Uma Análise Do Papel Dos Colonos Bóeres Na Colonização Do Sudoeste Angolano Entre 1879-1915
Uma Análise Do Papel Dos Colonos Bóeres Na Colonização Do Sudoeste Angolano Entre 1879-1915
Uma Análise Do Papel Dos Colonos Bóeres Na Colonização Do Sudoeste Angolano Entre 1879-1915
VERSUS AS CAMPANHAS DE
RESISTÊNCIA: UMA ANÁLISE DO PAPEL
DOS COLONOS BÓERES NA
COLONIZAÇÃO DO SUDOESTE
ANGOLANO ENTRE 1879-1915
PACIFICATION CAMPAIGNS TO RESISTANCE CAMPAIGNS.
ISSN: 2595-5713 AN ANALYSIS OF THE ROLE OF BOER SETTLERS IN THE
Vol. 06 | Nº. 11 | Ano 2023
COLONIZATION OF SOUTHWEST ANGOLA BETWEEN
18879-1915
_____________________________________
Introdução
Entre 1879 e 1880, os territórios situados na margem direita do rio Cunene, considerados
portugueses, são percorridos pelos bóeres vindos da África do Sul, após atravessarem a
Damaralândia, atual Namíbia. A chegada dos bóeres no território que corresponde hoje ao
Sudoeste de Angola, constituiu ameaça ao modo de vida dos povos Herero, Ambo e Nhaneka-
Humbe (REDINHA, 1969, p. 16-17; ESTERMANN, 1983, p. 19-20)2 e dos moradores
sertanejos portugueses.3 Por razões e circunstâncias que ofereceram interesse mútuo às partes
europeias envolvidas, os bóeres são autorizados a se instalarem no planalto da Huíla, região na
qual fundam duas colônias, Humpata e Palanca, em 1881. Durante a sua estadia no Sudoeste de
Angola, sobretudo até 1915, os bóeres foram a força das quais os portugueses puderam se servir
para impor seus desígnios aos povos do Sul e Leste de Angola.
O objetivo deste artigo visa analisar o papel desempenhado pelos bóeres para que os
portugueses pudessem dominar os povos autóctones do Sudoeste de Angola e tem como base os
escritos da época, recolhidos por etnógrafos, comerciantes, sertanejos, missionários, militares e
governantes (profissionais ou amadores). Parte destes escritos são cartas e relatórios expedidos
para a metrópole (Lisboa), dentre as quais podemos encontrar os primeiros estudos etnográficos,
cujo objetivo consistia em recolher a oralidade dos “selvagens”, e assim organizá-la para
construir a sua história, dada a “incapacidade” coletiva destes em fazê-lo, conforme se pode ler
nos referidos estudos. De forma sutil, pode se observar nestes mesmos escritos os estereótipos
por parte dos autóctones em relação aos europeus. Os ova-nkumbi, por exemplo, viam os
“brancos” como exóticos por usarem calças. Apesar de alterações significantes nos costumes dos
povos do Sudoeste, em tempos atuais, percebe-se ainda alguns choques culturais entre europeus
1
Funcionário administrativo do ISCED Huíla (Angola). Mestre em Ensino da História de África.
[email protected] Este artigo é fruto das reflexões da dissertação, intitulada «Os bóeres de
Angola. Reconstituição do legado da sua passagem pelas terras da Humpata 1880-1928» apresentada no ISCED-
Huíla. Agradeço os contributos do Prof. Doutor Jorge de Abreu Arrimar, Prof. Doutor Helder Alicerces Bahu, e do
Prof. Doutor Alberto Manuel Duarte de Oliveira Pinto.
2
Melo (2005, p. 159-178) faz críticas interessantes a estes estudos, sobretudo quanto à classificação e a agregação
dos Nhaneka e dos Humbe num mesmo grupo étnico, os «Nyaneka-Nkumbi».
3
Estes eram empregados de Narciso e Bastos, comerciantes de Moçâmedes, que lhes forneciam mercadorias e
provisões diversas, com as quais trocavam por gado que levavam a Moçâmedes, que posteriormente era vendido em
Luanda e exportado para o Gabão (DUPARQUET, 1953, p. 98 e 163).
e seus descendentes, e os homens e mulheres pertencentes aos povos autóctones desta região de
África. Tais questões se traduzem em riquezas culturais, como se segue.
