para lidar com isso, para encontrar seu caminho, não importa o que aconteça. Colby acena com a cabeça e me oferece um sorriso lacrimejante enquanto enxuga os olhos. “Obrigada,” ela me diz, emoção crua e gratidão emanando dela. “Eu tenho flutuado neste abismo de merda fodida desde que eles encontraram o corpo dela. A Ordem disse que foi um roubo, mas nunca me disseram o que foi roubado. Tudo parecia errado sobre o caso dela desde o início. Eu tenho lentamente enfiado meu nariz onde não pertence, mas então pensei que talvez devesse deixar isso ir. Pode ser apenas uma coisa horrível que aconteceu ao acaso e eu estou me apegando a nada,” ela admite. Quero envolvê-la em um abraço, mas não é disso que ela precisa. Não vai ajudá-la a navegar pelas dificuldades que vai enfrentar. “Eu entendo,” começo, meu sorriso empático. “Mas é o seguinte, Colby, se você não aprender a confiar na voz dentro de você, confiar nas coisas que você sente, nos instintos que gritam por sua atenção, então esta busca por justiça vai te matar. Diem nunca viu isso chegando, mas você não terá tanta sorte. Será cruel e doloroso, a menos que você realmente confie em si mesma e deixe seu coração guiá-la. Ele conhece o caminho, mas você tem que ser valente o suficiente para segui-lo,” advirto, mas os ossos me dizem mais, e parece que minha Pollyanna positiva interior ainda não terminou. “Isso será perigoso e às vezes parecerá intransponível. Isso a endurecerá, jogará com sua desconfiança e, ocasionalmente, a deixará de joelhos. Mas as respostas que você vai encontrar mudarão tudo para você. A vida que você merece vai se encaixar por causa disso.” Preencho cada palavra com amor duro e propósito, esperando que funcione para ajudar a mantê-la unida para mostrar o que ela precisa fazer e a única maneira de ter sucesso. Colby encara a distância por um momento, contemplando o que estou dizendo a ela, e posso praticamente ouvir o debate em seu coração enquanto se transforma em uma decisão fortificada. “Diem diz para começar com os casos dela, é por onde ela iria começar. Ela gostaria de poder ajudar mais, mas ela não tem ideia de por que alguém iria querer matá-la, apenas que eles fizeram e os motivos são importantes.” “Ela esta bem? Você sabe, onde ela está?” Colby me pergunta baixinho depois de um momento. Meu sorriso fica triste, melancólico, enquanto a resposta de Diem enche minha mente. “Você sabe, ela nunca vai ficar bem até que você esteja,” respondo honestamente, tocada pelo vínculo que essas duas bruxas têm. Espero que Colby quebre em algum ponto com todas essas revelações pesadas. Eu sei que seria uma bagunça quente, chorando e roncando por todo o lugar se estivesse no lugar dela. Posso ver o quão duro ela está trabalhando para manter o controle, mas eu claramente subestimei sua força. Ela endurece na minha frente, envolvendo-se em sua perda e dor até que elas se tornem uma armadura impenetrável. Eu sei que um dia ela vai tirar. Que ela vai respirar mais fácil quando o peso de tudo o que ela passou cair de seus ombros. Mas hoje não é esse dia. Hoje não é o fim desta jornada brutal de sofrimento e dor. Hoje... É o começo disso. Me inclino para trás, deixando tudo o que disse entre nós, dando-lhe tempo para realmente pensar sobre nossa troca e as mensagens que acabei de empurrar para ela. Examino os ossos novamente, procurando por qualquer coisa que possa ter perdido. Não há guias financeiros. Nada indica relacionamentos, a não ser pequenos indicadores de que o amor romântico chegará com o tempo, e só então se ela se abrir para ele. Mas nada disso parece relevante para a encruzilhada em que ela parece estar. Eu sei que os ossos e o caminho na frente de Colby não vão aliviar seu sofrimento ou ajudá-la a encontrar paz, pelo menos não no início. Aceitação, compreensão, consolo, tudo isso será uma escolha para ela, que virá muito mais adiante. Não é o tipo de leitura tudo vai melhorar, e é assim que será que eu já fiz antes. E ainda, enquanto estudo a bruxa à minha frente, não me arrependo de ter dado a ela esta mensagem. Se ela for corajosa o suficiente para ouvir seus instintos, ela encontrará a felicidade, e valerá a pena todas as dificuldades pelas quais ela passará para encontrá-la. Uma frágil tranquilidade surge ao meu redor, me impedindo de dizer mais a Colby. O silêncio que se estende entre nós me tenta a colocar mais informações aos pés dela, mas Diem e os ossos me asseguram de que não é necessário, que essa troca sempre foi feita para ser breve, mas profunda. “Como você está? Já se arrependeu de ter dito sim para uma leitura?” Pergunto com um tom preocupado, mas provocador. Colby me oferece um grande sorriso e balança a cabeça. “Não, nunca. É exatamente o que eu precisava,” ela me garante. O alívio toma conta de mim e me sinto um pouco menos estranha com a intensidade de tudo o que acabou de acontecer. “Você tem alguma pergunta? Quer que eu veja mais alguma coisa?” Pergunto, sabendo que preciso encerrar as coisas, mas não sabendo a melhor maneira de fazer isso. Eu acabei de jogar muita coisa sob ela e gritei segura! Não posso simplesmente desejar sorte a ela com tudo e sair correndo. Colby estuda o brinco de selenita como se estivesse sussurrando coisas que só ela pode ouvir. Ou talvez ela esteja apenas em choque; duvido que ela esperasse que uma Osteomante se aproximasse dela no intervalo do almoço, declarasse a presença de sua melhor amiga morta e depois vomitasse um monte de merdas dignas de meme do nível da Disney sobre confiar em quem você é e seguir seu coração. Isso poderia levar qualquer um a um passeio até a cidade do que porra foi essa. Algumas piscadas depois, o olhar castanho-esverdeado de Colby encontra o meu novamente. “Não. Não sei como te agradecer por isso,” ela começa, gesticulando para os ossos e nós sentadas juntos à mesa de piquenique. Aceno para ela sem jeito, sem realmente saber o que dizer. “Eu sou apenas uma mensageira dos ossos8,” a tranquilizo e então estremeço. “Bem, isso soou mais sujo do que na minha cabeça,” admito com uma risada. Ugh, eu estava indo muito bem. Mensageira dos ossos? Parece um serviço de acompanhantes de luxo assustador. Colby ri, seu sorriso é largo e seu fardo um pouco mais leve, e Diem fica mais brilhante em apreciação. Estendo a mão para o totem emprestado, girando a pulseira de osso em minha mão até que ela se encaixe na posição certa para o que sinto que devo fazer. Eu fecho meus olhos, focando na pulseira, e invoco minha magia para trançar proteções em sua própria essência. Esta oferta é diferente da que fiz a Theresa no saguão danificado de minha tia. Esta não é apenas minha linha de magia abençoando-a e oferecendo sua apreciação, é toda mágica em seu trabalho mais puro para proteger o usuário. Não sei como sei disso ou como poderia ter acesso a mais do que apenas minha linha, mas não penso duas vezes enquanto crio um escudo para Colby, um de que ela precisa desesperadamente. A pulseira aquece em minhas mãos e começa a mudar. Abro os olhos e vejo como vai de uma rara e inestimável relíquia de osso a uma simples e delicada pulseira de ouro. Eu pisco algumas vezes enquanto olho para a peça de joalheria agora inócua. Em minhas mãos, ainda posso sentir o peso do osso, ainda passo o dedo sobre os entalhes intrincados, mas meus olhos agora me dizem que nada disso existe. A verdade disso está camuflada e parece um totem perfeito para o que Colby está prestes a enfrentar. “Isto é para você,” ofereço, estendendo minhas mãos e a minúscula corrente de ouro presa entre meus dedos e polegares. Colby parece surpresa, mas não hesita em levantar o braço e estender o pulso. Eu deslizo a pulseira de osso disfarçada como uma corrente por sua mão, como se fosse uma pulseira, e seus olhos se arregalam quando ela sente a verdade da ilusão agora em seu pulso. “Quando servir ao seu propósito, vai cair,” digo a ela enigmaticamente, entregando- lhe o broche e o brinco de selenita. Seu olhar reverente está cheio de perguntas, mas ela simplesmente balança a cabeça uma vez, fecha o punho em torno de seus itens preciosos e, em seguida, retorna a mão ao colo. Eu olho para ver se Diem tem mais alguma coisa que ela gostaria de comunicar, mas a fantasma se foi. Eu procuro por ela, apenas no caso de ela estar em outro lugar ou algo assim, mas não a vejo em lugar nenhum. “Ela acabou de sair, não foi?” Colby me pergunta, um sorriso divertido em seu rosto. “Ela costumava fazer essa merda o tempo todo, sem despedidas, apenas ali um minuto e sumia no próximo. A pior parceira para pegar os caras na balada de todos os tempos,” ela me diz brincando enquanto se levanta da mesa. Eu rio e me levanto também. Por alguns segundos, ficamos de frente uma para a outra, dois soldados que viram alguma merda e estão ligados para sempre, embora sejamos estranhas. Não sei se a verei novamente ou se conheço os detalhes do que ela vai descobrir, mas estou bem com isso. Ela estende o braço e eu estendo a mão e agarro seu antebraço. A tranquilidade e a paz me invadem enquanto trememos, e posso dizer pela expressão em seu rosto que ela também sente isso. Dou-lhe um aceno de cabeça de reconhecimento e compreensão, e ela retribui o gesto, cheio de gratidão e respeito. E então, simplesmente assim, deixamos cair nossos braços e ela vai embora. Seus passos são rápidos e obstinados, e envio todas as vibrações de vai garota que consigo, seguindo-a em seu rastro. Assim como Paul, sei que nunca esquecerei esse momento, que ele me mudou para melhor e que posso aprender com as mensagens destinadas aos outros também. Sorrio, um lampejo de orgulho passando por mim quando começo a pegar os ossos e colocá-los delicadamente de volta na bolsa. Mais uma vez, agradeço a eles pelo que fizeram aqui hoje, e prometo honrar cada um deles até muito depois de minha magia passar para o próximo da fila. Ninguém me diz nada enquanto arrumo os ossos e volto para o prédio, encerrada minha aventura externa do dia. O silêncio me envolve protetoramente, e posso sentir uma mudança sutil enquanto meus guardas se movem com segurança para me levar para onde preciso ir. De alguma forma, não sou tão estranha quanto antes, como se meu fator de incômodo tivesse sido severamente reduzido. É uma sensação estranha que se apodera de mim enquanto caminhamos todos juntos, mas acho que é a primeira vez que me sinto como se tivesse crescido em sua estimativa geral. Que sou menos algo que eles foram designados para cuidar e mais alguém que merece proteção. Dou um tapinha nos ossos mais uma vez amarrados ao meu quadril e agradeço aos meus ancestrais por me guiarem. Talvez as coisas aqui comecem a parecer menos solitárias e eu pare de sentir que não pertenço. Olho ao redor para os homens e mulheres potencialmente se colocando em perigo por mim. Eu poderia embarcar nessa teoria de que tudo acontece por uma razão. Eu só queria poder descobrir qual razão é essa. 07
Algo brilha em meus olhos, e me encolho para longe disso.
É muito cedo para alguém brincar com uma lanterna. Tento desligar minha consciência repentina e voltar a dormir, mas o aviso sobe pela minha espinha e, de repente, estou bem acordada. Abro os olhos, avaliando silenciosamente o que está me incomodando, mas está escuro como breu no meu quarto e não consigo distinguir nada. Meus olhos se ajustam rapidamente, mas ainda há uma névoa em tudo que me deixa ainda mais desconfortável. Escuto qualquer indicação de movimento ao meu redor e, quando o grito vem, é tão alto e estridente que grito de choque e medo. Bato a mão na boca, mas isso não impede que o cheiro de sangue velho e rançoso assalte meus sentidos. O grito vai embora, o som tão visceral e cru. Eu não poderia dizer se era de um homem ou uma mulher, mas a vontade de correr está beliscando cada nervo enquanto meu coração martela no meu peito e tento processar onde diabos estou. Não consigo ver direito e o cheiro está errado. Não há nenhuma maneira de eu estar no quarto em que adormeci ontem à noite, mas onde diabos estou e como vim parar aqui? Memórias clamam em minha mente de Prek soprando pó em meu rosto, Rogan me segurando, e a sensação de uma agulha sendo enfiada em meu pescoço. A confusão pulsa através de mim no ritmo do meu coração. Isso acabou de acontecer? Aconteceu de novo? Meus pensamentos estão confusos como se estivessem flutuando em água estagnada com mofo crescendo neles. A gritaria começa novamente, e desta vez mordo meu próprio pânico. Chamo a magia para mim, tento me cobrir com sua proteção, mas mesmo quando ela vem, não me sinto melhor. Talvez seja porque não consigo ver. Eu não posso dizer o que está vindo em minha direção ou o que está fazendo aquela pessoa lançar apelos tão ferozes e destruidores de alma. Meu nome explode em meio aos gritos e, de repente, tudo ao meu redor se encaixa. Não importa que tudo esteja preto e nebuloso ou que eu não sinta o cheiro de nada além de sangue podre e poeira. Eu sei quem está gritando, e tenho que chegar até ele agora. “Tad!” Grito, angustiada e desesperada enquanto mais lamentos agonizantes chegam onde quer que eu esteja. “Taaaad!” Grito de novo quando o silêncio esmaga tudo ao meu redor como um maremoto, e nada nem ninguém me responde. Tento sentir o que está ao meu redor, o que meus olhos se recusam a revelar, mas percebo que não consigo me mover. Estou presa de alguma forma e sei que, se tiver que ouvi-lo gritar de novo, não haverá como voltar. Vou quebrar em um milhão de pedaços e nunca mais serei a mesma. O medo se acumula em minhas entranhas. A antecipação me sufoca e, quando estou prestes a gritar por causa da minha incapacidade de aguentar, suspiro e me sento na cama. O alarme me atinge como uma britadeira. Meu quarto fica claramente à vista, tudo escondido pelas sombras e beijado pela noite. Puxo o ar e corro para expulsá-lo, meus pulmões à beira da hiperventilação. O suor escorre pela minha testa e engulo o gosto acre do pânico enquanto mais uma vez o eco de um sonho me assombra. Não tenho a mínima ideia do que está acontecendo, mas ignoro a necessidade de tentar descobrir enquanto pego o telefone que está carregando na minha mesa de cabeceira. Com os dedos tremendo, luto para destravá-lo. Quase grito de alívio quando minha terceira tentativa finalmente dá resultado e pego o número de Tad. A linha começa a tocar e eu digo um agradecimento silencioso a Prek por finalmente confiar em mim com este dispositivo. Mordo minhas cutículas enquanto toca o número três trinando em meu ouvido, e um apelo silencioso de vamos, Tad, atenda o maldito telefone começa na minha cabeça. “Olá?” uma voz de sapo adormecido pergunta. “Tad,” praticamente grito de alívio, meus olhos ardendo de lágrimas. “Você está bem?” Exijo, empurrando os cachos suados do meu rosto enquanto me inclino contra a cabeceira almofadada do meu quarto. “Leni?” Tad pergunta sonolento, e o ouço se sentar em sua cama. “O que aconteceu?” ele pressiona, sua voz um pouco mais alerta e focada. “Nada, estou bem, mas você está bem? Tia Hillen está bem? Ninguém que você saiba que está sendo torturado?” Pergunto com uma risada tensa enquanto passo a mão pelo meu rosto. A adrenalina começa a me abandonar, mas quando fecho meus olhos e descanso minha cabeça contra a cabeceira da cama, é como se eu pudesse ouvir os gritos de Tad de novo. Me sento com um empurrão, empurrando meu emaranhado de cobertas para longe de mim. “Sim, estamos bem. Todo mundo está bem. Por quê? Tem certeza que está bem?” Solto uma respiração profunda e aliviada e levo um momento para me recompor. O que diabos está acontecendo com esses pesadelos? “Tive um pesadelo. Isso... me assustou, sinto muito ter acordado você,” ofereço, mas não consigo sacudir a pedra de trepidação agora sentada bem no meu peito. Eu senti como se o sonho com Rogan fosse algum tipo de profecia, talvez um aviso, mas não sobreviverei se este sonho com Tad for um também. “Quer falar sobre isso?” Tad pergunta, preocupação soando em seu tom. “Não, na verdade não, volte para a cama, sinto muito ter acordado você,” admito, mas nenhum de nós é rápido para desligar. “Fale comigo,” ele encoraja simplesmente, e a familiaridade de seu calor abre as comportas para minhas preocupações. “Eu não sei, talvez seja este lugar que está fodendo comigo, mas eu apenas me sinto... caçada. Não consigo explicar, mas é como se estivesse observando um relógio em contagem regressiva e não posso fazer nada para impedi-lo. Eu nem sei o que acontece quando finalmente chega a zero, só que parece ruim, errado de alguma forma,” confesso, jogando sobre meu primo e melhor amigo um fardo que está ficando muito pesado para carregar. “Isso faz sentido,” ele me tranquiliza, e afasto o telefone da minha orelha e fico olhando para ele, perplexa por um momento. “Faz?” Pergunto, envergonhada. “Bem, sim. Quero dizer, você está na central das bruxas, trabalhando em um caso sobre pessoas desaparecidas,” ele me diz como se eu precisasse do lembrete. “E vamos lá, nós assistimos dramas criminais o suficiente para pensar facilmente em todas as coisas horríveis que podem estar acontecendo com eles. Claro que você sente que está correndo contra o tempo. Você está fora do seu elemento com tudo isso. Sem mencionar que você acabou de passar por alguma merda com Alto-quente-e-não confiável. Se você não estivesse surtando um pouco, ficaria preocupado. Resolvemos crimes já resolvidos da segurança do nosso sofá, obrigado Netflix. Mas agora você está aí, tentando resolver algumas porcarias da vida real, e isso vai cobrar seu preço.” Suas palavras funcionam para me confortar um pouco. Quero dizer, ele está certo. Nada em todas as minhas aulas de massagem na escola me prepararam para esse tipo de merda. “O estresse faz coisas estranhas com as pessoas, como dar-lhes pesadelos ou fazer-lhe cair na cama com seus inimigos,” acrescenta ele, com uma insinuação pingando em seu tom. Eu solto uma risada e reviro os olhos. “Você tem que deixar isso ir,” castigo, minha preocupação diminuindo e a pedra no meu peito ficando ligeiramente mais leve. “Pshhhh, eu recuso, e você não pode me obrigar,” Tad brinca, e não posso deixar de rir de suas travessuras. “Alguma notícia sobre as bruxas desaparecidas?” Ele pergunta hesitantemente, e esfrego meus olhos, odiando minha resposta. “Não, nada.” “Você já falou com ele?” ele pergunta depois que nós dois ficamos quietos por um momento. “Não, não desde a conversa de eu não escolho você, você não me completa. Ele apenas fica olhando agora,” admito, me julgando como um suspiro desamparado pontuando essa revelação. Não vou suspirar por Rogan Kendrick. “Ele pediu outra chance?” Tad pergunta, uma nota de esperança na pergunta. “Não. Ele me contou seus motivos, mas acho que só queria se sentir melhor explicando por que fez o que fez.” Tad cantarola em compreensão, e posso praticamente vê- lo balançando a cabeça e pensando nas coisas do seu lado da linha. “Você daria a ele outra chance se ele pedisse?” Encolho os ombros, embora Tad não possa me ver. “Eu nem sei que chance tivemos em primeiro lugar,” admito. “Nós não nos conhecemos realmente. Acho que me encontrei presa em seu raio trator de gostosura, e foi isso,” brinco, tentando iluminar o clima sombrio. “A verdade não vai a lugar nenhum só porque você quer fingir que não pode vê-la,” Tad gorjeia, e faço uma careta para o telefone. “Você está levando essa coisa de Guia Espiritual muito a sério. Não dê uma de Miyagi para cima de mim,” resmungo. “Miyagi? Em primeiro lugar, nenhum velho vai depilar nada aqui, Lennox Marai Osseous, vamos deixar isso claro. Em segundo lugar, eu estava claramente canalizando meu Cinna9 interior, porque sim, por favor Lenny Kravitz. E em terceiro lugar, verdade é verdade, Lennard, então é isso.” “Não me chame pelo nome completo e, em seguida, prossiga com então é isso,” reclamo de brincadeira enquanto rio e balanço a cabeça em desaprovação. “Cinna era o babado, no entanto,” admito depois de uma batida. “Você sabe que sim.” “As coisas não são tão simples, Tad. E antes que você vá lamentando que os relacionamentos nunca são ou nada de bom nunca foi fácil, não faça isso. Eu já sei de tudo isso. Isso não muda o que aconteceu. Ninguém deve se safar de fazer suas escolhas. Ele me tratou como uma passageira em minha própria vida; isso nunca vai ficar bem. Há um padrão aí, e eu seria uma idiota em ignorá-lo. Nenhum rosto bonito, corpo bonito ou primo intrometido vai mudar isso,” eu zombo, ignorando o suspiro de Tad. “Além disso, estou aqui para fazer um trabalho, não entrar nas calças de Rogan. Então, mudança de assunto,” anuncio, fechando a porta em qualquer conversa sobre Rogan. “Tudo bem, mas você gostou dele, Leni. Você não gosta de ninguém e gostou dele. Isso não deveria dizer alguma coisa?” “Sim, que eu tenho um gosto questionável,” contraponho brincando, mesmo que cheire a verdade no meu próprio nariz. “Além disso, acho que a magia está me mudando,” admito. “Eu babei por causa de alguns lycans que conheci, então vou latir naquela árvore se precisar de um pouco de diversão.” “Por favor, isso é apenas sexo, estou falando sobre sentimentos,” ele rebate. “Tchau, Tad,” respondi inexpressiva. “Você não pode fugir dos seus sentimentos, Lennox!” ele grita ao telefone. “Amo você. Saudades. Fique longe de problemas,” murmuro enquanto vou desligar. Ouço um abafado “Eu me nego, problema é meu nome do meio,” antes de encerrar a ligação com uma risada. Olho de volta para o meu travesseiro irregular e as cobertas amassadas, debatendo se posso tentar voltar a dormir. Calafrios percorrem meus braços com a ideia de outro pesadelo, e rapidamente dispenso mais sono por uma xícara de chá quente. São duas da manhã, e sei que todo o apartamento está dormindo ao lado do guarda na porta do lado de fora deste apartamento. Não quero acordar ninguém, mas também não quero sentar aqui, lendo muito em um sonho e olhando muito para minhas ansiedades. Eu me levanto, meus pés descalços fazendo barulho no chão de madeira. Por que, sempre que você está tentando fazer silêncio, tudo parece dez vezes mais alto? Saio furtivamente para o corredor, meu pulso muito alto em meus ouvidos quando o silêncio em que estou envolvida dispara meus alarmes. Estou tentando ser furtiva e atenciosa, mas, por algum motivo, de repente estou me sentindo muito quieta. Eu gritei em meu sonho? Sei com certeza que estava pirando por dentro disso. Por que ninguém veio me verificar? Congelo no meio do caminho, pouco antes de dobrar a esquina. Tento ouvir o que está acontecendo ao meu redor, mas não consigo ouvir nada além do meu coração necessitado e do medo acelerado. Eu quero gritar com meu corpo para calar a boca; meu pulso está tornando muito difícil detectar se estou prestes a morrer. O medo afunda em meus membros e estou presa como uma estátua no meio do corredor. Do nada, um corpo vem em alta velocidade dobrando a esquina, mas em vez de gritar como eu queria com o choque de sua aparição repentina, eu reajo. Meu cotovelo está inclinado para trás, e estou batendo meu punho em uma mandíbula dura e cinzelada em nenhum momento. “O que...” meu atacante grita, mas seu nariz está esmagando sob a força do meu punho de acompanhamento antes que ele possa proferir sua escolha de um palavrão. Passos rápidos enchem meus ouvidos e me preparo para uma luta. Luzes piscam quando alguém liga o interruptor atrás de mim, e giro e pisco contra a inundação desorientadora de meus sentidos. Prek vem correndo em minha direção, sem camisa e parecendo exausto. “O que aconteceu?” ele pergunta, confuso, uma longa faca em sua mão enquanto olha ao redor em busca da ameaça. Mais três guardas saem de quartos diferentes, e giro para apontar para o intruso que surpreendi com minha combinação um-dois. Rogan se endireita de uma posição semi-curvada, as mãos cobrindo seu rosto e o sangue escorrendo pelas costuras de seus dedos. Bem, opsss. Ele me encara e franzo o rosto em desgosto. “O que ele fez?” Prek exige, dando um passo atrás de mim protetoramente. Eu não sei se devo apreciar que ele não está dando a Rogan o benefício da dúvida neste cenário ou revirar meus olhos em quão profundas as raízes de seu rancor crescem. “Nada. Não esperava que mais ninguém estivesse acordado, e apenas reagi,” explico apressadamente, e os guardas tensos ao nosso redor relaxam. Valeu o esforço para não acordar ninguém. “Eu vou voltar para a cama,” uma mulher chamada Stevie anuncia, e então com os pés arrastados e grunhidos de concordância, todos exceto Prek, eu e Rogan voltam para seus quartos. “Você está bem?” Prek me pergunta baixinho, e Rogan move seu olhar de mim para o membro da Ordem atualmente designado como meu guarda. Eu rolo meus olhos e fico entre eles antes que eles possam começar a relembrar sua história com os punhos. “Sim, estou bem, ele apenas me surpreendeu, sem danos, sem problemas,” tranquilizo Prek, e Rogan me nivela com um olhar que diz, realmente, nenhum dano? “Bara”, eu chamo com um aceno de minha mão, desligando o bico sangrento anteriormente conhecido como nariz de Rogan. Ele congela, seus olhos se enchendo de advertência antes de saltar para Prek e depois voltar para mim. A realização surge em mim, e tento não deixar o pânico puro transparecer em meu rosto. Merda. Por que eu acabei de fazer isso? E na frente de um membro da Ordem de todos os lugares. Eu nem sei por que usei a magia do sangue como se não fosse grande coisa quando eu sei que tudo que vai fazer é bagunçar essa maldita ligação. Fodida o suficiente, Lennox? Tenho medo de olhar para Prek, como se olhar nos seus olhos fosse nos denunciar, mas não olhar para ele também pode ser estranho. Então, em vez disso, jogo minha cabeça para trás e rio. Porque isso faz sentido e grita inocente. Solto uma boa gargalhada, fazendo tudo ao meu alcance para não deixar soar forçado. “Ummm, o que há de errado com você?” Prek finalmente pergunta enquanto mergulho na segunda rodada da gargalhada mais estranha de todos os tempos. “Eu queria dar um soco nele há um tempo,” digo a ele, como se essa fosse toda a resposta de que ele precisava. Prek me olha por um momento antes de lançar seu olhar suspeito para Rogan. Nós apenas ficamos lá, Rogan cobrindo seu nariz, eu surtando porque acabei de nos denunciar, e Prek nos olhando. “Foi melhor do que eu esperava,” acrescento, cruzando os dedos de que a admissão vai desencadear o ódio de Prek e nublar suas habilidades céticas e muito aguçadas de observação. Depois de um segundo, Prek se afasta de mim. “Sim, eu conheço o sentimento,” ele concorda, seu olhar castanho- avermelhado movendo-se de Rogan de volta para mim antes de se virar e voltar para seu quarto. Estou prestes a dar um suspiro de alívio quando Prek grita por cima do ombro, “Eu não sou idiota, Osteomante,” e com isso, ele desaparece em seu quarto, a porta se fechando atrás dele. Fico olhando para ele, sem ter certeza do que isso significa. Ele suspeita que estamos amarrados? Que derrotei Rogan em meu tempo livre? Ele acha que estamos aqui fazendo algo que não deveríamos fazer? Olho para Rogan em busca de respostas, mas ele ainda está cobrindo o nariz, provavelmente para evitar que o que ele sangrou em suas mãos chegue a todos os lugares. “Vamos lá,” bufo, acenando para ele de volta para a cozinha para que ele possa se limpar. Eu provavelmente deveria me sentir mal por atacá-lo, mas a palavra karma continua saltando em minha mente, tornando impossível para a culpa ficar muito confortável em qualquer lugar. Acendendo o interruptor da luz acima da pia, abro a torneira e começo a abrir as gavetas para procurar toalhas. Rogan se inclina sobre a pia e despeja seu sangue em concha pelo ralo. “Acho que você o quebrou,” declara ele, a voz embargada e mais nasalada do que o normal. Eu olho e o vejo tocando cautelosamente a ponte agora disforme de seu nariz. Eu encontro uma toalha e chego mais perto para inspecionar o dano. Sim, definitivamente quebrei. A parte mesquinha de mim quer deixar assim, não que eu ache que isso deteria as mulheres, mas mais como um lembrete de todas as minhas ameaças que ele nunca levou a sério. Então, novamente, não quero dar a ele nenhuma desculpa para usar minha magia. Vaidade e meus impulsos imaturos não valem a pena fortalecer nossas amarras mais do que já estão. “Bem, espero que isso o ensine a não rir da próxima vez que uma mulher lhe disser que você vai se arrepender” repreendo enquanto levanto a mão ao nariz dele e sussurro: “Aval.” A cartilagem volta ao osso do nariz com um estalo audível, e ele sibila de dor, fazendo-me estremecer um pouco também. “Foda-se,” ele rosna, colocando as mãos sobre o nariz de forma protetora antes de se inclinar sobre a pia - provavelmente apenas no caso de começar a sangrar novamente. Ok, talvez eu me sinta um pouco mal. “Espreitadora-atacante de corredor, um novo hobby seu?” Rogan brinca, delicadamente sentindo seu nariz reto uma vez mais e então espirrando água em seu rosto. Dou uma bufada sem humor e jogo a toalha nele. Ele a pega, me impedindo da satisfação de ver isso acertá-lo no rosto. “Eu só ia fazer um chá. Você veio até mim no corredor. Não pode culpar uma garota por se defender,” declaro casualmente, empurrando o balcão até que estou sentado em cima dele enquanto Rogan seca seu rosto. “Ficar esperando pela oportunidade perfeita é mais provável,” ele retruca, com um toque de provocação em sua voz. Eu lanço um olhar desanimado para ele. “Isso só mostra o quão bem você me conhece; eu não espero por ninguém.” Nós nos encaramos por um momento, o silêncio constrangedor se infiltrando nas rachaduras e fraturas entre nós. O aviso irritante de Tad soa na minha cabeça e faço o possível para ignorá-lo. Rogan e eu não nos conhecemos há muito tempo, mas apesar de como nos conhecemos e contra o que temos enfrentado, nunca tivemos esta tensão afetada e inquieta entre nós. Não como agora. “Por que você está realmente acordada até tão tarde?” ele pressiona, enfiando a toalha entre os dedos. O observo enquanto ele se agita, e se não soubesse melhor, diria que ele está nervoso. Eu debato alimentá-lo com algumas besteiras e, em seguida, me fechar de volta no meu quarto, mas a ideia de ficar sozinha novamente com nada além de presságios e preocupação por companhia dá um nó no meu estômago. Rogan suspira e joga a toalha no balcão. Eu vejo uma sugestão do Rogan com o qual estou acostumado a lidar. A versão arrogante e arremessada em tudo, em vez dessa pessoa quieta, incerta e taciturna que anda se esquivando ultimamente. “Tive um pesadelo,” admito, após um rápido debate sobre se ele pode usar isso contra mim de alguma forma no futuro. “Acho que toda essa loucura está finalmente me alcançando,” acrescento, apontando para tudo ao nosso redor. O resto da cozinha e da sala de estar está banhada por sombras ou pelo luar, a luminária embutida acima da pia mal iluminando nós dois. “É muita coisa,” Rogan concorda, recostando-se contra o balcão enquanto ele balança a cabeça e cruza os braços sobre o peito. “O que você tem feito nos últimos dias? Eu não vi você,” pergunto, pegando outra coisa para fazer essa estranheza entre nós desaparecer um pouco mais. “Você me procurou?” Ele solicita com uma sobrancelha levantada, e eu solto uma pequena risada e reviro os olhos. “Não, mas a gente se acostuma com a queda de temperatura toda vez que um certo idiota frio entra na sala. Quando isso não acontece, a gente percebe.” “Percebe?” ele provoca com um pequeno sorriso. “Um de nós faz,” respondo, soando como uma má impressão daquele cara assassino de Game of Thrones. Rogan solta uma respiração profunda exasperada, mostrando a fadiga e a frustração que estão logo abaixo da superfície de seu semblante brincalhão. “Tenho procurado informações. Ver se há alguma outra profecia registrada que possa servir como uma chave para aquela que sua avó tinha. Além disso, tenho me encontrado com pessoas que me devem favores, na esperança de que possam ter ouvido algo ou pelo menos manter os olhos e ouvidos abertos para qualquer coisa que possa nos dar uma chance.” Ele faz uma pausa e esfrega o rosto com uma das mãos. Estudo seus movimentos e me pergunto com quem ele fala? Com quem ele precisa descarregar todas as suas preocupações e estresse? Não há dúvida de que ele faria qualquer coisa por seu irmão e que eles são próximos, mas a maneira protetora que Rogan fala sobre Elon, duvido que ele coloque quaisquer preocupações desnecessárias aos pés de seu irmão. Tem o Marx, mas novamente tenho a impressão de que há uma parede lá, que o catalisador para tanto de sua comunicação ultimamente é este caso e não uma amizade enraizada. “Eu também tive que sentar com alguns membros do conselho superior de minha mãe.” As palavras da boca de Rogan são como um tapa. Sou instantaneamente puxada de minhas reflexões simpáticas e empurrada de volta para a dura realidade da nossa situação. “Por que você faria isso?” Exijo, olhando ao redor para ter certeza de que ninguém está escutando. “É como eu obtive acesso a isso,” ele me diz, circulando o dedo para indicar o prédio da Ordem em que estamos. “Prometi que cooperaria com o melhor de minha capacidade, se eles concedessem acesso irrestrito às suas informações e recursos aqui.” Fico olhando para ele completamente pasma. Ele estava disposto a ser expulso, a ser renunciado, caçado e torturado para evitar que seus segredos caíssem em mãos erradas. Agora, simplesmente assim, tudo mudou? Eu sei que ele disse que faria o que fosse necessário para encontrar Elon, mas isso ... potencialmente dando às pessoas de merda a chave da imortalidade - ou pelo menos o acesso para sobreviver à morte uma vez - é demais. Seus pais e seu conselho podem ser os que estão por trás de tudo isso, caso em que Rogan está apenas entregando exatamente o que eles querem. Eu percebo seu nível intenso de devoção e responsabilidade para com Elon, mas ele tem que ver que alguns custos são altos demais. “Rogan, você não pode fazer isto,” sussurro, chocada. A culpa sangra em seu olhar e ele desvia os olhos dos meus. “Estou sendo cuidadoso.” Eu dou um bufo indignado. “Você disse que você e Elon mal conseguiram sair deste lugar. Que você nem sabe a extensão ou as limitações do que aconteceu com você. Você está arriscando muito,” imploro, mas já posso vê-lo começando a se desligar e me excluir. “Rogan, olhe para mim,” estalo, e seus olhos verdes acenam para os meus, uma chama de determinação crescendo em seu olhar de endurecimento. Sinto a parede surgir entre nós e é dolorosamente óbvio que qualquer coisa que estou prestes a dizer será uma perda de fôlego. Ele não vai me ouvir. Ele nunca fez isso. Ele faz o que quer, as consequências que se danem, e amaldiçoo os deuses ou o destino ou o que quer que esteja lá fora que deram a alguém como Rogan Kendrick um poder tão imenso. Ele não se importa para quem o passa, ou como pode ser corrompido. Tudo o que ele vê é o que deseja e fará de tudo para consegui-lo. Por que estou perdendo meu tempo pensando que o que tenho a dizer ou minhas opiniões sobre o assunto farão diferença? Balançando minha cabeça, pulo do balcão. “Boa noite, Rogan,” eu falo para ele antes de virar para voltar para o meu quarto. Vou aguentar os pesadelos ao invés de perder mais um fôlego com esse idiota. A frustração enche meus passos, a raiva tornando-os ainda mais pesados, e quando Rogan chama meu nome em um esforço para me atrair de volta, o ignoro, concentrando-me em colocar um pé na frente do outro para ficar o mais longe possível dele. Minhas cobertas estão uma bagunça assim como as deixei, meu quarto ainda escuro e com uma sensação estranha. Agarro a porta e me movo para batê-la atrás de mim, não me importando mais com qual idiota da Ordem é sacudido do seu sono muito pacífico. A porta salta contra algo e não fecha, e quando giro para descobrir o porquê, descubro o grande corpo de Rogan pisando forte em meu quarto atrás de mim. “Saia,” rosno, mas tudo o que ele faz é fechar a porta silenciosamente atrás de sua intrusão. Ele segue em frente, a fúria irradiando dele, e isso me irrita ainda mais. Ele não tem o direito de ficar bravo, eu tenho. “Vamos ouvir, Lennox. Conte tudo que você acha que estou fazendo de errado e como você poderia fazer melhor. Não se contenha, pare de engolir e pensar que está enganando alguém. Vejo em seus olhos quando você se preocupa em olhar para mim, então vamos ouvir de uma vez por todas,” ele incita. “Coma um pau,” rebato indignada. Ele me encara. “O que? Você estava esperando por piedade? Pobre e velho Rogan, fodeu alguém e agora eles não querem nada com ele. O pobre coitado provavelmente chora até dormir, oh espere, ele teria que se importar, ele teria que se preocupar com isso para cair,” trovejo. “O que acontecerá com o resto de nós se seus parentes de merda descobrirem como você e Elon voltaram?” Exijo, indignada. “Veja o que você diz,” Rogan rosna, rondando para frente até que minhas costas batam na parede atrás de mim. Nem percebi que estava me afastando dele até que seus braços surgiram e me encurralaram. “Eu me importo,” ele rebate para mim, sua voz calma, uma ameaça não diluída. “E eu acho que o verdadeiro problema é que você também faz, e você odeia isso.” Sua respiração roça sedutoramente no meu rosto, e eu odeio a reação que tenho a isso. Arrepios sobem pelos meus braços, mas me recuso a me perder em sua presença, a ceder ao que ele pode me fazer sentir. Não me importo como ele pode persuadir meu corpo a trair minha mente, estou farta disso. “Oh, eu me importo, Rogan, ou eu poderia ter me importado antes de você pisotear em cima de mim como se eu não fosse nada. Não se preocupe, isso vai passar.” Flashes de dor em seu olhar, e desta vez ele não o afasta, ele não me exclui. Ele apenas me encara, seus olhos sangrando de dor e implorando por algo que ele não é mais digno. “Diga-me como consertar isso,” ele sussurra entrecortado, e não sei se ele está pedindo para consertar o que aconteceu entre nós ou a situação em que estamos agora, talvez sejam os dois. Não tenho certeza do que mudou desde a última vez que conversamos. Ele estava tão resignado que não havia como voltar atrás, assim como eu, mas não é isso que estou vendo em seu rosto agora. Eu quero acalmar a angústia que ele está compartilhando comigo em seu olhar preocupado, mas ele não merece. Ele não merece o que tenho a oferecer. “Você pode trabalhar duro para salvar Elon, mas não pode sacrificar tudo por ele,” começo. Rogan balança a cabeça, seus lábios preparando um argumento, mas eu o corto. “Não sabemos onde ele está ou quem poderia estar com ele. Você poderia estar indo direto para a armadilha do Conselho Superior, e para quê? Você acha que dizer a eles o que eles querem saber acaba com tudo isso para você? Você está renunciado, Rogan, não há reviravolta, uma vez que acontecer,” o lembro, meus olhos implorando para ver a verdade no que estou dizendo. “Você e Elon, se algum dia o encontrarmos, não estarão mais seguros do que antes. Você acha que eles vão deixar você viver?” Pergunto, revirando os olhos e balançando a cabeça com o pensamento. “Isso nunca vai acontecer. Eles vão testar os limites desse dom que você tem, porque uma vez que os poderosos têm o que querem, eles removem as ameaças. Você é uma ameaça, Rogan. Eles vão eliminá-lo, se possível, e se não, eles vão prendê-lo e jogar a chave fora,” digo a ele, resistindo à vontade de passar as costas da minha mão sobre o tique que começou em sua mandíbula. “Você me vendeu porque precisava de mais recursos e acesso a mais informações, mas estamos mais perto de encontrar seu irmão do que estávamos antes?” Exijo. “Você não está pensando direito e está fazendo escolhas que têm consequências duradouras não só para você, mas para toda a nossa raça. Não sei como ou por que o que aconteceu com você e Elon aconteceu, mas cresça e pare de brincar como se essa informação não mudasse o jogo. Sim, você tem uma responsabilidade com seu irmão, mas também tem a responsabilidade de manter o que sabe aqui,” acrescento, inclinando-me para ele e sacudindo sua testa. Ele estende a mão e pega minha mão, pressionando-a contra sua bochecha. Ele fecha os olhos, inclinando-se ao toque de uma forma que parte meu coração um pouco. Eu fortaleço minha decisão, me afastando dele... mas não puxo minha mão. “Eu matei você,” deixo escapar do nada. Suas pálpebras se abrem e olhos verdes-musgo perdidos encontram os meus. “Eu vi você sangrar até a morte aos meus pés, e me senti bem. Mas então eu morri também.” Faço uma pausa, o silêncio se estendendo entre nós como a corda mágica da qual não tenho certeza se algum dia estarei livre. “Você destruiu minha vida, Rogan. Você alterou minha magia, obliterou minha escolha e me negociou como se tivesse o direito. Não há como consertar isso,” finalmente digo, respondendo a outra parte de sua pergunta complexa. Com dor, Rogan fecha os olhos, estendendo a mão e segurando minha bochecha. Sua presença me oprime. A necessidade que palpita na minha barriga torna tudo isso mais difícil. Isso me lembra do que poderia ter sido e me mostra que eu realmente queria. Por mais irritante que Tad possa ser, ele está certo. Eu gostava de Rogan, e agora toda essa merda fodida é o que tenho de resultado disso. “Pelo que vale a pena, Lennox, eu sinto muito. Eu sei que você acha que sou irredimível, mas estou tentando não ser.” Inspiro, sinto sua sinceridade e me deleito com o desejo que sinto emanando dele. Se isso bastasse para mim. Estendo a mão e lentamente puxo sua mão da minha bochecha. Eu olho em seus olhos deslumbrantes, traçando os ângulos fortes de seu rosto avidamente com meu olhar. Coloco meu olhar na cicatriz que é uma pequena representação do dano que ele guarda dentro. E então, com tudo em mim, eu deixo ir. “E eu queria que seu pedido de desculpas valesse mais para mim do que realmente é,” digo a ele honestamente, e então me abaixo de seu braço e o deixo em pé, perdido e abandonado, em meu quarto. 08
