Perguntas Dos Exames de Filosofia
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9. Leia o texto.
Existe uma espécie de ceticismo, anterior a qualquer estudo ou filosofia, muito recomendado
por Descartes e outros como sendo a soberana salvaguarda contra os erros e os juízos
precipitados. Este ceticismo recomenda uma dúvida universal, não apenas quanto aos nossos
princípios e opiniões anteriores, mas também quanto às nossas próprias faculdades, de cuja
veracidade, diz ele, nos devemos assegurar por meio de uma cadeia argumentativa deduzida
de algum princípio original que seja totalmente impossível tornar-se enganador ou falacioso.
Mas nem existe qualquer princípio original como esse, […] nem, se existisse, poderíamos
avançar um passo além dele, a não ser pelo uso daquelas mesmas faculdades das quais se
supõe que já suspeitamos. D. Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, IN-CM, 2002, pp. 161-162
9.1. Explicite a crítica de Hume, apresentada no texto, ao ceticismo «recomendado por
Descartes».
– a dúvida universal de Descartes também se aplica às nossas faculdades, impedindo-nos de
confiar nelas; mas a dúvida universal só pode ser ultrapassada usando precisamente essas
faculdades em que deixámos de confiar; assim, uma vez estabelecida, a dúvida universal não
poderia ser ultrapassada (nem permitiria alcançar um princípio original indubitável que fosse o
fundamento de todo o conhecimento).
12. Será correto afirmar que, no passado, as pessoas sabiam que o Sol girava em torno da
Terra? Justifique a sua resposta, tendo em conta a definição tradicional de conhecimento.
Apresentação da resposta à questão:
– não é correto afirmar que, no passado, as pessoas sabiam que o Sol girava em torno da
Terra.
Justificação: – no passado, as pessoas não sabiam que o Sol girava em torno da Terra, embora
tivessem uma crença justificada de que o Sol girava em torno da Terra;
– as pessoas não sabiam que o Sol girava em torno da Terra, porque não é verdade que o Sol
girasse em torno da Terra;
– ainda que as crenças falsas tenham justificações consideradas boas, isso não faz delas
crenças verdadeiras;
– para saber, é preciso ter crenças verdadeiras justificadas, não bastando ter crenças
justificadas.
Hume dá uma explicação empirista da origem de todas as ideias. Partindo do texto, justifique a
afirmação anterior.
− Hume defende a perspetiva empirista segundo a qual todos os materiais do pensamento são
fornecidos pela experiência (seja a experiência externa, seja a interna);
− as ideias, mesmo as mais fantasiosas ou distantes da experiência, são produzidas pelo
pensamento a partir de materiais fornecidos pela experiência (externa ou interna);
− por exemplo, a ideia de Deus – de «um Ser infinitamente inteligente, sábio e bondoso»
– deriva das impressões internas das «operações da nossa própria mente», nomeadamente, da
ampliação das nossas «qualidades de bondade e sabedoria».
14. De acordo com a definição tradicional de conhecimento, se uma pessoa tem a crença de
que o Universo teve um começo por ter sido isso que leu na Bíblia, então
A. o Universo teve um começo e é ilógico pensar que não teve.
B. essa pessoa sabe como o Universo começou.
C. essa pessoa não sabe que o Universo teve um começo.
D. é falso que o Universo tenha tido um começo.
As coisas corpóreas podem não existir de um modo que corresponda exatamente ao que delas
percebo pelos sentidos, porque, em muitos casos, a perceção dos sentidos é muito obscura e
confusa; mas, pelo menos, existem nelas todas as propriedades que entendo clara e
distintamente, isto é, todas aquelas que, vistas em termos gerais, estão compreendidas no
objeto da matemática pura. R. Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira, Coimbra, Livraria Almedina, 1985, p. 210 (texto adaptado).
Haverá conhecimento a priori do mundo? Confronte as respostas de Hume e de Descartes a
esta questão. Na sua resposta, integre adequadamente a informação dos textos.
– Hume considera que a geometria, que é a priori, apenas «nos ajuda a aplicar as leis do
movimento» e que estas só podem ser descobertas pela experiência, pois, quando
consideramos «um objeto [...] tal como aparece à mente [...], ele jamais poderá sugerir-nos
[...] o seu efeito»; Descartes, em contrapartida, considera que só é seguro que existam nas
coisas as propriedades que «entende clara e distintamente», descobertas pela matemática
pura (que inclui a geometria), e não aquelas que são percebidas pelos sentidos, pois «a
perceção dos sentidos é muito obscura e confusa»;
– de acordo com Hume, não há conhecimento a priori do mundo (a importância do
conhecimento a priori é, assim, minimizada); em contrapartida, de acordo com Descartes, há
conhecimento a priori do mundo, e esse conhecimento é conhecimento fundamental (a
importância do conhecimento a priori é, assim, salientada).
18. O facto de termos justificação para uma crença faz dela conhecimento? Porquê? Ilustre a
sua resposta com um exemplo adequado.
‒ a justificação de uma proposição/tese/teoria/crença apenas fornece razões para se acreditar
nela, mas não determina a sua verdade, ou seja, essa proposição/tese/teoria/crença pode ser
falsa, não constituindo, nesse caso, conhecimento;
‒ as verdades são factos independentes das razões que temos para acreditar neles OU
podemos ter razões para acreditar em falsidades, mas isso não torna essas falsidades
conhecimento;
‒ por exemplo, alguém pode acreditar que o Sol gira em torno da Terra, porque vê o Sol em
movimento (em relação ao ponto da Terra em que se encontra), mas esta
observação/justificação não torna conhecimento a proposição/tese/teoria/crença de que o Sol
gira em torno da Terra.
Transcreva uma afirmação do Texto 2 que poderia ser premissa de um argumento cético.
Justifique tal possibilidade.
‒ «os nossos fracos sentidos mostram-nos sombras»;
Justificação: ‒ a afirmação transcrita significa que as crenças baseadas nos dados dos sentidos
podem ser falsas; ‒ se as crenças baseadas nos dados dos sentidos podem ser falsas, então
não devemos confiar nelas.