Apostila Simbologia Kennyo

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SIMBOLOGIA

Kennyo Ismail

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CURSO:

SIMBOLOGIA

PROFESSOR:
KENNYO ISMAIL

Brasília – DF
Junho de 2020.

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SOBRE O PROFESSOR
Kennyo Ismail é escritor, revisor técnico, tradutor, palestrante, professor
universitário e pesquisador, com bacharelato em Administração pela Universidade de
Brasília - UnB, MBA em Gestão de Marketing pela Escola Superior de Administração,
Marketing e Comunicação - ESAMC, e Mestrado Acadêmico em Administração pela
Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas -
EBAPE-FGV.
Como administrador, atuou em grandes empresas de âmbito nacional, como
Brasil Telecom, Oi e Diários Associados, assim como em órgãos da administração
pública distrital e federal. E como acadêmico, manteve vínculo em ensino ou pesquisa
com instituições como UnB, FGV, Ibmec, Anhanguera, UniCEUB e Uninter.
Seu primeiro contato com a Maçonaria foi graças à Ordem DeMolay, tendo
sido, enquanto DeMolay Ativo, Mestre Conselheiro, Ilustre Comandante Cavaleiro,
Mestre Conselheiro Regional, Mestre Conselheiro Estadual Adjunto e Mestre
Conselheiro Estadual de Minas Gerais. Já como maçom, pôde retribuir à Ordem
DeMolay servindo como Presidente de Conselho Consultivo, Grande Orador Distrital,
membro da Comissão Nacional de Relações Fraternais e Presidente das Comissões
Nacionais de Relações Internacionais e de Educação. É Chevalier e Legionário Ativo da
Ordem DeMolay.
Na Maçonaria Simbólica, é Mestre Instalado, tendo sido Venerável Mestre da
Loja Maçônica “Flor de Lótus #38” e da Loja de Estudos e Pesquisas “Dom Bosco #33”,
ambas filiadas à Grande Loja Maçônica do Distrito Federal – GLMDF. É membro
honorário das Lojas Maçônicas “Construtores do Adro #225″, Construtores da
Esperança #226” e “Ahiman Rezon #256”, filiadas à Grande Loja do Estado da Bahia –
GLEB; da Loja “Arautos dos Ritos Maçônicos #747”, filiada à Grande Loja do Estado de
São Paulo – GLESP; e da Loja "Tiradentes", filiada à Grande Loja Maçônica do Estado do
Espírito Santo - GLMEES. Foi Grande Bibliotecário da Grande Loja Maçônica do Distrito
Federal e é portador da Comenda do Mérito Literário “José Castellani” (GODF-GOB).
No Rito de York, é Past Sumo Sacerdote do Capítulo “Fredericksburg #16” de
Maçons do Real Arco, filiado ao Supremo Grande Capítulo de Maçons do Real Arco do
Brasil; Past Grão-Mestre do Supremo Grande Conselho de Maçons Crípticos do Brasil;
membro vitalício do General Grand Council of Cryptic Masons International; e
Cavaleiro Templário.
33º grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, é membro honorário do Supremo
Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria para a República
Federativa do Brasil; e no Shriners, foi Presidente do Almas Brasília Shriners Clube
(2014), e membro do Membership Committee do Almas Temple (2015), de
Washington, DC.
No Grand College of The Holy Royal Arch Knight Templar Priest and Order of
Holy Wisdom (KTP) é membro da Ordem da Sagrada Sabedoria, Past High Priest do
Tabernáculo Villas-Boas e Past District Director of Ceremonies do Distrito 55 da Ordem,
que engloba o Centro-Oeste e o Norte do Brasil.

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É Editor-chefe da revista “Ciência & Maçonaria”, a primeira revista acadêmico-
científica dedicada ao estudo da Maçonaria na América do Sul, vinculada ao NP3-
CEAM-UnB; professor dos cursos de pós-graduação em “História da Maçonaria” pela
UnyLeya e em “Maçonologia” pela Uninter; e membro da Academia Maçônica de
Letras do Distrito Federal, ocupando a cadeira 33. Ainda, atua como assessor de
Comunicação e Marketing da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil - CMSB,
e como Diretor de Comunicação da Conferência Mundial de Grandes Lojas Maçônicas
Regulares - WCRMGL (2019-2020).
Palestrante conhecido no meio maçônico, é autor de diversos artigos
publicados em várias revistas e sites maçônicos no Brasil e em outros países. Foi
revisor técnico e prefaciou a edição brasileira do livro Freemasons for Dummies
(Maçonaria para Leigos), publicado pela AltaBooks (2015); traduziu e comentou a obra
“Ahiman Rezon – A Constituição dos Maçons Antigos”, publicado pela A Trolha (2016);
e é autor dos livros: “Desmistificando a Maçonaria” (2012), “O Líder Maçom” (2014),
“Debatendo Tabus Maçônicos” (2016), “História da Maçonaria Brasileira para Adultos”
(2017), “Um Clone para Deus” (2017), “O Livro do Venerável Mestre” (2018), e "Ordem
sobre o Caos" (2020).

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SOBRE O CURSO
O Curso de SIMBOLOGIA da UniCMSB tem por objetivo a melhor compreensão
do que é símbolo, o que é simbologia, e a origem e significado dos principais símbolos
maçônicos, em especial os relacionados ao grau de Aprendiz.
Neste curso de SIMBOLOGIA você aprenderá:
 O que são símbolos e qual sua importância
 Introdução aos símbolos maçônicos
 Símbolos na Iniciação I
 Símbolos na Iniciação II
 Símbolos no Templo I
 Símbolos no Templo II
 Símbolos nas reuniões I
 Símbolos nas reuniões II
 Simbologia das palavras I
 Simbologia das palavras II

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INTRODUÇÃO

Há um ditado creditado a Goebbels, o lendário Ministro da Propaganda de


Adolf Hitler, que diz: “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Não somente
Goebbels provou a veracidade do ditado com sua propaganda nazista de massa, a qual
convenceu milhões de alemães de inúmeras mentiras, como o ditado vem sendo
comprovado por um número incontável de pessoas e instituições ao longo dos anos,
que enganam multidões com a repetição desenfreada de falsas verdades.

Deve-se também levar em consideração a possibilidade de que talvez Hitler e


Goebbels não estavam simplesmente mentindo, e sim repetindo algo que eles
realmente acreditavam ser verdade. E de tanto repetirem, tornou-se verdade para
muitos. Mas como outro ditado também ensina, “a verdade tarda, mas não falha”. A
distorção da verdade em tempo integral levou ambos ao suicídio quando sentiram a
brisa da realidade.

Se o século XXI é realmente o “século do conhecimento”, então provavelmente


a repetição de mentiras seja o “mal do século”. A repetição de uma mentira pode
ocorrer pelos mais variados motivos: seja para enganar propositalmente outras
pessoas, para pregar uma falsa verdade em que se acredita, ou mesmo por ter
adquirido de uma fonte que deveria ser confiável e passado adiante. O problema é que
tais mentiras, repetidas tantas e tantas vezes, se tornam mitos.

Mas é claro que a Maçonaria, instituição dedicada à busca incessante da


verdade, não possui mitos, certo? Errado. A Maçonaria possui mitos, e não são poucos.
Eles estão presentes na literatura sobre sua história, sua simbologia, seus termos e
expressões, seus ritos e rituais. Afinal de contas, como diz um outro ditado popular, “o
papel aceita tudo”, e quando se trata de uma fraternidade, é fácil acreditar nas
palavras de um Irmão e divulgá-las. E essa presença dos mitos é ainda mais
predominante e marcante na literatura maçônica brasileira.

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Ora, o que diferencia a Maçonaria de outras instituições não são seus símbolos,
mas os significados dos mesmos. Um símbolo pode ser comum a várias instituições de
diferentes povos, culturas, épocas e entidades, mas seu significado pode ser diferente
e até mesmo conflitante em cada uma dessas. Assim sendo, quando se trata do
pentagrama na Maçonaria, não importa o seu significado para os vikings, para uma
tribo nativa norte-americana ou para uma bruxa wicca. Assim como não importa se o
nome “Gargamel” dos Smurfs começa com “G”. Isso nada tem com Maçonaria. A
Maçonaria tem sua própria simbologia e, portanto, não precisa pegar a de ninguém
emprestado.

Não há a pretensão de divulgar “verdades absolutas” ou mesmo de encerrar o


assunto nos tópicos abordados, mas de apresentar entendimentos baseados em
estudos e pesquisas sérias, promovendo assim a reflexão dos Irmãos. Se a aberração
de ontem é a tradição de hoje, está mais do que na hora de conhecer a tradição de
anteontem, infelizmente esquecida ontem, mas que pode ser resgatada hoje e
respeitada amanhã.

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AULA 1: O que são símbolos e qual sua importância

A Maçonaria é "um belo sistema de moralidade, velado em alegorias e ilustrado


por símbolos". Assim, alegorias e símbolos são as colunas de sustentação do método
pedagógico maçônico.

Alegorias são as lendas de cada grau; e os símbolos são algo mais simples que
representa algo mais abstrato ou complexo, como atividades, comportamentos ou
sentimentos.

As alegorias são o cerne da aprendizagem das lições morais, enquanto que os


símbolos são a âncora da memória das mesmas. Eles estão intimamente ligados e,
juntos, formam o todo da educação maçônica. São como o miolo e a casca de uma
fruta, ou o recheio e a cobertura de um bolo. Por meio das alegorias que o maçom
aprende as lições maçônicas, e pelos símbolos ele as guarda e relembra. Um símbolo
presente em um grau tem um significado e relevância para o maçom iniciado nele que
não terá a um não-iniciado, visto que será o gatilho da lembrança da alegoria daquele
grau e, consequentemente, das lições morais nela veladas. Assim, na ausência de
alegorias, o maçom não aprende as lições morais; e na ausência de símbolos, ele não
as lembra. Na prática, o resultado moral é basicamente o mesmo: nenhum.i

Os símbolos podem ser: signos (formas bidimensionais), palavras, sons, gestos e


objetos (formas tridimensionais).

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AULA 2: Introdução aos símbolos maçônicos

Na Maçonaria, exemplo de símbolos em signos é o circumponto, por exemplo.


Palavras, temos as sagradas e de passe. Sons, temos o Huzzé. Gestos, temos os sinais.
E objetos, temos as ferramentas, espada flamejante, etc. Cada um desses tipos de
símbolo possui um significado maçônico, mais complexo e profundo do que o símbolo
por si.

Além disso, pode-se dividir os símbolos como formais e informais. No caso da


Maçonaria, um símbolo informal é o bode. Ele não está presente em qualquer ritual
maçônico, mas relaciona-se esse símbolo à instituição. Outro símbolo, no caso uma
palavra, que tem caráter informal na Maçonaria é a Egrégora. Também não consta em
qualquer ritual maçônico, mas é difícil passar uma reunião sem escutar sua pronúncia.

Já o principal símbolo formal da Maçonaria, indiscutivelmente, é aquele que a


representa: o esquadro e o compasso.

2.1. Bode

Todos já ouviram falar de alguma história relacionando um bode preto com a


Maçonaria. As histórias geralmente são de que você precisa montar em um bode preto
para iniciar, ou que o Deus da Maçonaria é um Bode preto.

Para explicar essa questão histórica da crendice popular relacionando a


Maçonaria com o uso ou culto de um bode, os próprios Irmãos Maçons, sem
encontrarem nenhum indício que justificasse tal crença, buscaram uma explicação
plausível. A lenda que surgiu para isso, e que foi eternizada pelos escritos do célebre
irmão José Castellani, é bastante conveniente: Dizem que havia um costume antigo
entre os judeus que viviam na Palestina nos primeiros séculos da cristandade: os
homens costumavam confessar seus pecados para um bode. O bode era um animal

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muito comum na região e, evidentemente, não poderia passar o pecado confessado
para frente. Dessa forma, os homens se sentiam mais aliviados pela confissão e
seguros de que os pecados revelados nunca seriam contados a ninguém. Diz a lenda
ainda que o apóstolo Paulo, em contato com esse antigo costume, implementou a
confissão na Igreja. Foi então que, mais de mil anos depois, durante a Inquisição,
muitos maçons foram presos e torturados para que contassem os segredos da
Maçonaria, porém, nenhum contava. Por conta disso, os clérigos responsáveis pelos
inquéritos, conhecedores da origem da "confissão cristã", diziam que os maçons eram
como os bodes, que nunca contam os segredos.