Fico olhando para a escova de cabelo na mesa à minha
frente e resmungo. Olho dela para minha bolsa de ossos, nem mesmo me preocupando em ver se eles vão reagir a este item inútil. Assim como eles não reagiram a nenhuma das outras merdas idiotas que a equipe da Ordem obteve nas casas dos outros dois Osteomantes desaparecidos. Não há um osso ou qualquer coisa que contenha nem mesmo uma partícula de osteomatéria na pilha de itens confiscados e, honestamente, quero gritar com alguém sobre isso. Os poderosos que disseram que não era seguro para eu ir. Eles disseram que trariam de volta todos os itens úteis que encontrassem e eu poderia ver o que conseguiria com eles. Bem, o que diabos uma Bruxa de Ossos deve fazer com uma lata vazia de Coca, uma escova de cabelo, algumas roupas sujas e uma vela de cera de abelha nova em folha? Ligar o foda-se é tudo o que posso fazer. Resmungo frustrada com a coleção inútil e começo a me perguntar - não pela primeira vez - se a Ordem é incompetente ou está fazendo essa merda de propósito. De jeito nenhum eles foram a duas casas de Osteomantes diferentes e não encontraram um osso para trazer de volta para eu tentar ler. Sento-me na cadeira com um suspiro, observando a sala de interrogatório escolhida para hoje. Essa é maior do que as outras em que estive, com apenas um longo espelho do tamanho da meia parede para me espionar. Me viro e olho para o meu reflexo, me perguntando quem está do outro lado hoje. A porta se abre com um grande estrondo, e pulo com o movimento repentino e o barulho. Estou de pé no momento em que dois guardas entram na sala, seus uniformes mais bonitos e ligeiramente diferentes da equipe que normalmente me cerca. Eles ficam em posição de sentido de cada lado da porta, abrindo caminho para que dois homens de terno entrem, com escárnio e julgamento claros estampados em seus rostos. Um deles está em um terno vinho profundo, com uma camisa chocolate escura e sem gravata. Sua camisa está desabotoada um pouco baixa demais para o meu gosto e, embora seu cabelo comprido seja exatamente do mesmo tom, a coordenação de cores não consegue esconder os sinais de envelhecimento em seu rosto bronzeado. Ele é definitivamente mais próximo da idade dos meus pais do que da minha, embora meu palpite seja que ele provavelmente não goste de ser lembrado desse fato. Seu companheiro está em um terno azul meia-noite, camisa branca limpa e gravata de bolinhas. Seu cabelo grisalho está na altura dos ombros e parece brilhante e macio. Suas feições angulares resistiram um pouco melhor ao teste do tempo, e há algo familiar em seu rosto que me faz jogar decoro e graças sociais apropriadas pela janela enquanto o encaro em um esforço para descobrir de onde o conheço. Ainda estou vasculhando minhas memórias quando uma mulher alta e magra finalmente entra pela porta. Seu vestido creme até o chão é apertado na cintura por um cinto grosso que parece ter sido feito de um pobre crocodilo albino. Sua roupa abraça cada curva de seu corpo ágil, fazendo-a parecer elegante e poderosa. Seu cabelo é escuro como breu, com uma espessa mecha branca emoldurando seu rosto e quebrando o preto. Olhos verdes rapidamente me avaliam e um sorriso gentil decora sua boca carnuda. Educo minhas feições, controlando o choque que me catapulta quando cai a ficha de com quem eu estou lidando. Sorrel Adair, a Alta Sacerdotisa das Bruxas, acabou de entrar na sala. O verde de seus olhos é mais verde-kelly em oposição à cor de musgo que passei a apreciar, mas não há como negar o quanto Rogan lembra a sua mãe. Olho para o homem no terno azul meia-noite e agora reconheço facilmente o pai de Rogan. O terceiro homem não tem nenhuma semelhança com a família, e acho que ele deve ser um membro do conselho de confiança, talvez uma das bruxas com quem Rogan disse que se encontrou. Imediatamente me pergunto se Rogan sabe que eles estão aqui, e então deixo esse pensamento de lado para me concentrar em por que eles podem estar aqui e como quero jogar com isso. Com um movimento de seu pulso, a porta se fecha, a exibição de sua magia elemental que eu tenho certeza para intimidar. Entrada meio dramática? Ela entra na sala com confiança, parando do outro lado da mesa na minha frente. Ela olha por cima da minha cabeça para o espelho atrás de mim, mas não me viro e sigo seu olhar. Não, estou muito ocupado reconhecendo que alguém acabou de fazer algo no quarto. Isso não afeta minha magia - nada neste edifício jamais afetou, embora tenha trabalhado muito para manter isso ao mínimo - mas há uma mudança do mesmo jeito. E fico com a suspeita de que todos os dispositivos, feitiços, proteções e runas usados para espiar, observar e registrar o que acontece dentro dessas quatro paredes simplesmente morreram. O homem de terno cor de amora pisca para mim, e aposto um bom dinheiro que ele é um Contegomancer. Bruxas de Corium são quase tão raras quanto a minha espécie, mas se especializam em proteções, escudos e ocultação, entre outras coisas. Eles são os antigos leitores de mão, mantendo o domínio sobre a pele de uma pessoa - sua concha protetora, por assim dizer - mas essa magia protetora se traduz em muito mais além de simplesmente ler as linhas da palma de alguém. “Sinto muito por nos encontrarmos nessas circunstâncias, mas é bom conhecê-la da mesma forma, Lennox,” a Alta Sacerdotisa me diz em vez de uma saudação formal, seus olhos brilhando com bondade e seu sorriso caloroso. O pai de Rogan avança para puxar o assento para ela, e ela se senta rigidamente como se não quisesse tocar em nada por medo de pegar algo. Ela não se dirige a mim formalmente, o que é a coisa respeitosa a fazer, nem tenta se apresentar, decidindo claramente que eu já deveria saber quem ela é. Sim, mas é arrogante e rude ao mesmo tempo. Ela acena para que eu me sente, e já que não estou tentando começar a merda ainda, me jogo de volta na minha cadeira e espero. Suas peças secundárias do Conselho Superior sentam-se depois de mim, mas parece menos um movimento cavalheiresco e mais um esforço para me fazer me sentir encurralado por eles. A Alta Sacerdotisa e eu nos estudamos por um momento, sua leitura astuta, apesar da doce máscara que está fixada em seu rosto. Tento acalmar meu coração martelando, lembrando que Rogan me disse que seu pai é um Bruxo de Almas e provavelmente está lendo as reações do meu corpo como um livro. Então, novamente, qualquer um em sã consciência ficaria surpreso com o súbito aparecimento da Alta Sacerdotisa das Bruxas. Então, talvez eu esteja bem nesse ponto. “Sua avó está com meu filho?” Sorrel pergunta, desistindo das brincadeiras de rodeio e indo direto ao ponto. Quase respeito o movimento... quase. “Não,” respondo com a mesma franqueza. “Você acredita nisso, apesar das evidências?” ela rebate friamente, cruzando as mãos recatadamente no colo. “E que evidências são essas?” Pergunto. “Quero dizer, apesar das teorias circunstanciais e baseadas em conjecturas que foram cuspidas em mim, ainda não vi qualquer evidência que apoie essa acusação.” “Não parece uma conclusão lógica para você com base nos fatos?” Ela pergunta, desviando minha pergunta. “Não importa,” digo a ela simplesmente. “E a menos que a Ordem esteja mantendo informações vitais para si mesma, há muitos poucos fatos disponíveis para tirarmos quaisquer conclusões precisas.” “Como você conheceu meu filho?” Ela gira, mais uma vez se esquivando do meu ponto. “Não o conheço, só sei que está desaparecido.” “Não, não Elon, Rogan?” Ela redireciona. “Você sabe a resposta para essa pergunta; fui questionado repetidamente pela Ordem e respondi honestamente e da mesma forma todas as vezes.” “Eu gostaria de ouvir por mim mesma,” ela pressiona. “Ele veio até mim, pedindo ajuda para encontrar seu irmão. Concordei em ajudá-lo. Aqui estou eu,” digo a ela, oferecendo a versão resumida. “Sim, aqui está você,” ela murmura, o sorriso ainda no lugar em seus lábios, mas seus olhos agora estão esfriando com a nossa troca. “Meus filhos foram renunciados por assassinarem seu tio a sangue frio. Você está ciente disso?” Ela pergunta com uma pequena fungada. “Sim.” “E isso não é uma preocupação para você?” ela pergunta inocentemente, mas o julgamento em seus olhos verdes a denuncia. “Honestamente, não é da minha conta,” contraponho, tentando acalmar a raiva que começa a ferver meu sangue enquanto a Grande Sacerdotisa das Bruxas, a mãe de Rogan e Elon, tenta pintar seus próprios filhos com mentiras e desdém, tudo para promover alguma tomada de poder ridícula. Ela pode me julgar o quanto quiser, mas sei o que ela está fazendo, e isso me enoja. Uma vozinha na minha cabeça está me implorando para ficar calma, para jogar junto e não foder com as pessoas que mais ou menos mandam na minha raça. Eu poderia facilmente bancar a vítima, fazer Rogan ser o cara mau, assim como ela está fazendo. Ele pode até merecer, mas não sou assim. Talvez sejam os flashes que vi de sua vida como uma criança quando Rogan e eu usamos magia juntos pela primeira vez. Ou a verdade sobre o que aconteceu com eles, e as pessoas que estavam por perto e permitiram. Talvez tenha sido a constatação de que nada é o que eu pensava e que existem muito mais áreas cinzentas no mundo do que minha criação em preto e branco jamais me faria acreditar. Mas enquanto sinto o peso do Alto Conselho me encarando, sinto o sutil desdém vazando dos olhos verdes do pedaço de merda dessa bruxa na minha frente, alcanço meu limite em bancar a melhor pessoa. Eu cansei de tudo isso. A Ordem pode enfiar esse papo de para sua proteção, no traseiro apertado deles. Rogan pode se foder com seu pedido de desculpas tarde demais. Esta cadela pode chutar pedras, pensando que ela é melhor do que eu. E posso parar de ser uma pequena vadia e fingir que sou qualquer coisa diferente do que sou, uma poderosa Bruxa de Ossos foda pra caralho. “Como o assassinato e a segurança de suas outras bruxas não são da sua conta?” O membro do Alto Conselho com o terno vinho exige. Eu rolo meus olhos e direciono minha resposta para a Alta Sacerdotisa. “Se eles são tão perigosos, por que os renunciar e não os executar? Você quer que eu me preocupe com a tendência deles para matar, mas claramente vocês, como membros do Conselho Superior, não estavam preocupados, porque os deixaram soltos na sociedade. Então, sim, não é da minha conta. Além disso, ninguém veio até mim e me pediu para matar ninguém. Fui convidada para ajudar a encontrar bruxos desaparecidas. Bruxos, ao que parece, ninguém por aqui está realmente interessado em encontrar e, francamente, estou realmente começando a me perguntar por que isso acontece.” “Cuidado, bruxa,” ela avisa, perdendo a calma. “Preste atenção ao seu próprio aviso, senhora, você não sabe merda nenhuma sobre quem eu sou,” retruco, empurrando para fora da minha cadeira e ficando de pé. Fico surpresa quando Sorrel Adair hesita um pouco antes de colocar sua máscara toda-poderosa de volta no lugar e combinar com a minha postura. O pai de Rogan e o outro bruxo se levantam, e então a Alta Sacerdotisa estala os dedos. Os guardas ainda posicionados em cada lado da porta imediatamente se viram e saem. Estreito meus olhos para os três restantes e invoco reforços na forma de uma porra de uma tonelada de poder. Eles provavelmente vão me matar com chances de três contra um, mas vou acabar com essa cadela no caminho. “Você está questionando as decisões do Conselho Superior de Bruxas?” a Alta Sacerdotisa me pergunta, diversão cintilando em seus olhos frios. “Como eu disse, não é da minha conta, mas já que você perguntou, sim, e se você acha que outras pessoas não chegaram à mesma conclusão que eu, então você subestima muito as pessoas que diz liderar.” Eu vejo o momento exato em que a mãe de Rogan começa a se perguntar o que é que eu posso saber. A cor de seus olhos reflete perfeitamente o brilho de ganância que vejo em seu olhar, e sei sem sombra de dúvida que ela está calculando meu status de peão, como se isso fosse um jogo fodido e não a vida das pessoas com que ela está mexendo. Seu olhar desce pelo meu corpo, como se ela estivesse procurando por evidências físicas de que sei mais do que estou demonstrando. Reprimo o arrepio que sobe pela minha espinha quando seu olhar cobiçoso sobe e se fixa no espelho atrás de mim antes de encontrar meus olhos mais uma vez. “Você é uma bruxa linda, Lennox,” ela declara presunçosamente, como se ela tivesse algo a ver com isso. Lanço um olhar para ela. “Estou ciente, mas me lembre o que isso tem a ver com as bruxas desaparecidas?” Pergunto, meu tom meloso. Me esforço muito para conter minha irritação. Preciso redirecionar esse encontro para o que é importante e tentar reduzir o alvo massivo que acho que acabei de colocar nas minhas costas. Não sei como ela concluiu que pode haver uma conexão mais profunda entre mim e seu filho, mas eu seria uma idiota se banalizasse as engrenagens coniventes que quase posso ver girando na cabeça desta bruxa. Internamente, começo a me repreender, mas rapidamente paro. Ela pode vir atrás de mim, não importa o que eu fiz. Brincar de bonzinho ou dizer a ela para ir embora não teria mudado seu desejo de me usar, se pudesse. Suspeito que isso seja tudo que essa mulher sabe fazer. “Qual é o seu objetivo, Osteomante?” Sorrel ronrona para mim, o som mais selvagem do que calmante. O pai de Rogan e o outro membro do conselho se movem para ficar atrás dela. A forma de sua posição significa algo, mas não consigo lembrar o quê. Isso vai me ensinar a não perder o foco na próxima vez que alguém falar sobre geometria sagrada. “Resolver este caso e, em seguida, viver minha melhor vida parece muito bom para mim,” gorjeio em resposta. Uma chama ganha vida na mão da Alta Sacerdotisa. Ela acaricia a pequena bola de fogo com amor, mas zombo, impressionada. Também posso acenar com a mão através da chama de uma vela, senhora. Obtenha melhores truques. Alimento meu poço de poder, tomando cuidado para não puxar nada de Rogan no caso de, de alguma forma essas bruxas de elite poderem sentir, ou no caso de Rogan estar em uma situação onde ele precisa se defender deles. Ainda não sei exatamente por que eles estão falando comigo, e só espero que onde quer que ele esteja agora, ele esteja bem. A magia cresce dentro de mim e estou chocada com o quanto está crescendo dentro de mim. Tenho aquele mesmo sentimento completo que tive quando sifonei da fonte de Rogan, só que desta vez, eu sei com certeza que não cheguei perto de nossa amarração. O pai de Rogan inclina a cabeça para o lado e me estuda. Ele murmura algo para sua esposa, e a Alta Sacerdotisa levanta uma sobrancelha em reação ao que quer que ele diga. Eu quero saber o que o Animamancer está captando, mas mantenho minha boca fechada. “Não temos que ser inimigos,” ela me diz resolutamente, a bola de fogo que ela conjurou em sua mão entrando e saindo de seus dedos alegremente. Me afasto da maneira hipnótica com que ela exerce seu elemento mais forte e me concentro de volta no que ela disse. “Eu não sabia que éramos inimigos,” retruco, bancando a boba. “Estou aqui simplesmente para ajudar. Não tenho certeza de como isso nos coloca em lados opostos do que está acontecendo,” acrescento, para realmente deixar claro a coisa doce e inocente que estou tentando vender. “Você é poderosa, você poderia fazer grandes coisas na vida,” ela continua, ignorando os argumentos válidos que estou fazendo. “Obrigada, minha vovó sempre disse isso, mas ela era tendenciosa,” brinco, deixando de lado meus esforços mais doces do que o mel quando eles claramente erram o alvo. Com um movimento de seus dedos, a Alta Sacerdotisa lança sua pequena bola de fogo contra mim. Estou pronta para arrancar os ossos do corpo dela para me proteger, mas a trajetória das chamas está desfeita e ela passa voando por mim. O som de vidro quebrando enche a sala. Recuo e giro para ver o grande espelho que ocupa metade da parede atrás de mim desmoronando em pedaços no chão. Ele revela algum tipo de sala de controle, mas a única pessoa que está nela é Rogan. Ele encara sua mãe, seu olhar brilhando com desprezo e raiva. Ninguém pronuncia uma palavra enquanto eles examinam um ao outro, sua conversa silenciosa apenas interrompida pelo som de vidro tilintando no chão. Um sorriso cruel inclina os lábios da Alta Sacerdotisa, e seu olhar insidioso lentamente, propositalmente se move para mim. Eu imploro Rogan em minha mente para não se mover. Não vacilar. Nem ao menos olhar para sua mãe e confirmar o que é claro que ela suspeita. Posso sentir a ameaça em seu olhar de sondagem, sentir que ela está sondando, que está tentando avaliar as possibilidades. Ela quer testar o que seu filho pode sentir por mim, e estou apavorada com o que isso pode fazer, o que isso pode revelar não apenas para ela, mas para mim. Não sei se ela vai me atacar abertamente ou talvez ele para ver o que farei. Alguém vai impedi-la? Eles vão apenas assistir enquanto, do nada, a Alta Sacerdotisa ataca seu filho renunciado e uma bruxa inocente? A adrenalina destrói minhas entranhas e minha magia atinge seu pico distendido. Sinto que vou explodir a qualquer minuto e não sei o que vai ficar no meu rastro. A cabeça do pai de Rogan estala em minha direção, mas antes que ele possa dar qualquer aviso, uma porta atrás de Rogan se abre, e uma mulher atarracada com óculos grossos entra correndo. Ela está agitando um papel, suas bochechas coradas provavelmente de correr até aqui. “Eu encontrei!” ela anuncia entre suspiros por ar. “A maldição era a prova de falhas, mas descobri o que a magia do demônio deveria fazer.” A atenção de todos se volta para a mulher, e ela de repente parece perceber a janela quebrada e o impasse ocorrendo do outro lado. Seus olhos surpresos pousam na Alta Sacerdotisa e crescem ainda mais quando ela faz uma profunda reverência. “Sua eminência, sinto muito por ter interrompido,” ela chia nervosamente, seus olhos correndo para Rogan, então para o vidro quebrado, e de volta para a governante das bruxas. “Ah, finalmente, alguém que sabe como se comportar na presença de sua Sacerdotisa,” ela aponta, me nivelando com um olhar carregado, exigindo que eu faça uma reverência também. “Eu não me lembro de jamais ter jurado lealdade a você,” digo a ela simplesmente, me impedindo de mostrar o dedo do meio e dizer a ela curve-se para isso, vadia. Ela cantarola em desaprovação, seus olhos verdes brilhando com diversão. “Algo para esperar na próxima vez que nos encontrarmos,” ela declara docemente, alisando o vestido e se virando para sair. “Sim, isso e esfaquear você com seus próprios fêmures parece divertido,” grito para ela, irritada com a dispensa arrogante. Um suspiro de tosse sufocado soa atrás de mim, e olho para encontrar a bruxa de óculos olhando para mim em completo horror. Eu também percebo que Rogan está tentando muito não sorrir. Ele está fazendo um trabalho de merda, e nem mesmo a mão que ele levanta para mascarar o que está acontecendo em seu rosto está enganando alguém. Me viro, meu olhar desanimado pousando de volta nos intrigantes olhos verdes que irradiam isso não acabou. Então a encaro com um nem de perto está acabado, e fico lá enquanto meus mais novos inimigos, a Alta Sacerdotisa e seus comparsas, partem. A porta se fecha atrás deles, jogando o resto do espelho de sua moldura no chão. Tenho certeza de que o movimento foi feito para me lembrar de onde estou versus onde eles estão, mas, honestamente, tudo o que faz é puxar a rolha no meu peito e deixar toda a tensão que preencheu meu corpo drenar. O que em nome da lua acabou de acontecer? Meus olhos encontram Rogan, perguntas e preocupação nadando em meu olhar. Espero encontrar a mesma apreensão e angústia que estou sentindo em seu olhar vigilante, mas em vez disso, há algo totalmente diferente: admiração e... necessidade. Eu me recuso a me permitir reagir de qualquer forma, em vez disso, desviando seu olhar intenso e me concentrando na mulher que poderia ter acabado de nos salvar inadvertidamente de um sério chute mágico na bunda. Eu quero ter esperança de ter conseguido me segurar, mas este é o Sumo Sacerdote e a Sacerdotisa de quem estamos falando, e pelo menos um de seus tenentes. Minha confiança e habilidade estão crescendo, mas estou completamente delirando se penso que teria saído ilesa. “Eu sinto muito. O que você estava dizendo?” Pergunto à bruxa baixa, e ela pisca para mim, confusa por um momento antes de mais uma vez balançar o papel em sua mão. “Certo, sim, eu estava dizendo que sei o que a magia do demônio deveria fazer. Não foi uma maldição. Quero dizer, havia maldições de proteção colocadas em prática, que é o que atingiu aquela bruxa e fez a maior parte dela poof, mas esses eram a prova de falhas. A magia raiz era uma entrada,” ela declara com entusiasmo, e não posso deixar de me encolher com sua descrição poof casual do que aconteceu com o membro da Ordem na sala naquele dia. “O que é uma entrada?” Questiono, não entendendo o que ela está dizendo. Faço uma nota para ler sobre magia demoníaca e tento me preparar para o que podemos enfrentar. “É como um portal,” explica Rogan, seus olhos agora demonstrando o nível de preocupação que eu esperava ver antes. “Isso significa que quando o alvo da magia tocasse o papel, teria sido enviado para qualquer local final que fosse magicamente predeterminado.” “Exatamente,” a bruxa gorducha concorda, impressionada, um largo sorriso feliz espalhado em seu rosto. “Deixe-me adivinhar,” bufo, cansada. “O alvo da magia demoníaca era eu?” “Não há como confirmar isso, uma vez que as maldições a prova de falhas foram ativadas, mas com base no conteúdo da nota, seria uma suposição segura,” a bruxa confirma, e aceno e olho para o chão enquanto tento absorver tudo isso. “Existe alguma maneira de descobrir onde teria sido a queda final da entrada?” Rogan pressiona, seu tom de partir o coração esperançoso. “Estamos trabalhando nisso agora. É mágica complicada, mas se alguém pode descobrir, é o meu time,” ela declara alegremente. Balanço minha cabeça, e uma risada vazia me escapa. Uma vez eu brinquei que Rogan tinha talento para fazer inimigos, mas cara, eu o derrotei nesse departamento. Eu sou uma bruxa há uma semana e meia, e eles estão apenas saindo da toca neste momento. Quer dizer, sou tão boa que nem preciso conhecer alguém para fazê-lo querer me caçar e fazer sabe-lá-o-quê comigo. Corro meus dedos pelos meus cachos, coçando meu couro cabeludo, suspirando. Nesse ritmo, vou precisar de uma lista. Começará com a mãe furiosa que dirige a minivan, e a seguir adicionarei o Sumo Sacerdote e a Sacerdotisa à lista, seus comparsas e algum demônio sem nome aleatório. Sim, o que posso dizer, tenho habilidades. Habilidades malucas... literalmente. 09
Olho para a minha xícara de café do tamanho de uma
cabeça, perdida em pensamentos enquanto giro a bondade cremosa ao redor. O cheiro de café torrado e delícias assadas me envolve em um abraço amigável quando a campainha acima da porta toca, indicando que alguém está entrando ou saindo do movimentado café onde eu roubei uma mesa. Para minha sorte, Trouble Brewin pertence a uma bruxa, e ninguém disse uma palavra sobre eu sentar sozinha em uma mesa enquanto meus guardas fazem o mesmo ao meu redor. Provavelmente estou limitando o acesso de alguém ao Wi- Fi gratuito e negando a ela sua mesa de centro favorita. Mas, até agora, todos estão guardando suas opiniões para si mesmos enquanto olho para minha xícara e tento encontrar o significado da vida em seu conteúdo. Suponho que seja uma vantagem de ter praticamente a equipe da SWAT da Ordem cercando você vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, isso impede os iniciadores de briga de merda. Levo o líquido mágico e quente aos meus lábios e tomo um gole profundo do líquido encorpado e perfeitamente açucarado. É bom, mas já tive melhores. Visões da máquina de café requintada de Rogan flutuam à superfície de minha mente, e as encaro com desejo puro. Ela era uma cadela arrogante, mas era a melhor. Descarto meus desejos vigorosos pela máquina de café que provavelmente nunca verei novamente e redireciono meus pensamentos para a tarefa em mãos. Eu sei que minha vovó Ruby está morta - e, portanto, não está envolvida no que está acontecendo com as bruxas desaparecidas e a merdas demoníacas - mas não consigo afastar a sensação de que estou perdendo alguma coisa. Ela conhecia Nikki Smelser, a checava, se importava com ela. Algo aconteceu entre elas para desencadear isso? Era a conexão pessoal com Nikki a razão pela qual ela não conseguia adivinhar mais nenhuma informação de seu sonho ou dos ossos? Eu continuo girando tudo isso em minha mente, tentando dar sentido a tudo isso. Mas não consigo tirar a imagem de Nikki da minha cabeça, não consigo afastar a ideia de que ela ser a grande má no cenário simplesmente não se encaixa. Talvez eu seja idiota quando se trata de um rosto bonito? Deus sabe que estou onde estou agora porque não consegui ver o traidor por trás da beleza de Rogan. Meus pensamentos mudam de Nikki para Rogan, e me pergunto se ele fez algum progresso em rastrear o destino final da magia demoníaca. Ele não deixou o lado da equipe desde que anunciaram o grande avanço ontem. Queria ajudar também, mas aparentemente minha presença poderia criar problemas, então não tenho permissão. A única coisa que posso fazer é tentar ler os itens inúteis que eles trouxeram das casas das bruxas desaparecidas. Isso é apenas uma perda de tempo, então agora descobri uma nova maneira de perder tempo que envolve excesso de cafeína e análise excessiva de cada segundo de minha vida em busca de pistas. Dois dos meus guardas se levantam e, alguns segundos depois, voltam a sentar-se. Eu não olho para cima para ver o porquê, muito focada em tentar juntar as coisas e descobrir o que não estou vendo. Como se vê o invisível? Alguém limpa a garganta por perto, mas ignoro o som, muito preocupada em olhar para o nada. Um grande corpo para na beira da minha mesa, e posso dizer, pela falta de uniforme preto, que não é um dos meus guardas. Olho para cima, irritação nua em meus olhos. Se alguém quiser me dar um sermão sobre etiqueta à mesa, vou dar um soco na garganta. Bem, pelo menos na minha cabeça eu faria isso; na verdade, eu provavelmente só pediria desculpas e depois me sentaria com um dos meus guardas. Meu vislumbre me mostra um jeans preto bem ajustado e desgastado e um Henley waffle cor de cáqui abraçando músculos que são mais uma obra de arte do que um corpo. Com o interesse aguçado, continuo minha leitura para encontrar longos e grossos fios de cabelos ruivos caindo sobre os ombros do homem, e a próxima coisa que sei, meus olhos estão encontrando um familiar olhar dourado. “Saxon?” Questiono, surpresa com a aparição inesperada do lycan. Ele responde com um sorriso largo e lindo. “Ei, que delícia te encontrar aqui,” ele brinca, suas narinas dilatando ligeiramente como se ele estivesse farejando minha reação à sua presença. “Hoot está bem? Acabei de falar com Riggs esta manhã, ele disse que estava tudo bem?” Começo, preocupação bombeando através de mim enquanto tento descobrir por que ele está aqui. “Ele está bem,” Saxon se apressa para me tranquilizar. “Riggs disse que você parecia abatida quando ele falou com você, que provavelmente precisaria de uma pausa. Então, me ofereci para vir dar uma para você,” ele explica, esfregando a nuca timidamente. “Oh,” chilro, pega de surpresa. “Sei que isso é presunçoso como o inferno, mas espero que esteja tudo bem,” ele pergunta, procurando meu rosto enquanto simultaneamente cheira o ar. “Sim, tudo bem. Isso é... muito legal da sua parte,” o asseguro, apontando para a cadeira ao meu lado. “Sente-se,” encorajo, movendo uma pequena pilha de guardanapos para abrir espaço para ele. “Tem certeza?” Ele questiona hesitantemente. “Parece que você está tendo uma troca muito intensa com o seu café.” Seus olhos se iluminam e rio da cadência provocante em seu tom. “Só se você prometer uma conversa melhor do que esta xícara tem me dado,” replico de brincadeira, e Saxon puxa a cadeira e senta seu corpo enorme. Olho para meus guardas, esperando que eles parem o que está acontecendo, mas estranhamente, eles não param. “Parece uma competição acirrada, mas estou pronto para um desafio,” ele brinca, seus olhos dourados me observando. O calor afunda em minhas bochechas e faço minha própria leitura discreta. Ele fica tão bem de uma camisa quanto naquele dia no toco sem camisa. Seu cabelo está solto e tem aquele ondulado masculino perfeito que as mulheres passam horas conseguindo com tecnologia, e os homens simplesmente deixam o cabelo secar ao ar livre. Sua pele é beijada pelo sol, o tom dourado complementando seus olhos dourados, e... merda, estou babando? Saxon põe sua xícara de café para viagem na mesa, e ofereço a ele um sorriso caloroso, em pânico interior porque não tenho ideia do que dizer, ou perguntar, ou fazer. Tento disfarçar minha estranheza com um grande gole de café e depois tomo outro porque ainda não tenho nada. “Riggs disse que você estava aqui trabalhando para encontrar Elon Kendrick. Como vai isso?” ele pergunta casualmente antes de tomar seu próprio gole de café, e percebo que Saxon pode estar nervoso também. “Hum, quero dizer, não está indo muito bem. Ainda não sabemos onde ele está ou o que aconteceu. O tempo está passando, e as coisas estão tensas,” deixo escapar, pensamentos do que aconteceu com a mãe de Rogan um dia antes, vindo à minha mente. “Lamento ouvir isso, vou checar com o Major e ver se há algo que o bando pode fazer para ajudar,” ele oferece, seus olhos sérios e cheios de preocupação. “Você já esteve aqui antes?” Questiono, não esperando que ele esteja tão familiarizado com os poderosos que estão na Ordem. Acrescento a não reação dos meus guardas à sua presença à equação e - surpresa, surpresa - sinto que estou perdendo alguma coisa. “Eu já, na verdade. Venho aqui com bastante frequência. Liguei para a Major no caminho para cá e disse a ela que estaria aqui para ver você, tudo esclarecido. Sou um elemento de ligação para os negócios da matilha, então eu já trabalho com a Ordem e algumas das outras corporações de bruxas por algum tempo.” Levanto uma sobrancelha impressionada. “Uau, isso é... legal, como você entrou nisso?” Saxon sorri e relaxa ligeiramente. “Eu caí mais ou menos nisso muito naturalmente. Sempre me interessei pelos negócios do bando. Gosto de sair e conhecer diferentes tipos de pessoas e descobrir como lutar contra a concorrência,” ele explica com uma risada. “Concorrência? Eu pensei que o que Riggs fez era meio único?” “No começo pode ser, mas com o tempo surgiram concorrentes. Ainda somos os melhores...” “Naturalmente,” concordo de brincadeira, e ele ri. “Você está recuperada do seu acidente?” ele pergunta, me dando uma rápida olhada. “Sim, não foi nada importante,” minto com desdém. “Não tive a chance de dizer obrigada por ceder os ossos,” acrescento, tomando outro gole do meu café. “Como você pode ver, usarei qualquer desculpa para conhecê-la melhor,” ele me diz, com grande interesse brilhando em seus olhos. Lagartas se contorcem em meu estômago, criando uma sensação leve e estranha. Não são borboletas totalmente desenvolvidas causando estragos em minhas entranhas, não como eu me sentia com... Fechei essa linha de pensamento. Rogan Kendrick não é um fator, digo a mim mesma. Além disso, as borboletas são fofas em teoria, mas quando você olha de perto, elas são apenas insetos de aparência assustadora. Dirijo meus pensamentos de volta para o atraente lycan sentado perto de mim. Aquele que beija muito bem e se esforçou não uma, mas duas vezes agora para me conhecer. Talvez seja disso que preciso. Uma distração saudável de todo o caos em que estou submersa desde o dia em que os ossos me encontraram. Já faz um tempo que meu demônio interior esteve saciado, e provavelmente é por isso que estou tendo problemas para me desapegar de um idiota. Mas se eu o apresentar a um cara legal... “Então, Saxon, o que você gosta de fazer além de lutar com pessoas seminuas em um toco de árvore?” Pergunto, um sorriso sedutor passando pelo meu rosto. “Eu também gostaria de saber como isso se tornou uma coisa,” acrescento com uma risada. Ele ri e se recosta na cadeira. “Eu tinha vitória garantida até você aparecer,” ele provoca sedutoramente, e me inclino em sua vibração calma e cativante. “Nora quase perdeu o controle por um minuto até que Riggs interveio e declarou o resultado.” “Nora?” Pergunto, confusa, meu sorriso vacilando um pouco. As sobrancelhas de Saxon caem com incerteza, e seus olhos dourados me estudam seriamente. “Sim, Nora, o prêmio,” ele explica, seu tom sugerindo que esta é uma informação que ele pensava que eu já sabia. Rosno internamente. Não me diga que esse cara tem namorada ou, pior, esposa. Meu sorriso se torna um pouco mais frágil enquanto eu trabalho para mantê-lo estampado no meu rosto. “Hum, prêmio?” As feições de Saxon se contraem de preocupação e ele se inclina para mim. “Estou interpretando a sua cara como você não entendendo como funciona a competição, e o que estava em jogo?” Encolho os ombros, pensando no que Rogan me disse sobre isso. O objetivo era derrubar a pessoa no toco. Você não poderia usar magia, e o vencedor ganha algo. O desejo se infiltra em mim enquanto eu visualizo o cobiçado chifre de Jackalope que era quase meu. Tão perto. E então percebo o que Saxon está dizendo. “Espera. Nora? Tipo, como em uma pessoa... chamada Nora? Isso é o que estava em jogo? Você estava competindo por uma mulher?” Pergunto, minha voz ficando ligeiramente mais alta com cada palavra falada. Saxon se encolhe, e tento trazer meu tom de volta para um decibel que não seja ofensivo para lycans ou cães próximos. Meu coração bate contra minha caixa torácica como se quisesse escapar. Eu não posso nem o culpar por tentar fugir, esta última semana e meia foi um teste sério para nossa saúde cardíaca. “Não é o que você pensa,” defende Saxon, e meu estômago embrulha. Os homens nunca deveriam fazer essa afirmação. Ele manda o medidor de merda de cada mulher para o alto. Eu me inclino para longe de Saxon, minha expressão repleta de já ouvi isso antes. Ele balança a cabeça com firmeza, erguendo as mãos em um gesto apaziguador. “Eu sei o que parece, mas deixe-me explicar,” ele implora. Cansaço puxa minha alma, e tento não suspirar ou me sentir farta do sexo oposto de uma vez por todas. Quero passar uma noite trabalhando para aliviar um pouco o estresse com um cara decente; isso é pedir muito? Eu resisto ao impulso de jogar minha cabeça para trás e exigir respostas do universo, e em vez disso me dirijo a Saxon. “Estou ouvindo,” encorajo, mas não estou prendendo a respiração que o que ele está prestes a dizer vai fazer os sinos de alerta pararem de soar na minha cabeça. Ele examina meu rosto e acena com a cabeça. “Minha amiga,” ele começa, realmente enfatizando a palavra amiga. “Nora, estava recebendo muita pressão de sua família para se acasalar. Ela pensou que eles recuariam depois de um tempo, mas quanto mais ela esperava, pior ficava. Então ela bolou um plano. Ela lançou a ideia para sua família sobre ter uma competição na próxima reunião do solstício sob o pretexto de que ela encontraria o candidato mais forte dessa forma. E então ela perguntou se eu lhe daria um pouco mais de tempo vencendo.” Espero que ele continue, mas parece que essa é a explicação em sua totalidade, e não posso deixar de sentir que ele ignorou alguns pontos vitais e preocupantes. “Okaaay,” hesito, classificando através da enxurrada de perguntas que fluem pela minha mente. “Então você ia se casar com ela? Era isso que iria lhe dar um pouco mais de tempo? Além disso, por que ela não podia simplesmente dizer não, que ela não estava pronta para se estabelecer, e pronto? Por que todos os aros para escalar ou devo dizer tocos para se sustentar?” Quase ri da minha própria piada, e então o horror se apodera de mim enquanto a compreensão penetra em meus ossos. “Ah Merda! Eu te derrubei, então isso significa que ela teve que se casar com outra pessoa?” Meus olhos ficam ainda mais arregalados. “Pela lei toco, sou eu essa outra pessoa?” Acrescento, o pânico fazendo meus olhos começarem a se contorcer e minha boca ficar seca. Acabei de jogar acidentalmente alguma garota para os lobos porque eu queria um chifre de jackalope? Saxon ri, e lanço a ele um olhar enervado. “A cultura Lycan pode ser um pouco arcaica. Nem todas as famílias são assim,” ele me tranquiliza. “Mas há algumas que acreditam fortemente em alianças por meio do casamento. Os machos superam as fêmeas em quatro para um, e algumas famílias acreditam que o dever mais importante de uma fêmea é fazer um casamento próspero e criar lycans mais fortes. A família de Nora é bem antiquada.” “Ok, então isso significa que o casamento entre pessoas do mesmo sexo está fora? Eu fui automaticamente desqualificada então?” “Bem, tecnicamente você não me derrubou,” declara ele, com um brilho atrevido nos olhos. Abro a boca para defender o que praticamente fiz quando percebo o que ele quer dizer. Rogan. Ele era tecnicamente o motivo pelo qual Saxon desceu do toco. Cubro minha boca com as mãos, chocada. “Isso significa que Rogan está noivo e não sabe disso?” Pergunto através das minhas mãos em concha, ignorando o redemoinho de raiva que gira através de mim com a pergunta. As narinas de Saxon dilatam, mas estou chocada demais para reclamar sobre toda essa coisa de me cheirar. “Riggs declarou Rogan o último homem de pé, por assim dizer, mas desde que ele não ficou para continuar a competição até que cada lycan tivesse uma chance justa, a competição foi colocada em espera.” “Então o que acontece agora?” Exijo nervosamente enquanto reprimo o redemoinho de emoções conflitantes correndo soltas dentro de mim. Eu não deveria me importar. Sei que não deveria. E, no entanto, não há como ignorar a centelha de emoção que quer dar uma surra na Nora-A- Lycan. “Bem, Rogan será obrigado a vir para a próxima reunião e defender sua reivindicação. Se ele não aparecer, estará aberto ao desafio de qualquer lycan, a qualquer hora e em qualquer lugar.” Diversão goteja por mim com o pensamento de lycans aleatórios lutando com Rogan enquanto ele faz compras ou tenta ir trabalhar. Alguns podem chamar isso de justiça poética. Agora, se eu puder apenas mantê-lo no escuro para que ele não veja nada disso chegando, então teríamos uma verdadeira joelhada no saco em nossas mãos. “Então, acho que de uma forma ou de outra, Nora ganhou mais algum tempo,” aponto com uma risada enquanto tento digerir tudo que ele acabou de me dizer. Ele ri, um brilho descarado em seus olhos dourados. “Ela está muito satisfeita com o resultado. Ela agora tem tempo extra para implementar a segunda fase de seu plano,” Saxon concorda. A campainha sobre a porta do café toca, e isso me tira de nossa conversa focada. Olho para ver as cores pintando o céu enquanto o sol começa a aparecer para a noite. Quando ficou tão tarde? “Então, isso significa que, se você tivesse ganhado, seria um homem comprometido agora?” Questiono, meu olhar voltando para Saxon, a questão mais uma vez pairando entre nós. O observo e percebo que não tenho certeza de qual seja a resposta que quero, ou talvez o verdadeiro problema que estou tendo é que não sei se me importo. Eu não perseguiria nada com ele se ele estivesse com alguém, esse não é o meu estilo. Mas enquanto espero por sua resposta, percebo que não há apreensão acelerando meu coração, nenhum mal- estar ou ameaça de decepção à espreita com a possibilidade de que nada possa acontecer entre nós. Saxon é lindo, confiante, interessado e - se estou interpretando essa situação com sua amiga corretamente - gentil. Mas por alguma razão, tudo o que ele é não está provocando nada importante em mim. “Eu nunca seria apenas um homem, Leni, mas