STJ 202401584036 Tipo 91 245230493

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AgRg no HABEAS CORPUS Nº 910897 - BA (2024/0158403-6)

RELATOR : MINISTRO RIBEIRO DANTAS


AGRAVANTE : LARISSA MARQUES BARRETO (PRESO)
ADVOGADO : MARCOS SANTOS SILVA - BA027434
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA

EMENTA

PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.


TRÁFICO DE DROGAS. NULIDADE. BUSCA DOMICILIAR.
CONTROVÉRSIA A SER DIRIMIDA NA INSTRUÇÃO CRIMINAL.
PRISÃO PREVENTIVA. REVOGAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. GRANDE
QUANTIDADE DE DROGA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. No que se refere à alegada nulidade pela busca domiciliar, supostamente
perpetrada contra a agravante, entendo, no caso, não ser possível ao Superior
Tribunal de Justiça, nesta fase da persecução penal, debruçar-se sobre questão
de natureza probatória antes dos pronunciamentos definitivos das instâncias
ordinárias, competentes para examiná-las com profundidade, a fim de que
delineiem os fatos para futuro exame do Tribunal.
2. De acordo com o art. 312 do Código de Processo Penal, a prisão preventiva
poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica,
por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei
penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
3. Quanto aos fundamentos da prisão preventiva acima explicitados, aos quais
adiro integralmente, a razão essencial que justifica a manutenção da custódia
cautelar é a quantidade de drogas apreendidas (5kg de cocaína e 500g de
maconha), condição que, nos termos da jurisprudência desta Corte, malfere a
ordem pública.
4. Agravo regimental desprovido.

RELATÓRIO

Trata-se de agravo regimental interposto por LARISSA MARQUES BARRETO


contra decisão monocrática, por mim proferida, a qual não conheceu do habeas corpus impetrado
em seu favor.
Na espécie, pretendia a agravante fosse reconhecida a nulidade pela busca domiciliar
perpetrada sem fundadas razões e sem autorização judicial ou de morador ou proprietário, bem
como ausência dos requisitos para decretação da medida extrema, pugnando pelo trancamento do
inquérito ou ação penal ou pela revogação da prisão preventiva.
Neste agravo regimental, repisa a agravante os mesmos argumentos que informaram
a inicial mandamental. Pugna, ao final, pela reconsideração da decisão agravada ou pela remessa
do recurso ao Colegiado para julgamento.
Por não reconsiderar a decisão agravada, submeto o agravo regimental à apreciação
da Quinta Turma desta Corte.

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É o relatório.

VOTO

Pretende a agravante seja reformada a decisão agravada, a fim de que seja trancado o
inquérito policial ou a ação penal ou seja revogada a prisão preventiva.
Contudo, a ela não assiste razão.
Esclareço, de início, que, de fato não foram encontrados entorpecentes com a
agravante, pois não se procedeu à busca pessoal, o que não invalida o raciocínio estabelecido na
decisão agravada, devendo as provas serem produzidas no âmbito da instrução, a fim de que esta
Corte, oportunamente, se pronuncie sobre elas.
Nesse contexto, a decisão agravada, amparada pela jurisprudência desta Corte,
merece subsistir por seus próprios e jurídicos fundamentos, a seguir integralmente reproduzidos:

"[...] Esta Corte - HC 535.063, Terceira Seção, Rel. Ministro Sebastião Reis Junior,
julgado em 10/6/2020 - e o Supremo Tribunal Federal - AgRg no HC 180.365,
Primeira Turma, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 27/3/2020; AgRg no HC
147.210, Segunda Turma, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 30/10/2018 -,
pacificaram orientação no sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo do
recurso legalmente previsto para a hipótese, impondo-se o não conhecimento da
impetração, salvo quando constatada a existência de flagrante ilegalidade no ato
judicial impugnado.
Assim, passo à análise das razões da impetração, de forma a verificar a ocorrência de
flagrante ilegalidade a justificar a concessão do habeas corpus, de ofício.
No que se refere à alegada nulidade pela busca domiciliar, supostamente perpetrada
contra a paciente, entendo, no caso, não ser possível ao Superior Tribunal de Justiça,
nesta fase da persecução penal, debruçar-se sobre questão de natureza probatória
antes dos pronunciamentos definitivos das instâncias ordinárias, competentes para
examiná-las com profundidade, a fim de que delineiem os fatos para futuro exame do
Tribunal, mormente porque, a princípio, drogas compartimentadas foram encontradas
com o paciente, o que justificaria o ingresso domiciliar pelo vislumbre externo da
prática de crime.
Quanto à prisão preventiva da paciente, esta foi decretada sob os seguintes
fundamentos:

