Módulo Um - Fundamentos de Interlocução-Revisto e Ampliado
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E
PRODUÇÃO
TEXTUAL
MÓDULO UM
FUNDAMENTOS DE
INTERLOCUÇÃO
AGORA, VAMOS DESCOBRIR POR QUE É POSSÍVEL DETECTAR TAIS PISTAS NO TEXTO.
COMECEMOS COM ALGUNS CONCEITOS DE PALAVRAS QUE FARÃO PARTE, DAQUI PARA
FRENTE, DO VOCABULÁRIO DESTA DISCIPLINA.
1. LÍNGUA ➔ É o idioma falado/escrito por uma comunidade linguística, aquele que a identifica e
que permite que haja interlocução entre seus falantes.
2. INTERLOCUÇÃO ➔ É a atividade comunicativa, só possível entre dois ou mais interlocutores,
que são os participantes do ato comunicativo. Não haverá discurso nem interlocução se não
houver interação, entendimento, e tudo isso envolve o conhecimento/domínio da língua de uma
comunidade.
3. INTERLOCUTORES DO DISCURSO ➔ São, como já dito, os participantes do ato comunicativo,
os sujeitos, os quais carregam consigo as marcas/caraterísticas do tempo histórico e do espaço
a que pertencem (espaço-tempo). Seu discurso jamais será neutro porque envolverá crenças,
valores da ideologia que professam, mesmo que inconscientemente.
Esses três conceitos já nos permitem uma primeira análise do texto de LFV, qual seja:
A língua do texto, obviamente, é a portuguesa, já que todos nós compreendemos as palavras e
as sentenças que ali estão como pertencentes a nossa comunidade linguística, o que fez com que a
interlocução se estabelecesse. E entre quem se deu esse ato comunicativo? Ora, a interlocução se
fez entre o autor/texto e nós. É claro que, para que a comunicação aconteça, muitos elementos
mais estão envolvidos, os quais veremos a seguir, nas Lições Dois, Três e Quatro.
Fonte: a autora.
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LIÇÃO DOIS
O profundo necessário
Diante de jornalismo em crise, Folha não pode se acostumar às águas rasas
José Henrique Mariante*
20.jan.2024 às 23h15
01 Mais lidas da Folha na noite de sexta-feira (19): "BBB24: Direção do reality fica aliviada com
02 desistência de Vanessa Lopes"; "Mãe e filha morrem afogadas durante temporal no interior de
03 SP"; "BBB24: Vanessa Lopes desiste do reality"; "BBB24: Entenda por que Vanessa Lopes
04 desistiu do programa"; "Vídeo mostra homem em surto antes de ser sugado por turbina de
05 avião nos EUA".
06 Exceção feita à tragédia de Limeira, mais uma provocada pelo despreparo do país diante da
07 crise climática, lado perverso do negacionismo que consumirá outras muitas vidas enquanto
08 perdurar, o cardápio da lista não é exatamente o que se espera de um jornal como a Folha.
09 Porém, é o que se apresenta, talvez pelo simples fato de ser do interesse de grande parte de
10 seu público. São as mais lidas, afinal.
11 Nada disso é novo. A procura pelo fait divers é antiga como o jornalismo, e a única diferença
12 para o atual estado de coisas é que antes não havia uma máquina de contar cliques. Existiam
13 métodos para aferir apelos, mas em ritmo e sob gravidade de outro planeta.
14 O confronto com essa realidade instantânea de leitura tem impacto considerável nas Redações.
15 Muitas se submetem aos números, a crise no setor é flagrante e mundial. Quem está melhor
16 posicionado, como este jornal e seus principais concorrentes, busca um balanço entre a
17 audiência, fundamental para as contas, por óbvio, e o jornalismo de qualidade, único meio de
18 contrastar o produto na terra plana da internet. Essa é a teoria. O dia a dia revela sinais, uns
19 sutis outros eloquentes, de certa contaminação no processo.