sim, aos olhos do meu bando, se eu tivesse vencido, estaria comprometido.” O sorriso arrogante em seu rosto bonito não me distrai da impressão de que ele gosta dessa troca. Acho que ele está lendo minhas perguntas como um sinal de ciúme ou de um interesse mais profundo, mas ainda não chegamos lá. Ele ainda está firme no território de pegar e não se apegar, e não no: eu gosto de você, então pare de falar com outras garotas. Estou apenas tentando entender a dinâmica que estava em jogo naquele dia no toco e garantir que não estou pisando no calo de ninguém ou convidando mais drama para minha vida do que já estou lidando. Não estou feliz por ele ou sentindo alguma conexão profunda, mas isso não significa que não podemos nos divertir um pouco. Só preciso ter certeza de que estamos na mesma página antes que isso vá para qualquer outro lugar. “Então, se você tivesse ganhado, você estaria lá brincando de casinha, mas você não fez, e agora você está aqui,” recapitulo, tomando um gole do meu café e observando-o sob meus cílios. “Sim, suspeito que uma bruxa sorrateira me enfeitiçou, e não tive escolha a não ser persegui-la na esperança de alívio,” ele brinca, sua voz um pouco mais baixa, uma pitada de rosnado e deliciosas insinuações serpenteando por suas palavras. Meu demônio interior se levanta com um claro isso vai servir, e não faço nada para impedir um sorriso atrevido de brincar em meus lábios. “Enfeitiçou, você disse?” Exclamo com falsa preocupação. “Como você sabe?” Não sei por que meu flerte assumiu uma qualidade esquisita de Flores de Aço10, mas declaro que está funcionando para mim. Saxon ri e deixo o som rico ressoar por mim. Lembro-me de como foi beijá-lo, beliscar seus lábios e senti-lo responder a mim. As memórias trabalham para aquecer meu sangue, mas do nada, meus pensamentos mudam para um conjunto diferente de lábios nos meus, na sensação de diferentes mãos enquanto seguravam meu rosto e me beijavam até que eu me sentisse como se estivesse em casa. Meu corpo ganha vida com a nova bobina tocando em minha mente, e o contraste em minha resposta física é chocante. O que há de errado comigo? Empurro a memória de beijar Rogan longe, forte, mas o dano está feito. Saxon me inspira de propósito, e vejo no segundo que ele percebe minha hesitação, a frustração e confusão manchando meu interesse e excitação. Sua testa franze, e o calor acumulado em seus olhos esfria levemente. “O que acabou de acontecer?” Ele me pergunta gentilmente. Fecho meus olhos por um momento e suspiro, porque por mais que queira responder que não foi nada, nós dois sabemos que isso é besteira. “Emergência de bruxa,” digo a ele desajeitadamente, e depois de um momento, vejo seus olhos brilharem com compreensão. “Hmmmm, suspeitei que poderia haver algo aí. Ele estava me olhando muito forte quando fui deixar seu pacote,” Saxon divulga, e posso imaginar a careta de limões azedos que deviam estar escritos por todo o rosto de Rogan ao ver Saxon novamente tão cedo. “Então vocês dois eram uma coisa? Vocês ainda são?” “Não,” respondo simplesmente, odiando a pontada que a verdade disso envia por mim. “Mas é... complicado,” acrescento, sabendo que é preciso, mas não útil. Rio do absurdo de tudo isso. Uma garota nunca quer ouvir que não é o que você pensa, e tenho certeza de que os homens poderiam viver sem ouvir que é complicado sair da boca de alguém em quem estão interessados. Saxon sorri e se recosta na cadeira. Ele passa a mão por suas longas ondas ruivas e me considera. “Diga-me por que é complicado,” ele pergunta do nada, e uma onda de calor sobe pelo meu pescoço enquanto olho para ele, com os olhos arregalados e chocada. “Não!” Exclamo rapidamente, balançando a cabeça e terminando a última gota do meu café. Debato por um momento se vou pegar um refil apenas para que possa escapar da estranheza deste momento. Mas tenho a sensação de que mesmo se eu fugisse pela a porta, ele viria atrás de mim, maldito lycan persistente. “Não estou falando com um cara com quem quero dormir sobre outro cara com quem não quero dormir. Não. Eu traço o limite de não ser aquela garota,” deixo escapar e então imediatamente desejo que não o tivesse feito. Olho para meus guardas, que estão todos examinando o lugar, parecendo vigilantes, mas entediados. Droga. Por que não pensei em sugerir um sinal para me tirem daqui até agora? Nota para mim mesma: imediatamente implementar um sinal assim que chegar em casa. “Quer dizer, estou a bordo com o cara com quem você quer dormir, parte dessa declaração, caso você tenha alguma dúvida,” provoca Saxon, e rio e desejo que fosse assim tão fácil. “Eu normalmente também estaria,” confesso. “E estou tentando, acredite em mim...” “Eu sinto um mas vindo,” ele fornece com um sorriso caloroso, e imediatamente quero colocar algum sentido em mim mesma. Sério mesmo. O que. Tem. De. Errado. Comigo? Eu poderia estar no banheiro agora com esse cara, montando o que tenho certeza que é um pau considerável, enquanto julgava a limpeza das instalações e perseguia o orgasmo. Mas não, em vez disso, tenho a versão feminina de um pau mole, porque Rogan Kendrick fodeu com minha cabeça. Clitóris mole? Isso é uma coisa? Porque parece uma coisa, e devo dizer que não sou uma fã. Esfrego meu rosto com as palmas das mãos, além de farta das minhas próprias porcarias. Vou tirar aquele bastardo traidor da minha cabeça, nem que seja a última coisa que eu fizer. Mas esta noite não é a noite. “Sinto muito,” digo a Saxon, meu olhar arrependido. “Honestamente, estou poupando muitos problemas aqui, porque minha vida agora está uma bagunça.” Jogo minhas mãos em exasperação, desejando que o que estou dizendo não fosse verdade, mas é. “Era uma bagunça antes das bruxas desaparecidas, e agora está tão além de fodido que é irreconhecível. Você deveria correr. Tipo, agora mesmo. Você deveria fugir e nunca olhar para trás, antes que minha bomba atômica de vida o aniquile,” advirto com uma risada vazia, completamente séria. “Divulgação completa, se você não correr para as colinas, vou julgá-lo completamente. Você deve se preocupar mais com você mesmo do que ficar enredado no meu pesadelo,” digo a ele, e ele ri. Saxon me observa, seus olhos brilhando com diversão e curiosidade, seu sorriso sexy e ainda sem fazer nada por mim. Ugh. Ele solta um suspiro profundo de seu peito e dá um aceno de concessão. “Ok, Leni, vou correr. Vou me salvar,” ele brinca. “Mas deixe-me levar você para casa primeiro,” ele me diz. Olho para ele com desconfiança, o que me rende outra risada rica e ele levanta as mãos em um gesto de inocência. “Prometo que não vou tentar nada, só não quero você andando de volta no escuro sozinha.” Um bufo incrédulo sai furtivamente enquanto eu mais uma vez examino meus guardas. “Você pode não ter notado, mas eu tenho um adorável conjunto de sombras que foram presenteadas para mim pela Ordem,” aponto, acenando para onde as ditas sombras estão sentadas ao meu redor. “Oh, estou ciente,” declara Saxon com um olhar astuto no rosto. “Mas um lycan vale uma equipe inteira de bruxas, você pode confiar em mim.” Com uma piscadela que tenho certeza de que está carregada de implicações, Saxon se levanta e me oferece sua mão. Sorrio apesar de mim mesma, permitindo que ele me ajude a levantar e ignorando os resmungos hostis dos meus guardas, que claramente não gostaram da declaração que ele acabou de fazer. Ele enfia meu braço no dele enquanto minhas sombras nos cercam, e então estamos a caminho. O sol se perde atrás dos arranha-céus ao meu redor, mas o crepúsculo dá um beijo de boa noite no céu enquanto uma brisa gelada sopra entre os prédios. Um arrepio sobe pelas minhas costas e sigo meu ritmo. Saxon não diz nada enquanto avançamos, ele parece tão determinado em assistir tudo ao nosso redor quanto meus guardas. “Obrigada por vir e tentar me dar uma pausa, realmente foi incrivelmente atencioso da sua parte,” digo a ele, meu braço ainda dobrado na dobra do dele. “Foi um prazer,” garante. “Espero que tenha ajudado a esquecer toda a pressão sobre seus ombros, por um tempo, pelo menos.” Sorrio e tento lutar contra o rubor rastejando em minhas bochechas com suas palavras. Ele realmente é incrivelmente decente, e me repreendo durante as verificações de segurança para entrar no prédio e subir no elevador até o meu andar. Como não estou me jogando encima de tudo isso? Estúpida, estúpida, estúpida. O elevador apita, abrindo suas portas para o andar em que estou ficando, e Saxon e eu ficamos para trás enquanto meus guardas verificam tudo. Os nervos passam pelo meu estômago enquanto nós serpenteamos até parar na porta da minha suíte, meus guardas se tornando escassos por um momento. Estou lutando com meus pensamentos quando Saxon me surpreende e me puxa para um abraço. “Se as coisas mudarem, me ligue,” ele oferece casualmente, dando um passo para trás e me dando um sorriso deslumbrante. “Até que seja decretado o contrário, amigos?” Ele pergunta. Eu rio. “Amigos,” concordo, meu próprio sorriso largo fixo no meu rosto enquanto ele acena e se move para sair. “Saxon?” Grito, e ele faz uma pausa. “Posso beijar você?” Questiono, repetindo o que perguntei a ele na primeira vez que nos encontramos. Ele me examina com curiosidade por um momento, e então, com duas passadas, ele está na minha frente. Eu rio, sem conseguir evitar, enquanto digo a mim mesma que o mundo está errado, a curiosidade não matou o gato, matou o lycan. Antes que eu possa me convencer do contrário ou deixar coisas como emoções atrapalharem, pressiono meus lábios nos de Saxon. Ao contrário da primeira vez que isso aconteceu, ele não hesitou nem um pouco, e ele fez anotações sobre o que eu lhe mostrei de que gostei. Ele envolve uma mão em volta do meu pescoço e a outra pressiona na parte inferior das minhas costas. Ele me puxa para ele, sua boca tomando e dando em troca. Eu o encontro mordida a mordida e beijo após beijo, tentando me perder na sensação dele. Ele tem gosto de café e desejo. É como um fogo quente em uma noite fria, reconfortante e seguro. Mas o beijo é apenas um beijo, não há construção, não há fogo. Por mais que eu queira mergulhar em Saxon para escapar de Rogan, o esquecimento que procuro tão desesperadamente não está lá. Talvez pudesse estar, algum dia, mas algum dia será muito longe e cheio de muitas incógnitas para eu dizer quando. Nossos lábios diminuem, o crescendo falho de nossa troca é tudo que posso saborear agora, enquanto o aperto de Saxon em mim se afrouxa e ele me abandona. Posso ver em seus olhos que ele sente o que eu sinto, mas não há frustração em seu olhar dourado, apenas compreensão. Suas narinas dilatam e rio com a resposta estranha que o torna tão diferente do que estou acostumada. Seu sorriso fica mais largo e ele me dá um beijo rápido, sussurrando: “E agora fechamos o círculo,” contra meus lábios antes de recuar. Fico confusa no início com sua declaração, mas conforme Saxon coloca mais distância entre nós, meu olhar pousa em um par de olhos verdes enfurecidos. Rogan está no corredor, rígido e irradiando fúria. “Ligue-me quando quiser,” Saxon me lembra, movendo-se ao redor de Rogan com um aceno de adeus e pressionando o botão de chamada para o elevador. Fico olhando para Rogan, que parece enfurecido e como se estivesse trabalhando ativamente para controlar sua respiração. Parte de mim se sente mal, mas outra parte sabe que isso precisava acontecer. Que precisamos cortar o máximo possível de nossas emoções, até que possamos romper o vínculo e seguir caminhos separados. Ouço o elevador apitar, mas não vejo Saxon entrar. As portas se fecham, deixando-me e Rogan tensos em pé e olhando um para o outro. Seus olhos brilham com calor, com perguntas e tristemente com resignação. Não sei o que quero que ele diga ou faça, mas quando ele passa por mim sem dizer uma palavra, entrando nos aposentos e fechando a porta atrás de si, tudo em mim grita que não sei o que queria, mas não era isso. Fecho meus olhos contra o ataque de dor. Tento fazer com que o meu lado racional supere o emocional, mas estou lutando uma batalha perdida. Quero odiá-lo. Eu deveria odiá-lo, e não sei o que diz sobre mim que não consigo. 10
Traço as veias de textura no teto com meus olhos. Eu
conjuro formas e imagens das linhas e picos aleatórios, as sombras no meu quarto adicionando profundidade e escuridão aos meus pensamentos confusos. Pego o telefone novamente, despertando o dispositivo para verificar a hora. São 1:22 da manhã. Quatro minutos desde a última vez que verifiquei. Gemo de frustração e viro de lado, afofando o travesseiro debaixo da minha cabeça de forma punitiva. Fecho meus olhos e tento convencer meu corpo a sucumbir ao sono, mas não consigo desligar meu cérebro. Não posso deixar de ver os olhos zangados de Rogan ou, pior, lembrando-me da sensação de beijá-lo em vez de Saxon. Continuo repetindo o que aconteceu esta noite, separando as coisas e tentando reorganizá-las em uma estrutura que faça sentido. Uma onde tudo não é tão confuso e não me envolvi muito com alguém que sei que não vai me escolher no final. Mas, por mais que eu tente mudar a imagem para a qual estou olhando, assim que paro de mexer com ela, tudo volta ao lugar onde estava e fico pensando demais e tentando não encarar a verdade de frente. Caio de costas novamente com um suspiro e aceito que vai ser uma longa noite. Fico tentada a ligar para o Tad, mas ele fica bravo quando está cansado, e já sei o que ele vai dizer. Isso é parte do problema. Sei o que preciso fazer, mas estou protelando. Sento-me e decido que é hora de uma conversa animadora. É hora de parar de me enganar e apenas virar mulher. Eu não deveria estar me escondendo, agindo como uma fraca, tímida, que não consegue enfrentar a verdade. Sou uma Bruxa do Ossos, porra. Fui feita para essa merda. Com os punhos cerrados, me empolgo e fico pronta. Rogan e eu precisamos resolver algumas coisas, e agora é um momento tão bom quanto qualquer outro, bem, para mim de qualquer maneira. Ele provavelmente está dormindo, mas não por muito mais tempo. É hora do acerto de contas. Empurro para fora da cama e puxo uma respiração enorme para fortificar enquanto caminho para a porta do meu quarto. Eu a abro, com a intenção de manter este impulso fodão todo o caminho para o quarto de Rogan, mas o que não espero é que alguém esteja parado ali. Solto um grito de surpresa e aponto o punho para quem quer que seja. Uma grande mão pega a minha e uma voz profunda e familiar me diz: “Não desta vez,” enquanto ele envolve a palma da mão em volta do meu punho e me empurra para o quarto até que estou pressionada firmemente contra a parede. “Lua de merda, você me assustou pra caralho,” sussurro meio gritando, uma mão segura no aperto de Rogan enquanto pressiono a outra no meu peito e tento falar para minha adrenalina descer o nível. “Lua de merda?” Ele repete com altivez, uma sobrancelha levantada em questão. “Sim, lua de merda,” defendo enquanto meu reflexo de luta ou fuga tenta afastá-lo. “O que você está fazendo?” Assobio, irritada por ele ter me assustado de novo. “Eu preciso falar com você. Estava prestes a bater quando a porta se abriu. Onde você estava indo?” Minha garotinha interior grita timidamente e me abandona. De repente, não quero dizer a ele que ia falar com ele. Maturidade no seu melhor. “Hum, eu precisava ir fazer xixi,” deixo escapar, e então a sobrancelha judiciosa de Rogan fica ainda mais alta quando ele olha para a porta que leva a um banheiro privativo. Ele sabe disso porque cada quarto neste lugar tem um banheiro anexo. Internamente, me dou um tapa na cara. Eu me pergunto como é passar pela vida e não ser uma idiota furiosa. Acho que nunca vou saber. “O que você quer, Rogan?” Pergunto em vez disso, abraçando minha covardia e lançando o roteiro sobre ele. “Eu não tive a chance de ver se você estava bem depois de tudo com minha mãe.” Estou tentada a perguntar a ele que diabos foi isso, mas tenho quase certeza de que já sei. Ela estava procurando uma vantagem. Suspeito que ela pense que a encontrou, o que é ridículo e perigoso para mim. Ela ficará muito desapontada se tentar me usar para forçar a mão de Rogan. Estou dolorosamente ciente de quanto eu não venceria esse confronto. “Você sabia que ela estava vindo?” Pressiono, examinando-o enquanto ele olha ao redor do meu quarto sem jeito. “Não. Um de seus guardas me avisou quando percebi que eles não estavam onde deveriam estar. Eu perguntei por que, e foi quando eles me disseram que a guarda pessoal da Alta Sacerdotisa estava com você. Cheguei lá cerca de um minuto antes de ela quebrar o vidro.” Corro minha mão sobre a textura da parede em minhas costas, ainda presa contra ela pelos braços de Rogan. Eu deveria me afastar dele. Eu não me afasto. “Você ia ver Saxon?” Ele me pergunta do nada. “Oo-quê?” Gaguejo, pega de surpresa. “Não, ele voltou para o Tennessee.” Os olhos de Rogan estudam os meus como se estivesse procurando algo. Não tenho certeza do que é, mas só fico olhando para ele até que ele pare. “Ele está dois andares abaixo em uma suíte de hóspedes,” ele me informa, e estou surpresa com a revelação. Por que ele ainda está aqui? “Você não estava fugindo para ir vê-lo?” Rogan acusa, e recuso sua insinuação. Estreito meus olhos para ele. “Você estava esperando lá fora para ver se eu iria me encontrar com Saxon?” Pergunto incrédula. Um olhar envergonhado ultrapassa o rosto de Rogan, e tenho que impedir minha boca de cair aberta. “Puta merda, você estava,” acuso, chocada. Ele não diz nada. “Novidades, Rogan, se eu quisesse foder Saxon, eu não teria que fugir no meio da noite para fazê-lo. Qual era o seu plano, afinal, mandar eu voltar para o meu quarto?” Pergunto, balançando minha cabeça com o quão ridículo ele é. “Eu não tinha um plano,” ele admite, inclinando-se para mim apenas uma fração mais. Paro de respirar por um instante, procurando em seu rosto por algo que vai me dizer o que tudo isso significa. Meu corpo responde à sua proximidade, como sempre fez, e anseio ser derrubada no limite precário em que estou me equilibrando. Eu vou com minha mente, excluo Rogan, rompendo o vínculo, e lanço-o um olhar de adagas enquanto o deixo em meu rastro? Ou devo confiar no meu instinto, dar ao meu corpo o que ele está implorando, sabendo que vai queimar quente e rápido e provavelmente me deixar com uma cicatriz no final? Sei que não há felizes para sempre aqui, mas ainda não consigo me convencer a ir embora. “O que você está fazendo, Rogan?” Pergunto, e não tenho certeza se estou simplesmente questionando o que ele está fazendo agora, com sua vida, ou se minha pergunta é realmente sobre nós. É claro que ele está se sentindo de alguma forma sobre as coisas, mas não tenho ideia do que seja ou se realmente quero saber. Quem estou enganando, eu quero saber. Ele me inspira, seu olhar traçando minhas feições e, em seguida, levantando de volta para encontrar meu olhar confuso. “Eu não sei,” ele admite baixinho, como se ele falasse muito alto, isso pudesse assustar o que quer que esteja acontecendo. “Por que você está aqui?” Pressiono, tão silenciosamente, sem saber o que quero que ele diga. Eu deveria dizer a ele para ir embora. Dizer a ele que ele não pode entrar aqui assim. Preciso deixar claro que não importa o que ele queira, ele estragou as coisas, e agora tem que lidar com as consequências dessas ações. Mas o problema com tudo isso é que não estou pensando nele agora. Quer dizer, estou definitivamente pensando nele e no que gostaria de fazer e que seja feito comigo. Mas não é sobre ele. Não é sobre ceder ao desejo que vejo no fundo de seus olhos agora. É sobre ceder ao meu desejo. É o que me manteve acordada esta noite, me fez virar e me virar pensando em meus lábios nos dele. Minhas mãos explorando aquele corpo, tirando o que preciso dele como ele tirou de mim. O problema, porém, é que sei que não vai parar por aí, pelo menos não para mim. Por mais que eu ame a ideia de uma noite sólida de sexo por vingança com Rogan, não posso fazer isso quando ele é de quem quero me vingar. Ele está enterrado em minha alma, apesar de meus esforços para mantê-lo fora, e não sei como combater isso. Posso fingir que sou capaz de uma situação sem amarras que permite que nós dois desabafemos, mas a verdade é que não sou capaz de fazer isso com ele. Eu sei que não posso estar segura e vulnerável no mesmo espaço quando se trata dele, e preciso que ambas as coisas na minha vida sejam completas. Então, onde isso me deixa? Olho para cima no olhar sufocante de Rogan, meus olhos lentamente descendo seu rosto e parando em seus lábios carnudos. Significa que, de agora em diante, qualquer mágoa ou deslealdade que ele enviar em minha direção, é por minha conta. Não terei ninguém para culpar além de mim mesma. Sei do que ele é capaz, o que ele fez. Ele mesmo me disse que, se a situação acontecer, não serei eu quem ele vai salvar, que não sou eu quem ele escolherá. Mas aqui estou de qualquer maneira, implorando silenciosamente para que ele feche a distância entre nossas bocas. Isso tem risco e perigo escritos em letras de néon brilhantes, mas não me importo. Não há mais volta para mim agora. “Rogan,” começo, seu nome meio apelo, meio castigo, enquanto meus olhos levantam de volta para os seus. Mas não posso dizer mais nada, dizer a ele que só desta vez, vou escolher a vulnerabilidade em vez de segurança, que vou escolhê-lo. Porque de repente sua boca está na minha e estou perdida nele. Ele segura meu rosto, inclinando minha cabeça para trás e pressionando contra mim. Nosso beijo é febril e faminto, desesperado e sem remorso. Eu gemo em sua boca quando sua língua provoca a minha, e ele rola seus quadris contra mim, acendendo cada nervo que tenho por dentro. É tão certo que chega a ser fodido. Alguém destinado a machucar você não deveria ser tão gostoso, mas ele é, e tudo que quero é mais. “Lennox,” ele sussurra contra meus lábios enquanto se afasta e me leva para dentro. “Não,” sussurro de volta, deixando cair minhas mãos na bainha de sua camisa e levantando-a até seu peito. “A menos que você esteja me dizendo como gosta, perguntando como eu gosto, ou gemendo o quão incrível eu sou, não quero ouvir isso,” digo a ele, e ele levanta a camisa por cima da cabeça. “Lennox...” Ele tenta novamente. Eu puxo minha própria regata solta. “Não,” declaro com mais firmeza, meus seios nus fazendo mais para calá-lo do que minhas objeções. “Já me decidi, quero pelo menos cinco orgasmos, e ouvi você em alto e bom som, Elon vence não importa o que aconteça, eu entendi,” digo a ele, agarrando sua mão e levando-a ao meu seio. Escondo minha preocupação atrás de uma risada nervosa e ofegante, implorando em minha mente para ele calar a boca e me dar isso, me deixar pegar o que quero dele. Só por esta noite. Não sei por que parece tão urgente, como uma necessidade iminente de chutar a barreira entre nós e ver o que poderíamos ser se nós dois apenas baixássemos a guarda. Talvez seja culpa do que aconteceu no corredor antes, ou talvez seja apenas eu pegando de volta um pouco do poder de escolha que ele roubou de mim, mas não quero questionar isso. Passei muito tempo na minha cabeça desde que acordei aqui, e tudo o que quero fazer é não pensar, nem analisar demais. Só quero sentir. Seus olhos vão e voltam entre os meus. “Cinco orgasmos?” Ele provoca, beliscando meu mamilo entre o polegar e o indicador. Sensações deliciosas partem do meu seio direto para o meu clitóris, e gemo baixinho. “Sim,” respondo sem fôlego. “Você tem um trabalho sólido a fazer para compensar toda a merda que está acontecendo.” Ele ri e se transforma em um chiado quando alcanço e coloco a mão em seu comprimento através de sua calça de pijama. Seus lábios estão nos meus em menos tempo do que leva para dizer, falando em descer, e é o tipo de beijo que te arrasa e não deixa calcinhas secas por aí. Ele agarra minha bunda com as duas mãos e me levanta para que eu possa envolver minhas pernas em volta de sua cintura. Ele chupa meu lábio inferior enquanto meu centro se alinha perfeitamente com seu pau, e ele rola seus quadris, pressionando sua dureza contra mim do jeito certo, e isso me faz ofegar. Meus mamilos duros provocam os planos de seu peito e sua pele está quente contra a minha. Me esfrego contra ele, aprofundando o beijo e enroscando meus dedos em seus cabelos. Ele geme em minha boca enquanto trabalho meus quadris contra os dele, e bebo seu prazer como o elixir inebriante que é. O calor aumenta entre nós à medida que nossas bocas, línguas e corpos se unem, mais indomáveis e frenéticos a cada segundo que passa. “Me belisque,” exijo, me afastando e beijando o local logo abaixo de sua orelha. “O que?” Ele pergunta com a voz rouca, inclinando a cabeça para que eu possa ter melhor acesso ao lado de sua garganta. “Belisque-me,” repito. “Eu preciso saber se estou acordada.” Rogan não discute, e ele também não me belisca. Em vez disso, ele me empurra de volta contra a parede e chupa com força meu pescoço. O prazer e a dor que disparam por mim com o contato me fazem contorcer contra ele, e juro que se ele não estiver embaixo de mim e dentro de mim no minuto seguinte, vou entrar em combustão espontânea. Tento me empurrar contra a parede, o que só serve para nos fazer esbarrar na cômoda. Ela balança e algo cai com um baque alto. Rogan e eu ficamos parados, esperando para ver se alguém virá verificar o que foi o barulho. Prendo a respiração, ouvindo atentamente e, em seguida, deixando o ar sair lentamente quando parece que a barra está limpa. Me desembrulho de Rogan e deslizo sensualmente para baixo em seu corpo. “Tire as calças e quero você na cama, agora,” ordeno, e ele ri baixinho, o estrondo profundo de sua risada fazendo todos os tipos de coisas impertinentes e boas- vindas ao meu corpo. “Mandona, mandona,” ele brinca, inclinando minha cabeça para trás e dando um beijo lânguido e completo em meus lábios antes de se afastar de mim com um sorriso lascivo. Ele começa a desamarrar o cordão de sua calça, e olho para baixo para ver o que caiu da cômoda realmente rápido para que eu não tropece nele e quebre algo no meu caminho para quebrar o pau de Rogan. Um pequeno crânio de pássaro perfeitamente intacto está deitado ao lado da minha blusa abandonada no chão. Estou surpresa por nunca ter notado os ossos e o bico perfeitamente brancos antes, e me inclino e arranco minha camisa do chão. Sorrio para o que acho que é uma caveira de coruja, mas terei que descobrir mais tarde; tenho um bruxo lindo em minha cama que precisa ser montado. Olho para cima, com a intenção de colocar minha camisa e a caveira de coruja na cômoda, quando de repente tudo dá errado. Os olhos de Rogan estão cheios de calor enquanto ele enfia os polegares na cintura da calça e a empurra para baixo. Mas não consigo me concentrar nele porque parece que alguém furou meu estômago com um gancho e agora está puxando... com força. A sala ao meu redor se transforma, como se eu estivesse em algum corredor de espelhos fodido tornando tudo mais amplo e mais longo do que deveria ser. O medo cresce em meu peito, e os olhos de Rogan ficam confusos quando ele me olha. Abro a boca para avisá-lo, mas do nada, sou sugada de volta violentamente como se a parede fosse um ralo e estou sendo arrastada por ela por alguma força invisível. O rosto de Rogan se contorce de pavor, e o ouço berrar meu nome antes de, de repente ele... sumir. Assobio contra a dor, a chicotada estalando pelo meu corpo enquanto sou puxada para o nada frio e sombrio. Meu peito aperta e meu estômago embrulha como se eu estivesse pulando de bungee jump no inferno e a corda que deveria me salvar simplesmente não funcionasse. Não consigo gritar, respirar ou nem mesmo pensar, e então, de repente, bato no chão com um som de dor. Magia maliciosamente me deposita de volta no mundo real, só que este não é meu quarto na Ordem, e Rogan não está à vista. Fico imóvel por um momento para que eu possa respirar através do terror e da dor que irradia de cada centímetro de mim. O que diabos aconteceu? Vejo o crânio da coruja ainda agarrado à minha mão e jogo-o para longe de mim com um grasnido horrorizado que provavelmente seria um grito se eu não sentisse que meus pulmões estavam quebrados. Rapidamente coloco meu top, grata por não ter perdido no que quer que tenha acontecido, e envolvo meus braços em volta do meu torso de forma protetora enquanto me sento e olho ao redor. Bancos estão empilhados e empurrados contra uma parede de pedra do outro lado da sala de onde estou encolhida. O chão em que estou sentada é da mesma pedra cinza das paredes, só que o chão tem símbolos pretos que parecem ter sido esculpidos e depois queimados na superfície da rocha. O teto acima de mim é abobadado com enormes vigas com teias de aranha que o sustentam. E há vitrais sujos espalhados uniformemente na parede atrás de mim e na minha frente, bem como uma enorme janela redonda atrás do estrado na frente desta igreja. Há pilhas do que parecem cinzas espalhadas pela frente da igreja, como se alguém tivesse deixado o fogo queimar até virar nada por todo o lugar, mas não há fuligem preta, então claramente não é o que são. Enormes portas duplas estão fechadas à minha esquerda, e o ar que estou respirando parece pesado e tem gosto de mofo. Há um cheiro subjacente ao meu redor, mas decido fazer uma pausa, pois isso é mais importante do que ir para o modo cão de caça e tentar descobrir o que está contaminando o ar. A preocupação gira em torno da minha mente, misturada com perguntas sobre como o crânio da coruja entrou no meu quarto e por que a entrada que fui vítima, sem saber, me deixou cair em uma igreja? Arquivo tudo isso enquanto me levanto e corro para as portas. O medo belisca meus calcanhares enquanto o chão de pedra cava nas almofadas macias dos meus pés. Dou menos de quatro passadas e bato contra uma barreira invisível. Salto para fora dele, testando os limites da minha bunda quando caio com força no chão. Deslizo para trás, raspando minhas pernas enquanto meu corpo absorve a força de bater em uma parede que ainda não consigo ver. Choramingo debilmente enquanto mais uma vez me coloco de pé e procuro uma saída. Avanço lentamente em direção ao que quer que acabei de bater, e conforme encurto a distância centímetro a centímetro, vejo uma linha de pedras gravadas e enegrecidas. Sigo os símbolos cobertos de fuligem nas pedras e descubro que eles me prendem em três lados, batendo contra a parede nas minhas costas. O vitral colocado na parede atrás de mim é muito alto para alcançar, e minha busca por qualquer coisa próxima onde possa ficar em pé não produz nada. Sento-me e escuto sinais de que alguém saiba que estou aqui. Não há passos se aproximando ou o fraco abafamento de vozes. Na verdade, não ouço nenhum tráfego ou sons de animais típicos, como latidos ocasionais de cachorro ou balidos de animais de fazenda, que indicariam uma área mais rural. Não há grilos cantando ou pássaros cantando no vento, há apenas... nada, como se eu tivesse caído em um vazio silencioso. Discuto pedir ajuda, mas rapidamente abandono o pensamento. Não adianta chamar a atenção de ninguém. Alguém claramente armou uma armadilha, e posso adiar conhecê-lo para sempre. Bem, talvez não para sempre, morrer de fome parece uma maneira horrível de morrer. Então, novamente, mesmo se eu encontrar quem me forçou aqui, não há garantia de que eles vão me alimentar. Rolo meus olhos para mim mesma e afasto todos os pensamentos de comida. Posso me preocupar com isso mais tarde. Preciso me concentrar em tentar sair daqui antes que alguém apareça e piore minha situação. Imediatamente invoco minha magia em busca de ossos. Parece que estou presa em uma igreja velha e há muito esquecida, o que significa que provavelmente há um cemitério, cova ou cripta com que posso trabalhar. Empurro a magia para fora de mim em busca de salvação, mas quando meu poder entra em contato com os símbolos no chão, uma agonia abrasadora me atinge. Grito e caio de joelhos, implorando para que o ataque de punição pare. Minha magia se retrai imediatamente, trabalhando para acalmar meu corpo abusado, mas tudo que posso fazer é tentar subir dentro de mim enquanto o tormento lentamente diminui. Ofego com a dor, deitada em posição fetal no chão de pedra fria muito depois que a dor é apenas um fantasma de um eco. Rastreio a argamassa nas costuras entre as pedras e me afogo de medo de saber que estou presa. O rosto de Rogan surge em minha mente, então o de Tad, Hillen, Hoot, e a fila vai até que eu pensei em cada pessoa com quem já me importei e espero ver novamente. Pensar neles me fortalece e fico de pé novamente. Vamos, Lennox, encontre a saída, encontre a brecha. Olho ao redor com cautela, meu olhar saltando sobre as pilhas de folhas mortas que foram sopradas ao redor e agora se acomodaram nos cantos e fendas deste lugar. A luz do grande círculo de vitrais na frente da igreja incide sobre um altar de pedra. Há velas derretidas agrupadas em volta, algumas delas manchadas com uma substância escura que faz o alarme subir pela minha espinha. Vejo outros padrões marcados com queimaduras no chão e suspeito que sejam outras jaulas mágicas, mas não há mais ninguém aqui. Meu coração aperta dolorosamente com essa percepção. Olho para a luz riscando através das janelas imundas, e me ocorre que deveria estar escuro. Se eu ainda estiver em algum lugar da América - não importa onde seja - deve estar escuro. Inquietação floresce em meu peito enquanto rastreio o feixe de luz que cai da janela atrás de mim para beijar o chão de pedra na minha frente. É difícil dizer, mas parece que é de manhã onde quer que eu esteja. Garanto a mim mesma que eles ainda podem me encontrar, mesmo que eu esteja a oceanos de distância. É da Ordem que estamos falando. Mas então flashes de interrogatórios sobre minha avó vêm à tona em meus pensamentos, sacudindo a garantia em que estou tentando me segurar. Quem estou enganando, eles não encontraram os outros ainda, e presumo que fui levada por Nikki ou por quem quer que esteja trabalhando com ela. Olho ao meu redor novamente, examinando meu ambiente antigo e sombrio. Por que alguém se daria ao trabalho de me puxar aqui só para me deixar aqui apodrecendo como as pilhas de folhas espalhadas pelo chão? A menos que de alguma forma tenhamos entendido mal o objetivo final. A Ordem pensou que era para me atingir, mas e se esse não fosse o caso, e se alguém estivesse simplesmente tentando me tirar do caminho? O ângulo da história deles da minha avó nunca caiu bem para mim. Tenho pensado que isso tem algo a ver com o sonho estranho dela, mas e se o sonho dela fosse apenas isso? Um sonho. Eu mesma tive alguns estranhos ultimamente. Culpo o estresse, mas talvez tenha dado muita influência a esse aspecto do caso. Isso poderia ser facilmente sobre Rogan e seus segredos, e estamos latindo na árvore errada. A preocupação coagula dentro de mim. E se Rogan não estiver bem? Quero dizer, não é rebuscado pensar que o que quer que tenha me tirado, também pode ter deixado alguém entrar na Ordem. Luto contra a necessidade de puxar nossa corda para verificar a resposta do outro lado. E se ele estiver lutando por sua vida enquanto estou aqui sentada esperando por algum grande mal que pode nunca acontecer? Não, vou esperar. Não quero fazer nada que possa distraí-lo ou foder com o que quer que esteja acontecendo com ele. Cruzo minhas pernas na minha frente e começo a trabalhar no novo quebra-cabeça que estou enfrentando. Como faço para escapar de uma igreja abandonada quando não tenho ferramentas e nenhum acesso à magia? Lentamente, o feixe de luz que estava à minha frente se afasta cada vez mais. Não tenho certeza de quanto tempo se passou, mas estou cutucando minhas cutículas, e estou cantando e já em cinquenta garrafas de cerveja na parede - pela terceira vez - quando um som estrondoso ressoa ao meu redor. Me abaixo, colocando minhas mãos sobre a cabeça enquanto poeira e seixos caem da estrutura superior da igreja. Uma rachadura rasga o ar, e minha cabeça vira na direção da entrada da igreja quando as portas se abrem. A luz inunda o prédio e estou temporariamente cega pelo brilho. Tento bloquear a luz com a mão e aperto os olhos para evitar o ataque luminoso. Três silhuetas sombreadas silenciosamente entram pelas portas agora abertas. Aterrorizada, vejo quando eles entram. Meus olhos lentamente se ajustam à luz cortando o centro da igreja sombria e suja, e meu olhar assustado pousa em um par de olhos verdes que são assustadoramente familiares. Demoro um segundo para reconhecê-lo, tendo visto apenas seu rosto em fotos, mas quando o faço, meu coração bate ainda mais forte no meu peito. Elon. Seu olhar é plácido e frio enquanto ele me encara. Duas outras figuras caminham atrás dele, mas não posso me obrigar a desviar o olhar do irmão de Rogan ainda. Estou encantada demais com o bruxo que, sem saber, alterou a trajetória da minha vida de maneiras inimagináveis. Ele está aqui. Ele está vivo. Mas, a julgar pela aparência das coisas, eu posso não ser capaz de dizer o mesmo por muito mais tempo. 11
Elon é empurrado por trás e tropeça para a frente. Suas
