STJ 2020

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Processo Penal & STJ 2020

Informativo 662 a …..

Informativo 667

HC 530.563-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em
05/03/2020, DJe 12/03/2020

Criptomoeda. Oferta pública de contrato de investimento coletivo. Incidência dos crimes


tipificados na Lei n. 7.492/1986. Competência da Justiça Federal.

Compete à Justiça Federal julgar crimes relacionados à oferta pública de contrato de


investimento coletivo em criptomoedas.

No julgamento do CC 161.123/SP, a Terceira Seção desta Corte decidiu que a


operação envolvendo compra ou venda de criptomoedas não encontra regulação no
ordenamento jurídico pátrio, pois as moedas virtuais não são tidas pelo Banco Central do Brasil
(BCB) como moeda, nem são consideradas como valor mobiliário pela Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), não caracterizando sua negociação, por si só, os crimes tipificados nos arts.
7º, II, e 11, ambos da Lei n. 7.492/1986, nem mesmo o delito previsto no art. 27-E da Lei n.
6.385/1976.

Cumpre destacar que, naquele caso, não havia denúncia formalizada e a competência
da Justiça estadual foi declarada exclusivamente considerando os indícios colhidos até a
deflagração do incidente, bem como o dissenso verificado entre os Juízes envolvidos, sendo
que nenhum deles, naquele incidente, cogitou que o contrato celebrado entre o investigado e
as vítimas consubstanciaria um contrato de investimento coletivo.

O caso, no entanto, ostenta contornos distintos, pois já há denúncia ofertada, na qual


foi descrita e devidamente delineada a conduta do paciente e dos demais corréus no sentido de
oferecer contrato de investimento coletivo, sem prévio registro de emissão na autoridade
competente.

Considerando que a denúncia imputa a efetiva oferta pública de contrato de


investimento coletivo, não há dúvida de que incidem as disposições contidas na Lei n.
7.492/1986, notadamente porque tal espécie de contrato consubstancia valor mobiliário, nos
termos do art. 2º, IX, da Lei n. 6.385/1976.

Assim, considerando os fatos narrados na denúncia, especificamente os crimes


tipificados nos arts. 4º, 5º, 7º, II, e 16, todos da Lei n. 7.492/1986, é competente o Juízo
Federal para processar a ação penal (art. 26 da Lei n. 7.492/1986), inclusive no que se refere
às infrações conexas, por força do entendimento firmado no Enunciado Sumular n. 122/STJ.

REsp 1.787.449-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em
10/03/2020, DJe 13/03/2020

Deferimento de desbloqueio de bens e valores. Decisão definitiva. Mandado de segurança.


Inadmissibilidade. Decisão passível de recurso de apelação.
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Não é admissível a impetração de mandado de segurança contra ato jurisdicional que defere o
desbloqueio de bens e valores.

No caso, o juízo de primeiro grau determinou o sequestro/arresto de valores


recebidos por terceiros, oriundos da suposta prática de crimes contra o sistema financeiro
(pirâmide financeira) e de lavagem de dinheiro. Posteriormente, determinou-se o desbloqueio
dos valores, ao fundamento de que inadmissível que os bens de terceiras pessoas, sem indícios
suficientes de autoria delitiva, permaneçam constritos por mais de três anos, sem previsão de
solução das investigações e, quiçá, da ação penal. Inconformado, o Ministério Público impetrou
mandado de segurança e o tribunal de origem concedeu a segurança para manter o bloqueio
dos valores.

Tal decisão, no entanto, diverge da jurisprudência desta Corte no sentido de que o


mandado de segurança não pode constituir-se em sucedâneo recursal, sob pena de se
desnaturar a sua finalidade.

O recurso adequado contra a decisão que julga o pedido de restituição de bens é a


apelação. Assim, mostra-se incabível o manejo do mandamus quando há recurso próprio
previsto na legislação processual, apto a resguardar a pretensão do Ministério Publico,
consoante o art. 5º, II, da Lei n. 12.016/2009 c/c art. 593, II, do CPP. Nesse sentido, a Súmula
n. 267/STF dispõe que não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso
ou correição.

CC 170.201-PI, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
11/03/2020, DJe 17/03/2020

Homicídio envolvendo policias militares de diferentes unidades da federação. Policiais fora de


serviço ou da função. Discussão iniciada no trânsito. Contexto fático que não se amolda ao
disposto no art. 9º, II, a, e III, d, do CPM. Competência da Justiça comum.

Compete à Justiça comum (Tribunal do Júri) o julgamento de homicídio praticado por militar
contra outro quando ambos estejam fora do serviço ou da função no momento do crime.