4
Criado pelo Decreto de 1 de Dezembro de 1869, em que se organizou a administração ultramarina. «Angola passou
a ser dividida em três distritos – Loanda, Benguela e Mossamedes – e começa a colonização official»
(MAGALHÃES, 1925, p. 11-12). No nosso entendimento a «colonização oficial» quererá dizer o período em que o
internamento no interior, bem como a interação e domínio sobre as populações estava a cargo de particulares,
funantes e comerciantes do mato, muitos destes serão convertidos como os primeiros governantes, caso de João
Francisco Garcia Moreira, que se tornou em 1841 o primeiro regente do Forte de S. Fernando, que mais tarde veio a
ser Moçâmedes, capital do distrito.
5
Bantu é um etnônimo que começou por ser apenas um elemento linguístico. Alguns estudiosos observaram que um
conjunto de povos africanos, não obstante as diferenças físicas, culturais e até mesmo linguísticas, entre elas havia
um elemento comum, pois todas usavam a mesma palavra (radical) «ntu» para designar o ser humano. Sendo o
radical uma palavra neutra, quando queriam referir-se a mais do que uma pessoa, juntavam ao radical “ntu” o
prefixo “ba” ou “va”. E assim o termo “va-ntu” ou “ba-ntu” queria dizer gente (pessoas, homens e/ou mulheres)
(Ver REDINHA, 1969, p. 5).
É o caso dos ovi-womu, antigos serviçais dos bóeres que se encontram na Humpata
(Humpata Sede e Neves, ver mapa acima) desde 1881, há mais de um século, recrutados entre os
diversos povos dos países africanos da África Austral: Zulu, Hotentote, Hinga, Ambundu e
outras por onde os bóeres passavam. Hodiernamente, apesar de absorvidos somaticamente pela
maioria Mwíla (um subgrupo Nhaneka-Humbe), os ovi-womu7 não fazem parte de nenhum povo
do Sudoeste Angolano da classificação clássica citada.
6
Para mais profundidade sobre as questões culturais leia-se Estermann, 1983. E para a especificidade da agricultura
e/ou pecuária em cada uma das províncias ou zonas ainda mais restritas, leia-se Diniz, 2006.
7
Para uma leitura mais profunda, ler Epifânio (2023, p.69-76).
A «estrada de miséria e de dôr8», uma quase extinção dos bóeres no deserto da Namíbia
Os bóeres são originários da África do Sul. O país surgiu como feitoria, algures da atual
região do Cabo, entre a Baía da Mesa e Cape Town. Foi construída como entreposto para
abastecer navios que circulavam entre a Europa e a Índia. Ponto obrigatório nos longínquos
séculos das navegações (XV, XVI e XVII) para abastecer de água doce e víveres os navios (ver
WONDJI, 2010, p. 462). A feitoria foi fundada a 6 de abril de 1652 por Yan Van Riebeeck ao
serviço da Companhia holandesa das Índias Orientais, evoluindo para uma colônia agrícola
holandesa que se expandiu a Leste e a Norte. Em 1688 três mil huguenotes franceses, expulsos
de sua pátria devido à revogação do édito de Nantes,9 instalaram-se no Cabo, juntando-se aos
holandeses. Deste cruzamento surgirá mais tarde o povo bóer: 13% de origem francesa, 34%
alemã e 35% holandesa (ver GUERREIRO, 1958, p. 11; OLIVER, 2019, p. 2).
Em 1795 os Países Baixos (Holanda) passaram ao domínio da França, e seu príncipe
refugia-se na Grã-Bretanha, concedendo à Inglaterra o direito de ocupar o Cabo
temporariamente. O território passaria ao domínio efetivo inglês a partir de 1803 (GUERREIRO,
1958, p. 12). Em 1870 os colonos britânicos começam a influenciar a metrópole de que proteger
o interesse nacional era colocar sob a sua administração os demais territórios da região, que até
então gozavam de certa autonomia, caso das colônias bóeres e os reinos africanos de Xhosa,
Moshoeshoe, Moletsane, Sikonyela, Moroka, Kora, Griqua, entre outros. Tais pretensões brotam
em terrenos férteis num contexto internacional imperialista10 sobre a África, sendo agravado com
as descobertas de jazidas de diamante e ouro (BHEBE, 2010, p. 169-171).
Em 1877 era feita a referida a anexação pelos ingleses (PAIVA, 1938, p. 279) e a
consequente guerra de resistência da parte dos bóeres (OLIVEIRA, 1986, p. 177; BHEBE, 2010,
8
Retirado de Paiva (1938, p. 280).
