Artigo Helena Queiroz - Ciis 2013 - Responsabilidade Social - A ISO 26.000 Aplicada Ao Ensino Superior

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Responsabilidade Social: a ISO 26.

000 aplicada ao Ensino Superior

*Helena Maria Gomes Queiroz1

RESUMO: Este artigo é fruto da tese de doutorado em educação da pesquisadora e tem como objetivo
apresentar uma proposta de diretrizes de responsabilidade social para as Instituições de Ensino
Superior (IES), que contemplem não somente as ações que elas praticam com sua comunidade, via
extensão ou não, mas como também, todas as atividades que praticam com os outros públicos que se
relaciona, como os alunos, os fornecedores, os funcionários administrativos e técnicos, os professores
e o governo. É fundamental destacar que as universidades devem permanecer na busca do
cumprimento de seu papel enquanto promotoras do desenvolvimento de competências técnicas e
humanas, despertando nos alunos a consciência da cidadania.

ABSTRACT: This article is the result of the doctoral thesis in education researcher and aims to
present a proposal for social responsibility guidelines for College Education Institutions (CEIs), which
encompass not only the actions they engage with their community, via extension or not, but also, all
activities that they practice with other audiences that they relate, such as students, suppliers,
administrative and technical staff, teachers and the government. It is important to emphasize that
universities must remain in search of fulfilling their role as promoters of the development of technical
skills and human awakening in students an awareness of citizenship.

1. INTRODUÇÃO

Muitas organizações têm optado pela responsabilidade social como um dos possíveis
caminhos de resposta para alguns dos vários desafios políticos, econômicos, sociais e
ambientais que cruzam o cenário de nosso país. A evolução da responsabilidade social no
Brasil não deixa dúvida de que é uma filosofia que está penetrando nos modelos de gestão, o
que não depende do tamanho ou tipo de organização.
Neste contexto, a responsabilidade social assume relevância estratégica na lacuna da
formação de profissionais que vão projetar o futuro de nosso país. As Instituições de Ensino
Superior (IES) devem permanecer na busca do cumprimento de seu papel de promotoras do
desenvolvimento de competências técnicas e humanas, despertando nos alunos a consciência
da cidadania. As IES são, assim, potencialmente capazes de articular ensino, pesquisa e
1

* Doutora em Educação pela Universidad de la Empresa – Uruguay; Mestre em Administração pela


Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; Pós-Graduada em Metodologia do Ensino Superior pelo
CEPEMG-Newton Paiva; Pós-Graduada em MBA Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio
Vargas/Universidade de Ohio; Graduada em Administração pela Newton Paiva; Consultora da Trilha – Soluções
em Responsabilidade Social Ltda.; Professora do Curso de Pós-Graduação em RH do IEC Contagem e Praça da
Liberdade; Professora do Curso de Pós-Graduação em Poder Legislativo e Políticas Públicas da Escola do
Legislativo de Minas Gerais; Professora da Fundação Dom Cabral; Professora do IETEC – Instituto de Educação
Tecnológica; Presidente da ONG Espaço Especial; Pesquisadora do NUPEGS – Núcleo de Pesquisa em Ética e
Gestão Social; Autora de diversos artigos.
extensão, tripé fundamental para que a produção intelectual ultrapasse as paredes das classes,
e de prover a efetiva participação da sociedade no processo de construção do conhecimento.
As IES tem sido espaço de promoção de debates de várias ideias e propostas que
buscam superar a crise contemporânea. Entre estas ideias podemos citar: a defesa de formas
solidárias e populares de organização da vida econômica, a valorização da diversidade
cultural, a busca de formas democráticas de gestão, dentre outros. Estas ideias tem sido
discutidas a partir da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade, como perspectivas
indispensáveis para a construção do conhecimento no mundo contemporâneo.
Em agosto de 2004, a discussão da responsabilidade social nas Instituições de Ensino
Superior (IES), ganha relevância, com a operacionalização do Sistema Nacional de Avaliação
da Educação Superior (SINAES), instituído pela Lei nº 10.861 de 14.04.2004 e
regulamentado pela Portaria nº 2.051 de 09.07.2004. A referida Lei estabelece dez dimensões
de avaliação das IES, são elas: a missão e o PDI – Plano de Desenvolvimento Institucional; a
política para o ensino, pesquisa, pós graduação e extensão; responsabilidade social da
instituição; a comunicação com a sociedade; as políticas de pessoas; a organização e a gestão
da instituição; infraestrutura física; planejamento e avaliação; política de atenção ao
estudante; sustentabilidade financeira.
Do ponto de vista das atuais autoridades educacionais do país, o conceito de
responsabilidade social pouco tem a ver com as definições dos diversos autores apresentados
neste estudo. Considera-se responsabilidade social das Instituições de Ensino Superior como a
construção de um caminho pautado pela ética e coerência que as instituições necessitam ter
com todos os públicos com os quais elas se relacionam: alunos, professores, empregados,
fornecedores, comunidade e governo.
As hipóteses deste estudo são duas: A responsabilidade social das Instituições de
Ensino Superior é percebida por meio dos projetos de extensão com as comunidades; Os
critérios de avaliação adotados no SINAES são insuficientes para analisar a responsabilidade
social das Instituições de Ensino Superior.
Nesse sentido, o objetivo geral é pesquisar a responsabilidade social no Curso de
Administração, de três Instituições de Ensino Superior, em Belo Horizonte – Minas Gerais.
Os objetivos específicos são: Mapear o perfil dos alunos e professores do Curso de
Administração; Analisar se alunos e professores do Curso de Administração das IES objeto de
estudo, conhecem e participam da avaliação do SINAES; Investigar se o ensino e a pesquisa
contemplam a responsabilidade social nas IES, especificamente no Curso de Administração;
Pesquisar se as ações de responsabilidade social exercidas pelas Instituições de Ensino
Superior estão vinculadas aos seus programas de extensão; Elaborar diretrizes de
responsabilidade social para o ensino superior.
Esta investigação tem sentido pois, pelo fato de que a temática tem adquirido cada vez
mais grande importância no campo das Ciências Sociais e Humanas em geral, são poucos os
estudos realizados com rigor científico no país. Os resultados desta pesquisa são de grande
utilidade, não somente para as próprias instituições investigadas, interessadas que são na
consolidação de seu projeto de responsabilidade social, mas também para o movimento
organizacional crescente nesta direção.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Marco Teórico