mãos se estendem para segurar a queda, e percebo que uma corda mágica amarra seu pulso. Minha testa franze em confusão e meu pânico diminui ligeiramente. Pensei por uma fração de segundo que ele estava sabendo o que quer que esteja acontecendo, mas quando observo o estado dele, percebo o quão errada eu estava ao pular para essa conclusão. Ele perdeu um pouco de peso e parece sujo e exausto. Elon consegue manter o equilíbrio e ficar de pé depois de ser empurrado novamente. Mas a mulher que anda um passo atrás dele não tem tanta sorte. Ela atinge o chão com força, um gemido doloroso escapando de seus lábios, e olhos azuis escuros olham para mim suplicantes enquanto ela luta para se levantar. Eu olho para a terceira pessoa, aquela que os está incomodando, e tenho que engolir meu choque enquanto a vejo. Ela é um punhado de anos mais velha do que eu, e está claro que ela já foi bonita. Também está claro que as coisas pioraram em algum lugar ao longo do caminho. Seus olhos azul-petróleo claros têm uma cor única, mas eles carecem de luz e felicidade em suas profundezas, em vez disso, eles brilham planos e cruéis quando ela olha para a mulher mais velha no chão como se ela fosse um verme. Seu cabelo é loiro morango rico, mas não é brilhante e saudável, é palha seca e quebradiça. Ela tem pele de porcelana pálida, mas nada disso é o que está fazendo meu estômago revirar e meu pulso disparar incontrolavelmente de medo. O que está causando isso é o fato de que ela está marcada com mais marcas de demônio do que eu sabia que uma pessoa poderia adquirir. As marcas parecem cruas e dolorosas. Um círculo com algum tipo de símbolo que não consigo identificar está praticamente marcado em cima dela. Ela tem uma marca em cada bochecha, uma no centro da testa e um rastro de marcas na frente da garganta. Suas roupas cobrem o resto de sua pele, e só posso me perguntar quantas trocas e votos ela carrega em toda a sua carne. Eu me impeço de olhar para a marca de Rogan em meu pulso, sabendo que não há nada semelhante entre elas. Eu uso este voto como um lembrete de que alguém me deve. Mas as marcas de demônio funcionam de forma diferente. Não sei muito sobre a raça deles, mas sei que quando você usa uma marca de demônio, é porque você deve algo a eles. O horror me preenche enquanto eu observo a mulher. Ela está com tantas cicatrizes, que nem consigo imaginar o que ela trocou para ganhar tantas marcas, ou sequer começo a compreender por que um demônio teria barganhado tanto com ela. “Fweto,” a mulher marcada rosna, e com um grito, a bruxa no chão vai cambaleando pela pedra e rola para a gaiola de símbolos que foram esculpidos no chão. Ela grita ao cruzar o limiar das gravuras, e só posso imaginar que ela está sentindo aquela terrível queimação que senti quando tentei usar minha magia dentro desta barreira. As marcas da mulher marcada se iluminam como se a lava estivesse fluindo dentro delas. Um assobio de dor escapa de sua boca, e ela fecha os olhos até que as marcas morram, o fogo queimando nelas diminuindo. Quando ela abre as pálpebras, seus olhos azul-petróleo misteriosos pousam em mim. Seu olhar se arregala com surpresa, como se ela não tivesse me notado até agora, e me faz pensar em como seus sentidos estão entorpecidos pela dor que ela deve estar constantemente sentindo com todas aquelas feridas forjadas por demônios cobrindo-a. “Finalmente,” ela suspira, aliviada, esfregando um dedo sobre o símbolo queimado no meio de sua testa. “Eu pensei que teria que rasgar aquele prédio e puxar você eu mesma. Mas estou feliz que você finalmente voltou a si,” ela me diz como se eu de alguma forma eu estivesse aqui voluntariamente. Não tenho certeza do que fazer com essa afirmação, então fico quieta. “Nahdugh”, ela estala, e Elon entra em sua própria gaiola de símbolos, só que eles não parecem queimá-lo como fizeram com a outra mulher. Quando ele os cruza, as amarras de aparência incandescente em seus pulsos desaparecem, e ele esfrega os braços antes de se mover para onde a parede encontra o chão. Ele se senta, com as costas pressionadas contra os blocos de pedra atrás dele e observa a mulher com cicatrizes enquanto ela morde de volta o que parece ser dor. Dói nela usar magia? Estou incomodada com a forma como Elon está resignado. Não há luta nele. Ele parece mais um cachorro espancado que tenta passar despercebido. Talvez seja uma atuação, mas me preocupo que não seja. Me impeço de instintivamente tentar usar a magia para ter uma ideia dessa mulher, de bruxa para bruxa. Quero avaliar exatamente o que estou enfrentando, mas não vou fazer nada que faça os símbolos ao meu redor me darem um tapa de dor novamente. Ainda não, de qualquer maneira. É óbvio que usar suas habilidades é brutal para ela, mas não tenho certeza do porquê exatamente. Alguém fez isso com ela? “Minhas desculpas por não estar aqui para cumprimentá- la,” ela oferece, aproximando-se da linha de símbolos que me separa da possível liberdade. “Mas alguém teve que fazer xixi, e então ela tentou fugir,” ela meio grita, meio rosna, seu olhar implacável passando para a mulher que ela jogou em sua jaula. “Nem mesmo piscou ao deixar o Príncipe Kendrick para trás, não é?” ela aponta, olhando Elon com um sorriso zombeteiro. “Mas nós a pegamos, não é? Fiquei boa na caça esses dias; A vadia estúpida deveria saber disso agora,” ela resmunga, e tenho a impressão de que ela está falando mais para si mesma do que para qualquer outra pessoa. “Pior do que cachorrinhos, eu te digo,” ela brinca, uma risadinha perversa pontuando suas palavras zombeteiras. “Agora vocês vão ganhar baldes,” declara ela, como se estivesse falando para um público maior do que apenas nós três. “E se vocês não gostarem, culpem aquela ali,” ela rosna, gesticulando para a bruxa que está encolhida no chão, tremendo. Os olhos assustadores da mulher estranha parecem não se fixar em nada por um longo momento antes que ela pisque e pareça voltar para o aqui e agora, um sorriso sádico se espalhou por seu rosto marcado pelo demônio. Ah, sim, essa aí está a poucas batatas fritas de um McLanche Feliz.11 “Mas onde estão minhas maneiras?” ela repreende de brincadeira, como se fôssemos conhecidos e sutilezas fossem necessárias. “Eu sou Jamie, Jamie Smelser,” ela anuncia, seu sorriso agora radiante e fazendo a pele ao redor de suas marcas de demônio rachar. “Bem-vinda, Lennox - ou devo chamá-lo de Leni como você prefere?” Ela pergunta, colocando a mão contra a boca como se ela estivesse me contando um segredo. A risada que escapa dela é muito além de confusa e saltando em um território comprovadamente psicótico. “Você é parente de Nikki Smelser? Ela está aqui?” Pergunto, interrompendo a confusão mental que ela está fazendo em seus pensamentos. Eu provavelmente não deveria interromper o pensamento da maluca, mas não parece que estou trabalhando com muito tempo aqui, e adoraria algumas respostas antes que essa maluca faça o que ela está planejando fazer. “Nikki é minha prima e está lá fora com os outros,” Jamie me informa casualmente enquanto olha ao redor do interior da igreja como se estivesse fazendo uma lista de tarefas pendentes. Meu estômago cai com a notícia de que existem outros. Gostava das probabilidades de uma situação do tipo mano-a- mano; outros complicam as coisas. “Por que estou aqui?” Pergunto, grata por meu tom ser uniforme e forte e não refletir o quão assustada realmente estou. “Bem, Leni... Eu gostaria de te dar as boas-vindas à morte de sua magia como você a conhece,” ela declara com entusiasmo, os braços se abrindo para os lados e girando como se ela fosse a apresentadora de um novo show emocionante para uma multidão de espectadores ansiosos. Eu a vejo girar, cabeça para trás, olhos fechados, com um largo sorriso feliz no rosto como se ela estivesse dançando na chuva e abraçando o aguaceiro. A trepidação borbulha dentro de mim enquanto a observo. Não há dúvidas, não estou lidando com alguém que está inteiramente sã. Este é um nível de loucura que não tenho ideia de como navegar. Eu gostaria - não pela primeira vez - de ter meu telefone. Um, para pedir ajuda. E dois, porque já estaria mandando uma foto dessa psicopata para a Ordem, acompanhada de um recado que dizia: ainda acham que minha avó morta está por trás disso, idiotas? Eu sabia que eles estavam errados, senti isso em meus ossos o tempo todo. E se eu sair daqui, a vindicação será doce. Vou fazer com que eles me enviem um cartão de desculpas todos os anos no aniversário da morte de Vovó Ruby, dizendo: Desculpe, somos burros e não ouvimos você. Osteomantes rainhas e a Ordem nadinha. “Ahh, eu sinto a lua. Você sente a lua, Leni?” Jamie me pergunta, puxando-me de minhas celebrações interiores de eu avisei; para descobri-la olhando para mim com um olhar perturbadoramente sereno no rosto. Sinto que acabei de fazer seu ano. Com certeza gostaria de poder dizer o mesmo sobre conhecê-la. Apesar de ainda ser dia, olho para o teto como se pudesse ver o corpo celestial sobre o qual ela está arrulhando, mas é claro, tudo que vejo são velhas vigas sujas e o telhado. “Você veio na hora perfeita, Osteomante. Falta apenas um dia para a lua da colheita e, finalmente... finalmente,” ela repete com reverência, “o que foi levado será meu novamente.” Abro a boca para perguntar onde estou, mas Jamie se vira e sai da igreja sem dizer uma palavra. Ouço-a rosnar um encantamento, e a próxima coisa que sei, as portas que levam para a igreja se fecham com um estrondo de quebrar os ossos. A poeira volta a cair sobre mim de cima, e cubro minha cabeça e faço o meu melhor para me proteger de qualquer coisa mais prejudicial que possa se soltar da estrutura precariamente velha ao meu redor. Fico olhando para onde Jamie estava por um momento antes de me virar para os outros dois bruxos agora presos neste buraco do inferno comigo. “O que está acontecendo?” Pergunto a ninguém em particular, deixando cair meus braços levantados e envolvendo-os com segurança em torno de meus joelhos dobrados. Soluços fracos chegam até mim da mulher que foi jogada em sua gaiola mágica na frente da igreja. Os pequenos sons quebrados puxam meu coração, e fujo para o lado da minha cela que está mais perto dela. “Você está bem?” Pergunto e gemo com a estupidez dessa pergunta. “Desculpe, eu sou uma idiota. Claro que você não está bem,” corrijo, internamente encarando. “Você está machucada?” Tento de novo, odiando ainda mais que estou presa e não posso chegar até ela. Não tenho ideia do que eles passaram desde que a Barbie desequilibrada os levou, mas está claro que tem sido muito. “Ela não gosta quando conversamos,” Elon me informa, sua voz baixa e cheia de advertências. Olho para ele do outro lado da igreja, em frente a mim, e minhas entranhas saltam com o fato de que ele está vivo e então caem porque eu não sei se este será o caso no momento em que Rogan ou a Ordem nos encontrarem. Se eles nos encontrarem. Chuto meus pensamentos mórbidos o mais longe que posso. Não vou desistir. Esta situação não é desesperadora. Eu posso encontrar uma maneira. Se eu puder falar com Nikki, talvez possa tocar na garota legal que vi irradiando de sua foto. Posso tentar convencê-la de que tudo isso está errado e de que somos pessoas que só queremos voltar para casa, para nossos entes queridos. É possível até mesmo que alguns dos outros que Jamie mencionou, que o Fruit Loop mencionou, estejam tendo dúvidas e possam estar dispostos a ajudar. E se brincar com a humanidade deles não funcionar, vou pensar em outra coisa. Não sei o quê, mas sei que não vou desistir. “Você sabe onde estamos?” Pergunto, olhando ao nosso redor mais uma vez. “Acho que é Irlanda, mas, honestamente, não tenho ideia. É muito verde lá fora, mas poderíamos estar em qualquer lugar.” Irlanda. Pondero a possibilidade, sentindo que a aparência desta igreja se encaixa nesse palpite. Como ele disse, quem sabe? Não acho que estejamos nos Estados Unidos, mas isso não restringe exatamente as coisas. Só temos o resto do mundo como opções para enfrentar. Os soluços da mulher perfuram meus pensamentos, e só posso imaginar o que aconteceu com eles desde que foram levados. “Eles estão procurando por nós, a Ordem está nos procurando,” digo a ela, esperando que isso ofereça alguma pequena centelha de esperança, mas ela não dá nenhum sinal de que está ouvindo, ela apenas se faz o menor possível no chão duro frio e chora baixinho. “O que aconteceu?” Pergunto a Elon, esperando que ele ignore seu próprio aviso e fale comigo, quer Jamie goste ou não. Ele me estuda por um momento e solta um suspiro profundo e enervado. “Aquela lunática que você acabou de conhecer, Jamie, bem, ela acabou de assassinar o marido dela,” ele me diz, projetando o queixo na direção da mulher que começa a reclamar silenciosamente de suas palavras. A aversão esfria meu sangue e meu coração se parte pela mulher em luto silencioso. Eu vejo seu corpo frágil tremer de tristeza, seu cabelo loiro emaranhado e sujo e suas roupas manchadas e rasgadas. Espere um minuto... Nina, uma das outras Osteomantes que sumiu quando Elon sumiu, tinha cabelo escuro, não loiro. Olhei para a escova que a Ordem me trouxe de seu apartamento por tempo suficiente para ter esse fato cimentado em minha mente. Uma lasca de confusão perfura a simpatia que sinto pelo que ela está passando. “Mas essa não é Nina,” deixo escapar sem rodeios enquanto examino a mulher, me perguntando mais intensamente quem ela é. A testa de Elon se franze em perplexidade. “Não, Nina e Bernard, as outras bruxas dos ossos que foram sequestradas comigo, foram mortas dias depois de serem levadas,” ele me informa. “Essa é Brianne, ela é uma das Osteomantes da Europa. O marido dela, David, era um Bruxo de Almas,” ele explica, e fico olhando para ele sem entender enquanto tento entender o que ele está dizendo. Bernard e Nina estão mortos? O que? Brianne é outra Bruxa de Ossos? A Ordem mentiu? Eles disseram que nenhuma das mágicas dos Osteomantes desaparecidas foi transferida para qualquer outra pessoa de sua linha. Mas se eles estão mortos... “Como?” Pergunto, minha voz de repente espessa e seca. “A magia deles...” Começo, parando enquanto a confusão bloqueia minha voz. “A magia deles é o que Jamie vive tentando fazer,” explica Elon, como se estivesse falando com alguém que não entende o enredo de um filme ou a piada de uma piada. Só que não há absolutamente nada de engraçado nisso. “Tentando?” Questiono, apontando para a lasca de esperança naquela frase devastadora. “Sim, tentando,” ele confirma. “As coisas não saíram exatamente como planejado para a nossa sequestradora louca. Ela tem um ritual que deveria permitir que ela recebesse magia de outra pessoa, só que não funcionou como ela pensava. Quando ela matou Nina, nada aconteceu. Mas quando ela foi ver se a magia tinha passado para o próximo em sua linha, aparentemente isso também não tinha acontecido.” “Para onde foi então?” Pergunto, intrigada. “Esse é o mistério que o fodido bolo de frutas está tentando descobrir,” Elon me diz com uma carranca. “Quando acordei aqui, ela reclamava sobre restaurar fragmentos de uma linha de magia de volta para uma pessoa. Eu acho que seu ritual deve fazer isso. Mas ela pensou que aqueles fragmentos seriam dados a ela quando ela tirou a vida das bruxas que os possuíam. Mas isso não aconteceu. Ela está trabalhando em nossa espécie agora, tentando encontrar a linha de origem. É para onde ela pensa que a magia dos outros está indo. Uma vez que ela descubra isso, ela pode matar a linha de origem e pegar toda a magia da operadora para si mesma. Ou pelo menos é o que ela vive dizendo.” As informações se enredam em minha mente e luto para desvendá-las. Vovó estava certa. Alguém está tentando restaurar os ramos fragmentados da magia de volta a um. Examino o rosto de Elon enquanto sua declaração, trabalhando através de nossa espécie, se estabelece ameaçadoramente em meu entendimento como areia se estabelece na água. Se Jamie está matando Osteomantes... “Quantos de nós sobraram?” Pergunto a Elon, observando seu rosto sujo de poeira, olhos verdes pinheiros cansados e a carranca puxando os cantos de seus lábios para baixo. Ele se parece com Rogan. Não há como negar que eles são parentes, embora Elon tenha cabelo preto em vez do castanho escuro de Rogan, e ele é naturalmente mais magro - ainda mais desde que ele desapareceu. Elon balança a cabeça cansado com a minha pergunta e olha para a mulher choramingando e depois de volta para mim. “Você está olhando o que sobrou,” declara ele, uma dor vazia em seu tom que parece uma bala de canhão no estômago. Coloco minhas mãos sobre minha boca e silenciosamente rogo ao universo que ele esteja errado, que o que ele está dizendo seja impossível. Mas posso ver a verdade disso nos planos abatidos do rosto de Elon e no tormento amargo brilhando em seus olhos. Com toda a magia deste mundo, nós somos os únicos bruxos de ossos que sobraram. O horror me assalta e fico tonta com as implicações do que isso significa. “O que?” foge de meus lábios horrorizados, mas Elon não responde. Como diabos deixamos isso acontecer? Como esse trabalho maluco destruiu tanto de forma totalmente desimpedida? Fico olhando para Elon, completamente enervada. Me odeio por fazer essa pergunta, mas preciso entender o que está em jogo. “Por que ela não matou você como fez com os outros?” Pergunto baixinho, a vergonha escapando de cada sílaba. Que coisa horrível de se perguntar a alguém, como se eu estivesse insinuando que ele não merece estar vivo, mas tem que haver uma razão específica para os outros terem ido embora e ele não, e preciso saber qual é. Elon zomba incrédulo e olha para as próprias mãos como se ele mesmo não entendesse direito. “Ela gosta de me insultar por causa de Nikki. Ela também gosta de foder comigo por causa da minha família,” confessa. “História da porra da minha vida,” ele resmunga quase inaudívelmente, mas pego do mesmo jeito. Ele estende as pernas, cruzando-as na altura do tornozelo como se a conversa fosse simplesmente casual e ele tivesse sido forçado a tê-la muitas vezes. “Ela está procurando pela bruxa que tem a linha de origem de nossa magia; acho que ela presume, por causa de quem era meu tio, de quem é minha família, que sou essa fonte. Ela vive dizendo que vai derramar a magia de todos em mim e depois tomá-la, como se doesse mais e eu sofresse mais por causa disso,” ele oferece com um encolher de ombros. “É por isso que ainda estou aqui e os outros não. Acredite em mim, se eu pudesse mudar isso, mudaria.” Compreensão e pena me atingem como um trator. A tortura e a dor que ele está passando novamente em sua vida curta, mas marcada, me deixa cheia de raiva. Não admira que ele seja fechado. Ela o está deixando para o final. Que sensação horrível deve ser essa. Eu o observo por um momento. Sua linguagem corporal comunica que não é grande coisa, mas a dor em seu olhar é tão intensa e crua que tenho que desviar o olhar. É uma daquelas situações complicadas em que você gostaria de fazer algo, dizer algo, que faria com que toda a dor e todo o sofrimento fossem embora, mas você sabe que não pode. Não existe uma palavra mágica ou encantamento para combater o sofrimento, não importa o quanto eu desejasse que houvesse. “Por quanto tempo ela geralmente fica fora?” Pergunto, gesticulando em direção às portas da igreja e oferecendo a ele algum alívio na forma de uma mudança de assunto. “Existe uma maneira de impedir que esses símbolos ao nosso redor funcionem? Existe uma maneira de substituí-los?” Olho para as marcas de fuligem no chão e depois para as mesmas linhas de símbolos que prendem Elon e Brianne. “Não se preocupe,” Elon descarta. “Não há saída, a menos que Jamie queira que você saia. Eles são feitos sob medida para foder com nossa magia e ouvir apenas a dela. Guarde sua energia para o que acontecer quando ela puxar você para fora da gaiola,” ele avisa, e isso causa um arrepio na minha espinha. Fico olhando para as marcas estrangeiras por mais um momento e depois volto meus olhos para Elon, sem saber o que dizer sobre isso ou sua rendição clara. “Não me olhe assim,” ele rosna. “Você acha que é a único a tentar escapar? Tudo o que você provavelmente está pensando em fazer já foi tentado antes por bruxas que agora estão mortas. Eu vi outros Osteomantes quebrarem seus próprios ossos e tentarem usá-los como armas. Nenhum deles teve sucesso.” Ele balança a cabeça, os olhos duros. “Eu lutei no começo. Tentei tudo que pude para sair daqui, para salvar os outros conforme eles apareciam um por um. Nada do que fiz fez diferença. Descobri que ela fica mais irritada quando não reajo, então é o que faço agora,” explica ele com firmeza, como se precisasse que eu entendesse por que ele é daquele jeito, como se precisasse se defender do julgamento que devo ter deixado sangrar pelos meus olhos. As portas da igreja se abrem novamente. O estrondo que elas criam ao bater nas paredes de pedra é um pouco menos sonoro, como se até mesmo as portas estivessem de saco cheio desse tipo de entrada super dramática. Eu ainda pulo, surpresa, e solto um grito assustado. Agarro meu peito enquanto Jamie entra, mais uma vez sozinha, um braço enfiado nas alças de três baldes, e na dobra de seu outro braço estão três pequenos pacotes de alguma coisa. Ela joga um balde em mim, e ele passa direto por onde estou sentada, atinge a parede atrás de mim e rola, parando um pouco antes dos símbolos me prendendo do lado direito. Algo mais atinge meu pé e eu olho para baixo para ver um pacote de digestivos sabor original, ou pelo menos é o que o pacote diz. Não tenho ideia do que seja, mas parecem biscoitos de gengibre ou algo assim, baseado na foto da embalagem. Eu olho de lado os biscoitos, não perto o suficiente do modo de fome para arriscar comer qualquer coisa que alguém tão louco esteja oferecendo tão livremente. O que eu realmente quero é água, mas não vou pedir. Não vou dar à mulher nada mais que ela possa dominar sobre mim. O balde e os biscoitos de Elon são jogados em sua direção, e Jamie caminha na direção de Brianne, que ainda está encolhida no chão, o peito estremecendo de dor, embora não possa mais ouvi-la chorar. Jamie parece que está prestes a jogar o balde de Brianne e a comida em seu caminho quando de repente ela se interrompe. Sua cabeça se inclina para o lado como um cachorro olhando para alguém com curiosidade. Ela coloca o balde no lado errado das marcas queimadas e abre lentamente o pacote de biscoitos ou bolachas ou o que quer que seja. Um por um, Jamie remove uma unidade do pacote e esmaga em sua mão. Uma pequena pilha de migalhas começa a seus pés enquanto ela destrói a comida de Brianne. O olhar dela é malicioso. Ela fica parada ali como se estivesse desafiando a bruxa quebrada a olhar para cima e implorar a Jamie para parar, mas ela não diz nada. “Você não pode fugir de mim” Jamie rosna para Brianne enquanto ela esmaga outro biscoito. “Não há nenhum lugar onde você possa se esconder que eu não vá te encontrar.” Arrepios sobem pelos meus braços enquanto o fogo lambe minhas veias. Nunca fui boa em manter minha boca fechada quando se trata de valentões. Jamie esmaga outro biscoito e começo a ver vermelho. Quanto mais ela poderia querer que essa bruxa estivesse quebrada? Ela está literalmente encolhida em uma bola de tristeza no meio de uma gaiola mágica da qual ela não consegue escapar à mercê de uma mulher que acabou de matar seu marido. Isso me faz querer arrancar a cabeça de Jamie e enfiar todos aqueles pedaços de nutrientes desperdiçados em sua garganta. As marcas esculpidas no chão ao meu redor tornam isso impossível, então faço a única coisa que posso para mostrar a ela o que penso do que ela está fazendo. Eu acho que Jamie jogou esses biscoitos em mim sem nenhum problema com os símbolos demoníacos que compõem minha gaiola; com sorte, posso fazer o mesmo. Pego o misterioso pacote vermelho e azul de digestivos aos meus pés e levanto o braço para trás. Eu dou um bom lance em meus biscoitos e os vejo navegar pelo ar, além da linha de símbolos de ônix da minha gaiola, entrando na gaiola de Brianne com uma espiral que deixaria Tom Brady orgulhoso. Eles caem no chão e deslizam logo após os pés de Brianne, parando onde ela será capaz de vê-los quando sair de seu atual estado de choque e agonia emocional. A cabeça de Jamie vira na minha direção, seus traços pintados de raiva. Desafiadoramente, fico olhando para ela, me perguntando se ela vai quebrar os símbolos no chão e ir buscar os biscoitos para que Brianne não fique com eles. Ela não faz. Em vez disso, ela caminha até minha gaiola e, por mais rebelde que me sinta, também não consigo evitar a sensação de que estou nadando em um lago e fui avistada por um crocodilo. Não tenho ideia do que acabei de desencadear, mas acho que é hora de descobrir. “Awwww, a pequena Bruxa de Ossos tem bolas,” ela murmura para mim, como se eu fosse um filhote de animal no zoológico. “Você está disposta a morrer de fome por ela, mas ela faria o mesmo por você, Leni?” ela faz barulho, como se estivesse genuinamente desapontada comigo. “Eu sei que você é nova nessa coisa de bruxa, mas deixe-me te contar uma coisinha. Não existe espécie mais egoísta do que as bruxas. Em um minuto são seus amigos, e no próximo eles vão te esfaquear pelas costas se isso significar se manterem seguros ou pegar algo que queiram.” Espontaneamente, o rosto de Rogan surge em minha mente e lentamente desaparece apenas para ser substituído pelo rosto da Major Griego, então os rostos de cada membro da Ordem que me interrogou. Por último, a imagem da Alta Sacerdotisa das Bruxas e seus dois membros do conselho surgem em minha cabeça. Meus pensamentos concordam silenciosamente com o veneno saindo dos lábios de Jamie, e odeio isso quase tanto quanto odeio estar aqui, olhando nos olhos cruéis desta abominação contaminada por demônios. “Sua avó era amiga da minha tia, até cuidou de Nikki quando a magia passou para ela, mas a grande Osteomante alguma vez me checou? Ela pelo menos uma vez perguntou como eu estava depois que minha linha foi retirada da mesma magia correndo em suas veias? Não, ela nos tratou como os párias igual todo mundo. Se ela pudesse me ver agora, ver o que vai acontecer com sua linha de magia quando eu tirar de sua medula,” ela praticamente rosna para mim. Abro a boca para dizer que vovó já sabia o que viria, mas outra coisa que Jamie acabou de dizer me faz parar. A grande Osteomante... Por alguma razão, essas três palavras provocantes fazem minha mente girar. Os sonhos estranhos. A sensação excessiva de magia. Minha habilidade de exercer o poder com tanta facilidade quando outros levam anos para dominá-lo. A sensação que tive na minha última leitura, onde tive acesso a mais magia do que deveria tecnicamente... Achei que o que estava sentindo era normal - não que eu realmente soubesse o que é normal quando se trata de magia. Não é como se eu tivesse uma experiência anterior para comparar. Mas nunca pensei muito sobre o que sentia e poderia pensar até agora. O tom neutro de Elon começa na minha cabeça, ela está procurando pela bruxa que tem a linha de origem de nossa magia. Não sei por que isso não ressoou em mim antes, mas... Porra. Tenho certeza de que sou a linha de origem que Jamie está procurando. A Grande Osteomante. O choque ressoa em minha mente como um gongo que foi atingido com muita força e agora o barulho está extremamente alto. Meu corpo praticamente vibra de compreensão. É isso que está acontecendo comigo, o que está me fazendo sentir tão poderosa? Quer dizer, minha linha sempre foi forte. Jamie apenas tocou no assunto como se fosse de conhecimento comum. Até Rogan mencionou isso quando nos conhecemos. Ele estava tentando me envergonhar com a magia, apontando que minha avó era poderosa e provavelmente uma das Osteomantes mais talentosas que restaram. Nunca pensei muito sobre esse fato antes, mas, neste contexto, a verdade parece cegante. Faço de tudo para controlar meu rosto enquanto Jamie discursa. Me esforço para sintonizar no que ela está dizendo acima do som do meu pulso muito rápido em meus ouvidos. Talvez eu esteja errada e Elon seja a fonte como Jamie pensa que ele é, mas no meu íntimo, não acredito realmente que seja esse o caso. “Você acha que a está salvando, Leni? Bem, novidade: você não decide quem vive e morre aqui, eu decido, e sua bondade apenas a matou, como a covardia dela matou seu marido,” Jamie cospe em mim, e então ela sai da igreja, mais uma vez batendo as portas atrás dela. Fico olhando para ela, finalmente entendendo por que alguns pais removem as portas de sua casa para evitar esse mesmo comportamento muito irritante de seus filhos. O terror sobe pela minha garganta e a raiva inunda todos os meus pensamentos. É tudo que posso fazer para não gritar enquanto penso nas palavras dela e em estar presa aqui. Não quero envolver minha mente em torno do que aconteceu com todas as bruxas que vieram antes de mim. Pensar em quantos estiveram nesta mesma cela, esperando que alguém os encontrasse, que algo impedisse essa louca de roubar o que ela não tem o direito de tomar. Mas a compreensão está me puxando contra a minha vontade, e a fúria impotente é uma faísca sempre crescente dentro de mim, uma que eu não tenho nenhuma merda de escape. Olho ao meu redor, desesperada para encontrar algo que possa controlar minha raiva. Minha busca frenética pousa no crânio da coruja. A razão pela qual estou agora em uma cela com marcas demoníacas, olhando a morte bem em seus olhos sombrios e miseráveis. Como pude ser tão cega? Por que não vi esse osso corrompido pelo que era? Eu teria notado um crânio de animal em meu quarto antes. Não me importo com o quão distraída estava com aquele pau, eu deveria ter pensado melhor antes de pegar aquela coisa. Me levanto e vou até o crânio. Aparentemente, não joguei com força suficiente na primeira vez para tirá-lo da minha cela. Eu o arranco do chão e, com um berro agonizante, jogo com toda a força que posso contra a parede. Uma fissura se forma no osso, mas não se estilhaça da maneira que desejo, então o pego da costura de dois blocos de pedra e jogo de novo como se fosse um arremessador nas ligas principais. Fragmentos de crânio explodem contra a parede, e imediatamente os viro em uma pilha com minhas mãos. Eu pego os restos, procurando as opções mais nítidas e letais e as coloco de lado. Se uma vadia louca quiser usar esses ossos para me prender aqui, irei em frente e os usarei para abrir a garganta dela. Essa maluca mexeu com a bruxa errada. Hora de trabalhar. 12
Cerro meus dentes com tanta força contra o inferno que
ameaça derreter meus ossos, que juro que meus dentes vão desmoronar a qualquer minuto agora. O fogo queima em minhas veias e luto contra seu desejo de me derreter de dentro para fora e empurrar o pó de osso para tentar encontrar uma rachadura ou um buraco na argamassa que cimenta as pedras da parede da igreja à minha frente. O suor escorre da minha testa enquanto engulo um grito, minha garganta em carne viva e abusada por lutar contra a magia demoníaca desta cela por muito tempo. Sinto-me esgotada, exausta, mas sei que tenho que fazer isso agora, tenho que tentar encontrar um jeito, antes que Jamie volte e faça sabe-se lá o quê. Se eu conseguir encontrar a menor fraqueza na parede, posso enfiar o pó de osso e ver se consigo desestabilizá-la ainda mais. O único problema é que a agonia nem mesmo começa a descrever o que essa cela está fazendo comigo por tentar usar minha magia. Entre desmaiar nas últimas horas, coloquei os fragmentos de crânio afiados que coloquei de lado em volta da minha cela para que eu possa pegar e usar um se a oportunidade aparecer. Mas o resto dos ossos poderia ser de alguma utilidade, ou seriam, se usar minha magia não me desse a compreensão dolorosa de como é viver dentro de um vulcão. Pontos pretos começam a se formar de forma ameaçadora na minha visão, e deixo a magia ir antes de ser forçada a desmaiar novamente. A poeira de osso flutua no chão e solto um suspiro frustrado. Só consegui fazer isso viajar até a metade da parede até agora. Preciso me concentrar, mas não sei o quanto mais fisicamente posso aguentar. Com um grunhido descontente, bato nas pedras da parede e deslizo para baixo para descansar um pouco antes de tentar novamente. “Sente-se melhor?” Elon pergunta, uma sobrancelha crítica levantada como se ele tivesse acabado de testemunhar uma birra ridícula. “Finalmente aceitou o fato de que não há como sair daqui?” Maldição, pensei que Rogan era um filho da puta julgador, mas o prêmio para o idiota arrogante definitivamente vai para seu irmão. Ele não disse uma palavra para mim desde que Jamie foi embora pela última vez. Nada de eu disse que lutar não levaria a lugar nenhum, nem mesmo um deveria ter guardado seus biscoitos para si mesma. Não, ele apenas ficou sentado lá e me observou enquanto me destruí tentando encontrar uma saída. Quer dizer, o que mais devo fazer enquanto estou em cativeiro? É tentar descobrir como escapar ou modo espião, e tenho a sensação de que Elon vai fingir que é bom demais para esse jogo. Acho que é bom que ele tenha ficado de boca fechada. Se ele tivesse tentado me oferecer um ”não se incomode em tentar”, teria dito a ele para enfiar na bunda dele. Quem vai ouvir conselhos de merda como esse? Certamente não eu. Lanço um olhar furioso para ele. “Você pode engasgar com a ideia de que não há como sair dessa merda, Elon Kendrick. Não aceito essa merda de Rogan, e tenho certeza como o inferno que não vou aceitar de você. Não seria uma perda de tempo parar de me julgar e, em vez disso, me ajudar a bolar um plano. Mesmo que não funcione, pelo menos nós tentamos,” rebato para ele, irritada ao mesmo tempo que me sinto mal por ser uma vadia depois de tudo o que aconteceu com ele. Ele está muito resignado e apático para o meu gosto. Estive tão focada em descarregar minha raiva fútil e tentar fazer o que pudesse para me ajudar, mas é hora de realmente falar com Elon, acender um fogo sob sua bunda e descobrir como diabos vamos resolver as coisas sobre a pequena senhorita mancha de demônio e sua tripulação. Sei que não sou a primeira bruxa a tentar escapar. Tenho certeza de que ele assistiu muitos tentarem - e morrer de qualquer maneira - mas não sou eles. Sou Lennox Osseous e vou resolver o problema com ou sem a ajuda dele. O brilho arrogante no olhar de Elon vacila e registro o choque ganhando vida em seus olhos verdes. Ele se levanta de onde está sentado contra a parede e para na barreira de símbolos demoníacos que o prendem. Sim! Aí está, aí está a luta de que precisamos. Eu deveria ter parado de tentar descobrir as contingências de fuga e mencionado o nome antes. “O que você sabe sobre meu irmão?” ele desafia, o semblante desapaixonado e letárgico que ele envolve em torno dele como uma armadura invisível perdida. Agora há preocupação e desejo esperançoso em seu olhar árduo. “Oh, você sabe,” ofereço casualmente, meu corpo doendo por tudo que acabei de passar. “Ele é um idiota, definitivamente um cara que pede perdão em vez de permissão. Ama você mais do que qualquer coisa, e atualmente está criando um inferno e fazendo tudo o que pode para encontrá-lo.” Ele me olha como se não estivesse convencido. Limpo minha garganta e adoto o sotaque mais forte do Texas que consigo. “Prepare-se agora, parceiro,” digo a ele enquanto faço a mímica de cavalgar um cavalo selvagem enquanto estou sentada. “Tudo bem, R... U... N,” acrescento para completar, e o rosto de Elon aperta de dor e seus olhos se enchem de lágrimas. “Nós recebemos sua mensagem. A propósito, você tem uma bela casa. Estou com inveja, não me importo em admitir.” Olho de lado o sotaque persistente permeando o que agora deveria ser minha fala normal. Elon inclina a cabeça para trás e respira profundamente através do que só posso imaginar ser uma onda de angústia. Sei que ele e Rogan passaram por isso juntos, e sinto que Elon desistiu de ver seu irmão novamente, imagine de ouvir uma atualização sobre o que está acontecendo enquanto ele está fora. Esfrego meus braços, totalmente malvestidos para o frio que se infiltra neste lugar. Não sei há quanto tempo estou nisso, mas agora a luz que entra pelas janelas parece noite, em vez de manhã. Isso vai me ensinar a usar roupas leves para dormir. Serão cintos de castidade e moletom daqui em diante, se eu conseguir sair daqui. Também deveria tentar dormir com uma espada o tempo todo. Talvez consiga um coldre especial projetado para evitar que fique perfurante enquanto eu giro e viro ao dormir. “Seu irmão me rastreou, em primeiro lugar,” digo a Elon, que agora está enxugando os olhos. “Vamos apenas dizer que ele não aceitaria não como resposta, e estamos procurando por você desde então. O que aconteceu? Como você veio parar aqui?” Pergunto baixinho, esperando que Elon não se feche como parece que quer e me informe. Ele não me responde imediatamente, e olho dele para a bruxa agora quieta que ainda está deitada no chão frio. O lento subir e descer de seu peito me diz que ela está dormindo, e espero que ela encontre alguma aparência de paz em seus sonhos ao escapar desse pesadelo acordado por um tempo. “Nikki Smelser é o que aconteceu,” declara Elon, e há uma ponta de raiva em seu tom, mas não posso dizer se a raiva é dirigida a ele ou a ela ou talvez a ambos. “Elas estão fazendo isso juntas, Nikki e Jamie?” Pressiono, gesticulando para a igreja. “Não mais,” Elon me diz enigmaticamente, esfregando o rosto e borrando a sujeira e as marcas de lágrimas em suas bochechas. Ele se senta de pernas cruzadas no chão, bem perto da barreira, e espelho seu movimento, sentindo uma explicação detalhada chegando. “Eu conheci Nikki em uma loja. Eu estava lá estocando algumas ervas e outras coisas de que precisava naquela semana. Ela era legal e bonita. Ela deu encima de mim, e fazia muito tempo que alguém não olhava para mim como se eu fosse um...” “Assassino?” Forneço em silêncio quando ele para de falar. Elon bufa indignado e acena com a cabeça. “Sim, como a cria do mal que todos pensam que eu sou. Ela não me via assim, e fiquei um pouco mais perdido nisso do que deveria,” ele confessa, e não posso deixar de ver uma dica do garotinho que nunca foi amado como deveria ter sido, espreitando em seus olhos. Isso me deixa tão incrivelmente triste por ele, e naquele momento, é fácil para mim entender por que Rogan faria tudo em seu poder para se certificar de que Elon não vivesse toda a sua vida sentindo-se assim. Elon suspira e endireita as costas como se estivesse puxando por alguma reserva interna de força. “Ela disse que sua prima estava atrás dela. Que ela estava tentando machucá-la desde que Nikki assumiu seus poderes alguns anos antes.” Ele me olha suplicante. “Eu sei que provavelmente soa idiota e que sou estúpido por confiar nela, mas com tudo que Rogan e eu passamos com nossas famílias e sendo renunciados, não era uma coisa improvável e impossível para mim acreditar.” Aceno, entendendo de onde isso vem, porque sei a verdade sobre o que aconteceu com eles. Mas não digo nada ou tento dar uma pista para ele. Este não parece um lugar seguro para expor um segredo tão vulnerável, não com outros ouvidos de bruxa escutando - mesmo que pareça que Brianne está desmaiada. Também não tenho certeza de como ele se sentirá, sabendo que estou ciente dos horrores aos quais ele sobreviveu. “Não parece idiota,” asseguro a ele. “Parece que você é uma pessoa gentil.” Elon faz uma pausa por um momento, me examinando como se eu tivesse apenas vomitado veneno nele, em vez de lhe fazer um elogio. Posso ver que ele não confia em minhas palavras e está procurando meu ponto de vista. Odeio que isso seja o que ele foi forçado a fazer para sobreviver, mas não levo isso para o lado pessoal. “Eu queria ajudar Nikki com sua prima,” ele começa um tanto hesitante, e faço uma nota para fechar meus lábios antes de assustá-lo e ele parar de falar. “Pensei que se mostrasse a sua prima que Nikki não estava sozinha e que não era um alvo fácil, ela recuaria. Jamie era uma Menor, e presumi que ela seria fácil de assustar. “Nós criamos um plano para desaparecer um pouco, cobrir nossos rastros para que Jamie não pudesse encontrar Nikki, e então fazer o que pudéssemos para fazê-la recuar. Se não funcionasse, eu ajudaria Nikki a realmente desaparecer, usando minha reputação, e então a colocaria em algum lugar seguro. Eu ia ligar para Rogan e explicar o que estava acontecendo na estrada, mas tudo deu merda antes que isso pudesse acontecer.” A imagem de Elon saindo de sua casa com uma mochila e seu familiar a reboque surge em minha mente. Não vejo nenhum sinal de seu familiar, mas estou hesitante em perguntar a ele sobre ela e ele se fechar. “Mas por que as coisas estranhas que você tinha em sua casa? As sorvas e as cinzas?” Pergunto em vez disso. “Fazia parte do plano de backup se Nikki precisasse desaparecer. A maioria das bruxas pensa que sou um assassino maluco. Algum psicopata faminto de poder que está doido e pode surtar a qualquer minuto. As cinzas e outras coisas eram para Jamie, caso ela entrasse à procura de Nikki. Criamos a impressão de que perdi o controle e matei Nikki, seu familiar e meu familiar. Nikki me disse para fazer aquela coisa de sorveira, ela disse que significaria algo para Jamie se ela alguma vez visse. Eu pensei, o que as pessoas fariam se pensassem que eu matei de novo? Estaria fora das mãos dos Menores e o Alto Conselho não se importaria. Se eles não acabaram comigo pelo que aconteceu com meu tio, por que eles se importariam com uma Bruxa de Almas aleatória?” ele pergunta, a mentira eu sou um assassino saindo de sua língua. Ele encolhe os ombros, os olhos distantes, a cabeça balançando como se estivesse olhando para trás e vendo como o plano era estúpido. “Então, o que deu errado?” Pressiono, precisando que ele continue e não volte ao estado impassível em que estava antes. “Eu descobri que Nikki mentiu para mim sobre tudo e que sou um idiota. Foi isso que deu errado.” Suas palavras afundam, arrastando seu desespero junto com elas. Eu estudo o Bruxo de Ossos à minha frente, que já passou por muita coisa em sua curta vida. Ele está vestindo a mesma calça verde do exército e camiseta preta de manga comprida que estava na minha visão dele saindo de sua casa naquele dia. Elas estão sujas e enrugadas além da esperança agora, o estado triste delas quase tão lamentável quanto o estado quebrado em que Elon está. Ele parece estar oscilando entre desesperado e determinação, e estou preocupada que uma palavra errada minha, envie-o cambaleando para a escuridão, e então estaremos realmente ferrados, porque vou precisar da ajuda dele para tentar nos tirar daqui. “Bem, vou chutar a bunda de Nikki por você quando sairmos.” o tranquilizo. Sua testa franze em confusão e ele suspira, olhando para mim como se eu claramente tivesse perdido algo. Estou pronta para dar um sermão sobre como ele não pode ainda querer salvá-la depois de tudo que ela fez, mas ele me interrompe. “Você não ouviu Jamie? Nikki está morta. Ela está lá fora com todos os outros.” A compreensão chega até mim como Evander Holyfield. Isso me deixa tão tonta que vejo estrelas como uma versão de mim mesma em um personagem de desenho animado. Olho para as janelas sujas ao nosso redor, e tudo que posso imaginar são os corpos espalhados pelo chão desta igreja. Minha cabeça gira e trabalho para entender o que ele está dizendo. “Mas por que?” Pergunto, incapaz de juntar tudo. Se Nikki estava mentindo e ela e Jamie estavam trabalhando juntas - que é o que estou supondo que aconteceu - por que matá-la? “Porque a boceta tentou me trair.” uma voz desequilibrada declara da entrada da igreja, e entra Alta, Magra e Maluca. Bem, merda, ela está de volta. Jamie entra na igreja com uma bolsa pendurada no ombro e o cheiro distinto de sangue fresco em seu rastro. Calafrios sobem pelas minhas pernas, deslizam pelo meu torso e dançam pelos meus braços. Esfrego minhas mãos nas extremidades em um esforço para banir a sensação, mas por mais que eu tente, uma sensação de mau agouro envolve-se em torno de mim como um xale feito de gelo. Você acha que a está salvando, Leni? Bem, novidade: você não decide quem vive e morre aqui, eu decido, e sua bondade simplesmente a matou. Estou prestes a descobrir se isso é verdade? Tento não olhar muito para Jamie quando ela passa por mim. Sei que é estúpido, mas estou com medo de que se ela olhar muito para mim, ela verá a verdade sobre o que sou tão claramente quanto vejo agora. Se ela descobrir que sou a fonte, o que isso significa para Elon? Não