9
Na França do século XVI os protestantes não eram tolerados, sendo exemplo dessa intolerância o massacre da
noite de São Bartolomeu, em 24 de Agosto de 1572. O rei católico Henrique IV, também conhecido por “O bom
Henrique”, exarou o Édito de Nantes que defendia a tolerância religiosa, quebrando assim quarenta anos de
massacres dos protestantes pelos católicos.
10
Leia-se Malowist (2010, p. 1-26) para um retrato continental sobre a expansão do capitalismo. E Oliveira (1968,
177) para o caso concreto da África do Sul.
leva cerca de mil pessoas do Transvaal em direção ao norte. Eram cerca de seiscentas famílias,
com os seus duzentos carros puxados por numerosos bois e carregados de provisões, mobília,
instrumentos de trabalho, utensílios e suas manadas (PAIVA, 1938, p. 278).
11
Há dois trek, o grande trek do século XIX em função dos atritos no Cabo entre os ingleses e os bóeres, que foi um
movimento migratório que levou os bóeres a instalaram-se no Norte, Orange e Transvaal, entre 1835-1840 e o trek
de 1874/1875 (MEDEIROS, 1976, p. 164; GUERREIRO, 1958, p. 12). É deste trek que possivelmente fazem parte
os bóeres que vieram a instalar-se na Humpata e na Palanca.
Quanto mais para o interior do continente, maior é a fome. Pior que a fome, diziam
Capelo e Ivens, era a sede. E quando não tivessem acesso à água potável, a alternativa era molhar
o corpo (MARTINS, 2023, p. 690). Seguia a caravana, sem guia e destino, apenas com uma
vontade indomável de se subtrair à influência inglesa e uma fé no futuro, “digna de melhor
sucesso” (PAIVA, 1938, p. 280). «Decididos a encontrarem, na África negra do interior, uma
região onde possam viver em liberdade religiosa e política, com a escravização dos negros, a seu
bel-prazer» (OLIVEIRA, 1968, p. 178). Em 1878 acamparam no Cubango, onde se demoraram
mais devido à abundância de caça. Daí atravessaram o rio Cunene e se internaram no Caoco 13,
construindo casas, cultivando terrenos e caçando nas margens do rio Cunene (ALMEIDA, 1912,
p. 279). O texto de Artur de Paiva que descreve, com algum recorte literário, o trek que levou os
bóeres até Angola:
12
Ver também Duparquet (1953, p. 100).
13
O Caoco foi uma terra de descanso eterno para metade dos bóeres, famílias inteiras dizimadas pelo clima
insalubre. Ficou conhecido por Rust plaatzs (lugar de descanso). Dezenas de sepulturas lá ficaram para o atestar
(PAIVA, 1938, p. 281).
Os bóeres ouviram falar das terras a margem direita do rio Cunene pelos nativos,
missionários e sertanejos. Deste então, começa a exploração desta margem. Neste período a
fronteira não estava devidamente estabelecida, os ingleses estavam em expansão, os alemães
também aí vagueavam, procurando afirmar-se, uns na margem direita a que os portugueses,
diziam suas e, outros na margem esquerda, a que os ingleses diziam suas (Ver AMARAL, 1881,
p. 459-460; FELNER, 1940b, p. 191; ALVES, 1966, p. 35). Quem de fato até então mandava na
margem direita era Chaungo, o hamba dos humbe, que rapidamente atacará os bóeres como se
explica adiante.
14
A foto mostra um monumento que se encontra em um cemitério bóer (Tchitoto). As sepulturas estão todas
destruídas. Tem sete metros de altura, construída com cimento e ferro. Possuí quatro faces, na base de cada uma das
quais se insculpiu: a) a legenda: Em comemoração de boers sul-africanos. Do Transval a Angola desde 1874 e
O Humbe, nos textos portugueses (ver ALMEIDA, 1912, p. 72; FILNER, 1940a, p. 20 e
199) dos séculos XIX e XX é uma vaga região localizada nas proximidades da margem direita do
rio Cunene. O seu povo, os humbe, foram agrupados entre os Nhaneka-Humbe por “etnógrafos
coloniais”, caso de Estermann (1983, p. 19-20) e Redinha (1969, p. 16), classificação que vai
sendo desconstruída por “indígenas etnólogos” como Melo (2005, p. 159-178) e Bahu (2011, p.
