Letramento Literario de Re Existencia PR
Letramento Literario de Re Existencia PR
Letramento Literario de Re Existencia PR
TUTÓIA-MA, 2021
EDITOR-CHEFE
Geison Araujo Silva
CONSELHO EDITORIAL
Bárbara Olímpia Ramos de Melo (UESPI)
Diógenes Cândido de Lima (UESB)
Jailson Almeida Conceição (UESPI)
José Roberto Alves Barbosa (UFERSA)
Joseane dos Santos do Espirito Santo (UFAL)
Julio Neves Pereira (UFBA)
Juscelino Nascimento (UFPI)
Lauro Gomes (UPF)
Letícia Carolina Pereira do Nascimento (UFPI)
Lucélia de Sousa Almeida (UFMA)
Maria Luisa Ortiz Alvarez (UnB)
Marcel Álvaro de Amorim (UFRJ)
Meire Oliveira Silva (UNIOESTE)
Rosangela Nunes de Lima (IFAL)
Rosivaldo Gomes (UNIFAP/UFMS)
Silvio Nunes da Silva Júnior (UFAL)
Socorro Cláudia Tavares de Sousa (UFPB)
2021 - Editora Diálogos
Copyrights do texto - Autores e Autoras
Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
ISBN 978-65-89932-16-1
https://doi.org/10.52788/9786589932161
Editora Diálogos
[email protected]
www.editoradialogos.com
Sumário
Apresentação ..................................................................................................7
“Seu cabelo rosa não é problema para mim; o seu azul tampouco
me é, por que hão de ser para os outros?” Identidade e diferença
na narrativa juvenil Dois garotos se beijando (2015), de David
Levithan ........................................................................................................197
Yuri Pereira de Amorim
Silvana Augusta Barbosa Carrijo
Posfácio ........................................................................................................242
Marcel Alvaro de Amorim
Sobre os organizadores..........................................................................246
Fogo!...Queimaram Palmares,
Nasceu Canudos.
Fogo!...Queimaram Canudos,
Nasceu Caldeirões.
Fogo!...Queimaram Caldeirões,
Nasceu Pau de Colher.
Fogo!...Queimaram Pau de Colher...
E nasceram, e nascerão tantas outras comunidades
que os vão cansar se continuarem queimando
Porque mesmo que queimem a escrita,
Não queimarão a oralidade.
Mesmo que queimem os símbolos,
Não queimarão os significados.
Mesmo queimando o nosso povo,
Não queimarão a ancestralidade.
Nego Bispo
(Antônio Bispo dos Santos)1
1 SANTOS, Antônio Bispo dos. Colonização, quilombos: modos e significações. Brasília; INCT/UnB, 2015.
De abordagens metodológicas a relatos de experiência, este e-book
reúne textos que partem de algum tipo de “letramento reexistencial”
como um caminho para debater e pôr em prática questões contempo-
râneas intra e extraliterárias, as quais afetam o modo de ver e fazer lite-
ratura atualmente. Nesta esteira, consideramos o pressuposto de Souza
(2009)2, que elenca a necessidade de questionar as práticas sociais de le-
tramento legitimadas e buscar formas de reexistir ante uma sociedade
racista - que nega, invisibiliza e exclui diversos grupos e sujeitos sociais.
Diante disso, ponderamos que a difusão, o consumo e aproximação com
as diversas manifestações literárias de autores de grupos historica-
mente minorizados (indígenas, afro-brasileiros, imigrantes, mulheres,
LBGTQIA+, entre outros) podem se tornar um viés de reexistência, (re)
ssignificação e valorização destas literaturas e, por conseguinte, um
olhar mais humano a essas populações.
Letramento Literário de (Re)existência: práticas e debates surge em
pleno cenário de pandemia do Covid-19 e no momento de uma nova eta-
pa de nossas vidas em que precisamos (re)existir diante da necessidade
de adaptação do Ensino, da Pesquisa e da Extensão à modalidade remo-
ta síncrona. Esta obra foi motivada por nossas inquietudes e práticas
pedagógicas que vivenciamos em seminários, encontros, aulas em pro-
gramas de graduação e pós-graduação na UFPR, na Unioeste, na Unila,
na UFPI e outros lugares que nem imaginávamos. Foram muitas con-
versas e troca de saberes para a organização desta obra com diferentes
possibilidades de agir no meio eletrônico e conexões facilitadas pelo uso
da tecnologia como e-mail, vídeo chamadas gratuitas por plataformas
como o Google Meet, WhatsApp, entre outras.
Divididos em duas grandes partes – práticas e debates – os textos
deste livro procuram contribuir para uma reflexão acerca do que é lite-
ratura e qual o seu papel nessa sociedade capitalista, machista e racista,
debruçando-se sobre a necessidade de diálogo com outras literaturas
que vão mais além do cânone literário e que descentralizem o eixo da
leitura literária a partir de outras vivências. (....) É disso, portanto, que
2 SOUZA, Ana Lúcia Silva. Letramentos de Reexistência: culturas e identidades no movimento hip-hop. Tese
(Doutorado em Estudos da Linguagem). Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem.
Campinas, SP: [s.n.], 2009.