Apesar da beleza dessa história, que reforça a lealdade maçônica aos juramentos
prestados, não há nenhum embasamento para essa lenda. Ao contrário, existem fortes
indícios ao contrário:

A "confissão auricular" era um antigo costume religioso romano. Há quem diz


que foi defendida pelo Apóstolo Paulo, que considerava todos os sacerdotes da Igreja
como sendo os sucessores espirituais dos Apóstolos, e interpretava que Jesus
concedeu aos seus apóstolos o direito de perdoar os fiéis de seus pecados. Porém, a
confissão auricular só se tornou obrigatória no IV Concílio de Latrão, por volta de 1215
d.C. Pessoas consideradas santas, como Santo Agostinho, morreram sem nunca terem
se confessado.

Não há qualquer registro da Igreja Católica ou mesmo no Judaísmo que faça


qualquer referência ao suposto antigo costume de se confessar a um bode. Também
não se tem notícia de algum registro de inquérito da Inquisição em que os
responsáveis se referem aos maçons como "bodes" por guardarem segredos. Essa
lenda não possui sustentação histórica.

Por outro lado, há outro fato histórico diretamente relacionando Maçonaria e


Bode que poderia justificar essa crendice popular: Baphomet. Quando os Templários
foram presos e torturados, uma das várias acusações sobre a Ordem do Templo e seus
membros era de que eles veneravam um Deus que possuía corpo de homem e cabeça
de bode, o qual chamavam de "Baphomet". Na época, o povo relacionava o bode com

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o diabo, pois o bode fede e tem chifres, assim como a visão ocidental do diabo. O
nome Bathomet era uma mistura clara de "bode" com "Maomé". É claro que se
tratava de mais uma acusação absurda da Santa Inquisição, a qual nunca foi provada,
mas serviu na época de justificativa para anos de tortura de vários inocentes.

Alguns séculos após o fim da Ordem dos Templários e a condenação de seus


líderes à fogueira em 18 de Março de 1314, a Igreja Católica resgatou tal acusação para
difamar a Maçonaria. A figura do Baphomet ressurgiu dos arquivos do Vaticano para
servir de ilustração da campanha difamatória contra a Maçonaria. Desde então a
imagem de um homem com cara de bode está diretamente ligada à Maçonaria na
mente dos ignorantes ou mal intencionados. Já a Maçonaria, como não poderia deixar
de fazer, levou e leva tais crendices pelo caráter jocoso e tem adotado o bode quase
que como um "mascote".

2.2. Esquadro e Compasso

O Esquadro e o Compasso, juntos, tendo o compasso aberto com as pontas


viradas para baixo e o esquadro com seus braços voltados para cima, cruzados, é o
símbolo distintivo da Maçonaria. Em algumas jurisdições, o compasso está sobre o
esquadro. Em outras, sob o mesmo.

No trabalho operativo, o esquadro era usado para verificar que as pedras


estavam devidamente esquadrejadas, ou seja, se seus ângulos estavam retos, se o
trabalho havia sido feito direito, se a peça poderia ser usada na obra.

Na Maçonaria especulativa, o esquadro passa essa mensagem de esquadrejar.


Mas as pedras que lapidamos não são físicas, são nossas atitudes e comportamentos.
Eles são retos? São direitos? São em prol do próximo e da sociedade? Suas pedras
(ações) são construtivas ou destrutivas?

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O Compasso, no trabalho operativo, é uma ferramenta de arquitetura, ou seja,
utilizada da tábua de delinear para desenhar círculos perfeitos. Na Maçonaria
Especulativa, representa a busca pela perfeição.

Enquanto o esquadro está relacionado ao trabalho manual junto a pedras, ou


seja, algo mais material, operativo, de pedreiro; o compasso está relacionado ao
trabalho na tábua de delinear, ou seja, algo mais especulativo, de arquiteto, mais
espiritual.

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AULA 3: Símbolos na Iniciação I
No Brasil, onde predomina-se a prática de ritos latinos, não há como se falar
em iniciação sem abordar sua sala de preparação: a Câmara de Reflexões.

É comum às iniciações, mesmo as tribais, que se isole o iniciante antes da


iniciação. Na Maçonaria latina, esse isolamento ocorre na Câmara de Reflexões. A
câmara é um local alquímico. Símbolo de um túmulo ou cripta mortuária, lembra-nos
que é necessário morrer para renascer. Assim, representa o interior da terra, o
subterrâneo, de onde simbolicamente viemos e para onde retornaremos.

Ali tem-se pão, água, enxofre, sal, crânio e tíbias, ampulheta, papel e caneta
para um testamento. Nas paredes, um galo e o principal: V.I.T.R.I.O.L.. Decifremos
esses símbolos, deixando o melhor para o final.

O pão e a água podem ser compreendidos como sinal de humildade, como o


alimento de um prisioneiro que ainda não se libertou, mas também, para os cristãos, o
pão tem o significado de ser o corpo de cristo e, assim, símbolo de ressurreição.

O sal e o enxofre, em taças diferentes, mostram a dualidade, o paralelo, entre


a ordem (sal) e o caos (enxofre); o estável e o instável; e, principalmente, a vida (sal) e
a morte (enxofre).

O crânio e tíbias, em alguns casos também uma esquife, são símbolos da morte
e toda a verdade que ela encerra: todos os bens materiais não têm serventia com a
morte, assim como vaidades, rancores, etc.

A ampulheta é símbolo do tempo e tudo que ele carrega: os dias, semanas,


meses e até anos correm como grãos de areia entre os dedos. Em muitos casos, não há
segundas chances. Não se deve deixar para amanhã o que se pode fazer hoje, visto
que o tempo finda.

O testamento é uma maneira de formalizar um compromisso de renúncia da


vida profana, refletindo sobre os novos princípios que se abraçará na nova vida, a
maçônica.

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O galo é símbolo de vigilância e perseverança. Muitas vezes, vem acompanhado
dessas duas palavras. Isso porque o galo vigia o nascer de cada dia e não costuma
falhar. Assim, é símbolo do nascer de um novo dia ou, nesse caso, de uma nova vida.

E o VITRIOL é a sigla de "Visita Interiora Terrae, Rectificando, Invenies Occultum


Lapidem”: Visita o interior da Terra e, retificando-se, encontrará a pedra oculta. Com o
sal e o enxofre, essa é a presença alquímica mais evidente na Câmara. A pedra oculta
também era chamada de "pedra filosofal". Em outras palavras, é algo similar ao
"conhece-te a ti mesmo". Trata da busca pelo aperfeiçoamento e equivale ao "lapidar-
se enquanto pedra bruta". Assim, tudo é simbologia: enquanto o maçom fala em
transformar a pedra bruta em cúbica, o alquimista fala em transformar chumbo em
ouro. Ambos estão falando da busca por aperfeiçoar-se.

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AULA 4: Símbolos na Iniciação II

4.1. Descalçamento

Pra começar, esse negócio de chinelo é coisa relativamente nova, apenas para os
candidatos não pegarem um resfriado, machucarem o pé ou mesmo se sujarem em
demasia. Preocupações que não existiam anteriormente, mas passaram a fazer parte
da sociedade. Afinal de contas, pé com chinelo não é pé descalço! Mas como trata-se
de simbolismo...

Os rituais e livros são extremamente omissos quanto ao motivo do


descalçamento, muitas vezes informando apenas que se trata de uma questão de
respeito. Há ainda os “achistas” de plantão, para viajarem em teorias tendenciosas e
sem embasamento como Jesus lavando os pés de um discípulo, ou que o caminho do
candidato é ao Oriente e no Japão as pessoas tiram os calçados para entrar em casa.
Se neles falta pesquisa, sobra imaginação. Não me assustará se uns desses quiserem
um dia lavar os pés em vez das mãos do candidato no Mar de Bronze!

Para demonstrarmos a antiguidade e a importância do costume do


descalçamento, podemos recorrer a vários povos e épocas. Entre os exemplos, há no
livro “Êxodos”, 3:5, quando Deus fala com Moisés por meio de uma “sarça ardente”:
“não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; porque o lugar em que tu estás é
terra santa.” Outro exemplo interessante, dum personagem muitas vezes ligado à
Maçonaria, é uma instrução de Pitágoras aos seus discípulos: “Ofereça sacrifício e
adoração descalço” e “Devemos nos sacrificar e entrar nos templos sem sapatos”.

Tal costume, existente entre judeus e gregos, também é observado entre


muçulmanos, hinduístas, e várias religiões orientais, o que comprova seu caráter
universal. Tão antigo e presente em tão diferentes povos e culturas, é impossível e
desnecessário determinar seu início e origem. Parece fruto de um senso comum, assim
como a própria existência de um Ser Superior. Trata-se de um óbvio reflexo do
simbolismo dos templos: um local sagrado é um local puro, portanto, livre do que é

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sujo. Dessa forma, o pé descalço simboliza o respeito e a deferência da pessoa para
com aquele lugar, seu reconhecimento de que aquele solo é realmente sagrado.

Mas, como sempre, alguns ritualistas fizeram o favor de desconsiderar a história


e o motivo de existir do rito de descalçamento, tornando os rituais, no mínimo,
incoerentes: os candidatos descalçam o pé para pisarem num lugar puro, mas colocam
sandália para não sujarem o pé. Uma verdadeira distorção do símbolo e de sua
simbologia. Será que é preguiça de limpar a Loja? Espero que não.

4.2. Nem nu nem vestido

Neutralidade é a palavra que melhor resume esse termo. Nem claro nem escuro.
Nem salgado nem doce. Nem feliz nem triste. Nem satisfeito nem insatisfeito. Quando
você não está em uma dentre duas opções binárias, você está... neutro. E isso não
atinge apenas as roupas, mas também o próprio descalçamento.

Além de neutralidade, observa-se que a nudez é do peito esquerdo, o qual


simbolicamente está relacionado com o coração. Expor o peito esquerdo é símbolo de
expor-se, de expor seus sentimentos, sua verdade. Isso demonstra confiança, pois não
se expõe seus sentimentos a qualquer um.

Além disso, o fato de estar semidespido é um sinal de humildade, pois apresenta


o candidato como um homem e nada mais do que isso, livre de títulos e amarras
sociais. Isso fica ainda mais evidente junto da ação de "despido de todos os metais".

Assim, o nem nu nem vestido representa, de uma maneira geral, que o candidato
já começou a despir-se das "vestes mundanas".

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4.3. Corda no pescoço

Se você acha que já viu de tudo escrito por aí, cuidado. Você pode aprender a
triste lição de que nunca se deve subestimar a capacidade do ser humano de “viajar”.

Certo autor cometeu o disparate de escrever que o candidato durante a iniciação


é um feto que está nascendo da mãe Maçonaria, e que a corda em seu pescoço
simboliza o cordão umbilical, que será em breve tirado, como num recém-nascido.
Mesmo que façamos um esforço para acreditar na teoria improvável de que nossos
antecessores, Maçons Operativos, adotavam essa simbologia, seria mais óbvio então
durante a iniciação amarrar a corda na altura do umbigo, e não no pescoço.

Outro autor, não satisfeito, declarou que a corda no pescoço do candidato é


representativa do símbolo milenar da serpente que morde sua própria cauda. Esse
símbolo, chamado de Ouroboros ou Uróboros, representa a eternidade e costuma ser
relacionado com a Alquimia. Enfim, nenhuma relação com o pescoço, com a corda, e
com o ato da Iniciação.

Há ainda aqueles que afirmam que a corda no pescoço simboliza o estado de


escravidão que o candidato se encontra, escravo das paixões, dos vícios e da
ignorância. Faz sentido, mas então não seria melhor amarrar suas mãos, algemá-lo?
Seria uma representação um tanto mais adequada.

Por fim, há os que consideram a corda no pescoço uma armadilha simbólica,


para ser usada no caso do candidato tentar fugir ou trair a confiança nele depositada
durante a Iniciação. Seria para assassiná-lo, então?

