2.aula 02 Contextualização Histórica Arts and Crafts Até Art Deco

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Design, Arte e Moda

Aula 02
ARTS & CRAFTS
• Arts and Crafts (em inglês artes e ofícios) é um movimento estético e
social inglês, da segunda metade do século XIX, que defende o artesanato
criativo como alternativa à mecanização e à produção em massa.
Reunindo teóricos e artistas, o movimento busca revalorizar o trabalho
manual e recupera a dimensão estética dos objetos produzidos
industrialmente para uso cotidiano.
• A expressão "artes e ofícios" deriva da Sociedade para Exposições de Artes
e Ofícios (Arts and Crafts Exhibition Society ), fundada em 1888. As ideias
do crítico de arte John Ruskin (1819 - 1900) e do medievalista Augustus
W. Northmore Pugin (1812 - 1852) são fundamentais para a consolidação
da base teórica do movimento. Na vasta produção escrita de Ruskin,
observa-se uma tentativa de combinar esteticismo e reforma social,
relacionando arte à vida diária do povo.
• As ideias nostálgicas de Pugin sobre
as glórias do passado medieval diante
da mediocridade das criações
modernas têm impacto sobre Ruskin,
que, como ele, realiza um elogio aos
padrões artesanais e à organização do
trabalho das guildas medievais.

John Everett Millais, John Ruskin, 1853-54.


Oxford, Ashmolean.
O movimento Arts & Carfts estava em
sintonia com outro movimento britânico, a
Irmandade Pré-rafaelita.
Na Royal Academy, eleJohn Everett Millais
(1829-96) amizade com William Holman
Hunt e Dante Gabriel Rossetti. Em 1848, os
três fundaram a Irmandade Pré-Rafaelita.
“(a intensão) era retornar ao espírito dos
mestres medievais, mas sem copiar as
pinturas deles. O que desejava era, tão-só,
emular a atitude desses mestres.
(GOMBRICH, 2000)

John Everett Millais, Mariana, 1851. Londres, Tate Gallery.


• Mas o passo fundamental na transposição desse ideário ao plano prático é dado
por William Morris (1834 - 1896), o principal líder do movimento. Pintor, escritor
e socialista militante, Morris tenta combinar as teses de Ruskin às de Marx, na
defesa de uma arte "feita pelo povo e para o povo"; a ideia é que o operário se
torne artista e possa conferir valor estético ao trabalho desqualificado da
indústria.
• Com Morris, o conceito de belas-artes é rechaçado em nome do ideal das guildas
medievais, onde o artesão desenha e executa a obra, num ambiente de
produção coletiva.

William Morris por George


Frederic Watts, 1870.
Mesa ocasional, Morris & Co. Armário, criado por Philip Webb para Morris & Co.
c. 1885 c. 1862.
Esta poltrona, é comumente conhecida como a
cadeira “Morris”, foi concebida a partir de um protótipo
tradicional encontrado por Warington Taylor nas
instalações de um velho carpinteiro chamado Efraim
Colman em Hurstmonceaux, no condado Sussex,
sudeste da Inglaterra, cerca de 1866.
Dante Gabriel Rossetti, Beata Beatrix,
1868-70, Londres, Tate Gallery.

• Dante Gabriel Rossetti (1828-82) foi um dos


mais talentosos membros da Irmandade Pré-
Rafaelita era filho de um refugiado italiano.
• À direita, uma cadeira c. 1870-1890,
tradicionalmente chamada de cadeira 'Rossetti',
em homenagem ao poeta e artista Dante
Gabriel Rossetti, amigo de William Morris.
Jane Morris pintada por Dante Gabriel
Sra. William Morris posa para Dante Gabriel Rossetti, 1865. Rossetti como Prosérpina, 1874.

Jane Morris foi uma bordadeira inglesa do movimento Arts and Crafts e uma
modelo artística que personificou o ideal de beleza pré-rafaelita. Ela foi modelo e
musa de seu marido William Morris e de Dante Gabriel Rossetti.
Têxteis criados por Willian Morris.