3 CANDIDO, Antonio. Vários escritos (4ª ed.). São Paulo: Duas Cidades, 1988.
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4 Este estudo faz parte de uma pesquisa que deu origem à tese de doutorado intitulada: “Práticas
de mediação de leituras na periferia de Fortaleza: cartografias do Programa Viva a Palavra e de
bibliotecas comunitárias de iniciativa popular”, realizada no Programa de Pós-Graduação em
Linguística Aplicada (PosLA) da Universidade Estadual do Ceará (2020).
5 O setor de livros não paga impostos e é protegido dessa cobrança pela Constituição Federal. No caso das
contribuições, como o Pis/Pasep e o Cofins, ele é protegido da cobrança pela Lei 10.865, aprovada em 2004,
que isenta tributação sobre vendas e importações. Na proposta de reforma tributária, essa isenção de
contribuição deixa de existir. Com isso, as vendas de livro no Brasil estariam sujeitas à alíquota prevista de
É preciso, portanto, que cada vez mais se possa refletir acerca das
dificuldades e dos conflitos vividos por essas pessoas, que sofrem, pas-
sam por privações, injustiças, mas lutam e não deixam de acreditar em
dias melhores. E, assim, mais e mais as reflexões apresentadas por Pau-
lo Freire se tornam presentes, não apenas como uma fonte de estudos,
de referência bibliográfica, mas como um incentivo e orientação para
que professores(as), educadores(as), bibliotecários(as), estudantes, pes-
quisadores(as), qualquer pessoa possa contribuir de alguma forma para
a mudança dessa realidade.
Os letramentos
12%, consequentemente, o valor das obras para o consumidor final se tornaria mais alto. Disponível em: https://
g1.globo.com/pop-arte/noticia/2020/08/11/taxacao-de-livros-como-proposta-de-reforma-tributaria-pode-
encarecer-obras.ghtml. Acesso em: 20 out. 2020.
Assim, podemos refletir acerca das armas que esses sujeitos usam
para resistir às injustiças e à desigualdade social, sendo por meio da
fala, da linguagem, que eles não se calam e se organizam para lutar cada
vez mais. Dessa forma, a periferia não é apenas lugar de pobres e despri-
vilegiados, o que sempre é evidenciado, mas é também lugar de pessoas
organizadas e de coragem que não desistem nunca diante das dificulda-
des; e, ao se organizarem para lutar, mostram o valor de sua existência,
reexistindo, assim, por meio de sua voz, a qual muitas vezes luta-se para
tentar silenciar E sobre a visão que muitos que ocupam lugares de pri-
vilégio têm acerca dos que vivem nas periferias, Freire (2011) esclarece
que:
Mediação de leitura
Bibliotecas comunitárias
Considerações finais
Referências
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Introdução
6 Falocêntrico (a): De acordo com o Novíssimo Dicionário Caldas Aulete, (fa.lo.cên.tri.co), 1. Que está centrado no
falo; 2. Em que há convicção da superioridade do sexo masculino. Disponível em: <http://www.aulete.com.br/
faloc%C3%AAntrico>.
7 Zinani (2010) defende que o cânone literário ocidental é constituído por um grupo privilegiado de autores que
tem enquanto conceito de literatura a função exercida pela obra na sociedade. Por esse viés, a seleção das obras
que o compõem ou não se torna um mecanismo de poder. Por essa razão, “as obras privilegiadas restringem-se às
produzidas em código escrito, por autores pertencentes a uma elite, destinando-se ao segmento da humanidade
que detém recursos semelhantes e professa ideias análogas” (ZINANI, 2010, p.66), e, assim, a produção de grupos
minoritários e das mulheres foram excluídos ou enfrentaram certa resistência em serem admitidos.
8 Termo utilizado no âmbito da crítica literária feminista para denominar a escrita sob a perspectiva de gênero.
10 Tradução livre da autora. No original: “[...] have provided detailed insights into possible language-mind-body
interactions that serve as the source of experimental hypotheses on the workings of the cognitive unconscious”.
Personagens Características
Tia Leonor Jovem sensual e racional.
Tia Elena Jovem corajosa que se arrisca com o pai na época da Re-
volução Mexicana.
11 A análise aqui disposta não foi realizada com todos os contos da obra. A partir da leitura da obra
foram selecionados os contos que apresentavam uma representação de mulher de forma mais
explícita. Os demais contos que não constam na análise também propõem leituras significativas,
porém desperam reflexões distintas da temática da presente pesquisa.
Tia Chila Huerta Era uma das maiores heroínas da coletânea de contos, é
retratada como uma mulher independente e bem-sucedi-
da profissionalmente.
Tia Natália Esparza Mulher insatisfeita com a vida que levava na cidade me-
xicana de Puebla, envolta pela rotina do coser e do piano
e pela mesma paisagem vulcânica.
Tia Clemencia Era bonita, só que embaixo das madeixas morenas tinha
pensamentos, e isso chegou a ser um problema.
Tia Rebeca Paz y Era uma mulher orgulhosa, que não se permitiu sofrer
Puente nem por doenças físicas nem pelas da alma durante os
103 anos que se mantivera viva.