Por que complicar o que é simples? Há dois entendimentos respeitáveis sobre a


corda no pescoço: A “Ars Quatuor Coronatum”, publicação da conceituada “Quatuor
Coronati Lodge n°2076”, registrou no seu 1° Volume que a corda no pescoço é símbolo
de controle, obediência e direção. Já o famoso Albert Pike foi ainda mais simplista: não
é nada mais do que um dispositivo de controle do corpo do candidato.

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Corroborando com tais compreensões, pode-se observar que a mesma corda é
empregada nos candidatos também quando do ingresso em outros graus, inclusive em
graus de diferentes ritos. Mesmo que amarrada de forma e em lugar diferente, sempre
é simbolicamente usada para... guiar. Apesar desse objetivo primário, nos graus mais
“modernos”, a corda acabou ganhando também conotação de elo, união, fraternidade.
Se no primeiro grau a corda é posta no pescoço, nada mais é do que sinal de que o
candidato ainda não é possuidor da confiança total dos presentes, por isso recebendo
um direcionamento menos fraterno e amigável.

É muito fácil comprovar o significado da corda no pescoço: basta pegar uma


corda com nó corrediço e colocar no pescoço de alguém. Então pergunte à pessoa
como ela se sente, quais os pensamentos e sentimentos que vêm à mente. Haverá
duas sensações: a pessoa poderá relacionar a situação ao enforcamento ou se sentir
como um animal laçado, como um cachorro na coleira ou cavalo. Um conselho: no
caso da pessoa dizer que se sente no útero da mãe ou como um alquimista com um
colar de serpente, ligue para um psiquiatra.

4.4. Venda

As vendas são um símbolo menos abstrato e mais fácil de compreender. Os


candidatos, desde rituais bem antigos, são chamados de candidatos "pobres e cegos".
O termo "pobres", já vimos bem sobre o "nem nu nem vestido" e "despido de todos os
metais". E os cegos, bem... eles são vendados para simbolizar isso.

A cegueira não é física, mas cegos no sentido de encontrarem-se na escuridão.


Mas, como candidatos, desejam receber a luz da Maçonaria. E é isso que é fornecido
na Iniciação, após prestar o juramento.

Aqui, faz-se um paralelo quanto ao simbolismo antigo de que ignorância é


escuridão e conhecimento é luz. Não é à toa que a Maçonaria floresceu num período
chamado "ILUMINISMO".

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4.5. Espada flamejante

Em Ahiman Rezon, Laurence Dermott dá uma das várias pitadas de sarcasmo ao


criticar a Grande Loja dos Modernos por incluir a Espada do Éden dentro das lojas.

A verdade é que a espada não tinha presença tão forte e tão variados papeis no
Antigo Ofício. Nos rituais mais antigos só há uma única espada na Loja: a do “Tyler”, do
Cobridor. E essa “escassez de espada” ainda pode ser vista nas Lojas americanas e
inglesas, mesmo quando no grau de Mestre Maçom.

Maçom significa pedreiro. A Maçonaria Especulativa originou-se da Maçonaria


Operativa, ou seja, das associações de artífices, sindicatos de pedreiros. Por um acaso
os pedreiros usavam espada? Espada é uma ferramenta de trabalho de um pedreiro?

Se você pensar bem, uma espada entre esquadro, compasso, régua, maço, cinzel,
nível, prumo, alavanca, é um objeto um tanto quanto estranho e dissonante. Isso
porque quem usa espada não é pedreiro.

Então de onde surgiu essas espadas presentes no grau de Mestre em tantos


ritos? Observa-se que a espada como acessório oficial do Mestre Maçom está presente
nos Ritos de origem francesa: REAA, Moderno, Adonhiramita. Isso porque, quando a
maçonaria surgiu na França, foi pelas mãos dos escoceses exilados na França, os
jacobitas. As primeiras Lojas eram compostas de nobres escoceses, nobres franceses e
militares franceses. Todos esses usavam espadas. É fácil entender o raciocínio desses
pioneiros na França: eles eram nobres e militares. Combinaria mais com eles serem
sucessores de cavaleiros medievais do que de pedreiros! Ramsay teria sido apenas o
porta-voz da vontade desses senhores.

E a espada flamejante? Ela tem tudo a ver com isso. Quem se ajoelha para ser
recebido e consagrado com uma espada sobre a cabeça definitivamente não é o
pedreiro, e sim o cavaleiro. E numa Loja em que todos têm uma espada, a espada da
sagração, visto ter exatamente o objetivo de “sagrar”, precisa ser "sagrada",
imaculada. Daí então, as Sagradas Escrituras serviram de inspiração para a adoção
duma Espada Flamejante, cujo porte pelos querubins imprime uma imagem sacra e o

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fogo simboliza purificação. Por isso, esqueça aquela baboseira escrita por um dos
grandes “sábios” da maçonaria brasileira, de que a espada flamejante é um “raio
jupteriano” que fulmina o candidato se encostar em sua cabeça. Pelo menos,
aconteceu comigo na minha iniciação e eu não morri!

Foi assim que as espadas tiveram ingresso na Maçonaria Simbólica, fugindo da


simbologia do Antigo Ofício, mas caindo nas graças da burguesia que, até aquela
época, não portava espadas. É uma característica da cavalaria, inclusa nas antigas
tradições maçônicas, vista por uns como aberração e justificada por outros como
evolução.

No caso da Espada Flamejante, foi a espada ideal para que um Venerável Mestre,
no papel simbólico de um rei (Salomão) pudesse consagrar um candidato como
maçom, no velho e típico costume inglês de um rei ou rainha investindo um plebeu
como "sir". Talvez, se a Grande Loja dos Modernos não tivesse sido historicamente
governada por um membro da Família Real, isso nunca teria acontecido.

4.6. Avental

E então o irmão recebe seu avental, tornando-se assim um maçom. O avental é


o símbolo distintivo de sua qualidade de maçom. É sua vestimenta do ofício. Equivale à
mitra de um sacerdote, ao distintivo de um policial.

Esse avental possui uma abeta, que é uma herança do avental dos operativos.
Originalmente, durante o século XVIII, essa abeta era longa e possuía cordas como as
das laterais do avental, que servem para amarrar envolta da cintura. Mas no caso das
cordas da abeta, elas servem para amarrar envolta do pescoço, de forma a mantê-la
para cima.

Sabe-se disso também graças a Laurence Dermott, que fazia piada de uma das
modernizações implementadas pela Grande Loja dos Modernos. Enquanto a abeta do
Aprendiz sempre foi levantada, simbolizando que, ainda sem perícia e trabalhando

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com força bruta sobre a pedra bruta, precisava proteger-se das lascas; os Modernos
resolveram inovar, definindo que seus Aprendizes deveriam utilizar seus aventais com
a abeta para baixo, como usavam os Mestres Maçons dos Antigos. Daí Dermott
registrou que era fácil identificar um Aprendiz dos Modernos: faltava-lhes os dentes da
frente pois, sem saber o que fazer com as cordas da abeta, deixava-as arrastando no
chão e era comum que pisassem sobre as mesmas e caíssem de cara no chão!

Interessante observar que, quando da fusão das duas Grandes Lojas inglesas,
prevaleceu a forma de uso do avental pelo Aprendiz como na Grande Loja dos
Modernos. Isso pode ser observado nas lojas que adotam o trabalho de Emulação no
Brasil.

Sobre a cor do avental, branca, remete à "construção limpa", ou seja, que o


maçom deve simbolicamente manter seu avental sempre branco, limpo, não
maculando a si mesmo, muito menos a Maçonaria. Isso está diretamente ligado a ser
sempre digno e idôneo, como alguns rituais antigos mencionam.

20
AULA 5: Símbolos no Templo I

5.1. Templo de Salomão x Templo maçônico

Deve-se ter em mente que o templo maçônico não é uma “réplica” ou uma
“miniatura” do Templo de Salomão. O templo maçônico na verdade é “simbolicamente
inspirado” no Templo de Salomão. Vejamos: Por um acaso, nossos templos possuem o
altar do holocausto com fogo? Os dez castiçais? As 400 romãs? A mesa de ouro para
pães? Vasos, bacias, colheres, varais e véus? Decoração com querubins, palmeiras e
flores?

Já o Templo de Salomão, tinha tronos para Primeiro e Segundo Vigilantes?


Esquadro e Compasso? Sol e Lua? Colunetas de Ordens de Arquitetura GREGAS?
Colunas Zodiacais (REAA)? Maço e Cinzel, Nível e Prumo?

Fica evidente que o templo maçônico não é uma cópia do Templo de Salomão,
recebendo apenas inspiração do mesmo. Essa inspiração está presente, por exemplo,
na orientação do Templo em Oriente, Ocidente, Norte e Sul; nas Colunas J e B, no Mar
de Bronze (presente em alguns Ritos).

5.2. Templo x Sala da Loja

A Maçonaria francesa do século XVIII em muito foi influenciada pelo conceito


de religião civil de Rousseau, originalmente publicado em sua coleção conhecida por
Do Contrato Social, em 1762. Rousseau acreditava que o credo mínimo de um bom
cidadão era a crença em um Ser Supremo e na Imortalidade da Alma, havendo, ainda,
a necessidade da crença em algum mecanismo de julgamento que garantisse a punição
dos erros.

Num período de enxertos de todos os tipos, muitos foram os esforços de alguns


ritualistas no sentido de enxertas características da religião dominante na França, o
catolicismo, de modo a facilitar a conversão do homem médio francês, católico, em um

21
maçom, já que compreendiam que a Maçonaria poderia completar essa lacuna de uma
religião civil aos moldes de Rousseau.

Assim, a Sala da Loja, termo original das reuniões maçônicas, que em nada
tinha de sagrado e cuja única exigência era estar livre de olhos profanos, ganhou uma
cerimônia de sagração e, consequentemente, um significado sagrado, passando a ser
chamada de "Templo Maçônico". A Antessala passou a ser chamada de Átrio, o que
também é um termo típico de igreja.

E assim, a Maçonaria francesa e suas descendentes foram se distanciando da


ideia de uma Ciência e aproximando-se da ideia de uma Religião.

5.3. Forma e dimensões da Loja

Os rituais antigos registram que a forma da Loja é a de um “quadrado oblongo”.


Talvez você esteja pensando: “Como é possível um quadrado ser oblongo? Aí não seria
quadrado, e sim retângulo! Esse termo está errado!”

Se você pensou algo parecido, saiba que muitos ritualistas ao longo dos últimos
séculos pensaram como você. Esses ritualistas também acharam o termo de certa
forma contraditório e foram substituindo-o ao longo do tempo. Hoje, vê-se
“quadrilongo” e até a aberração “retângulo alongado”! Ora, se é retângulo, então já é
alongado, não é mesmo?

A verdade é que o quadrado oblongo, o quadrilongo e o retângulo são apenas


nomes diferentes para a mesma figura geométrica. Nenhum deles está errado, nem
mesmo o “quadrado oblongo”, o mais antigo deles. Entenda o porquê:

Procure na bíblia a palavra “retângulo”. Aliás, não procure porque você não
encontrará. Isso não significa que não há objetos e construções retangulares descritos
na bíblia. Simplesmente, o termo não existia.

Para que se entenda melhor a questão, deve-se compreender o verdadeiro


significado da palavra “quadrado”. Quadrado vem do “quadratus”, que é o particípio
passado do verbo em latim “quadrare”, que significa “esquadrar”. Assim sendo,

22
quadrado, no sentido original, era toda forma geométrica de quatro lados formada por
ângulos retos. Quando os quatro lados eram do mesmo tamanho, o quadrado era
“quadrado perfeito”, e quando dois lados paralelos eram maiores que os outros dois,
era “quadrado oblongo”. A palavra retângulo veio surgir muito tempo depois.

Mas quais as medidas corretas?

“Sem simetria e proporção não pode haver princípios na


concepção de qualquer templo.”

Vitrúvio

O quadrado oblongo, como todo retângulo, pode ter qualquer tamanho, desde
que dois lados paralelos sejam maiores do que os outros dois. Um templo maçônico,
tendo a forma de um quadrado oblongo, também pode ter qualquer tamanho,
conforme o espaço físico, interesse e recursos financeiros permitem. Mas a questão
que interessa aos maçons é se há uma proporção correta a ser respeitada, como bem
sinalizou Vitrúvio, autor das primeiras obras que detalham as Ordens de Arquitetura,
tão importantes para a Maçonaria.
Nesse sentido, existem duas teorias:

A primeira é de que a proporção é de 1×2, ou seja, as paredes do Norte e do Sul


devem ter o dobro do comprimento das paredes do Oriente e Ocidente. Essa teoria se
sustenta na proporção conhecida como “ad quadratum”, de origem romana e que foi
muito usada na construção de igrejas góticas.