Nos termos da orientação sedimentada na Terceira Seção desta Corte, só é crime


militar, na forma do art. 9º, II, a, do Código Penal Militar, o delito perpetrado por militar da
ativa, em serviço, ou quando tenha se prevalecido de sua função para a prática do crime.
Interpretação consentânea com a jurisprudência da Suprema Corte.

Em se tratando de crimes dolosos contra a vida, deve ser observado, ainda, o


disposto no art. 9º, § 1º, do Código Penal Militar, de modo que tais delitos, quando
perpetrados por policial militar contra civil, mesmo que no exercício da função, serão da
competência da Justiça comum (Tribunal do Júri).

No caso, a vítima e o réu – ambos policiais militares à época dos fatos – estavam fora
de serviço quando iniciaram uma discussão no trânsito, tendo ela sido motivada por uma
dúvida da vítima acerca da identificação do réu como policial militar.

Nos momentos que antecederam aos disparos, não há nenhum indício de que o réu
tenha atuado como policial militar. Há elementos, inclusive, que sugerem comportamento

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anormal àquele esperado para a função, já que supostamente teria resistido à investida da
vítima, no sentido de conduzi-lo à autoridade administrativa.

O fato não se amolda à hipótese prevista no art. 9º, II, a, do CPM, notadamente
porque o evento tido como delituoso envolveu policiais militares fora de serviço, sendo que o
agente ativo não agiu, mesmo com o transcorrer dos acontecimentos, como um policial militar
em serviço.

Inviável, também, concluir pela prática de crime militar com base no art. 9º, III, d,
do CPM, ou seja, mediante equiparação do réu (fora de serviço) a um civil, pois, ainda que a
vítima, antes dos disparos, tenha dado voz de prisão ao réu, ela não foi requisitada para esse
fim nem agiu em obediência à ordem de superior hierárquico, circunstância que rechaça a
existência de crime militar nos termos do referido preceito normativo.

Informativo 666

RHC 89.853-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em
18/02/2020, DJe 02/03/2020

Tráfico de drogas. Flagrante. Violação de domicílio. Tema 280/STF. Denúncia anônima. Fuga
isolada do suspeito. Ausência de justa causa. Nulidade de provas.

A existência de denúncia anônima da prática de tráfico de drogas somada à fuga do acusado ao


avistar a polícia, por si sós, não configuram fundadas razões a autorizar o ingresso policial no
domicílio do acusado sem o seu consentimento ou sem determinação judicial.

No caso, as razões para o ingresso no imóvel teriam sido a natureza permanente do


tráfico, a denúncia anônima e a fuga do investigado ao avistar a polícia. Em relação à tentativa
de fuga do agente ao avistar policiais, deve-se salientar que, nos termos do entendimento da
Sexta Turma deste Superior Tribunal de Justiça, tal circunstância, por si só, não configura justa
causa exigida para autorizar a mitigação do direito à inviolabilidade de domicílio.

Deve-se frisar, ainda, que "a mera denúncia anônima, desacompanhada de outros
elementos preliminares indicativos de crime, não legitima o ingresso de policiais no domicílio
indicado, estando, ausente, assim, nessas situações, justa causa para a medida." (HC
512.418/RJ, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 26/11/2019, DJe
03/12/2019).

Neste ensejo, vale destacar que, em situação semelhante, a Sexta Turma desta Corte
entendeu que, mesmo diante da conjugação desses dois fatores, não se estaria diante de justa
causa e ressaltou a imprescindibilidade de prévia investigação policial para verificar a
veracidade das informações recebidas (RHC 83.501/SP, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, Sexta
Turma, julgado em 06/03/2018, DJe 05/04/2018).

Desta feita, entende-se que, a partir da leitura do Tema 280/STF, resta mais
adequado a este Colegiado seguir esse entendimento, no sentido da exigência de prévia
investigação policial da veracidade das informações recebidas. Destaque-se que não se está a
exigir diligências profundas, mas breve averiguação, como "campana" próxima à residência
para verificar a movimentação na casa e outros elementos de informação que possam ratificar
a notícia anônima.

@professor_bello 3
Informativo 665

HC 553.872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade,
julgado em 11/02/2020, DJe 17/02/2020

Furto qualificado. Trancamento da ação penal. Atipicidade material da conduta. Ausência de


lesividade do fato imputado. Princípio da insignificância. Reconhecimento. Possibilidade.

A despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à primeira vista, impedir o


reconhecimento da atipicidade material da conduta, a análise conjunta das circunstâncias pode
demonstrar a ausência de lesividade do fato imputado, recomendando a aplicação do princípio
da insignificância.