Tia Concha Sustentava a casa e, assim, era uma mulher forte e inde-
pendente.
Tia Jose Mulher forte que salva sua filha contando a história das
mulheres de sua família.
Dizem as más línguas que o senhor Arqueros nunca existiu. Que Emilio
Suárez disse a única mentira de sua vida, convencido por sabe-se lá que
artes de tia Cristina. E que o dinheiro que dizia ser de sua herança, ela
o conseguiu com um contrabando que levou nas malas do enxoval de
noiva (MASTRETTA, 2001, p.31).
José me pertence. Atravessou a minha vida com a sua vida e não haverá
quem o tire de meus olhos e de minha alma. Por mais que se queira morto.
Ninguém pode matar a parte de si que fez viver nos outros (MASTRETTA,
2001, p. 94).
Considerações finais
Referências
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: fatos e mitos. Vol. 1. Tradução Sérgio Milliet.
3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: a experiência vivida. Vol. 2. Tradução Sérgio
Milliet. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.
CORIA-SÁNCHEZ, Carlos M. Ángeles Mastretta: la mujer y su obra. Página da web.
Disponível em: <http://www.ensayistas.org/filosofos/mexico/mastretta/introd.
htm>. Acesso em 30 de maio de 2017.
Falocêntrico. Disponível em: <http://www.aulete.com.br/faloc%C3%AAntrico>. Aces-
so em 06 de novembro de 2017.
GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática, 2002.
GIBBS, Raymond W. Why cognitive linguists should care more about empirical me-
thods. In: MARQUEZ, Monica Gonzales; MITTELBERG, Irene; COULSON, Seana;
SPIVEY, Michael J. Methods in cognitive linguistics. John Benjamins Publishing Com-
pany: Philadelphia, 2006.
MASTRETTA, Ángeles. Mulheres de olhos grandes. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
MASTRETTA, Ángeles. Página da web. Disponível em: <https://www.escritores.org/
biografias/4031-mastretta-angeles>. Acesso em 30 de maio de 2017.
PAZ, Octavio. Sóror Juana Inés de la Cruz: as armadilhas da fé. São Paulo: Mandarim,
1998.
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Clarice era uma estrangeira não por ter nascido na Ucrânia, pois
fora criada desde pequena no Brasil, mas porque ela mesma não se com-
preendia, como afirmara mais de uma vez. Esposa de diplomata, Cla-
rice teve a oportunidade de viajar muito. Em sua viagem para o Egito,
encarara a Esfinge, afirmando que não a decifrara, mas que também
não havia sido decifrada por ela. De fato, ninguém foi capaz de obter
uma completa compreensão tanto de sua pessoa quanto de sua obra.
Por isso, estudá-la é sempre um desafio e novos olhares podem ser ino-
vadores. Mulher de múltiplas facetas, Clarice já foi descrita de inúmeras
maneiras. Segundo Moser (2011, p. 18),
era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele,
comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-
me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria
(LISPECTOR, 1998, p. 393-394 – grifos nossos).
Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o
emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança
da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me
levavam e me traziam (LISPECTOR, 2016, p. 394).
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde
e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando
a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu
explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de
palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o
fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se
para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu
daqui de casa e você nem quis ler! (LISPECTOR, 2016, p. 395).
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para
depois ter o susto de o ler. Horas depois abri-o, li algumas linhas
maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais
indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro,
achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades
para aquela coisa clandestina que era a felicidade (LISPECTOR, 2016, p.
396).
Considerações finais
Referências
BARTHES, Roland. Aula. Trad. e posfácio de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Edito-
ra Cultrix, 1977.
CANDIDO, Antonio. No raiar de Clarice Lispector. In: Vários escritos. São Paulo: Duas
Cidades, 1970.
COSTA LIMA, Luís. Clarice Lispector. In: A literatura no Brasil; Modernismo. 2.ed. Rio
de Janeiro: Sul-Americana, 1970, v.5.
EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. Trad. Waltensir Dutra. 6ª
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: Companhia das Le-
tras, 1994.
GOTLIB, Nádia Battella. Clarice: uma vida que se conta. 7.ed. rev. São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo, 2013.
LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca; ensaios e estudos (1940-1960). Rio de Janei-
ro: Civilização Brasileira, 1963.
LISPECTOR, Clarice. Perto do coração selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
LISPECTOR, Clarice. Todos os contos. Org. Benjamin Moser. 1a ed. Rio de Janeiro:
Rocco, 2016.
MOSER, Benjamin. Clarice, uma biografia. Trad. José Geraldo Couto. São Paulo: Co-
sac Naify, 2011.
NUNES, Benedito. O drama da linguagem: uma leitura de Clarice Lispector. 2. ed. São
Paulo: Editora Ática, 1995.
PLATÃO. A República. São Paulo: Editora Martin Claret, 2006.
SCHWARZ, Roberto. A sereia e o desconfiado; ensaios críticos. Rio de Janeiro: Civili-
zação Brasileira, 1965.
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12 H.P.P.F - Harry Potter e a pedra filosofal; H.P.C.S - Harry Potter e a câmara secreta; H.P.P.A - Harry Potter e o
Prisioneiro de Azkaban; H.P.R.M - Harry Potter e as relíquias da morte e H.P.C.C - Harry Potter and the cursed
child.