A segunda teoria, e mais aceita, é da Proporção Áurea, que é de


aproximadamente 1×1,618. Essa famosa proporção, também conhecida como
Proporção de Ouro e Divina Proporção, foi utilizada na concepção do Parthenon e
adotada por artistas como Giotto. Também está presente na natureza, como em
algumas partes do corpo humano e nas colméias, além de vários outros exemplos
envolvendo o crescimento biológico, o que torna tal proporção ainda mais intrigante.
Pitágoras, figura extremamente importante na Maçonaria, registrou a presença da
Proporção Áurea no Pentagrama, tornando esse o símbolo de sua Escola. O próprio
Vitrúvio era fã devoto da proporção. O retângulo feito com base na Proporção Áurea é

23
chamado de “Retângulo de Ouro”. Para se ter uma ideia de sua influência e aplicação
até nos dias de hoje, os cartões de crédito convencionais respeitam a Proporção
Áurea.

Desvendado o “mistério do quadrado oblongo”, é importante observar que a


Maçonaria apenas declara que o templo tem tal formato, sem explicitar qual seria a
proporção adequada. Mas se você é adepto de uma das proporções e não encontrá-la
no templo de sua Loja, não se preocupe. Afinal de contas, não se fazem mais templos
como antigamente.

Já quanto as dimensões simbólicas, o templo é representativo do mundo e seu


movimento de rotação, com nascer, zênite e por do sol. Assim sendo, suas dimensões
vão do Oriente ao Ocidente, de Norte ao Sul, da terra ao céu, da superfície ao centro
da terra.

5.4. Norte como o lado escuro

Com exceção do Rito Brasileiro, que inverteu as posições do REAA, os


Aprendizes se sentam na Coluna do Norte em todos os demais Ritos. Nos ritos de
origem francesa (Escocês, Moderno e Adonhiramita), eles se sentam na última fila do
Norte, enquanto que nos ritos de origem que podemos chamar de “anglo-saxônica”
(Shroeder, York e rituais do Reino Unido como o de Emulação), eles se sentam na
primeira fila do Norte.

Qual é o motivo para os Aprendizes se sentarem no Norte? Essa é uma


pergunta muito comum em Loja e que costuma receber as mais variadas respostas,
algumas totalmente sem nexo:

“Porque a pedra bruta está no lado ocidental do norte, e o


Aprendiz é uma pedra bruta”.

“Porque o Aprendiz precisa ficar na Coluna da Força para


ganhar força para o trabalho”.

24
“Porque o Aprendiz tem que ficar perto do Primeiro Vigilante,
que o instrui”.

“Porque o Aprendiz tem que ficar de frente para o Segundo


Vigilante, que é quem deve instruí-lo”.

Essas afirmações chamam a atenção para um outro ponto:

De onde tiraram que os Vigilantes são os responsáveis por instruir os


Aprendizes e Companheiros? Existe alguma fala na Abertura e Encerramento dos
trabalhos em que os Vigilantes assumem essa responsabilidade? As instruções
obrigatórias desses graus, que constam nos Rituais, são feitas pelos Vigilantes?

Respostas: Não. Apenas em algumas das cerimônias inventadas de posse e nos


Estatutos modernos das Obediências é que os Vigilantes “ganharam” essa
responsabilidade. As instruções para Aprendizes e Companheiros não são presididas
pelos Vigilantes. Elas são presididas pelo Venerável Mestre e apenas contam com a
participação dos Vigilantes, assim como contam com outros Oficiais da Loja.

Você pode estar se perguntando agora: Então, por que diabos os Vigilantes são
considerados responsáveis pela instrução de Aprendizes e Companheiros?

Simplesmente criou-se esse “hábito” por conta da equivocada interpretação de


que os Vigilantes “governam” as colunas onde os Aprendizes e Companheiros estão
sentados, então deveriam ser responsáveis por eles.

Os Vigilantes não são ritualisticamente os responsáveis pela formação dos


Aprendizes e Companheiros, independente de ser o 1º Vigilante para os Aprendizes e o
2º Vigilante para os Companheiros, ou vice-versa. Na verdade, os Oficiais da Loja são
responsáveis por instruir Aprendizes e Companheiros conforme as instruções do Ritual,
e sob comando do Venerável Mestre. É dever ritualístico do Venerável Mestre, que é o
Mestre da Loja, definir se eles estão preparados para subir mais um degrau. Isso não
deveria ser responsabilidade dos Vigilantes, apesar de se terem criado esse costume e
legislado em favor disso. As dúvidas que um Aprendiz ou Companheiro por ventura
possam ter deveriam ser sanadas pelo seu padrinho, o Mestre Maçom responsável

25
pelo seu ingresso na Loja. É para isso que servem padrinhos, para garantir a formação
de seus afilhados!

Enfim, com base nessas observações, verifica-se que as respostas dadas sobre o
Aprendiz no Norte que são relacionadas à instrução dos Vigilantes não correspondem
com a verdade.

Quanto à reposta de que o Aprendiz fica na Coluna da Força para ganhar força
para o trabalho, isso é uma ofensa para a inteligência de cada maçom. Substituiremos
o maço e o cinzel por alteres, se assim for! O efeito será melhor para tal simbologia!

Já a afirmação de estar relacionado com a posição da pedra bruta em Loja


também é ilógica. Afinal de contas, em alguns ritos a pedra bruta não fica na Coluna do
Norte, enquanto que Aprendizes permanecem lá! Então, qual é o motivo?

É simples. A Loja possui 03 Luzes que a governam: Venerável Mestre, Primeiro


Vigilante e Segundo Vigilante. Essas 03 Luzes ficam localizadas em 03 lados do templo:
Oriente (VM), Ocidente (1º Vig) e Sul (2º Vig). Ora, o templo possui 04 lados, então um
não possui Luz: o Norte! Por esse motivo, a Coluna do Norte é considerada o “lado
escuro do templo”.

O Aprendiz até pouco tempo atrás era um candidato na escuridão, desejoso de


receber a Luz. Seu lugar é no lado mais escuro do templo onde, simbolicamente, sua
visão poderá se acostumar com a Luz que lhe é dada aos poucos. O Aprendiz está no
hemisfério norte, enquanto o Sol está fazendo seu giro do Oriente para o Ocidente
inclinado ao Sul, o que indica que o Aprendiz está no inverno do hemisfério norte,
quando as noites são maiores que os dias, ou seja, a escuridão ainda prevalece sobre a
luz do dia.

Isso está muito bem registrado nas instruções dos rituais mais antigos, mas se
perdeu na evolução de muitos ritos e na constante “revisão” que quase todos sofrem
constantemente.

26
5.5. Olho que tudo Vê, Iod e G

Sempre há algo na parede do Oriente e esse algo sempre representa o que


deve-se alcançar, já que o caminho simbólico do maçom é do Ocidente, rumo ao
Oriente, em busca de Luz na Maçonaria. Logo, algo simboliza essa Luz, que significa o
conhecimento maçônico, ou, aos mais espiritualistas, o GADU.

Assim, os rituais mais antigos destacaram o G, símbolo de Geometria, e que


posteriormente ganhou um novo significado, que seria a inicial do termo cuja sigla é
GADU.

Séculos atrás, conhecimento era algo raro, reservado a pequena parcela da


população, restrito aos poucos com berço ou condições financeiras para tanto.
Naqueles tempos, a Geometria era tida quase como uma ciência sagrada, mãe da
arquitetura e da construção, sem a qual as Catedrais não podiam ser planejadas e
concluídas. As crianças não aprendiam Geometria nas escolas, como ocorre
atualmente. Apenas aqueles que trabalhavam com construções aprendiam tais lições.
Em resumo, a Geometria era a ciência do maçom operativo, uma ciência que os
distinguia dos demais, que tornava possível a execução da Arte Real, que levanta
templos às virtudes.

A presença do “G” no Templo é representativo da Geometria como a ciência


maçônica; como foco do estudo, conhecimento e prática do trabalho maçônico; e
principalmente como origem da Arte Real, base para o uso de todas as ferramentas do
maçom. Esse significado pode ser comprovado em todos os antigos Catecismos
Maçônicos que se tem conhecimento.

A letra “G” definitivamente não é “God” ou qualquer outro nome relacionado


ao Grande Arquiteto do Universo. Apenas nas línguas anglo-saxãs, a palavra referente
a Deus começa com “G”, enquanto que o uso do “G” também sempre constou nos
países de línguas latinas. Se “G” fosse God (inglês e holandês) ou Gott (alemão), então
nos países como França, Espanha, Itália e Portugal utilizariam um “D”: Dieu (francês),
Dios (espanhol), Dio (italiano) e Deus (português). E isso não aconteceu e não
acontece, nem nesses países e nem nos que adotam as línguas latinas. Já a palavra

27
“Geometria” mantém sua letra inicial tanto nas línguas anglo-saxãs como nas latinas:
Geometry (inglês), Geometrie (holandês e alemão), Géométrie (francês), Geometría
(espanhol), Geometria (italiano e português).

O surgimento de novos significados para o “G” foi surgindo entre o século XVIII
e XIX, quando os intelectuais-maçons da época, achando a simbologia maçônica de
certa forma simplista, começam a inventar significados considerados por eles mais
profundos e adequados para os símbolos maçônicos e pegar emprestado símbolos de
outras fontes (astrologia, alquimia, cabala, templários, etc), criando novos rituais e
ritos.

Ao indicar num mesmo ritual que uma única letra tem 07 diferentes
significados, não relacionados entre si, os “sábios da maçonaria” daquela época, assim
como os de hoje, revelam uma informação importantíssima a todo maçom estudioso:
na tentativa de “florear” nossa simbologia, se mostram grandes incoerentes.

Sim, “G” era apenas “Geometria”. Pode não parecer muita coisa hoje, mas na
época era.

Mas essa saga da letra G ocorreu nos rituais anglosaxônicos. Os ritos latinos
foram desenvolvidos sobre a ideia de Rousseau de uma Religião Civil, ganhando muitos
aspectos religiosos. Assim, o G foi substituído por formas representativas do GADU: o
Iod e o Olho que tudo Vê.

Diferente do que muitos maçons pensam, o Olho que tudo Vê não é um


símbolo maçônico ou Illuminati, mas... Católico. Esse símbolo pode-se ver em muitas
igrejas medievais e góticas, ou seja, em períodos anteriores à adoção pelos maçons
franceses. Trata-se de um símbolo gráfico pelo qual Deus é apresentado em forma de
um triângulo, representando assim a Santíssima Trindade. Há quem defenda que a
Igreja inspirou-se no famoso Olho de Hórus para adotar esse símbolo.

Já o IOD, 10a. letra do alfabeto hebraico, é a primeira letra do Tetragrama que


forma o nome inefável de Deus. Assim, o IOD está para Deus como o G está para
Geometria ou GADU.

28
AULA 6: Símbolos no Templo II

6.1. Pavimento Mosaico e Orla Dentada

Primeiramente, o que é mosaico? Ao contrário do que muitos já registraram,


mosaico não tem origem em Moisés. Conforme a etimologia dessa palavra já
confirmou, sua origem é a mesma da palavra “museu”. Mosaico é o trabalho feito
através da união de diferentes pedras.

Em Loja, diz-se que o Pavimento de Mosaico, constituído de pedras brancas e


pretas, simboliza a diversidade do ser humano, mas sempre levado à dualidade das
forças: bem e mal, rico e pobre, sábio e ignorante, saudável e doente, virtude e vício,
feliz e triste. Muitos autores concordaram sobre isso. Será que essa é a verdadeira
interpretação?

Também se diz que o Pavimento Mosaico está presente em nossos templos


porque assim era o piso do Templo de Salomão. Será mesmo verdade?

Outra importante questão sobre o Pavimento Mosaico é quanto ao seu


formato. Qual é o correto? Aquele pequeno retângulo na área do Altar dos
Juramentos, ou todo o piso da Loja?