49, 55), como já referi. O famoso comerciante sertanejo, Bernardino José Brochado, já em 1844
se internara no Humbe (FILNER,1940a, p. 269) seguindo as margens do Caculovar, afluente do
rio Cunene, numa distância de aproximadamente 340 km (ALMEIDA, 1912, p.18). Nesta altura
existia no Humbe quatro reinos: Mulondo, Camba, Handa e Humbe (PÉLISSIER, 2013, p.78).
Os mulondo, concentrados ao longo Cunene variavam entre 10, 12 e 15 mil habitantes.
Não chegou ao Mulondo antes de 1844 nenhum europeu, tendo Bernardino José Brochado sido o
primeiro. Os hamba eram hostis aos europeus, sobretudo em relação à sua forma de vestir (as
calças). Só passava quem se vestisse a sua moda (tanga ou vilambo/tchimkwane) (ALMEIDA,
1912, p.82). Os Handa oscilavam entre 2 a 3 mil, e os Camba entre 5 a 6 mil habitantes, e estes
também se enquadram-se nas características ora citadas (PÉLISSIER, 2013, p. 79). O primeiro
europeu a chegar na Camba também foi o português Bernardino José Brochado, em 1846
(ALMEIDA, 1912, p.82).
Os Humbe ou ovamkhumbi propriamente ditos apresentavam outro quadro. Oscilavam
entre 50 a 70 mil habitantes, e eram menos hostis que os povos descritos. A chegada provável
dos portugueses foi em 1845, altura que se fez eleger um hamba, amigo destes e inimigos dos
seus vizinhos do além Cunene, os Ambo, sobretudo o subgrupo Cuanhama, seus antigos vassalos
(PÉLISSIER, 2013, p.79). A primeira colônia chegou somente no Humbe em 1850, momento em
que foi fundado o Conselho do Humbe, uma colônia nominal e com muitos comerciantes, casos
de Brandão, Brochado, Serafim e Santos, que tinham formado uma sociedade. A tentativa de
ocupação do Humbe só aconteceu a 4 de julho de 1859 com a construção da fortaleza, sob o
comando do capitão Miguel G. Almeida no sítio do Bolo-Bole, margem direita do rio Caculovar,
junto a embala do hamba, pois a incapacidade de manutenção da fortaleza fez com que a
presença portuguesa se circunscrevesse à Huíla (ALMEIDA, 1912, p. 82).
Em 1860, quando se fez eleger um outro hamba, a paz dos portugueses no Humbe
terminara. Era nesta altura o chefe do Conselho o Alfeire Nuno da Mata, o futuro governador do
distrito de Moçâmedes. Ao que parece, a paz foi restabelecida até 1863 com a retirada das forças
depois. Festa de honra em 5-8 de Julho de 1957; b) na mesma legenda em afrikaans ; c) uma roda de carro bóer; d) o
mapa com o itinerário do grande trek (GUERREIRO, 1958, p. 27).
O certo é que três dias após o ataque infligido aos bóeres por Chaungo, um grupo de vinte
e cinco bóeres montados a cavalos, armados de espingardas de repetição e carabinas, aparecem
no Humbe. Atacam três libatas do soba Chaungo, matam vinte e oito homens e queimam
quarenta e três cubatas (AMARAL, 1881, p. 457). Chaungo toma consciência do quanto é
movediço o chão que pisa e corre à antiga fortaleza tentando pedir ajuda. Ali encontra sertanejos
portugueses e pede que intervenham na questão bóer. Os sertanejos acedem e formam uma
comissão composta pelos mais destacados dentre eles, com o objetivo de negociar a paz com os
bóeres (AMARAL, 1881, p. 457). Os bóeres recusam negociar com Chaungo e admitem que
“pretos” sejam apenas os intérpretes, um da sua parte e outro da parte dos sertanejos. Na
conferência os bóeres explicam o que os traz até ali: adquirir vestuário, calçado, bens diversos e
inteirar-se da distância até à costa. São informados que a costa, onde se encontra Moçâmedes,
fica a trinta dias de carro, devido aos contornos, e quinze dias peando (AMARAL, 1881, p. 457).
Durante a sua estadia no Humbe, Duparquet (1953, p.165) notou apreensão dos
portugueses aí residentes, que temiam uma reação violenta da parte do hamba Chaungo,
entretanto, o reverendo Carlos Duparquet achou nesta crise uma oportunidade de realizar seu
15
Santos (2006, p134) chama atenção para que se distinga o funante do comerciante do mato. O primeiro dedicava-
se ao comércio do sertão, o segundo o mesmo, só que, após vários anos de contatos com os indígenas, alguns
tornavam-se moradores, aliando ao comércio a uma ligeira agricultura, criação de gado e caça.
