Homens Fortes - 01 - A Vida Litúrgica Do Homem

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HOMENS FORTES 01

GRUPO DE MENTORIA

A VIDA LITÚRGICA DO HOMEM

Vocês semearam muito e colheram pouco; comem, mas isso não chega para matar a fome; bebem,
mas isso não dá para ficarem satisfeitos; põem roupa, mas ninguém se aquece; e o que recebe
salário, recebe-o para colocá-lo numa sacola furada.
(Ageu 1.6)

Queridos amigos,

Nossa jornada de fé nos chama a um caminhar mais profundo com Deus, moldada por ritmos e práticas
que nos conectam ao sagrado de maneira intencional e constante. Nesta primeira conversa vamos
explorar a gestão do tempo e da vida sob a perspectiva do calendário litúrgico cristão, uma tradição
rica e significativa que transcende o mero "tempo cronológico" da sociedade contemporânea.

O QUE É O CALENDÁRIO LITÚRGICO?


O calendário litúrgico organiza o ano em períodos de celebração e reflexão, cada um com um foco
específico na vida de Cristo e na história da salvação. Este ciclo anual inclui tempos como o Advento,
Natal, Quaresma, Páscoa e Pentecostes, oferecendo uma oportunidade única para nos aprofundarmos
em diferentes aspectos da nossa fé. Neste ano de 2024 já estamos o adotando em nossa igreja, ainda
que não tenhamos falado isso. Nossas mensagens e devocionais semanais já obedecem o calendário
histórico dos cristãos.
Ao contrário do que muitos pensam, essa prática não é exclusiva da Igreja Católica Romana; é uma
tradição histórica adotada por muitos cristãos evangélicos ao longo dos séculos. Tish Warren, em
"Liturgia do Ordinário", observa que o tempo litúrgico "estrutura a nossa adoração e nos diferencia
como um povo global e alternativo. Ele dá forma e significado ao tempo, transformando-o numa
história sagrada que podemos viver".

A IMPORTÂNCIA DA VIDA LITÚRGICA


Adotar o calendário litúrgico nos lembra que não vivemos segundo o ritmo frenético e comercial do
mundo, mas somos chamados a um tempo sagrado, onde cada momento pode ser um ato de
adoração. Warren destaca que ao viver de acordo com o tempo litúrgico, "abraçamos a tensão da
nossa realidade, vivendo entre o Dia D e o Dia V. A vitória está assegurada, mas a guerra ainda
continua por um tempo".
Este conceito é essencial para homens que desejam ser discípulos sérios de Jesus. A vida litúrgica nos
permite alinhar nossos corações e mentes com a história redentiva de Deus, nos ensinando a esperar,
celebrar e lamentar em conjunto, de maneira que molda nosso caráter e nos prepara para liderar com
sabedoria e compaixão. Sim, eu disse liderar, pois, somos chamados para isso. A vocação do homem, o
macho da espécie é para presidir. Somos chamados a presidir a família, a igreja, mas precisamos
começar por nossa vida e nosso tempo.

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GESTÃO DO TEMPO NUMA PERSPECTIVA LITÚRGICA


Nosso tempo, de acordo com a perspectiva litúrgica, não é apenas um recurso a ser gerenciado, mas
um dom de Deus. Dorothy Bass, em "Receiving the Day", descreve como perceber o tempo como algo
que possuímos e gerenciamos pode nos levar à falsa crença de que somos os senhores do tempo. Ela
afirma: "Nós nos iludimos acreditando que, se apenas conseguirmos fazer tudo, se ao menos
conseguirmos amarrar todas as pontas soltas, se conseguirmos estar um pouco mais à frente da
correria, iremos provar o nosso valor e nos estabeleceremos em segurança”.
A prática do tempo litúrgico nos ensina, dia a dia, que o tempo não é nosso. Ele não gira em torno de
nós. O tempo gira em torno de Deus: o que Ele fez, o que Ele está fazendo e o que Ele fará. Vivemos
num mundo em espera, onde o próprio tempo, junto com toda a criação, geme com dores de parto,
esperando por certo nascimento. A prática do calendário litúrgico é uma contra-formação numa cultura
de impaciência. Ela nos separa como um povo peculiar que resiste ao "caráter comercial e frenético
incessante da nossa cultura".
O que quero dizer é que, independentemente do ritmo frenético da sociedade, ainda que a escola e a
universidade nos pressionem, mesmo que a correria do mercado de trabalho seja opressora, por mais
que as pressões políticas e financeiras se imponham, até mesmo se a rotina familiar for extenuante, o
homem que teme a Deus e quer ser um discípulo de Jesus em tempo integral vai estar em outra
rotação, nosso contador de giros está em um ritmo diferente.