Ao que nos consta, a reflexão sobre ideologias teve seu início com a
problemática francesa do começo dos anos 60 acerca do estruturalismo
filosófico, que em grande parte foi organizada em torno da questão de
leitura (interpretação) de discursos ideológicos. Essa problemática,
à época girando em torno de Levi-Strauss, Foucault, Barthes, Lacan,
Althusser e outros, não tomou somente a forma de um programa de
pesquisa: foi também um dispositivo polêmico voltado para as ideias
dominantes então (PÊCHEUX E GADET, 2015, p. 93).
colocamos para a cultura do outro novas questões que ela mesma não se
colocava; nela procuramos respostas a essas questões, e a cultura do outro
nos responde, revelando-nos seus novos aspectos, novas profundezas do
sentido. Sem levantar nossas questões não podemos compreender nada
do outro, do alheio, ou de modo criativo (é claro, desde que se trate de
questões sérias, autênticas). Nesse encontro dialógico de duas culturas,
elas não se fundem nem se confundem; cada uma mantém a sua unidade
e a sua integridade aberta, mas elas se enriquecem mutuamente
(BAKHTIN, 2017, p. 19).
Ler talvez sirva antes de tudo para elaborar um sentido, dar forma a sua
experiência, ou a seu lado escuro, sua verdade interior, secreta; para criar
uma margem de manobra, ser um pouco mais sujeito de sua história; por
vezes, para consertar algo que se quebrou na relação com essa história
ou na relação com o outro; para abrir um caminho até os territórios do
devaneio, sem os quais não existe pensamento nem criatividade (PETIT,
2919, p. 43).
– Quando é que eles vão aprender – exclamou tio Válter, batendo na mesa
com o punho grande e arroxeado – que a forca é a única solução para
gente assim? – É verdade – concordou tia Petúnia, que ainda procurava
ver alguma coisa por entre a trepadeira do vizinho. (H.P.P.A., 2015g, p. 18).
13 Foi utilizada a versão em inglês do oitavo livro para consulta: ROWLING, J. K.; THORNE, Jack;
TIFFANY, John. Harry Potter and the Cursed Child: Parts One and Two. Scholastic, 2016.
Referências
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Considerações iniciais
Isto reflete que esta literatura sempre foi uma forma de reprodu-
ção e perpetuação dessesvalores que preconizam valores absolutos de
uma heteronormatividade e hierarquização sexistas de um machismo.
Representam a memória discursiva dos sujeitos que estão inscritos no
conjunto social.
Durante as intervenções com os alunos, atemática do conto de fa-
das é trazida aos alunos que são instados a contarem as histórias, cada
um ao seu tipo de narração, repetem as mesmas situações. No entanto,
são questionados a repensar o papel das personagens, principalmente as
personagens femininas que se mostram indefesas e delicadas. Por outro
lado, os personagens masculinos são os provedores da redenção e salva-
Considerações finais
Referências
BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. Trad. Arlene Caetano. 17.ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.
BREBIS, Flávio. Tuda: uma história de identidade. Ilustrações de Claúdio de Sousa.
Gráfica e Editora Qualidade. Brasília, 2014.
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. 2. Ed., reimpressão. – São Pau-
lo: Contexto, 2009.
COSSON, Rildo. Círculos de leitura e letramento literário. 1.ed., 1ª reimpressão. -São
Paulo: Contexto, 2017.
DIAS, Roberto Muniz. O Príncipe, o mocinho ou o herói podem ser gays: A análise do
discurso de livros infantis abordando a sexualidade. Editora Metanoia. Rio de Janei-
ro, 2015.
FERNANDES, Cleudmar. Alves. Análise do discurso: reflexões introdutórias. Goiânia.
Trilhas Urbanas, 2005.
LOURO, Guacira. Gênero, sexualidade e educação. Uma perspectiva pós-estruturalis-
ta. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
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Ayê
Ayê mãe África
Seus filhos vieram de longe
Só pra sofrer
[..]
Prende a tristeza meu erê
Sei que essa dor te faz sofrer
[..]
O sol que queima a face
Aquece o desejo mais que otin
O sal escorre no corpo
E a dor da chibata é só cicatriz
Quem é que sabe como será o seu amanhã
Qualquer remanso é o descanso pro amor de Nanã
Esquece a dor axogun
Faz uma prece a Olorun
Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e
mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação
dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem
com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais,
e pouco lida o seu cabedal intelectual é quase nulo (REIS, 2017, p. 1).
Considerações finais
Referências
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Mostrar um inferno não significa, está claro, dizer-nos algo sobre como
retirar as pessoas do inferno, como amainar as chamas do inferno. Contudo,
parece constituir um bem em si mesmo reconhecer, ampliar a consciência
de quanto sofrimento causado pela crueldade humana existe no mundo que
partilhamos com os outros.
- Susan Sontag.