Acanthus, seda e algodão,1879. Pássaros, lã dupla, 1875. Ramos dourado,1888. Pavão e o Dragão, painel
de lã, 1878.
Tecido para decoração 'Campion' de lã tecida em Tecido para decoração 'Tulipa e rosa' de tecido triplo de lã,
tapeçaria, desenhado por William Morris para Morris desenhado por William Morris, feito por Heckmondwike
& Co., Grã-Bretanha, 1883 Manufacturing Company, Grã-Bretanha, 1876
Frutas, amostra de papel de
Papel de parede criado por John parede, ca. 1868-70
Henry Dearle para Morris & Co

Estampa, designer William Morris


• Diversas sociedades e associações são criadas com base na intervenção direta de
Morris.
• Em 1861, é fundada a Morris, Marshall, Faulkner & Co., especializada em
mobiliário e decoração em geral: forrações, vidros, pratarias, tapeçarias etc.
• Em 1871, a Guilda de S. Jorge, planejada por Morris, representa mais uma
tentativa de conjugar ensino de arte e nova forma de organização do trabalho. Tal
experiência frutifica em outras, como na Guilda de Trabalhadores de Arte (1884) e
na Guilda de Artesanato (1888).
O pomar, Tapeçaria de Willam Morris, 1890.
Bolsa de contas de vidro e linho do século XIX. A cor e a
forma do padrão floral evocam o trabalho de William
Morris. MET.
Vitrais de William Morris para a St. James's Church.
Este conjunto foi criado pelo designer de moda Giles
Deacon e pelo artista Jeremy Deller para a exposição
'Britain Creates: Fashion and Art Collusion' organizada
e com curadoria do V&A em colaboração com o British
Fashion Council em 2012. Com a estampa derivada
de um vitral de William Morris.
Rei Arthur e Lancelot, Vitral de William Morris, 1862. Conjunto foi criado pelo designer de
moda Giles Deacon e pelo artista
Jeremy Deller , 2012.
A partir de 1890, o Movimento de Artes e Ofícios liga-se ao estilo internacional
do Art Nouveau espalhando-se por toda a Europa: Alemanha, Países Baixos,
Áustria e Escandinávia.
ART NOUVEAU
O TRIUNFO DA LINHA CURVA

O Art Nouveau foi uma manifestação


da era industrial em massa,
expressando-se pela excessiva
valorização das linhas curvas
inspiradas nas formas vegetais.
Influenciou as artes decorativas, a
arquitetura, a escultura e a pintura.
• O Art Nouveau nasceu em fins do
século XIX, como recusa à pompa e
ao conformismo característicos da
arquitetura oficial européia. Nesta
época da urbanização acelerada, os
novos-ricos ostentavam luxo em
mansões particulares desprovidas de
alma. O estilo surge como reação
impulsiva contra a uniformidade e a
monotonia. Tal reação se fez sentir
nas casas, no mobiliário, na louça, no
estilo de viver.

Entrada da mansão Tessel, Vitor Horta, Bruxelas, 1893.


• O Art Nouveau sente nostalgia da natureza e de um mundo pré-industrial; daí seu
gosto pela fantasia vertiginosa das espirais das vinhas e pelas volutas das
madressilvas, pela textura irregular dos pinheiros, pela assimetria de modo geral.
Assim harmoniza-se com o medievalismo de uma determinada sensibilidade
estética.
A Galeria L’Art Nouveau, na 22 rue A Galeria na Exposition Universelle de 1900.
de Provence, Paris.

• A Maison de l'Art Nouveau ("Casa da Nova Arte"), foi uma galeria


inaugurada em 26 de dezembro de 1895, por Siegfried Bing em Paris. O
edifício foi projetado pelo arquiteto Louis Bonnier (1856–1946). A fama da
galeria aumentou na Exposition Universelle de 1900, onde apresentou
instalações coordenadas de móveis modernos, tapeçarias e objetos de arte.
Fortemente associados ao estilo artístico que estava se tornando popular, e
para o qual a galeria posteriormente forneceu um nome: Art Nouveau.
• Soube utilizar materiais tradicionais como a pedra e adapta-lo ao sabor da
inspiração, lançou mão de materiais novos como cerâmicas polícromas, ferro
batido, aço aparente, vidros pintados.

Hector Guimard (1867-1942), arquiteto e desenhista industrial francês.