Para encontrar as respostas corretas para tais questionamentos, deve-se por


um momento esquecer dos nossos Rituais atuais e voltar os olhos para a história:

Mosaicos faziam parte da arte e da arquitetura romana. Tem-se no livro João,


Capítulo 19, versículo 13, que os julgamentos do governante romano Pilatos ocorriam
em um lugar chamado pelo termo grego de “Litóstrotos”, e em hebraico chamado de
“Gabatah”. Litóstrotos significa calçado por pedras, e Gabatah significa pavimento.
Plínio utilizava o termo Litóstrotos para se referir a um Pavimento Mosaico.

Convencionou-se imaginar que o “Santo dos Santos” do Templo de Salomão,


por também ser um local de juízo, possuía um Pavimento Mosaico. Essa teoria não tem
fundamentos na Bíblia, onde consta que todo o piso do Templo era de madeira de
cedro, mas é baseada em uma breve passagem do Talmud, que permite uma

29
interpretação de que os lugares mais sagrados dos templos tinham o Pavimento
Mosaico. As escrituras e tradições também dão notícia de que o Santo dos Santos,
mais alto do que o restante do Templo, era delimitado por véus com franjas e borlas
(almiazar). Franjas e borlas eram usadas em sinal de respeito e devoção na época. Por
borlas, entende-se um adorno pendente. Uma herança dessa tradição ainda está
presente, por exemplo, nos populares lenços palestinos.

Até o final da Idade Média, não se sabia quais as cores desses antigos
Pavimentos Mosaicos. Porém, no século XVI, o Rei Henrique VIII autorizou a confecção
de um bíblia em inglês, surgindo então a chamada “Bíblia de Genebra”, por ter sido
feita naquela cidade. Essa versão traduzida trazia como novidade diversas ilustrações.
Entre elas, a do Templo de Salomão, que era ilustrado com um Pavimento Mosaico de
quadrados intercalados em preto e branco. É evidente que não havia outra forma de
ilustrar um pavimento colorido, pois a impressão na época era apenas em preto e
branco. Porém, com pouco tempo a visão do Pavimento Mosaico do Templo de
Salomão em preto e branco firmou-se como realidade. Dessa forma, quando do
surgimento dos templos maçônicos, inspirados no Templo de Salomão, o Pavimento
Mosaico em preto e branco foi adotado.

Enfim, as cores não tinham a simbologia da dualidade das forças. As cores eram
apenas porque essa era a ideia que se tinha do piso do Templo de Salomão. O próprio
Mackey, um dos maiores escritores sobre maçonaria de todos os tempos, confessou
isso em sua Enciclopédia Maçônica, declarando que, apesar de equivocada, é
adequada a interpretação do Pavimento Mosaico como a dualidade entre o bem e o
mal.

Você pode estar se perguntando: “E a Orla Dentada?” Essa é uma questão


interessante. Quando do registro dos primeiros rituais em inglês, o que era uma orla
(borda, margem) com franjas e borlas (adornos pendentes) nas extremidades… tornou-
se simplesmente “indented tessel” que, em tradução livre, significa “orla dentada”.
Mas o que seria então uma verdadeira “orla dentada”? Trata-se do que hoje vemos
sobre o trono do Venerável Mestre, em que a borda da cobertura do trono possui
“dentes” com franjas, sendo comum atualmente serem feitos de gesso.

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Como se sabe, os primeiros templos maçônicos eram planos e sua
ornamentação precária. Por esse motivo, o retângulo onde se encontra o Altar dos
Juramentos, o qual simbolicamente representa o Santo dos Santos, não era elevado, o
que impedia de se ter uma Orla Dentada real. Por isso, a Orla Dentada precisava ser
desenhada ou pintada no chão, ao redor do Pavimento Mosaico. Com o tempo e a
forte presença do triângulo na simbologia maçônica, convencionou-se desenhar os
“dentes” da orla em formato de triângulos, e assim surgiu o que atualmente se vê na
maioria dos templos maçônicos espalhados pelo mundo.

Nos Ritos que adotam o Pavimento Mosaico como um retângulo central, os


maçons não devem pisar no Pavimento, a não ser aquele que irá abrir e fechar o Livro
da Lei, assim como ocorria no Santo dos Santos, onde apenas o Sumo Sacerdote podia
ingressar e para realizar um fim específico relacionado ao GADU. A circulação então é
feita em ângulo reto, tendo como parâmetro o Pavimento Mosaico.

Já no REAA, prevaleceu o entendimento de que todo o piso do Templo de


Salomão era um Pavimento Mosaico, baseado nas ilustrações medievais. Por isso, todo
o piso nos templos do REAA é em mosaico alvinegro, e a Orla Dentada, que circula
todo o pavimento, está representada pela “Corda de 81 nós”, da qual pendem 04
borlas nos 04 cantos do Templo.

Porém, com a perda de tal compreensão e do conhecimento da origem de tais


símbolos, além da influência de outros Ritos, é comum encontrar templos do REAA no
Brasil que possuem o Pavimento Mosaico restrito ao retângulo central, constituído
também de Orla Dentada, ao mesmo tempo em que vemos a Corda de 81 nós sobre as
colunas zodiacais, algo totalmente redundante. Onde se vê Orla Dentada não deveria
existir Corda de 81 nós, e vice-versa. Dessa forma, não é de se surpreender com as
dezenas de significados inventados para cada um desses símbolos:

Rizzardo da Camino chegou a escrever que o Pavimento Mosaico representa a


união das doze tribos de Israel, os dentes da Orla Dentada são os planetas que giram
no Cosmos, e que a Corda de 81 nós absorve as vibrações negativas e as transforma
em positivas. Castellani preferiu escrever que o Pavimento Mosaico representa a
mistura de raças, a Orla Dentada é a união dos opostos, e a Corda de 81 nós

31
representa a comunhão de ideias e objetivos de todos os maçons, tendo suas borlas o
papel de representar que a Maçonaria é “dinâmica e progressista”. Não somente
discordaram um do outro como suas suposições estavam erradas.

Apesar desses dois grandes autores discordarem um do outro em suas teorias,


eles têm algo em comum: criatividade.

6.2. Três Grandes Luzes e Três Luzes Menores

As Três Grandes Luzes da Maçonaria são universais, sendo um ponto de


regularidade de prática. Não pode haver uma reunião maçônica sem a presença das
três: O esquadro, o compasso e um Livro Sagrado.

O esquadro e o compasso já foram explicados anteriormente. Na maioria das


jurisdições há um consenso de que o Livro Sagrado será aquele adotado pelos
membros da Loja. Assim, há dois raciocínios que podem ser vistos exemplos mundo à
fora: um é de uma Loja com vários Livros Sagrados no altar, representando a fé dos
diferentes irmãos; e o outro é de uma Loja que adote um único livro, geralmente a
Bíblia cristã, por ser o livro da maioria dos irmãos, utilizando outros livros sagrados
apenas quando do juramento nas concessões de graus.

A presença do livro sagrado é pela Maçonaria tratar-se de uma escola de moral


teísta, ou seja, uma moral que defende que alguns princípios morais são imutáveis e
não simplesmente uma convenção social. E a condição de imutáveis deve-se por terem
sido acordados por inspiração ou decisão divina.

Já as Três Luzes Menores são os três candelabros com velas, que iluminam as
Três Grandes Luzes. Elas estão presentes em diferentes disposições nos diferentes
ritos e rituais. Isso porque, enquanto os Antigos mantiveram-nas próximas das Três
Grandes Luzes, os Modernos a levaram para próximo dos Três Dirigentes da Loja: O
Venerável Mestre, o Primeiro Vigilante e o Segundo Vigilante, passando essas a
representá-los, que são comumente chamados de "Luzes da Loja".

Entretanto, originalmente, essas Três Luzes Menores tinham outro significado.


Representavam o Sol, a Lua e o Venerável da Loja. E era dito que, assim como o Sol

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governa o dia e a Lua governa a noite, com igual regularidade deve o Venerável Mestre
governar a Loja. Em outras palavras, o Venerável Mestre não ocupa o cargo apenas
durante a reunião, devendo cumprir seu dever perante seus irmãos todos os dias, 24
horas por dia.

6.3. Sol e Lua

O Sol e a Lua, geralmente presentes em cada lado da parede do Oriente e


tendo entre eles o trono do Venerável Mestre, destacados também no Painel de
Aprendiz Maçom, sempre foram alvos das “especulações” dos estudiosos maçons.
Aliás, com tanta especulação sobre a simbologia maçônica, fica fácil compreender o
verdadeiro significado do termo “Maçonaria Especulativa”! Encontra-se de tudo por aí:
Conforme alguns estudiosos de plantão, aquele Sol simboliza Mitras, Invictus, Horus,
Rá ou Osíris, Hélio ou Apolo, a masculinidade, a Luz da Iniciação ou o símbolo do
Oriente. Já a Lua quarto-crescente seria o feminino, o segredo a ser revelado, a busca
pela verdade, a palavra perdida e prestes a ser encontrada, ou até mesmo a
ressurreição. Isso sem contar nas interpretações absurdas, que não merecem citação.

O fato que parece passar despercebido para muitos é que esse Sol e Lua são, na
verdade, um único símbolo. A mais clara evidência disso é que, seja na parede do
Oriente ou no Painel de Aprendiz, eles aparecem sempre juntos, em tamanhos iguais,
na mesma altura e de lados opostos. Nunca se vê apenas um ou o outro, porque se
trata de um símbolo só. Dessa forma, qualquer interpretação desses elementos
realizada de forma separada já é um grande erro.

Temos no símbolo do Sol e Lua um dos símbolos mais antigos da Maçonaria.


Quando relacionados, o Sol é o emblema do meio-dia enquanto que a Lua é o
emblema da meia-noite, ou seja, o início e o término dos trabalhos de todo maçom. O
Venerável Mestre, estando entre o Sol e a Lua, demonstra que comanda os trabalhos
naquele período. Esse simbolismo é creditado a Zoroastro, conforme muitos Rituais
denunciam. Zoroastro foi um importante profeta persa, considerado como um dos
principais mestres dos Antigos Mistérios, chamado por muitos de “pai do dualismo” e
tido como precursor de muitos pensamentos comuns entre as três vertentes religiosas
33
de Abraão: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. A tradição diz que os trabalhos nos
templos de Zoroastro ocorriam do meio-dia à meia-noite, e que sua filosofia tinha por
base a cosmologia. O antagonismo do dia e da noite, da claridade e da escuridão, era
visto na natureza e no bem e o mal, presentes em cada ser humano.

Por que a Lua quarto-crescente?

Porque a astronomia ensina que a Lua quarto-crescente nasce ao meio-dia e se


põe exatamente à meia-noite. Assim, quando o Sol está em seu zênite, ao meio-dia em
ponto, é quando a Lua quarto-crescente nasce, a qual se põe à meia-noite em ponto. A
lua quarto-crescente, tão importante para os Persas seguidores de Zoroastro,
atravessou os milênios, tornando-se emblema da cultura árabe. Esse fato não deixa
dúvidas de que o símbolo do Sol e Lua na Maçonaria é realmente símbolo “do meio-dia
à meia-noite”.

6.4. Circulação ou Trabalho de Solo

A Maçonaria possui modelos de circulação que variam conforme o Rito


praticado. Há a circulação em esquadria, que respeita a linha entre o Trono da
Sabedoria e o Altar e se orienta pelo Pavimento Mosaico recuado; a circulação em
sentido anti-horário, chamada de sinistrocêntrica (rara); a circulação em sentido
horário no Ocidente e anti-horário no Oriente (mais rara ainda); e a circulação apenas
em sentido horário, conhecida como dextrocêntrica, adotada no REAA (muito popular
no Brasil).

É claro que cada tipo de circulação maçônica tem seu motivo de existir e sua
explicação. Mas, considerando a supremacia do REAA no Brasil e a quantidade de
material controverso publicado sobre o assunto, foquemos em sua circulação:

Em primeiro lugar, não percamos tempo com nomenclaturas. Sejamos sinceros,


circumambulação e circunvolução são apenas nomes frescos para o que conhecemos
por circulação. A intenção dos autores deveria ser de facilitar a compreensão, e não de
complicar. Afinal de contas, quando um policial quer que um cidadão se movimente,

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ele diz “circulando, circulando!” e não “circumambulando, circumambulando!” ou
“circunvoluindo, circunvoluindo!”