14 do grego tragōidía: “à letra, canto do bode, isto é, canto religioso com que se acompanhava o sacrifício dum
bode nas festas de Baco; daí canto ou drama heróico; particularmente, tragédia; narrativa dramática e pomposa;
acontecimento trágico, isto é, acontecimento infeliz e muito falado; acto de representar uma tragédia”. Etimologia
segundo o Dicionário de Etimologia do Português de José Pedro Machado. In: Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
Disponível em: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/tragedia/8484 [Acesso em 07/09/2020].
[...] envolvem uma perda irreparável (a perda de algo que não pode
ser completamente restaurado é trágica) de um indivíduo único [...];
15 Trecho de uma entrevista de Toril Moi à Revista Estudos Feministas, publicada em 2007, citado porSusana
Funck em ``Oque é uma mulher?’’.
16 Dados retirados do artigo “Brasil parece muito mais um abatedouro de mulheres do que uma nação”, de Djamila
Ribeiro. Disponível em : https://www1.folha.uol.com.br/colunas/djamila-ribeiro/2020/10/o-brasil-e-um-pais-ou-
um-abatedouro-de-mulheres.shtml. [Acesso em 24/10/2020].
17 Em Narrativas de formação contemporânea: uma questão de gênero, Cíntia Schwantes afirma que
o gênero Bildungsroman (romance de formação) tem como principal característica “narrativizar o
processo de formação de um/a protagonista”. Ela aponta para os impactos que o meio social, em que
um romance de formação é escrito e recebido, exercem sobre sua escritura, refletindo diretamente
nas diferenças entre um Bildungsroman com um protagonista masculino e um Bildungsroman
feminino, pois a marca do gênero consiste em uma alternância entre possibilidades de reflexão e
ação.
[...]dizem que o dono ficou maluco porque apanhou a mulher com outro,
você sabe como é. Ele foi até a cozinha, pegou um facão. Parece que
estava bêbado, não sei se alguém faria uma coisa dessas se não tivesse
bêbado. Talvez fosse maluco. Pegou o facão e matou a mulher, sua própria
mulher! Já imaginou? Com dezessete facadas. O amante dela conseguiu
fugir, chamou a polícia, o homem foi preso. [...] a minguada população
de Jabuticabais enfureceu-se, levantou-se como uma onda, invadiu
a delegacia e linchou o assassino no meio da rua, com paus e pedras
e depois fogo. A filha dele, a criança amargurada que herdou aquelas
terras, teve que amadurecer antes do tempo como uma fruta na estufa.
Chamava-se Lindaflor, a pequena e brava Lindaflor, que nas redondezas
era evocada como mito (LISBOA, 2013, pp. 24-25).
Referências
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Método
Resultados
Após fazer uma análise em cada Livro Didático utilizado nas esco-
las estaduais que oferecem o nível Fundamental-Anos Finais no muni-
cípio de Serra Talhada, foi possível obter a seguinte tabela:
Fonte: A autora.
Foi possível compreender que três dos quatro livros didáticos ana-
lisados apresentam, em uma das suas unidades didáticas, a literatura de
cordel. Cada material direciona como trabalhar com o tema.
Os textos literários de cordéis também sofrem alteração, ou seja,
cada material os apresenta em sua seção obras com temas que conside-
ram de maior relevância. Foi possível verificar, também, que as obras en-
contradas foram produzidas por nomes conhecidos, como, por exemplo:
Patativa do Assaré, J. Borges, Firmino Teixeira do Amaral, entre outros.
Assim, cada livro faz uso de autores que são conhecidos por apresentar
uma produção com temas diversificados.
Nos livros que apresentam o trabalho com os cordéis são direcio-
nadas algumas atividades a serem desenvolvidas após a leitura, e em
um dos livros, há uma seção destinada para a produção de cordéis, per-
mitindo, assim, uma maior aprendizagem sobre o assunto.
O trabalho com a produção de tais narrativas proporciona uma
aproximação dessa manifestação literária com os alunos e as discussões
que se seguirão serão significativas para o processo de letramento lite-
rário como também para a apropriação da própria cultura, da tradição
cultural que fazem parte.
Referências
Rogério Back
Lucas Evangelista Saraiva Araújo
Sônia Cristina Poltronieri Mendonça
https://doi.org/10.52788/9786589932161.1-9
18 Quilombola, Antônio Bispo dos Santos cunha o termo contra-colonialidade para se referir a “todos os
processos de resistência e de luta em defesa dos territórios dos povos contra colonizadores, os símbolos, as
significações e os modos de vida praticados nesses territórios” (SANTOS, 2015, p. 48). Se alinhando, Quijano
(2005), por meio do movimento decolonial, disserta sobre a colonialidade do saber, em que saberes produzidos
por determinados grupos sociais tidos como marginalizados são hierarquizados e inferiorizados ante aqueles
produzidos pelos grupos dominantes. Assim, entendemos que priorizar a episteme produzida por indígenas,
africanos e afro-brasileiros é uma possibilidade de assumir uma postura contra/de/colonial, evocando, desta
forma, o protagonismo epistêmico destes grupos historicamente invisibilizados e inviabilizados.
Literatura indígena
19 Termo utilizado por Baniwa (2019) para se referir às narrativas orais e ancestrais dos povos indígenas.
Desta forma, por entendermos que as literaturas, são também, oralizadas, neste estudo, trataremos literaturas
indígenas e etno-histórias como sinônimas, assim como literaturas nativas.