20 Alguns exemplos da última semana, esparsos. "Litoral de São Paulo registra uma morte por
21 afogamento por dia em 2024", diz título da Folha, que considerou a média "alarmante" no
22 lide da reportagem. Adjetivos funcionam melhor quando escorados por informação, como, por
23 exemplo, a média do verão anterior, que só aparece em uma segunda matéria sobre o tema,
24 dias mais tarde.
Folhapress
25 O jornal levou um tempo também para noticiar que mudanças na disseminação em massa de
26 conteúdo no WhatsApp são mau presságio para este ano eleitoral, segundo especialistas. Em
27 publicação anterior, de título laudatório ("WhatsApp incrementa canais de envio de mensagem
28 em massa com áudio e enquete"), a ponderação não existe. Um único parágrafo lembra que
29 a alteração fora adiada por recomendação do MPF antes do conturbado pleito de 2022.
30 Apurar demora, e são poucos os veículos que atualmente se dão ao luxo de segurar uma
31 história para publicá-la com mais conteúdo depois. A maioria fatia o noticiário, premida pelo
32 relógio ou pelos concorrentes, como nos casos listados. Publique-se o fato, e sua digestão
33 quando der.
34 Ocorre também de a parte ser tomada como o todo. Em "Aliado de Bolsonaro e embates com
35 STF, Carlos e Felipe Neto; quem é Carlos Jordy, alvo da PF", o enunciado promete um perfil
36 do líder da oposição na Câmara, o acossado da vez pela Operação Lesa Pátria. A reportagem,
37 no entanto, se limita à polêmica atuação do deputado nas redes sociais nos últimos anos. Diz
38 muito sobre ele e talvez seja o que muitos entendam como perfil atualmente, mas ajudaria
39 bastante na compreensão do personagem saber de onde saiu, com que plataforma se elegeu,
40 o que fazia antes da carreira pública, detalhes de sua vida pessoal, se pertinentes. O núcleo
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41 duro de leitores da Folha, é razoável imaginar, tem mais familiaridade com outro tipo de
42 político. O "quem é" publicado pelo jornal não traz nem a idade.
43 Talvez a dinâmica jornalística contemporânea só permita profundidade de verdade nos
44 assuntos selecionados, aqueles que o próprio jornal se desafia a esgotar. É o pressuposto das
45 séries noticiosas, formato que, afirma a Folha em reportagem institucional, ajudou a
46 consolidar sua liderança em assinaturas pagas em 2023, de acordo com os novos critérios do
47 IVC, órgão que audita a circulação de jornais.
48 O último investimento do tipo começou a ser publicado também na semana passada, "Bets no
49 Brasil", uma radiografia do mercado de apostas esportivas online, um problema social
50 gigantesco e silencioso, que boa parte do país finge não existir, mídia incluída. Qualquer
51 semelhança com a desfaçatez diante da crise climática não é mera coincidência.
52 Pois a nova série da Folha começou com bons títulos e resultados reveladores de uma
53 pesquisa Datafolha. Jovens jogam muito, jovens pobres jogam o que não têm, e a recente
54 regulação do setor votada pelo Congresso saiu torta, como de praxe. Quem ler os textos já
55 publicados, contudo, notará uma redundância incômoda de informações, como se os leitores
56 fossem incapazes de superar os parágrafos iniciais.
57 Ainda que o índice de mais lidas insinue o contrário, a Folha precisa acreditar que seu público
58 tem fôlego para mergulhos profundos. Até porque no raso não se pula de cabeça.
Disponível em: https://abre.ai/iGs7. Acesso em: 24 jan. 2024.
* Engenheiro e jornalista, foi repórter, correspondente, editor e secretário de Redação na
Folha, onde trabalha desde 1991. É ombudsman.
QUESTÕES PARA DEBATE
1. Quem são os interlocutores envolvidos no ato comunicativo?
2. O que o texto revela a respeito do contexto sociocomunicativo em que está inserido seu autor?
3. De que forma esse contexto influencia o ponto de vista expresso no texto?
4. O que nossa reação a esse ponto de vista revela sobre o contexto sociocomunicativo em que
estamos inseridos? Ele é diferente daquele a que o autor pertence? Por quê?