quero descobrir. Jamie zomba enquanto ela passa. “Nikki deveria estar lá para mim. Ela sabia o que meu lado passou quando a Alta Prostituta no comando tirou minha linha de magia. Ela sabia como isso nos destruiu. Mas um pouco de luxo, um menino bonito bate os cílios para ela, e toda aquela lealdade foi direto para fora da janela,” ela se encaixa frustrada, colocando a sacola no altar na frente da igreja. Uma luz escura incide sobre ela através do vitral imundo como um holofote doentio. Isso destaca sua palidez e as feridas em seu rosto que parecem piores do que quando eu as vi antes. Me pergunto o que ela fez enquanto estava fora. Está claro o que quer que seja, cobrou um preço. Ela começa a desempacotar as coisas da bolsa, mas não consigo distinguir exatamente o que é sem conseguir chegar mais perto, e tudo dentro de mim está gritando, não se aproxime. “Ela tentou estragar tudo para mim. Anos planejando e juntando as coisas para o benefício de nossa magia, e ela decidiu que nada disso valia a pena porque ela queria salvá- lo.” Ela zomba, seu olhar perturbado fixando-se perigosamente em Elon. “Ele!” ela grita, como se simplesmente não conseguisse entender. “Ela escolheu um assassino de sangue frio ao invés de seu próprio sangue! Então peguei seu sangue podre e o tornei útil. E que o resto dela apodreça no inferno com os outros.” Jamie cospe no chão como se estivesse cuspindo no túmulo de Nikki e, embora Elon não diga nada, posso ver uma raiva reprimida, mal contida, fermentando dentro dele. Primeiro, Nikki o traiu e depois tentou salvá-lo. Meu coração fica ainda mais pesado por Elon. Eu posso dizer que, apesar de seus esforços para não, ele se importava com a Bruxa de Almas. “Por que eles tiraram sua magia?” Pergunto acusatoriamente. Achei que isso era quase impossível e não era mais algo que as bruxas tentassem fazer. Então, novamente, também pensei que a morte era imbatível, então o que diabos eu sei sobre mais alguma coisa? “Roubaram nossa magia, na verdade. Roubaram porque eles não querem que fortes Bruxas de Ossos contestem suas regras,” ela exclama com fervor. “Mais como seus ancestrais foram um bando de vigaristas, enriquecendo com os infortúnios dos outros, apenas para descobrir que seu clã foi a razão de seus infortúnios em primeiro lugar. Você mereceu perder seu presente!” Elon rosna para Jamie, obviamente atingindo seu limite com toda a besteira. “Nossa magia era nossa para fazer o que quiséssemos. O Alto Conselho não tinha o direito de tomar o que não era deles!” Jamie grita de volta, todo o bom senso fora de seu olhar. “Se isso foi tão errado, o que diabos você está fazendo?” Elon rebate, mas antes que ele possa dizer outra palavra, ele é jogado contra o chão e está se contorcendo de dor. Ele morde um grito e aperto meus punhos e cerro minha mandíbula para não gritar. Não ouvi Jamie proferir um encantamento, mas está claro que ela está fazendo algo com ele. Todas as suas marcas de demônio de repente fazem sentido à medida que começam a brilhar como se fossem iluminadas por dentro. Ela está pegando emprestado poderes demoníacos. A magia de sua linhagem não é mais viável, então ela negociou pesadamente com um demônio pela habilidade de fazer o que antes seria natural para ela. Isso se ela fosse a bruxa escolhida de sua linha. Sempre há a possibilidade de não ter sido ela, e me pergunto se essa também teria sido sua resposta a esse possível resultado. Imagino minha própria tia e prima e até onde elas estavam dispostas a ir por um poder que não lhes pertencia. Uma sensação de mal estar se instala em meu estômago. Elas são os futuros Jamies à espreita? Empurro esse pensamento de lado e coloco minha cabeça dispersa no jogo. Preciso descobrir exatamente como diabos Jamie está roubando o poder dos Osteomantes, e então preciso fazer tudo o que puder para impedir que isso aconteça comigo. “Então, como isso funciona?” Pergunto em uma tentativa desesperada de descobrir tudo isso sem que alguém tenha que morrer por isso. Minha pergunta atrai a atenção doentia de Jamie de Elon para mim. Ele para de convulsionar, a espuma pingando de sua boca assim que o olhar azul-petróleo estranho dela se volta em minha direção, mas eu fecho qualquer alívio que sinto e coloco uma rolha em todas as minhas emoções. Fico na barreira da minha jaula, meu corpo inteiro tenso, desejando poder verificar se Elon está bem. Cerro meus punhos, tentando e falhando em não mostrar minha angústia. “Sua avó também era tagarela. Tenho certeza de que ela me viu chegando, mas quando percebi isso, já era tarde demais,” ela me diz enigmaticamente, a cabeça inclinada para o lado enquanto me examina como se eu fosse um espécime sob um microscópio. “Eu sou muito inteligente para cair de novo,” ela acrescenta e então retorna para o que quer que esteja colocando em volta do altar. Ótimo esforço para fazê-la falar. Droga, Oprah não fez um show sobre o que fazer se alguém sequestrar você? Tenho certeza de que nunca os deixar levá-la ao segundo local era definitivamente uma das coisas mais importantes, mas esse navio já havia partido, batido e afundado nas profundezas do vasto e frígido oceano. Nenhuma velhinha apaixonada por diamantes vai ser a heroína desta história - ou pelo menos tenho noventa e seis por cento de certeza de que isso não vai acontecer. Sei que há mais coisas que aprendi em um artigo ou temporada de Law & Order ao longo dos anos, sobre como fazer eles olharem para você como se você fosse uma pessoa, mas a vadia já está me chamando pelo meu nome, então não sei de que outra forma fazer isso. Poderia tentar ser sua amiga, mas duvido que isso vá fazer com que ela queira menos minha magia. Ela matou a prima, pelo amor de Deus, não acho que estar na categoria de amiga vai me deixar mais segura do que sua categoria familiar. Observo Jamie em silêncio enquanto tento descobrir meu próximo movimento, lançando olhares para Elon para ter certeza de que ele ainda está respirando. Jamie disse que tudo iria cair na lua cheia, então não tenho certeza se ela está apenas se preparando para isso ou se está fazendo outra coisa, mas observo cada movimento como se fosse revelar o contra-movimento para desfazer tudo. “Você sabia que viemos de elfos e fadas?” Jamie declara aleatoriamente, e cruzo os dedos para que tenha algum grande monólogo maligno vindo em minha direção, qualquer coisa para tentar distrair e prolongar o que quer que esteja para acontecer. “Quero dizer, não diretamente, mas temos nossa magia por causa deles. Suas guerras estavam irritando outras raças de criaturas mágicas, então eles trouxeram humanos para a mistura, deram a eles habilidades e pediram que eliminassem os faes e os elfos para que todos pudessem viver suas vidas sem toda a besteira. Eu nunca soube disso,” ela admite. “Encontrei isso em um velho livro esquecido quando estava procurando maneiras de obter minha magia de volta,” ela declara enquanto limpa o altar com um pano e alguma substância em uma garrafa que ela puxou de sua bolsa. Espero que o cheiro adstringente de limpador me atinja, mas em vez disso sinto um cheiro de terra que me faz pensar que ela está usando óleo ou algo em seu pano e não um detergente de qualquer tipo. “Aparentemente, as primeiras bruxas tinham todos os tipos de magia, mas quando nos cansamos de servir aos outros e ligamos os poderes constituídos, todos se juntaram e tentaram tirar o que tínhamos, e quando isso não funcionou, eles foderam nossa magia, quebrando-a em pedaços. É daí que vêm os galhos separados, e então esses galhos se quebraram em ainda mais linhas ao longo do tempo, e aqui estamos nós, sombras do que já fomos,” ela anuncia, gesticulando ao seu redor. “As vadiazinhas desligaram o mundo deles do nosso, mas vou mudar isso quando acertar tudo de novo,” ela murmura com naturalidade. Jamie olha para mim enquanto tira um isqueiro do bolso de trás e verifica se está funcionando. Ela se move ao redor do estrado, acendendo velas uma por uma, e o cheiro de sangue na sala fica mais forte. Meu estômago se revira desconfortavelmente, e esfrego minhas pernas para tentar combater o frio tentando se estabelecer nelas. “É incrível o que você pode encontrar nos livros. As informações que as pessoas esquecem que são importantes ou as peças que você pode juntar se apenas olhar com atenção. O destino guiou todos nós para isso. Ele quer que os galhos voltem a ser um,” Jamie ronrona, como se o destino estivesse coçando atrás de suas orelhas e dizendo que ela é uma boa menina. Rolo meus olhos. Jamie coça uma de suas marcas de demônio na bochecha como se estivesse chamando a atenção para ela. O destino não orientou merda nenhuma para essa maluca, mas um demônio com certeza pode ter trocado a informação que ela estava procurando, ou onde encontrá-la, pelo preço certo, porra. “Mmmmmm, está na hora,” ela anuncia, e a declaração faz meu sangue gelar, e meu coração salta de relativamente calmo para oh merda em um milissegundo. Hora de quê? Olho ao redor, meu olhar um apelo silencioso. Por favor, não me diga que é minha hora de morrer. 13
Olho para Elon como se ele fosse me dizer o que está
acontecendo com um olhar, mas ele não está olhando para nenhum outro lugar além de seus pés. Merda. Provavelmente é um mau sinal. Com um sorriso que poderia fazer qualquer versão do Coringa correr atrás de seu dinheiro, Jamie enfia a mão na sacola e tira algo marrom, peludo e que se contorce. Mal tenho tempo de identificá-lo como uma lebre antes de Jamie torcer a cabeça dele, o estalo nauseante de ossos reverberando por mim, o som me deixando enjoada. O pobre animal imediatamente afrouxa em seu aperto cruel, e olho para longe quando ela mantém seu corpo sem vida acima dela e começa a cantar enquanto o sangue goteja em seu rosto da carcaça. Tudo acontece tão rápido que fico ali enquanto o choque ricocheteia em mim. Como ela está falando sobre livros e elfos em um minuto e depois matando sem emoção no minuto seguinte? É uma dicotomia que não consigo fazer minha mente entender. É assim que começa, é este o ritual que ela usa para nos matar e rasgar nossa magia? Meu coração martela no meu peito, e discuto me armar com um osso e dar minhas pequenas armas de crânio ou esperar e tentar mantê- las uma surpresa. Não reconheço a língua que ela está falando como qualquer forma de Mancer que já ouvi ou reconheça magicamente. Também não é latim, mas algo mais gutural e brutal. As chamas das velas que ela acendeu antes tremem, mas não vejo ou sinto nenhuma brisa em lugar nenhum. A cada palavra rosnada, a luz na igreja fica cada vez mais fraca, como se o sol tivesse se posto e a lua tivesse esquecido de nascer. Tudo parece antinatural e alarmante, todos os pelos do meu corpo, arrepiados em rejeição a essa atmosfera rastejando ao meu redor. Jamie deixa cair a lebre, o corpo mais um dano colateral que foi usado e agora esquecido em sua loucura. Seu canto fica mais animado. Posso ouvir o apelo nele, e percebo o que ela está fazendo. Ela está convocando. Cada marca em seu corpo começa a brilhar em brasa. Posso até ver aquelas que deveriam estar escondidas sob as roupas quando começam a chamuscar o tecido que as cobre. Ela é mais marcas de demônio do que pele, e estou horrorizada com o que vejo. O medo sobe pelo meu corpo enquanto uma névoa negra começa a se formar em torno dela. A estupidez do que ela está fazendo é de outro nível, mas está claro que ela está além de se importar. Cerro a dor que me atinge quando magicamente alcanço o pó de osso que abandonei na minha cela antes. Eu chamo isso para circular ao meu redor e infundi-lo com o máximo de proteção que posso antes que meu corpo sucumba à dor. Ofegante pelo esforço, ajoelho-me dentro do meu círculo antes que minhas pernas fracas possam ceder. Olho para Elon, esperando que ele tenha alguma maneira de se proteger do que quer que Jamie esteja puxando aqui. Ele está encolhido no canto entre sua parede e as marcas do demônio que o prendem, seus olhos fixos em nada como se ele soubesse o que estava por vir e não tivesse nenhum interesse em ver. Deveria ter interpretado isso como minha deixa para desviar o olhar, mas, em vez disso, cometo o erro de olhar para a mulher que nos mantém cativos. O choque passa por mim enquanto a nuvem negra ondulando ao redor dela toma mais forma. Não sei o que espero, chifres, asas, apenas um ser normal de aparência humana, mas não estou realmente preparada para o que parece ser o monstro de fumaça totalmente formado de FernGully12. Bem, se é que aquele monstro de fumaça fez você congelar de medo e lutar para não mijar nas calças. A espessa e acre fumaça/ser penetra na boca de Jamie, empurrando sua cabeça para trás com brutalidade implacável e forçando-a a suportar o que parece ser uma invasão dolorosa. Ele escorre por sua garganta, e vejo enquanto ela engasga e tosse com a presença. Lágrimas escorrem pelo seu rosto enquanto ela inala o mal, e estou enojada com o alívio que vejo em seu rosto quando a coisa é totalmente consumida por ela. Ela se contorce e geme e começa a se esfregar enquanto mais fumaça espessa começa a se mover sobre ela, tocando e testando e fazendo suas marcas de demônio queimarem como explosões solares. Olho para longe quando a escuridão mergulha em suas calças, não querendo mais dessa merda fodida queimada em minha mente do que já está. Os símbolos no chão ao meu redor começam a brilhar assustadoramente, e os vejo como se fossem uma cobra prestes a atacar a qualquer momento. Os gemidos de Jamie começam a se transformar em choramingos, e então seus gemidos se transformam em gritos. Traço a linha quase invisível de poeira de osso ao meu redor e tento pensar em tempos mais felizes para bloquear o som de sua dor. Talvez tenhamos sorte e qualquer demônio com o qual ela está fazendo um acordo acabará com ela de uma vez por todas. Há uma onda de poder contaminado que sai da frente da igreja e, de repente, tudo fica quieto. Olho contra o meu melhor julgamento, mas não há nada lá. Jamie e tudo o que ela convocou aqui se foram. As velas ainda estão acesas e a bolsa que ela carregava permanece no altar, mas Jamie, a fumaça e a lebre morta se foram. Fico em silêncio por um tempo, olhando ao redor como se a psicopata fosse sair de um canto escuro ou algo assim. Nada acontece. A luz na igreja aumenta ligeiramente, e os símbolos queimados no chão escurecem e desbotam até ficarem novamente negros. O alívio passa por mim. Eu não estou morta. Não fui torturada ainda, mas o que aconteceu me deixa inquieta pra caralho. “Que raio foi aquilo?” Pergunto, embora tenha quase certeza de que já sei. Nunca pensei que isso seria algo que testemunharia. Sempre fui ensinada que você não mexe com algumas entidades no mundo mágico, e demônios são uma delas. Obviamente, ninguém ensinou essa lição a Jamie, porque a idiota simplesmente convocou um demônio e foi a algum lugar com ele. Parece que Jamie perdeu o episódio da Oprah nunca deixe que eles te levem para um segundo local também. Não há como isso ser bom para ela, o que significa que isso não pode ser bom para nós. “Era Jamie recarregando as baterias,” Elon oferece, seu tom assombrado. “Aquilo estava fazendo o que eu acho que estava fazendo com ela?” Pergunto e de repente desejo que não tivesse. Há algumas coisas que simplesmente não quero saber. Elon felizmente não responde. A sala cheira a magia suja, desespero e enxofre. Enterro meu nariz na curva do meu braço para tentar bloquear o cheiro, desejando poder quebrar uma janela. Gaguejo em silêncio e tento entender o que levaria uma pessoa a isso. “O que vai acontecer agora?” Pergunto, minha voz quase um sussurro. Odeio a sugestão de desesperança que ouço nisso. Digo a mim mesma que preciso lutar, para permanecer forte, mas estou além do gasto físico e magicamente, e não estou aqui nem há um dia. Como Elon sobreviveu tanto tempo sem perder a cabeça? Ele fica em silêncio por tanto tempo que acho que ele não vai responder. “Ela vai voltar,” ele me diz, quebrando o silêncio pesado. “E quando ela fizer, todos nós desejaremos que ela não tivesse feito isso,” ele acrescenta enigmaticamente, mas não é difícil descobrir o que ele quis dizer. Quando ela voltar, um ou todos nós vamos morrer. Meu coração começa a martelar no meu peito. Posso dizer a mim mesma que vou lutar, que não vou desistir, mas e se não for o suficiente? Quem sabe o quão forte ela será quando voltar ou do que será capaz? Sim, sou uma Osseous, mas quem sabe que porra Jamie é? Como faço para lutar contra isso? Puxo meus joelhos para o meu peito e descanso minha cabeça nos picos ossudos. Internamente, luto contra o desespero que está tentando se afundar em mim. Penso em minha tia Hillen e em como ela me abraçou quando criança. Ela me acariciava e alisava meu cabelo com a mão. Ela cantava para mim uma de suas canções favoritas, e então eu implorava que cantasse a minha favorita até que ela me fizesse cócegas e finalmente cedesse. Caio na memória como se fosse uma pilha de cobertores quentes, deixando-me confortar e me acalmar de todas as maneiras que preciso desesperadamente agora. Começo a cantarolar baixinho “Savage Daughter,” a letra saindo da minha alma e fortalecendo minha vontade. Penso em meus ancestrais e nas provações e tribulações por que passaram e sobreviveram. Me sinto tão brutalmente solitária, mas enquanto cantarolo, ressoando com a mensagem da canção assustadora que foi minha canção de ninar favorita quando criança, sei que nunca estarei realmente sozinha. Não quando o amor da minha família - aqui e os que já partiram - está lá para me guiar. Abro os olhos para encontrar Elon me observando. Ofereço a ele um meio sorriso enquanto continuo a cantarolar minha melodia, cada verso e refrão um bálsamo calmante para minha esperança dilacerada. Algo atinge meu pé e recuo para longe. Se houver malditos ratos aqui além de demônios e bruxas malucas, acho que oficialmente vou perder a cabeça. Uma garota realmente não pode aguentar tudo isso. Olho e encontro um pacote aberto de digestivos vermelho e azul balançando aos meus pés. Olho para cima para encontrar Elon perto da borda de sua jaula, me observando. “Eles têm gosto de biscoitos graham13,” ele me informa sem jeito. “Ela não faz nada com eles, eu tenho os comido desde que cheguei aqui e ainda não fui envenenado por nada além de muita fibra.” Pego o pacote e vejo as informações nutricionais. “Esses biscoitos têm fibra?” Eu pergunto distraidamente, e Elon ri e balança a cabeça. “Eu não sei, só estava tentando fazer você parar de cantar. A promessa de morte por um demônio do mau é uma coisa, mas me recuso a ser torturado por esse nível de desafinamento. Até eu tenho meus limites,” ele fala sem rodeios, mas há um brilho atrevido em seus olhos. “Vai se foder, eu tenho uma voz linda,” contraponho, fingindo estar ofendida, mas grata pelo gesto que ele está fazendo, no entanto. “Desafinada e humilde também! Bem, acho que ganhei na loteria das colegas sequestradas,” ele brinca, e balanço minha cabeça e pego o meio pacote de biscoitos. “Pshhh, você sabe que sim,” declaro. “Você vai cantar uma música diferente quando eu descobrir como nos tirar daqui,” o provoco de volta, mordendo o híbrido de biscoito e bolacha marrom que alguém decidiu chamar de digestivo. Sim, isso nunca fará sentido para mim. Olho para o biscoito na minha mão interrogativamente enquanto o gosto se espalha pela minha língua. Ele tem razão. Tem gosto de biscoito graham... tão estranho, mas bom. Enfio o resto na boca como um esquilo se preparando para o inverno, ouço Elon rir baixinho e depois se sentar. “Vou cantar qualquer música que você quiser para o resto de nossas vidas se você puder nos tirar daqui,” ele rebate, a declaração brincando, mas com um fundamento subjacente de tristeza. “Obrigada por isso,” digo a ele, apontando o pacote de comida para ele como se estivesse servindo de testemunha para essa conversa. Eu não achava que estava com tanta fome, especialmente não depois de assistir Jamie matar um animal inocente e, em seguida, praticamente foder um demônio nebuloso na minha frente, mas assim que engulo o primeiro biscoito, devoro o resto, de repente morrendo de fome. Me sinto mal por comer metade da porção de Elon, as estrelas sabem que ele precisa mais do que eu, mas como mesmo assim, grata por sua gentileza. Olho para os biscoitos que joguei para Brianne, mas eles ainda estão lá, intocados e possivelmente invisíveis. Parte de mim quer tentar ajudá-la a superar o que está passando, e outra parte sente que ela conquistou o direito de lidar com tudo isso da maneira que quiser. “Será que a lunática vai nos trazer água?” Pergunto enquanto engulo uma saliva grossa que parece ter ficado presa no meu esôfago. Elon encolhe os ombros e solta um suspiro profundo. “Ela já nos trouxe garrafas antes, mas quem sabe o que ela vai fazer agora? Se ela realmente está planejando nos matar amanhã à noite, provavelmente não vai se incomodar.” Suas palavras me deixam ainda mais sedenta, e me esforço muito para não pensar nisso. Faço mímica de beber um copo d'água, como se isso fosse de alguma forma enganar meu cérebro, mas aparentemente não dou crédito a meu cérebro, porque ele não é enganado. “Você acha que é a linha de origem?” Pergunto, um pouco do nada. Tenho quase certeza de que não, mas de repente quero saber o que ele pensa. Talvez ele também se sinta como um floco de neve especial, e o que experimentei realmente é normal. Talvez eu esteja lendo tudo errado. Meus instintos reviram os olhos e lançam palavras como você está em negação e você não é aquela bruxa que estava apenas dizendo a alguém para sempre confiar em seu instinto? Ignoro os pontos muito válidos dos meus instintos e examino Elon enquanto espero que ele responda. “Pode ser,” ele afirma casualmente, pontuando suas palavras com um meio encolher de ombros. “Como qualquer um de nós saberá se somos?” ele faz uma pose, e respondo com meu próprio encolher de ombros, embora minhas entranhas estejam levantando ansiosamente a mão e gritando Oh, eu sei, eu sei! Olho para o invólucro de digestivos agora vazio. O estudo por um momento, me perguntando se há uma maneira de transformá-lo em algum tipo de arma. Eu era matadora no origami nos meus dias de dobrar bilhetinho no ensino médio, mas de alguma forma, transformar este embrulho em um coração ou uma flor não é exatamente o que estou procurando. “Você por acaso sabe dobrar uma estrela ninja?” Questiono, segurando o invólucro e apontando para ele. Elon me olha duvidoso. “Mesmo se eu fizesse, qual é o seu plano, fatiá-la até a morte com plástico?” ele provoca. “Não, idiota, pensei que poderíamos jogar um jogo com ele, mas se você vai ser assim, vou apenas me divertir,” rosno, atirando-lhe um olhar feroz. “Você simplesmente não desiste, não é? Você realmente acha que vai sobreviver a isso, apesar de todas as evidências do contrário?” “Quer dizer, eu realmente só estava tentando passar o tempo, mas sim. Acho que vou descobrir algo. Estou descobrindo que sou uma bruxa bastante otimista. O que posso dizer, sou corajoso e essas merdas. Não se preocupe, isso vai crescer em você,” digo a ele com confiança. “Além do mais, não podemos ficar todos sentados chafurdando na miséria, derrubando a esperança de todos como se fosse um daqueles jogos de balão na feira local,” rebato com um olhar que diz, aceitei em cheio na sua vibração e você sabe disso. “Ah sim, otimista do copo meio cheio idiota que não pode ver o que está acontecendo até que ela esteja no altar, coberta de sangue enquanto a ex-bruxa tira sua magia dela. Quanta liberdade,” Elon zomba, mas não há nenhum veneno real nisso. “Por favor, não fale sobre copos, cheios ou não, estou com muita sede para ser responsabilizada pelo que posso fazer,” advirto-o. Ele levanta as mãos em sinal de rendição e aceno com a cabeça em aprovação. Me pergunto qual é a palavra para alguém que está com tanta sede que fica com raiva? Sedaiva? Raivede? Bufo, pareço uma idiota, mas só quero um pouco de água, porra! As portas da igreja se abrem. Me dou um tapinha nas costas por não pular da minha pele neste momento. O barulho saiu do nada, mas me segurei. Parabéns para mim. Estou chocada ao ver Jamie. Achei que ela demoraria muito mais tempo, sabe, com toda aquela porra de nevoeiro infernal. Acho que até os demônios podem ser idiotas de duas bombadas e já gozar. Rastreio Jamie enquanto ela pisa de volta para a igreja, e me pergunto se ela tem outras configurações além de pisar e marchar. Ela não olha na minha direção quando passa por mim, e tenho um vislumbre desobstruído de sua mais nova marca de demônio. Meu estômago embrulha ao ver o símbolo dentro do círculo queimado na lateral de sua cabeça. Os fios ressecados de suas tranças agora sumiram do lado de seu mais novo adorno demoníaco. Tufos de cabelo derretidos grudam na ferida que goteja e me encolho quando ela passa por mim. “Você está pronta, Leni?” ela provoca, sua voz quebradiça e louca. Não sei exatamente o que aconteceu com ela enquanto ela estava fora, mas é óbvio que ela precisa descontar um pouco da raiva em outra pessoa, e parece que esse alguém vai ser eu. O medo enxameia através de mim como uma colmeia mortal de abelhas. Minha adrenalina entra em ação para neutralizar isso e minhas mãos começam a tremer. Eu mal tenho tempo para pensar em um plano antes de Jamie rosnar: “Delio.” Recuo, esperando que a magia do demônio se envolva em torno de mim e me force a cumprir as ordens de Jamie, mas ela não vem. Em vez disso, Brianne é arrancada de sua gaiola perto da frente da igreja e arrastada selvagemente escada acima do estrado e fixada na superfície do altar. A Osteomante não faz barulho, não grita nem emite nenhum ruído de objeção, e não sei o que é mais traumatizante de assistir, alguém que luta e perde ou alguém que desiste desde o início. Quero desviar o olhar, mas não sei se consigo. E se eu perder algo e for a diferença entre a vida ou a morte quando for a minha vez de ser arrastado para cima? Jamie caminha com confiança até o estrado e começa a remexer na sacola que trouxe e deixou enquanto estava fazendo sabe-se lá o que barganhando por mais poder. Um brilho prateado de metal atrai minha atenção, e vejo Jamie puxar uma arma da bolsa e colocá-la na parte de trás de seu jeans. Em seguida, ela puxa uma grande tigela de ouro e uma faca de aparência cruelmente afiada. O que parece ser um grande saco Ziploc é puxado de dentro do pacote e, quando Jamie o abre e despeja o conteúdo na tigela, de repente me sinto enjoado. Como isso está acontecendo? Sinto que estou experimentando a vida em avanço rápido. Tudo o que quero fazer é apertar o botão de pare, mas estou me inclinando para um trauma do qual você simplesmente não se recupera em uma velocidade vertiginosa e não há nada que eu possa fazer a respeito. O olhar de Jamie brilha sombriamente, e me pergunto se ela purgou o demônio que forçou seu caminho dentro dela ou se ele está aqui, assistindo o show com seus olhos. Brianne não se move ou luta de forma alguma, e não posso dizer se ela está sendo forçada a não reagir por magia contaminada que a está prendendo ou se ela realmente não se importa. Eu vou com a última opção, porque a julgar pela expressão desagradável no rosto de Jamie, ela não é fã da falta de reação. Ela se inclina para mais perto de Brianne e pergunta: “Você sabe o que tenho na tigela para você? Eu guardei especialmente para este momento. Você não está curiosa?” ela pergunta ansiosamente, como um predador zombando de sua presa. “Este é o coração do seu marido,” Jamie provoca barbaramente, derramando o conteúdo da tigela, a expressão em seu rosto é malévola. Quero gritar com ela, mas também não quero piorar as coisas para Brianne de alguma forma, ou para mim. Cubro minha boca com minhas mãos e fecho meus olhos contra a visão do olhar amortecido da bruxa. Não tenho a ilusão de que Brianne não ouça cada palavra ou de que de alguma forma sua psique se tenha fraturado o suficiente para permitir que ela escape dessa tortura. Não. As lágrimas escorrendo pelo rosto são uma indicação inabalável de que ela ainda está lá. Eu quero ficar com raiva, implorar a ela para lutar, fazer tudo que posso para fazer isso parar, mas quando invoco minha magia, a dor me derruba violentamente no chão. Ofegando com o choque e exigindo que meu corpo me dê mais, tento novamente enquanto Jamie começa a cantar. 14
Grito com fúria impotente enquanto ela pega a faca que
tirou de sua bolsa. Mas quando ninguém invade a igreja para impedir isso, quando o destino se recusa a intervir, imploro que seja rápido, para poupar a casca de uma bruxa de mais sofrimento do que ela já passou. Mas então a gritaria começa. Desvio o olhar, não sendo capaz de suportar mais a brutalidade. A raiva coagula meu sangue, e gostaria de poder arrancar minhas orelhas. Apesar dos esforços de Brianne para desistir, seu corpo assume o controle, forçando-a a tentar sobreviver, embora esteja claro que ela não tem chance. Sua alma está ferida e estilhaçada além do reparo, e ainda assim a cadela demônio extrai a dor e se deleita com o sofrimento. Lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto sons e cheiros me assaltam. Imploro ao mundo para fazer isso parar. Não sei o que esperava com todos os seus delírios e loucuras. Eu vi a prova do quão longe ela está disposta a ir marcada em todo o seu rosto, e ainda assim minha bunda estúpida não viu chegando a selvageria desumana que está acontecendo agora. A luz é sugada para fora da sala e os gritos finalmente param. Percebo que estou encolhida no chão com as mãos nos ouvidos, chorando e tentando não ouvir mais. Mas o silêncio... o silêncio é quase pior. Sei o que isso significa, e me odeio por apenas sentar aqui e deixar acontecer. Não lutei com força suficiente, não encontrei a brecha ou tentei dissuadir Jamie do que estava fazendo. Como cheguei aqui? Ah, certo, eu estraguei tudo e agora vou pagar para sempre o preço pela minha própria estupidez. Sombras se aglutinam ameaçadoramente ao meu redor, correndo para a frente da igreja como se estivessem ansiosos para ser os primeiros na fila para algo, mas não ouso olhar para ver o que está acontecendo. Um murmúrio cantante começa a se formar, o som ricocheteia nas superfícies de pedra do interior desta igreja amaldiçoada. O calor é roubado de meus próprios ossos e, em seguida, do nada, em um flash de luz e dor, algo bate em mim por trás. Sou atingida por uma força poderosa o suficiente para curvar minhas costas e me levantar do chão enquanto ela atira através de todas as minhas células, destruindo e reconstruindo tudo o que sou simultaneamente. A dor é lancinante e insuportável, e sou incapaz de respirar, gritar ou mesmo pensar em por que ou pare. O frio queima por mim, e vozes desencarnadas soam em todas as direções ao meu redor. Imagens passam pela minha mente, rostos que não reconheço, leituras que nunca fiz. Ossos. Tantos ossos sagrados virando pó em minhas mãos. O poder reforça todos os meus átomos. Então, tão rapidamente quanto o poder veio queimando tudo que eu sou com seu toque frio, ele se foi. Caio de volta no chão de pedra, meu corpo estalando com o impacto. Eu pego um vislumbre de Elon enquanto anda, olhando para mim com os olhos arregalados e cheio de horror e conhecimento. Minha respiração difícil é uma nuvem de gelo, soprando para dentro e para fora a cada inspiração e expiração subsequente. Minha bochecha está grudada no chão de pedra sujo, e me lembro de outra vez em que fiquei deitada assim. Só que estava no chão do meu apartamento logo depois que selei os ossos pela primeira vez. Pensei que fossem meus ancestrais dando tapas na minha bunda ingrata, mas agora sei que era muito mais do que isso. Reverência e pavor se acumulam em minhas entranhas em igual medida. Posso sentir a força dos ramos agora fortificados da magia dos ossos em minhas veias, mas também posso sentir o olhar faminto da psicopata louca que quer separá-lo de meu corpo. Um gemido de dor me escapa e terei que falar com meu corpo sobre os ruídos que ele pode fazer em face do perigo. Nós realmente precisamos descobrir sons muito mais intimidantes e durões para expressar quando estamos com dor. Um grito animado vem de algum lugar atrás de mim. “Oh, Elon, e aqui estava eu pensando que seria você. Seu pequeno covarde astuto. Típico de um Kendrick afirmar ser o melhor quando na verdade são os vermes se alimentando das pilhas fumegantes.” Jamie ri como se essa notícia fosse a melhor que ela já recebeu. Você pensaria que ela acabou de ganhar na loteria com a diversão e empolgação que ela exala agora. Ainda estou literalmente congelada no lugar e não consigo ver onde Jamie está. Sou forçada a esperar meu corpo descongelar com a onda de poder que acabou de atingi-lo, e tento muito não pensar sobre de onde veio todo esse poder. Todo esse tempo, estive me perguntando o que o sequestrador queria tanto com as Bruxas de Almas quanto com as Bruxas de Ossos. Eu odeio saber a resposta para essa pergunta agora. O marido de Brianne era um Bruxo de Almas, e Jamie apenas usou seu coração e seu sangue para tirar a magia de Brianne. Tenho certeza de que o coração e o sangue da outra Bruxa de Almas desaparecida tiveram o mesmo destino. Quantos deles ela matou para destruir todas as bruxas de ossos que ela pegou? Fico revoltada em saber que o sangue de uma bruxa torna possível a violação mágica da outra, mas o que realmente me deixa doente é que posso sentir o quanto sou mais forte por causa disso. Não sei como vou me livrar desse sentimento que me sussurra que estou contaminada por dentro, que estou suja por causa do que Jamie fez. Como posso viver com esse poder, sabendo o que aconteceu com as bruxas de quem foi roubado? Lágrimas escorrem pelo meu rosto e um soluço começa no meu peito. A risada de Jamie abafa os sons de minha dor avassaladora, sua alegria derramando sal em minhas feridas frescas e dolorosas. “Então é você. Você é a fonte,” ela ronrona, viciosamente divertida de algum lugar acima de mim. “Eu estava convencido de que seria o nosso Príncipe Kendrick, mas não, ele é apenas um impostor, o vidro andando por aí como se fosse um diamante.” Meu dedo se contrai involuntariamente, sinalizando que a sensação nas minhas extremidades está voltando. Foco toda a minha atenção no inferno de construção fervendo em minha alma. “Eu deveria saber que era você. Por que dar tudo a um príncipe de vidro quando uma rainha estava em nosso meio o tempo todo? A maneira como sua avó lutou deveria ter me avisado, mas agora nós sabemos, não é, Lennox?” ela declara, sua voz mais perto do meu ouvido do que antes. Alarmes estão soando dentro da minha cabeça, não por sua proximidade doentia, mas por suas palavras. Esta é a segunda vez que ela se refere à minha avó, como se ela estivesse lá quando... Me afasto da direção dos meus pensamentos. Não. Isso não é possível. Os necros falaram que foi de causa natural, essa vadia só tá tentando foder comigo, entrar na minha cabeça. “Você sabe, pensando bem, ela parecia um pouco assim quando eu parei sobre ela e a observei morrer,” Jamie me diz, e fecho meus olhos e tento bloquear suas palavras. Ela está mentindo. De jeito nenhum ela estava lá, eles teriam percebido. “Ela tinha o mesmo fogo raivoso em seus olhos, mas seu corpo simplesmente não conseguia acompanhar. Ela apenas ficou lá, segurando o peito e ofegando por ar, seus olhos prometendo uma vingança que seu corpo nunca a deixaria entregar. Envelhecer é uma merda.” Ela estala, e sinto como se alguém estivesse enfiando um picador de gelo no meu coração. A agonia começa a invadir minha alma com suas palavras. A verdade se infiltra nas rachaduras e fraturas que ela está criando, e quero desligar tudo isso. Quero parar de sentir. Não imaginar este pesadelo hediondo sobre minha incrível e amorosa avó enquanto seu coração falhava. Um soluço borbulha do meu peito, mas eu o silencio. Não, não apenas seu coração... Eu também falhei com ela. A voz de Jamie me penetra como arame farpado, a alegria que ela está recebendo com essa revelação como ácido no meu coração. “Colocou uma verdadeira pausa no meu plano, devo dizer. Se o coração da velha não tivesse cedido, eu já teria o que queria, o que me é devido, mas não, eu tinha que esperar para ver quem seria o próximo da fila. Quase levei sua prima, sabe, a certinha de cabelo bonito. Quando ela apareceu e tirou coisas do apartamento, quase me precipitei. Boa coisa que ela estava reclamando em voz alta sobre a peça indigna de merda que de fato recebeu os ossos, ou eu teria perdido meu tempo ao matá-lá. Mas ainda era tentador.” Minha mão se contrai involuntariamente, e mais e mais a cada segundo que passa, posso sentir o chão de pedra contra minha pele. Algo está cutucando meu lado de maneira desconfortável, e espero estar deitada sobre um fragmento de crânio de pássaro e não algo pior como minhas costelas quebradas. Não sinto calor acumulado em volta do meu torso ou qualquer coisa que me faça pensar que estou sangrando. Quero respirar fundo em meus pulmões para testar se há lesões, mas não quero deixar transparecer que posso estar me recuperando mais rápido do que ela espera. Só preciso que ela continue falando. “Eu quase te peguei. Estava a segundos de seguir você até sua loja, mas o irmão daquele ali, teve que enfiar o nariz onde não pertence.” Eu não posso vê-la, mas posso senti-la agachada sobre meu corpo inclinado, e posso imaginar que ela está gesticulando em direção a Elon enquanto fala sobre Rogan aparecendo na loja naquele dia. Ele estava certo. Eu era a próxima. O rosto de Rogan sobe à superfície de minha mente, assim como a maneira como me senti na primeira vez que pus os olhos nele. Ele me disse que foi puxado para a minha órbita, mas realmente acho que o oposto é a verdade. Fui sugada por sua atração gravitacional desde o início, só não sabia que era um caso perdido até aquela manhã na cozinha quando seus lábios tocaram os meus e nos tornamos mais, quer um de nós quisesse admitir ou não. Jamie continua falando, mas não a ouço mais. Não preciso ouvir como ela me caçou, como o feitiço que quase matou Tad foi seu trabalho, ou como cheguei perto de estar nessas celas há muito tempo. Em vez disso, concentro-me no plano. Eu me concentro no fato de que essa vadia assassina está na minha cela. Ela está certa, eu tenho o mesmo fogo em meus olhos que minha vovó Ruby, mas meu corpo... está bem pra caralho. De forma imperceptível, coloco a mão embaixo de mim e aperto o punho em torno do pedaço afiado de crânio em que estou deitada. Jamie ainda está falando, e posso sentir que ela ainda está perto. Não viro minha cabeça para avaliar exatamente onde, no entanto, terei que fazer isso às cegas para não a avisar. “Oh, isso vai ser lindo. Primeiro, vou brincar com Elon, e depois seremos você e eu, Rainha Osseous,” ela exclama ansiosamente. Ah é? Brinque com isso, sua boceta estúpida. Não querendo perder mais um segundo, bato minha mão para trás e para cima. Sinto o caco de osso afundando dentro dela, e só posso esperar que a tenha acertado no pescoço e posso acabar com tudo isso mais rápido do que começou. Mas quando olho para trás, descubro que não está em sua garganta, enfiei o osso em seu olho. Antes que ela pudesse gritar, eu a bato com uma onda de poder. Eu quero esmagar seus ossos e ferver seu sangue até que não haja mais nada dela. A magia colide com ela com tanta força que um estalo estrondoso explode ao meu redor. Jamie grita quando minha magia começa a eviscerá-la, mas a força disso a joga para fora da minha cela e a joga contra a parede oposta. Assim que meu pulso de magia atinge as marcas de demônio, ele é arrancado de Jamie e empurrado de volta para mim em um flash de dor lancinante. Dói, parece que cada célula está pegando fogo, mas não vou mais me curvar a isso. Posso me forçar a suportar a dor. Jamie desaba em cima dos bancos sujos empilhados, e não posso dizer se ela está apagada ou machucada demais para se mover. Por mais que eu queira, não posso me permitir acreditar que ela está morta, apesar de tudo dentro de mim esperar que tenha sido tão fácil. Tento ir até ela, mas quando tento passar pelos símbolos no chão, sou jogada para trás e violentamente martelada com dor, assim como da primeira vez que tentei cruzá-los. Eu cerro os dentes, sabendo que não vai durar. Sinto o gosto de sangue de onde acidentalmente mordi minha língua, e trabalho para soltar minha mandíbula antes de morder mais alguma coisa. A agonia diminui, e me viro para ver Jamie se movendo tremulamente. Seu braço está definitivamente quebrado e pendurado deformado ao lado do corpo. O sangue jorra do osso ainda alojado na órbita do olho, e ela grita e choraminga enquanto tenta se levantar. Rosno de frustração, lívida comigo mesma por não ter causado mais danos. Eu bati nela com muita força e muita rapidez. Em vez da magia afundar nela como deveria, isso a tirou da minha cela, onde a porra das marcas tiraram a magia dela. Testo minha teoria empurrando outro pulso de magia, e com certeza, a barreira ao meu redor o impede de ir a qualquer lugar. Porra! Acabei de estragar a melhor chance que provavelmente vou ter. Ela não vai voltar para a minha cela, ela não vai arriscar que eu alcance meu objetivo na próxima vez. O pior é que esse dano provavelmente não vai durar. Mais algumas marcas de demônio e ela ficará perfeita como a chuva. A fúria cresce dentro de mim, e só quero gritar e me enfurecer e derrubar as paredes deste pesadelo ao meu redor. “Sua puta estúpida!” Jamie berra, enfurecida, seu olho verde-azulado cruel cheio de fogo e ódio. Ela cospe uma palavra demoníaca que com certeza pretendia me derrubar, mas em vez de sua magia emprestada vir para mim, ela começa a gritar de agonia e cai no chão. Fico olhando para ela como um animal selvagem, esperando meu tempo até que eu possa chegar perto o suficiente para dar um golpe. Ela choraminga e, trêmula, se levanta do chão com a mão boa. “Venha aqui, Jamie, deixe-me consertar isso para você,” provoco, meu olhar predatório focado nos ângulos errados de seu braço. “Ou você é muito vadiazinha para ficar cara a cara com um de nós?” Eu a cutuco, esperando poder irritá-la o suficiente para cometer outro erro. “Venha aqui, deixe-me mostrar a você do que uma Bruxa de Ossos realmente é capaz.” Ela me encara com raiva quando finalmente se levanta. “Quantas vezes um pedaço de merda inútil pode vender a alma, hein, Jamie?” Exijo. “Eles não estão ficando cansados de financiar nada além de uma lixeira de porra?” Grito impiedosamente, e ela fica cada vez mais lívida. “Você disse ao seu demônio que um dia seria toda poderosa? Que sua alma valeria a pena? Aposto que eles estão repensando essa troca inútil, provavelmente rindo muito enquanto assistem você se foder uma e outra vez e implorar para que eles te consertem.” “Cale a boca, porra,” ela rosna para mim, mas sabiamente ela não fecha a distância entre nós. “Você se acha grande merda, mas quem está na gaiola, Osteomante? Quem te colocou aí?” Ela grita comigo. “Seu demônio fez,” grito de volta. “Esta não é você,” grito para ela enquanto aponto para o chão. “Nada disso é sua magia. Você se vendeu por isso, quem é a porra da puta aqui? Com certeza não sou eu, sua vadia estúpida. Você acha que pode pegar o que não é seu? Bem, foda-se. Eu preferia morrer do que dar a você o que você não merece.” Jamie ri, e isso salta dentro da igreja como sinos desafinados. “Seja uma vadia egoísta. Por favor, saia. Eu adoraria nada mais do que caçar o resto da porra da sua família e sangrar todos eles até que eu receba o que me devem.” Rosno de frustração e bato minhas mãos contra a barreira que nos separa. A dor se refrata através do meu corpo, mas permaneço no lugar, olhando para Jamie, uma promessa de matá-la acesa em meu olhar firme. Seu sorriso não vacila. Apesar de seus ferimentos e do sangue gotejando constantemente em seu rosto, a insanidade fluindo em suas veias a faz ter certeza de que vai vencer. Acho que descobriremos em breve qual de nós está certa. Jamie se esforça para chegar ao estrado. Eu a vejo enfiar a tigela de ouro e a faca ensanguentada na bolsa e então, um por um, mancando para cada vela para apagá-las. Posso dizer que a dor que ela está sentindo é insuportável, mas não me deixa menos presa aqui ou me faz me sentir melhor. Ela tenta usar um encantamento, mas acaba apenas em seus gritos de agonia, já que a magia de alguma forma funciona contra ela. Observo cada movimento dela e me pergunto se isso tem algo a ver com suas marcas, como se talvez estivessem agindo como as gravuras que não nos deixam usar nossa magia. Ela tenta mais três vezes, e a última palavra gritada faz com que um fogo azul exploda todo o corpo sem vida de Brianne. Em menos de um minuto, os restos da Osteomante e todo o sangue e partes do altar se transformam em cinzas. O cheiro é nauseante e tenho certeza de que vai assombrar meus pesadelos se eu conseguir sair daqui. Trago a gola da minha camisa para cobrir meu nariz e boca para ajudar a diluir o cheiro, e quando olho para Elon, ele está encostado na parede, com sua camisa enrolada em seu rosto também. Jamie não faz nada para consertar suas feridas, ela nem mesmo tenta puxar o osso de coruja de sua órbita. Ela enrola um lenço sujo em volta dele para enxugar o sangue, e espero silenciosamente que ela contraia uma infecção e morra nas próximas vinte e quatro horas. Eu não acho que Elon e eu teremos essa sorte embora. Silenciosamente observo a mulher louca enquanto ela manca até que o altar esteja livre das atrocidades cometidas nele, e a bolsa de Jamie esteja novamente pronta. Ela a arrasta atrás de si enquanto sai mancando da igreja, as portas duplas deixadas abertas enquanto ela sai. Exalo um suspiro frustrado e ansioso. Amanhã, seremos Elon e eu naquele altar, e por mais que gostaria de pensar que posso dominar essa psicopata, não posso ser estúpida e subestimá-la. Preciso encontrar uma maneira de pará-la ou impedi-la. É hora de parar de brincar e fazer o que for preciso para sobreviver. O que for preciso para sobreviver. 15