O maior desafio do ensino superior é caminhar para uma educação de qualidade que
segundo Moran (2000) “integre todas as dimensões do ser humano”. Para isso, faz-se
necessário, pessoas que façam “integração em si mesmas do sensorial, o intelectual, o
emocional, o ético e o tecnológico e que transitem de forma fácil entre o pessoal e o social”.
Considerando a homogenização de todas as Instituições de Ensino Superior privadas
na categoria de empresas educacionais, independentemente da finalidade de seus lucros, deve-
se destacar que pautar as estratégias de marketing em torno da questão da responsabilidade
social, é também a tendência do momento no mercado de ensino superior. Nesse sentido,
Calderón (2005) constata que, em relação à atuação das IES no mercado: cada vez mais
adotam em suas estratégias de marketing o discurso da responsabilidade social, não sendo
reflexo necessariamente de uma prática institucional real.
Assim, as instituições de Ensino Superior apresentam um espaço fundamental para que
a Responsabilidade Social possa consolidar-se como área de conhecimento, além de
subvencionar a formação de profissionais mais conscientes de seus papéis de cidadãos e
agentes da transformação social que buscam escrever um final diferente para a historia dos
dilemas sociais de nosso país.
O conceito de educação superior, de acordo com Carvalho (2005), aproxima-se de
uma relação de dignidade com seus aliados, à medida que prioriza estratégias pedagógicas
que valorizem atributos durante a formação de seus alunos, tais como: autonomia,
participação, solidariedade, produção, empreendedorismo, responsabilidade com a vida
comunitária, sensibilidade a demandas e necessidades de grupos específicos, capacidade de
criação e adaptação a novas situações, desenvolvimento de habilidades de auto-aprendizagem,
utilização ética de novas tecnologias e possibilidade de colaboração na melhoria da qualidade
de vida global da comunidade.
Rosler e Ortigara (2005), contribuem dizendo que a responsabilidade pela educação de
qualidade é de todos, ou seja, família, sociedade e Estado. Na opinião de Rocha Neto (2005),
há distinção entre ensino, como transmissão do saber, ou treinamento de práticas
profissionais, e educação, como formação e libertação dos indivíduos – como transformação
pessoal e coletiva, pela apropriação de conhecimentos.
Predominantemente público até a década de 60, o ensino superior teve sua política
modificada e deu espaço ao crescimento do setor privado (CASTRO; TIEZZI, 2005). De
acordo com o Censo do Ensino Superior, faz-se necessário a diversificação e flexibilização do
ensino, tanto público quanto privado, para receber um grande número de alunos, que formam
no ensino médio e pleiteam um ensino superior.
Santos (2004) diz que a legitimidade da universidade só será cumprida quando as
atividades, hoje ditas de extensão, se aprofundem tanto que desapareçam enquanto tais e
passem a ser parte integrante das atividades de investigação e de ensino.
Calderón (2005) complementa dizendo que os projetos de extensão não podem ser
implantados em estruturas afastadas do ensino e da pesquisa, como por exemplo em ONG’s,
dentro da própria universidade. Somente terão sentido, enquanto prática acadêmica, quando
forem apropriadas e executadas pelos próprios cursos de graduação e pós-graduação.
O trabalho de extensão só se justifica à medida que o aluno atenda à população carente
como parte de seu aprendizado prático e no exercício profissional. A responsabilidade social
das instituições de ensino superior está em tudo o que cerca a formação dos alunos e a
produção de conhecimento. (TODOROV, 2005)
A produção de conhecimentos é uma das tarefas fulcrais da universidade, fato que não
deve ser ignorado. Entretanto, a destinação social desse conhecimento merece uma reflexão.
“Para quem e para que se produz o saber?” Acredita-se que a contribuição da universidade
não deve limitar-se somente a prover a sociedade de recursos humanos adequadamente
qualificados para o desenvolvimento sócio econômico. (VOLPI, 1996, p. 17)
Dessa maneira, para melhor cumprir sua função social, é imprescindível que a
universidade não se descuide da formação integral dos acadêmicos, uma formação que, como
destaca Mosquera (1990), vá mais além da competência técnica, resgatando o compromisso
com o humano, na busca da síntese do profissional com o ser humano que há nele, numa
perspectiva de educação de valores, capaz de propiciar-lhe um posicionamento ético para
assumir seu papel numa sociedade em constante mudança.
“A falta de fraternidade, de solidariedade (...) é uma prova de que ainda estamos em
uma escala atrasada do desenvolvimento do homem, do desenvolvimento social e
econômico.” Este desenvolvimento, de acordo com Escotet (1990, p. 212), deve ocorrer por
“via da liberdade, da democracia, da participação e da equidade”.
A universidade, para Macedo (2005), deve proporcionar uma educação que prepare
para o pleno exercício da cidadania e que sua atividade de pesquisa esteja voltada para a
resolução de problemas e de demandas da comunidade na qual está inserida. Privada ou
pública, somente a universidade de qualidade, com autonomia e compromisso social, será
capaz de promover: a produção do conhecimento, a inovação tecnológica, associação do
universal às peculiaridades regionais e a formação do profissional cidadão.
Alguns poderão assegurar que os alunos aprendem responsabilidade social quando se
envolvem em atividades de extensão promovidas pela Instituição. O autor contesta essa visão,
pois considera que a responsabilidade social permeia todo o processo educacional que vai
além da extensão. Formar com responsabilidade social é condição indispensável para
provocar o despertar da consciência dos estudantes para esse tema. (SORDI, 2005)
O Projeto Pedagógico Institucional deve estar comprometido com a responsabilidade
social, exigindo respeito aos princípios do coletivo, da liberdade comunicativa, do exercício
co-responsável e da vivência em comum. Sordi (2005), enfatiza que ensinar com
responsabilidade social implica viver e praticar responsavelmente o ofício de educador,
assumindo nossa cidadania na instituição educativa em que atuamos sem “dicotomizar nossa
porção profissional da porção pessoal”.
É possível afirmar que a grande responsabilidade social de uma IES seja formar
cidadãos socialmente responsáveis. Outro elemento importante no processo de afirmação da
identidade socialmente responsável das IES é a criação de espaços de diálogo entre os
diversos segmentos de aliados. A IES, como todo lugar onde se faz educação, é um espaço de
encontro de vivências presentes, de formulação e expressão de expectativas e de construção
coletiva de um futuro necessariamente melhor e mais justo (CARVALHO, 2005). Durham
(2005) faz uma crítica neste sentido quando diz que a educação superior, pública ou privada,
“parece ter assumido a função de salvar o país”.
Além do trabalho criterioso, sério e comprometido com seu estudante, faz parte da
vocação das Instituições de Ensino Superior, buscar soluções para o bem comum da
sociedade, em seu trabalho cotidiano. Essas organizações não só transmitem conhecimento e
investigam a realidade como também devem formar profissionais sensíveis às demandas
sociais. (FURLANI, 2005)
O aperfeiçoamento docente, conforme Hernández (1989, p. 307) é uma das formas que
a universidade cumpre, efetivamente, com sua responsabilidade social. A valorização do
aperfeiçoamento psicopedagógico do corpo docente da universidade implica, “maior nível de
organização, de motivação, de comunicação humana e de reflexão sobre os objetivos
educativos”, podendo vir a constituir-se em um caminho para potenciar a renovação educativa
da universidade.
Volpi (1996) ressalta a necessidade que os gestores das instituições de ensino superior
sentem de referenciais teóricos e práticos para o exercício da gestão no que se refere aos
desafios colocados pelo SINAES. Pelo fato de não existirem, no âmbito da gestão
universitária, fórmulas prontas e acabadas, usam a criatividade para tentar atingir as metas
institucionais de forma eficiente e inteligente.
Nesse sentido, de acordo com Vallaeys (2006), ganha importância a contínua
observância do chamado “currículo oculto”. De que adianta ensinar defesa do meio ambiente
se a IES não possui estratégia de reciclagem do lixo produzido? De que adianta ensinar
democracia e participação se muitas vezes não há espaços de participação, não somente para
alunos, mas também para professores? Ou ensinar a importância da luta contra o racismo, se
há resistências veladas para a contratação de docentes negros? Ou ainda pregar o respeito aos
idosos, se a IES não possui uma política institucional de respeito e valorização de seus
professores e funcionários idosos?
A questão da responsabilidade social das Instituições de Ensino Superior, ganha
grande relevância, com a operacionalização do Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Superior, instituído pela Lei nº 10.861 de 14.04.2004 e regulamentado pela Portaria nº 2.051
de 09.07.2004. (MEC, 2004)