Na Lição 01, vimos que interlocução é “a atividade comunicativa, só possível entre dois ou mais
interlocutores, que são os participantes desse ato comunicativo, os quais carregam consigo as
marcas/caraterísticas do tempo histórico e do espaço a que pertencem (espaço-tempo).
Determinamos ainda que não haverá discurso nem interlocução se não houver interação,
entendimento e que tudo isso envolve o conhecimento/domínio da língua de uma comunidade.
Nesta Lição 2, vamos aprofundar nosso conhecimento sobre a noção de texto, contexto e discurso,
estabelecendo a relação entre eles e a sua função no processo comunicativo.
1. TEXTO ➔ O texto é materialização, verbal ou não verbal, do discurso. É nele que poderemos
encontrar as “pistas linguísticas” para a compreensão do que foi dito ou para a descoberta do que
não foi dito e ficou, portanto, nas entrelinhas. Para Costa Val (1998), “um texto é uma ocorrência
linguística, escrita ou falada de qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa,
semântica e formal. É uma unidade de linguagem em uso.”. Incidente na casa do ferreiro reúne
todas essas características; é, portanto, um texto.
3. DISCURSO ➔ Embora essa palavra seja empregada, às vezes, com caráter pejorativo,
equivalendo a “sermão”, “reprimenda” ou “conversa fiada”, ela, na verdade, significa “língua em
uso”, ou seja, toda e qualquer atividade de comunicação que acontece entre os sujeitos de um
ato comunicativo.
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LIÇÃO TRÊS
CONSTRUÇÃO DE SENTIDO
Nesta e na próxima lição, você verá que todos os elementos definidos nas lições anteriores estão
diretamente ligados à compreensão que fazemos de um texto. Por isso, voltamos à metáfora do CSI
da linguagem para dizer que ler um texto vai muito além do que está na sua superfície, ou seja, se
não nos ativermos às pistas “camufladas” nas entrelinhas, não conseguiremos depreender o sentido
do texto.
TEXTO PARA ANÁLISE
Se procurarmos o significado das palavras muro e ponte, veremos que não são antônimos em
“seu estado de dicionário”; na tirinha, porém, são. Como podemos chegar a essa conclusão?
SUBENTENDIDOS ➔ São os sentidos que, embora não sejam produzidos de forma explícita,
podem ser deduzidos/inferidos a partir de uma leitura nas entrelinhas do discurso. Só serão válidos,
no entanto, se estiverem de acordo com as informações dadas no texto, porque, apesar de não haver
“uma compreensão ideal, definitiva e única”, ainda assim “as compreensões de um texto devem ser
compatíveis” (Marcuschi, 2008, p. 233-234).
Veja o que dizem Fiorin & Savioli (2006, p. 126) sobre as possibilidades de leitura de um texto.
A recorrência de traços semânticos é que estabelece que leituras devem ou podem ser
feitas de um texto. Uma leitura não tem origem na intenção do leitor de
interpretar um texto de uma dada maneira, mas está inscrita no texto como
virtualidade, como possibilidade.
Lido de modo fragmentário, o texto pode parecer um aglomerado de frases a que o leitor
dá o sentido que quiser e bem entender. Não é assim: há leituras que não estão de
acordo com o texto e, por isso, não podem ser feitas. Mas talvez alguém perguntasse:
um texto não pode aceitar múltiplas leituras? É verdade, pode admitir várias
interpretações, mas não todas. São inaceitáveis as leituras que não estiverem de
acordo com os traços de significado reiterados, repetidos, recorrentes ao longo
do texto. (grifos nossos)
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09 informações fundamentais sobre determinado fato no menor número de palavras, o papel da
10 chamada de internet é ser isca, teaser, provocar o clique.
11 Como se vê, o modelo informacional aqui não é mais o jornalístico, que por tradição tem — ou
12 deveria ter — alguma vergonha na cara, além de um código de ética no bolso. O modelo é o
13 puramente comercial, ou pior, o comercial com viés de picaretagem.