"[...] Trata-se de Auto de Prisão em Flagrante lavrado em desfavor de LARISSA


MARQUES BARRETO, qualificada no bojo do qual lhe é imputado a prática do
crime descrito no art. 33,caput, da Lei 11.343/06. Inicialmente, verifico que o auto de
prisão em flagrante se encontra formalmente perfeito, evidenciando a presença da
situação de flagrância no momento da prisão, sendo promovida a oitiva do condutor e
de testemunhas, bem como o interrogatório da flagrada, entregando-lhe a nota de
culpa. Em que pese a Defesa tenha sustentado a ausência de flagrante delito e invasão
de domicílio, verifica-se, dos depoimentos acostados aos autos, que a abordagem se
deu após investigações preliminares acerca da suposta prática do crime de tráfico de
drogas, indicando o exercício do comércio ilícito no local, sendo o ingresso na
residência promovido após a indicação da autuada da existência de entorpecentes no
local, a denotar justa causa para a diligência, sem se olvidar que a investigada declarou
nesta ocasião que podia ter recusado o ingresso dos agentes, mas não o fez, abrindo a
casa para os agentes, e autorizando o ingresso. Nesse sentido, não vislumbrando
qualquer mácula capaz de afetar a legalidade do auto prisional, O HOMOLOGO.
Pondere-se, outrossim, que se encontrando o procedimento em face inicial, as
circunstâncias da abordagem e da apreensão serão objeto de apuração, não havendo
óbice à reavaliação da matéria se alterado o quadro fático até aqui delineado.
Tendo em vista que a prisão cautelar é lastreada em provas indiciárias, ou seja, provas
fundadas em juízo de probabilidade, mister se faz a presença dos pressupostos quanto

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à materialidade e autoria do delito – fumus comissi delicti – e de qualquer das
situações que justifiquem o perigo em manter o status de liberdade do indiciado –
periculum libertatis, quais sejam, garantia de aplicação da lei penal, conveniência da
instrução criminal, garantia da ordem pública ou econômica. Há, nos autos, elementos
indicadores da presença do fumus comissi delicti, dado os depoimentos colhidos no
bojo do auto prisional, agregado ao auto de apreensão e ao laudo pericial das
substâncias encontradas. In casu, a prisão preventiva é necessária notadamente porque
há gravidade in concreto na conduta supostamente perpetrada, haja vista a quantidade,
variedade e natureza das drogas apreendidas (mais de meio quilo de maconha e quase
5kg de cocaína -substância altamente nociva a sociedade e ao usuário, dada a sua alta
toxicidade e a rápida dependência provocada). Outrossim, se infere que já havia
investigações acerca da acusada, consoante relatório de investigação acostado, e
alguns dos bilhetes apreendidos fazem referência a valores e expressões relacionadas a
drogas. Neste contexto, há indicativo de certa imersão nesta prática delitiva, a
princípio incompatível com a figura do traficante eventual. Nesta senda, verifica-se a
presença do fundamento da garantia da ordem pública, sendo a aplicação de medidas
cautelares diversas da prisão inadequadas e insuficientes ao caso concreto, dada as
circunstâncias ora retratadas, que denotam periculosidade social da agente. [...].
Outrossim, encontra-se atendido o requisito objetivo previsto no art. 313, I, do CPP, já
que se trata de crime doloso punido com pena privativa de liberdade máxima superior
a 4 (quatro) anos. Desta feita, atenta a necessidade de se acautelar o meio social, eis
que presente o fundamento da garantia da ordem pública, CONVERTO EM
PREVENTIVA a prisão de LARISSA MARQUES BARRETO [...]. Serve a presente
decisão como MANDADO DE PRISÃO, a ser devidamente anotado no BNMP." (e-
STJ, fls. 106-108).