A verdade é que girar em sentido horário em volta de um Altar não é coisa


recente. Enquanto os egípcios valorizaram o lado esquerdo como o lado espiritual, os
gregos antigos tinham o lado esquerdo como o “desfavorável” e o direito como o
“favorável”, visto que, em regra, o braço direito favorece mais o dono do que o
esquerdo. Daí surgiu a referência popular de que “fulano é meu braço direito”. Por
esse entendimento, a circulação em torno dos altares gregos era sempre realizada de
forma que o lado direito ficasse próximo ao altar.

Já os romanos, adotando o mesmo procedimento, vieram a chamar essa


circulação de “dextrovorsum” e relacioná-la ao aparente movimento que o Sol faz
diariamente em torno da Terra. Esse aparente movimento do Sol se deve ao fato da
Terra girar no sentido anti-horário em torno de seu eixo (Rotação), o que gera a
percepção para seus habitantes de que é o Sol que está se movendo no sentido
horário.

Vários outros povos em diferentes épocas, tendo sempre o aparente


movimento do Sol como referência, também adotavam a circulação em sentido
horário, tendo altares, fogueiras, totens ou sacrifícios como eixo. Uma prática de certa
forma universal. Interpretando o Templo Maçônico como um microcosmo da Terra, é
fácil compreender sua adoção no REAA e em vários outros Ritos.

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6.5. Painéis

Observe bem esses dois painéis e diga: qual deles é o painel de Aprendiz
Maçom do REAA?

Se você for procurar em algum Ritual que tenha sido baseado no editado por
Mário Behring em 1928, não se assuste. Você poderá se deparar com AMBOS os
Painéis no MESMO Ritual. Isso mesmo: procure nas primeiras páginas do Ritual e você
verá o 1° Painel, provavelmente com o título “Loja de Aprendiz”. Agora procure mais
próximo ao final do Ritual, antes das Instruções. Lá provavelmente você verá o 2°
Painel, com o título “Painel da Loja de Aprendiz”.

Então, qual é o Painel original do REAA? De onde saiu esse outro Painel?

O Painel original do REAA é o 1° Painel, onde se vê a Corda com nós, a tábua de


delinear com uma cerquilha (jogo da velha) e um “X”, e as três janelas. Esses são
claramente símbolos relacionados ao REAA.

36
Já o 2° Painel, onde se vê as três colunas e a Escada de Jacó, é original da
Grande Loja Unida da Inglaterra. Trata-se do Painel de Aprendiz pintado por John
Harris em 1825, o qual tem servido de base para inúmeras coleções de painéis
utilizadas no âmbito daquela Grande Loja, inclusive em muitas Lojas trabalhando no
Ritual de Emulação, apesar da Emulation Lodge, mãe de tal Ritual, utilizar outra versão
dos painéis de John Harris, a versão de 1845.

Mas como esses Painéis do Ritual de Emulação foram parar dentro dos Rituais
do REAA?

Quando da fundação das Grandes Lojas brasileiras, Mário Behring, à frente do


Supremo Conselho do Grau 33 do REAA, necessitava fornecer os Rituais dos Graus
Simbólicos para que as recém-criadas Grandes Lojas pudessem trabalhar. Os
conhecimentos do Irmão Mário Behring não se restringiam ao REAA, tendo sido
também um grande conhecedor do Rito de York, Rito Moderno e do Ritual de
Emulação. Como uma forma de aproximar as Grandes Lojas brasileiras da Grande Loja
Unida da Inglaterra e das Grandes Lojas Americanas, Mário Behring incluiu diversas
características do Ritual de Emulação e do Rito de York aos seus rituais do REAA.
Alguns dos “empréstimos” do Ritual de Emulação foram as Colunetas e o Jogo de
Painéis.

O mais interessante é que o GOB sofreu essa influência e também passou a


adotar os Painéis do Emulação nas Lojas do REAA, corrigindo isso depois de mais de 50
anos, com o resgate do painel antigo. Também por conta disso, alguns Grandes
Orientes da COMAB também utilizam os Painéis do Emulação no REAA.

Sempre há uma discussão por parte dos Irmãos se as Grandes Lojas deveriam
“corrigir” essa e outras modificações em seus Rituais. Porém, o entendimento
majoritário é de que não foram enganos, erros, e sim modificações intencionais de
Mário Behring, fundador das Grandes Lojas brasileiras. Tanto que a ilustração do
Painel original foi mantida no Ritual. Os rituais editados em 1928 foram frutos da
criação das Grandes Lojas, fazendo parte de suas histórias. Nesse ponto de vista, não
há porque modificá-los.

37
AULA 7: Símbolos nas reuniões I: Vestimentas

7.1. Balandrau

Muitos são os maçons brasileiros defensores do balandrau. Mas afinal, qual a


origem dessa vestimenta na maçonaria?

O célebre escritor José Castellani escreveu que o balandrau era a indumentária


dos membros do “Collegia Fabrorum”, e que os maçons operativos medievais, do
século XIII em diante, também utilizavam a túnica negra.

Com todo o respeito ao saudoso Irmão Castellani e suas obras, que tanto
acrescentaram para a literatura e cultura maçônica brasileira, permita-nos discordar
de tal afirmação. Nos parece que se trata de teoria feita de forma inversa, ou seja,
apenas para justificar um costume arraigado, ao invés de buscar sua origem. Afinal de
contas, não existe qualquer indício de que os membros do Collegia Fabrorum ou
mesmo os maçons operativos medievais realmente utilizavam balandrau. Em que se
baseia essa afirmação? A impressão é de que apenas se afirmou o uso pelos membros
da maçonaria operativa para justificar o uso pelos maçons especulativos, sem qualquer
fundamento histórico para ilustrar tal teoria.

Em verdade, a origem do balandrau na maçonaria é outra. Podemos dizer que


herdamos o balandrau de uma instituição “prima”: A Carbonária.

Analisando a “Carta de Bolonha” e tantos outros documentos existentes do


segundo milênio, vê-se claramente que já no século XI a maçonaria operativa era
dividida entre os que trabalhavam com “pedra” e os que trabalhavam com “madeira”.
Em resumo, os que trabalhavam com “pedra”, que eram maiores em número e em
serviços, eram os maçons operativos, dos quais somos os legítimos herdeiros.
Enquanto que a Carbonária surgiu como herdeira daqueles que trabalhavam na
madeira.

A Carbonária se fazia presente de forma itensa na Itália, França e Portugal, e


era governada pelo General francês Joaquim Murat, cunhado de Napoleão Bonaparte

38
e tido como rei de Nápoles. Os carbonários eram conhecidos pelo uso de uma túnica
preta com a imagem do punhal de São Constantino bordada no peito esquerdo – Sim,
um balandrau.

Joaquim Murat tratou de iniciar na Carbonária seu filho, “príncipe” Charles


Lucien Murat. Em 1815, o príncipe Murat teve que se exilar por conta do assassinato
de seu pai, vivendo então na Áustria, Veneza e por último nos Estados Unidos. Só
conseguiu retornar à França em 1848. Em 1852, Murat assumiu como Grão-Mestre do
Grande Oriente da França, cargo em que permaneceu até 1862.

Nesses 10 anos como Grão-Mestre, Lucien Murat realizou uma grande


revolução no Grande Oriente da França, o qual cresceu como nunca em número de
Lojas e notoriedade. Foi também nesse período que vários traços da antiga Carbonária
foram implementados na maçonaria francesa, entre eles o uso do balandrau. Os
maçons do Grande Oriente do Brasil, que tão estreitos laços possuiam e tanta
influência sofriam da maçonaria francesa, a qual havia sempre servido de exemplo e
fonte dos Ritos então praticados no Brasil – Escocês, Adonhiramita e Moderno – logo
também aderiram ao balandrau.

Porém, em janeiro de 1862, o rei Napoleão III declara o Marechal Bernard


Pierre Magnan, um profano, como Grão-Mestre do Grande Oriente da França. O
Marechal Magnan é iniciado e elevado até ao grau 33 do Rito Escocês em apenas dois
dias. Magnan desfaz muitas das mudanças promovidas por Lucien Murat. No entanto,
o balandrau já havia caído nas graças dos irmãos brasileiros.

Uma das evidências que constata que o balandrau não teve origem no Collegia
Fraborum ou na maçonaria operativa é de que é um traje totalmente desconhecido na
maçonaria da Inglaterra, Irlanda, Escócia e Alemanha, países em que a maçonaria é tão
antiga e originária das antigas Guildas quanto na Itália, França e Portugal, ao mesmo
tempo em que esses primeiros não tiveram a presença da Carbonária em seus
territórios, enquanto Itália, França e Portugal tiveram.

Com base em tais relatos e análises históricas, conclui-se que a afirmação de


que o balandrau é uma herança da maçonaria operativa, apesar de valorizar

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simbolicamente o balandrau, é totalmente falsa. Fica evidente a influência que a
Carbonária, através de Lucien Murat, exerceu sobre o Grande Oriente da França e,
conseqüentemente, sobre a Maçonaria Brasileira, sendo o balandrau o mais visível
indício disso.

7.2. Chapéu

Qual a origem do chapéu na maçonaria, usado pelo Venerável Mestre nas


reuniões de Aprendiz e Companheiro e por todos os Mestres nas reuniões de Mestre
Maçom?

Uma das obras de José Castellani declara que herdamos o chapéu preto dos
judeus ortodoxos, e que o chapéu em Loja é a “coroa maçônica”, influência da realeza
européia, usada pelo Venerável como símbolo de sua posição de liderança.

Afinal de contas, herdamos dos judeus ou dos reis europeus? E os judeus


ortodoxos, usam o chapéu preto porque se consideram reis? Não há como misturar
uma coisa com a outra, chapéu de judeu com coroa de europeu. Mas Castellani e
muitos outros irmãos tentaram.

Se herdamos o chapéu dos judeus ortodoxos, será que não deveríamos adotar
também a circuncisão? Ou talvez as tranças nas orelhas e a barba longa?

Na verdade, o uso do chapéu na Maçonaria é praticamente inverso ao uso do


chapéu pelos judeus! Os judeus utilizam o chapéu obrigatoriamente durante as
orações e cerimônias religiosas, em sinal de temor a Deus. Já o maçom utiliza durante
toda a reunião e retira o chapéu exatamente nos momentos de orações, em sinal de
respeito! Dessa forma, fica claro que o uso do chapéu pelos maçons não tem nenhuma
relação com o uso do chapéu pelos judeus ortodoxos, como pensava Castellani.

Já a teoria do chapéu ser um símbolo da “coroa maçônica”, influenciada pelo


símbolo de liderança que distingue o rei dos demais, seria mais plausível, afinal de
contas, o Venerável Mestre representa o Rei Salomão, não é mesmo? Porém, porque o
Venerável não utilizaria uma verdadeira coroa em Loja? Uma coroa de louros, ou

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flores, ou de metal? Porque seria um chapéu preto de abas caídas (REAA) ou mesmo
uma cartola (Rito de York)? E por que todos os Mestres usariam em reuniões de
Mestre, se o representante do rei Salomão é apenas o Venerável?

Na Grécia Antiga o chapéu era símbolo de sabedoria e liberdade. O famoso


escritor maçom Oliver comenta sobre o mesmo significado para os romanos, tendo
sobrevivido na maçonaria desde as Guildas Romanas. Sua relação com a sabedoria
permaneceu na Idade Média, como os chapéus dos magos denunciavam, os quais
foram adaptados para cartolas pelos mágicos. O chapéu representa proteção. Se na
prática o chapéu protege a cabeça do dono contra o sol, simbolicamente, o chapéu é
como um elmo que confirma e protege a sabedoria que se encontra na cabeça do
Venerável Mestre. Assim sendo, o chapéu do Venerável Mestre pode realmente ser
interpretado como uma coroa representativa de sua autoridade. Porém, uma
autoridade com base na Sabedoria, assim como a de Salomão. E é por serem
detentores da sabedoria maçônica que todos os Mestres utilizam o chapéu nos ritos
originados na França.