(1)
¿Has visto las maripositas blancas que en los días finales de octubre
invaden los campos y sin restricción alguna entran a las casas de los
poblados por las ventanas y puertas abiertas? ¿Las has observado?
Cuentan que esas maripositas blancas, que las personas mayores llaman
pe’epenitos, son los espíritus, o sea, el alma (que en maya llamamos
pixan) de las personas que ya murieron y regresan de los lugares
desconocidos para los hombres; lugares ignotos, incomprendidos, pero
que indudablemente existen (CEH MOO, 2010, p. 61).
(2)
El cheechen negro tiene un alma llena de orgullo. Es árbol de frondoso
follaje y raíces fuertes que lo hacen vigoroso hasta la última rama.
Conocedor de sus atributos físicos se ha tornado narcisista a más no
poder. Su frívola actitud resulta desagradable, no solamente a sus
congéneres, sino también a los habitantes del tupido bosque tropical
de donde es natural. Sin embargo, a pesar de su hermosura, el árbol de
marras no da beneficio alguno o, sin eufemismo, no sirve para nada. Aún
la deliciosa sombra que producen sus carnosas y verdes hojas no seducen
al descanso a los miembros de la fauna del monte; hasta los labriegos que
20 Utilizamos Deus em caixa alta e deuses em letras minúsculas em conformidade com a eleição feita pela
autora: “Hijo de Dios” e “dioses”.
(3)
Nunca me ha gustado ser mediocre o limitada, siempre he estado en
búsqueda de ser un ejemplo y ser grande en lo que hago, soy consciente
de que la literatura primero fue gráfica, todo contado con imágenes
y grafías jeroglíficas y la oralidad, pero aclaro, yo no soy trasmisor de
historias de los antepasados, yo soy creadora de obras literarias desde
21 Termo utilizado pela autora para se referir a pessoas com mescla cultural/identitária. Ou seja,
frutos da relação entre indígenas e não indígenas.
(4)
Al amanecer, el Diablo, emocionado y contento, pidió su primera prueba.
– ¿Qué es lo que tengo que hacer? –preguntó con curiosidad.
La mujer sonrió y fingió arrancarse un cabello de la cabeza, que le alcanzó
inmediatamente.
–Quiero que hagas lacio este cabello rizado –le dijo retadoramente
mientras blandía una maléfica y enigmática sonrisa (CEH MOO, 2010,
p. 22).
Vera Horn
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a minha poesia
é som
é sã
é-sou
é soul
(Cuti)
22 “e com o engenho de nossos italianos, construímos vilarejos e cidades”. “La Merica”, mais conhecida como
“Merica Merica”, fala de uma “Merica” (o Brasil) de grandes espaços (“l’è lunga e l’è larga”), rodeada de montes
e planícies, que os imigrantes italianos povoaram, construindo vilarejos e cidades. Faz parte de Poemas de um
imigrante italiano, de Angelo Giusti e deste texto aparecem, nas regiões mais tradicionais da imigração italiana,
variações ou acréscimos. Tornou-se o hino da imigração italiana no Rio Grande do Sul e tema dos 130 anos da
imigração italiana em Santa Catarina. O poema original encontra-se em GIUSTI, 1976, p. 65.
23 Negroesia é o título de um livro de poemas de Cuti, neologismo composto pelos vocábulos negro e poesia.
O poeta e crítico explica assim a sua escolha: “Esse neologismo tem, como os neologismos em geral, uma
carga semântica variável. Esse termo abriga a ideia de uma heresia a partir de uma poesia que estaria em
contraposição à ideologia racista predominante no Brasil, uma poesia muito pouco valorizada ainda, mas que
tem perspectivas muito promissoras, pois ela traz vários aspectos do país que não foram ainda incluídos na
literatura. Falo da poesia, mas também podemos estender esta interpretação para a prosa; então seria uma
literatura que tem este propósito de traduzir a ideia de uma coletividade negra e brasileira, uma coletividade
negro-brasileira. Também este neologismo abriga a ideia do desejo de uma coletividade de se assumir como
negra no Brasil. Isso com muito orgulho pelas suas raízes, pela sua luta histórica nos quilombos e fora deles, e,
também, pela herança cultural africana. (Hess, Renate. Se o Papai Noel/ não trouxer boneca preta/ neste Natal /
meta-lhe o pé no saco! O escritor brasileiro Cuti em entrevista a Renate Hess)
Não existe uma única forma de ler e nem mesmo uma única tipo-
logia de textos e, nesse sentido, o rap brasileiro também é uma fonte
original de leitura da história e da cultura negra e que reivindica a ne-
cessidade de uma voz ativa: “Chega de festejar a desvantagem/E permi-
tir que desgatem a nossa imagem/Descendente negro atual meu nome
é brown/Não sou complexado e tal/Apenas racional/É a verdade mais
pura/Postura definitiva/A juventude negra/Agora tem voz ativa” (RA-
CIONAIS MC’S, Voz ativa).