16
Também pode ler-se em Duparquet (1953, p. 37-38).
sonho de edificar aí, nos lados do Humbe, a sua missão, cujos empecilhos eram a falta de
segurança e de uma via que o colocasse em permanente contato com a Europa, problemas que
seriam mais facilmente resolvidos se os bóeres se estabelecessem tal como pretendia, na margem
do Cunene que os portugueses mantinham como sua. Carlos Duparquet não foi o único a tirar
vantagens da chegada dos bóeres, os sertanejos aí estabelecidos compreenderam o temor que os
nativos tinham daqueles, enquanto vagueassem pelos lados do Humbe constituiriam a força de
equilíbrio entre os humbe e os bóeres. Sobretudo, a preferência dos bóeres a sertanejos
portugueses na resolução da guerra com Chaungo (FELNER, 1940b, p. 191). Cada vez mais o
interesse da presença bóer crescia e mais atores engrenavam a ideia de sua fixação no lado
português. Ferreira de Almeida, governador de Moçâmedes, chegou a redigir uma carta
endereçada aos bóeres, o governador lhes concedia o direito de se estabelecerem na Huíla;
isentava-os de quaisquer impostos durante alguns anos; autorizava-os a gerirem os seus próprios
negócios, com a condição de reconhecerem a suserania portuguesa; e de submeterem-se a
legislação portuguesa (DUPARQUET, 1953, p. 163; PAIVA, 1938, p. 281; OLIVEIRA, 1968, p.
178; MEDEIROS, 1976, p. 166; PÉLISSIER, 1997, p.145).
Pélissier (1997, p.146) é de opinião que os portugueses só suportaram os bóeres porque
com estes a população “branca” só por si triplicaria, aumentando assim o seu poder de fogo e
garantindo uma maior dinamização do comércio. Achamos que, para além do que Pélissier
afirma, os portugueses não podiam ter agido de forma diferente, pois, de contrário, arriscariam
ser atacados pelos bóeres e até quem sabe, aniquilados, o que não chegou acontecer devido à
habilidade diplomática dos sertanejos portugueses. Uma delegação de catorze bóeres foi
apresentar-se em Moçâmedes, tendo partido das Terras Altas da Huíla, a 10 de Agosto de 1880,
depois de conhecer os terrenos da Humpata (MEDEIROS, 1976, p. 166-167), que gostaram
muito, pois, segundo eles, recordava-lhes o Alto Transvaal (PAIVA, 1938, p. 281). Antes da
partida assinaram um acordo com o hamba (soba) da Humpata sobre o seu estabelecimento
naquela região (PADRÃO, 1998, p. 100). De Moçâmedes, a comissão volta satisfeita e com o
dever cumprido, dando a conhecer aos demais membros o sucedido. Do Caoco marcham até à
Huíla, onde chegam a 22 de dezembro de 1880, depois de cinco anos de trabalhos, de
sofrimentos físicos e morais (PAIVA, 1938, p. 281). Artur de Paiva ficou como delegado do
governo na colônia bóer da Humpata onde os bóeres se fixaram (ALMEIDA, 1912, p. 279-281).
17
Durante a época seca o Sudoeste Angolano era mais conturbado, nesta altura o caudal dos rios facilitava a
circulação das pessoas e dos bens, período em que as lavouras e colheitas exigiam poucos braços. Era também a
época da caça que de certo modo exigia deslocamentos. Estas características aplicam-se, sem excepção, a todo Sul
de Angola.
18
Ver Couceiro (1948, p. 67).
19
Ver Redinha (1969, p. 16).
20
Que muitas vezes atingiam o Centro-Sul (ver PÉLISSIER, 1997, p. 96).