A admissão da ocorrência de um crime de bagatela reflete o entendimento de que o


Direito Penal deve intervir somente nos casos em que a conduta ocasionar lesão jurídica de
certa gravidade, devendo ser reconhecida a atipicidade material de perturbações jurídicas
mínimas ou leves, estas consideradas não só no seu sentido econômico, mas também em
função do grau de afetação da ordem social que ocasionem.

O referido princípio deve ser analisado em conexão com os postulados da


fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em matéria penal, no sentido de excluir
ou afastar a própria tipicidade penal, observando-se a presença de "certos vetores, como (a) a
mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da ação, (c) o
reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão
jurídica provocada" (HC n. 98.152/MG, Rel. Ministro Celso de Mello, Segunda Turma, DJe
5/6/2009).

Na hipótese analisada, verifica-se que os fatos autorizam a incidência excepcional do


princípio da insignificância, haja vista as circunstâncias em que o delito ocorreu. Muito embora
esteja presente uma circunstância qualificadora — o concurso de agentes — os demais
elementos descritos nos autos permitem concluir que, neste caso, a conduta perpetrada não
apresenta grau de lesividade suficiente para atrair a incidência da norma penal, considerando a
natureza dos bens subtraídos (gêneros alimentícios) e seu valor reduzido.

Informativo 664 – sem processo penal

Informativo 663

CC 169.053-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
11/12/2019, DJe 19/12/2019

Estelionato. Depósito em favor de conta bancária de terceiro. Competência. Divergência na


Terceira Seção. Juízo do local da agência beneficiária do depósito. Competente.

Na hipótese em que o estelionato se dá mediante vantagem indevida, auferida mediante o


depósito em favor de conta bancária de terceiro, a competência deverá ser declarada em favor
do juízo no qual se situa a conta favorecida.

Até recentemente, a jurisprudência desta Corte orientava que, nos casos em que a
vítima houvesse sido induzida a erro a efetuar depósito ou transferência bancária para conta de

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terceiro, o local da consumação do crime de estelionato seria o da agência bancária onde
efetivada a transferência ou o depósito.

Em precedentes mais recentes, a Terceira Seção modificou tal orientação,


estabelecendo diferenciação entre a hipótese em que o estelionato se dá mediante falsificação
ou adulteração de cheque (consumação no banco sacado, onde a vítima mantém a conta
bancária), do caso no qual o crime ocorre mediante depósito ou transferência bancária
(consumação na agência beneficiária do depósito ou da transferência bancária). Ocorre que há
precedente subsequente (CC n. 166.009/SP, julgado em 28/8/2019) que restaurou a
orientação primeva, no sentido de que o prejuízo, na hipótese de transferência bancária, seria
o do local da agência bancária da vítima.

Em razão da oscilação do entendimento jurisprudencial da própria Terceira Seção, a


matéria foi novamente apreciada pelo colegiado.

Anote-se que a melhor solução jurídica seria aquela que estabelece distinção entre a
hipótese de estelionato mediante depósito de cheque clonado ou adulterado (competência do
Juízo do local onde a vítima mantém conta bancária), daquela na qual a vítima é induzida a
efetivar depósito ou transferência bancária em prol do beneficiário da fraude (competência do
Juízo onde situada a agência bancária beneficiária do depósito ou transferência).

Assim, se o crime só se consuma com a efetiva obtenção da vantagem indevida pelo


agente ativo, é certo que só há falar em consumação, nas hipóteses de transferência e
depósito, quando o valor efetivamente ingressa na conta bancária do beneficiário da fraude.

RvCr 4.853-SC, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador Convocado do TJ/PE),
Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 27/11/2019, DJe 17/12/2019

Recurso exclusivo da defesa. Trânsito em julgado para acusação. Nulidade reconhecida.


Rejulgamento. Majoração da reprimenda. Impossibilidade. Vedação a reformatio in
pejus indireta.

Ofende o enunciado do non reformatio in pejus indireta o aumento da pena através de decisão
em recurso especial interposto pelo Ministério Público contra rejulgamento de apelação que não
alterou reprimenda do acórdão anterior, que havia transitado em julgado para a acusação e
que veio a ser anulado por iniciativa exclusiva da defesa.

O princípio da non reformatio in pejus, consagrado tanto na doutrina quanto na


jurisprudência, consiste em um limitador à amplitude do julgamento, impossibilitando o
agravamento da situação penal do réu na hipótese de recurso exclusivo da defesa.