Conhecido por seu trabalho do metrô de Paris (produzido entre 1899 e
1900), onde usou o ferro fundido em adornos criativos com formatos de
plantas.
• O exotismo foi outra fonte de inspiração. O japonismo e a forma dos japoneses
verem a natureza foram influências. Assim como outros modelos asiáticos.

Kitagawa Utamaro, litogravura, c.1800.


Casa do arquiteto Vitor Horta (18861-1947), Bruxelas.
Gabinete, Émile Gallé (1846-1904), c. 1890.

Cadeira, Édouard Colonna (1862–


1948), c. 1899.
Louis Comfort Tiffany (EUA, 1848–1933). Louis Comfort TIFFANY (1848-1933)
Vaso, 1893–96 Luminária Libélula, c. 1900.
René Lalique, Mulher Libélula, broche, c. 1897-98. René Lalique, Diadema de ‘Galo’, c. 1897-98. Ouro, chifre, ametista e esmalte.
Ouro, esmalte, crisoprase, e diamantes Museu Calouste Gulbenkian

René Jules Lalique (1860-1945) foi um mestre vidreiro, vitralista, ourives e


joalheiro francês. Ficou bastante conhecido por suas originais criações em joias,
frascos de perfume, copos, taças, candelabros, relógios, entre outros.
René Lalique, Ornamento de corpete ‘Pavão’, c. 1898-1900. Ouro, opalas, diamantes René Lalique, Diadema de ‘Orquídeas’, c. 1903-04. Chifre, marfim, ouro e
e esmalte. Museu Calouste Gulbenkian citrino. Museu Calouste Gulbenkian
Painel, c. 1900
Hector Guimard (francês, 1867-1942)
Seda e pintura em seda (68,6 x 45,7 cm)
• Desde 1894, Henry Van de Velde, sob a influência do movimento Arts and Crafts e
de William Morris, prega o abandono da distinção entre arte maior e arte menor.
Na sua exposição de Krefeld, o termo Künstlekleid designa a roupa do artista(...).
(MÜLLER, 2000, p.4)

Engelswache (Angel's wake), tapeçaria, 1892.


Casa de Henry van de Velde, subúrbio Henry van de Velde vestidos com motivos Art Nouveau, 1900.
de Bruxelas, 1895-96 .
• Os cafés eram muito frequentados e, como
eles, os cabarés, com suas dançarinas. Os
cartazes se espalhavam pela cidade (Paris).
Neles, pode-se notar a presença da linha art
nouveau. Muitos continham desenhos do pintor
tcheco Alfons Mucha (1860-1939), que realizou
cartazes anunciando espetáculos e
apresentações de importantes atores, como
aqueles feitos para a atriz Sarah Bernhardt, sua
amiga pessoal. (FERREIRA, 2006)

Alphons Mucha, Poster de Victorien Sardou


Gismonda estrelado por Sarah Bernhardt no
Théâtre de la Renaissance em Paris, 1894.

Alfons Mucha, Chandon Cremant Imperial,


1899.
Art Deco
O estilo Art Deco tornou-se um
movimento internacional a
partir de Paris em 1910, é
impulsionado no pós-guerra,
conhece o seu apogeu nos anos
de 1920 e 1930, e, dependendo
do país, declina entre 1935 até
1939.

Chrysler Building, NY, detalhe.


• O termo Art Déco, de origem francesa (abreviação de arts décoratifs), refere-se a
um estilo decorativo que se afirma nas artes plásticas, artes aplicadas (design,
mobiliário, decoração etc.) e arquitetura no entreguerras europeu. O marco em
que o "estilo anos 20" passa a ser pensado e nomeado é a Exposição Internacional
de Artes Decorativas e Industriais Modernas, realizada em Paris em 1925.

Robert Bonfils, cartaz da Exposição


Adolphe Dervaux, Estação de Vaneau), 1923. Internacional de Artes Decorativas e
Industriais Modernas, Paris, 1925.
René Lalique (1860 - 1945), ornamento para carro
Erté (1892-1990), capa da Harpper’s
Citröen, 1928, símbolo de energia e velocidade.
Bazaar, novembro, 1933.
• O padrão decorativo art déco segue na direção contraria do Art Nouveau:
predominam as linhas retas ou circulares estilizadas, as formas geométricas e o
design abstrato.