21
Importa aqui especificar as razias à costa do Namibe (Moçâmedes). Sendo exímios criadores, os kuvale sabiam da
vulnerabilidade do gado, que facilmente podia ser roubado. Por isso, desde muito cedo, enquanto adolescentes ou
buluvulu (em oluvale), ficavam temporadas longe das handas (equivalente à aldeia, mas restritos ao núcleo familiar)
aí criando arenas no qual apreendiam a lutar, defesa (rastreio do gado roubado) e ataque (para roubar o gado) (Ver
ova-mwíla, saiam incursões de razia de gado que iam para todas as direções do Sudoeste
Angolano, sobretudo rumo aos povos vizinhos da serra abaixo (Moçâmedes) (ver MURATON,
1894, p. 137; ALMEIDA, 1912, p. 94). Ainda do Este, da costa (Namibe), saiam as guerras de
razia de gado, denominadas kunyanga (ovita ou guerra), feita pelos kuvale. A particularidade
desta em relação às demais residia no fato de ser feita longe, sobre o gado de quem não se
conheciam os “donos” (CARVALHO, 1997, p. 71-72). 22 Descritas deste modo, as guerras do
Sudoeste Angolano parecem ter sido bastante fáceis de entender, inteligíveis para qualquer leitor,
23
quando na verdade, se encontram ainda poucos estudos publicados sobre este assunto. Pois,
para além das citadas guerras, existiram as que se voltavam para a submissão entre as ombala, as
de sucessão ao trono, as de traições e de cumplicidades24, além de outras dezenas como ilustra
Carlos Estermann:
CARVALHO, 1997, p. 20). Todavia, em meados do século XIX, os hotentotes passaram a ter vantagens sobre os
kuvale, dado as armas de fogo que tinham adquirido (PÉLISSIER, 1977, p. 147).
22
Não conheciam os donos está entre aspas, pois os kuvale conheciam os donos do gado que roubavam, seus
vizinhos de Quilengues. Estes últimos também roubam dos Kuvale. Por isso, estas guerras eram chamadas de razias
recíprocas.
23
Ver Almeida (1940a, p. 77-109); Paiva (1938, p. 27-156); Couceiro (1948, p. 67-77); Carvalho (1997, p. 9, 71-72)
Pélissier (1997, p. 141-264) e Arrimar (2016, p. 2-17) que constituem a bibliografia elementar sobre as guerras do
Sudoeste Angolano que pudemos consultar e recomendamos.
24
A Guerra do Nano, que ocorreu em março de 1860, devastou a Huíla (tendo sido mortos oito “brancos”, incluindo
o comandante da fortaleza), o Jau, a Humpata, tendo chegado à costa, até Moçâmedes, cogitando-se a cumplicidade
do hamba Binga e dos Gambos (ARRIMAR, 2016, p. 7-8).
Tendo-se provado a incapacidade das fortalezas para um domínio mais efetivo dos povos
do Sudoeste, os portugueses e seus aliados bóeres enveredaram pelas campanhas ditas de
pacificação, cujo objetivo principal é o de analisar o papel dos bóeres. Para tal, procura-se
responder a duas hipóteses: (1) a de que os bóeres terem sido agentes de pacificação dos
portugueses; e (2) a de que os bóeres terem sido mercenários dos portugueses. Em todas as
campanhas de Artur de Paiva, desde os Gambos, em 1881 (PÉLISSIER, 1997, p. 148), a
Caconda, ao Cubango e Cassinga, 1885, Ambuelas e rio Cubango, 1886, recuperação do Forte
Princesa Amélia, 1889 e ao Bié, 1890 (Ver PAIVA, 1938, p. 27-156), com exceção da campanha
ao Cuamato26 (Ver COUCEIRO, 1948, p. 272-273), os bóeres participaram em todas sobre a
27
designação de auxiliares. De acordo com as Instruções do Corpo de Irregulares do distrito da
25
É o caso das guerras dos Gambos (1855-1856) que fez estagnar o comércio da Huíla e de Moçâmedes
(ARRIMAR, 2016, p. 5).
26
Ainda assim participaram três auxiliares bóeres. Os portugueses, que dificilmente combateram sem aqueles, na
sua ausência ficavam aflitos e quando começaram a vencer sem a sua influência, foi como se tivessem ganho a
emancipação.
27
Também foram mercenários dos portugueses os guerreiros (chimba e hotentote) de Orlog ou Vita. E do exército
português, dos finais do séc. XIX aos anos 20 do séc. seguinte, faziam parte atiradores bóeres e tropa irregular de
Huíla de 21 de maio de 1908, no seu artigo 4, n.º 1, o auxiliar era a patente mais baixa a que um
europeu tinha acesso no Sudoeste Angolano. No seu artigo 7 diz que os mesmos podem ser
«sargentos e 1º cabos de qualquer arma, mas de preferência de cavallaria» (ALMEIDA, 1912, p.
152).