2.2 Metodologia

Este estudo, quanto ao tipo, apresenta uma pesquisa exploratória e descritiva, com
abordagem qualitativa e quantitativa. A técnica de pesquisa utilizada foi o estudo de casos
múltiplos. Foram pesquisadas três Instituições de Ensino Superior, localizadas em Belo
Horizonte, Minas Gerais, doravante denominadas Instituição “A” (Universidade Filantrópica),
Instituição “B” (Centro Universitário Privado) e Instituição “C” (Universidade Pública).
Nas três Instituições pesquisadas, escolheu-se o curso de Administração como recorte
na pesquisa. Os instrumentos de coleta de dados para o estudo em questão foram: entrevista
em profundidade semi-estruturada, questionário fechado tratado com ferramenta estatística e
análise documental. Foram realizadas três entrevistas semi-estruturadas com os coordenadores
do curso de Administração das três instituições de ensino.
A população total do Curso de Administração das três Instituições é de 2.364 (dois
mil, trezentos e sessenta e quatro) alunos. Destes, conseguimos uma amostra de 63,87%,
totalizando 1.510 (hum mil, quinhentos e dez) alunos. A população de professores do Curso
de Administração das três instituições pesquisadas somam 151 (cento e cinquenta e um).
Destes, obteve-se uma amostra de 39,07%, totalizando 59 (cinquenta e nove) professores.
Nesse estudo, foram analisados documentos como: Plano de Desenvolvimento
Institucional (PDI), projeto pedagógico do Curso de Administração, matriz curricular do curso
de Administração, ementas das disciplinas do Curso de Administração, websites das
institucionais com históricos, jornais, boletins e outros tipos de publicações internas das
instituições pesquisadas.
Foi realizada uma análise de conteúdo para os dados coletados nas entrevistas com os
coordenadores e análise estatística, utilizando o Programa SPSS, para os dados coletados nos
questionários com os alunos e professores.