O estilo musical rap (rythm and poetry) é aqui apresentado mais
como “poetry” do que “rythm” e vem a ser o contraponto da poesia de
Solano Trindade, marcada pela oralidade, a reelaboração da identidade
afro-descendente como forma de resistência, canto de protesto, de luta
e liberdade. Nos últimos anos o rap tem adquirido maior importância
através da voz de Emicida, Criolo, Djonga, Racionais MC’s, Mano Brown,
Mv Bill e outros como Preta-Rara, Rashid, Kamau, GOG, Posse Monte
Zulu, Câmbio negro, Slim Rimografia, RZO.
Segundo Magro, “o movimento Hip hop, especialmente o ritmo mu-
sical Rap, tornou-se para os jovens da periferia urbana um meio fecundo
para mobilização e conscientização” (MAGRO, 2002 apud MACHADO;
PRADO, 2010, p. 52). Esse movimento ativo inclui também a organização
nas chamadas Posses, que constituem um meio de agregação entre os
vários integrantes de uma região e ampliar a atuação dos componentes
do Hip Hop, entre rappers, DJ’s, grafiteiros e breakers. Segundo Heloísa
Buarque de Holanda, no Brasil o Hip Hop se diferencia de outros países
por agregar a literatura “como forma de aquisição e produção de conhe-
cimento” (2008, p. 7 apud MACHADO; PRADO, 2010, p. 52). Para ilustrar
essa teoria, ela cita o trabalho conjunto de Ferréz e Mano Brown, os
saraus da Cooperifa, organizados por Sérgio Vaz, e o movimento Favela
Toma Conta, que articula literatura e Hip Hop, fundado por Alessandro
Buzo (MACHADO; PRADO, 2010, p. 52).
Solano Trindade
CIVILIZAÇÃO BRANCA
Lincharam um homem
entre os arranha-céus
(li num jornal)
procurei o crime do homem
o crime não estava no homem
estava na cor de sua epiderme
(TRINDADE, 2011, 144).
NAVIO NEGREIRO
Lá vem o navio negreiro
Lá vem ele sobre o mar
Lá vem o navio negreiro
Vamos minha gente olhar...
CANTA AMÉRICA
Não o canto de mentira e falsidade
que a ilusão ariana
cantou para o mundo
na conquista do ouro
nem o canto da supremacia dos derramadores de sangue
SOU NEGRO
Sou Negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh’alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gonguês e agogôs.
Contaram-me que meus avós
Vieram de Loanda
Como mercadoria de baixo preço
Plantaram cana pro senhor do engenho novo
E fundaram o primeiro Maracatu.
Depois meu avô brigou como um danado
nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
ORGULHO
Sou filho de escravo
Tronco
senzala
chicote
gritos
choros
gemidos
Sou filho de escravo
(TRINDADE, 1981, 43 apud BERND, 1988, 91-92)
No pós liberdade
O negro foi marginalizado
Teve a alma aprisionada
Com as algemas da desigualdade
Hoje refugiado em favelas
Onde a vida tem suas mazelas
Combate a miséria, o preconceito e a adversidade
A igualdade e o respeito
Mais do que anseios
Também são necessidades.
(CRIOLO, Povo guerreiro)
NEGROS
Negros que escravizam
e vendem negros na África
não são meus irmãos.
Negros senhores na América
a serviço do capital
não são meus irmãos.
Negros opressores,
em qualquer parte do mundo,
não são meus irmãos.
Só os negros oprimidos,
escravizados,
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São quatro. Avery não faz ideia de quem são, e nem nós, mas, como nós,
Avery tem ideia de onde isso vai dar. São os olhares de desprezo, o gingado
no caminhar, o desdém quase aleatório nas gargalhadas. É um tipo
particular de babaca, encontrado facilmente em garotos adolescentes
que andam em grupos.
— E aí, Ryan? — provoca um deles. — Quem é seu namorado?
Ryan solta a mão de Avery.
— O que você quer, Skylar? — pergunta ele.
— Vimos um carro lá fora. O que vocês estão tramando?
Avery vê agora que Skylar e um dos outros caras estão segurando tacos
de golfe. Skylar o vê olhando e sorri. Em seguida, vê uma garrafa no chão
e gira o taco, derrubando a garrafa na direção de Ryan e Avery. Ryan não
se encolhe, mas Avery, sim (LEVITHAN, 2015, p. 181, grifo do autor).
25 É importante salientar que, quando os narradores destacam que Avery viajou diversas vezes
para “tomar hormônios que colocariam seu corpo na direção certa”, o garoto estava em busca de
direcionar o seu corpo, de modo que ele formasse parte de sua identidade de gênero.
[...] Skylar mira em outra garrafa, e desta vez ela se quebra com o impacto
e espalha vidro para todo lado. Os outros garotos acham isso hilário.
Avery consegue perceber que está se recolhendo, entrando em modo de
sobrevivência.
— Que porra vocês querem? — pergunta Ryan com desprezo.
— Tão valente! — debocha Skylar.
Ele joga o taco de golfe na cara de Ryan.
Ou, pelo menos, ele faz parecer que vai jogar o taco de golfe na cara de
Ryan. No último momento, ele o segura. Mas só depois que Ryan levantou
o braço e se encolheu para o golpe que não acontece (LEVITHAN, 2015,
p. 182).