Espelho Elon, recostado contra a parede de pedra, uma
perna para cima, com um cotovelo apoiado no meu joelho. Nenhum de nós disse uma palavra. O que podemos dizer? Espero que não morramos amanhã. Em vez de descobrir o que pode fazer toda essa merda parecer menos deprimente, me concentro naquele pedacinho irritante de mim que está conectado a alguém que não está preso em uma gaiola e contando as horas até que tudo acabe. A noite caiu ao meu redor e com ela veio mais um frio cansativo. Felizmente, descobri como aquecer meus ossos e, até agora, a magia não ofendeu os símbolos demoníacos ao meu redor e me deixou chocada. Agora, se eu pudesse conjurar um pouco mais de comida ou, melhor ainda, um pouco de água. Embora talvez seja melhor que eu não o faça. Tenho certeza de que mijar e cagar em um balde na frente de praticamente um estranho é considerado um ritual de união em algum lugar do mundo, mas este não é um episódio de Largados e Pelados, ou pelo menos não ainda - obrigada porra por isso. Fecho meus olhos, fechando Elon e essa igreja de merda, e me concentro na corda. Respiro fundo, sabendo que o que estou prestes a fazer pode foder com minha magia por toda a eternidade. Então, novamente, não é mais apenas minha magia. Além disso, estar permanentemente ligada a Rogan tem que ser muito melhor do que ser amarrada a um altar e assassinada. Estou ciente de que, uma vez que eu fizer isso, provavelmente não haverá como voltar atrás, porque estou prestes a tornar essa corda o mais forte possível com o meu fim. Vou fazer essa conexão o mais clara e hercúlea possível, porque não quero morrer e também não quero que Elon morra. Não sei se vai funcionar como espero, mas é a única coisa que posso pensar em fazer além de sair desta cela e caçar aquela cadela louca. Cruzo tudo que tenho que cruzar e torço que Rogan me sentirá. Que ele pode de alguma forma descobrir como nos encontrar. Debato a melhor maneira de fazer isso, indo e voltando sobre se é ou não possível usar essa conexão como um telefone comum. Realmente espero que onde quer que ele esteja agora, ele possa prestar atenção nisso e que não seja uma distração que possa machucá-lo ou matá-lo. Aqui vai nada. Suavemente, envolvo minha intenção em torno da corda e, em seguida, dou um forte puxão. Eu puxo a conexão, forte, e trabalho para desviar a magia de Rogan para mim. Não pego tudo, não como naquele dia em que a Ordem me interrogou pela primeira vez, mas pego o suficiente para chamar sua atenção. Depois de um momento, eu empurro a corda em vez de puxar, alimentando a magia de Rogan de volta nele e adicionando um impulso extra de algum meu. Lentamente, metodicamente, repito o processo mais duas vezes e então espero. Inclino minha cabeça para trás contra a parede fria e penso naquele dia que Rogan me implorou por sua magia. Eu contemplo a finalidade que senti ao dar a ele o que ele estava pedindo e senti nossas almas dizerem adeus. Isso não aconteceu há muito tempo, mas no estilo típico do Osteomante Osseous, uma tonelada de merda aconteceu desde então, e está me fazendo reexaminar as coisas. Talvez seja a morte iminente falando, mas parte do que aconteceu não parece tão terrível como antes, não parece tão finito quanto o que aconteceu dentro das quatro paredes da igreja em que estou presa. Rogan estava errado. Rogan também lamentou muito. E talvez, ao contrário de minhas crenças anteriores, valha a pena lutar por algumas coisas. Passei muito tempo olhando para o que meu pai fez comigo através de uma lente de abandono e mágoa. Mas enquanto estou aqui sentada, presa em uma gaiola que pode ser o último lugar que eu já vi, percebo que não passei muito tempo olhando para o que ele fez pelos olhos de alguém que realmente entende o amor. Ele amava minha mãe. Ele queria estar com ela. Sim, sofri por causa dessa escolha, mas sei que ele sofreu sem ela por muito tempo também. É apenas uma daquelas coisas que são uma merda, mas talvez não seja tão imperdoável como sempre pensei. Quando nada acontece, começo a puxar e empurrar com a corda novamente. Penso em Tad e em minha tia Hillen enquanto faço isso. Penso em como fui abençoado por tê-los e percebo que preciso contar mais a eles. O resto da minha família vem à minha mente, todas as minhas tias e tios espalhados pelo país, e como é incrível quando estamos todos juntos compartilhando histórias e rindo. Se eu sair daqui, uma reunião de família definitivamente será organizada, talvez até convide Gwen e Magda. Nah, elas ainda são vadias gananciosas. Estou relembrando, não perdendo a cabeça. Nenhum caso de Jamies aqui. Sinto um puxão na alma que me faz sentar e prestar atenção. Prendo a respiração, desejando que a sensação volte. Um segundo. Dois. Três. Acontece novamente, e as lágrimas picam meus olhos quando uma explosão quente da magia de Rogan me enche. Eu luto para agarrar a corda e empurro uma sobrecarga de magia em seu caminho para confirmar que o sinto. Mais magia é jogada em mim, e suspiro de excitação, de repente desejando ler um livro sobre código Morse ou algo assim, porque não tenho ideia de como me comunicar com ele a não ser para mostrar a ele que ainda estou aqui. Não sei se ele pode me rastrear de alguma forma. Acho que ele mencionou uma vez que algumas bruxas ligadas podem, mas não sei como tudo funciona. Eu sabia que deveria ter dormido com ele antes. Talvez nossa conexão fosse mais forte então. Tad vai adorar se eu tiver a chance de dizer que ele está certo. Lição aprendida, sempre pule no pau primeiro e depois faça perguntas. Faço o melhor que posso para envolver meus pensamentos em magia. Concentro-me em onde estou e como é. Penso em Elon estar aqui e mostro o rosto de Jamie para Rogan. Eu revisto tudo isso com magia e, em seguida, envio essa magia pela corrente. Não sei se vai funcionar, mas vale a pena tentar. Envio-lhe imagens de todos e de tudo que possa ajudá-lo a nos encontrar. Eu até envio a ele imagens visuais com magia do que farei por ele se ele nos tirar daqui. Você sabe, um pouco de motivação extra. Não sei quanto tempo fico sentada, trocando poder para frente e para trás, mas eventualmente começa a diminuir e então para completamente. Um estranho vazio cresce dentro de mim com a perda de contato, e tudo que posso fazer é esperar com cada fibra do meu ser que isso seja o suficiente. Que de alguma forma eu fiz algo que trará ele e a Ordem aqui a tempo. Meu estômago ronca com raiva, e olho para ele. “Porra, eu mataria por um Sloppy Joe agora,” resmungo, minha voz cortando o silêncio maligno. Olho para Elon. Suas pernas agora estão esticadas à sua frente e sua cabeça está pendurada como se ele estivesse dormindo. Tenho certeza de que é difícil dormir neste lugar, então deveria deixá-lo com isso, mas agora que preenchi o silêncio sombrio com barulho, acho isso estranhamente reconfortante e não quero parar. “Você sabe que aquele sanduíche tem o nome de um cara de verdade?” Não pergunto a ninguém, como se eu e ninguém estivéssemos tendo uma conversa legítima. “Ele era um cozinheiro ou algo assim, e ele levou o sanduíche de carne moída para o próximo nível com um pouco de molho incrível, e bum, o Sloppy Joe nasceu.” Eu rio como se estivesse respondendo a algo engraçado que ninguém disse. “Eu sei, pedir uma carne moída em qualquer lugar soa como uma insinuação pervertida de beco. Vou totalmente chamar sexo assim agora, só para assustar as pessoas. Sim, baby, me dê aquela carne moída, por favor,” declaro - por algum motivo com um sotaque assustador do Sul. Eu rio, completamente divertida. Ok, talvez esteja enlouquecendo um pouco. “Você pode imaginar se o Sloppy Joe tivesse inventado em algum lugar diferente da América, como se tivesse sido criado em algum restaurante chique no coração de Londres ou algo assim? Não teria como terminar com um nome caipira como Sloppy Joe. Não, comeríamos Untidy Josephs ou algo assim,” declaro com meu melhor sotaque britânico. “Vou querer um Josephs Untidy e ervilhas amassadas,” zombo e, em seguida, mostro minha língua em desgosto. “Quem come ervilhas amassadas depois dos dois anos?” Pergunto, olhando em volta como se alguém fosse me responder. “O que há de errado com você?” Elon me pergunta, irritado, nem mesmo se preocupando em levantar a cabeça e olhar para mim enquanto lança a pergunta crítica na minha direção. Suspiro. “Tantas coisas, quanto tempo você tem?” Brinco, cutucando a cutícula da minha unha, sem me incomodar nem um pouco com seu aborrecimento. “Acabamos de assistir uma bruxa ser assassinada e depois queimada até virar nada, como se a pilha de cinzas resultante fosse a soma de toda a sua existência...” Elon exclama, apontando para o altar e todas as pilhas de cinzas no estrado, cujo as origens, assustadoramente, não são mais um mistério para mim. Me pergunto quantos corpos de bruxas compõem cada pilha cinza, e então afasto essa pergunta, porque não estou tentando fraturar minha mente além do reparo. “Eu sei,” digo a ele sem rodeios, uma pitada de rosnado em meu tom. “Se você sabe, então como diabos você está falando sobre Sloppy Joes como se fosse qualquer dia e pessoas como Jamie não vão ganhar.” “Chama-se compartimentalização, Elon. Vou ter que resolver toda essa merda no aconselhamento mais tarde, mas agora tudo o que estou tentando fazer é não perder a cabeça antes que a ajuda chegue.” Elon solta uma risada sem humor e levanta seus olhos verdes para os meus. “Você não entendeu? Ninguém. Está. Vindo. Estamos no meio do nada com uma psicopata que planejou tudo isso durante a maior parte de sua vida. Não vamos sair daqui vivos.” Com essa atitude, você não vai mesmo, passa pela minha mente, mas mordo minha língua antes que possa dizer isso e soar exatamente como minha Vovó Ruby. “Talvez não,” concordo solenemente, e depois de um segundo acrescento, “mas não vou passar o dia de amanhã pensando em como não vou conseguir. Vou falar sobre merdas estranhas e espero que de alguma forma eu possa descobrir uma maneira de sair dessa até que a porra da faca esteja no meu coração e pare de bater. E mesmo assim, vou assombrar aquela vadia. Se ela pensa que vai se safar com isso, ela tem outra coisa vindo,” digo a ele com firmeza. Ele balança a cabeça, embora eu não perca a sugestão de um sorriso que puxa um lado de seus lábios. “Então, Elon Vesúvio Kendrick, conte-me seu segredo mais profundo e sombrio,” desafio de brincadeira. Ele zomba e revira os olhos. “Meu nome do meio não é Vesúvio...” “Bem, deveria ser, mas isso não é nem aqui nem lá. Pare de enrolar. Vamos, conte... e não me venha com o papo de eu voltei dos mortos, eu quero a fofoca real e suculenta,” provoco com o meneio de uma sobrancelha. A igreja fica em silêncio por um momento e Elon se aproxima de sua barreira. “O que você acabou de dizer?” Ele pergunta, seu tom mortalmente calmo, mas seus olhos cheios de advertência. Olho ao nosso redor e decido, já que Jamie não acabou de invadir e falar, disse o quêêêê, que estamos bem para falar sobre isso. “Eu não mencionei que Rogan me falou sobre isso? Foi mal. Sim, eu sei disso. Então, vou precisar que você cave um pouco mais fundo em seu cofre de segredos, ooookay?” Elon me observa como se não soubesse o que fazer com nada do que está acontecendo. “Por que... por que ele diria isso a você?” ele pressiona, e tento não levar a questão para o lado pessoal; está claro que isso não é algo que seja compartilhado em reuniões amigáveis, não importa quanto vinho esteja envolvido. Eu respiro fundo e o estudo. “Honestamente, não sei. Eu perguntei tecnicamente a ele, e exigi que ele me dissesse a verdade, mas não sou tão cheia de mim para pensar que é tudo o que preciso para tirar esta verdade de Rogan,” explico com um pequeno encolher de ombros. Elon me olha como se essa informação mudasse tudo. Quase posso ver um peso sendo retirado de seus ombros e posso imaginar que ele está preso em sua cabeça, preocupado com o que acontecerá se ele voltar dos mortos novamente, ou pior, e se ele não voltar? “Vamos lá, vamos ouvir, o que você nunca disse a ninguém?” Desafio novamente, convidando alguma leviandade para quebrar o peso do que acabou de acontecer. Elon se perde em pensamentos por um momento, e espero que ele esteja pensando em uma resposta em vez de se perder em sua própria cabeça novamente. “Honestamente, não sei. Fica mais profundo ou mais escuro do que parece que você já sabe? Eu sinto que fui condenado ao fracasso. Qualquer história da barra de chocolate que roubei e nunca confessei empalidece em comparação com meu irmão e eu sobrevivemos à morte e não temos ideia de como isso aconteceu.” Solto uma risada. “Sim, suponho que seja verdade,” admito. “Tudo bem, se você pudesse comer qualquer coisa agora, o que seria?” Elon geme e esfrega a barriga. “Nesse ponto, eu comeria quase tudo. Mas um enorme hambúrguer caseiro e uma batata-doce assada começariam muito bem,” declara ele, e isso mostra como estou com fome, porque normalmente ignoraria essas opções, mas agora estou com água na boca. “E você?” ele responde melancolicamente, e posso dizer que seus pensamentos estão presos em uma deliciosa vila de comida. “Definitivamente um Sloppy Joe, oh... e uma montanha de purê de batatas com molho,” admito, lambendo meus lábios. “Que adulto come Sloppy Joes?” Elon questiona, e ridicularizo seus modos pobres, carentes e ignorantes. Levanto minha mão e aponto para mim mesmo para uma boa medida. “Hum, eu. Eles são como uma estranha comida reconfortante na minha família. Se minha tia Hillen está sem um pote de seu molho secreto, você sabe que o mundo está prestes a acabar. Quero dizer, Manwich14, coma seu coração. O molho dela é tão bom, e ela coloca todos esses vegetais escondidos nele e os serve em um pãozinho caseiro... Ugh, é um puro beijo de chef,” digo a ele sonhadora e na verdade dou um beijo de chef, porque é o que você faz quando está falando sobre algo tão delicioso. “Droga, devo estar morrendo de fome, mas isso soa bom,” ele admite, e sorrio, adicionando à lista de coisas que precisam acontecer quando nós sairmos daqui: fazer Hillen servir a este menino seu mundialmente famoso Sloppy Joes. “Mas não era isso que eu estava perguntando,” diz Elon, interrompendo meus pensamentos de fazer lista. “Eu quero saber qual é o segredo mais profundo e sombrio que você nunca contou a ninguém,” ele pergunta, uma sobrancelha sarcástica levantada em interesse. “O que? Você consegue um passe livre, mas eu não?” Me oponho. “Pshh, não, você já sabia o meu, isso não é a mesma coisa que um passe. É justo que você também me conte, então estamos de volta ao campo de jogo,” ele brinca, e eu bufo, descontente porque não consigo encontrar qualquer falha nessa lógica. Então, em vez disso, penso qual é a resposta. Normalmente, minhas profundezas e as trevas é sobre meu pai, mas não parece certo continuar a encarar as coisas dessa forma, não com o que tenho sentido ultimamente. Estudo o rosto de Elon e me pergunto se devo realmente contar a ele o que nunca pensei que diria a ninguém. Quer dizer, eu mal admiti para mim mesma. Eu solto uma respiração profunda e endireito meus ombros como se isso me desse forças para admitir a verdade. “O segredo que nunca contei a ninguém, que mal consegui aceitar é... Acho que posso estar apaixonada por seu irmão,” admito, as palavras praticamente flutuando na minha frente como se estivessem esperando que eu as pegue de volta, mas não quero. “Eu digo isso depois que ele me fodeu duas vezes e deixou bem claro que ele iria salvá-lo ao invés de mim uma e outra vez, mas mesmo com tudo isso, eu ainda me importo com ele mais do que deveria.” Elon está quieto, me observando em silêncio e provavelmente pensando que sou um doente mental porque só conheço seu irmão há pouco tempo, e mesmo assim, era porque estávamos procurando por ele. “E por que isso é algo que você gostaria de manter em segredo?” ele me pergunta baixinho. “Porque temo que isso me torne aquela garota,” explico com um gesto generalizado ao meu lado, como se aquela garota estivesse sentada à minha direita. “Você sabe, aquela que continua indo atrás de um homem que não a trata bem e não vê seu valor. A garota que dá desculpas para o idiota e não percebe que ama o drama mais do que o homem.” Suspiro. “Eu nunca pensei que seria essa garota, mas aqui estou me preocupando com um bruxo que nunca vai me escolher. E por mais que isso me incomode, a verdade é que eu poderia amá-lo. Mesmo que ele nunca me ame de volta.” Peso se instala em meu peito enquanto minha confissão gira em torno de mim no ar viciado. Sempre pensei que essa merda deveria deixar você mais leve, mas realmente me sinto ainda mais sobrecarregada pela realidade e pelo que provavelmente nunca terei. Estava disposta a me contentar com uma conexão física, ler suas ações e dizer a mim mesma que poderia haver mais, mas então estaria ignorando o que Rogan me disse ele mesmo, não posso me deixar distrair, eu não posso colocar qualquer coisa antes de Elon e sua segurança. “E não, você não precisa esconder os coelhos, eu não vou ficar toda estilo Atração Fatal com ninguém,” acrescento quando Elon está um pouco quieto demais para meus nervos inseguros aguentarem. “Não se esqueça que isso era um segredo, nunca tive a intenção de contar a ninguém, então você apenas acalme-se.” Elon ri, e metade de sua boca se inclina em um sorriso atrevido. “Eu vejo por que ele gosta de você,” ele me diz, e atiro para ele um olhar de sério? enquanto, por dentro, meu coração está gritando, continue. “Não me olhe assim. Você acha que ele simplesmente deixou toda a merda dele à mostra para você porque ele não se importa? Você é uma garota esperta, Osteomante, até você tem que ver isso,” ele brinca. “Eu não,” argumento, realmente mostrando minha maturidade, e tenho que me impedir de pontuar essa declaração com um bufo. Elon ri e revira os olhos. “Talvez ele não esteja admitindo direito, mas meu irmão não confia em ninguém. Se ele confia em você não apenas com seus segredos, mas também com os meus, isso é enorme. Ele é ferozmente protetor e leal, e pode parecer que é apenas comigo, mas eu o conheço. Se ele está deixando você entrar, você significa mais para ele do que imagina. Sinto muito por ele ter te machucado,” ele começa, e aceno para ele como se não fosse nada. “Não, sério,” ele continua, seus olhos fixos nos meus intensamente. “Sinto muito. Eu sei que a única razão pela qual ele teria feito isso é porque ele tem uma mente fechada quando se trata de mim e minha segurança. Gostaria de poder explicar o que aconteceu a Rogan quando ele descobriu que eu não estava bem, que não estava por muito tempo. Você pensaria que ele era o irmão mais velho mais resistente com a maneira como ele agiu, mas abalou o mundo de Rogan, manchando o que ele pensava que sabia sobre nossa família e nosso lugar nela. E, desde então, só tivemos realmente um ao outro. “Quando meu tio me atacou, e então Rogan e eu acordamos depois que não deveríamos, tudo o que veio depois apenas reforçou que éramos nós dois contra o mundo. Ele precisa de tempo para se ajustar a mais. Ele precisa de paciência. Mas, Lennox, ele vale a pena, quero que você saiba disso acima de tudo. Ele é o bruxo mais decente e o amigo e irmão mais incrível que alguém poderia pedir,” ele me diz, com um nó de emoção na garganta. “Eu não o mereço. Ele sempre me diz que é o nosso tio fodido falando e que eu não deveria acreditar, mas realmente não o mereço. De qualquer forma, não sei o que faria sem ele e espero nunca ter que descobrir.” Elon enxuga os olhos, seu olhar verde firme e cheio de convicção de aço. Isso faz meus próprios olhos lacrimejarem em resposta. “Ele está vindo,” o tranquilizo com cada grama de convicção em meu corpo cansado. “Ele está vindo atrás de você.” Elon balança a cabeça. “Não, ele está vindo atrás de nós,” ele corrige, e limpo uma lágrima que cai pela minha bochecha. Nós dois ficamos quietos em uma contemplação sociável. Eu continuo repassando as palavras de Elon na minha cabeça, procurando por brechas e certezas vacilantes. Parte de mim quer encontrar falhas em sua declaração, para me proteger contra a esperança que as palavras de Elon despertaram em mim. Mas não posso descartar os pontos sinceros que ele acabou de fazer. Rogan ama seu irmão mais do que qualquer coisa; se há uma coisa que sei sobre aquele bruxo, é isso. E Elon está certo, se Rogan está confiando em mim não apenas com seu segredo, mas os segredos da pessoa que ele mais ama neste mundo... bem, não há como ignorar o significado disso. Solto um suspiro cansado e escolho não abandonar a esperança ainda. Quer dizer, o que tenho a perder? Já sobrevivi a um desgosto antes, posso fazer isso de novo. Rogan vale a pena, e eu também. Um pequeno sorriso assume meu rosto, e olho para ver que Elon está me observando. Ele sorri de volta como se pudesse ler os pensamentos na minha cabeça como se fossem seu novo livro favorito. Balanço minha cabeça para ele e me movo para deitar de costas. “Gosta de um jogo de espião?” Pergunto aleatoriamente, e Elon ri e se deita também. “Eu vejo uma igreja que precisa ser totalmente queimada,” ele declara zombeteiramente, e eu rio. “Touché, Osteomante Kendrick, touché.” Dos seus lábios aos ouvidos do destino. 16
Estou exausta. Não exausta o suficiente para realmente
adormecer, o que seria uma bênção bem-vinda neste ponto, mas definitivamente o suficiente para me sentir miserável e mal-humorada. Pensei que me havia me sentido drenada no dia anterior com toda a tentativa de encontrar uma fenda na armadura dessa gaiola mágica de demônio e com todas as minhas tentativas de descobrir uma maneira de usar minha magia, apesar da dor excruciante que ela causa, mas não. Agora eu realmente entendo o que é se sentir exausta e esgotada. Uma noite em um chão de pedra sujo em nada além de shorts e uma regata fina me fez sentir além de destruída. Meus olhos queimam de fadiga, mas assim que minha mente e corpo cedem a isso, meu ambiente ameaçador e o frio entram em cena e riem dizendo não tão rápido. O vento entra furtivamente pelas portas ainda abertas da igreja para provocar as pilhas de folhas e cinzas que cobrem o chão do estrado. Não tenho certeza para onde Jamie foi depois que ela matou Brianne - e então fiz o meu melhor para matá- la - mas ela nunca voltou. No começo, fiquei aliviada com isso, mas como as primeiras horas trouxeram com elas um frio cruel da manhã, meu corpo trêmulo começou a desejar que ela aparecesse apenas para fechar as malditas portas. Descobri um encantamento que me ajuda a aquecer meus ossos - um pequeno feitiço bacana que meus ancestrais gravaram no grimório que lembrei antes - mas o problema é que tenho que alimentar constantemente magia com esse feitiço, então coisas como dormir são impossíveis porque não consigo desligar meu cérebro o suficiente para permitir que isso aconteça enquanto também fico aquecida. Toda vez que eu conseguia cochilar, acordava tremendo em alguns segundos. Solto um suspiro de frustração e mais uma vez tento relaxar o suficiente para ter alguma aparência de descanso. Eu sei que vou precisar disso com o que está acontecendo hoje sob a luz da lua cheia. A menos que uma equipe de resgate apareça antes disso, embora, ao contrário de Bonnie Tyler15, eu não estou esperando por um herói. Faço o meu melhor para me perder em meus pensamentos, para conjurar um devaneio onde estou em uma rede, tomando banho de sol enquanto as ondas do mar batem contra uma praia arenosa. A água é límpida, limpa o suficiente para beber... eeeeeee agora me lembrei de como estou com sede e tenho estado a noite toda. Gemo e coloco um braço sobre meus olhos em um esforço para bloquear o sol e convencer meu cérebro de que de repente é noite e agora é a hora perfeita para nós dormirmos um pouco. Infelizmente, tem estado claro lá fora por um tempo, não tipo um céu azul e de uma forma bonita, apenas brilhante o suficiente para ser irritantemente sombrio lá fora. No entanto, nenhuma daquela luz realmente rompeu a sombra escura que está dentro desta igreja. Certamente não o suficiente para aquecer nada. Se não soubesse melhor, pensaria que os raios do sol têm medo de cruzar a soleira e irritar Jamie. Ou talvez seja o medo do demônio que a possui que afasta os raios quentes de luz pelos quais estou tão desesperada. Elon solta seu próprio suspiro de frustração, provavelmente porque está cansado dos meus constantes resmungos e de eu ficar rolando pelo chão de pedra como se um pedaço de pedra fosse mais confortável do que outro pedaço de pedra. “O piso de pedra não é do seu agrado?” Ele observa descaradamente, sua voz rouca e seca, o som esfregando contra mim como uma lixa. “Oh, o chão está ótimo,” contra-ataco ironicamente. “Será que você não tem um saco de dormir aí ou uma muda de roupa mais quente que eu não saiba? Ooooh, que tal um daqueles colchões roxos chiques que sempre vejo nos anúncios? Quer dizer, comprado! se realmente lhe der a melhor noite de sono da sua vida,” divago, movendo-me para deitar de lado, a curva do meu braço apoiando a minha cabeça. “Não,” Elon ri e enxuga o rosto com as mãos sujas e cansadas. Ouço o cabelo de sua barba um tanto desgrenhada raspando nas palmas das mãos e, por algum motivo, isso me faz estremecer. Quem diria que eu odiava aquele som tanto quanto pregos em um quadro-negro. Oh, as coisas que você aprende quando está em cativeiro. “Eu ouvi você roncando como uma tempestade na noite passada,” acuso de brincadeira, embora por dentro eu esteja com inveja pra caralho. “Pensei que um urso tivesse tropeçado aqui e decidido hibernar, mas não, era só você,” brinco com apenas um toque de aborrecimento em meu tom. Eu realmente não deveria estar chateada, sei que Elon passou por muita coisa, e isso definitivamente cobrou seu preço. Realmente, não é de se admirar que seu corpo tenha se desligado daquela maneira. Tenho certeza que o meu fará o mesmo em breve, você sabe, se eu não morrer depois desta noite. Elon me encara com choque fingido. “Por favor, exijo provas,” ele declara como se fosse um advogado exagerado em um programa de TV do horário nobre. “Ah, certo, deixe-me abrir meu telefone e apertar play na gravação que tirei de suas atividades noturnas,” brinco, e então nós dois estremecemos. “Espere, isso não está certo,” corrijo, quebrando a cabeça para encontrar a frase correta. Depois de algumas batidas, ainda não me ocorreu. “Ouça, estou muito cansada para pensar em uma frase alternativa que não soe como se eu tivesse gravado sua punheta, então vamos fingir que sabemos do que estou falando,” ofereço com um encolher de ombros, esfregando meus olhos cansados com as palmas das mãos. Elon ri. “Tudo bem, mas nunca aconteceu se você não tem um vídeo... do ronco, não da punheta,” ele corrige, como se de alguma forma eu estivesse confusa sobre o que exatamente ele está se referindo. Nós dois nos encolhemos de novo e depois rimos. Ele levanta as mãos em sinal de rendição e balança a cabeça. “Vamos apagar toda essa conversa,” ele sugere timidamente. “Feito,” concordo muito rapidamente com uma risadinha, e então nós dois caímos em silêncio por um segundo. “Então você ronca muito,” começo de novo, mergulhando direto no nosso papo furado. Ele ri e solta um suspiro alto, como se nunca tivesse ouvido uma acusação mais atroz em sua vida. “Oh, por favor, as mulheres estão sempre culpando os homens por roncar. Provavelmente foi você, mas você simplesmente se recusa a aceitar, porque culturalmente as mulheres devem ser delicadas e certinhas,” ele provoca, um sorriso atrevido esticado em seu rosto. “Hum... você não deve estar saindo com as mulheres certas, porque as que eu conheço são duronas e selvagens. Além disso, em que século você está vivendo? As mulheres são donas de suas merdas hoje em dia, podemos até admitir que peidamos agora,” digo a ele com exagerada empolgação, como se essa notícia fosse a melhor coisa que já aconteceu às mulheres desde que começamos a usar calças e exigir direitos iguais. Tremo rapidamente quando uma rajada de vento passa pela igreja. Eu ajusto a magia que estou alimentando em meu aquecedor interno mágico enquanto Elon examina minhas roupas... ou a falta delas. “Eu te ofereceria minhas calças, mas não acho que seus shorts serviriam em mim, e eu, uh, eu não estou usando nenhuma roupa intima,” ele explica, como se me pegasse olhando suas calças e me perguntando como poderia roubá- las dele. Totalmente não tenho feito isso. Não. Definitivamente não tenho olhado para o irmão de Rogan, debatendo como tirá-lo de suas calças. “Eca, você é um daqueles caras assustadores que não usam cueca?” Pergunto, meu rosto enrugando em desgosto. “Conversa real, eu nunca entendi tudo isso. Tipo, eu sei que deveria ser sexy ou o que seja, mas fui vítima de irritação muitas vezes, e essa merda dói. Como você vai ter seu galho e frutas apenas esfregando contra seu jeans desse jeito? Ai.” Elon balança a cabeça, e juro que suas bochechas acabam de ficar quatro tons mais vermelhas sob a barba. “Não, eu uso roupas íntimas, mas na primeira semana aqui, rasguei-as e usei pedaços delas como papel higiênico,” explica ele, e a confissão rouba a leveza de nossa conversa despreocupada e nos leva de volta à realidade de onde estamos. “Ah,” falo em compreensão, o peso da nossa atmosfera mais uma vez caindo sobre mim. Desistindo da ideia de descanso, sento-me com um gemido. Eu verifico novamente se tudo o que tenho está escondido como deveria estar dentro do tecido agora esticado da minha camisa. A lua sabe que acordei muitas vezes em casa com um seio saindo de um lado para não ser cautelosa. Nada pior do que conversar com um companheiro cativo e então perceber que seu mamilo estava encarando-o o tempo todo. Simplesmente não há como voltar desse nível de estranheza. “Tudo bem, Elon,” grito com um suspiro resignado. “Em uma escala de um a dez, quão ruim está o ninho do meu cabelo?” Pergunto, afofando meus cachos, como se a pior coisa que eu tivesse que me preocupar neste lugar fosse uma juba rebelde. Na verdade, estou apenas tentando me distrair do fato de que meu corpo me traiu ao criar urina, embora eu não tenha dado nada para beber durante um dia. O traidor também parece ter esquecido o fato miserável de que só temos um balde à nossa disposição, que então exigirá o método de gotejamento para fins de saneamento. Porque fazer xixi em um balde não é ruim o suficiente, ficar parada lá enquanto suas partes secam realmente só aumenta as coisas para outro nível de incrível. Talvez Elon estivesse certo com essa coisa toda de papel higiênico de roupa íntima. Elon examina meu cabelo. “Bem, você tem essa pequena...” Ele coloca a mão atrás da cabeça e estende os dedos. “Situação de pavão acontecendo na parte de trás, mas acho que está funcionando para você,” ele brinca, e rolo meus olhos para ele e rapidamente começo a pentear com os dedos a situação de pavão até a submissão. Elon se levanta e enfia o balde no canto traseiro da cela. Desvio o olhar assim que ouço o som distinto de um zíper sendo aberto. O líquido atinge o fundo do balde e é mais alto do que eu pensei que seria. Olho para o meu próprio balde e mal-humorada chego a um acordo com a realidade. Me levanto, meus músculos e ossos contestando a mudança de posição. Tudo geme e estala como se eu fosse o convés de um velho navio pirata que viu muitos dias navegando nas ondas do oceano. Empurro meu próprio balde para o canto e debato se é pior fazer xixi de frente para ele para esconder minha bunda ou de costas para esconder minha xana. Bufo uma risada com a palavra xana e decido que de lado será. Olho para Elon para ter certeza de que ele ainda está de costas para mim e, com um suspiro, me rendo ao chamado da natureza. Então isso está acontecendo. Onde está um SheWee16 quando você precisa de um? Prendo a respiração e finjo que meu xixi não é tão alto quanto o de Elon. Em suma, não é tão mortificante quanto pensei que seria. Eu posso meio que sentar na borda do balde para que meus quadríceps não morram no meio do caminho. Verdade seja dita, já tive incidentes piores com o penico do que este, digo a mim mesma quando começa a secar. Não estou pronta para perder minha calcinha ainda, em parte porque talvez eu possa transformá-la em algum tipo de arma, usar o elástico como garrote ou algo assim. Pondero as possibilidades enquanto estudo as linhas de argamassa e pedra que trabalham juntas para criar a parede à minha frente. Termino, puxo minha calcinha e shorts e, em seguida, me afasto rapidamente do balde como se eu tivesse acabado de roubar sua carteira e precisasse sair de fininho. O vento sopra através da igreja naquele momento, e juro que espero ver Jamie aparecer na porta com a sensação sinistra de que está montando a brisa fria. Olho para a entrada aberta e brilhante, mas não há ninguém lá. Espero que de alguma forma ela esteja encostada em uma árvore, sucumbindo a ferimentos internos, esperança borbulha dentro de mim, mas não deixo a realidade fugir com a fantasia, não importa o quanto eu desejasse que fosse verdade. Alcanço dentro de mim e observo a corda. Ele está vindo. Ele vai nos encontrar. “Alguma ideia de que horas são?” Pergunto, meu olhar fixo nas portas que representam a liberdade, mas também a morte, dependendo de quem passa por elas. Elon balança a cabeça negativamente e não se incomoda em oferecer uma conjectura além disso. Ele olha para a entrada também, grama e árvores apenas visíveis além das portas abertas. É fácil ver que estamos ansiosos e apreensivos com o que sabemos que está por vir. Tento não pensar muito sobre isso, mas não posso deixar de me perguntar em qual de nós ela virá primeiro. Tenho certeza que, depois do que aconteceu ontem à noite, serei eu. Ela vai querer me punir por atacá-la para que ela possa restabelecer o domínio. Suspeito que ela deixará Elon por último, mantendo o plano de tortura com o qual está trabalhando desde antes de eu aparecer. Ou pelo menos estou esperando que isso aconteça. Há uma vozinha de pânico na minha cabeça que está com medo de que seja Elon primeiro. O pensamento me deixa doente. Mas tenho pensado em maneiras de evitar que o pior cenário aconteça. Tenho pensado em todas as possibilidades desde que Jamie foi embora pela última vez. Existe a opção coringa de que de alguma forma o que quer que trouxe Elon e Rogan de volta dos mortos quando seu tio matou deles poderia acontecer novamente. Mas e se isso não acontecer? Não há garantia, o que significa que é melhor jogar seguro e analisar todos os resultados do que se arrepender. Afastando a preocupação que está tentando reivindicar minha mente, alimento a magia de Rogan e minha corda. Puxo o poder de volta menos de um minuto depois, e espero a garantia silenciosa de Rogan. Eu agarro o alívio que cresce em meu peito quando o sinto se estender de volta para mim, imitando o que acabei de fazer. Ele está vindo. Ele chegará aqui antes que a lua nasça e sele nosso destino. Ele vai conseguir. Ele tem que conseguir. Respiro fundo e lentamente deixo ir. É hora de voltar ao assunto, não vale a pena perder mais o dia. “Ok, Elon,” gorjeio, seguido por um bater de palmas. “Vai doer pra caramba, mas precisamos ver se podemos enfraquecer essas marcas ou possivelmente sobrecarregá-las. O que significa que nós dois precisamos usar magia e tentar encontrar uma maneira de superar o que quer que eles façam para nos parar,” anuncio, avançando para a linha de frente de símbolos que me prendem. Elon estuda as portas abertas da igreja por mais um momento e depois olha para mim. Ele parece debater por um segundo, e então ele me oferece um aceno rápido antes de tirar as mãos dos bolsos e balançar os braços em preparação. “Ok, me diga o que você quer que eu faça.”