2.3 Análise dos Dados

Após os dados coletados nas entrevistas e questionários, com relação à


responsabilidade social e ensino, conclui-se que a maioria dos professores e alunos
entrevistados sabe o que significa responsabilidade social. Não existe esta disciplina nas
matrizes curriculares dos cursos de administração nas três instituições, apenas é oferecida
como disciplina optativa na Instituição “C”.
A maioria dos professores diz discutir a responsabilidade social em suas respectivas
disciplinas. Entretanto, a análise das ementas das disciplinas não contempla essa temática,
com exceção da disciplina de Ética e Negócios, na Instituição “A” e a disciplina de
Sociologia, na Instituição “B”. Além disso, raramente a responsabilidade social é tema de
Seminários e Semanas Gerenciais. A maioria dos professores e alunos entrevistados
consideram importante a discussão do tema e principalmente a discussão do tema para
formação do futuro administrador. No que diz respeito à instituição ser socialmente
responsável com professores, alunos e funcionários administrativos, tanto professores, quanto
alunos, apresentaram opiniões bem divididas.
No que diz respeito à responsabilidade social e extensão, pode-se concluir que a maior
parte dos professores e alunos entrevistados das Instituições “A” e “C” apoiam os projetos
sociais das instituições. Este apoio é bem menor para os professores e alunos da Instituição
“B”. Percebe-se que as instituições filantrópicas e públicas se preocupam mais com os
projetos de extensão. Além do apoio aos projetos sociais da Instituição, esse raciocínio
também aplica-se às questões pesquisadas sobre ao conhecimento destes projetos sociais.
As opiniões apresentaram-se bem divididas entre os professores sobre estimular os
alunos a participarem de projetos sociais ou intervenções em organizações sociais. Os alunos
consideram que são pouco estimulados pelos professores e, como consequência, apresentaram
opiniões divididas sobre a importância dessa intervenção para eles. Se os alunos não são
estimulados pelos professores e pela Instituição, não têm a oportunidade de vivenciar
experiências em projetos sociais e constatar a importância desta atuação para sua vida pessoal
e profissional.
A participação de professores e alunos nas pesquisas científicas promovidas pela
Instituição é pequena, com exceção da participação dos professores da Instituição “C”
(instituição de ensino superior pública). A responsabilidade social, praticamente, não é tema
abordado pelas pesquisas científicas realizadas nas três instituições. Conforme coordenadores,
professores e alunos do Curso de Administração, a pesquisa científica da Instituição não está
voltada para os problemas sociais da região em que está inserida.
Conclui-se que tanto professores, quanto alunos, das três instituições pesquisadas,
consideram importante avaliarem a instituição que trabalham e estudam. Entretanto, com
exceção da Instituição “B” (privada), há baixa participação na avaliação institucional. A
maior parte dos professores entrevistados conhecem os critérios de avaliação utilizados pelo
SINAES. Por outro lado, a maior parte dos alunos entrevistados, desconhecem os critérios do
SINAES.
Na opinião da maioria dos professores, a instituição orienta sobre a importância da
avaliação institucional. Porém, com exceção da Instituição “B”, esta orientação não é feita de
forma adequada aos alunos. Da mesma forma, grande parte dos professores oferecem
sugestões para melhoria da instituição. Ao contrário, poucos alunos participam oferecendo
sugestões. Cabe lembrar aqui que o processo de avaliação institucional é uma oportunidade de
gestão participativa.
As opiniões ficaram bem divididas entre professores e alunos das três instituições
quando a questão é a melhoria do desempenho da Instituição, a partir do que foi proposto e
sugerido na avaliação institucional. Por fim, a maioria dos professores e alunos não
conhecem os critérios que o SINAES utiliza para avaliar a responsabilidade social da
Instituição.