Assim, em havendo recurso somente da defesa, sua reprimenda não poderá ser de
qualquer modo piorada, em detrimento do réu, evitando assim a intimidação ou o embaraço do
condenado ao exercício da ampla defesa. Vale dizer, o réu não pode ser tolhido no seu direito
de ampla defesa por receio de ter sua situação penal agravada no caso de julgamento de
recurso somente por ele provocado. Da referida regra decorre o igualmente célebre enunciado
da vedação à reformatio in pejus indireta, segundo o qual deve se conferir à decisão cassada o
efeito de vedar o agravamento da reprimenda nas posteriores decisões proferidas na mesma
ação penal, quando a nulidade for reconhecida a partir de recurso defensivo exclusivo (ou
em habeas corpus).

No caso, após a sentença condenatória, houve recurso de apelação pela defesa, tendo
o Tribunal de Justiça reduzido a pena para 5 anos e 10 meses de reclusão, em regime inicial
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semiaberto. Referida decisão transitou em julgado para ambas as partes, sendo
impetrado habeas corpus pelo réu junto a este Superior Tribunal de Justiça, cuja ordem foi
concedida para cassar o decisório.

Com o novo julgamento da a apelação, o Tribunal de origem novamente reduziu a


reprimenda para o mesmo patamar (5 anos e 10 meses de reclusão, em regime inicial
semiaberto). Contra este segundo acórdão o Ministério Público interpôs recurso especial, o qual
foi provido para o efeito de majorar a pena do réu para o patamar da sentença (8 anos e 4
meses de reclusão, em regime inicial fechado). Nesse diapasão, resta demonstra do que o
julgado proferido no recurso especial violou o enunciado que veda a reformatio in
pejus indireta, ao colocar o sentenciado em situação mais desfavorável do que aquela anterior
à impetração do habeas corpus.

CC 168.522-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em
11/12/2019, DJe 17/12/2019.

Mandado de prisão preventiva. Cumprimento em unidade jurisdicional diversa. Audiência de


custódia. Realização por meio de videoconferência pelo juízo ordenador da prisão. Não
cabimento. Ausência de previsão legal.

Não é cabível a realização de audiência de custódia por meio de videoconferência.

A Resolução n. 213 do CNJ é clara ao estabelecer que, no caso de cumprimento de


mandado de prisão fora da jurisdição do juiz que a determinou, a apresentação do preso, para
a audiência de custódia, deve ser feita à autoridade competente na localidade em que ocorreu
a prisão, de acordo com a Lei de Organização Judiciária local.

No caso de audiência de custódia realizada por juízo diverso daquele que decretou a
prisão, observa que competirá à autoridade judicial local apenas, caso necessário, adotar
medidas necessárias à preservação do direito da pessoa presa. As demais medidas, ou não são
aplicáveis no caso de prisão preventiva ou não possui o juízo diverso do que decretou a prisão
competência para a efetivar. De fato, uma das finalidades precípuas da audiência de custódia é
aferir se houve respeito aos direitos e garantias constitucionais da pessoa presa.

Assim, demanda-se que seja realizada pelo juízo com jurisdição na localidade em que
ocorreu o encarceramento. É essa autoridade judicial que, naquela unidade de exercício do
poder jurisdicional, tem competência para tomar medidas para resguardar a integridade do
preso, bem assim de fazer cessar agressões aos seus direitos fundamentais, e também
determinar a apuração das responsabilidades, caso haja relato de que houve prática de
torturas e maus tratos. Nesse contexto, foge à ratio essendi do instituto a sua realização por
meio de videoconferência.

Registre-se que o Presidente do Conselho Nacional de Justiça, ao deferir a medida


liminar para suspender a Resolução CM n. 09/2019, que permitia a realização da audiência de
custódia por meio de videoconferência destacou que "o Departamento de Monitoramento e
Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas
(DMF) considerou que a apresentação pessoal do preso é fundamental para inibir e, sobretudo,
coibir, as indesejadas práticas de tortura e maus tratos, pois que a transmissão de som e
imagem não tem condições de remediar as vantagens que o contato e a relação direta entre
juiz e jurisdicionado proporciona".

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Não se admite, portanto, por ausência de previsão legal, a realização da audiência de
custódia por meio de videoconferência, ainda que pelo Juízo que decretou a custódia cautelar.

HC 537.118-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em
05/12/2019, DJe 11/12/2019

Art. 5º da Lei n. 13.260/2016 (Lei Antiterrorismo). Atos preparatórios de terrorismo. Motivação


por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião.
Necessidade.