***
Ando ao lado dos símbolos que agora quero arrancar do
chão com minhas mãos de urso. Tecnicamente, eu tentei isso, mas os filhos da puta não vão a lugar nenhum, não importa o quanto Hulk Esmaga eu tentei fazer com eles. Sigo uma linha acima, passo a outra e desço a terceira, até encontrar a parede e me virar para refazer meus passos. Como um animal enjaulado, ando para cima e para baixo, a frustração preenchendo cada passo enquanto estudo as marcas e tento entendê-las. Elon e eu temos lutado contra elas por horas, procurando por pontos fracos, tentando entender como funcionam para que possamos descobrir como neutralizá-las. Mas, apesar de todo o nosso tempo e esforço, elas ainda nos fazem cair de joelhos de dor indefinidamente, sem ganhar mais nada. Eu rosno, farta da nossa falta de progresso e chateada por não conseguir descobrir como vencer algumas pedras demoníacas de merda. Elon está deitado no chão, ainda se recuperando da nossa última tentativa, e sei que ele está perto do limite de quanto mais pode aguentar. Por mais que eu tenha julgado sua renúncia anterior, ele não reclamou nenhuma vez ou me pediu para parar. Cada vez que penso em uma nova opção para tentar, ele está lá, no chão, gritando junto comigo. Mas não pode durar para sempre. E agora estou preocupada que se eu empurrar com muito mais força, ele não terá nada com que lutar esta noite, quando ele realmente precisar. Passo meus dedos pelo meu cabelo, praticamente sentindo os segundos passarem. Minutos escorregam por minhas mãos até se tornarem horas que deixam queimaduras de corda em minhas palmas pela rapidez com que são puxadas de minhas mãos. A luz ao nosso redor já está mudando, e sinto em meus ossos que o tempo está quase acabando. Temos trabalhado o dia todo, e silenciosamente tenho esperado que a qualquer minuto agora, Rogan e a Ordem venham caminhando pelas portas abertas, e tudo isso acabará. Eles vão armar uma armadilha para Jamie, deixar Elon e eu acabar com ela no final, e vamos todos voltar para casa sãos e salvos. Mas, à medida que o arco do sol se põe cada vez mais perto do horizonte, estou aceitando que nada disso vai acontecer. Somos apenas Elon e eu contra a psicopata e seu demônio. Agora compreendo perfeitamente como é tortuoso derrubar uma ampulheta e forçá-la a fazer uma contagem regressiva. Cada tentativa de romper essas marcas demoníacas, cada grito rasgado de nossos pulmões, seja de dor ou frustração, é como um grão de areia caindo e, inevitavelmente, selando nosso destino. Cada vez que Elon e eu deixamos de fazer qualquer progresso é como um punhal no estômago, porque nos dei esperança, e então tudo desapareceu. Tinha certeza de que poderíamos encontrar algo que nos ajudasse, mas a lua está ameaçando nascer, e não estamos em melhor situação do que quando começamos. Jamie vai entrar por aquela porta a qualquer momento, ela vai chamar seu demônio, roubar mais poderes, e então ela vai voltar para nos matar um por um. Impacientemente, verifico a corda novamente. Eu sinto como se fosse um telefone e estivesse esperando aquele telefonema super importante. Nada acontece. A tentação de verificar Rogan novamente faz cócegas no fundo de minha mente, mas tudo que posso dizer de nossas trocas amarradas é que ele pode me sentir e eu posso senti-lo. Infelizmente, não há nada mais para extrair desses momentos além de estarmos lá um para o outro de uma maneira, mas não é o jeito que Elon e eu precisamos agora. Tento me convencer de que a conexão está ficando mais forte e deve ser porque ele está se aproximando, mas é apenas uma esperança delirante que me dá algo em que me agarrar, para não ter que olhar para minhas mãos vazias e sentir o peso do que tudo isso significa. Estico o pescoço e tento desviar dos meus pensamentos. Sim, é uma pena que não haja nenhum sinal de ajuda. Mas sou corajosa, caramba, e nada é impossível. Há esperança. Nós não vamos morrer. Repito isso uma e outra vez em minha cabeça enquanto ando pelas bordas da minha gaiola. Talvez se eu disser o suficiente, seja verdade. Uma coruja pia em algum lugar lá fora, e parece o gongo de um relógio de pêndulo anunciando que o tempo acabou. Como se esse pensamento a evocasse da névoa crescente lá fora, Jamie está de repente parada na porta. Pisco em rápida sucessão, focando em sua silhueta e rezando para que sejam apenas meus olhos pregando peças em mim. Ela entra na escuridão da igreja, sua bolsa de condenação e morte mais uma vez pendurada no ombro. Minhas tentativas de permanecer corajosa são eliminadas quando vejo que seu braço está curado e que há uma nova marca de demônio queimada na carne onde seu olho danificado costumava estar. 1x0 para mim, suponho. Sua presença súbita e silenciosa faz minha pele arrepiar, e é como se ela tivesse sugado todo o ar e som do mundo ao nosso redor. Tudo está estranhamente quieto, e posso sentir a ameaça pulsando fora dela em ondas. Meu coração bate no meu peito como se estivesse batendo com raiva em uma porta e exigindo para ser liberado. Um zumbido começa em meus ouvidos, e um canto silencioso de agora é a hora sussurra em minha mente. Rogan tem até que ela volte de sua orgia demoníaca cheia de magia, antes que seja tarde demais. Mas ele não sabe disso. Nossa corda estúpida não me deixa explicar nada para ele, e estou apavorada até mesmo para entreter o pensamento do que acontecerá com ele se ele não nos encontrar a tempo. Não é apenas Rogan que me preocupa, mas o que acontecerá com todas as bruxas se Jamie conseguir isso? Quer dizer, duvido seriamente que ela pare apenas na magia dos ossos. Ela é muito psicopata do tipo tudo ou nada. Eu odeio estar até questionando isso, mas estou olhando para a pessoa que pode, sozinha, ser o fim da raça bruxa? O pior é que ninguém, fora dos mortos, verá isso acontecendo. Basta olhar para o que ela fez com os Osteomantes, só sobraram dois de nós. Engulo meu medo enquanto Jamie está lá, examinando o interior da igreja como se ela estivesse examinando seu reino. Ela começa a andar, seus passos praticamente estrondosos contra o silêncio apreensivo pressionando contra mim. Respiro através do meu alarme e ativo a única linha de defesa que me resta... irritar a vadia e tentar salvar Elon o máximo que puder. Jamie não olha para mim enquanto diminui a distância entre as portas e os fundos da igreja e as linhas de símbolos que me prendem aqui. Seus dentes estão cerrados, seus olhos fixos no altar, como se o tratamento silencioso fosse o que me levaria ao limite. Ela está tão ocupada tentando me ignorar enquanto passa que não me vê pegar meu balde e jogar o conteúdo nela. Por favor, deixe isso passar. Por favor, não volte para mim. Canto silenciosamente minha prece do xixi enquanto observo animadamente enquanto o líquido passa pelos símbolos e espirra em Jamie. Estou prestes a levantar minhas mãos em comemoração e soltar um grito de aprovação quando sua cabeça se vira para mim e ela rosna. “Sepha.” O tormento explode ao meu redor. Em um segundo, estou parada ali, observando a urina escorrer pelo rosto, cabelo e roupas de Jamie, e no seguinte parece que agulhas minúsculas estão sendo enfiadas em cada centímetro de mim. Mordo um grito. Eu sabia que isso ia acontecer. Empurrar seus botões sempre viria com retaliação, mas por mais que esteja tentando segurar, um gemido me escapa enquanto desabo no chão e o balde vai quicando. Elon está gritando; para mim ou para ela, não tenho certeza. Eu quero dizer a ele para calar a boca, para manter sua atenção em mim, mas minha boca não pode fazer nada além de cerrar em meio à dor. Eu empurro para levantar minha cabeça em meio à agonia que me ataca e olho para ele. Ele está muito ocupado rosnando para Jamie para notar. Parece que Elon tem um plano próprio, e não envolve salvar a sua própria pele; ele está tentando salvar a minha. Ugh. Ele não sabe que Rogan precisa dele mais do que precisa de mim? Considerei a rota egoísta. Pensei no fato de que, como fonte, tenho todo o poder, e poderia ser melhor se durasse mais tempo neste cenário de sacrifício, mas passei a noite e o dia jogando tudo para frente e para trás, e simplesmente não posso. Salvar-me às custas de outra pessoa nunca vai me agradar. Então aqui estamos nós. “Cale a boca!” Jamie grita, levando as mãos aos ouvidos e cobrindo-os como se fosse o suficiente para bloquear o que quer que Elon esteja rosnando para ela. Sua voz soa com pânico descontrolado, como se tudo estivesse se tornando demais, e tenho a impressão de que Jamie está oscilando no limite do controle, como se seu ponto de ruptura estivesse do outro lado de uma saliência estreita. Agora, se eu puder apenas empurrá-la. A dor para quando Jamie perde o foco e sobe até o estrado. Ela se move como se não pudesse escapar rápido o suficiente, e me pergunto o que aconteceu desde a última vez que ela esteve aqui. Ela parece muito mais irritada e subjugada do que antes. A bolsa praticamente bate no topo do altar, e Jamie apenas fica lá, sua respiração rápida e irregular. Ela olha para cima depois de um momento, seu único olho verde-azulado fixando-se em mim enquanto ela limpa os fios de cabelo encharcados de mijo do rosto. “Eu vou destruir você,” ela ferve para mim. “Você vai gritar na vida após a morte, do quanto vou te foder,” ela ameaça com veemência. Atiro para ela um sorriso atrevido e tento cobrir meus membros trêmulos enquanto me empurro do chão. “Sua mãe,” respondo sem hesitação. Instantaneamente, quero me dar um tapa na cara. Sério, Lennox, isso é o melhor que você tem? Em minha defesa, porém, estou com uma sede insana e fui apenas levemente torturada. Elon solta uma risada que diz que até ele está me julgando. Rejeito sua avaliação com um olhar que diz, eu sei, eu sei. Dê-me um minuto para me aquecer. Fico de pé e olho para trás para Jamie. Há mania selvagem brilhando em seus olhos e insanidade gravada em suas feições. “O que você está esperando então?” Desafio. “Deixe a gritaria começar. Vamos descobrir se tudo isso vai funcionar da maneira que você deseja. Quer dizer, não tem como o seu idiota ter explicado tudo. Você nem sabia que a magia dos outros rastrearia de volta à fonte em vez de ir até você,” ridicularizo. “Você realmente pensou que poderia ter um pequeno ataque de vadia e a magia apenas cooperaria, mas você se esquece, Jamie, você tem que ser digna disso, e você e eu sabemos que isso nunca vai acontecer.” Uma contração de raiva se revela em seu lábio superior. Parece que acabei de tocar um ponto franco. “O que você vai fazer quando a magia continuar te escapando? Quanto espaço sobra em você para mais promessas de demônios feios?” “Acho que vamos descobrir,” ela atira para mim, puxando novas velas de sua bolsa e colocando-as ao redor com raiva. “Você é tão típica, Osteomante Osseous,” ela zomba. “Você se acha muito melhor do que eu porque tem um pouco de poder correndo em suas veias. Você quer saber quem mais pensou isso?” ela provoca, um sorriso perverso em seu rosto. “Todos os outros Osteomantes mortos que vieram antes de você, é isso. Vá em frente e fale todas as merdas que quiser, veremos como você é corajosa quando estiver aqui sangrando por mim, implorando para que eu pare, enquanto se mija e se caga.” “Aguardo ansiosamente, sua boceta raivosa. Pelo menos eu não serei a única lá em cima coberta com minha urina,” provoco, lançando para ela um lindo conjunto dedos do meio gêmeos. Jamie solta um grito irritado e começa a vasculhar sua bolsa com mais agressividade. Os nervos vibram através de mim como insetos frenéticos, mas respiro e me dou tapinhas nas costas. Definitivamente me redimi da catástrofe de sua mãe. “O que você está fazendo?” Elon sussurra-rosna, como se Jamie não pudesse ouvir cada palavra que ele diz. Eu dou a ele um encolher de ombros evasivo, e seus olhos verdes começam a me estudar, como se meu plano de repente estivesse tatuado em toda a minha pele. Eu não digo mais nada, e ele balança a cabeça para mim como um pai desaprovador que não viu isso chegando. Esse é motivo de eu não enchê-lo sobre o que eu ia fazer, em primeiro lugar. Ele teria discutido comigo sobre como, como fonte, eu não deveria estar entregando meu poder para Jamie, e tecnicamente ele estaria certo se não fosse por toda a coisa de ser imortal. Isso supera o que eu poderia estar entregando a Jamie completamente. Embora seja possível que Elon não volte desta vez, não posso arriscar o que acontecerá se ele voltar. Para mim, esse é um poder muito pior para Jamie e seu demônio colocarem as mãos. Eu sei que Rogan está vindo. Espero que ele chegue aqui a tempo de salvar nós dois, mas se não, o segredo de Elon é muito mais importante de proteger do que o poder que corre em minhas veias. Sei que ele não concordaria comigo sobre isso, por isso não disse nada. Eu não queria dar a ele tempo para descobrir uma maneira de tentar me impedir. Totalmente fiz a escolha certa. Eu olho para longe dele e, na minha cabeça, começo a dizer meu adeus. Não quero esperar até que seja tarde demais e posso estar com muita dor para fazer isso direito. Posso não ser capaz de olhar as pessoas que amo nos olhos antes de ir e dizer-lhes cara a cara o que significam para mim. Mas posso colocar para fora, no universo, esperando que meu amor, minha gratidão, minhas palavras encontrem o caminho para os corações daqueles a quem foram feitos. Imagino Tad e Hillen, todas as risadas e lágrimas, abraços e momentos especiais que compartilhamos ao longo da minha vida. Não sei onde estaria sem eles e sei que será a parte mais difícil para eles aceitarem. Odeio pensar em como será a vida para eles quando eu partir, mas sei que eles terão um ao outro e o resto da família e que todos se ajudarão quando as coisas parecerem demais. Eu penso em Rogan e espero que eu jogue isso certo para que quando ele finalmente chegue, Elon ainda esteja aqui, e tudo o que ele passou para encontrá-lo não tenha sido à toa. Me dou um momento para lamentar o que estou perdendo, não apenas o tempo com as pessoas que amo, mas meu futuro. Um futuro que eu esperava que algum dia fosse repleto de amor e bebês, risos e aventura. Um futuro, ao que parece, que nunca foi feito para ser. A tristeza fica presa na minha garganta enquanto olho para cima e vejo Jamie configurar. Ela se abaixa e pega um punhado de cinzas e espalha ao redor da base do altar enquanto murmura algo. Por favor, não deixe todas essas perdas serem em vão, imploro ao universo. Jamie trabalha, focado na tarefa em mãos, e tento banir o medo que se instala em mim como cimento secando. Eu sei que vai doer, que vou desejar estar morta muito antes de realmente estar. Estou tentando estar pronta para isso, mas não sei se alguém pode realmente estar pronta para algo assim. Respirações lentas, medidas e ligeiramente instáveis entram e saem dos meus pulmões. Trabalho para torná-las iguais, para chegar a um acordo com minha vida e a perda iminente dela. Com um pano de aparência suja, Jamie limpa algo no altar, e tento me lembrar de quanto tempo levou para invocar seu demônio da última vez que fez isso. Faço o meu melhor para adivinhar quanto tempo ela se foi antes de voltar para a igreja pronta para matar Brianne. Faço o cronograma, como se saber que tenho exatamente 43 minutos tornasse tudo isso mais suportável. Eu olho para Elon, e seus olhos estão cheios de fogo e determinação. O cara está definitivamente chateado. “Você está desistindo?” Ele acusa, um sorriso zombeteiro em seu rosto e a frustração enchendo seu olhar. “O que aconteceu com sua luta, Osteomante? Onde está aquela determinação inabalável que ralou em todos os meus nervos desde que você apareceu dentro dessas marcas de demônio?” ele exige, mas sei o que ele está fazendo. Está escrito nas lágrimas que vejo começarem a brotar em seus olhos, na angústia gravada em seu rosto cansado. Ele sabe o que está por vir tanto quanto eu, e nós dois lutamos para manter o outro vivo. “Você é um bom bruxo, Elon,” digo a ele, com um nó na garganta que rapidamente limpo. “Pare com isso,” ele rosna, o pânico pintando suas palavras enquanto ele começa a andar inquieto na borda interna dos símbolos de demônio que o prendem. “Você tem que lutar, Lennox. Rogan vai precisar de você,” ele implora comigo, mas balanço minha cabeça e engulo o aperto em minha garganta. “De mim não, de você,” contra-argumento, balançando a cabeça enquanto ele abre a boca para argumentar. “Ele vai precisar de você,” murmuro para ele, não confiando em minha voz para ficar tão forte quanto preciso. Um estrondo atrai nossa atenção de volta para a frente da igreja, e vemos que as velas já estão acesas. Meu coração acelera, não estou pronta para vê-la despedaçar outro animal inocente. A primeira vez foi bastante traumatizante. Olho de volta para Elon, seus olhos pulando ao redor da igreja como se ele estivesse procurando ajuda. “Não, Elon,” advirto quando o vejo calculando o que fazer, o que dizer para inclinar a balança em sua direção. “Eu sei que você acha que pode ter um passe livre, mas e se isso funcionou apenas uma vez?” Digo a ele enigmaticamente, e posso ver o quanto ele odeia a verdade de minhas palavras em seus olhos cheios de tristeza. “Você não pode correr o risco. Ele precisa de você,” imploro, meus olhos implorando a ele para pensar sobre Rogan, sobre o que sua perda faria com ele. A primeira vez que Rogan me disse que eu nem era um fator quando se tratava de escolher Elon em vez de escolher qualquer outra coisa, doeu um pouco. Quer dizer, eu entendi. É o irmão dele, e eles passaram por mais coisas do que eu realmente poderia imaginar no momento, mas não me senti bem em ouvir, no entanto. Mas agora, enquanto encaro Elon nos olhos, imploro a ele para resistir por Rogan, para lutar até que ele possa chegar aqui para ajudá-lo, não dói como pensei que faria. Não me sinto a segunda melhor ou menos. Não há ressentimento ou mágoas. Parece certo. Agora eu entendi. Elon sempre foi alguém por quem vale a pena lutar, e espero honrá-lo e a Rogan lutando o máximo que puder contra o que Jamie está prestes a fazer comigo. Elon fecha os olhos, como se isso fosse bloquear a verdade do que estou dizendo, mas nós dois sabemos que não. “Está tudo bem,” o tranquilizo enquanto uma lágrima desliza pelo seu rosto. “Estou pronta, e Rogan está certo, você vale a pena,” digo a ele enquanto olho para cima e vejo Jamie enfiando algo na parte de trás de suas calças. Ela enfia a mão na sacola e sei o que vem a seguir, o coelho, o sangue, o canto... e tudo de errado que existe nisso. Minhas mãos começam a tremer enquanto as partículas de tempo que ainda me restam vão caindo uma a uma. Eu toco a corda com minha magia, enviando Rogan uma última mensagem. Imploro ao destino que ele não sinta o que estou prestes a passar e que essa pequena conexão tênue acabe sendo a brecha que espero que seja. Que toda a minha magia e habilidade serão transferidas para ele e não para Jamie depois que eu morrer. Pensei muito nisso desde que percebi que eu era a fonte. Repassei e reparei em minha mente, trabalhando em todos os cenários possíveis em que pude pensar sobre como manter essa magia longe de um ser tão hediondo. Só posso esperar que esta conexão entre nós realmente aconteceu por uma razão, como a tia de Rogan disse, e que de alguma forma, mesmo se Rogan não pode me salvar, ele pode salvar a magia. Solto um suspiro profundo resignado, pronta como sempre estarei quando Jamie voltar e o segundo ritual começar. Meu olhar a encontra ainda de pé no altar, mas não vejo o que espero encontrar lá. Não há nenhum animal inocente nas mãos de Jamie pronto para ser abatido e usado para invocar um demônio. Não, em vez disso, ela está segurando uma adaga de prata de aparência selvagem. Meu coração afunda e começa a disparar quando vejo a tigela de ouro no altar. Eu olho para baixo para encontrar um saco vazio no chão que tem os restos do coração sangrento de alguma pobre bruxa da alma. Meus olhos se voltam para o olhar triunfante e cruel de Jamie. Merda. Achei que ela teria que invocar antes de chegarmos a esta parte, mas estava errada. Ela não está estabelecendo o ritual para chamar seu demônio, ela apenas criou aquele que me mata. E assim, sou o topo da ampulheta: vazio, oco e completamente fora do tempo. 17
Elon passa os dedos pelo cabelo sujo quando a percepção
de que Jamie pulou a arma, ou melhor, o demônio, o atinge também. Ele começa a respirar mais forte, terror sangrando em seus olhos. Ele caminha dentro de sua jaula, parecendo um leão selvagem pronto para destruir qualquer coisa que ouse tentar encurralá-lo. Se fosse assim tão fácil. Se ao menos nossa vontade de impedir isso tornasse isso possível. Quantas vezes ele teve que ficar ali preso e incapaz de impedir os horrores que aconteciam na frente deste edifício amaldiçoado? Quantas vezes ele foi forçado a suportar a tortura e viver com as cicatrizes? “Não olhe, ok, Elon?” Advirto, dando-lhe permissão para me calar e tudo o que está para acontecer. Não quero aumentar seu trauma. Eu não quero ser mais uma coisa que destrói sua alma. “Vocês dois são muito fofos, tentando salvar um ao outro,” Jamie murmura venenosamente, sua gargalhada maligna ecoando nas paredes de pedra da igreja. “Como se qualquer coisa que vocês fizessem mudaria o que já foi decidido,” ela zomba. E então, assim como da primeira vez que a vi matar outra bruxa, ela abre a boca e estala, “Delio!” Faço o meu melhor para suprimir o terror borbulhando em meu estômago enquanto sinto um aperto no estômago. Mas então, sou forçada a assistir com horror enquanto o feitiço mais uma vez leva outra pessoa. Não. Não não não! Corro para a frente da minha jaula e bato com força, como se o impacto fosse quebrar a barreira que separa eu e Elon. Grito enquanto ele é brutalmente arrancado de seus pés e arrastado em direção ao altar. Ignoro a dor que me atravessa enquanto grito: “Nãããão!” meu grito feroz e cheio de pânico cru. Era para ser eu! Ele deveria ir por último! “Lute!” Eu ordeno para Elon, meus olhos enfurecidos movendo-se para Jamie, que está me olhando como um abutre que acaba de ver sua próxima refeição. “Leve-me primeiro!” Eu grito com ela, minhas palavras meio aviso, meio apelo. “Não vou lutar, farei o que você quiser,” prometo a ela, mas em um piscar de olhos vejo que minha declaração é um erro. Porra! Estúpida, Lennox! Me repreendo, porque essa não é uma moeda de troca que funcionará para este pesadelo de alma. Ela quer que lutemos, soframos, morramos de qualquer maneira, apesar de todos os nossos esforços para não fazê-lo. Ela gosta disso. A verdade nojenta disso brilha em seu único olho, e quero arrancar de seu rosto e esmagá-lo até que ela não seja nada. “Sua puta de merda, fique longe dele,” rosno, batendo minhas mãos contra minha barreira mágica, respirando na dor que isso me causa e usando-a como combustível para minha fúria. Os gritos de Elon ressoam ao meu redor enquanto ele é arrastado pelos poucos degraus que levam ao estrado e ela o ergue contra sua vontade até o altar. Posso ver que todos os músculos de seu corpo estão tensos; ele está lutando o máximo que pode, mas a magia do demônio é demais. Eu grito e cuspo todas as maldições e ameaças possíveis em que consigo pensar para tentar impedir o que está acontecendo, mas isso só parece alimentar a crueldade de Jamie. Grito de frustração, puxando meu cabelo e tentando, sem sucesso, passar por essas marcas malignas. Observo Elon lutar contra a magia que o está prendendo, mas nada está acontecendo além da tensão que vejo em seu rosto, em seu corpo. Seus olhos encontram os meus, e o medo que vejo neles me faz quebrar em um milhão de pedaços de raiva. Eu não posso deixar isso acontecer. Tenho que parar com isso, mas como? Pense, Lennox, pense! Empurro minha magia na barreira novamente, mas como todas as outras vezes, ela ricocheteia de volta em mim e me pune por até mesmo a incomodar. Rosno de dor enquanto Jamie se aproxima de Elon e mergulha a mão na tigela de ouro. O sangue cobre sua pele enquanto ela agarra o coração e o levanta, movendo-se para esfregá-lo em Elon enquanto ela começa a entoar. Testemunho cada estria carmesim e cada respingo escarlate em sua pele, quando de repente não vejo mais a mancha da vida de outra pessoa na pele de Elon, vejo um caminho. A voz de Elon soa estranha em minha mente. Não há como sair disso, a menos que Jamie queira que você saia. Eles são feitos sob medida para foder com nossa magia... Nossa magia... Magia óssea... Não sei como não pensei nisso antes, mas a questão é que não é mais apenas magia de ossos correndo em minhas veias. Pode ser isso? Essa é a chave para nos libertar de toda essa situação fodida? É possível que Elon quisesse dizer magia de bruxa em geral contra magia de demônio, mas por algum motivo, não acho que seja isso. Acho que ele estava apontando especificamente que essas gaiolas são projetadas para Osteomantes. Bloqueio o canto de Jamie e os sons de Elon lutando, e começo a procurar em minha gaiola um pedaço de osso afiado dos fragmentos de crânio de coruja que espalhei por todo lado. Empurro uma mensagem frenética e aterrorizada pela corrente, esperando que Rogan se apresse, e então começo a implorar com minha magia, com a magia de Rogan, para me mostrar o que pode fazer. Pego um fragmento de osso fino, mas afiado, do lado da minha cela e corro para o canto da minha jaula, onde duas linhas de símbolos demoníacos se encontram, o canto mais próximo do estrado. O canto de Jamie muda um pouco, e a emoção entra em seu tom, e olho para cima para vê-la colocando a lâmina de sua faca contra a pele do braço de Elon. Merda, ela está se movendo muito rápido. Eu preciso desacelerá-la. Procuro no meu cérebro o que fazer ou dizer, e isso me atinge. Eu começo a rir alto e forte como se tivesse perdido completamente. Minha alegria está além do exagero, mas preciso chamar a atenção da maluca. Seguro meu lado como se eu tivesse com a barriga doendo de tudo o que eu acho tão engraçado. E quando olho para cima, o alívio bate em mim quando encontro os olhos de Jamie em mim. Eu fecho minhas emoções, me recusando a permitir que o alívio vaze e continuo a gargalhar como uma hiena louca. “Você é tão estúpida,” anuncio em voz alta, apontando para Jamie e rindo. “Eu estive sentada aqui esperando você descobrir isso, mas você nunca o fez,” provoco, rindo tão forte que o som até mesmo me irrita. “Você realmente acha que a Ordem simplesmente me deixaria ser levada?” Declaro enquanto coloco minhas mãos atrás de mim e discretamente corto meu antebraço com o pedaço de osso afiado. O calor se acumula ao longo do corte, mas passo o fragmento de osso repetidas vezes para garantir que seja profundo o suficiente. “Do que diabos você está falando?” ela exige impacientemente. “Você não achou que eles teriam um backup, uma maneira de me encontrar apenas no caso de você ter mais armadilhas escondidas por aí?” Pergunto a ela, com uma sobrancelha levantada e uma risadinha de julgamento. “Bela nota, a propósito, os técnicos da Ordem ficaram muito impressionados com esse pedaço de magia,” ofereço, esperando que um pouco de lisonja a mantenha ouvindo e a lâmina de sua faca longe de Elon. “Eles estão vindo, Jamie” advirto-a, oferecendo meu próprio sorriso desequilibrado enquanto sinto o sangue começar a gotejar constantemente de meus dedos. Eu começo a andar pela linha de símbolos demoníacos que me prendem, fazendo o que posso para fazer com que pareça uma lenta busca contemplativa e escondendo o fato de que estou derramando sangue na linha enquanto ando. “Você só vai ter tempo para tirar a magia de um de nós,” digo a ela com confiança. “E então a Ordem estará aqui para impedi-la. Você realmente quer perder seu tempo com Elon?” Ela me encara, claramente não acreditando, então estalo meus lábios para ela e balanço minha cabeça. “Você está ficando sem tempo, Jamie, e nem sabe disso. Estou lhe oferecendo uma troca. Coloque Elon de volta e me leve. É a única maneira de você ter uma chance de lutar contra o que está por vir,” digo a ela, e espero que com tudo que disse, ela acredite em mim. Suas marcas de demônio estão acesas como sempre acontecem quando ela usa sua magia, mas o resto dela parece pálido, como se ela pudesse se desfazer em nada se o vento empurrasse muito forte. “Você está mentindo,” ela rebate, e rio em resposta. Claro que estou, mas por mais que ela queira acreditar nisso, vejo uma partícula de dúvida nos seus olhos. Há um debate do tipo mas e se acontecendo em sua mente demente, e tenho muita esperança de que ela possa realmente me ouvir. Elon está ofegante no altar, os olhos fixos na faca na mão de Jamie. “Lennox, não,” ele rosna, estremecendo quando Jamie pressiona a faca nele com mais força. “Você não se importa se eu sobreviver à Ordem,” ela rosna, as rodas em sua cabeça girando lentamente e finalmente chegando a esta conclusão como prova de meu engano. “Não, eu não me importo, espero que eles encontrem uma maneira de esfolar sua própria alma e fazer você sofrer pela eternidade,” admito, o veneno saindo de cada sílaba. “Mas me importo com Elon. Trata-se de ajudá-lo. Vou me sacrificar e dar a você minha magia se você me deixar trocar de lugar com ele agora. Mas a Ordem está vindo de qualquer maneira, então agora você tem que decidir o que é mais importante: o poder que você diz que quer ou torturar um bruxo inocente porque você não gosta da mãe dele.” Suas marcas de demônio brilham com minhas palavras, e seu aperto aumenta em torno do cabo da faca. Ela me estuda por um segundo e depois outro, como se minhas palavras estivessem lentamente afundando nela e fodendo com todos os seus planos. “Tique-taque,” zombo enquanto faço outra passagem com meu braço sangrando dentro das marcas negras do demônio gravadas ao meu redor. “Você está apenas tentando salvá-lo,” ela acusa, seu olhar suspeito, mas hesitante. “Claro que estou, sua vadia estúpida, isso não significa que eu não estou dizendo a verdade,” estalo para ela. “Você quer arriscar?” Desafio. “Você vai perder a oportunidade de matar a fonte?” Suas narinas dilatam-se de raiva, mas felizmente a faca não se move mais perto de Elon. “Se eu estiver mentindo, você me mata e depois o mata,” digo a ela com um encolher de ombros casual, “mas se eu não estiver, eles vão impedi-la e vou vê-los te destruir enquanto os demônios você deve rasgam sua alma,” digo a ela, irritada por ela ainda estar debatendo isso. Minha lógica é boa pra caralho, mas a dessa doente mental não é. Não sei se ela vai cair nessa. Meu pé fica preso na borda de uma pedra irregular e tropeço, meus braços se esticam para me pegar com a ameaça de que eu possa cair. Me recupero rapidamente, mas os olhos de Jamie caem do meu olhar confiante para o sangue escorrendo do meu braço. Ela se afasta de Elon, dando um passo em minha direção, suas feições contraídas de desconfiança e raiva. “O que você está fazendo?” Ela rosna, seu olhar mudando do meu braço para os símbolos agora sangrentos no chão. “Estou indo atrás de você,” rosno de volta, e não perco o medo que pisca em seu rosto antes que a fúria tome conta. As portas da igreja se fecham com um estrondo retumbante, como se ela estivesse magicamente nos prendendo aqui. E sei imediatamente que a perdi, e ela me lança um olhar furioso e depois se move de volta para o altar. “Eu mesma vou arrancar sua alma de você!” Grito com ela enquanto ela pressiona mais uma vez a faca contra a pele de Elon. Ela começa a cantar, e Elon grita de dor enquanto ela corta a faca em seu braço. Estou perdida no fogo desesperado crescendo em meu corpo, os gritos de Elon me estimulando. Invoco minha magia, implorando por respostas. Meu sangue decora a linha interna dos símbolos demoníacos, infiltrando-se nas ranhuras e curvas como se minha essência os estivesse reivindicando de alguma forma. Encaro as marcas intensamente como se fossem um quebra-cabeça que sei que posso resolver se apenas encontrar o ângulo certo, e é quando as palavras surgem em minha mente espontaneamente. Eu começo a entrelaçá-las, soletrando e cantando, fortalecendo as palavras com minha magia e vontade e, em seguida, alimentando o sangue. As marcas respondem ao meu uso de magia, mas não está no mesmo nível de dor de quando uso minhas habilidades naturais de Osteomante. Eu pego o ritmo, tecendo e cantando ainda mais rápido. Não sei exatamente o que estou fazendo, mas coloco minha fé em meus instintos mágicos, confiando na magia do sangue assim como sempre confiei na magia dos ossos. Elon grita e implora para que Jamie pare, assim que os símbolos ao meu redor começam a fumegar e sibilar em reação ao que estou fazendo enquanto meu sangue trabalha para assumir o controle. Coloco mais magia em tudo, ignorando a dor enquanto os gritos desesperados de Elon me empurram para pressionar ainda mais forte e trabalhar mais rápido. Minhas palavras e tecelagem de feitiços dariam ao melhor leiloeiro uma corrida por seu dinheiro, e sinto um clímax estranho começando a se formar na própria magia. Um estalo alto rasga o ar, fazendo todos pularem. Jamie para de cantar e cortar, e olha para a porta, o sangue escorrendo de seu rosto. Eu, no entanto, estudo os símbolos agora ensanguentados aos meus pés e vejo que uma das pedras agora está rachada onde antes estava inteira. Pego e testo o que acho que acabou de acontecer, empurrando uma mão ensanguentada no espaço acima do símbolo. Espero a dor me atingir quando minha mão começa a cruzar a barreira que estava ali, mas nada acontece. O choque bate em mim. Puta merda, funcionou. Rapidamente movo minha mão para a pedra que ainda tem uma marca de demônio intacta, e a dor me percorre como uma onda com o contato. Puxo minha mão de volta, mas tudo que preciso é quebrar mais algumas pedras, e posso me libertar. A exaltação me atinge com a revelação, e eu olho para Jamie, vingança e triunfo estampados em meu rosto. A satisfação floresce em meu peito enquanto vejo o pânico tremer através de Jamie, seu olhar fica preocupado e ela corre para dobrar o que está fazendo, cantando mais rápido enquanto ela mais uma vez começa em Elon. Me concentro de volta na trilha do meu sangue, cantando com a mesma rapidez. O Mancer derrama de minha língua como uma cachoeira viciosa de magia, derramando minha vontade em meu sangue pedra por pedra, eu luto para ter de volta minha liberdade. Outra pedra se quebra, mas não paro para comemorar enquanto Jamie e eu corremos uma contra a outra pela vida de Elon. A tensão aperta todos os músculos do meu corpo enquanto corro para dar o fora daqui e impedir Jamie de terminar o ritual com Elon. Outra pedra se quebra, e sei que só preciso de mais uma, e então vou aniquilar ela e o demônio que tornou toda essa merda possível. “Pare” grita Jamie, e olho para cima para ver que ela está segurando a faca na garganta de Elon com a mão trêmula. “Não se atreva a quebrar mais um símbolo ou vou matá-lo agora mesmo,” ela ameaça, e eu congelo. O brilho maníaco está de volta em seus olhos, e sei que ela está falando sério. Deslizo meu braço para fora da jaula mágica, a ameaça clara. Posso não ser capaz de sair ainda, mas posso tentar impedi-la se ela tentar alguma coisa. “Não se mova,” ela rosna, pressionando a faca em sua garganta com mais força enquanto ela me encara. Eu a encaro de volta, mas paro, preocupada que se eu disser ou mover alguma coisa, isso vai deixá-la muito nervosa e Elon vai pagar o preço. “Como diabos você tem magia de sangue?” ela exige, sua voz quase um grito. “Sua avó não tinha magia de sangue, e ninguém mais em sua família tinha outros ramos,” declara ela, claramente sabendo muito sobre mim e as pessoas que amo. Lembro-me dela falando sobre fazer pesquisas, e isso me faz pensar o quão profundo ela se aprofundou em cada um que ela estudou. “Não, ela não tinha magia de sangue,” concordo uniformemente e calmamente, como se estivesse tentando acalmar um cavalo assustado. “Antes de você começar a tomar Osteomantes, eu também não tinha,” digo a ela enigmaticamente enquanto silenciosa e cautelosamente empurro a magia para minha mão livre e tento sentir seus ossos ou seu sangue. “Então, como diabos você tem isso?” ela rosna impaciente. Elon recua contra a lâmina sendo pressionada em seu pescoço enquanto olha para mim com a raiva gravada nos planos de seu rosto e olhos suplicantes, silenciosamente me implorando para impedi-la. Tento procurar uma maneira de fazer isso magicamente, mas mesmo que eu esteja me esforçando para colocar meus ganchos nela, não consigo encontrar uma maneira. É como se sua essência, seu corpo físico, não estivesse bem na minha frente. Talvez a magia do demônio a tenha encoberto de alguma forma, e tento não mostrar a preocupação em meu rosto que sinto pelo fato de que minha magia ainda pode não ser