2.4 Diretrizes de Responsabilidade Social para o Ensino Superior

Este estudo apresenta o conceito de responsabilidade social adotado pela ISO 26.000,
como sendo a responsabilidade de uma organização pelos impactos de suas decisões e
atividades na sociedade e no meio ambiente, por meio de um comportamento ético e
transparente que contribua para o desenvolvimento sustentável, inclusive a saúde e bem-estar
da sociedade, leve em consideração a expectativa das partes interessadas, esteja em
conformidade com a legislação aplicável e seja consistente com as normas internacionais de
comportamento, esteja integrada em toda a organização e seja praticada em suas relações.
No caso das Instituições de Ensino Superior, as partes interessadas ou públicos de
relacionamento são: governo, comunidade, funcionários (docentes e administrativos), alunos,
fornecedores, concorrentes e outros, que, de forma direta ou indiretamente, impactam a gestão
da instituição.
Para que a Instituição de Ensino Superior tenha uma gestão responsável, integrada
com todos os públicos de relacionamento, esta proposta baseia-se nas diretrizes para a
responsabilidade social, apresentadas pela ISO 26.000, norma internacional de
responsabilidade social, lançada em 2010, que visa ser útil para todos os tipos de organizações
nos setores privado, público e sem fins lucrativos, independente do seu porte. Embora nem
todas as partes desta norma tenha a mesma utilidade para todos os tipos de organizações,
todos os temas centrais são relevantes para as Instituições do Ensino Superior.
Como a norma internacional não tem caráter de certificação, outros países no mundo
estão desenvolvendo suas próprias normas nacionais com propósito de certificação à luz da
ISO 26.000. No Brasil, a NBR 16.001, foi lançada em agosto de 2012 e, num futuro breve,
certificará as organizações que pretendem ser socialmente responsáveis.
Para melhor entendimento, este capítulo apresenta, por meio de quadros, algumas das
possibilidades de aplicação das questões e temas estipulados pela ISO 26.000, na realidade
das Instituições de Ensino Superior. As diretrizes para a gestão responsável das Instituições de
Ensino Superior, apresentam-se agrupadas conforme Figura 1, abaixo:
Figura 1 – Gestão Responsável

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000

Para cada tema central, a ISO 26.000 apresenta várias questões, ações e expectativas
para auxiliar as organizações na aplicabilidade da norma. A Figura 2, a seguir dá uma
dimensão global sobre os temas e questões aqui abordados.
Figura 2 – Matriz da Gestão Responsável
Gestão
Responsável

Governança Direitos Práticas Meio Envolvimento E


PráticasLeaisDe QuestõesRelativas
Desenvolvimento
Organizacional Humanos De Trabalho Ambiente Operação ao Consumidor
DaComunidade

Processose Due Emprego e relações Prevenção da Práticas Ensino Extensão


Estruturas de
Diligence de trabalho poluição anticorrupção Responsável Responsável
decisão

Situaçõesde Risco Condiçõesde Marketing


Uso sustentável de Envolvimento Pesquisa Envolvimento da
paraos Direitos Trabalho e
recursos político responsável Responsável Leal Comunidade
Humanos Proteção Social

Mitigação e
Diálogo Concorrência Proteção a saúde e Educação e
Evitar adaptação às
segurançado
cumplicidade Social mudanças Leal Cultura
consumidor
climáticas

Proteção do meio Geração de


Resolução de Saúdee segurança Consumo
ambientee Promoção da RS Emprego e
queixas no trabalho Sustentável
biodiversidade na cadeiade valor capacitação

Desenv. Humano e Atendimento e


Respeito ao direito Desenvolvimento
Treinamento no suporteao
de propriedade Tecnológico
local de trabalho consumidor

Proteção e
privacidadedos Geração de riqueza
dados do e renda
consumidor

Acesso a serviços
Saúde
essenciais

Educação e Investimento
conscientização Social

Fonte: elaborado pela autora a partir da ISO 26.000


2.1 Governança Organizacional

Independente da Instituição de Ensino Superior ser caracterizada como Faculdade,


Centro Universitário ou Universidade, ou uma Instituição pública, particular ou filantrópica, o
processo decisório deve ser pautado por um sistema de governança que integre a
responsabilidade social em toda a instituição e em seus relacionamentos.
Assim, o Quadro 1, abaixo, apresenta a questão relativa a governança organizacional,
bem como a aplicação dela no ensino superior.