14 Acha que eu estou exagerando? Então clique no botão abaixo (brincadeirinha, não tem botão
15 nenhum) e me diga qual é a diferença estrutural entre "Júri chega a um veredito sobre o caso
16 X: saiba qual" e "Fique milionário em duas semanas: me pergunte como".
17 Para deixar claro a não iniciados: no modelo textual da notícia, seria obrigatório informar logo
18 de cara que o júri condenou (ou absolveu) o réu. Depois disso, se a pessoa quisesse continuar
19 a ler para saber dos detalhes do julgamento, beleza. Contudo, arriscar que o leitor se dê por
20 satisfeito com a informação básica e vá embora parece estar além das forças contemporâneas.
21 Um aspecto curioso do "clique aqui para saber mais" (na verdade, para saber tudo) é que ele
22 pode até ser aplicado a notícias de verdade, como no hipotético exemplo do veredito acima,
23 mas é feito sob medida para o papo furado.
24 Difícil imaginar um acontecimento realmente bombástico — como, digamos, um ataque nuclear
25 a Nova York — sendo economizado para a próxima tela: "Míssil atômico foi lançado contra Nova
26 York: saiba se acertou".
27 No entanto, não notícias se dão muito bem com esse esqueminha, ao qual devem sua própria
28 existência. "Clique aqui para saber se uma tempestade devastadora se aproxima da sua
29 cidade." Aí você clica e descobre que a previsão é de tempo bom.
30 O problema está muito longe de ser simples, mas convém reconhecer que é um problema.
31 Quando empresas jornalísticas tradicionais entram nesse jogo — e todas acabam entrando,
32 umas com mais volúpia, outras menos — o fazem em busca de sobrevivência num mundo que
33 as redes sociais viraram de pernas para o ar.
34 No entanto, embora todo produto de comunicação sempre tenha sido feito com a intenção de
35 ser consumido, de repercutir, de vender, a lógica da pura contagem de cliques provoca uma
36 corrosão lenta e segura no patrimônio de credibilidade que um dia foi o padrão-ouro desse
37 negócio.
38 Sobre isso, vale ler a coluna mais recente do ombudsman da Folha, José Henrique Mariante,
39 intitulada "O profundo necessário".
40 E a quem vier com darwinismo de almanaque, observando que o mundo mudou e que os
41 defensores de velhos padrões — como credibilidade, responsabilidade, relevância social etc. —
42 têm mais é que morrer, convém lembrar que isso pode acabar mal. Clique aqui para saber
43 como.
Disponível em: https://abre.ai/iHv1. Acesso em: 24 jan. 2024.
* Escritor e jornalista, autor de “A Vida Futura” e “Viva a Língua Brasileira”.
1. Após a leitura do texto, é possível explicar a razão pela qual o título está em itálico? Justifique.
2. Ao longo do texto, o autor insere ressalvas, ora entre travessões (l. 01; l. 11 e 12; l. 31 e 32), ora
entre parênteses (l. 14; l. 21). Qual a importância dessa estratégia para a construção de sentido
do texto?
3. Defina, a partir dos trechos contidos entre as linhas
4. Na expressão definida na letra “b” da questão anterior, a palavra “almanaque” tem sentido positivo
ou negativo? Justifique.
5. Pesquise on-line algumas das “não notícias” (no mínimo, duas) de que trata o texto e socialize-as
com a turma e a professora.
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LIÇÃO QUATRO
DIALOGISMO
TEXTO COMENTADO 1
01 Publicidade inclusiva desafia marcas a experiências sensoriais
02 Você já parou pra pensar se a sua marca tem se comunicado com todos os públicos?
03 O último censo do IBGE, divulgado em 2010, revela que 23,9% da população brasileira têm
04 pelo menos uma das deficiências aferidas pela pesquisa: visual, auditiva, motora e mental ou
05 intelectual. A deficiência visual é a que registra maior ocorrência, afetando 18,6% da
06 população brasileira. Em segundo lugar está a deficiência motora, ocorrendo em 7% da
07 população, seguidas da deficiência auditiva, em 5,10% e da deficiência mental ou intelectual,
08 em 1,40%.