A tipificação da conduta descrita no art. 5º da Lei Antiterrorismo (atos preparatórios de


terrorismo) exige a motivação por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça,
cor, etnia e religião, expostas no art. 2º do mesmo diploma legal.

A Lei n. 13.260/2016 estabeleceu os tipos penais de terrorismo nos arts. 2º, 3º, 5º e
6º. No caso analisado, cinge-se a controvérsia a discutir se a imposição de ato infracional
análogo ao art. 5º (atos preparatórios de terrorismo) demanda interpretação conjunta com
o caput do art. 2º, visto que esse último define legalmente o que se entende por terrorismo.

Verifica-se essencial rememorar que o tipo penal exerce uma imprescindível função
de garantia. Decorrente do princípio da legalidade, a estrutura semântica da lei incriminadora
deve ser rigorosamente observada, assim como as suas elementares devem encontrar
adequação fática para que o comando secundário seja aplicado.

O tipo penal não traz elementos acidentais, desprezíveis, dispensáveis. Isso posto, a
adequação típica de conduta como terrorismo demanda que esteja configurada a elementar
relativa à motivação por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia
e religião, sob pena de não se perfazer a relação de tipicidade.

O uso da expressão "por razões de" indica uma elementar relativa à motivação. De
fato, a construção sociológica e a percepção subjetiva individual do ato de terrorismo conjugam
motivação e finalidade qualificadas, compreensão essa englobada na definição legal. No tocante
ao delito do art. 5º, verifica-se que funciona como soldado de reserva em relação ao delito de
terrorismo. Trata-se de criminalização dos atos preparatórios do delito de terrorismo,
expressão que remete ao dispositivo anterior, exigindo a interpretação sistemática.

Assim, não se mostra admissível, do ponto de vista hermenêutico, que o delito


subsidiário tenha âmbito de aplicação diferente do delito principal.

Informativo 662

EREsp 1.738.968-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, Terceira Seção, por maioria, julgado em
27/11/2019, DJe 17/12/2019

Execução penal. Reincidência. Ausência de reconhecimento pelo juízo sentenciante.


Proclamação pelo juízo da execução. Possibilidade. Reformatio in pejus. Inexistência.

O Juízo da Execução pode promover a retificação do atestado de pena para constar a


reincidência, com todos os consectários daí decorrentes, ainda que não esteja reconhecida
expressamente na sentença penal condenatória transitada em julgado.

@professor_bello 7
A Terceira Seção do STJ, em apreciação aos embargos de divergência, pacificou o
entendimento que encontrava dissonância no âmbito das turmas de direito penal sobre o
momento da individualização da pena. Decidiu o acórdão embargado, da Quinta Turma, que a
reincidência que não esteja expressamente reconhecida no édito condenatório não pode ser
proclamada pelo juiz da execução, sob pena de violação à coisa julgada e ao princípio da non
reformatio in pejus. O acórdão paradigma, da Sexta Turma, por sua vez, entendeu que as
condições pessoais do paciente, como a reincidência, devem ser observadas pelo juízo da
execução para concessão de benefícios. Tratando-se de sentença penal condenatória, o juízo
da execução deve se ater ao teor do referido decisum, no que diz respeito ao quantum de
pena, ao regime inicial, bem como ao fato de ter sido a pena privativa de liberdade substituída
ou não por restritiva de direitos, fatores que evidenciam justamente o comando emergente da
sentença. Todavia, as condições pessoais do réu, da qual é exemplo a reincidência, devem ser
observadas na execução da pena, independente de tal condição ter sido considerada na
sentença condenatória, eis que também é atribuição do juízo da execução individualizar a
pena. Como se sabe, a individualização da pena se realiza, essencialmente, em três momentos:
na cominação da pena em abstrato ao tipo legal, pelo Legislador; na sentença penal
condenatória, pelo Juízo de conhecimento; e na execução penal, pelo Juízo das Execuções.
Esse entendimento, a propósito, tem sido convalidado pelo Supremo Tribunal Federal, para o
qual o "reconhecimento da circunstância legal agravante da reincidência (art. 61, I, do Código
Penal), para fins de agravamento da pena do réu, incumbe ao juiz natural do processo de
conhecimento. De outro lado, a aferição dessa condição pessoal para fins de concessão de
benefícios da execução penal compete ao juiz da Vara das Execuções Penais. Trata-se,
portanto, de tarefas distintas. Nada obsta a ponderação da reincidência no âmbito da execução
penal do reeducando, ainda que não lhe tenha sido agravada a pena por esse fundamento,
quando da prolação da sentença condenatória".

@professor_bello 8

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