suficiente para parar isso. “Porque estou amarrada a um Bruxo de Sangue, como você acha que a Ordem está me rastreando?” Digo a ela, dobrando para baixo na mentira. O rosto de Jamie fica branco diante dos meus olhos. Posso ver fisicamente o horror que a percorre com a minha declaração. Eu não tinha ideia do que uma amarração era antes de Rogan, mas é claro que Jamie sabe exatamente do que estou falando, e ela está apavorada. Eu deveria sentir algum tipo de gratificação com a reação dela, me deliciar com o medo cru que agora vejo estampado em seu rosto, mas ela ainda está segurando a faca na garganta de Elon, e temo que ela vá escorregar e machucá-lo. Digo a mim mesma que usarei a magia de sangue para estancar o sangramento, mas se o ferimento estiver ruim, posso não ser capaz de fazer o suficiente para salvá-lo. Ainda há a questão da zona morta mágica que parece envolver Jamie e Elon. “Eu ainda aceito trocar de lugar com Elon,” ofereço calmamente. “Ainda há tempo para nós duas conseguirmos o que queremos com isso,” a lembro, meus olhos caindo de seu olhar desequilibrado para Elon. Tento oferecer a ele toda a segurança que posso com um olhar, e então olho ao redor da base do altar e ao redor do estrado em busca de qualquer coisa que ainda possa estar bloqueando minha magia. Um estrondo estrondoso soa ao nosso redor. Tenho que lutar para não pular para fora da minha pele, e minha cabeça vira na direção da entrada da igreja, porque com certeza não fui eu. As grandes portas de madeira se curvam como se estivessem prestes a admitir quem está do outro lado. Fico olhando para ela completamente estupefata enquanto o espanto lentamente afunda, e o alívio começa a borbulhar dentro de mim. Ele está aqui. Não sei como sei, mas sei. Rogan está lutando para entrar. Ele está tão perto e ainda tão longe, mas ele está aqui. Ele está aqui e ainda estamos vivos. Meus olhos se enchem de lágrimas e me viro em direção ao estrado, meus olhos procurando ansiosamente pelos de Elon. Fico mortalmente imóvel quando percebo que Jamie está apontando uma arma para mim com uma das mãos e a outra ainda segurando a faca, apenas que a lâmina está posicionada sobre o coração de Elon, em vez de encostada em sua garganta. Ele olha para mim, seus olhos verdes cheios de lágrimas e terror e guerra de raiva dentro de mim. Jamie ri quando outro grande crack explode pelas portas atrás de mim, mas posso dizer que ainda não conseguiram passar. Tão perto! “Você pensou que tinha ganhado, não é?” Ela pergunta zombeteiramente. Prendo a respiração, gritando por dentro para eles arrombarem as portas e pararem essa psicopata. Outro estalo estrondoso atravessa as portas. Rápido! O sorriso de Jamie se torna sádico e ela inclina a cabeça para o lado. “Que pena que você estava errada, Lennox.” Não! Um grito de partir a alma sai da minha garganta quando o olho de Jamie endurece e seu dedo aperta o gatilho. O som da arma disparando abafa tudo, e empurro um pulso furioso de magia para Jamie, desesperada para parar o que ela está tentando fazer, mas minha magia bate contra uma barreira que protege o estrado. Desta vez, quando a dor explode em meu corpo, não é dos símbolos gravados nas pedras aos meus pés, é da bala que rasga meu peito. Tsunamis de agonia passam por mim, mas a cadela não está acabada. Ela levanta a faca afiada acima do peito de Elon e, sem misericórdia ou hesitação, enfia-a no coração de Elon. Ele engasga quando ela enterra a lâmina em seu peito, e então sou forçada a testemunhar seu corpo relaxando daquela maneira horrível que só a morte pode causar. Eu berro um grito agudo tão visceral e quebrado que minha magia responde. Meu coração clama por Rogan enquanto despejo a perda e necessidade de retribuição fora de mim com tanta força que com um flash e um estrondo sônico, as pedras aos meus pés explodem. Meu grito é interrompido com um gorgolejo e de repente sinto o gosto de sangue na boca. Eu me recuso a olhar para o dano que sei que me rasgou, e outra rachadura estilhaça atrás de mim me estimulando. Forço meu corpo a se mover mais perto de Jamie. Ela me olha, seu olhar apavorado quando ela começa a cantar, empurrando a mão no sangue que se acumula no peito de Elon e enxugando seu rosto. Eu imediatamente reconheço o que ela está fazendo, e a ira queima em minhas veias. Ela está chamando seu demônio. Ela está usando Elon como seu sacrifício e o chamando para levá-la embora. Uso tudo o que tenho dentro de mim e empurro outro pulso de magia para ela em um grito sufocado. Tal como acontece com os símbolos que compõem a minha cela, as pedras irrompem em linha na base das escadas que conduzem ao estrado e ao altar. De repente, posso sentir Jamie e Elon com minha magia, e a satisfação me atinge agora que as marcas de demônio que a protegem de mim foram destruídas. As portas se abriram atrás de mim com tanta força que me jogou para frente contra o chão, estragando meu esforço para tentar chegar até Jamie. Barulho e caos explodem ao meu redor, e luto para puxar o ar para meus pulmões e encontrar a força para me levantar do chão. Fiz tudo o que pude fazer para ficar de pé depois que ela atirou em mim, e agora não tenho certeza se posso comandar a cooperação de meus membros. Algo bate em Jamie, e ela é jogada para longe de Elon e do altar. Ouço o grito de Rogan, e o som percorre minha alma e chama minha tristeza. Pedras me cortam enquanto me arrasto para mais perto do altar. Preciso chegar até Elon para impedi-la de usá-lo para escapar. Não pude protegê-lo quando ele estava vivo, mas irei em sua morte. Me recuso a deixar essa vadia manchada de demônio usar mais dele do que ela já fez. Cada centímetro é uma luta, mas eu rosno, tusso e me forço para mais perto. Há algum tipo de luta acontecendo atrás de mim, e quando me viro para ver o que está acontecendo, fico chocada com o que encontro. É como se as próprias sombras tivessem se afastado das paredes e cantos da igreja e agora estivessem lutando contra a equipe de membros da Ordem que está aqui para nos resgatar. Tudo se move tão rápido, há tantos deles, e não posso distinguir rostos ou identificar Rogan em meio ao caos. A raiva ferve dentro de mim e empurro ainda mais forte para chegar até Elon. Vamos, corpo, é apenas uma ferida superficial, nós resolvemos. Um movimento atrai meus olhos, e vejo Jamie lutando para se levantar. Agarro minha magia, mas algo está errado na conexão. É como se minha magia estivesse piscando dentro e fora de serviço. Respiro fundo e me concentro no poder que sempre foi tão estável e forte dentro de mim. A conexão se equilibra e empurro a magia pelo meu corpo para parar o sangramento tanto quanto possível. Tento consertar o que posso e, em seguida, pego um pouco do que sobrou e estendo a mão para Jamie. Ela está fechando a distância entre ela e Elon, o canto demoníaco saindo de seus lábios rachados. Sinto os ossos de uma de suas pernas e, com um pensamento, quebro-os para impedir seu progresso. Um grito de dor ressoa pela igreja, mas rapidamente se perde em toda a comoção. “Pensou que você tinha ganhado, não é?” Rosno enquanto ela caí, minha voz perdida no barulho que ecoa pelas paredes da igreja. Eu magicamente alcanço Jamie de novo, mas meu acesso à minha habilidade se esvai, e um acesso de tosse sufocante exige minha atenção imediata. Eu tusso sangue enquanto me puxo para o altar. A magia ganha vida novamente dentro de mim, e não perco tempo e chamo os ossos em pó nas pilhas de cinzas agora ao meu redor. Um movimento do meu pulso faz com que eles se transformem de pilhas no chão para nuvens no ar. Empurro os restos mortais das pessoas que Jamie matou para ela enquanto ela luta para se levantar. Uma névoa cinzenta a envolve, e faço o meu melhor para sufocá-la enquanto comando outra nuvem de cinzas para puxar o corpo de Elon para baixo do altar. Jamie grita, e enfio as cinzas em sua garganta até que tudo que ouço são suas tosses e engasgos enquanto ela luta contra uma nuvem de vingança. Quero fazer mais, fazê-la sofrer mais, mas já posso sentir meu acesso à minha magia piscando novamente, como se minhas baterias estivessem acabando e precisando ser substituídas. Refoco tudo o que tenho para trazer Elon até mim e então peço às cinzas que nos puxem para a parede sob o vitral maciço e sujo que marca a frente da igreja. Seguro Elon com toda a força que tenho, aliviada por tê-lo agora e Jamie não conseguir mais alcançá-lo. Ao mesmo tempo, estou completamente quebrada com o fato de que ela o assassinou tão sem sentido quando Rogan estava do lado de fora das portas. A energia desliga dentro de mim novamente, mas estamos quase na parede e ainda parcialmente escondidos em uma névoa de cinzas. Arrasto-nos até que a pedra da frente da igreja me impeça de ir mais longe. Eu paro e verifico o seu pulso. Não encontrando nada, tento ouvir através da minha respiração ofegante qualquer sinal de que Elon esteja respirando. Seu peito não se move e é claro que ele se foi. Não há nada aqui. Lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto tento puxar a faca de seu peito. Preciso de três tentativas e um grande esforço para lutar contra a agonia que percorre meu corpo com o ferimento à bala, mas finalmente a tiro, colocando-a ao meu lado, caso precise. Eu sinto minha força diminuir, e puxo Elon para mim e me agacho sobre ele protetoramente, e então cada grama de habilidade é drenada de mim como se eu fosse uma peneira. É como se eu negociasse com meu corpo para me dar tudo para que pudesse chegar até Elon, e agora que o tenho, não há mais nada no tanque para mim. Dentro. Fora. Eu praticamente forço meus pulmões a inflar e depois esvaziar, mas está ficando mais difícil. Os sons da Ordem vencendo a luta deveriam despertar esperança em meus ossos, mas em vez disso, eles são abafados por minha dor e tristeza. Não posso nem pensar sobre o que Rogan fará quando ele finalmente nos encontrar, apenas para descobrir que ele estava segundos tarde demais. Bloqueio tudo enquanto seguro o corpo de Elon, minhas lágrimas escorrendo pelo meu rosto e se misturando com o sangue que ainda está escorrendo do meu peito. Eu deveria estar alarmada, mas descubro que não consigo sentir quase nada e, embora esteja tentando usar minha magia, não consigo encontrar nenhuma para tentar fazer o sangue parar. Não sou nenhuma Bruxa de Almas e, por mais que desejasse, não posso reparar todos os danos ou esconder todas as evidências do horror que Elon e eu sofremos neste lugar nas mãos de uma psicopata faminta por poder. Empurro uma mecha de cabelo sujo do rosto de Elon e estendo a mão para fechar suas pálpebras. Não consigo nem olhar para cima para ver quem é da Ordem que veio ao resgate. Sinto-me muito envergonhada e arrasada por ser a única que restou aqui para encontrar. “Lennox! Elon!” Rogan berra, sua voz poderosa procurando, a esperança quebrando meu coração. Mas como a mariposa que sempre fui por sua chama, olho para cima, atraída por ele mesmo contra a minha vontade. Ele vai me odiar. Odeio estar aqui em vez de Elon. E me sinto como se estivesse sendo esmagada pelo peso desse conhecimento enquanto meu olhar destruído procura através da luta e finalmente pousa em um par de olhos verde-musgo. Uma esperança inútil surge através de mim enquanto observo seu rosto. Ele ainda está procurando por nós na igreja, e gostaria de poder avisar que estou aqui, mas não tenho isso em mim. Observo os planos perfeitos de seu rosto olhando freneticamente enquanto ele luta para afastar as sombras que se atrevem a chegar muito perto dele e dos outros ao seu redor. Estou aqui, sussurro em minha cabeça, e como se acabasse de gritar a plenos pulmões, os olhos de Rogan imediatamente encontram os meus. Eu vejo um flash de alívio em seu olhar antes de um trio de soldados da Ordem entrar no caminho, lutando contra um punhado de criaturas das sombras que rosnam e grunhem e se movem tão rápido quanto um flash, saltando daqui para lá em um piscar de olhos. Eu sei que quando Rogan finalmente chegar a mim, o alívio que ele está sentindo será arrancado, e é minha culpa. Se eu apenas tivesse pensado na magia do sangue antes... eu poderia ter impedido tanta coisa. Um rosnado demoníaco rasga a igreja, e Jamie se ergue literalmente das cinzas, flutuando no ar como um prenúncio da desgraça. Suas marcas são tão brilhantes quanto o próprio sol e, pelo que posso ver, tão quentes também. A magia do demônio está queimando através dela, me lembrando do jeito que Eleanor começou a desmoronar com a maldição do demônio que ela acidentalmente absorveu. Espero Jamie se virar e apontar sua raiva demoníaca para mim, mas em vez disso ela se concentra nos membros da Ordem agora pisando em seu santuário infernal. Eu avisto Prek e sua equipe, junto com vários outros incluindo Marx e o Major enquanto eles despacham criatura sombra após criatura sombra e se movem coletivamente mais perto. Jamie grita, o som algo mais parecido com um RingWraith17 do que com um humano. Seu cabelo queima enquanto ela flutua no ar, um canto profundo e constante caindo de seus lábios derretidos. Parece que há uma inspiração coletiva antes de começar, seu canto fica mais alto e a igreja ao nosso redor começa a tremer ameaçadoramente. Cubro Elon protetoramente com meu corpo, espalmando a lâmina de prata que coloquei ao lado da minha coxa. Pedaços de Jamie começam a cair no chão com respingos nauseantes enquanto ela concentra toda a sua magia emprestada no que quer que esteja tentando fazer. Não sei dizer se ela está tentando derrubar a igreja em cima de nós ou invocar algo embaixo dela, mas de qualquer forma, posso ver que a magia que ela está usando a está incinerando centímetro a centímetro psicótico. Eu a observo, desejando ter poder suficiente para acabar com ela de uma vez por todas, mas ao que parece, ela já está fazendo isso consigo mesma. De repente, o tremor para e Jamie cai no chão do estrado. Ela bate com tanta força que a pedra vibra embaixo de mim com o impacto. No começo, acho que ela está inconsciente com o golpe, mas então ela se vira, inclina a cabeça daquele jeito assustador que faz e se vira para olhar para mim. Ela me observa, um sorriso doentio em seu rosto desfigurado, só que não é Jamie que vejo olhando fixamente em seu olhar, é algo totalmente diferente. Seu único olho verde-azulado agora é laranja brilhante e a pupila é cortada horizontalmente como a de uma cabra. Cada uma das marcas de demônio marcadas em seu corpo brilha com o mesmo laranja ardente de seu único olho. “Ossssteomanteeee,” ele praticamente sibila, usando os lábios derretidos de Jamie para falar meu título. Eu procuro minha magia instintivamente e tento não entrar em pânico quando ela não vem. “Voccccêêê ééé minnnnhhaaa,” ele sussurra, e me seguro para não dar o dedo do meio. Não irrite demônios dos quais você não pode se proteger. Em vez disso, digo. “Corra, idiota,” advirto, convocando toda a raiva e necessidade de vingança que posso. “Nós vamos levar seu bichinho vivo, e quando eu descobrir quem você é, não vou parar de caçá-lo até que você e todos que ajudaram nisso estejam mortos,” rosno, gesticulando para Elon e a igreja. O demônio me estuda por um momento e então começa a rir. “Vejo você em breve então, Lennniiii.” E com isso, Jamie pisca, e o demônio desaparece. Estou novamente olhando para um olhar que é metade azul-petróleo e a outra metade marca demoníaca. Jamie parece chocada e começa a gritar: “Não, não, não, não, não!” Um grito de gelar o sangue enche o ar, depois outro, e outro, e então de uma vez, as sombras que estão lutando contra a Ordem se viram e correm em direção a Jamie. Meu primeiro instinto é que eles vão mandá-la embora, e abro a boca para tentar gritar um aviso. Mas antes que eu possa, as sombras convergem para ela. Ela começa a lutar contra eles, implorando e gritando, e é óbvio que o demônio está amarrando as pontas soltas. Bom, mas se ele acha que isso vai salvá-lo, ele não sabe quem diabos eu sou. Como piranhas, as criaturas das sombras destroem o que restou da mulher que vendeu sua alma, enquanto suas marcas de demônio se voltam contra ela e queimam o resto dela em cinzas. Apodrece no inferno, vadia. Eu a vejo meticulosamente reduzida a nada, sem um pingo de pena em meu coração pelo que está acontecendo com ela. Muitas pessoas foram colocadas no altar que ela construiu, implorando pela mesma misericórdia que ela pediu, e alguma delas encontrou isso em suas mãos? Não. Espero que ela passe a eternidade pagando pela magia que tentou roubar e todas as vidas inocentes perdidas por causa de sua ganância. Gritos se transformam em gorgolejos, e então, simplesmente assim, ela se foi, e todos os seres das sombras se foram com ela. Tudo o que resta é uma poça borbulhante de sangue podre e alcatrão preto. Luto para puxar uma respiração aliviada em meus pulmões danificados. Fecho meus olhos e absorvo o consolo e a finalidade que vem ao saber que ela se foi e não vai voltar. Ding dong, a cadela está morta. 18
Com grande esforço, principalmente porque parece que
um elefante está estacionado no meu peito e tenho quase certeza de que a maior parte do meu sangue está agora no chão ao meu redor, me afasto da poça de lama. Tento lutar contra o flash de imagens que passam pela minha mente enquanto me recosto contra a frente da igreja, faço o meu melhor para bloquear todos os horrores que testemunhei dentro das paredes de pedra deste lugar, mas não consigo desligá-los, não importa o quanto tente. Espero que eles nos deixem queimar este lugar contaminado antes de partirmos. Meu aperto em Elon escorrega um pouco, e tento puxá-lo com mais força para mim, mas minhas mãos não parecem querer trabalhar. Tento novamente quando de repente sinto Rogan nas proximidades. Olho para cima, com medo de ver o que está em seus olhos enquanto ele me olha, lutando para segurar o corpo da única pessoa que significava mais para ele do que qualquer coisa. Um soluço sufocado brota de sua garganta enquanto olhos verde-musgo estudavam primeiro Elon e depois a mim. Agarro seu irmão para mim, ainda tentando protegê-lo e também me proteger do desgosto que sei que Rogan está se afogando. “Eu preciso de ajuda!” Ele berra entrecortado e, em seguida, está de joelhos na minha frente, com as mãos para cima, como se não tivesse certeza de onde é seguro tocar. Olho para baixo e finalmente percebo o que está causando o horror em seu rosto. Elon e eu estamos cobertos de sangue e feridos além do reparo. “Meu Deus, o que ela fez com você?” Ele pergunta, a tristeza sufocando suas palavras enquanto as lágrimas enchem seus lindos olhos verdes e caem em suas bochechas. Quero estender a mão e limpá-las, mas não quero soltar Elon. Eu sei que falhei com Rogan, e não há nada que possa fazer para mudar isso, mas não vou deixar Elon ir até que eu saiba que ele está mais uma vez em boas mãos. “Sinto muito,” sussurro, um soluço roubando a convicção em minha voz. O olhar fixo horrorizado de Rogan salta até o meu, e tudo o que vejo é agonia. Ele estava tão perto. Tão perto, e tudo deu merda em menos de um piscar de olhos. “Alguém me ajude!” Rogan grita novamente, e desta vez vários membros da Ordem vêm correndo. Eles olham para nós e congelam por um momento, como se o choque tivesse roubado sua capacidade de se mover e falar. “Ajudem ela!” Rogan rosna enquanto as lágrimas escorrem por seu rosto, e o comando quebra os membros desconhecidos da Ordem de seu estupor estagnado. Um homem loiro mais velho se agacha ao meu lado e tenta tirar Elon dos meus braços. Aperto meu controle sobre ele e sufoco um grunhido lamentável de objeção. O rosto de Rogan desmorona de tristeza, mas vejo quando ele o empurra e fixa seu intenso olhar no meu. “Está tudo bem, você foi muito bem, Lennox, deixe que eles cuidem dele agora,” ele incentiva, e a mentira que sai de sua boca faz meu coração doer. Eu não fiz bem. Eu falhei com ele. Balanço minha cabeça, rejeitando seu elogio, e tento respirar através da tristeza que bate em mim. “Eu tentei fazer ela me levar primeiro. Eu tentei impedi-la,” digo a ele para que ele saiba o quanto sinto muito, o quão forte tentei impedir que isso acontecesse. O coração partido enche os olhos de Rogan, mas ele não olha para Elon quando o trio de Bruxa de Almas o alcança novamente. Seus olhos permanecem fixos nos meus, apesar da dor que sei que ele está sentindo por perder seu irmão. “Eu sei que você fez,” ele admite, seus olhos calorosos e compreensivos. “Ele está seguro agora, eles vão levá-lo e cuidar dele, e nós precisamos cuidar de você,” ele pede suavemente, como se eu fosse um animal selvagem ferido que precisa ser acalmado e mimado. Olho para o meu peito, para o dano devastando meu lado esquerdo e o sangue que agora está escorrendo lentamente de mim. Droga, sou um animal selvagem e ferido. Puxo uma respiração úmida e trêmula e, com um aceno de cabeça, solto Elon. Em um flash, ele é puxado de meus braços, e mesmo que eu tenha dito que estava tudo bem, um gemido de objeção derrama de mim quando eles o puxam cerca de três metros de mim e o colocam no chão e começam a examiná-lo. Minha atenção é desviada do que eles estão fazendo quando um par de braços fortes me envolve e me puxa protetoramente contra um peito duro e quente. Um peito que eu conheceria em qualquer lugar. Rogan. Espero que a dor de ser levantada me acerte, mas, surpreendentemente, não acontece, então inclino minha cabeça para trás e olho para a minha cor favorita de olhos verdes. “Sinto muito,” digo a ele mais uma vez, mas ele me cala e balança a cabeça como se não quisesse ouvir. Eu fecho meus olhos e me inclino para ele, finalmente a salvo dos horrores deste lugar. “Abra os olhos, Lennox, vamos, fique comigo, abra os olhos!” Ele late, e um pequeno sorriso aparece nos cantos dos meus lábios. “Mandão,” acuso de brincadeira, e então um acesso de tosse de quebrar os ossos me rasga e tento me afogar em meu próprio sangue. Mãos estão de repente em mim, e olho para Rogan, com medo de estar sendo levada embora. “Estou aqui. Eu estou com você,” ele me tranquiliza, pressionando seus lábios na minha testa enquanto sinto a onda reveladora de magia sendo empurrada através de mim. Espero sentir o calor que deve acompanhá-la, sentir minhas partes quebradas enquanto elas se juntam e se curam, mas nada disso acontece. O pânico enche os olhos de Rogan enquanto as pessoas gritam ordens ao meu redor e mais magia é empurrada em meu corpo, mas rapidamente percebo que não está funcionando. Alguém grita sobre uma arma enfeitiçada e então ordena que um Contegomante venha e tente levantar qualquer escudo que esteja em mim para que a magia do Bruxo de Almas possa funcionar. Fecho meus olhos com a revelação deles. Claro que a arma estava enfeitiçada - o objetivo da vida de Jamie era foder tudo além do conserto, por que eu deveria ser diferente? “O que você está dizendo? Você não pode ajudá-la? Vocês são os malditos animamancers da Ordem e não podem curá- la?” Rogan rosna, e o medo nele faz meu coração doer. “Façam alguma coisa!” Ele grita de novo, e então eu o sinto me puxar para mais perto enquanto sua voz profunda e rica me implora para aguentar. “Temos Contegomantes a caminho, os dois que estavam conosco foram mortos, as substituições estão chegando o mais rápido que podem. Com a linha ley próxima, eles estarão aqui em minutos,” o Major assegura Rogan, mas todos nós sabemos que provavelmente não tenho tanto tempo. Forço minhas pálpebras a abrirem, mas parece que preciso de tudo o que tenho em mim para fazer isso acontecer. Olhos verde-musgo devastados me encaram. Tento falar, dizer a ele que está tudo bem, que me importo com ele e que sinto muito por tudo isso estar acontecendo, mas há muito sangue na minha garganta e nos meus pulmões, e não posso falar as palavras. “Espere, Lennox, eles estão trazendo ajuda. Eles vão descobrir como consertar isso,” ele me tranquiliza, mas não sou eu que quero desesperadamente acreditar no que ele está dizendo. Eu soube o acordo no momento em que minha magia vacilou. “Fique comigo,” ele implora. Dou a ele o sorriso mais reconfortante que posso reunir, acenando com a cabeça porque é exatamente onde eu quero estar. “Você vai ficar bem,” ele sussurra com confiança para mim, sua voz embargada de emoção. “Estou aqui e você vai ficar bem.” Ele pega algo do chão e empurra de volta para dentro de mim enquanto pressiona sua testa contra a minha daquela forma que sempre me fez sentir quente e pegajosa por dentro. Eu olho para baixo para ver o que ele está fazendo e o vejo pegar sangue do chão e empurrar de volta no meu peito, o movimento desesperado constante enquanto ele canta repetidamente que estou bem, que vou ficar bem. Eu estendo minha mão e paro a sua, e nossos olhares se encontram, a verdade inegável derramando de ambos os nossos olhos. Estou morrendo. Rogan balança a cabeça como se isso fosse derrubar a realidade para longe de nós dois, alcanço e seguro sua bochecha até que ele me dê seus olhos verdes deslumbrantes novamente. Um olhar de coração partido encontra o meu, lágrimas escorrendo pelo seu rosto enquanto ele me olha. Seus lábios pressionam suavemente contra os meus, e sinto o amor, a esperança e a perda em seu beijo carinhoso. Tento segurá-lo, usá-lo para alimentar a luta que sei que tenho dentro de mim em algum lugar, mas o frio está começando a penetrar em meus ossos e está cada vez mais difícil respirar. “Elon,” Rogan implora, e sofro por sua perda que ouço em sua voz. “Elon, me ajude,” ele implora aleatoriamente, seu peito forte tremendo com os soluços que saem dele. Minha mão cai de sua bochecha e, quando tento levantá- la novamente, só consigo levantá-la alguns centímetros antes que caia de volta no meu abdômen encharcado de sangue. “Eu estou com você, Lennox,” Rogan me tranquiliza, segurando-me mais apertado contra ele enquanto suas lágrimas caem e aquecem minha pele gelada. “Sinto muito,” ele me diz em um soluço trêmulo enquanto afasta o cabelo do meu rosto. “Por favor, fique,” ele implora, e sinto minhas próprias lágrimas escorrendo dos meus olhos com o pedido. “Elon, acorde e me ajude,” Rogan rosna entrecortadamente, e desejo com tudo dentro de mim que isso aconteça. Outra presença aparece ao meu lado, mas não consigo fazer minha cabeça cooperar para que eu possa olhar para ver quem. Cabelo ruivo curto cai na minha linha de visão, e tenho certeza de que quem quer que seja apenas colocou as mãos em mim, mas de forma alarmante, não posso senti-las. Um segundo de silêncio se passa, depois outro e mais outro. O bruxo ergue os olhos e grita que precisa de ajuda. Concentro- me em Rogan, nas lágrimas e em seu belo rosto, na esperança e desespero que vejo em seus olhos. Eu menti para Elon. Não tinha percebido até agora, mas acho que a mentira ainda conta. Não há nenhum poderia ou talvez quando se trata de amar Rogan, já é um negócio feito. “Por favor, ajude-a,” ele ordena enquanto mais bruxos me cercam, e os olhos quentes de Rogan mais uma vez se fixam nos meus. “Lute, Leni,” ele me diz, e então, mais uma vez, tudo fica quieto, pois parece que todos ao meu redor prendem a respiração. Os olhos de Rogan saltam para frente e para trás entre os meus, e tento dizer-lhe com apenas um olhar o quanto me importo com ele e o quanto quero ficar aqui em seus braços. “Shhhhh,” ele murmura para mim, acariciando meu cabelo e trazendo seus lábios suavemente aos meus. “Eu sei,” ele sussurra contra meus lábios, mas quando ele se afasta, meu sangue estampa sua boca, e o medo começa a afundar nos membros que não posso mais sentir. “Há muitos danos. No momento em que desfiar o escudo sobre ela, vai ser tarde demais,” A solene voz de uma mulher declara, e Rogan me puxa para mais perto, seus suave nãos enchendo meus ouvidos enquanto ele luta contra a verdade. “Eu tenho um batimento cardíaco,” alguém grita surpreso, e a multidão reunida ao meu redor se afasta para ajudar quem ainda está lutando por sua vida. Rogan apenas fica e me segura à medida que cada respiração fica cada vez mais difícil de tomar e o mundo ao meu redor começa a se fechar. Um pequeno gemido me escapa, e Rogan me beija suavemente novamente. Eu murmuro - eu te amo - contra seus lábios, e quando ele se afasta, ele balança a cabeça como se soubesse que estou tentando dizer algo, mas ele não tem certeza do quê. “Está tudo bem,” ele me assegura, seu tom gentil e amável enquanto as lágrimas escorrem por seu rosto. “Eu vou cuidar de Tad e Hillen. Hoot vai ficar comigo e vou garantir que todas as pessoas que você ama estejam bem. Eu prometo, Lennox, cuidarei de todos eles. Você pode ir se precisar..., mas gostaria que você ficasse. Eu sei que é egoísta, mas tenho tanto que preciso consertar, tanto que ainda preciso contar a você. Como posso deixar você ir?” Ele pergunta em um soluço, e tudo o que posso fazer é piscar minha própria tristeza dos meus olhos. Há uma grande comoção em algum lugar por perto, mas não consigo me concentrar no que quando alguém entra na minha linha de visão, alguém que não deveria estar aqui. Vovó? Pergunto, mentalmente chocada ao vê-la. Ela não diz nada, mas sorri calorosamente para mim como se pudesse ler a pergunta em minha mente. Ela aponta para o lado dela e olho para ver minha mãe e meu pai. Eu fico olhando para eles sem expressão por um momento enquanto minhas emoções demoram para entender o quão atordoada me sinto. O sorriso caloroso do meu pai me faz chorar como um bebê. Senti tanto a falta de todos eles e agora eles estão aqui. Minha mãe abre os braços e os segura assim, como se estivesse esperando que eu entre em seu abraço amoroso e, por mais que eu queira ir, também quero ficar. Excitação e felicidade explodem dentro de mim, mas estou em guerra com a perda dolorosa que também sinto. A possibilidade de muito mais com este homem acende através de mim enquanto me deterioro nos braços de Rogan, e sinto como se estivesse sendo arrancada de tudo que sempre quis na vida. Minha vovó me oferece um olhar cúmplice e se move para ficar ao lado de meus pais. Ela é exatamente como ela era em vida, me dando espaço e tempo para chegar a um acordo com as coisas, nunca com pressa para me empurrar ou forçar minha mão. Eu volto para Rogan e tento sussurrar o que eu preciso que ele ouça antes de eu ir. Eu gostaria de poder acalmar sua dor e afugentar a angústia que ele não merece. Adoraria nada mais do que descobrir uma maneira de voltar disso, mas meu corpo está quebrado além de qualquer reparo, e posso sentir que estou desvanecendo. Rogan se inclina e pressiona sua testa na minha. Tento inspirá-lo como fiz tantas vezes antes, mas meus pulmões não funcionam mais como deveriam. Recolho cada grama de força que me resta dentro de mim e sussurro para ele: “Eu te amo,” enquanto fecho meus olhos, deleitando-me com seu toque e conforto. “Eu te amo,” ele me tranquiliza, suas lágrimas escorrendo pelo meu rosto. “Eu te amo muito, Lennox. Sinto muito por tudo,” ele lamenta, e ouço-o implorar repetidamente... “Volte para mim.” Suas palavras penetram em minha alma, trazendo consigo peso e calor. Eu luto tanto, mas por mais que tente, não consigo fazer suas palavras me prenderem aqui. Eu me sinto escorregando. No momento em que tento dizer a ele que não quero ir, algo se quebra dentro de mim. Tudo ao meu redor desaparece, e a última coisa que ouço é um pesaroso: “O que eu fiz? Oh Deus, o que eu fiz?” EPÍLOGO
Estou com frio. Frio e desconfortável, o que é uma
combinação estranha de se sentir no céu. Ou talvez eu não esteja no céu. Eu sei que não estou no inferno. Fui uma boa pessoa na vida, mas o fato é que estou com frio e me sinto deitada na cama mais desconfortável do mundo. Tento abrir os olhos para ver o que me rodeia, mas eles ainda não parecem prontos. O que é outra coisa estranha de se pensar quando você deveria estar morto. “Vovó?” Chamo incerta. Eu juro que ela estava aqui falando comigo sobre algo. “Pai? Mamãe?” Minha voz salta pelas paredes do meu recinto, martelando-me com o som da minha incerteza. Sei com certeza que estava apenas abraçando meus pais. Ainda posso sentir as lágrimas em meu rosto quando nos abraçamos e derramei anos de incompreensão e ressentimento em questão de minutos. Foi lindo e poderoso, mas aqui estou eu, agora com frio e desconfortável, sem nenhuma ideia de para onde eles foram. Suspiro e mais uma vez ouço o som dele ecoar ao meu redor. Minha mão se contrai e meu peito coça um pouco desconfortável. Respiro fundo, mas não consigo identificar nenhum cheiro em particular que me indique onde estou. Aperto minhas pálpebras e, em seguida, lentamente tento persuadi-las a abrir. Meu primeiro vislumbre de meu entorno é escuro. Muito escuro. Merda. Talvez tenha havido uma confusão e acidentalmente fui empurrada para baixo quando deveria ter subido. Ou talvez isso seja algum tipo de iniciação esquisita, tipo, Surpresa, você está no céu! Você não está extremamente grata agora que assustamos você pra caramba? Olho ao meu redor para as paredes lisas do pequeno espaço retangular que parece ter o tamanho ideal para caber em mim. Talvez seja aqui que dormimos no céu? Acho que é isso, assumindo que podemos dormir. Embora, se não fizermos isso, como diabos eu acabei de acordar aqui? Não tenho certeza de que tipo de estabelecimento os deuses ou o que quer que seja que está cuidando de tudo aqui, mas devo dizer que não estou muito impressionado agora. Paro por um momento, preocupada que alguém ou algo possa me ferir por esse pensamento, mas quando isso não acontece, relaxo. Começo a pressionar a lateral e a parte inferior dessa coisa em que estou, procurando uma saída ou um botão de chamada ou algo assim. Empurro com força contra a parede acima da minha cabeça e, surpreendentemente, ela se abre. Bingo. Olho para cima pela porta agora aberta e vejo o que considero um espaço de aparência estranhamente estéril e esparsa. Porra. O céu é uma nave alienígena? Espere. As naves alienígenas têm linóleo? É um pouco desorientador tentar entender o que estou vendo de cabeça para baixo, então rolo de barriga para baixo e tento entender desse ângulo. O piso é de linóleo cinza e as paredes são de um tom um pouco mais claro de cinza - não é exatamente cinza, mas também não é bem bege. Definitivamente não é uma nave espacial. Empurro para fora do espaço minúsculo em que estou e vejo várias outras portas quadradas de aço inoxidável exatamente como a que acabei de abrir. Há várias luzes fluorescentes compridas piscando do teto para mim e estou completamente perdida. Achei que haveria lustres ou algo um pouco mais extravagante para receber novas pessoas. Minha testa franze com consternação, e olho para a configuração ao meu redor, completamente confusa. E então isso me atinge como um caminhão em fuga. Nunca vi isso antes, mas de repente tenho certeza de que sei exatamente onde estou. Pela lua, estou em um necrotério, porra. E a única coisa que isso poderia significar é... Estou viva... de novo. Notas [←1] Outro nome para o alimento "sloppy joe" (carne moída coberta em molho de tomate servida em um pão). [←2] Reality Show americano; durante uma semana, p rofissionais correm contra o temp o p ara remodelar a casa de uma família. A equip e reestrutura todos os cômodos, assim como a p arte externa e o p aisagismo do imóvel. [←3] Dimmers são disp ositivos utilizados p ara variar a intensidade da luz. [←4] Coquinhos ou bantu knots; [←5] Vox: significa voz, em inglês. Assim como tem as bruxas de ossos, almas, tem a de voz. Preferi deixar no original. [←6] É um câncer que se desenvolve nas células que formam a cartilagem. É o segundo tip o mais comum de tumor ósseo p rimário. [←7] No original: Ready Up Now. [←8] No original: bone messenger; Bone p ode ser referir a ossos no p lural ou como uma gíria p ara ereção, p or isso o trocadilho. [←9] Personagem interp retado p or Lenny Kravitz em Jogos Vorazes. [←10] Flores de Aço (Steel M agnolias, no original) é um filme estadunidense de 1989, do gênero comédia dramática, [←11] Exp ressão americana bem humorada p ara chamar alguém de maluco (a). [←12] Vilão do filme FernGully - As Aventuras de Zack e Cry sta na Floresta Trop ical [←13] Um tip o de biscoito amanteigado e doce, geralmente nos sabores de mel ou canela. [←14] M arca de carne moída enlatada e temp erada já com molho p ra Slop p y Joe. [←15] Bonnie Ty ler é uma cantora galesa que ficou famosa com várias canções, uma das mais famosas é "Holding Out for a Hero", em tradução livre: esp erando p or um herói. [←16] Funil p ara urinar [←17] RingWraith ou Nazgûl são p ersonagens fictícios das obras de J. R. R. Tolkien, na Terra M édia (Senhor dos Anéis). Eram nove homens que sucumbiram ao p oder de Sauron e quase atingiram a imortalidade como fantasmas, funcionários ligados ao p oder do Único Anel.