09 Só entre 2001 e 2006 o aumento da participação dessa parcela da população no mercado de
10 trabalho aumentou 5.000%. Ou seja: é um público ativo, que participa consideravelmente do
11 mercado e, a cada geração, é possível observar a ascensão progressiva dos seus rendimentos.
12 Ao total, são quase 46 milhões de brasileiros que estão na cadeia de consumo, mas que têm
13 necessidades diferentes para receber a informação. Você já pensou o que sua marca tem feito
14 para se comunicar com esta fatia importante do público?
15 Não é raro que estes consumidores se sintam negligenciados pelo mercado devido às falhas no
16 processo de contato, que raras vezes são adequados às suas necessidades. Fhabyo Matesick,
17 diretor de planejamento da agência de propaganda Tif, em Curitiba, explica que o principal
18 fator limitador é a ausência de informações sobre estes targets, como eles se comportam e o
19 que esperam dos processos de comunicação. “Quantas pessoas da audiência de cada meio são
20 portadoras de deficiências? Quais canais eles usam mais para buscar informação? Nunca vi
21 institutos de pesquisa desmembrarem o perfil do público dessa forma. Está mais do que na
22 hora de mapearmos e realmente pontuá-los dentro do processo”, explica.
23 Para Matesick, é crucial que a publicidade tenha conhecimentos sobre os processos de consumo
24 deste público para atuar de forma inclusiva. “Em 12 anos de agência, nunca tive a oportunidade
25 de participar da concepção de uma campanha que também estivesse preparada para falar com
26 pessoas com deficiência. Sem dados, não conseguiremos fazer da publicidade um espaço de
27 inclusão”, acredita.
28 Marketing sensorial e tecnologias assistivas
29 Quando se fala em publicidade inclusiva é até comum imaginá-la separada da publicidade
30 “tradicional”. Mas as duas podem e devem ser trabalhadas em conjunto: já pensou em incluir
31 no ponto de venda, nas revistas informativas e em outros espaços de comunicação offline a
32 comunicação com o público deficiente visual usando o sistema braille?
33 Em fevereiro deste ano, a empresa de telecomunicações TIM anunciou o desenvolvimento do
34 plug-in “emoji sounds”, que permite a usuários cegos ouvirem com emoção os emojis enviados
35 em conversas
36 Em 2014, uma concessionária da Volkswagen no Brasil resolveu associar-se ao movimento rosa
37 com uma campanha que leva as mulheres a apalparem de fato o papel. Foi distribuído junto
38 com um jornal impresso uma espécie de flyer interativo que associa o toque com os dedos do
39 autoexame às mamas com a leitura em braile.
40 No meio televisivo, o closed caption ainda é uma das soluções pioneiras de inclusão aos
41 deficientes auditivos, pois permite que este público acompanhe a programação da telinha com
42 a ajuda de audiodescrição. No universo online, a experiência dos usuários com deficiência já
43 conta com imensa variedade de recursos facilitadores, como aplicativos que podem ser
44 programados para funcionar junto aos sites e fazer a leitura para deficientes visuais. Essas e
45 outras ferramentas, como braille ou até mesmo a rampa para o cadeirante, são chamadas
46 de tecnologias assistivas: são recursos que facilitam o dia a dia das pessoas com deficiência
47 e atendem às suas diferentes necessidades. Na comunicação publicitária, há ainda muito campo
48 para inovação.
49 Sons que Lak escutou depois que voltou a ouvir e que marcaram sua vida: chiado da latinha
50 de refrigerante abrindo, o primeiro “eu te amo” do esposo e o barulho do vento.
51 Lakshmi Lobato é publicitária e perdeu a audição aos dez anos. Aos 32 anos, por meio de
52 cirurgia de implante coclear, voltou a ouvir. Mas nestes 22 anos, Lak se adaptou à surdez e fez
53 tudo o que sonhou: graduação, aprendeu francês, casou, viajou. Já trabalhou em agências
54 como Leo Burnett Tailor Made e Fabrica, de São Paulo.