Embora a participação dos bóeres como auxiliares dos portugueses tivesse começado em
maio de 1881, na guerra dos Gambos (Ver PÉLISSIER, 1997, p. 148), o único regulamento a
que tivemos acesso é esse datado de 1908, e é provável que se tenha baseado nas operações
anteriores a que os aos bóeres tinham participado. Das leituras dos relatórios de Artur de Paiva, o
português com quem os bóeres mais combateram, conviveram e inclusive deram uma esposa,
não há nenhum esclarecimento sobre estes serem designados vagamente de auxiliares, conforme
atribuição dada pelo regulamento de 1908. Cogitávamos que Artur de Paiva quisesse omitir o
protagonismo destes, contudo, em carta redigida por colonos, estes reclamavam para as
autoridades da metrópole, a propósito do comportamento inadequado dos bóeres, apesar de
serem pagos com fundos públicos pela sua participação nas campanhas, ditas de pacificação (Ver
ALMEIDA, 1912, p. 285).
Aquando das críticas que estes iam sofrendo da parte de indígenas e de portugueses, o
protagonismo dos bóeres foi manifesto, sobretudo quando pretenderam sair do planalto da Huíla
e Artur de Paiva se opôs firmemente, como se pode ver nesta breve passagem que citamos do seu
relatório: «Rejeitei algumas propostas que me foram feitas e combati por todos os meios a
emigração e os seus instigadores» (PAIVA, 1938, p. 285). Outros autores (NASCIMENTO,
1892, p. 55-56; COUCEIRO, 1948, p. 172) não só atestam o papel dos bóeres durante as guerras
de ocupação, ditas de pacificação, como lhes reconhecem valor como criadores e agricultores.
Nascimento (1892, p. 56) terá afirmado que não havia dúvida que, anteriormente à chegada dos
bóeres, os portugueses tinham pouca autoridade sobre os indígenas, e que eram os próprios
hamba, quando lhes convinha, a protegerem os sertanejos e os missionários das constantes
guerras ou de qualquer transgressão, mas com a chegada daqueles, os portugueses passaram
progressivamente a ganhar mais terreno e poder.
Couceiro (1948, p. 272) confirma isso, afirmando que o governo português se viu
«obrigado a recorrer com frequência ao braço desses seus colonos estrangeiros, em serviços
vulgares de ocupação, manutenção da ordem, repressão de agitações revoltosas». Tanto é que
quando os bóeres começaram a sair de Angola, diz Paiva (1938, p. 285), que circulou uma
opinião geral entre os indígenas que «diziam, alto e a bom som, que depois ajustaria as contas
aos portugueses que ficassem, e que, efetivamente, eram em número diminuto para se poderem
africanos, geralmente herero. E não ficava só por estes. Um exemplo: no ataque à ombala de Hangalo, soba do
Mulondo (1905), o exército português contava com dezenas de landins, como eram conhecidos os tongas de
Importa também lembrar aqui o que nos diz Nascimento (1892) sobre a importância do
trabalho missionário no controle dos povos mais insubmissos do Sudoeste:
Assim, além da luta física entre europeus e africanos, houve uma ideológica, de âmbito
religioso: fragilizando, amenizando e dividindo os africanos, com vantagem às vezes
solidificadas no campo militar. Contudo, este ponto deve ser devidamente estudado, pois, mal
interpretado, reforça os mitos30 da incapacidade de organização dos africanos, sabiamente
debatido por Joseph Ki-Zerbo. À chegada dos portugueses, como foi dito, a migração dos
povos31 do Sudoeste Angolano não estava ainda concretizada e solidificada, uma das razões das
constantes guerras. Aliás, a guerra chegou a ser considerada como um ritual de passagem, pois
todos os anos, na época seca, sucediam as guerras do Nano, kambarikongolo ou dos hotentotes,
do kunyanga, entre tantas outras como já referido, em disputa do gado, o bem mais precioso.
Este estado de situações levou a que os portugueses se aliassem aos diversos grupos
beligerantes, inclusive contratando mercenários bóeres e africanos (preferencialmente os dâmara,
herero, hotentotes, muchimba, bushman, entre outros). Os africanos foram sendo dominados por
causas variadas, algumas das quais aqui apontadas, sendo a maioria delas determinadas pela
estrutura política relativa ao micro poder derivadas da existência de muitas ombala,
independentes uma das outras e quase sempre em conflito. Entretanto, existiram situações de
comoção genérica, caso da peste bovina de 1897, em que os humbe e outros subgrupos acusaram
os "brancos" de terem trazido tal moléstia, o que fez com que se rebelassem a 12 dezembro de
1897, interrompendo assim as comunicações no planalto e até aniquilassem uma parte
importante do exército português, os pelotões da companhia de Dragões da Humpata, sob o
comando do tenente João Carlos Saldanha de Oliveira e Daun, conde de Almoster. Tratou-se de
um dos episódios das campanhas coloniais que os portugueses tiveram por mais dramáticos
(ALMEIDA, 1912, p. 98).