REFLEXÕES BÍBLICAS SOBRE O TEMPO


A Escritura nos fornece uma rica orientação sobre como devemos entender e utilizar nosso tempo.
Efésios 5:15-16 nos exorta: "Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, e sim
como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus". Este chamado para remir o tempo nos
lembra da urgência e da importância de viver intencionalmente para Deus. O contrário de gerir o tempo
de maneira sábia é a prática do néscio, ou seja, alguém que não tem bom senso.
Na mesma ideia, o Salmo 90:12 também nos ensina a sabedoria de contar nossos dias: "Ensina-nos a
contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio". Reconhecer a brevidade da vida nos leva
a valorizar cada momento e a viver de maneira que glorifique a Deus. Este é o texto bíblico que sempre
menciono quando estamos orando por aniversariantes, mas ele é mais do que uma reflexão para quem
comemora um ano mais de vida, é uma reflexão para a vida toda.
Por fim, Paulo em Filipenses 1:27, exorta os crentes a viverem de modo digno do evangelho de Cristo.
Nossa vida cotidiana, quando vivida no ritmo da graça de Deus, testemunha a verdade e o poder do
evangelho ao mundo ao nosso redor. É interessante que o “viver de modo digno do evangelho” é uma
expressão grega politeuomai que é traduzida como exercer a cidadania. Esta ideia passa a ser o mote
para uma vida inteira e não apenas para as práticas eclesiásticas, mas para cada esfera da vida.

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O RITMO DA VIDA LITÚRGICA


A vida litúrgica nos convida a uma nova maneira de viver, onde o tempo é estruturado pela adoração.
No calendário eclesiástico, aprendemos o ritmo da vida por meio da narrativa. A cada semana,
reencenamos a obra criativa de Deus e o seu descanso. A cada ano, contamos de novo a história de
Jesus. Advento, Natal, Epifania: a história do povo de Deus ansiando por um Messias, o nascimento de
Cristo e então a sua revelação como Rei para o mundo todo. Quaresma, Páscoa e Pentecostes: a
história da tentação de Cristo, sua vida num mundo caído, sofrimento, morte, ressurreição e ascensão,
e então a vinda do Espírito Santo e o nascimento da igreja.
Como imitadores de Jesus, que viveu em adoração e serviço ao Pai, seguimos nossas vidas nos passos
Dele como discípulos dedicados a serem cada vez mais parecidos com o seu Senhor. Quando digo que
reencenamos a vida Dele quero dizer que nossa vida é de adoração e serviço ao Pai como a Dele.
Nossa vida e nosso tempo não são mais sobre nós, mas sobre Ele. Nas palavras apostólicas: Dele, por
meio Dele e para Ele são todas as coisas (Rm 11.36).

PRÁTICAS LITÚRGICAS NO DIA A DIA


Uma das práticas mais transformadoras é a observância do Sabbath. Não só estamos lembrando o
descanso de Deus depois de sua obra criativa, mas também estamos antecipando o descanso
vindouro, o Sabbath porvir quando Deus terminará a sua obra redentiva. Lembramos juntos que
estamos esperando o fim da história, a renovação de todas as coisas.
O Sabbath nos recorda que a vida não é só atividade, mas também descanso. Nos lembra que não é só
viver para si, mas para Deus. Nos lembra que precisamos ter um momento de adoração e serviço. O
Dia do Senhor é um princípio reformado que precisamos reavivar em nosso meio. Nossas famílias,
muitas vezes, são ausentes ou relapsas em relação ao evangelho e à frequência à igreja porque nós
como chefes do lar não temos estabelecido esta dinâmica de gestão do tempo semanal no lar.