Avery sente os olhos dos caras nele e não faz ideia do que eles veem.
Que os garotos botem a culpa nele. Que ele seja o fraco, se isso for tirá-
los dali.
— Tudo bem — diz Ryan. Ele fala para Avery, mas não tira os olhos de
Skylar. — Foi ótimo ver vocês, garotos.
26 Para Silva (2014, p. 91) “é por meio da representação que [...] a identidade e a diferença passam a
existir. Representar significa [...] dizer: ‘essa é a identidade’, ‘a identidade é isso’”.
Referências
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Percurso teórico
28 Cânone ou cânon é um termo que deriva da palavra grega κανόνας, que designa uma vara utilizada
como instrumento de medida e que normalmente se caracteriza como um conjunto de regras (ou,
frequentemente, como um conjunto de modelos) sobre um determinado assunto. Está em geral
ligado ao mundo das artes e da arquitetura (BECHARA, 2001, p. 378).
Letramento literário
29 O letramento autônomo é o modelo mais presente nas escolas de ensino fundamental no Brasil,
pois a formação de nossos alunos ainda se encontra muito distante de uma integração mais efetiva
com a cultura e a sociedade, isto é, a variedade de experiências que existem na sociedade e que não
fazem parte dos ensinamentos escolares.
30 Quando afirmamosdeixar os livros acessíveis aos alunos, com relação à palavra acessível nos
referimosao princípio do qual diz Dalvi (2013), no sentido de aproximar a obra do aluno, fazer com
que ela esteja disponível em todos os lugares da escola, mas também torná-la compreensível a ele.
31 Diz respeito à identificação do leitor e de seu universo de vivências representados na obra literária. É através
dessa função que o indivíduo encontra a possibilidade de reconhecimento da realidade que o cerca quando
transposta para o mundo ficcional.
32 A Última Crônica é umfilme de Jorge Monclair, adaptado de um conto de Fernando Sabino, com André
Gonçalves, Roberta Rodrigues, André Ramiro e MarcelloGonçalves. Realização: AIC - Academia Internacional de
Cinema e TV e Luz da Arte Produções.
Considerações finais
Referências
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Referências
C
Cânone 8, 32, 33, 34, 113, 173, 176, 178, 179, 193, 194, 196, 225, 243, 245
Colonialidade 20, 152, 170
Cultura 20, 23, 24, 26, 27, 29, 31, 32, 34, 35, 36, 37, 52, 53, 75, 78, 79, 81,
88, 92, 105, 118, 135, 136, 137, 148, 149, 154, 155, 156, 159, 166, 169, 174, 175,
181, 185, 188, 189, 193, 200, 201, 203, 219, 224, 226, 228, 231, 237
D
Diáspora 12, 154, 173, 180, 185, 194
E
Ensino 4, 6, 10, 12, 29, 49, 54, 81, 88, 92, 94, 106, 111, 139, 140, 141, 142,
143, 144, 149, 173, 174, 175, 176, 196, 206, 221, 222, 223, 226, 227, 228, 230,
232, 234, 235, 239, 240, 241, 244, 245
Escola 16, 19, 22, 29, 75, 82, 83, 84, 85, 86, 92, 97, 98, 100, 103, 105, 106,
111, 112, 132, 144, 175, 196, 218, 222, 223, 226, 227, 229, 230, 231, 233, 234,
236, 238, 239, 240, 244
Escrita 7, 10, 11, 15, 19, 20, 22, 27, 28, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 52, 53,
58, 66, 80, 81, 82, 89, 93, 103, 109, 112, 113, 114, 117, 120, 121, 123, 141, 143,
153, 154, 155, 156, 159, 166, 168, 177, 208, 216, 224, 229, 244
G
Gênero 10, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 52, 53, 54, 55, 92, 93, 94, 96, 97, 99, 101,
102, 103, 104, 105, 106, 107, 126, 127, 128, 129, 130, 132, 137, 138, 175, 176,
179, 204, 207, 218, 219, 227, 231, 234, 235, 244
I
Identidades 6, 8, 11, 15, 20, 21, 52, 80, 104, 151, 152, 154, 157, 160, 165, 169,
174, 199, 202, 203, 204, 205, 214, 215, 217, 243, 244
Ideologia 9, 31, 36, 69, 70, 71, 74, 75, 76, 86, 87, 180
Inclusão 19, 29, 93, 115, 176, 177, 179
P
Professores 18, 22, 25, 94, 97, 103, 141, 142, 193, 194, 228, 239
R
reexistência 5, 8, 9, 13, 14, 15, 18, 19, 21, 22, 25, 27, 28, 29, 241, 242, 243,
244, 245
S
Sala de aula 6, 12, 54, 81, 90, 93, 94, 96, 98, 99, 103, 105, 106, 144, 172,
173, 174, 178, 193, 195, 222, 232, 233, 236, 237, 239, 241, 244, 245
V
Violência 10, 23, 25, 96, 97, 103, 106, 125, 129, 130, 131, 133, 135, 137, 152,
164, 180, 182, 183, 184, 185, 186, 189, 191, 208, 209, 210, 211, 212, 213, 217