55 “A base da comunicação na propaganda quase sempre é visual, porém, a importância do
56 diálogo e dos sons ambientes faz com que você realmente compreenda a mensagem. Tente
57 assistir os comerciais sem o áudio e entender perfeitamente o que estão vendendo, qual o
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58 apelo, o que motiva o consumidor a comprar. Nem sempre é compreensível. Às vezes, sequer
59 dá para saber o que estão vendendo”, afirma Lak. A solução pode ser criar uma legenda
60 descritiva especial para deficientes auditivos quando a campanha for à telinha. “Além do
61 diálogo, este tipo de legenda descreve os sons que compõem o cenário, uma campainha, passos
62 suspeitos, cachorro latindo, fundo musical de suspense”, explica.
63 Quando bem feita, conta Lobato, mesmo que seja veiculada por sistema fechado (closed
64 caption) já ajuda a traduzir perfeitamente a propaganda. “Já no caso dos surdos que não têm
65 domínio no português, a janela de intérprete de LIBRAS é necessária”, avalia.
66 Primeiras impressões depois que voltou a ouvir
67 Depois que voltou a ouvir, Lak conta que a primeira propaganda que a marcou foi a da VIVO,
68 que narrava a história da música Eduardo e Mônica, da banda Legião Urbana. “Meu marido
69 estava no computador e eu ouvi um som familiar. Não cheguei a reconhecer claramente, mas
70 algo em mim me fez pular na cadeira e perguntar: “Que som é esse?”.
71 Ao descobrir de qual música se tratava, Lak foi atrás da agência que produziu a campanha e
72 contou sua história. “O diretor de arte da propaganda comentou no meu blog pessoal que tinha
73 ficado emocionado. Eu até ganhei um poster autografado pelos músicos da banda. Foi uma
74 surpresa incrível, porque eu nunca imaginaria que uma propaganda pudesse me afetar tanto e
75 respingar tanto em quem fez a propaganda, o fato dela ter me afetado”, conta.
76 Deu pra entender por que é fundamental que as marcas repensem a forma com que se
77 comunicam junto ao público? Vamos juntos pensar em uma publicidade mais inclusiva!
Adaptado de: https://www.deolhonomercado.com.br/deolhonomercado/%20marketing/publicidade-inclusiva-desafia-
marcas-a-experiencias-sensoriais. Acesso em: 27 jan. 2023.
TEXTO COMENTADO 2
QUESTÕES PARA DEBATE
1. O texto é dirigido a um leitor em especial. Quem é esse leitor?
2. Há referências a outros textos? Quais?
3. Quantas vozes, além da do autor, estão presentes no texto?
4. Que papel exercem essas referências e vozes no texto?
5. Ao defender a publicidade inclusiva, o texto se contrapõe a que ponto de vista?
DIALOGISMO ➔ Todo discurso “conversa” com outros discursos para contestá-los, refutá-los ou
aliar-se a eles. O primeiro grande princípio do dialogismo é que todo ponto de vista tem sempre um
ponto de vista contrário. Toda vez em que nos posicionarmos sobre algum tema, estaremos agindo
assim como contraponto a um discurso do qual discordamos, ou seja, estaremos “dialogando” com
um ponto de vista contrário ao nosso. Conforme Bakhtin, 2003, p. 272:
[...] todo falante é por si mesmo um respondente em maior ou menor
grau: porque ele não é o primeiro falante, o primeiro a ter violado o
eterno silêncio do universo, e pressupõe não só a existência da língua
que usa mas também de alguns enunciados antecedentes – dos seus e
alheios – com os quais o seu enunciado entra nessas ou naquelas
relações (baseia-se neles, polemiza com eles, simplesmente os
pressupõe já conhecidos do ouvinte). Cada enunciado é um elo na
corrente complexamente organizada de outros enunciados. (Grifos
nossos)
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LIÇÃO 5
TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS
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REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática,
2006.
KOCH, Ingedore; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto,
2010.
MARCUSCHI, Luiz Antonio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola,
2008.
PINTO, Manuel da Costa. (org.). Crônica Brasileira Contemporânea. São Paulo: Moderna, 2005.
VERÍSSIMO, Luis Fernando. O nariz e outras crônicas. São Paulo: Ática, 1993.
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