INTEGRANDO A LITURGIA NA VIDA DIÁRIA


A prática da liturgia vai além do calendário anual e permeia nossas atividades cotidianas. Como Tish
Warren explica, “não há tarefas que possam ser consideradas pequenas ou de menor valor espiritual.
Toda rotina pode ser uma plataforma litúrgica que reflete a glória de Deus”. Gestos considerados
comuns, como arrumar a cama, podem remeter pedagogicamente à narrativa da criação quando Deus
transformou o caos em uma belíssima ordem criativa.
Warren destaca que examinar a vida diária sob “lentes litúrgicas” torna cada gesto diário parte de uma
ordem pedagógica e um currículo do discipulado cristão. A vida espiritual do cristão precisa ser
pautada em disciplinas que são calmas, repetitivas e ordinárias, e não na obsessão pós-moderna por
estímulos, experiências e autenticidade. Há algo de belo no ordinário, e esta sede intensa por
inovações e experiências radicais impactantes. Perceber o Senhor e servir ao Senhor na agenda
ordinária da vida é uma dádiva que precisamos aprender.

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A IMPORTÂNCIA DE REDEFINIR O RITMO DE VIDA


Em tempos recentes me pus a pensar sobre como assimilar essas práticas à minha própria vida. Além
de “Liturgia do Ordinário” me debrucei por um tempo sobre o livro de David Murray "Reset: Vivendo no
ritmo da graça em uma cultura estressada".
Neste livro ele enfatiza a necessidade de redefinir nosso ritmo de vida para que reflita a graça do
evangelho. Ele escreve acerca de diversos cristãos com os quais interagiu nas conferências nas quais
eles ia participar como preletor: "Quaisquer que fossem as diferenças, qualquer que fosse a pessoa,
quaisquer que fossem os problemas, qualquer que fosse o estágio de estresse ou esgotamento, todos
notavam que viviam num ritmo veloz demais e precisavam reconfigurar a própria vida. Eles queriam
que fosse mais bem refletida a graça do evangelho em seu ritmo de vida. Desejavam maior alegria no
serviço do evangelho".
Não somos máquinas e precisamos descansar, como dito anterior. Além de não sermos máquinas, não
somos apenas um corpo. Nossa alma precisa de sentido, ela precisa de paz e descanso. Se nossa
corrida neste mundo se limita à satisfação do nosso próprio eu caído, cheio de suas paixões e desejos
carnais, somos os mais infelizes de todos os homens. A vida precisa ser realinhada para o verdadeiro
curso do discípulo de Jesus Cristo.

CONCLUSÃO
Queridos amigos, a vida litúrgica não é um mero formalismo, mas uma rica tradição que nos ajuda a
viver plenamente nossa fé. Ao observarmos o calendário litúrgico, somos convidados a viver em um
ritmo que nos lembra constantemente da obra redentora de Deus e nos prepara para liderar com
sabedoria e compaixão. Que possamos, como homens de Deus, abraçar esta jornada com
compromisso e dedicação, permitindo que cada momento de nossas vidas seja um reflexo da glória de
Deus.
Este nosso primeiro momento de leitura, meditação e - dentro em breve - encontro para conversar,
quero que pensemos seriamente sobre uma verdade essencial ensinada por Jordan Peterson em suas
“12 Regras Para a Vida”: “É melhor governar o próprio espírito do que uma cidade, diz o ditado. É mais
fácil subjugar um inimigo de fora do que um de dentro. Talvez o problema ambiental seja,
essencialmente, espiritual. Se nos colocarmos em ordem, pode ser que façamos o mesmo com o
mundo”.

Com amor e orações,

Em Cristo,

Pr. Maicon

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