De acordo com o art. 312 do Código de Processo Penal, a prisão preventiva poderá
ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando
houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado
pelo estado de liberdade do imputado.
Quanto aos fundamentos da prisão preventiva acima explicitados, aos quais adiro
integralmente, a razão essencial que justifica a manutenção da custódia cautelar é a
quantidade de drogas apreendidas (5kg de cocaína e 500g de maconha), condição
que, nos termos da jurisprudência desta Corte, malfere a ordem pública. No mesmo
sentido, os seguintes precedentes:

1. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE


RECURSO. 2. TRÁFICO DE DROGAS. PRISÃO PREVENTIVA.
FUNDAMENTAÇÃO. CIRCUNSTÂNCIAS DO FLAGRANTE. APREENSÃO DE
EXPRESSIVAS QUANTIDADES DE DROGAS. NECESSIDADE DE
RESGUARDAR A ORDEM PÚBLICA. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO
ILEGAL. 3. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.1. O habeas corpus não pode
ser utilizado como substitutivo de recurso próprio, a fim de que não se desvirtue a
finalidade dessa garantia constitucional, com a exceção de quando a ilegalidade
apontada é flagrante, hipótese em que se concede a ordem de ofício.2. Para a
decretação da prisão preventiva, é indispensável a demonstração da existência da
prova da materialidade do crime e a presença de indícios suficientes da autoria. Exige-
se, mesmo que a decisão esteja pautada em lastro probatório, que se ajuste às hipóteses
excepcionais da norma em abstrato (art. 312 do CPP), demonstrada, ainda, a
imprescindibilidade da medida. Julgados do STF e STJ.3. No caso, a prisão preventiva
foi mantida pelo Tribunal estadual em razão da periculosidade do recorrente,
evidenciada pelas circunstâncias concretas colhidas do flagrante, notadamente pela
apreensão de expressivas quantidades de drogas (41 buchas de maconha, uma barra de
crack e 163 pinos de cocaína), além de embalagem, balança de precisão e dinheiro em
espécie. Nesse mesmo sentido, o acórdão destacou nas transcrições a necessidade da

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prisão em razão da "vasta quantidade de entorpecentes localizados (mais de 1kg de
crack e cocaína) e a diversidade de drogas apreendidas, boa parte fracionada e pronta
para o comércio. Prisão preventiva mantida para resguardar a ordem pública. Julgados
do STJ.4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no HC n. 869.658/MG,
relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 5/12/2023,
DJe de 11/12/2023.)

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE


ENTORPECENTES. PRISÃO EM FLAGRANTE CONVERTIDA EM
PREVENTIVA. INSURGÊNCIA CONTRA DECISÃO DA ORIGEM QUE
INDEFERE O PLEITO LIMINAR. NÃO CABIMENTO. SÚMULA N. 691/STF.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.1. O Superior Tribunal de Justiça tem
jurisprudência firmada de que não cabe habeas corpus contra decisão que indefere
liminar no writ precedente, a não ser que fique demonstrada flagrante ilegalidade, o
que não se vislumbra na espécie, sobretudo porque se extrai do decreto prisional que
foi apreendida em poder da agravante quantidade significativa de entorpecentes,
balança de precisão e dinheiro em notas trocadas.2. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC n. 860.624/PI, relator Ministro Antonio Saldanha Palheiro, Sexta
Turma, julgado em 27/11/2023, DJe de 30/11/2023.)

Destarte, entendo que, no caso, é inviável a aplicação de medidas cautelares diversas


da prisão, pois a periculosidade do paciente indica que a ordem pública não estaria
acautelada com sua soltura. Sobre o tema: RHC 81.745/MG, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 01/06/2017,
DJe 09/06/2017; RHC 82.978/MT, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK,
QUINTA TURMA, julgado em 01/06/2017, DJe 09/06/2017; HC 394.432/SP, Rel.
Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
01/06/2017, DJe 09/06/2017.
Ante o exposto, não conheço do habeas corpus.
Publique-se. Intimem-se" (e-STJ, fls. 269-272).

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.


É o voto.

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