O costume do uso de chapéu pelo Venerável Mestre era um costume na


maçonaria inglesa até a fusão que originou a Grande Loja Unida da Inglaterra. Após a
fusão, os antigos costumes foram “reformulados” para agradar ambas as partes, e a
tradição do chapéu simplesmente foi descartada. O único ritual na Inglaterra que
mantém o uso do chapéu pelo Venerável Mestre é o Bristol. Mas por uma ironia do
destino, essa tradição permaneceu viva nos EUA. E os ritos de origem francesa
também mantiveram esse antigo costume, tão presente no Brasil.

7.3. Terno

Quase todas as Lojas no Brasil tem funcionamento na noite dos dias úteis, o
que obriga o maçom a, muitas vezes, ir direto do seu trabalho para a Loja. A
obrigatoriedade do terno preto com camisa branca e gravata preta ou outra cor
conforme rito acaba por atrapalhar a rotina de muitos membros, principalmente
aqueles que não adotam traje social em seus locais de trabalho ou utilizam uniformes

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em suas profissões. Muitas vezes, um maçom deixa de realizar visitas espontâneas a
outras Lojas por conta de estar com vestimenta não adequada.

A tendência no mundo contemporâneo é de piora. Com o trânsito cada dia


pior, as jornadas de trabalho cada dia enveredando mais para a noite, e a maior
informalidade na vestimenta para o trabalho, o costume de se vestir de terno preto
para ir à Loja vai sendo dificultado nas metrópoles. É certo que há mais de meia
década atrás, os homens vestiam terno no dia-a-dia, mas isso definitivamente não faz
mais parte da realidade da maioria dos homens brasileiros.

Conforme Castellani, a adoção do terno preto não tem caráter simbólico, não
havendo significado para a cor do terno na Maçonaria. Não representa neutralidade ou
algo similar. O terno seria apenas um sinal de formalidade, de respeito à instituição,
similar ao sistema inglês, sendo a adoção do preto um reflexo da busca por
padronização.

Nas décadas anteriores havia um consenso de que se trabalhava de terno e,


mesmo que não, em alguns lugares deve-se ir de terno, como na missa, no culto, num
forum, etc. A Maçonaria brasileira regulamentou esse costume, que caiu em desuso
mas, como sabemos, regulamentos não caem.

Conforme Cloves Gregório, alguns rituais antigos brasileiros dão notícia da


exigência de vestimenta formal para as reuniões. Isso incluia paletó, colete, calça,
gravata, mas sem especificação de cor. Entretanto, sabemos, o preto é clássico e
básico. Todo homem tem ou deveria ter um terno preto.

Ou seja, o terno preto NÃO É UM SÍMBOLO.

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AULA 8: Símbolos nas reuniões II: Paramentos

8.1. Punhos

Parte integrante da vestimenta maçônica, conhecida por todos os maçons, em


especial aqueles que já experimentaram o desconforto do uso, os punhos fazem parte
dos paramentos utilizados pelo Venerável Mestre, Primeiro e Segundo Vigilantes em
muitos ritos e rituais, e também é adotado pelos cargos correspondentes de algumas
Obediências. Sempre em conformidade com o colar e o avental, os punhos completam
a vestimenta ritualística desses principais Oficiais.

Mas se todos os Oficiais de uma Loja utilizam colar e avental, por que apenas os
Vigilantes e o Venerável Mestre utilizam os punhos? Aliás, qual a origem dos punhos?
Por que existem? Qual sua simbologia, significado? Quem deve usar, como e quando?

São milhares de maçons utilizando os punhos sem saber as respostas, de


Vigilantes a Grão-Mestres. Para que você não continue utilizando (e odiando) esse
acessório sem conhecê-lo, pelo simples fato da falta de uma literatura maçônica
decente no Brasil, este artigo responderá tais perguntas.

Esses braceletes que chamamos de “punhos” são conhecidos nos países de


língua inglesa como “gauntlets”. Gauntlets podem ser considerados como luvas de
cano longo que cobrem a mão e parte do antebraço, usadas para atividades manuais,
com intuito de proteger o punho. Esse tipo de luva é muito comum na construção civil
e é conhecido por alguns como “luva de raspa”, por ser geralmente feito de raspa de
couro.

Além dos punhos, qual o outro utensílio comum entre os Vigilantes e o


Venerável Mestre, utilizado apenas por esses três Oficiais? O malhete. Porém, nos
primeiros anos de Maçonaria Especulativa, os maçons não tinham templos e utensílios
próprios para as reuniões. Eles se reuniam em tavernas e utilizavam os utensílios da
Maçonaria Operativa. Assim, em vez de belos malhetes trabalhados, utilizavam

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rústicos maços, e em vez de belas e finas luvas, utilizavam as mesmas luvas grossas e
compridas usadas nas construções.

Operativa até início XVIII

No início, todos os Oficiais costumavam usar tais “luvas de pedreiro”, rústicas e


de manga longa. Mas com o tempo, apenas aqueles que portavam os maços
continuaram a adotá-las, como herança da Maçonaria Operativa, enquanto que os
demais passaram a usar luvas mais “sociais”. Entre o ano de 1717, quando da fundação
da 1ª Grande Loja da Inglaterra, até, pelo menos, o ano de 1813, quando da fusão que
originou a Grande Loja Unida da Inglaterra, os dirigentes das Lojas adotaram modelos
em que a luva e o punho eram uma única peça. É a partir dessa época que se há os
primeiros registros indicando que essas luvas, já feitas em diferentes cores e com
bordados nos punhos que identificavam os cargos e Lojas, começaram a surgir em
modelos com punhos separados do restante, como se vê atualmente.

Início XVIII a Início XIX

Esse desenvolvimento se deu de forma livre e o uso manteve-se baseado na


tradição até 1884, quando a Grande Loja Unida da Inglaterra incluiu os punhos como
paramento oficial no Livro de Constituições, regulamentando seu uso: combinando
com colares e aventais dos Grandes Oficiais, punhos na cor azul escuro com detalhes
dourados para os dirigentes da Grande Loja, uso obrigatório; e combinando com
colares e aventais dos Oficiais das Lojas, punhos na cor azul claro com detalhes
prateados para os dirigentes das Lojas, uso opcional. E, em 1971, a Grande Loja Unida
da Inglaterra tornou os punhos também opcionais aos Grandes Dirigentes.

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Início XIX até atualmente

Pela falta de regulamentação apropriada dos paramentos maçônicos por boa


parte das Obediências Maçônicas brasileiras, não existe uma padronização no
tamanho, cores, desenhos, detalhes e principalmente no uso dos paramentos. Por esse
motivo, ninguém é obrigado a seguir qualquer conduta de uso. Porém, se observada a
origem e simbologia dos punhos, os Veneráveis e Vigilantes deveriam usá-los sempre
com luvas brancas e apenas em suas Lojas, onde portam malhetes. Já no caso dos
Grandes Dirigentes, o uso em toda a Jurisdição estaria correto, mas também sempre
acompanhado de luvas.

De qualquer forma, é importante saber o que se usa (e às vezes incomoda),


principalmente quando se trata de um importante resquício de nossa origem
operativa.

8.2. Aventais

Triplo Tau

Eu sinto muito informar, mas os três Taus vistos no avental dos Mestres
Instalados de muitos Rituais e Obediências não são “Taus”.

A simbologia da Maçonaria Simbólica é baseada na Maçonaria Operativa, e o


avental do Venerável Mestre não é diferente. Os três principais Oficiais duma Loja
possuem ferramentas como símbolo: Segundo Vigilante: Prumo; Primeiro Vigilante:
Nível; Venerável Mestre: Esquadro. O que parece um Tau, na verdade é um tipo de
esquadro, chamado em inglês de “T-square”, que em português significa “equadro-T”,
mas é mais conhecido por “régua-T”. Como se sabe, o Mestre da Loja é muitas vezes
ilustrado como aquele desenhando na Prancheta da Loja. O esquadro-T, ou régua-T,
além de possibilitar o desenho de ângulos retos, é extremamente necessário para se
desenhar retas paralelas.

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Com a onda esotérica que tanto influenciou a Maçonaria durante os séculos
XVIII e XIX, deram a vários símbolos significados místicos, não-maçônicos, e o
esquadro-T foi uma dessas vítimas. Se fossem Taus, obviamente seriam posicionados
com as partes de duas extremidades voltadas para cima, e não para baixo como são.

Avental Vermelho do REAA

O avental do REAA usado no Brasil antes de 1927 era realmente VERMELHO,


respeitando assim o “antigo costume” e a decisão do Congresso de Lausanne.

Para não restar dúvidas, apresento imagem de obra de Assis Carvalho, “Ritos &
Rituais”, que replica o ritual do “Grande Oriente Brazileiro” datado de 1834 (antes
mesmo do Congresso de Lausanne), tipografia e impressão da lendária “Seignot-
Plancher”.

O nome do ritual era “Guia dos Maçons Escossezes ou Reguladores dos Tres
Gráos Symbolicos”.

Legenda: “Gráo 3º – Fita azul orlada de escarlate a tiracollo da esquerda para a


direita, suspensa em baixo a joia, que é um esquadro e um compasso de ouro
entrelaçados: a joia póde ser cravejada de pedras. Avental branco de pelle forrado e
orlado de escarlate, com uma algibeira abaixo da abêta, sobre a qual estão bordadas
as letras M.´. B.´.“

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Apenas para reforçar, conforme o dicionário, “Escarlate” é: cor vermelha muito
viva.

É importante esclarecer que esta não é uma afirmação que alguma obediência
utiliza o avental “errado”. Seria um juízo de valor considerar que a mudança para o
avental azul foi certa ou errada, justificada ou não, e o objetivo definitivamente não é
esse. A intenção aqui é o resgate histórico, é a compreensão dos fatos, a elucidação
dos temas.

8.3. Faixas

Faixa ou fita é um acessório que se usa a tiracolo. Trata-se de uma herança da


cavalaria, cujo enxerto está relacionado ao período pós discurso de Ramsay, com o
surgimento dos graus de cavalaria e consequentemente dos ritos latinos em muitos
aspectos cavaleirescos.

A faixa, que originalmente era posta sobre o direito esquerdo e atravessava o


tronco, com sua parte baixa ao lado esquerdo da cintura, servia como suporte da
espada.

Em alguns ritos latinos, ao galgar o grau de Mestre Maçom, o irmão recebe


uma faixa e uma espada, dentre outros símbolos. Assim, simbolicamente ele passou
das fases preliminares, que na cavalaria eram de Pajem (correspondente a Aprendiz) e
Escudeiro (correspondente a Companheiro), tornando-se, enfim, um Cavaleiro.

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AULA 9: Simbologia das palavras I

Salmo 133:
Quão bom e quão agradável é para os irmãos habitarem juntos em união!
É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e
que desceu à orla das suas vestes.
Como o orvalho de Hermom, e como o orvalho que desceu sobre os montes de Sião,
pois ali o Senhor comandou a bênção, a vida para sempre.

Infinitas são as interpretações apresentadas na literatura maçônica sobre o


Salmo 133 e não ouso aqui tentar citar alguns exemplos, pois não saberia por onde
começar.
Em primeiro lugar, há que se registrar que essa não é a leitura original de
Aprendiz no REAA, que adotava “João 1:1-5” e, geralmente, apenas em iniciações.
Passou-se a adotar o Salmo 133 no Brasil após 1927, e de forma mais predominante
entre as décadas de 40 e 50, por influência da Maçonaria Americana (GLs) e Inglesa
(GOB). Por sinal, a passagem de João tinha mais relação com o Grau de Aprendiz do
que tem o Salmo 133, pois trata de trevas e luz.
Para compreender o real significado do Salmo, deve-se conhecer os elementos
que o compõe:
DAVI: Tem-se o Rei Davi como autor do Salmo 133. O Rei Davi era tido como o
grande cantor dos cânticos de Israel e autor de vários Salmos.
ÓLEO: o óleo era utilizado na cerimônia de unção dos Reis e Sumos Sacerdotes.
Esses eram ungidos com um óleo especial, o qual era derramado sobre suas cabeças, e
dessa forma, eram considerados “purificados” e “sagrados” para exercer suas funções.
HERMON: montanha considerada sagrada pelos judeus e chamada pelos árabes
de “montanha nevada”. Localizada ao norte de Israel, marca a divisão geográfica entre
Israel, Líbano e Síria. Pela sua altitude (mais de 2.800 metros), seu cume está sempre
coberto de neve, o que gera um orvalho que literalmente “rega” toda a região ao seu
redor, sendo por isso a região mais fértil de Israel.
MONTES DE SIÃO: ao contrário do que alguns possam pensar, Sião não é
Hermon. Ambos os pontos são extremidades de Israel, sendo Hermon a extremidade
Norte e Sião a extremidade Sul. Sião foi o local escolhido pelos judeus para servir de
sede, sendo a região onde se encontra Jerusalém (daí a origem do termo “sionista”).
Após Sião, o que se vê é o deserto.