Elementos decorativos do Empire


States Building, NY, construído
entre 1930 e 1931.
Chrysler Building, NY, Inaugurado em 1930.
• Paris do início do século XX foi
dominada por uma paixão por temas
“africanos” e celebrou aspectos da
cultura negra através da música, da
arte e do design. Este interesse
contribuiu para o desenvolvimento do
estilo de design Art Déco. Artistas e
designers Art Déco foram
influenciados pelos objetos africanos
que começaram a aparecer nas casas
e exposições europeias.

Painel, vidro preto jateado, Grã-Bretanha, projetado


por Sigmund Pollitzer, na Pilkington Ltd, 1933-38. V&A
Paul Colin, pôster para Josephine Baker,
1927.
André MouronCassandre (1901-68), cartaz do Expresso Paris São Petersburgo,
1927 e cartaz do transatlântico Normandie, 1935.
• A partir de 1934, ano de realização da exposição Art Déco no Metropolitan
Museum de Nova York, o estilo passa a dialogar mais diretamente com a produção
industrial e com os materiais e formas passíveis de serem reproduzidos em massa.
O barateamento da produção leva à popularização do estilo que invade a vida
cotidiana: os cartazes e a publicidade, os objetos de uso doméstico, as joias e
bijuterias, a moda, o mobiliário etc.
• O Art Déco apresenta-se de início como um estilo luxuoso, destinado à burguesia
enriquecida do pós-guerra, empregando materiais caros como jade, laca e marfim.
Andre Leon Arbus, (1903-1969) Norman Bel Geddes (designer, 1893-1958)
Donald Deskey (1894-1989), trabalhou para
clientes privados ricos na década de 1920, voltou-
se para projetos adequados para produção em
massa na década de 1930.
Copos, vidro lapidado, Japão, década de 1930, Art Déco. V&A.
Cafeteira, porcelana, desenhada por Eric Slater, fabricada por Shelley,
Fenton, Staffordshire, Inglaterra, 1930. V&A
Chanel, c.1926–27.
Par de sapatos femininos em camurça com aplicação de couro
branco, Itália, ca. 1935. V&A.
Vestido, jersey marrom claro
com listra marrom escuro,
Biba, Londres, 1973. V&A

O logotipo da icônica loja Biba de Londres


que aparece nesta etiqueta foi desenhado
pela primeira vez por John McConnell em
1969. As principais características da
"identidade da marca" Biba são o uso de
preto e dourado com estilo Art Déco.
Quando a loja Biba se mudou em 1973 para o
antigo edifício Derry & Toms (construído em
1933) em Kensington High Street, os
interiores foram decorados num estilo
inspirado na era glamorosa de Hollywood dos
anos 1930. V&A.
• No Brasil, a obra de Victor Brecheret (1894 - 1955) pode ser pensada com base nas
influências que sofre do Art Déco. Monumento às Bandeiras, São Paulo, 1954.
Edifício Brasil Edifício Petrônio Edifício Guahy

• O Rio de Janeiro concentra um grande número de arquitetura Art Déco, tendo o


bairro de Copacabana um grande número de exemplares, inclusive com influência
marajoara.
• Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, no Brasil. A maior estátua Art Déco no mundo,
construída entre 1922-1931.
Referências:
FERREIRA, Hélio Márcio Dias. Uma história da arte ao alcance de todos. Rio de Janeiro:
Publit, 2006.
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. Rio de Janeiro: ZAHAR, 2000.
MOURA, Mônica. A moda entre a arte e o design. In: PIRES, Dorotéia Baduy (org.)
Design de Moda: olhares diversos. São Paulo: Estação da Letras e Cores Editora, 2008.
Cap. 2, p. 37-74.
MOUTINHO, Stella Rodrigo Octavio; PRADO, Rúbia Bueno do; LONDRES, Ruth Rodrigo
Octavio. Dicionário de artes decorativas e decoração de interiores. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1999.
MÜLLER, Florence. Arte & Moda. São Paulo: Cosac & Naify, 2000.

Prof. Flávio Bragança

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