Quadro 1 – Governança Organizacional

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000

2.2 Direitos Humanos

Este tema aborda, como um dos aspectos centrais, a importância da Instituição do


Ensino Superior respeitar os direitos humanos de seus funcionários, professores e alunos.
Além disso, a instituição pode promover uma educação em direitos humanos, conscientizando
seus fornecedores, governo e comunidade local.
Os Quadros 2 e 3, a seguir, separados por uma questão de layout, apresentam as
questões relativas aos Direitos Humanos, como a Due Diligence, Situações de Risco para os
Direitos Humanos, Evitar Cumplicidade e Resolução de Queixas. A terceira coluna apresenta
exemplos aplicados para as Instituições de Ensino Superior.

Quadro 2 – Direitos Humanos

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000

Ainda sobre o tema de Direitos Humanos, o Quadro a seguir, apresenta as questões


relativas à Discriminação e Grupos Vulneráveis, Direitos civis e políticos, Direitos
econômicos, sociais e culturais e Princípios e direitos fundamentais no trabalho. A terceira
coluna apresenta alguns exemplos aplicados para as Instituições de Ensino Superior.
Quadro 3 – Direitos Humanos

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000

2.3 Práticas de Trabalho

As práticas de trabalho nas Instituições de Ensino Superior dizem respeito, dentre


outros aspectos, às relações com os funcionários administrativos, professores e funcionários
terceirizados. Dentre as diversas abordagens das relações de trabalho, destacam-se o
recrutamento e a seleção, demissão, treinamento e capacitação, saúde e segurança no trabalho,
benefícios, remuneração, jornada de trabalho e outros.
Este e outros temas abordam uma questão importante sobre a discriminação. É
proibido qualquer tipo de atitude discriminatória dentro e fora da instituição. O Quadro 4, a
seguir, apresenta as questões que compõem a temática das Práticas de Trabalho e seus
exemplos de aplicação em Instituições de Ensino Superior.
Quadro 4 – Práticas de Trabalho

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000

2.4 Meio Ambiente

As atividades exercidas por uma instituição de ensino superior, impactam


consideravelmente no meio ambiente. Energia e água são a base para o simples
funcionamento destas atividades. Além disso, a cada dia, são produzidos lixos na Instituição,
que, se não for dada a devida importância na forma de descarte, podem prejudicar o meio
ambiente.
O Quadro 5, abaixo, apresenta as questões relativas ao Meio Ambiente, bem como
exemplos de como a Instituição de Ensino pode atuar.
Quadro 5 – Meio Ambiente

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000

2.5 Práticas Leais de Operação

Dentre os diversos aspectos centrais, este tema aborda práticas que a Instituição de
Ensino Superior deve adotar ao se relacionar com seus fornecedores ou com órgãos públicos.
A melhor proposta não deve ser selecionada pelo menor preço. Outros fatores devem impactar
a decisão de compra de materiais de consumo ou bens patrimoniais, como por exemplo,
iniciativas sócio ambientais adotadas pelas empresas fornecedoras.
O Quadro 6, a seguir, apresenta as questões relativas à temática das Práticas Leais de
Operação, bem como exemplos de como a Instituição de Ensino pode atuar.
Quadro 6 – Práticas Leais de Operação

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000

2.6 Questões Relativas ao Consumidor

Este tema apresenta as questões voltadas para os alunos, considerados os


consumidores dos serviços oferecidos pela Instituição de Ensino Superior. Este tópico divide-
se em duas partes. Na primeira parte, destacam-se as questões colocadas pela ISO 26.000 no
que diz respeito ao relacionamento ético e transparente que a Instituição deve ter com o seu
principal stakeholder, o aluno, bem como exemplos de como a Instituição de Ensino Superior
pode atuar.
Quadro 7 – Questões Relativas ao Consumidor