Contudo, a rebelião acabaria por enfraquecer pelo fato de o principal elemento na coesão
social dos povos pastores (cerimônias mágico-religiosas, de iniciação à fase adulta, de
casamento, de viuvez, etc.), estarem visivelmente perturbados pela circunstância de se terem
30
A África Negra não é uma parte histórica do mundo. Não tem movimentos, progressos a mostrar, movimentos
próprios dela (…) a África propriamente dita não tivera história (…). As raças africanas propriamente ditas ̶ à
excepção do Egipto e de uma parte da África Menor ̶ não participaram na história (…). Estes povos (africanos) nada
deram a humanidade (…). A grande maioria dos povos africanos, como não têm classes, não constituem Estados no
sentido estrito da palavra (…) a história da África Negra não tem importância (…) a passividade histórica dos povos
africanos, e dos povos negros em particular (…) (KI-ZERBO, 1972, p. 10-14). ler esses mitos na íntegra nas páginas
citadas.
Considerações finais
31
Ver Redinha (1969, p. 16).
32
Apenas a título de curiosidade, este tema é literariamente recriado em O Planalto do Kissonde, de Arrimar (2013,
p. 159-165) no cap. XVII «No Humbe os bois morrem aos milhares».
Estes portugueses que se internavam no sertão, pelo número reduzido que era e pela
posse de armas de fogo, não exerciam nenhuma autoridade sobre as populações do Sudoeste
Angolano, aliás, como ficou dito ao longo da exposição, eram meros comerciantes, cujo desejo
da dominação dos indígenas só surgirá mais tarde aliada aos objetivos imperialistas da coroa,
também pressionada pelas decisões da conferência de Berlim para protegerem seus interesses
comerciais. Por isso, mais tarde a própria literatura colonial portuguesa criara a designação de
colonização oficial, para distinguir o período ora analisado, sendo o período posterior, o da
“colonização oficial”, àquela feita a custo do império e com funcionários públicos, quando fosse
possível.
A dita “colonização oficial” teve sempre como estratégia a construção de fortalezas junto
dos antigos potentados africanos, no qual, salvo exceção, os sertanejos se estabeleciam; estes
assentamentos eram feitos preferencialmente nas terras mais populosas possíveis, por razões
comerciais, com exceção das populações mais hostis. Os dois poderes paralelos, africano e
europeu, acabaram desenvolvendo uma tolerância baseada na mútua sobrevivência, qual seja, da
parte dos potentados africanos o interesse residia numa aliança estrangeira que pudesse fornecer
armas de fogo e conselhos militares devido as constantes guerras com os povos vizinhos ou as
frequentes tentativas de cisão interna; do lado dos portugueses interessava um aliado dócil e
maleável aos seus interesses, que geralmente consistiam em transações comerciais favoráveis ou
mesmo monopolista, assim como um aliado para derrubar o hamba que não aceitasse ser
maleável aos interesses portugueses. A decadência de um dos exércitos, africano ou europeu,
quebrava a bicefalia ou o paralelismo do poder. Foi o que sucedeu às regiões onde a presença
portuguesa foi aniquilada ou quando esta dominou os nativos. Por essa razão, os líderes,
africanos e europeus, circunscritos ao Sudoeste Angolano que cedo perceberam estes meandros
do poder, puderam resistir as guerras ocorridas neste espaço, que não eram poucas e simples,
como foi analisado ao longo deste artigo.
Nesta parte de Angola, no Sudoeste, o fato de não ter existido um hamba com efetivos
poderes de um vasto de território e sobre as suas populações, dificultou ainda mais a dominação,
pois, se houvessem dois ou três, assim que um hamba fosse capturado ou morto, seus súditos se
renderiam. Esta, no entanto, não foi a realidade do Sudoeste Angolano, como se disse, no qual
existiam dezenas de potentados, independentes um dos outros e sempre dispostos a guerrear, ao
ponto de condicionar o comércio europeu. Por essa razão, as campanhas de pacificação tinham
como objetivo destruir o sistema ora encontrado e substituí-lo por outro que favorecesse o
sistema capitalista, e para isso os portugueses contaram com a força dos bóeres e de outros
mercenários africanos. Entretanto, os limites desta exposição não permitem aflorar como foi a
implementação deste sistema, especialmente no que diz respeito a colonização do Sudoeste, que
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