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AARÃO: irmão mais velho de Moisés e primeiro Sumo Sacerdote de Israel,
através do qual se originou a linhagem de Sumos Sacerdotes. Aarão era o porta-voz de
Moisés (que possuía problemas de dicção, provavelmente gago ou fanho), e servia de
Orador dos judeus junto ao Faraó. Na tradição judaica, Aarão participou do episódio do
bezerro de ouro, porém, na tradição árabe ele não teve tal participação.
Conhecendo os elementos, pode-se compreender melhor a mensagem:
Os Irmãos que Davi se refere são, provavelmente, o povo de Israel, divididos
em suas tribos e espalhados entre Hermon e Sião (limites de Israel), mas todos vivendo
em união. Davi relembra então a unção de Aarão como o primeiro Sumo Sacerdote de
Israel, momento que selou o compromisso entre o povo de Israel e seu Deus. Dali
nasceu a nação que Davi representava e defendia. O óleo precioso que ungiu Aarão foi
derramado em sua cabeça e desceu pela sua barba, espalhando-se para as
extremidades de sua roupa. Tal unção, que abençoava Israel, podia ser vista também
em sua terra: a neve do cume de Hermon transforma-se em orvalho, que desce o
monte e se transforma em um ribeirão, Banias, o qual desagua no Rio Jordão, esse que
liga Hermon até a outra extremidade de Israel, os Montes de Sião, antes de desaguar
no Mar Morto.
Todas as tribos de Israel estavam espalhadas de Hermon a Sião, sempre
próximos às margens do Rio Jordão. “Jordão” significa exatamente isso, “que desce”. O
Rio Jordão, alimentado pelo orvalho de Hermon, desce até a extremidade sul de Israel,
Sião, distribuindo suas bênçãos, assim como o óleo precioso que desce da cabeça de
Aarão até a orla de suas vestes.
Por fim, Davi afirma que, Sião (Jerusalém) é “ungido” pelas águas que vem de
Hermon porque foi o lugar escolhido por Deus para que o povo judeu habite
eternamente conforme suas bênçãos.
Com esse Salmo, Davi disse ao seu povo que eles deviam permanecer unidos e
obedientes às ordens vindas de Sião, pois essa era a vontade de Deus desde a unção
de Aarão, comprovada pela benção da água, que sai do alto de um monte e percorre
190Km de distância, derramando bênçãos por onde passa, até chegar a Sião.
É muito claro o motivo das palavras de Davi: ele era apenas o segundo rei de
Israel, uma nação recente, ainda desestruturada, com muitas dificuldades, dividida em
muitas tribos e sujeita a muitas ameaças. Ele precisava manter um discurso de unidade
e esperança. Mas pelo jeito, os ritualistas ingleses, e em seguida os americanos,
desconsideraram esse contexto histórico e adotaram o Salmo 133 por conta das
palavras “irmãos” e “união”.

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AULA 10: Simbologia das palavras II

10.1. Booz ou Boaz


Conforme excelente trabalho do Irmão William Almeida de Carvalho, o termo
BOOZ surgiu quando da tradução de São Jerônimo da bíblia para o latim, em 405 d.C.,
o qual cometeu o equívoco de registrar como BOOZ em vez de BOAZ (entre vários
outros equívocos). Já a famosa tradução de Lutero para o alemão foi correta: BOAZ. A
famosa versão original da Bíblia de Rei James mantém o BOAZ, e a própria versão em
português de João Ferreira de Almeida consta como BOAZ.
No Ritual de Emulação, adotado por grande parte das Lojas da Grande Loja
Unida da Inglaterra, o termo adotado é BOAZ. Assim também consta no Monitor de
Webb, que é o ritual dos graus simbólicos do Rito de York, adotado pela quase
totalidade das Lojas dos EUA. No próprio REAA, o termo correto é BOAZ, como se pode
ver no livro “Morals and Dogma” do célebre Irmão Albert Pike, 33º. Mackey, outro
célebre autor maçônico, também registrou BOAZ em suas obras, assim como outros
grandes historiadores, pesquisadores e autores maçons na França e Inglaterra.
Uma curiosidade sobre o assunto é que, ao contrário da afirmação do Irmão
William de Carvalho de que o termo BOOZ simplesmente não existe no hebraico, o
pastor batista, professor de teologia e maçom, José Ferreira de Barros, demonstrou
em artigo recentemente escrito que o termo BOOZ é sim possível, mas reforça que não
é o caso das passagens bíblicas, onde houve mesmo erro de transliteração.

10.2. Huzzé
Não há registros de quando se começou a usar “Huzzé” nas Lojas, mas remonta
à Maçonaria Operativa.
Ao contrário do que afirma um dos maiores escritores maçônicos brasileiros,
Rizzardo da Camino, Huzzé não é uma palavra hebraica, e muito menos significa
“Acácia”. Na verdade, “acácia” em hebraico seria “shittah”.
O termo Huzzé parece vir do árabe, e significa “Viva”, tendo sido um dos tantos
termos incorporados pelos europeus como consequência da dominação e ocupação
árabe na Europa, que durou quase 800 anos (711 a 1492) . É adotado em substituição
ao termo latino “Vivat” e ao que foi tão utilizado na monarquia francesa “Vive”. O
termo Huzzé entrou para o vocabulário inglês com o escrito “HUZZAH” e seu
significado nos dicionários da língua inglesa é “aclamação medieval equivalente a
Viva!”. Trata-se de uma tríplice aclamação de alegria: “Huzzé, huzzé, huzzé!” significa o
mesmo que “Viva, viva, viva!”. Uma das variações derivada da tríplice aclamação Huzzé

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ficou popularizada como “Hip Hip Hurrah”, usado em aniversários e jogos, com o
mesmo sentido original “Viva, viva, viva!”.
Há ainda a teoria de Jack Weatherford de que Huzzé derivou-se da palavra
mongol “Hurree”, que significa “Aleluia”. Já de acordo com Jean Paul Rox, a origem é
turca. Os turcos usavam nas guerras, quando atacavam seus adversários: “Ur Ah!”.
A tríplice aclamação de Viva era oficialmente utilizada quando da coroação de
um novo Rei, tanto na França quanto na Inglaterra.
Ao que tudo indica, o escrito “Huzzé” nos rituais de língua portuguesa surgiu
para garantir a correta pronúncia do termo. Em Loja do REAA, a tríplice aclamação é
usada como forma de render graças ao GADU, e por isso é realizada logo após a
abertura e o fechamento do Livro da Lei. A tríplice aclamação também ocorre no Rito
Moderno, no Adoniramita e no Brasileiro, como herança da influência do REAA nos
mesmos. Porém, a tríplice aclamação nesses ritos varia para “Liberdade, Igualdade,
Fraternidade!” no Rito Moderno, “Vivat, Vivat, Vivat!” no Adoniramita e “Glória,
Glória, Glória!” no Rito Brasileiro.
Se “Huzzé” fosse realmente uma palavra hebraica que significasse “Acácia”,
faria algum sentido aclamá-la, ainda mais nos graus de Aprendiz e Comapanheiro? Não
faria sentido algum.

10.3. Trolhamento ou Telhamento


Muitos irmãos considerados intelectuais de maçonaria já dissertaram sobre
qual o termo correto para o exame de proficiência aplicado em visitantes
desconhecidos em Lojas Maçônicas. Isso porque as Grandes Lojas brasileiras adotam o
termo “trolhamento” enquanto que o GOB adota o termo “telhamento”.
Praticamente todos os que se deram o trabalho de escrever sobre o referido
tema, incluindo aí José Castellani, Rizzardo da Camino, e muitos outros, concordaram
que o correto é “telhamento”, justificando que “telhamento” tem relação com
telhado, cobertura, que simboliza a proteção da Loja, já que o telhado protege o
templo das intempéries. E isso se encaixa perfeitamente com a ação de examinar os
visitantes desconhecidos, de forma a impedir a entrada de profanos. Daí, esses autores
de trabalhos, pranchas, peças de arquitetura e livros reforçam ainda mais essa teoria
dizendo que “trolhamento” é trabalhar com a trolha e argamassa, atividade que não
teria relação alguma com “cobertura”, ou seja, com a proteção do templo. Correto?
Vejamos:
Consultando o Dicionário Priberiam da Língua Portuguesa (dicionário do
chamado “português europeu”, visto que o REAA praticado no Brasil tem suas raízes
na França e em Portugal, com muitos maçons brasileiros do século XIX tendo iniciado
na Maçonaria quando dos estudos em Lisboa), encontramos, entre alguns poucos, o

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seguinte significado para a palavra “trolha”: “operário que assenta e conserta
telhados”. Sendo assim, no bom e velho português, “trolhamento” é assentar e
consertar telhados. Já o termo “telhador” significa no mesmo dicionário “aquele que
telha”, e o verbo “telhar” significa “cobrir com telha”.
Sim, é exatamente isso que você pensou: se você mora em Lisboa e está com
uma goteira em casa, você chama “o trolha” pra consertar seu telhado. Ele faz um
“trolhamento”, ou seja, um exame para verificar onde está o problema, e então realiza
o conserto.
Dessa forma, pode-se entender que “telhamento” é fazer um telhado,
enquanto que “trolhamento” é consertar um telhado. Ora, o templo já está concluído.
O examinador apenas verificará se não há uma “telha” fora do lugar ou defeituosa, de
forma a evitar uma “goteira”. Então, qual é o termo que melhor se encaixa à ação do
examinador? Trolhamento. O examinador está sendo um “trolha”, assentando, ou
seja, avaliando se os visitantes têm o nível (grau) necessário para participarem dos
trabalhos, e impedindo assim a entrada de “uma goteira” em nosso lar maçônico.
Alguns desses escritores ainda sustentam essa tese de “telhamento”, dizendo
que em inglês, o Cobridor Externo é chamado de “Tiler” (termo que gerou o nome
Tyler) que, para eles, poderia ser traduzido como “telhador”, ou seja, quem constrói
telhados. Mas esse é apenas outro erro grave de pesquisas superficiais. O Dicionário
Cambridge de Língua Inglesa, um dos mais completos e respeitados, registra “tiler”
como “a person who fixes tiles to a surface”, ou seja, “uma pessoa que CORRIJE telhas
de uma superfície”. Conforme o mesmo dicionário, o termo em inglês para quem
constrói telhados é “roofer”.
Assim, ambos os termos, TROLHAMENTO e TELHAMENTO, são apropriados,
pois estão diretamente relacionados a cobertura (telhado). Não há certos e errados
nessa história.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os símbolos formam a base didática não somente da Ordem Maçônica, mas de


toda a humanidade. Um símbolo transmite uma mensagem através de sua imagem,
sendo que essa mensagem pode ser simples ou complexa, óbvia ou oculta, e universal
ou regional.

Símbolos universais têm a capacidade de proporcionar o mesmo entendimento


a pessoas de diferentes línguas, culturas, crenças e raças. Os símbolos maçônicos, em
teoria, transmitem mensagens ocultas, universais, e que podem ser simples ou
complexas. Ocultas porque apenas aqueles escolhidos podem compreender, e
universais porque todos os escolhidos compreendem, independente de suas línguas,
culturas, crenças e raças.

Porém, ao longo da história, muitos autores maçons têm permitido com que
suas línguas, culturas, crenças e raças influenciem em suas interpretações dos
símbolos maçônicos, criando a partir daí novos significados e permitindo assim que o
entendimento universal entre os maçons venha sendo substituído por entendimentos
regionais.

Essa é a grande pegadinha que somente a simbologia (o estudo da origem e do


significado dos símbolos) pode livrá-lo. Nunca tire um símbolo de seu contexto.

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REFERÊNCIAS
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York: Ed. Macoy, 1961.
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Antigos. Londrina: Editora Maçônica "A Trolha", 2016, p. 51.
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Publishing, 1906.
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