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000

A segunda parte deste tópico apresenta as duas dimensões do ensino superior - ensino
responsável e pesquisa responsável. As dimensões do ensino responsável e da pesquisa
responsável, estão agrupadas dentro do tema “Questões Relativas do Consumidor”, por
estarem diretamente relacionadas com os alunos, e a dimensão da extensão responsável está
colocada dentro do tema “Envolvimento e Desenvolvimento da Comunidade”, por estar
diretamente relacionada com a comunidade.
O Quadro 8, abaixo, apresenta as contribuições da pesquisadora para que as
Instituições de Ensino Superior tenham um ensino e uma pesquisa responsável.

Quadro 8 – Questões Relativas ao Consumidor

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000


2.7 Envolvimento e Desenvolvimento da Comunidade

Esta dimensão aborda o relacionamento da Instituição com a comunidade que está


inserida. Todas as ações sociais das Instituições de Ensino Superior voltadas para a
comunidade, geralmente são caracterizadas como projetos e programas de extensão, como
vimos no decorrer deste estudo.

Quadro 9 – Envolvimento e Desenvolvimento da Comunidade

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000


O Quadro 10, abaixo, apresenta as contribuições da pesquisadora para que as
Instituições de Ensino Superior tenham uma extensão responsável.

Quadro 10 – Envolvimento e Desenvolvimento da Comunidade

Fonte: elaborado pela autora

3. CONCLUSÃO

O objetivo geral do presente artigo foi apresentar uma proposta de diretrizes de


responsabilidade social para as Instituições de Ensino Superior, que contemple não somente
as ações que as Instituições de Ensino Superior praticam com sua comunidade, via extensão
ou não, como também, todas as atividades que elas praticam com os outros públicos que se
relaciona, como alunos, fornecedores, funcionários administrativos, professores e o governo.
O presente estudo não pretende esgotar as discussões sobre a importância da
Responsabilidade Social no ensino superior no Brasil, mas apenas despertar a reflexão sobre
alguns conceitos relevantes, oportunidades e desafios que marcam o tema. É importante
destacar a constatação, amparada pelos autores e pesquisa citados anteriormente, que estamos
vivendo um momento de mudanças profundas na percepção do social, em sua mais ampla
expressão. Esse caminho tem sido marcado pela superação do caráter meramente
assistencialista e pela consolidação da dimensão estratégica que o tema pode representar para
o ambiente organizacional.
É fundamental destacar ainda que as universidades devem permanecer na busca do
cumprimento de seu papel enquanto promotoras do desenvolvimento de competências
técnicas e humanas, despertando nos alunos a consciência da cidadania.
Sugere-se para futuras pesquisas que a proposta aqui apresentada seja validada em
Instituições de Ensino Superior, públicas, privadas e filantrópicas, por meio de estudo de
casos.
Os desafios para o desenvolvimento da Responsabilidade Social no âmbito educacional
são muitos, mas as perspectivas, por outro lado, são inúmeras. Além de todas as questões já
pontuadas, o tema tem um caráter estratégico significativo. Os resultados para uma instituição
de ensino que opte por essa proposta passam pela configuração de estratégias de
relacionamento com todos os stakeholders, de marketing institucional, de inserção social e
desenvolvimento da comunidade, de promoção da cidadania individual e coletiva e
finalmente, de valorização da universidade frente a entidades fiscalizadoras, alunos e
prospects.
Finalmente, a principal contribuição esperada em relação ao presente estudo é a
abertura para a reflexão de que a universidade apresenta um espaço fundamental para que a
Responsabilidade Social possa se consolidar enquanto área de conhecimento, além de
subsidiar a formação de profissionais mais conscientes de seus papéis enquanto agentes de
transformação social que procuram escrever um final diferente para a história de nosso país.

REFERÊNCIAS

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2010). NBR ISO 26.000.


Diretrizes sobre Responsabilidade Social. Rio de Janeiro: ABNT, 2010.

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